Ancoragem em Estruturas de Contenção Aplicada Às Obras Rodoviárias
Ancoragem em Estruturas de Contenção Aplicada Às Obras Rodoviárias
Ancoragem em Estruturas de Contenção Aplicada Às Obras Rodoviárias
ESCOLA DE ENGENHARIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
Porto Alegre
Novembro de 2018
Willan Henrique Anghinoni
Porto Alegre
Novembro de 2018
WILLAN HENRIQUE ANGHINONI
Este Trabalho de Diplomação foi julgado adequado como pré-requisito para a obtenção do
título de ENGENHEIRO CIVIL e aprovado em sua forma final pelo Professor Orientador e
pela Coordenadora da atividade de ensino - Trabalho de Conclusão de Curso II - Civil da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
BANCA EXAMINADORA
Agradeço aos meus familiares, Liames Oliva Anghinoni e Renata Gatto, que durante
todo o curso de graduação me deram o suporte necessário para que eu realizasse o sonho de ser
engenheiro civil.
Agradeço a professora Karla Salvagni Heinech, orientadora deste trabalho, pela grande
compreensão e auxílio dado na elaboração da pesquisa, tanto em conselhos sobre informações
necessárias para desenvolvimento do presente trabalho, como pela disposição nos momentos
em que necessitei de orientação nos encontros e conversas. Agradeço aos Professores da Escola
de Engenharia pelo empenho em ensinar e fazer com que a Engenharia Civil da UFRGS seja
destaque pela excelência.
Agradeço aos meus amigos e colegas, principalmente à Carima Atiyel, que me apoiaram
e me compreenderam durante o desenvolvimento deste trabalho.
Agradeço aos moradores e ex-moradores do Centro Estudantil Universitário de Porto
Alegre (CEUPA) que me acolheram durante toda a minha graduação.
Agradeço aos meus amigos do curso de graduação, principalmente ao Alisson Sauer,
pela amizade e apoio ao longo dos últimos anos.
Agradeço aos meus amigos Alan Carlos Rossetto, Anselmo Rafael Cukla, Tiago Torres,
José Henrique Braz, Susete Machado, Luís Gustavo Ribeiro, Laís Genro, Camila Stella e Tales
Costa, sobre tudo pela amizade, pelo grande apoio e incentivo durante a graduação.
A fé invade o infinito e da resposta do impossível!
Malcom X
RESUMO
The present work, necessary to obtain the Bachelor's Degree in Civil Engineering by
UFRGS, is intended to provide important information regarding the use of different anchorage
models in containment structures applied to road works in accordance with the Brazilian
regulations, except for tunnels and head of bridges. The genus in question serves as an aid in
the study of sizing, construction and verification tests of reinforcement structures for the
stabilization of slopes and slopes according to the characteristics of the main soil types of Brazil.
In other words, it is intended to prepare a brief documentation to meet the needs of the national
industry, through a critical review of the literature of the specialty comparing the most relevant
ideas and then confronting them to obtain the best acceptable solution to the problem
introduced. In addition, a detailed sampling of the characteristics of the mathematical models
based on the methods of construction of the containment structures, as well as the mechanical
behavior of the natural mass and the contact surface thereof with the support structure. Also, it
will be the analysis of the load that the anchorage will support due to the movements of the soil,
besides the difficulties and limitations inherent to its evaluation. Finally, we announce some
general conclusions of the information described here, taking into account advantages and
disadvantages in a comparative and individual answer, and finally the feasibility of choosing
the project regarding cost, space utilization and safety factor.
Key words: Stability of natural slopes and road slopes, anchorage system and tie rods.
LISTA DE FIGURAS
ESPAÇADORES ................................................................................................................... 48
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 17
2 DIRETRIZES DA PESQUISA ........................................................................... 18
2.1 TEMA ............................................................................................................. 18
2.2 PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................ 18
2.3 OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 18
2.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 18
3 MÉTODO DE PESQUISA .................................................................................. 19
3.1 PESQUISA BIBLIOGRÁFICA ..................................................................... 19
4 JUSTIFICATIVAS .............................................................................................. 20
5 REVISÃO DE LITERATURA E PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS .......... 21
5.1 EMPUXOS LATERAIS DE TERRA............................................................. 21
5.1.1 Empuxo em Repouso .............................................................................. 21
5.1.2 Teoria de Rankine ................................................................................... 23
5.1.3 Teoria de Coulomb.................................................................................. 27
5.1.4 Estados limites ......................................................................................... 27
5.2 ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO ............................................................... 29
5.2.1 Cortina Atirantada ................................................................................. 29
5.2.2 Grelha atirantada .................................................................................... 30
5.2.3 Placas Ancoradas .................................................................................... 31
6 METODOLOGIA ................................................................................................ 33
6.1 MÉTODO BRASILEIRO (1987) ................................................................... 33
6.2 MÉTODO DE KRANZ (1953)....................................................................... 35
6.3 MÉTODO DE RANKE-OSTERMAYER (1968) .......................................... 36
6.4 Método dos Elementos Finitos (MEF)............................................................ 40
6.5 Classificação das Ancoragens ......................................................................... 41
6.5.1 Ancoragens Provisórias e Definitivas .................................................... 41
6.5.2 Ancoragens Ativas e Passivas................................................................. 42
6.6 TIRANTES ..................................................................................................... 43
6.6.1 Histórico ................................................................................................... 43
6.6.2 Conceitos Básicos .................................................................................... 44
6.6.3 Princípios de Funcionamento ................................................................. 45
6.6.4 Partes Componentes Típicas .................................................................. 46
6.6.5 Sistema de Injeção ................................................................................... 49
7 ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTAS E TALUDES COM O USO DE
SISTEMA DE ANCORAGEM ........................................................................... 51
7.1 CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES ......................................................... 51
7.2 ESTABILIZAÇÃO DE ESCORREGAMENTOS COM O USO DE
ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO COM ANCORAGEM ......................... 51
7.3 ESTABILIZAÇÃO DE QUEDA E ROLAMENTO DE BLOCOS COM O
USO DE ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO COM ANCORAGEM .......... 53
8 OBRAS ESPECIAIS DE ESTABLIZAÇÃO..................................................... 56
8.1 ESTABILIZAÇÃO DE MACIÇO TERROSO E ROCHOSO COM O USO
DE VÁRIOS TIRANTES E COM TIRANTE ISOLADO ............................ 56
8.2 ESTABILIZAÇÃO DE TALUDES DE CORTE E ATERRO COM O USO
DE CONTENÇÃO COM ANCORAGEM .................................................... 57
8.3 SISTEMA DE DRENAGEM ......................................................................... 59
9 ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA DE ESTRUTURA DE
CONTENÇÃO COM SISTEMA DE ANCORAGEM ..................................... 62
9.1 LIMITAÇÕES NA APLICAÇÃO DE OBRAS DE CONTENÇÃO COM
ANCORAGEM .............................................................................................. 62
9.2 VANTAGENS NA APLICAÇÃO DE OBRAS DE CONTENÇÃO COM
ANCORAGEM .............................................................................................. 63
9.3 ASPECTOS TÉCNICOS A SE CONSIDERAR EM UM PROJETO DE
CONTENÇÃO COM TIRANTES ................................................................. 64
9.4 ASPECTOS GEOLÓGICO-GEOTÉCNICOS A SE CONSIDERAR EM UM
PROJETO DE CONTENÇÃO COM TIRANTES......................................... 66
9.5 ASPECTOS ECONÔMICOS A SE CONSIDERAR EM UM PROJETO DE
CONTENÇÃO COM TIRANTES ................................................................. 67
10 CONCLUSÃO ...................................................................................................... 69
REFERÊNCIAS .......................................................................................................... 71
1 INTRODUÇÃO
17
2 DIRETRIZES DA PESQUISA
2.1 TEMA
18
3 MÉTODO DE PESQUISA
19
4 JUSTIFICATIVAS
Grandes catástrofes como as ocorridas no Rio de Janeiro nos anos de 1966 e 1967,
devido a fortes enchentes, causaram desmoronamentos de encostas e a interdição de rodovias
devido à queda de barreiras, deixando a cidade praticamente isolada. O acidente obrigou os
engenheiros a estudarem técnicas eficazes de contenção de massa a fim de garantir a
estabilidade de encostas, como também evitar danos sociais, econômicos e ambientais.
Por se tratar de um país em desenvolvimento, o Brasil deixa a desejar no que se refere
à manutenção, cuidados ambientais e monitoramento das obras rodoviárias. A ausência dessas
medidas mitigadoras pode provocar prolongadas consequências econômicas, sociais,
ambientais e paisagísticas. No caso de vias de transporte, podem interromper o fluxo de
veículos, causar acidentes e comprometer a estrutura física do sistema.
Com o objetivo de tornar possível a manutenção da malha e estabilizar qualquer
mobilização de maciço adjacente à própria via, garantindo a segurança da sociedade, são
comuns obras de contenção. Sob um ponto de vista geotécnico, estruturas de contenções
ancoradas no maciço terroso e rochoso parecem ser umas das técnicas mais eficazes e de ganho
econômico, quando se trata da segurança do sistema, capazes de suportar elevadas forças
horizontais do solo, também conhecidas de empuxos de terra, como também amenizar os
impactos ambientais devido a sua implantação.
Em outras palavras, pretende-se elaborar uma breve documentação para abordar as
necessidades da indústria nacional em relação a estabilidade de encostas e taludes rodoviários
com o uso de tirantes, solução essa muito ampla e pouco discutida, através de uma revisão
crítica da literatura da especialidade comparando as ideias mais relevantes e logo em seguida,
confrontando-as para obter a melhor solução aceitável para o problema apresentado.
Os próximos capítulos tratarão dos pressupostos conceituais para a elaboração de
projetos de estabilização de encostas naturais e taludes rodoviários.
20
5 REVISÃO DE LITERATURA E PRESSUPOSTOS CONCEITUAIS
Sua determinação pode ser feita a partir de ensaios de laboratório ou de campo. Seu
parâmetro de cálculo é o coeficiente “ko”, definido como a relação de pressões efetivas
horizontais e verticais no solo, com deformação lateral nula. Para terrenos compostos de areia
21
e argilas normalmente adensadas é usual a expressão baseada nas teorias de Jàky (DAS, 2007,
p. 351), dada por:
𝜎′ℎ
𝑘𝑜 = = 1 − sin 𝜙′ (1)
𝜎′𝑣
Onde:
ko: é o coeficiente de empuxo em repouso;
𝜎’h: é a pressão lateral em repouso (horizontal);
𝜎’v: é a pressão efetiva vertical atuante;
𝜙′: é o ângulo de atrito interno.
Entretanto, para areia compacta e compactada, a equação anterior pode subestimar
grosseiramente a pressão lateral do maciço em repouso devido à compactação do terreno.
Quando isso ocorre, deverá se usar a seguinte equação:
𝛾𝑑
𝑘𝑜 = (1 − sin 𝜙) + [𝛾 − 1] . 5,5 (2)
𝑑 𝑚í𝑛
Onde:
𝛾d: é o peso especifico seco real compactado da areia atrás do muro;
𝛾d míni: é o peso especifico seco da areia no estado mais fofo.
Onde:
ko: é o coeficiente de empuxo em repouso;
OCR: é a razão de sobreadensamento do solo;
𝜙: é o ângulo de atrito interno.
22
A determinação do coeficiente ko é calculada através de ensaios triaxiais drenados e
saturados, em uma argila normalmente adensada isotrópica e anisotropicamente, submetida à
extensão e compreensão lateral. Apesar de sua importância, os ensaios triaxiais são pouco
usados atualmente, justificados pelo efeito da perfuração que impossibilita a coleta de uma
amostra perfeita, além do elevado custo de execução.
Segundo Ranzini e Negro (1998), o fato de o Brasil não utilizar muito este parâmetro
de investigação, é porque os solos tropicais tendem a apresentar uma apreciável dispersão de
suas características naturais, dificultando a interpretação dos ensaios realizados em
laboratórios.
Nas próximas seções deste trabalho apresentam-se os estados limites de equilíbrio e os
dois principais métodos, Rankine (1776) e Coulomb (1857).
De acordo com Fernandes (1983), dentro do estado limite de equilíbrio existem dois
métodos considerados importantes, Coulomb (1776) e Rankine (1857). Divergindo da forma
de linha de rotura adaptada e das condições de equilíbrio estático, mas tendo em comum a teoria
de que o corte no solo tem sua resistência completamente mobilizada, Fernandes também afirma
que nestes problemas não é possível determinar as deformações internas do maciço terroso.
Estas deformações são controladas indiretamente dentro de um limite razoável através de um
coeficiente de segurança relativamente alto.
Através da teoria de Rankine é possível determinar as pressões ativas e passivas do solo,
como também possibilitar o cálculo do empuxo lateral da massa sobre as estruturas de
contenção, com a hipótese de que o terreno se encontra em condições de ruptura, ou seja, no
estado de equilíbrio plástico.
Relembrando que as tensões efetivas principais horizontais e verticais de um elemento
de solo com uma massa específica “γ” à uma profundidade “z” são representadas por σ’h e σ’v,
em que σ’v = γ.z. Quando a relação solo-estrutura se encontra no estado de equilíbrio estático,
então σ’h = ko.σ’v. No entanto, quando a contenção AB, mostrada na figura 2.a, se afasta
gradualmente do solo, a pressão principal horizontal diminuirá, consequentemente, o estado de
equilíbrio plástico e a ruptura do solo ocorrerão. Essa situação representa o estado ativo de
Rankine, onde σ’a = ko.σ’v. Essa tensão pode ser determinada através da envoltória de ruptura do
círculo de Mohr, representada na figura 2.
23
Figura 2– Estado ativo de Rankine
𝜙′ 𝜙′
𝜎′𝑎 = 𝛾. 𝑧. 𝑡𝑎𝑛2 (45° − ) − 2. 𝑐′. tan (45° − ) (5)
2 2
Onde:
𝜎′𝑎 : é a pressão efetiva no estado ativo;
𝛾: é o peso especifico do solo;
𝑧: é a profundidade;
𝜙: é o ângulo de atrito interno;
𝑐′: é a coesão do solo.
𝜙′
𝜎′𝑎 = 𝜎′𝑣 . 𝑡𝑎𝑛2 (45° − ) (6)
2
25
Onde:
𝜎′𝑝 : é a pressão efetiva no estado passivo;
𝛾: é o peso especifico do solo;
𝑧: é a profundidade;
𝜙: é o ângulo de atrito interno;
𝑐′: é a coesão do solo.
𝜙′
𝜎′𝑝 = 𝜎′𝑣 . 𝑡𝑎𝑛2 (45° + ) (9)
2
Onde:
𝜎′𝑣 : é a pressão efetiva vertical.
𝜎′𝑝 𝜙′
= 𝑘𝑝 = 𝑡𝑎𝑛2 (45° + ) (10)
𝜎′𝑣 2
26
Dando-se sequência ao trabalho, será apresentado a seguir a Teoria de Coulomb (1776)
para os empuxos laterais do solo.
O cálculo dos empuxos ativo e passivo de terra sobre os muros de arrimo, sob condições
de equilíbrio limite, teve influência direta de Coulomb (1776). Além disso, a teoria de Coulomb
permitiu observar elementos não previstos na teoria de Rankine.
Os cálculos de empuxo de Coulomb baseiam-se na presença de atrito entre o murro e o
solo, além de um comportamento não coesivo do aterro com uma resistência ao cisalhamento
(τf = 𝜎’.tan𝜙’). No entanto, dentre as soluções não rigorosas, o método de Coulomb é o mais
conhecido por desprezar o efeito do atrito entre solo-contenção na rotação das tensões
principais. Este efeito é mais marcante no modo passivo de ruptura que no ativo (RANZINI E
NEGRO, 1998).
A comparação em relação a teoria de empuxo sobre superfícies de ruptura curvilíneas,
como a teoria de Caquot – Kerisel, confirma que os coeficientes de empuxo passivo de Coulomb
“kp” apresentam valores muito elevados, tornando inviável sua utilização na prática.
A seguir, serão discutidos os Estados Limites de Equilíbrio que influenciam na ruptura
de todo o sistema de contenção com tirantes.
Uma das melhores definições de Estado Limite de Ruptura foi referida por Ranzini e
Negro (1998, p. 500) “Chama-se Equilíbrio Limite o que resulta da satisfação simultânea das
condições de equilíbrio estático e de ruptura”.
De acordo com a Norma Portuguesa (Eurocódigo 7 Parte 1, 2010), o dimensionamento
de uma contenção deverá contemplar a verificação dos estados limite de ruptura para cada
situação de projeto analisado. Os cálculos de projeto que devem ser utilizados para assegurar o
equilíbrio são os valores das ações ou dos efeitos das ações e também os resultados dos
parâmetros de resistência ou a capacidade resistente dos elementos mobilizastes de um terreno.
Na elaboração de um projeto de reforço de terra, trabalha-se com as seguintes
convicções:
Usar os princípios de cálculo para demonstrar que não haverá rotura e nem liquefação
da estrutura por estabilidade global, e que as deformações correspondentes sejam
suficientemente pequenas;
27
O equilíbrio vertical de uma cortina deve ser assegurado através dos valores de cálculo
das propriedades de resistência ou da capacidade resistente do terreno, e ainda do valor
das forças verticais aplicadas à estrutura;
Quando apresenta movimento descendente da cortina, deve se utilizar de valores de
cálculo superiores às forças de pré-esforço como, por exemplo, as forças devido a
ancoragem, que apresenta uma componente vertical descendente;
Os valores de cálculo e o sentido das tensões cisalhantes entre a estrutura e o solo, devem
apresentar valores compatíveis na dedução dos equilíbrios verticais e rotacionais.
É preciso demostrar que é possível assegurar o equilíbrio de uma cortina sem que ocorra
a rotura por arrancamento de ancoragens.
Os tipos de combinações dos estados limites últimos que uma cortina atirantada está
sujeita, são mostradas com mais detalhes na figura 5.
Figura 5– Rotura de uma cortina atirantada; a, b) Rotura por estabilidade global; c, d, f) Rotura por
arrancamento de ancoragem; g) Rotura por forças verticais aplicadas à cortina; h) Rotura do tirante
28
5.2 ESTRUTURAS DE CONTENÇÃO
29
Figura 6– Paramento de Concreto Armado
Além da cortina atirantada, outra solução de reforço que ganhou muito destaque na
engenharia é a grelha atirantada, por se tratar de uma estrutura feita geralmente in loco e que
sustenta um paramento em alvenaria ou concreto, também executado nessa fase, como veremos
a seguir.
Grelha atirantada é uma contenção em que o paramento é construído por vigas e pilares
entrecruzados e produzidas com concreto armado, fixada no terreno por meio de tirantes
ancorados, ver figura 8. A grelha também sustenta um paramento de parede contínua de
concreto armado ou de alvenaria mais esbeltos. Essa forma de contenção é bastante utilizada
30
em obras que apresentam cortes de topografia acidentadas para o acesso de rodovias ou
ferrovias. De acordo com a NBR 11682 (2009), as grelhas ancoradas são aplicadas em taludes
rochosos fraturados, quando se pretende consolidar uma região com terreno potencialmente
instável.
São contenções em que a estabilização do solo é engendrada por placas formadas através
de concreto armado, moldado ou projetado. A placa é fixada no terreno por meio de tirantes
conforme a figura 9. A função destas estruturas está nas distribuições de tensões através de
ancoragens protendidas, principalmente na estabilização de taludes rochosos.
31
Figura 9– Placas de concreto armado atirantada
32
6 METODOLOGIA
33
Figura 10- Polígono de forças do Método Brasileiro adaptado
Portanto:
𝑃 sin(𝜃−∅)
𝑇= (14)
cos ∅
Daí:
𝑐 cos 𝛿 cos ∅
𝐹𝑆 = sin(𝜃−𝛿)[𝑃 sin(𝜃−∅)−𝐹 cos(𝛽−∅)] (17)
Se:
𝑐𝐿⁄
𝐹𝑆 𝑇−𝐹𝑡 𝑇
𝜆 = 𝐹𝑆𝑑𝑒𝑠𝑒𝑗𝑎𝑑𝑜 = 𝑐𝐿⁄ = 𝑇−𝐹 (18)
𝑒𝑥𝑖𝑠𝑡𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑇 𝑡
Ainda:
34
𝜆 𝑇
=𝐹 (19)
𝜆−1 𝑡
Logo, a força total que deve ser aplicado nos tirantes será dado por:
𝜆 𝑃 sin(𝜃−∅)
𝐹 = 𝜆−1 (20)
cos(𝛽−∅)
35
Figura 11- Análise de estabilidade pelo método de Kranz (1953)
De acordo com a figura acima, o maciço de ancoragem é solicitado pelo seu peso
próprio, P1, pela força de protensão, Fa, pelo empuxo ativo, I1, da cunha gerada atrás da placa
de ancoragem e pelas forças reativas Ra e R1 mobilizadas ao longo dos planos de deslizamentos
BC e BE.
Da cunha ABC, calcula-se a força de reação, Ra, que depois será substituída na
expressão formada pelas solicitações representadas pelo polígono BEDC, onde permite-se
calcular o valor máximo de Fa que conduz a cunha na condição de equilíbrio.
O coeficiente de segurança para esta condição é definido por Kranz como a razão entre
valor máximo, Fa, e a força de serviço do tirante protendido:
𝐹𝑎 (𝑚á𝑥𝑖𝑚𝑜)
𝐹𝑆 = (22)
𝐹𝑎 (𝑠𝑒𝑟𝑣𝑖ç𝑜)
Figura 12- Modelo admitido para casos de cortinas com uma linha de ancoragem segundo Ranke-Ostermayer
37
O primeiro caso é de uma cortina onde o tirante do nível superior apresenta comprimento
livre menor que o tirante inferior, com bulbo de ancoragem dentro da cunha do segundo tirante.
A figura 13 apresenta esquematicamente essa cortina.
Figura 13- Cunhas potencias de ruptura com tirantes diferentes, com o primeiro nível mais curto
O segundo caso, refere-se a uma cortina em que seu tirante superior tem comprimento
livre maior que o inferior, com o bulbo de ancoragem completamente fora da cunha do tirante
inferior, ver figura 14.
38
Figura 14- Cunhas potencias de ruptura com tirantes diferentes, com o primeiro nível mais comprido
Além desses métodos, a seguir será apresentado um dos métodos mais utilizados nos
dias de hoje na engenharia para análise de estruturas de contenção, o Método dos Elementos
Finitos.
39
6.4 MÉTODO DOS ELEMENTOS FINITOS (MEF)
Onde:
c - Coesão do solo;
C* - Coesão reduzida pelo FS a ser usada na simulação;
- Ângulo de atrito do solo;
* - Ângulo de atrito do solo reduzido pelo FS a ser usada na simulação;
M - Valor para redução dos parâmetros de resistência
Quanto a estabilidade global do modelo, o fator de segurança poderá ser determinado
quando à eminência de ruptura do solo, ou seja, sua plastificação. Isto ocorre quando o fator de
segurança for igual ou quando a carga de trabalho do sistema for dividida por um valor
estimado, em ambos os casos sempre se avaliando quanto da resistência está sendo mobilizada.
𝐹𝑆 = 𝑀 (29)
40
A seguir, abordaremos sobre os principais tipos de ancoragens: ancoragens provisórias
e definitivas; ancoragens ativas e passivas.
41
As ancoragens permanentes são aquelas com vida útil superiores há dois anos. Além
disso, tem a missão de garantir de forma permanente a estabilidade da obra, e tem uma
importância vital no comportamento global da contenção em longo prazo.
Os tirantes provisórios são divididos em subcategorias.
Construções temporárias: estruturas que apresentam vida útil inferiores a 6 meses, sem
a necessidade de proteção anticorrosiva e ou monitorização da ancoragem, isso porque
não é provável qualquer tipo de corrosão com dimensão prejudicial durante esse tempo.
Suporte semi-permanentes: contenções com vida útil entre 6 a 24 meses, não sendo
necessário proteção anticorrosivo, mas aconselhado monitorização como procedimento
durante a execução da obra.
Contenções definitivas: estruturas com vida útil superiores a 24 meses, sendo necessária
proteção anticorrosiva, plano de instrumentação e monitorização, estabelecidos em
função da longevidade da instrumentação e das características da obra. No entanto, a
norma atual não obriga a verificação das cargas nas ancoragens definitivas.
42
Atualmente é comum recorrer às ancoragens intermediárias que apresentam carga
máxima de pré-esforço parcial, geralmente entre os valores 1/2 e 1/3 em relação a tração de
projeto.
É fundamental proceder às estimativas dos esforços máximos que ocorrerão durante o
período de serviço de execução das ancoragens, em razão de que as várias fases de construção
posteriores à respectiva instalação pretendida, provocarão consequentemente variações nos
esforços instalados, na qual dependerão inevitavelmente do valor inicial. Cabe ao projetista
estabelecer um valor estimado de pré-esforço capaz de reduzir os efeitos devido às variações
dos esforços, e que este não ultrapasse a tração máxima admissível na ancoragem
(FERNANDES, 1983).
Como elemento estrutural de transferência de carga, a ancoragem depende
particularmente de um tirante de aço introduzido no terreno. Tal tirante será estudado com mais
detalhes a seguir.
6.6 TIRANTES
6.6.1 Histórico
43
Norte mais recentemente. As primeiras aplicações da metodologia vieram a ser datadas no
Brasil no final de 1957, como vimos anteriormente, e princípio de 1958 na Alemanha.
Estes mesmos autores, disseram que houve um grande avanço da técnica no Brasil após
as chuvas catastróficas no Rio de janeiro nos anos de 1996 e 1997, que possibilitaram a
aplicação da ancoragem em diversas estruturas de contenção de taludes, para restauração das
encostas da cidade e de estravas próximas.
Estas obras trouxeram projetos mais sofisticados e complexos, além de uma maior
confiabilidade e controle. Consequência disso foi a crescente instalação de empresas
especializadas na produção de tirantes, como também, a vinda de técnicas e empresas
estrangeiras. Nesta mesma época, criou-se a primeira norma brasileira de ancoragem, a NBR
5629 (1977), baseada na tradução da norma alemã DIN 4125 (1972).
Os tirantes são elementos lineares capazes de transmitir esforços de tração entre suas
extremidades. Seu funcionamento será abordado com mais detalhe a seguir.
45
Nas explicações geotécnicas dos tirantes, a extremidade que fica fora do terreno é a
cabeça do tirante e a extremidade que fica dentro do terreno é conhecida de trecho livre e trecho
ancorado, melhor detalhado a seguir.
É o dispositivo que fica fora do terreno, colada na parte externa da parede de contenção,
constituída de placas de apoio, cunha de grau ou clavete e bloco de ancoragem representados
na figura 16. A cabeça do tirante ainda é protegida por uma cobertura de concreto que serve de
proteção anticorrosiva.
Nas ancoragens pré-esforçadas, a cabeça do tirante é a peça onde se aplica o pré-esforço,
gerados através de cargas de ensaio e de blocagem, permitindo também que se realizem
operações de desblocagem e reblocagem. A cabeça também é o componente onde se transfere
a carga do tirante à estrutura a ser ancorada. Essas ações requerem aplicação tecnológica das
cabeças dos tirantes nos sistemas ancorados, juntamente com os sistemas de aplicação de pré-
esforço. O arranjo cabeça, armadura de aço e parede de concreto, devem apresentar
características e comportamentos, que se ajustem de acordo com as deformações previstas na
obra durante a sua vida útil.
De acordo com a NBR 5629 (2018), a cabeça do tirante deve ser projetado para suportar
uma carga máxima de ensaio correspondente à carga de trabalho (Ft), multiplicado por um fator
de segurança adotado, dado como:
46
Figura 16– detalhes de cabeça para ancoragens para armaduras constituídas por: a) cordões ou fios; b) barras
47
Figura 17– Seção transversal tipo comprimento de uma ancoragem definitiva
Figura 18– Seção transversal tipo bulbo de selagem: a) ancoragem provisória; b1) ancoragem definitiva; b2)
seção simples com centralizadores e espaçadores
48
A norma também define cobrimentos de ancoragem inferiores a 5 metros sobre o trecho
ancorado.
A calda de cimento que constitui o bolbo de selagem é transmitida ao terreno envolvente
através de um sistema de injeção que veremos a seguir com mais detalhes.
A selagem de uma ancoragem pode ser executada através de injeções em fase única ou
em fases múltiplas. A primeira é executada por um simples preenchimento do furo aberto no
solo, ou através da aplicação de pressão apenas na boca do furo.
Caso a injeção seja aplicada por gravidade, ou seja, sem pressão, podem se verificar
dois cenários: (a) o peso próprio do tirante pode colocá-la em contato direto com o terreno,
mesmo com a utilização de espaçadores e centralizadores; (b) a resistência ao arranque da
ancoragem irá se mobilizar ao longo da superfície de contato entre o comprimento de selagem
e o terreno, senário este desejado pelo projetista.
Na fase múltipla, utilizam-se válvulas que permitem a injeção através de um longo tubo
inserido no interior do furo, permitindo o fluxo, em sentido único, de calda de cimento ou outro
aglutinante em uma ou mais fases, de acordo com as necessidades do projeto.
Nas injeções múltiplas, resultam em um novo posicionamento da selagem da ancoragem
no interior do furo. Em cada nova fase de injeção, a calda injetada rompe a calda existente,
fluindo em seu entorno e alojando-se entre a ancoragem e a terra, com o bulbo aumentando de
volume (CARVALHO, 2009).
A caracterização dos sistemas de proteção contra corrosão também se faz por meio de
injeção de calda de cimento aplicado em todos os elementos do s tirantes e devem seguir as
especificações estabelecidas pela NBR 5629 (2018) apresentados na tabela 1.
49
Tabela 1 – Sistema de proteção em função do meio e local
De encontro a tudo que vimos até agora, os próximos capítulos contribuirão para
entender os processos de execução das estruturas de contenção com ancoragem, os aspectos
técnicos e econômicos devido a sua implantação, e os principais tipos de estabilidade de
encostas com o uso de soluções de contenção com tirantes.
50
7 ESTABILIZAÇÃO DE ENCOSTAS E TALUDES COM O USO DE SISTEMA DE
ANCORAGEM
52
Muitos processos de escorregamentos em corte ocorrem devido a evolução da erosão,
em sulcos ou diferenciada, modificando a forma do talude, propiciando paredes subverticais,
geralmente incompatível com a resistência do talude, ver figura 22. O controle destas situações
pode ser resolvido pela aplicação de obras de contenção com ou sem tirantes.
De acordo com Santos (2017), as cortinas atirantadas podem ser usadas na estabilização
de taludes em colúvio em solos residuais que sofreram corte. Na aplicação da solução, a
presença de água na região da contenção deve ser levada em consideração. Diante disso, estudos
revelam que tanto as cortinas atirantadas com face drenante (drenagem funcionando
perfeitamente) quanto as cortinas com drenos sub-horizontais profundos, reduzem
consideravelmente as porros-pressões desenvolvidas na superfície de ruptura e
consequentemente a redução do nível de água nas proximidades da cortina, além de manter a
água distante da região de ancoragem, elevando assim, o fator de segurança de toda estrutura.
Entre as possíveis medidas preventivas e corretivas para estas duas situações acima, a
fixação dos blocos soltos utilizando-se da execução de tirantes. Na figura 25 é possível observar
duas colunas atirantadas que promovem a contenção de três blocos de rocha instáveis.
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Figura 24- Colunas atirantadas de contenção de blocos de rocha
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8 OBRAS ESPECIAIS DE ESTABLIZAÇÃO
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Figura 25- Exemplos de aplicação de tirantes
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Figura 27 - Sequência construtiva, simplificada, de cortinas atirantadas na contenção de cortes
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Figura 28 - Sequência construtiva, simplificada, de cortinas atirantadas na contenção de aterros
Por fim, deve-se escolher entre as técnicas de melhoria do terreno as contenções que
mais se adaptem ao problema apresentado e que permitem a contenção de encostas naturais e
de taludes artificiais, por meio de tirantes e drenagem, sendo este último discutido a seguir.
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no caso de obras de drenagem profundas, que se usada de forma inconveniente, poderá resultar
em gastos desnecessários e também em nenhum benefício.
De acordo com Mikos et al (2017), o sistema de drenagem deve ser implantado antes da
execução do paramento, para evitar o fluxo de água dentro do maciço. Os principais dispositivos
que devem ser considerados são: drenagem profunda, de paramento e superficial.
A drenagem de paramento tem a função de organizar o fluxo de água que converge
através do paramento pelo maciço. Normalmente são utilizados drenos curtos do tipo barbacã,
drenos de areia ou geossintéticos na face interna do paramento. Já a drenagem superficial tem
a finalidade de captar e direcionar o fluxo proveniente da crista e do pé do talude, como também
a água coletada pelos drenos profundos e de paramento, através do uso de canaletas e escadas
hidráulicas que conduzem a água para um ponto de captação ou descarga, como apresentado na
figura 29:
Segundo Ranzini e Negro Jr (1996), no caso de cortinas de contenção com corte que
interceptam o nível do lençol freático, geralmente é empregado o uso de drenagem profunda
através de drenos sub-horizontais perfurados, conhecido no meio técnico de DHP. Este método
consiste na introdução de um tubo perfurado de pequeno diâmetro, envolvido por uma tela
filtrante, diretamente em um furo aberto na horizontal realizado através de sonda rotativa.
Sistema este, que tem por objetivo rebaixar o lençol freático e reduzir o efeito da pressão
hidrostática atuante na cortina.
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O detalhe de um dreno sub-horizontal profundo (DHP), está representado com mais
detalhes na figura 30.
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9 ANÁLISE TÉCNICA E ECONÔMICA DE ESTRUTURA DE CONTENÇÃO COM
SISTEMA DE ANCORAGEM
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Para Marzionna (1996), esse sistema de contenção apresenta dois grandes
inconvenientes: Primeiro, uma vez executado o tirante não é mais possível sua reutilização;
segundo, pelo seu processo executivo não é mais possível retirá-lo do terreno após sua
utilização, podendo gerar interferência significativa com a implantação de futuras obras em
terrenos vizinhos.
Outro fator relevante é a escolha do paramento, visto que seu desempenho depende
muito das características do meio físico como, as condições do nível do lençol freático, a
disponibilidade de espaço para sua implantação e as condições das estruturas vizinhas, tornando
esse processo de escolha mais complexo.
Geralmente essas estruturas apresentam perdas ou acréscimos de cargas de trabalho
sobre os tirantes, valores que muitas vezes são diferentes daquelas cargas aplicadas na sua
implantação. O acréscimo de sobrecarga nos tirantes no decorrer dos tempos gera mudança na
distribuição de forças ao longo da parede estrutural da cortina, provocando deformações e
formação de fissuras na superfície do concreto, principal entrada de agentes agressivos
presentes no terreno arrimado e contaminado (MACHADO; MENDES, 2018).
De acordo com Saes et al (1998), outra situação é a execução de parede-diafragma
atirantada que exige a utilização de equipamentos de grande porte, não sendo possível sua
execução em locais onde esses equipamentos não conseguem ter acesso. A presença de
matacões também pode inviabilizar a execução desse tipo de estrutura de contenção.
De acordo com Machado e Mendes (2018), essa solução geotécnica é a forma mais
adequada de conter elevados esforços horizontais provenientes de escavações de grandes
alturas, com mínimo deslocamento do maciço terroso e rochoso, como também das estruturas
localizadas nas vizinhanças.
Apesar de antigo, a cortina atirantada é o método mais utilizado de contenção de
encostas, valendo-se de tirantes protendidos para dar sustentação ao terreno. Sua principal
vantagem é a possibilidade de aplicação sem necessidade de cortar além do necessário, não
somente como também, sua solução geotécnica consegue vencer qualquer altura e situação. No
entanto há uma desvantagem, sua implantação gera um elevado custo devido à demora na sua
execução. No entanto, a cortina ancorada é uma a solução geotécnica de grande utilidade e
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economia por se permitir que se utilize a menor quantidade de concreto armado na execução da
estrutura.
No intuito de se reduzir ao máximo a necessidade de remoção vegetal e evitar
definitivamente problemas de estabilidade global, garantindo fatores de segurança adequados,
é usual o uso de cortinas atirantadas em estabilidade de maciços rompidos. Além de menor
supressão vegetal, esta solução também possibilitará redução dos volumes de solo a serem
escavados, diminuindo assim custos de transporte e dificuldades com áreas de bota fora.
Em alguns casos, o maciço contido pela cortina poderá também ser regularizado de
forma a se proporcionar estabilidade local satisfatória do mesmo, para, em seguida, ser
revestido com gramíneas para proteção contra processos erosivos.
Os tirantes são funcionais pois trabalham ativamente devido a protensão. Em outras
palavras, isto significa que o sistema pode suportar os esforços com um mínimo de
deslocamento da estrutura em relação as outras estruturas convencionais que necessitam de uma
movimentação para a contenção começar a trabalhar. Além disso, a carga de reação do sistema
é obtida no interior do maciço o que torna a obra mais segura.
Outra particularidade dos tirantes é o fato de serem ensaiados individualmente,
garantindo uma qualidade de 100 % dos elementos construídos em relação à capacidade de
carga.
A outra vantagem da solução é de que o tirante utilizado é autoportante,
consequentemente não necessita de detalhes complexos de fundação. Por exemplo, um muro
de arrimo por gravidade requer estudos mais complexos de fundação em relação as cortinas
com tirantes.
Tratando-se de uma solução com elevado custo, por se tratar de uma obra que apresenta
alternativas técnicas a considerar, a evolução tecnológica deve ser acompanhada de uma
conscientização e racionalização dos processos de execução dessas obras, como também, da
escolha da solução mais adequada para aquele tipo de situação, ao invés de aplicar a solução
tecnicamente mais eficaz, porém, de maior custo, independente da sua real necessidade.
O projeto de uma cortina atirantada deve apresentar condições de segurança apropriadas
durante todo o processo de execução da obra. No caso do método descendente, durante todo o
processo de execução da cortina deverá existir todas as condições de segurança adequadas
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visando a segurança da obra propriamente dita, a segurança dos trabalhadores, dos
equipamentos e de tudo e todos que estiver no entorno.
Durante a implantação do método descendente, a estabilidade da obra pode ser
assegurada através do uso de escavação em nichos alternados, ver figura 31, ou ainda, caso as
placas estiverem sendo executadas em material de baixa qualidade, poderão fazer o uso de
estacas, a fim de apoiar os painéis, desde o topo do terreno.
De acordo com Carvalho (1991), a execução da solução não é implantada em uma única
só vez, mas sim em várias fases de construção, logo é indispensável o levantamento dos cálculos
de combate ao empuxo de terra em todas as fases de execução da obra. Neste aspecto é
importante salientar que os acidentes geralmente acontecem durante as fases de construção.
Outro ponto crítico desse tipo de estrutura é a barra de aço, que deve receber proteção
através da injeção de argamassa ou nata de cimento para evitar corrosão e consequentemente o
rompimento do tirante, especialmente próximo a cabeça do tirante e no trecho livre, onde há
maior presença de oxigênio e água. A corrosão da cabeça do tirante é uma preocupação
relevante em relação à vida útil e desempenho, principalmente em regiões litorâneas.
A figura 32, mostra o caso de ruptura de uma cortina atirantada que ocorreu no trecho
da rodovia ERS-115, com presença de rachaduras e afundamento do pavimento. O acidente
ocasionou a interdição da rodovia por aproximadamente um mês, acarretando danos sociais,
ambientais e econômicos, com isolamento de comunidades.
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Figura 272- Ruptura de cortina atirantada na ERS-115
Segundo Gerscovich et al (2016), no que se refere a NBR 5629 (2018), faz algumas
restrições em relação ao solo onde será executado o trecho de ancoragem dos tirantes (bulbo),
já vistos anteriormente.
Esses aspectos geológicos-geotécnicos do terreno em questão serão apresentados com
mais detalhes a seguir.
Além disso, a NBR 11682 (2009) preconiza, para efeito de análise e projeto de
estabilização de encostas, a obrigatoriedade de se executar sondagens para determinar as
características da encosta e a determinação da estratigrafia do terreno, sendo previsto no mínimo
três sondagens por seção.
No projeto de uma cortina atirantada, outros cuidados devem ser considerados, como a
existência de camadas de colúvio, sujeito de rastejo, passando por de baixo das fundações das
respectivas cortinas. Neste caso, é prudente que a fundação ocupe toda a camada de colúvio ou
que garanta, se possível, que não haja a possibilidade de movimentação da referida camada.
Além disso, outro cuidado especial também se dá quando existem camadas de argila de
baixa consistência sob os painéis das cortinas atirantadas. É de praxe o uso de estacas
(justaposta ou secante) para evitar a instabilidade dessas camadas de argila mole.
Conforme Gerscovich et al (2016), a investigação geotécnica não pode ser encarada
como um fator de mero custo adicional do empreendimento, pois, em muitas situações, esse
custo pode significar um grande investimento, resultando na elaboração de projetos com fatores
de segurança mais adequados e com otimização dos custos para implantação das obras.
Além dos aspectos técnicos a se considerar em uma obra de estabilização de terra, é
extremamente importante considerar a viabilidade econômica da obra antes de tomar qualquer
decisão. O próximo item abordará os aspectos econômicos a considerar na hora de executar
uma obra de estabilização com uso de tirantes.
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10 CONCLUSÃO
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Em suma, podemos dizer que um projeto de contenção com o uso de tirantes deve quase
que por obrigação, acompanhar a evolução tecnológica de sua aplicação com conscientização
e racionalização do processo de execução dessas obras. Esses cuidados farão com que o
engenheiro responsável escolha a solução mais adequada para aquele tipo de situação, ao invés
de só aplicar a solução tecnicamente mais eficaz, porém de maior custo. Exaltando, dessa forma,
a importância de um bom controle de qualidade associado a manutenções periódicas, uma vez
que os mecanismos de degradação são cumulativos e somente dessa maneira é possível a
obtenção de estruturas de qualidade, segurança e durabilidade.
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REFERÊNCIAS
CARVALHO, PAS de et al. Manual de geotecnia: Taludes de rodovias: orientação para diagnóstico e
soluções de seus problemas. São Paulo: Departamento de Estradas e Rodagens do Estado de São
Paulo, Instituto de Pesquisa Tecnológicas, 1991.
CRISPIM, F. A. Mecânica dos Solos II: Empuxo Lateral de Solos. Mato Grosso, 2011. Notas de Aula
- Departamento de Engenharia, Universidade do Estado de Mato Grosso.
DAS, B. M. Fundamentos Engenharia Geotécnica. 6.ed. São Paulo: Tradução All Tasks, 2007.
GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 3. Ed. São Paulo: Atlas, 1991.
MACHADO, A. X.; MENDES, L. C. Load check on anchored curtains located in geotechnical hazard
areas in the city of Rio de Janeiro. Revista ALCONPAT, v. 8, n. 1, p. 64-78, 2018.
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MARZIONNA, J. D. et al. Análise, projeto e execução de escavações e contenções. Fundações:
Teoria e prática, 2ª edição, Hachich et al.(eds.), cap, v. 15, 1996
SANTOS, I. G., 2017, Estabilização de taludes em colúvio com o uso de cortinas ancoradas, Tese de
D.Sc., COPPE/UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
SANTOS, J. V. B. Monitoramento das contenções utilizadas nas encostas da BA-099 (período de 2011
a 2016), entre Subaúma e Imbassai, litoral norte da Bahia. Anais Seminário de Iniciação Científica, n.
21, 2017.
YASSUDA, C. T., DIAS, P. H. V., Capitulo17 – Tirantes. In: HACHICH et al. Fundações: Teoria e
Prática. São Paulo: Pini, 1996. P.603-640.
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