TCC FANATISMO Esportivo

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UNIVERSIDADE DO GRANDE ABC

WILLIAM PAISANO JATO

FANATISMO NO ESPORTE

SANTO ANDRÉ
2007
UNIVERSIDADE DO GRANDE ABC

WILLIAM PAISANO JATO

FANATISMO NO ESPORTE

Monografia apresentada como requisito


parcial para a obtenção da graduação de
licenciado em educação física.

SANTO ANDRÉ
2007
RESUMO

O fanatismo esportivo é um fenômeno que assola o esporte contemporâneo.


Fanáticos de atitudes violentas transformam espetáculos esportivos em ambientes
de medo e barbárie. O esporte onde a violência tem maior repercussão é o futebol,
devido sua projeção na mídia. Grupos de torcedores habituados a conviver com a
violência, formam torcidas briguentas e perigosas. Desses grupos destacam-se os
Hooligans ingleses responsáveis por grandes atos de vandalismo pela Europa.
Porém esse “privilégio” de ter arruaceiros não é exclusivo dos Britânicos, esse é um
problema que assola muitas praças esportivas das mais diversas culturas. Neste
trabalho será apresentado uma definição do fanatismo esportivo e estudos sobre
sua origem. Será feita uma descrição dos grupos que usam o esporte como
pretextos ideológicos para praticar atos bárbaros. Bem como, entender o que os
motiva e como agem esses grupos que afastam o torcedor “sadio” dos estádios de
futebol.
Palavras Chaves: Fanatismo, Esporte, Violência
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.........................................................................................4

1.1 Objetivo............................................................................................. 7
1.2 Justificativa........................................................................................7

2. O FANATISMO........................................................................................ 8
3. O ESPORTE E SUA SIMBOLOGIA.........................................................9
4. ESPORTE E TORCIDA.........................................................................10
5. O ESPORTE NA ESCOLA.....................................................................11
6. VIOLÊNCIA NO ESPORTE...................................................................12
7. O FENÔMENO DO HOOLIGANISMO NA EUROPA.............................13
8. AS TORCIDAS UNIFORMIZADAS NO BRASIL....................................16
9. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................18
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................19
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1. INTRODUÇÃO

Pode-se dizer que praticamente todas as pessoas gostam de esportes.


Especialmente no Brasil, país do futebol, todos têm um time do coração. Seja indo
ao estádio e acompanhando de perto ou vendo de relance alguns noticiários
esportivos na televisão, torcemos e ficamos a par do que acontece no mundo
esportivo. Pode ser fácil encontrar uma pessoa que não pratica esportes, mas será
difícil encontrar alguém que não torce para time algum. Em especial na cultura dos
homens do Brasil, as conversas de amigos envolvem sempre alguma gozação a
respeito do time do outro. Uma provocação aqui, outra ali, tudo isso serve para
alimentar a rivalidade entre as equipes e torcidas de seus respectivos times. Essa
discussão tem espaço inclusive na imprensa esportiva.
É inegável a importância cada vez maior do esporte na sociedade atual. Seja
economicamente com jogadores de futebol que valem fortunas, contratos de
televisões, direitos de imagem, marketing esportivo e etc. Seja como fenômeno
social tirando crianças das ruas, transformando pessoas comuns em ídolos. Até
mesmo na questão política o esporte pode estar envolvido, onde as vitórias nas
competições por um país pode mexer com a auto-estima do povo inteiro (DUNNING,
2003).
O esporte contemporâneo é tratado como fenômeno social. Sua dimensão é
de suma importância na mídia, tendo mais espaço que outros temas como política e
economia. Dono de um valor simbólico muito grande, hoje o esporte é muito mais
que um simples jogo. Em nosso cotidiano nos deparamos com jornais, revistas e
outdoors exibindo belos atletas, transmitindo uma imagem de sucesso invejável para
os cidadãos comuns. O consumismo é incentivado pelo esporte com suas marcas
famosas patrocinando os ídolos. O vencedor de uma competição é tratado como um
herói dos tempos modernos, e é ovacionado pelo público. (FERREIRA & COSTA,
2003 p.28).

O futebol é um dos temas preferidos das rodas de bate-papo entre amigos


no Brasil por diversos motivos. É de fácil compreensão e discussão, sempre dá
margem a interpretações e conseqüentemente a polêmicas. É um tema que
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aproxima as pessoas, e permite que se expressem os sentimentos melhor que


qualquer outra atividade (FOLHA DE SÃO PAULO, 2006).
Porém nas últimas décadas nos deparamos com um torcedor diferenciado.
Um torcedor que não veste a camisa do clube quando vai ao estádio, veste a camisa
de uma torcida organizada. Esse torcedor sempre anda em grandes grupos e
sempre está preparado para confrontos com as torcidas dos times adversários ou
atém mesmo com a polícia. Os hinos cantados usam de linguagem ofensiva,
geralmente fazendo alguma alusão à violência.
Embora os torcedores organizados tenham sua imagem associada ao
futebol, esse característica não é exclusiva desse esporte. Já houve casos de
violência no público de outros esportes. Também não é exclusividade dos países
emergentes ou mais pobres, já que a Inglaterra apesar de fazer parte do chamado
Primeiro Mundo, é o berço do hooliganismo na Europa. Porém esses torcedores têm
algumas características em comum que veremos mais adiante.
Frente a essa nova realidade, o torcedor comum, aquele pai de família que
levava seu filho ao estádio freqüentemente agora fica com medo da violência.
Segundo uma pesquisa feita pelo IBOPE (2006) 89% das pessoas apontaram a
violência dentro e ao redor dos estádios como o fator que mais afasta o torcedor dos
jogos. Atualmente a maior renda dos clubes é proveniente da televisão (ESCHER ,
2005),
Esse tema é intrigante e carece de estudos no Brasil. Segundo Botelho &
Oliveira (2006) na pesquisa científica na área de educação física na Universidade do
Rio de Janeiro o enfoque maior quantitativamente é o técnico. Isso quer dizer que a
educação física escolar e outros aspectos da área estão um pouco de lado.
Pesquisadores de outras áreas também parecem não se interessar muito por essas
questões referentes aos esportes. Conforme afirma Dunning (2003 p.19) para os
sociólogos o esporte não é dos temas mais importantes sendo deixado de lado.
Conseqüentemente para a realização deste estudo foi necessário recorrer a fontes
alternativas que não tratam especificamente do fanatismo esportivo, mas nos
ajudaram a compreender e desdobrar o fenômeno.
Há também outro ambiente que interfere e sofre influência desse universo
esportivo: a escola. Afinal, trata-se do primeiro local onde o ser humano vai se
sociabilizar, ou seja, vai se reunir com outras pessoas que não sejam do seu lar, da
sua família. Durante as aulas de educação física, com grande facilidade podemos
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observar a influência sobre as crianças do fenômeno esportivo. Em especial os


meninos, sabem o nome dos craques da seleção de futebol e desde pequenos já
têm um time do coração. Mas a escolha do futebol como esporte número um pelos
meninos não é objeto deste trabalho. O foco ficará no comportamento fanático.
Nas aulas práticas de educação física, nos chama a atenção aquele aluno
que freqüenta a aula com a camisa do clube de futebol ou até mesmo da torcida
uniformizada. Será que esse aluno sabe mesmo o que o uniforme simboliza? Será
que sabe o que o distintivo do clube representa? E quanto à torcida organizada, será
que ele sabe o que é e o que faz?
Sabemos que os pais têm influência nos gostos e opiniões dos filhos. O pai
sendo torcedor fanático por seu clube veste seu filho pequeno com uniforme
completo do time e ainda decora o quarto da criança com fotos e símbolos
referentes ao time. Nas aulas de educação física sobra para o professor ter que lidar
com essas paixões e esses fanatismos e ainda com a agressividade dos alunos.
Em suma análise do comportamento dos torcedores e dos alunos em grupo
nos leva a algumas questões intrigantes. O comportamento do torcedor solitário é o
mesmo quando ele está em grupo? Porque os torcedores organizados nunca agem
sozinhos? Só o fato de estar em grupo torna a pessoa suscetível a atos de
vandalismo? Quais aspectos são maiores desencadeadores da violência: culturais,
psicológicos ou sociais? São questões que serão abordadas no decorrer do
trabalho.
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1.1 Objetivo

O objetivo deste estudo será identificar e caracterizar alguns aspectos


relevantes quanto à origem do fanatismo esportivo.

1.2 Justificativa

Estudar e pesquisar o fanatismo esportivo é mais do que simplesmente


associar violência e esporte. É compreender os bastidores do esporte, o que há por
trás dos espetáculos. É perceber que há um universo que passa despercebido
muitas vezes aos nossos olhares. Acrescento ainda que traçar o perfil do torcedor
seja qual for a modalidade esportiva, pode ter diversas utilidades que podem incluir
desde estratégias de marketing esportivo ou até políticas contra a violência.
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2. O FANATISMO

Certas vezes quando queremos dizer que alguém é apaixonado por algo
dizemos que essa pessoa é fanática. Seja por uma banda de rock ou por um ídolo
do cinema. Essa palavra talvez tenha perdido seu real significado devido ao uso
excessivo. Porém fica claro que um homem-bomba e um “fanático por cinema” são
coisas bem diferentes (PINSKY, 2004).
Vamos adotar aqui a definição de fanatismo dada por Pinsky (2004 p.11):

A exaltação que leva indivíduos ou grupos a praticar atos violentos contra


outras pessoas (prejudicando significativamente sua liberdade e atentando
contra a vida), baseados na intolerância e na crença em verdades
absolutas, para as quais não admitem contestação.

A partir desse conceito podemos estabelecer que o torcedor fanático é


aquele que encara torcedor adversário como uma espécie de inimigo, uma ameaça
que deve ser eliminada.
Segundo Pinsky (2004) temos quatro formas de manifestação do fanatismo.
São elas: esportiva, religiosa, racista e política. O fanatismo esportivo é o foco
principal do trabalho. Está relacionado às manifestações esportivas, torcida e mídia.
Quando falamos em fanatismo religioso nos vem à mente o
fundamentalismo islâmico. De fato, devido à quantidade de notícias nos telejornais e
o fato de serem recentes, logo fazemos a associação. Mas historicamente podemos
citar como exemplos de fanatismo a inquisição (caça às bruxas), apedrejamento de
adúlteras etc. Sob a ótica dos valores de nossa sociedade atual consideramos essas
atitudes como fanáticas. Mesmo tentando compreender seu contexto histórico,
mantemos a mesma opinião (PINSKY, 2004).
Por fanatismo racista vamos entender a visão de que há uma raça superior a
outras. Visão essa já comprovada pelas pesquisas como sendo errônea. Como
grande exemplo desse desrespeito aos direitos humanos temos o massacre de
judeus e a escravidão (PINSKY, 2004).
Por fim no fanatismo político, temos os exemplos nesse século XX com o
terrorismo, os kamikases japoneses e ditaduras.
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3. O ESPORTE E SUA SIMBOLOGIA

Num espetáculo esportivo nos deparamos com distintivos de equipes,


uniformes, bandeiras, marcas esportivas e etc. Todos esses são símbolos comuns
no esporte contemporâneo. Segundo Suannes (1996 p.23) “todo símbolo é um sinal
que substitui ou representa outra coisa”. Dessa forma, todas essas imagens e
figuras que vemos têm um sentido implícito.
Para Suannes (1996) a representatividade do esporte é muito grande. O
autor faz um paralelo das disputas esportivas com as guerras entre tribos. Para ele a
bola simbolizaria a cabeça do adversário. O troféu seria o cálice com o sangue do
inimigo. E o uniforme dos times seria equivalente á pintura nos corpos das tribos
para se identificarem.
Não só as imagens mas os hinos entoados também tem um caráter
simbólico muito forte. Há uma nítida diferença entre os hinos dos clubes e os hinos
das torcidas organizadas. Os hinos dos clubes passam uma idéia de heroísmo e
recordações sobre antigas vitórias e glórias. Uma exaltação a um passado
memorável. Os hinos das torcidas tem características diferentes destes. São hinos
onde há uma semelhança com a guerra e são de maneira geral uma afronta direta
ao adversário que sempre é encarado como inimigo (VOTRE, 2003 p.105).
O hino claramente serve para unir todos aqueles torcedores em uma só voz,
em um único objetivo. Ao mesmo tempo em que o momento é lúdico e de
descontração, afinal é um jogo, a torcida se sente como se tivesse incentivando
guerreiros numa batalha (VOTRE 2003 p.104-105).
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4. ESPORTE E TORCIDA

Durante o espetáculo esportivo ocorrem diversas interações entre atletas,


torcedores, técnicos e árbitros. No caso da torcida já foi citado anteriormente que ela
é fundamental para a motivação do jogo. Mas até que ponto sua influência é
relevante?
Já se tentaram inúmeras maneiras de se acabar com a violência nos
estádios. Uma destas inclui que a partida seja realizada com portões fechados. Mas
para o jogo em si traria prejuízo. Machado (1997, p.145) diz que existem atletas que
tem um melhor rendimento quando estão jogando com a torcida a favor. Outros têm
seu melhor rendimento quando estão jogando na casa do adversário com se
estivessem jogando em função do público. De qualquer forma, a torcida é um item
integrante do espetáculo esportivo.
Vale ressaltar nessa questão o lado positivo das torcidas organizadas que
fazem um belo espetáculo com seus gritos, cores e fogos de artifício. Quando estão
atuando pacificamente complementam o jogo dando sentido para as ações dos
jogadores em campo.
Mas além dos torcedores organizados, outros tipos de torcida também
influenciam direta e indiretamente nos atletas como por exemplo: família, imprensa
ou os próprios companheiros de equipe.(MACHADO, 1997 p.147).
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5. O ESPORTE NA ESCOLA

A aula de educação física é um momento de liberdade para as crianças, ou


seja, uma aula mais livre do que aquela em qual ficam sentadas nas cadeiras o
tempo todo. Na escola os professores pode se utilizar da educação física para lidar
com a agressividade dos alunos (DIAS, 1996).
Segundo Betti (1998) a educação física é uma “área de conhecimentos
relativos à cultura corporal de movimento”. Partindo desse pressuposto, ao
trabalharmos o esporte da escola, devemos atentar para o que esse determinado
esporte representa na cultura corporal dos alunos. Ao invés de limitar-se ao ensino
dos fundamentos do futebol, o professor de educação física deve tratar esse esporte
nas aulas como um fenômeno social que é.
Conforme afirma Betti (1998) a informação a respeito de atividade física na
atualidade tem seu acesso bastante facilitado. Essa informação chega às crianças e
adolescentes muitas vezes de fontes de pouca credibilidade. O professor de
educação física, como educador e formador de opinião deve orientar e esclarecer
esse tema para seus alunos (PAULA, 2005).
O professor de educação física deve trabalhar em conjunto com a escola
para desenvolver no educando a reflexão acerca do esporte. Dessa forma
motivando-o e favorecendo oportunidades de inclusão na sociedade através do
mesmo. Para desempenhar bem esse papel o professor deverá também estar bem
familiarizado com as questões sociais emergentes que caracterizam a comunidade
em que atua. Tudo isso como resultado de uma preocupação com a formação do
cidadão (PAULA, 2005).
Além das aulas de educação física obrigatórias há também um outro
momento em que as crianças e adolescentes têm contato com o esporte, que são as
práticas esportivas escolares ou turmas de treinamento esportivo onde a escola
monta uma equipe que eventualmente pode representá-la em competições.
Nesse outro âmbito do esporte, também pode ocorrer outro problema já que
segundo Simões (1999) “a valorização do talento esportivo pode prejudicar a
socialização pelo comportamento competitivo”. Ou seja, o excesso de expectativa de
performance sobre o jovem pode trazer prejuízos ao invés de benefício.
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6. VIOLÊNCIA NO ESPORTE

A violência pode ser dividida em dois tipos. O primeiro é a violência


instrumental onde esta serve para algum objetivo e o outro tipo é a violência gratuita
que ocorre por si só sem um objetivo maior. E é esse o tipo de violência cometida
pelas gangues ou torcidas organizadas (DIÓGENES, 1999, p.169).
A agressividade é inerente ao ser humano. Em nosso cotidiano estamos
disputando nosso espaço com outras pessoas em busca de nossa sobrevivência.
Essa agressividade bem trabalhada, serve para afirmação do desejo do indivíduo
caso contrário deturpará os valores individuais (DIAS 1996 p.58).
Uma questão importante ressaltada por Dias (1996 p.57) é de que em
situações limites as pessoas perdem os valores básicos da sociedade. Num
ambiente de fome e miséria o homem perde sua humanidade. “A agressividade
passa a ser uma expressão de uma expressão pessoal e a única resposta possível
diante da ameaça à integridade do indivíduo e ou do grupo que ele pertence”
É comum ao redor dos estádios serem vendidas bebidas alcoólicas. O
consumo desse tipo de bebida deve ser levado em conta, quando ocorrem casos de
violência entre torcedores. Segundo Niewiadomski (2004) “o excesso no consumo
de álcool está evolvido em cerca de dois terços dos homicídios voluntários”.
Tratando-se especificamente da violência nos espetáculos futebolísticos,
Reis (2003) em sua revisão bibliográfica aponta a má organização dos espetáculos
como sendo um dos itens desencadeadores.
Para Reis (2003) seria necessário o trabalho em conjunto de vários
segmentos ligados ao futebol, incluindo o poder público. Seriam diversas medidas
de curto e médio prazo que se fazem necessárias para a solução do problema tendo
como base o modelo espanhol, considerado o melhor da Europa.
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7. O FENÔMENO DO HOOLIGANISMO NA EUROPA

No futebol, os dois grandes centros em matéria de qualidade técnica e


popularidade dos atletas são a Europa ocidental e a América do Sul. Os clubes
europeus superam os sul-americanos no aspecto financeiro, mas isso é devido a
fatores extra campo. Os jogadores de mais alto nível técnico estão na Europa e na
América do Sul (uma prova disso é que a Copa do Mundo só foi vencida por países
da Europa e América do Sul). E é nesses dois grandes centros que se encontram
também os grupos de torcedores mais fanáticos e violentos.
No continente europeu (talvez em nenhum outro continente) não se pode
encarar o futebol como um simples esporte, ou um fato isolado. Na Europa há uma
influência mútua entre economia, política, religião e os fenômenos futebolísticos.
Questões complexas ultrapassam os limites do jogo.
Na antiga Iugoslávia, um dos clubes mais importantes é o Estrela Vermelha
de Belgrado. Assim como outras equipes do futebol europeu, o Estrela Vermelha
também possui um grupo de torcedores violentos. Na década de 90 esses
torcedores chegaram a interromper um treinamento da equipe fazendo ameaças e
protestando contra o rendimento da equipe. Durante uma partida contra o Dínamo
de Zagreb da Croácia desencadeou-se um confronto entre as duas torcidas,
motivados também pelas desavenças políticas entre iugoslavos e croatas (FOER,
2004 p. 24).
Desavenças entre torcedores extrapolam os limites principalmente quando
há questões religiosas, políticas ou racistas. A oposição entre duas religiões ou
posições políticas parece acentuar ainda mais a rivalidade entre torcedores. Pelo
que se observa, a mistura da paixão pelo time com a ideologia, seja ela política ou
religiosa, é uma das facetas do fanatismo esportivo.
Rangers e Celtic são os dois principais times da cidade de Glasgow na
Escócia. Dividem a cidade na questão religiosa. Os torcedores do Rangers são
protestantes e os do Celtic são Católicos. Além do jogo de futebol, a disputa entre os
dois clubes é uma luta pela reforma protestante. Nos finais de semana em que
ocorre a partida entre as duas equipes, a procura por hospitais é nove vezes maior
(FOER, 2004 p.40)
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Como observa-se nesses casos, o fanatismo do futebol europeu não se


limita à questão do futebol em si ou pela paixão pelo clube ou pela seleção. Ocorrem
também em alguns países da Europa comportamentos racistas e xenófobos. Na
Itália os dois principais times romanos (Roma e Lazio) possuem torcedores racistas.
O time da Roma chegou a ter cinco brasileiros que sofreram com as atitudes racistas
de torcedores da própria equipe assim como dos adversários. Esses
comportamentos não são generalizados por parte de toda a torcida desses clubes,
mas também não é um fato que passa despercebido.
Não obstante, os ícones maiores do fanatismo no futebol europeu são os
“hooligans”. Segundo Pimenta (2004, p.250), o hooliganismo surgiu por volta de
1960 na Inglaterra. Há duas versões para a origem do nome “Hooligan”. A primeira é
que seria o nome de um torcedor desordeiro chamado Patrick Hooligan. Na segunda
versão o termo é derivado de uma família chamada Houlihan, que era considerada
violenta e anti-social.
Assim como não há exatidão na origem do termo, também não há exatidão
na origem do hooliganismo na Europa. Segundo Cárdia (1996, p.84), os hooligans
são grupos formados por adolescentes e jovens adultos da classe trabalhadora que
possuem fortes vínculos com seus bairros, onde constituem grupos segregados e
hierarquizados. São jovens que não possuem o contato próximo freqüente com os
pais, porque estes passam o dia trabalhando. Dessa forma esses garotos criam
vínculos afetivos maiores com os colegas do que com a própria família.
Pimenta (2004, p.251) cita uma segunda versão para o surgimento do
hooliganismo. Estes grupos de hooligans teriam sido formados derivados de outros
grupos de jovens, como os skinheads.. Estes jovens estariam inseridos numa cultura
juvenil onde teriam em comum, violência, xenofobia e valorização da força física.
Estas duas hipóteses seriam as mais prováveis quanto ao surgimento dos hooligans.
Alguns meios de comunicação e políticos chegam a colocar a culpa do
hooliganismo em fatos as vezes contraditórios como má atuações de árbitros e
violência entre os próprios atletas no campo de jogo. Porém certos confrontos de
torcedores ocorrem antes das partidas, o que descartaria essas duas possibilidades
(DUNNING 2003 p.166).
Em dias de jogos os hooligans se reúnem nos pubs e consomem altas
quantidades de cerveja. O alto consumo de álcool faz parte da cultura machista
desses jovens, cultura essa que também inclui a excitação da violência como
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expressão da masculinidade. O álcool nesse caso serve também para tirar as


inibições e permite que extravasem suas emoções sem pudor algum. Porém esse
não é um causador dos confrontos, apenas um agravante, já que nem todos que
bebem cerveja praticam vandalismo.
Os confrontos podem ser ocasionais ou em locais previamente marcados,
podem ser antes ou após o jogo. Para eles é algo que dá sentido à vida e que lhes
traz reputação e diversão. Basicamente estas lutas envolvem auto-afirmação,
disputas territoriais e emoções fortes (DUNNING 2003 p.174).
Nos últimos anos o futebol inglês sofreu grandes mudanças. Devido a casos
de violência, foi exigido que todos os estádios tivessem assentos em todos os
lugares. A vigilância policial se intensificou e foram instaladas câmeras em diversos
pontos dos estádios. Essas mudanças no futebol inglês atraíram diversos
investidores que inspirados nos Estados Unidos perceberam que o esporte seria um
mercado imenso e próspero. Com isso, houve também o aumento dos ingressos, o
que acabou afastando uma parte da classe trabalhadora dos estádios (FOER 2004
p.88).
Esse capitalismo multinacional retira o caráter local das instituições assim
como as tradições. Foer (2004 p.89) relata que quando assistiu uma partida do
Chelsea se sentiu como se estivesse em um concerto de música clássica. Pode-se
interpretar esse fato como uma elitização do futebol.
Segundo Dunning (2003 p.186) o hooliganismo tem as mesmas raízes
sociais. Ocorreria no ponto fraco da sociedade de cada país. Por exemplo, na
disputa entre católicos e protestantes na Escócia. Na Espanha, o nacionalismo dos
bascos e outros grupos. Na Itália, rivalidade entre cidades. E na Alemanha, as
relações entre políticos de direita e esquerda.
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8. AS TORCIDAS UNIFORMIZADAS NO BRASIL

No Brasil, os times mais populares, geralmente os das capitais, possuem


torcidas organizadas. Pimenta (2004, p. 264) define torcida organizada como:

Um agrupamento de pessoas simpatizantes de um mesmo clube


de futebol, sem fins lucrativos, estruturado de forma relativamente
burocrática, com o objetivo de incentivar o time durante os jogos e defender
a integridade do grupo nos momentos de confrontos físicos ou verbais com
os adversários.

Segundo Pimenta (2004, p.264), os grupos de torcedores organizados no


Brasil surgiram por volta da década de 40 no Rio de Janeiro. Eram no início apenas
uma reunião de simpatizantes de um determinado clube que se reuniam em volta de
um líder de torcida e tocavam marchinhas carnavalescas. Este formato de torcida é
bem diferente do que se encontra atualmente. As torcidas organizadas de hoje
possuem registro em cartório, estatutos e até eleições para a presidência.
De acordo com Battaglia (1996, p.112), a primeira torcida uniformizada a ser
criada em São Paulo foi a Gaviões da Fiel. Ela foi criada com o intuito de vigiar e
acompanhar as decisões políticas tomadas pela diretoria do clube. Alguns anos
depois foram criadas outras torcidas como a “Mancha Verde” e a “Independente”. A
partir daí as torcidas começaram a aceitar como integrantes quaisquer indivíduo sem
fazer nenhuma espécie de seleção.
As torcidas organizadas brasileiras são diferentes das européias. Aqui não
há o envolvimento dessas torcidas com partidos políticos de extrema direita
nazifascistas como ocorre com os hooligans. Tampouco um comportamento
xenófobo, pelo contrário. Há casos de racismo, mas são raros. De acordo com
Pimenta (2004, p.255), os hooligans agem em grupos de aproximadamente 150
torcedores. No Brasil, em 1991 a Gaviões da Fiel possuía 46 mil associados. Estas
são as principais diferenças entre as torcidas européias e brasileiras.
Capez (1996, p.50) destaca que 80% dos membros das torcidas
organizadas são jovens entre 14 e 25 anos sendo “pessoas em busca de afirmação
social e pessoal, fortemente impulsivas e desejosas de deixar suas marcas na
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sociedade que poucas oportunidades lhe oferece”. E também como afirma


Diógenes (1999, p.165) “a juventude é a vitrine dos conflitos sociais”. Ou seja ela
reflete de alguma forma o que está ocorrendo na sociedade.
Segundo Pimenta (2000, p.126), as causas da violência não podem ser
atribuídas exclusivamente a fatores de classe sociais e econômicos devido à
diversidade de indivíduos infiltrados nas torcidas. Existem pessoas das mais
diversas faixas etárias, origens e classes sociais. Cada um com seu papel social.
Contudo, o autor cita três aspectos que convergem para uma compreensão da
violência dos torcedores:
“1) a juventude cada vez mais esvaziada de consciência social e
coletiva; 2) o modelo de sociedade de consumo instaurado no Brasil, que
valoriza a individualidade, o banal e o vazio; 3) o prazer e a excitação
gerados pela violência ou pelos confrontos agressivos”.
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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Claro que este trabalho não é totalmente conclusivo. O fanatismo esportivo


carece de estudos mais sistemáticos. Além disso, o tema é complexo e não pode ser
observado por apenas uma óptica, devendo se considerar também que na
sociedade contemporânea a globalização causa modificações constantes. O esporte
de hoje não é o mesmo de 10 anos atrás. É importante ressaltar a diferença entre o
fanatismo na Europa e no Brasil. O resultado final é o mesmo: violência e
vandalismo. Porém, as motivações para tal são diferentes. Na Europa há questões
raciais, políticas e ideológicas envolvidas, enquanto no Brasil a violência é
principalmente busca pela auto-afirmação e intimidação dos adversários. O que há
de comum entre ambos os grupos é o prazer pela violência assim como a
banalização desta sendo parte integrante de uma cultura machista e selvagem. Mas
o ponto principal a ser observado é o fato de esses indivíduos nunca agirem
sozinhos. A violência por parte de torcedores é sempre praticada em grupos.
Quanto à educação física fica a responsabilidade de se criar uma
consciência crítica nos alunos, para que compreendam todos os aspectos do
esporte.
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10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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20

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