Estabelecer Conduzir Uma Culturas
Estabelecer Conduzir Uma Culturas
Estabelecer Conduzir Uma Culturas
Manual do Formando
AUTOR
REVISÃO GRÁFICA
Instituto Politécnico Makhetele-Caia; 1ª Edição, 2023
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APROVAÇÃO
Orácio Pedro Chaúque (Director Geral)
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(Engenheiro Agrónomo)
[email protected]
ÍNDICE
INTRODUÇÃO ............................................................................................. 6
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-1 .......................................................... 7
DEMONSTRAR COMPREENSÃO SOBRE AS CARACTERÍSTICAS DAS
PRINCIPAIS CULTURAS, QUE VÃO INFLUENCIAR E DETERMINAR O SEU
ESTABELECIMENTO E CONDUÇÃO ........................................................... 7
1.1. CICLO DE VIDA DAS CULTURAS ...................................................... 8
1.1.1. Classificação das culturas............................................................ 8
1.2. PROPAGAÇÃO DAS CULTURAS ......................................................... 9
1.2.1. Propagação sexuada ou gâmica .................................................... 9
1.2.2. Propagação assexuada ou agâmica ............................................ 10
1.2.1. Vantagens e limitações do método.............................................. 11
1.3. MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO ASSEXUADA ..................................... 11
1.3.1. Estaquia .................................................................................... 11
1.3.2. Enxertia..................................................................................... 15
1.3.3. Mergulhia .................................................................................. 23
1.4. NECESSIDADES DAS CULTURAS ................................................... 26
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 27
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-2 ........................................................ 28
PREPARAR O SOLO .................................................................................. 28
2.1. PREPARAÇÃO DO SOLO NA PRODUÇÃO DAS CULTURAS .............. 29
2.1.1. Limpeza ou preparo inicial do solo ............................................. 29
2.1.2. Preparo Periódico do Solo ........................................................... 30
2.1.3. Melhoria da estrutura e fertilidade do solo ................................. 30
2.2. MÉTODOS DE PREPARO PERIÓDICO DO SOLO ............................. 32
2.2.1. Lavoura zero (Zero tillage) e mínima (minimum tilage) ................. 32
2.2.2. Lavoura convencional ................................................................ 34
2.2.3. Gradagem .................................................................................. 35
2.3. EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS MANUAIS DE PREPARO DO SOLO
.............................................................................................................. 35
2.3.1. Lâminas Anglodozer e Buldózer.................................................. 35
2.3.2. Tractores a Correntões ............................................................... 36
2.3.3. Arados ....................................................................................... 36
2.3.4. Grades ....................................................................................... 36
2.3.5. Subsoladores e Escarificadores .................................................. 37
2.3.6. Sulcadores ................................................................................. 37
2.3.7. Ferramentas manuais e/ou mecânicos de preparo do solo ......... 38
2.4. MEDIDAS DE HST NA PREPARAÇÃO DO SOLO .............................. 38
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 39
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-3 ........................................................ 40
MANUSEAR O MATERIAL DE PLANTIO PARA GARANTIR O
ESTABELECIMENTO DE UMA CULTURA NO CAMPO DEFINITIVO ............ 40
3.1. MATERIAS DE PROPAGAÇÃO DOS VEGETAIS ................................ 41
3.1.1. Propagação Assexuada (Plantio) ................................................. 41
3.1.2. Propagação Sexuada (Sementeira) .............................................. 41
3.2. FACTORES QUE AFECTAM O ESTABELECIMENTO DA CULTURA .. 41
3.2.1. Factores abióticos ...................................................................... 41
3.2.2. Factores bióticos ........................................................................ 45
3.2.3. Zoneamento agrícola .................................................................. 45
3.3. MEDIDAS DE HST NO MANUSEAMENTO DO MATERIAL DE PLANTIO
.............................................................................................................. 46
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 47
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-4 ........................................................ 48
PLANTAR OU SEMEAR O MATERIAL DE PLANTIO NO COMPASSO
CORRECTO ENTRE LINHAS E ENTRE PLANTAS NA LINHA, E NA
PROFUNDIDADE CORRECTA PARA CADA CULTURA ESPECÍFICA ........... 48
4.1. MÉTODOS DE SEMENTEIRA E PLANTIO......................................... 49
4.2. SISTEMAS DE SEMENTEIRA ........................................................... 49
4.2.1. Sementeira a lanço .................................................................... 49
4.2.2. Sementeira em covas ................................................................. 49
4.2.3. Sementeira em linhas ................................................................ 50
4.2.4. Plantio em camalhões ou sulcos................................................. 50
4.2.5. Época de sementeira ou plantio ................................................. 51
4.2.6. Datas de sementeira .................................................................. 52
4.3. DENSIDADE DE SEMENTEIRA OU PLANTAÇÃO ............................. 52
4.3.1. Compasso adequado .................................................................. 52
4.3.2. Relação entre a densidade de plantas e os recursos ambientais.. 53
4.3.3. Quantidade de sementes ............................................................ 54
4.4. FACTORES QUE DETERMINAM A PROFUNDIDADE DE SEMENTEIRA
.............................................................................................................. 55
4.4.1. Tipo do solo ............................................................................... 56
4.4.2. Tamanho da semente ................................................................. 56
4.5. ALFOBRES E VIVEIROS .................................................................. 56
4.5.1. Tipos de alfobres ........................................................................ 57
4.5.2. Tipos de viveiros ........................................................................ 58
4.6. PROCESSO DE GERMINAÇÃO DA SEMENTE .................................. 59
4.6.1. Fases da Germinação ................................................................. 59
4.6.2. Factores que influenciam a germinação da semente ................... 60
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 63
RESULTADO DE APRENDIZAGEM-5 ........................................................ 64
REALIZAR OPERAÇÕES CULTURAIS ........................................................ 64
5.1. OPERAÇÕES OU PRÁTICAS OU CULTURAIS ................................... 65
5.1.1. Escarificação ............................................................................. 65
5.1.2. Amontoa .................................................................................... 65
5.1.3. Desbaste.................................................................................... 65
4
5.1.4. Adubação em cobertura ou manutenção .................................... 65
5.1.5. Adubação foliar.......................................................................... 66
5.1.6. Controlo de infestantes .............................................................. 66
5.1.7. Controlo de pragas..................................................................... 68
5.1.8. Controlo de doenças .................................................................. 69
5.1.9. Poda .......................................................................................... 70
5.1.10. Sacha ...................................................................................... 71
5.1.11. Monda ..................................................................................... 71
5.1.12. Tutoramento ............................................................................ 71
5.1.13. Retancha ................................................................................. 71
5.1.14. Roguing ................................................................................... 71
5.1.15. Irrigação .................................................................................. 72
5.1.16. Vedações ................................................................................. 72
5.2. FACTORES QUE INTERFEREM NA ACTIVIDADE DOS HERBICIDAS 72
5.2.1. Classificação dos herbicidas....................................................... 72
5.3. FACTORES QUE INTERFEREM NA ADUBAÇÃO FOLIAR.................. 73
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO ............................................................ 74
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ................................................................... 75
5
INTRODUÇÃO
A Agricultura corresponde ao conjunto de actividades conducentes à obtenção
de altas produções e rendimentos, quer com populações vegetais quer com
animais, de forma a que o solo e a sua fertilidade sejam mantidos ou
melhorados, para a sua utilização pelas gerações vindouras.
Após conclusão deste módulo, o formando será capaz de demonstrar
compreensão sobre várias práticas culturais, desde a preparação do solo até
à colheita, incluindo as características das principais culturas, os
fundamentos da preparação do solo e o seu papel na produção de culturas e
preparação do solo usando equipamentos e ferramentas manuais, mecânicas
e de tracção animal.
O formando será ainda capaz de plantar uma variedade de culturas, colocando
as sementes ou outro material de plantio no compasso adequado, realizar as
diferentes operações culturais (sachas, amontoas, desbastes, desbrotes) de
acordo com a cultura, o clima, o solo, a planta e os sistemas de produção.
6
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
1
Demonstrar compreensão sobre as
características das principais culturas, que
vão influenciar e determinar o seu
estabelecimento e condução
Demonstrar compreensão sobre as características das principais culturas, que vão influenciar e determinar o seu estabelecimento e condução
7
1.1. CICLO DE VIDA DAS CULTURAS
O ciclo de vida de uma planta que produz sementes pode ser dividido em duas
fases: vegetativa e reprodutiva. A semente é o resultado final dos estágios
vegetativo e reprodutivo.
O ciclo de vida de uma cultura é composto por seguintes etapas:
i. Germinação das sementes;
ii. Crescimento vegetativo;
iii. Indução floral;
iv. Iniciação e desenvolvimento da flor;
v. Floração (desenvolvimento dos gametófitos masculino e feminino,
crescimento e abertura da flor, polinização e fertilização);
vi. Desenvolvimento do fruto e da semente;
vii. Maturação do fruto e disseminação da semente.
1.1.1. Classificação das culturas
Devido à grande quantidade de espécies envolvidas e as particularidades de
cada cultura, torna-se necessário uma metodologia capaz de evidenciar as
semelhanças e as diferenças botânicas ou de ordem tecnológica entre essas
culturas. Por isso, procura-se agrupá-las didacticamente e, nesse sentido,
existem várias classificações baseadas nas características comuns. As
culturas agrícolas são classificadas de acordo com o seu ciclo de vida e tipo.
Quanto ao ciclo, as culturas agronómicas classificam-se em:
a) Culturas anuais: Aquelas de ciclo curto, que finalizam seu ciclo produtivo
em 1 ano ou em até menos de 1 ano (por exemplo: arroz, tomate, couve,
batata-reno, feijão vulgar, cenoura, cebola, repolho, amendoim, alface,
beringela, beterraba, pepino, coentro, melão, milho, mexoeira, mapira,
gergelim, girassol, etc.);
b) Culturas bienais (bianuais): Aquelas cujo seu ciclo de vida varia entre 1 a
2 anos (por exemplo: cana-de-açúcar, feijão bóer, etc.);
c) Culturas perenes ou vivazes: Aquelas cujo seu ciclo de vida vai além de 2
anos (por exemplo: mangueira, coqueiro, citrinos, cajueiro, abacateiro,
papaieira, goiabeira, etc.).
Quanto ao tipo, as culturas agronómicas classificam-se em:
a) Culturas hortícolas: São geralmente de ciclo curto (anuais) e tractos
culturais intensivos, cujas partes comestíveis são directamente utilizadas na
alimentação humana, sem exigir industrialização prévia. As hortícolas
também são denominadas por cultura olerácea e são popularmente
conhecidas como verduras ou legumes (aquelas consumidas frescas ou “in
natura”), por exemplo: tomate, cebola, repolho, amendoim, alface, pepino,
etc. As hortícolas por sua vez se subdividem em:
✓ Hortaliças tuberosas: São aquelas cujas partes utilizáveis
desenvolvem-se dentro do solo, compreendendo: tubérculos (batata-
reno), rizomas (inhame), bolbos (cebola e alho) e raízes tuberosas
(cenoura, beterraba, batata-doce, mandioca);
8
✓ Hortaliças herbáceas: Aquelas cujas partes aproveitáveis situam-se
acima do solo, sendo tenras e suculentas. Pode se citar como exemplo
as folhas (alface, repolho espinafre), talos e hastes (aspargo), flores e
inflorescências (couve-flor, brócoli, alcachofra, alface, repolho, etc.);
✓ Hortaliças-fruto: Utiliza-se o fruto, verde ou maduro, todo ou em parte
(melancia, pimenta, quiabo, piripiri, ervilha, tomate, feijão verde,
beringela, abóbora, etc).
b) Culturas cereais: Aquelas cultivadas por seus frutos comestíveis,
denominados grãos, e a maior parte de cereais pertencem a família das
gramíneas, como por exemplo o milho, mexoeira arroz, mapira (sorgo),
trigo, etc.
c) Culturas oleaginosas: São aquelas que apresentam na sua composição
maior quantidade de óleos e gorduras que podem ser extraídos, por
exemplo o girassol, gergelim, etc;
d) Culturas fruteiras: São todas aquelas que produzem frutas, por exemplo
a mangueira, laranjeira, bananeira, papaieira, abacateiro, etc.
1.2. PROPAGAÇÃO DAS CULTURAS
No geral, existem dois tipos de propagação das culturas: propagação sexuada
ou gâmica e propagação assexuada ou agâmica.
1.2.1. Propagação sexuada ou gâmica
Este tipo de propagação é realizado através de sementes, ou seja; envolve a
união dos gâmetas masculino (contido no grão de pólen) e feminino (contido
no óvulo). Por exemplo o uso de sementes de milho, alface, laranja, caju,
tomate, cebola, etc, para produzir novas plantas;
Dessa forma, a propagação sexuada envolve a divisão celular através da
meiose, resultante da formação dos gâmetas masculinos e femininos. Disso
decorrem diversos fenómenos associados a esse tipo de divisão, tais como a
segregação dos genes, a permuta genética e o aumento da variabilidade
genotípica e fenotípica.
Por esta razão, este tipo de propagação gera descendentes não exactamente
idênticos a planta-mãe que lhes deu origem, o que é bastante útil no
melhoramento genético.
Em fruticultura a propagação sexuada tem as seguintes finalidades:
✓ Formação de porta-enxertos ou cavalos;
✓ Melhoramento de plantas (criar novas cultivares);
✓ Formar mudas de espécies autógamas, isto é, que não segregam
geneticamente quando propagadas via sementes.
1.2.1.2. Vantagens e limitações do método
A propagação sexuada é um tipo de propagação que implica uma maior
variabilidade entre os indivíduos, uma vez que estes refletem sempre, a
contribuição dos dois progenitores para a descendência. Por esse motivo deve
ser sempre considerada a necessidade de controlo genético da descendência.
9
A existência de maior variabilidade confere uma adaptação superior das
plantas em condições de solo e clima diferentes.
Podem ser referidas algumas vantagens deste método:
✓ Maior longevidade das sementes;
✓ Desenvolvimento mais vigoroso das plantas;
✓ Existência de um sistema radicular mais vigoroso e profundo.
Todavia, este método não garante as características varietais das novas
plantas; existe heterogeneidade entre plantas devido à segregação genética, e
subsiste um longo período de juvenilidade (sem produção de frutos),.
As principais desvantagens da propagação por sementes, está na segregação
genética das plantas heterozigotas, o que leva a uma frutificação mais tardia,
embora haja algumas excepções, como é o caso do maracujazeiro, cujo o
período improdutivo é semelhante entre plantas oriundas de propagação
sexuada e assexuada.
1.2.2. Propagação assexuada ou agâmica
É realizada através de partes vegetativas das plantas que podem ser raízes,
estacas ou brotos (por exemplo ramas de batata-doce, manivas de mandioca,
estacas de cana-de-açúcar, estacas de citrinos, dentes de alho, socas de
bananeira, coroas de ananaseiros, etc.), para produzir novas plantas.
A propagação assexuada, ou vegetativa, consiste no crescimento e
desenvolvimento de uma nova planta por meios assexuados. Este
desenvolvimento ocorre como resultado da fragmentação de uma parte da
planta ou pelo crescimento das partes vegetativas especializadas.
A nova planta obtida, clone, é geneticamente igual à planta que lhe deu origem
e com necessidades climatéricas, edáficas, nutricionais e de cultivo idênticas.
Não ocorre recombinação genética, uma vez que se utilizam segmentos
vegetativos. Desta forma, a planta é regenerada a partir de células somáticas
sem alterar o genótipo, devido à multiplicação mitótica.
Trata-se de um processo de multiplicação que ocorre através de mecanismos
de divisão e diferenciação celular, por meio da regeneração de partes da
planta-mãe.
Este tipo de propagação baseia-se em dois princípios:
✓ As células da planta contêm toda a informação genética necessária para
a perpetuação da espécie;
✓ As células somáticas (células responsáveis pela formação de tecidos e
órgãos), por consequência, os tecidos, apresentam a capacidade de
regeneração de órgãos adventícios.
Em fruticultura a propagação assexuada tem as seguintes finalidades:
✓ Formação de enxertos;
✓ Manter e conservar as características genéticas iguais às da planta-mãe;
✓ Reduzir o ciclo reprodutivo das espécies;
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Entre os principais processos de multiplicação vegetativa, podemos destacar-
se os seguintes: estacaria, enxertia, mergulhia, propagação por estruturas
especializadas e propagação in vitro.
1.2.1. Vantagens e limitações do método
A propagação vegetativa constitui um avanço para a multiplicação de plantas
selecionadas, possibilitando a produção de plantas geneticamente uniformes,
plantas e frutos tolerantes ou resistentes a pragas e doenças, ou plantas mais
bem-adaptadas a determinadas condições edáfico-climáticas.
Além disso, a ausência de juvenilidade é uma das principais vantagens em
termos económicos deste tipo de propagação. Quando propagadas por
sementes, muitas espécies apresentam um longo período de juvenilidade. Este
período, compreendido entre a germinação da semente e o início da produção,
em algumas espécies pode durar até 12 anos ou mais.
Durante a juvenilidade não há produção de frutos, o que implica um
prolongamento do período improdutivo do pomar. Esse período pode ser
reduzido com a propagação vegetativa, utilizando-se plantas que já estejam
em produção para a retirada de material a ser propagado.
Outras vantagens inerentes ao uso da propagação vegetativa são a facilidade
de propagação, antecipação do período de floração, combinação de mais de
um genótipo numa planta-mãe e maior controlo nas fases de desenvolvimento.
A multiplicação vegetativa em condições naturais terá essencialmente um
papel benéfico a curto prazo, permitindo a colonização acelerada de novos
habitats. Contudo, e numa perspetiva evolutiva, a propagação vegetativa não
deve ser minimizada, uma vez que uma multiplicação em massa significa uma
maior probabilidade de ocorrência de mutações, favorecendo a existência de
uma certa variabilidade genética.
1.3. MÉTODOS DE PROPAGAÇÃO ASSEXUADA
Os principais métodos de propagação vegetativa incluem a estaquia, enxertia
e mergulhia.
1.3.1. Estaquia
A estaquia é um processo de propagação no qual ocorre a indução do
enraizamento adventício em segmentos destacados da planta-mãe e que, uma
vez submetidos a condições favoráveis, originam uma planta.
Entende-se por estaca qualquer segmento da planta-mãe, com pelo menos
uma gema vegetativa, capaz de originar uma nova planta. As estacas podem
ser segmentos de caules, de raízes ou de folhas. A preferência pelas estacas
caulinares, em relação às foliares e radiculares, pode ser explicada pela maior
disponibilidade de material e eficiência na produção de novas plantas.
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a) Classificação das estacas
Na propagação por estacas caulinares utilizam-se segmentos de caules
contendo gomos terminais ou laterais, que são colocados em condições
adequadas à produção de raízes adventícias. As estacas caulinares são
classificadas em função do grau de lenhificação do caule em:
✓ Herbáceas: Retiradas de caules herbáceos com cerca de 8 a 13 cm,
normalmente com folhas. Nestas estacas o enraizamento tende a ser
mais fácil, mas exige maior controlo ambiental. O enraizamento requer
elevada humidade relativa e, sob condições adequadas, tende a ser
rápido, obtendo-se, em geral, elevadas percentagens de sucesso. A
utilização de promotores do enraizamento (auxinas) não é
indispensável, mas melhora a uniformidade da distribuição das raízes.
✓ Semi-herbáceas: Obtidas a partir da nova germinação de espécies
arbóreo-arbustivas de folha caduca ou persistente. Deve evitar-se
utilizar as partes dos ramos muito herbáceas e em crescimento activo e
preferir material já um pouco maduro, mas que mantenha a sua
flexibilidade. Se as folhas forem excessivamente grandes, devem ser
cortadas ao meio, de forma a reduzir a superfície de transpiração.
✓ Semi-lenhosas: São retiradas de espécies lenhosas de folha persistente
(exceto coníferas) ou de material de espécies de folha caduca desde que
colhido no Verão. Necessitam de sistemas de mist (condições de elevada
humidade relativa) e beneficiam do aquecimento basal.
✓ Lenhosas: Estas estacas são menos perecíveis do que as anteriores,
pelo que exigem menos cuidados na sua preparação e não exigem
controlo ambiental durante o enraizamento. Utilizam-se na propagação
de espécies lenhosas de folha caduca e em gimnospérmicas. Deve
descartar-se a parte apical dos ramos, normalmente pobre em reservas,
e preferir a parte central e basal.
1.3.1.1. Factores que influenciam a formação de raízes
A totipotência e a dediferenciação são dois factores essenciais na formação de
raízes adventícias. Em determinadas situações, as células vegetais
diferenciadas conseguem retomar a divisão celular na planta madura sendo
que, em algumas espécies, as células especializadas do córtex ou do floema
retomam a divisão e formam meristemas secundários, como o câmbio
vascular.
Na altura de preparação das estacas, o corte feito na região basal da mesma
provoca uma lesão no tecido vegetal, o que induz a divisão celular no local
lesionado. Até mesmo as células como as fibras do floema e células guarda,
que são altamente especializadas, podem ser estimuladas a dividir-se.
12
Contudo, essa divisão mitótica é auto-limitante, isto é, após poucas divisões
essas células param de se dividir e rediferenciam-se. Esse processo ocorre com
a finalidade de proteger o tecido vegetal contra infecção por organismos
patogénicos e para reduzir a desidratação.
O desenvolvimento de raízes adventícias pode ser dividido em quatro fases:
Dediferenciação de células diferenciadas específicas;
✓ Formação de raízes iniciais a partir de certas células com localização
próxima dos tecidos vasculares, que se tornam meristemáticas pela
dediferenciação;
✓ Desenvolvimento de raízes iniciais em primórdios radiculares
organizados;
✓ Crescimento e emergência dos primórdios radiculares.
A formação de raízes pode ser induzida através da aplicação de auxinas
(substâncias sintetizadas nas gemas apicais e folhas novas).
As auxinas mais utilizadas são o ácido indol-3-acético (IAA), que é uma auxina
natural e, o ácido 3-indol-butírico (IBA) e o ácido naftalenoacético (NAA) que
são auxinas sintéticas. A sensibilidade e resposta às auxinas e sua
concentração varia de espécie para espécie; a partir de determinada
concentração, o efeito pode ser mesmo inibitório.
São vários os factores que actuam, isolados ou em conjunto, no processo de
formação de raízes, factores esses que podem ser divididos em internos e
externos:
a) Fatores internos
✓ Condição fisiológica da planta-mãe: Por exemplo estacas retiradas
de plantas com défice hídrico tendem a enraizar menos; a condição
nutricional também afecta fortemente o enraizamento (hidratos de
carbono, relação C/N);
✓ Idade da planta: De um modo geral, as estacas provenientes de
plantas jovens enraízam com mais facilidade e tal manifesta-se,
essencialmente, em espécies de difícil enraizamento;
✓ Tipo de estaca: A escolha correcta do tipo de estaca vária com a espécie
ou mesmo com a cultivar. No ramo, a parte basal oferece maiores
hipóteses de sucesso, devido à maior acumulação de reservas e menor
acumulação de azoto. Pelo contrário, as semi-lenhosas, a parte mais
apical oferece um maior sucesso devido a uma maior acumulação de
auxinas;
✓ Época do ano: Relacionada com a consistência da estaca e condições
climatéricas (temperatura e disponibilidade de água);
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✓ Potencial genético: A capacidade de uma estaca formar raízes é
variável com a espécie ou cultivar. Nesse sentido, pode ser feita uma
classificação: espécie ou cultivar de fácil, mediano ou difícil
enraizamento;
✓ Sanidade: A sanidade durante a estaquia é influenciada pelo grau de
contaminação do material propagativo, pelo substrato, pela quantidade
de água de irrigação e pelos tratamentos fitossanitários que venham a
ser realizados neste período;
✓ Balanço hormonal: Especialmente entre as auxinas, giberelinas e
citocininas, uma vez que uns são inibidores e outros estimuladores do
enraizamento;
✓ Oxidação de compostos fenólicos: Em algumas estacas, o forte
escurecimento na região do corte da estaca ocasiona oxidação, o que
pode dificultar a formação de raízes. Tal pode ser amenizado com o uso
de substâncias antioxidantes.
b) Fatores externos
✓ Temperatura: O aumento da temperatura favorece a divisão celular e
consequentemente a formação de raízes. No entanto, especialmente em
estacas herbáceas e semi-lenhosas, estimula a transpiração induzindo
a dessecação da estaca;
✓ Luz: Envolvida na fotossíntese e na degradação de compostos fotolábeis
como as auxinas;
✓ Humidade: Para que haja divisão celular, é necessário que as células
se mantenham túrgidas;
✓ Substrato: Destinado a sustentar a estaca durante o período do
enraizamento, mantendo sua base em ambiente húmido.
1.3.1.2. Vantagens e limitações da estaquia
A principal característica das plantas originadas por este processo é a
capacidade de manter inalterada a constituição genética do clone durante as
gerações, o que não acontece, por exemplo, na enxertia por influência do
porta-enxerto.
Para além disso, a possibilidade de obtenção de grande número de plantas
num curto espaço de tempo a partir de poucas plantas-mãe, a entrada em
produção mais cedo que a propagação por semente ou pela enxertia e a
propagação de mutantes (para fixar um genótipo interessante) são também
vantagens do uso desta técnica.
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Contudo, muitas das plantas regeneradas por estaca não demonstram sinais
de rejuvenescimento, sendo caracterizadas por um crescimento muito lento
que pode ser, com alguma frequência, do tipo plagiotrópico (crescimento
horizontal).
Portanto, existem outros inconvenientes inerentes a esta metodologia, como
maiores dificuldades de controlo sanitário (vírus, bactérias) e dificuldade em
induzir a emissão de raízes em algumas plantas.
A estaquia é uma ferramenta frequentemente necessária à propagação por
enxertia, uma vez que a maioria dos porta-enxertos é obtida por esta via.
1.3.2. Enxertia
A enxertia consiste em fixar uma porção de um caule ou um ramo de uma
planta que interessa multiplicar (enxerto) a um porta-enxerto (ou cavalo) que
possua um sistema radicular eficiente. O processo de enxertia é utilizado
apenas em plantas que apresentam características em comum, como ser da
mesma família, possuir analogia no porte e folhas persistentes ou caducas.
Normalmente a enxertia é aplicada quando a estaquia é de difícil utilização ou
quando se pretende substituir um clone por outro. No caso da enxertia, não
há neoformação de meristemas, pois, estes já existem na planta, e as raízes
são fornecidas pelo porta-enxerto.
O método mais utilizado para a produção dos porta-enxerto é a propagação
por sementes, dado a facilidade em se obter um grande número de plantas,
por proporcionar plantas sadias e vigorosas e pela pouca exigência de práticas
culturais, permitindo a obtenção de porta-enxertos de baixo custo.
No entanto, a principal desvantagem é a falta de uniformidade das plantas.
Para colmatar tal limitação, pode utilizar-se, nos casos em que isso é possível,
a estaquia ou a mergulhia para produção dos porta-enxertos, uma vez que
ambas apresentam como vantagem a uniformidade das plantas obtidas.
Existem vários tipos de enxertia, os quais são aplicados de acordo com a
resposta das espécies à esse método, a habilidade do enxertador e, o custo e
operacionalidade da mesma.
Entre os diversos tipos, a enxertia pode ser classificada quanto ao método
utilizado, isto é, de acordo com o tipo de corte efetuado para a união das duas
partes, sendo as principais categorias a enxertia por garfagem e a enxertia por
borbulha.
1.3.2.1. Enxertia por garfagem
Este método consiste em soldar a porção de um ramo destacado, ao qual se
dá o nome de garfo ou enxerto, sobre um porta-enxerto ou cavalo. O garfo
pode ser cortado em forma de bisel ou de cunha, e conter um número variável
de gemas.
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a) Enxertia por garfagem em fenda cheia
Também chamada de enxertia de garfo no topo, é o tipo de enxertia mais fácil
de ser executado, além de ser o mais eficiente quando se tem grande diferença
de diâmetro entre enxerto e porta-enxerto.
Consiste em decepar o porta-enxerto, a uma altura variável, normalmente
entre 15 e 20 cm, dependendo da espécie e das condições da enxertia (Fig. 1).
De seguida, faz-se um corte no topo do porta-enxerto, de forma a formar uma
fenda para o encaixe do enxerto. Esse corte, geralmente, tem cerca de 2 cm de
comprimento, podendo, em alguns casos ser maior (até 5 cm).
No garfo, faz-se um corte em forma de cunha, o qual é introduzido no corte
realizado no porta-enxerto. Logo em seguida, amarra-se com cuidado de modo
a que pelo menos um dos dois lados da enxertia mantenha a casca de ambas
as partes em perfeito contacto, caso ambos não apresentem o mesmo
diâmetro.
Todo o processo deve ser feito o mais rapidamente possível, de forma a evitar
a influência de factores externos (vento, temperatura, patógenos, etc).
b) Enxertia de garfo em fenda
simples
Também chamada de enxertia de
garfo a inglês simples. É necessário
que o enxerto (garfo) e o porta-enxerto
apresentem o mesmo diâmetro, ou
muito semelhantes. A técnica
consiste em fazer um corte em bisel
no garfo e outro no porta-enxerto, os
quais são colocados sobrepostos de
Figura-1: Enxertia por garfagem em modo que ambas as partes fiquem em
fenda cheia perfeito contacto (Fig. 2).
Esse tipo de enxertia apresenta o
inconveniente de o enxerto não
possuir grande firmeza durante o
processo de cicatrização, mesmo
depois de amarrado, tornando-o
muito sensível quando deslocado e
impossibilitando o perfeito contacto
entre as partes. Além disso, o enxerto
pode quebrar muito facilmente
Figura-2: Enxertia por garfagem em mesmo após a planta atingir a fase
fenda simples adulta.
16
c) Enxertia por garfagem em fenda
dupla
Depois do corte em bisel do enxerto e
porta-enxerto, faz-se uma incisão
longitudinal no terço inferior do garfo
e no terço superior do porta-enxerto,
de forma que exista um encaixe
perfeito entre as fendas (Fig. 3). Este
método, proporciona maior área de
contacto entre as partes e também
melhor fixação, devido ao maior
encaixe dos cortes. Recomenda-se
que o diâmetro do enxerto seja o mais
Figura-3: Enxertia por garfagem em próximo possível do diâmetro do
fenda dupla porta-enxerto.
1.3.2.2. Enxertia por borbulhia
A enxertia por borbulhia, também conhecida por enxertia de gema, baseia-se
na inserção de uma pequena porção de casca do enxerto, contendo uma única
gema, sobre um porta-enxerto. É o tipo de enxertia mais utilizado em plantas
mais jovens, sendo que a enxertia pode ser de dois tipos: de gema activa,
normalmente no verão, altura em que as plantas se encontram em plena
actividade vegetativa, ou de gema dormente, quando as plantas já se
encontram no período de repouso vegetativo (geralmente no inverno). Apesar
do princípio ser o mesmo, existem diversas formas de realizar a enxertia por
borbulha.
a) Enxertia por borbulhia em T normal
Trata-se do tipo mais conhecido de enxertia por borbulhia. O seu nome deriva
da forma como é feita a incisão no porta-enxerto para inserção da gema
(borbulha). A gema para a enxertia é retirada de ramos da planta selecionada.
Para tal, faz-se um corte de modo que seja atingida parte do lenho, sem
danificar a gema e, de seguida, faz-se outro corte transversal da casca e retira-
se a gema (Fig. 4).
Faz-se uma incisão na forma de “T” no porta-enxerto, realizando-se um corte
vertical de 2 a 3 cm e, na extremidade superior, um corte horizontal. Esses
cortes devem ser feitos a uma altura aproximada de 20 cm do solo, cortando-
se apenas a casca que será desprendida do lenho.
O porta-enxerto deve apresentar diâmetro com cerca de 6 a 8 mm. Em
seguida, a gema deve ser inserida no corte efetuado no porta-enxerto, o mais
rápido possível para evitar a desidratação e oxidação, de modo a que esta fique
protegida.
17
Esta inserção deve ser feita de modo que a gema fique na posição correta, ou
seja, o corte transversal da gema deve ficar em perfeito contacto com o corte
transversal no porta-enxerto. Nesse ponto, iniciar-se-á a união entre as partes
que originarão a nova planta.
Realizado este procedimento,
deve-se proteger a gema
enxertada, recorrendo a uma
fita de polietileno para
amarrar a mesma, no sentido
de cima para baixo, evitando
que a gema seja empurrada
para fora do corte. Deve ter-
se o devido cuidado para que
a gema não seja coberta pela
fita, de forma a facilitar o Figura-4: Enxertia por borbulhia em forma de
crescimento. T normal.
b) Enxertia por borbulhia em T invertido
Método idêntico ao anterior sendo que, neste caso, o corte é feito na forma de
T invertido, como o próprio nome indica (Fig. 5). Em locais onde ocorre muita
chuva, ou para espécies que libertam muita água quando cortadas, este tipo
de enxertia previne a entrada de água na incisão na casca do porta-enxerto.
Esta entrada e acumulação de
água no local da enxertia
provocam apodrecimento dos
tecidos e impedem que ocorra
união. Neste tipo de enxertia, a
colocação da fita de polietileno
deve ser feita de baixo para
cima, evitando que a gema seja Figura-5: Enxertia borbulhia em forma de T
empurrada para fora do corte. invertido
c) Enxertia de borbulha em placa ou escudo
Também conhecido por borbulha de placa com janela aberta, trata-se de um
método utilizado em espécies que apresentam casca mais grossa. É uma
técnica mais difícil de executar comparativamente à enxertia em forma de “T”.
Neste tipo de enxertia, o porta-enxerto deve apresentar diâmetro entre 1,5 a
2,5 cm no ponto de enxertia, que é realizada, preferencialmente, a uma altura
aproximada de 20 cm do solo. De seguida, deve abrir-se uma janela de cerca
de 3 a 4 cm de altura na casca do porta-enxerto e com uma largura de 1 a 1,5
cm (Fig. 6).
18
Posteriormente deve retirar-se da planta-mãe
selecionada, uma placa de casca sem lenho que
contenha uma gema (com as mesmas dimensões),
a qual é inserida na janela aberta no porta-enxerto.
As dimensões da janela e da placa devem ser
sempre o mais próximas possível, possibilitando o
perfeito contacto entre a casca de ambos, e
consequentemente um maior sucesso na enxertia. Figura-6: Enxertia
A colocação da fita deve ser feita de baixo para borbulhia em escudo
cima.
d) Enxertia por borbulha anelar
Este tipo de enxertia consiste em remover a casca na circunferência do caule
do porta-enxerto, formando um anel (Fig. 7). Nessa circunferência, pode
manter-se uma faixa de casca no porta-enxerto, ou eliminar toda a casca. Para
isso, fazem-se dois cortes paralelos em redor do porta-enxerto, com uma
distância de 1,5 a 2,5 cm e a uma altura de aproximadamente 20 cm do solo.
Para se obter a gema a enxertar, faz-
se o mesmo corte no ramo que irá
fornecer a borbulha, previamente
colhido da planta-mãe. Esse anel, que
contem a gema, será introduzido no
anel feito no caule do porta-enxerto. A
colocação da fita deve ser feita de Figura-7: Enxertia por borbulhia
baixo para cima. anelar
e) Enxertia por borbulha em gema de lenho
Este tipo de enxertia é utilizado quando a casca não se desprende do lenho,
dificultando o uso de outros tipos de enxertia, como a borbulha em forma de
“T”. O método consiste em retirar um fragmento de um ramo com uma gema
e parte do lenho, que é a porção mais lenhificada do ramo (Fig. 8).
Outro fragmento, de igual
dimensão, deve ser retirado
também do porta-enxerto e deve
ser descartado. De seguida, a
gema destacada do ramo da
planta que se pretende enxertar é
colocada no corte realizado no
porta-enxerto, e amarrada com
fita de polietileno, de cima para
baixo, para que a gema não se Figura-8: Enxertia por borbulha em gema
desloque do encaixe. de lenho
19
1.3.2.3. Enxertia por encostia
Também conhecida por enxertia de aproximação, trata-se de uma técnica que
consiste na união lateral de plantas com sistemas radiculares independentes,
para, após a união do enxerto, separar uma das plantas do seu sistema
radicular e a outra, da sua parte aérea. Tem pouco uso a nível comercial.
a) Enxertia por encostia lateral simples
Neste tipo de encostia é
feito um corte na
superfície da casca do
enxerto e do porta-
enxerto sendo a
superfície destas unidas
de seguida (Fig. 9). Figura-9: Enxertia por encostia lateral simples
b) Enxertia por encostia em lingueta ou inglesa
Semelhante à
anterior, porém é feito
um segundo corte em
ambas as partes, de
forma a proporcionar
um encaixe entre o
porta-enxerto e o
enxerto (Fig. 10). Figura-9: Enxertia por encostia lateral simples
20
✓ Afinidade anatómica: é importante que o enxerto e o porta-enxerto,
apresentem células com tamanho, forma e consistência semelhantes.
✓ Porte e vigor: é recomendável que se utilizem plantas com porte e vigor
semelhante.
b) Fatores externos
✓ Temperatura: Geralmente temperaturas abaixo de 4 °C e acima de 32
°C dificultam o processo de cicatrização. Temperaturas baixas retardam
o processo de cicatrização, enquanto temperaturas elevadas aceleram o
crescimento das gemas antes da cicatrização, ou provocam a morte dos
tecidos. Geralmente, temperaturas entre 20 e 28 °C são mais indicadas
para obtenção de sucesso na enxertia. A temperatura ideal varia com a
espécie.
✓ Humidade: Fundamental para que ocorra multiplicação celular e,
consequentemente, união entre o porta-enxerto e o enxerto. A sua falta
leva a uma rápida desidratação dos tecidos, provocando a sua morte.
Por outro lado, o excesso de humidade pode facilitar o aparecimento de
doenças.
✓ Oxigénio: Necessário durante a divisão e alongamento celulares. Deve
evitar-se o uso de materiais que não permitam trocas gasosas, tais como
alguns tipos de ceras ou outros protectores.
✓ Luminosidade: Luminosidade intensa pode causar uma rápida
desidratação do enxerto, provocando a sua morte. Recomenda-se
realizar a enxertia em dias com baixa luminosidade ou nublados, ou,
ainda, proporcionar o sombreamento da planta enxertada.
✓ Vento: Pode provocar deslocamento ou quebra do enxerto,
principalmente na enxertia por garfagem, fazendo com que as partes
envolvidas não mantenham o contacto adequado e necessário para a
união dos tecidos. Além disso, acelera também o processo de
desidratação.
✓ Idade do porta-enxerto: Normalmente, porta-enxertos mais jovens
possibilitam um maior índice de sucesso, dado que apresentam
actividade celular mais intensa, o que facilita o processo de cicatrização.
✓ Época da enxertia: Quando se utiliza a enxertia por garfagem, a época
mais adequada é o inverno. No caso da enxertia por borbulha,
recomenda-se o verão. De entre os factores externos, este é um dos mais
relevantes para o sucesso da enxertia.
✓ Sanidade do material: As plantas devem estar livres de pragas e
doenças, para maior de sucesso dos enxertos.
21
✓ Técnica e habilidade do enxertador: A enxertia, para ser bem-
sucedida, deve ser praticada com bastante cuidado. É muito frequente
a aplicação inadequada da técnica nomeadamente, a pequena área de
contacto entre os câmbios do enxerto e do porta-enxerto, os cortes não
uniformes, a junção errada, os danos mecânicos causados na retirada
da gema, a desidratação dos ramos fornecedores de gemas e a utilização
de ferramentas pouco afiadas ou contaminadas, entre outros.
1.3.2.5. Vantagens e limitações da enxertia
Entre as vantagens do uso da enxertia, podem destacar-se as seguintes:
✓ Permite obter as características desejadas;
✓ Fixa híbridos ou mutações;
✓ Reduz o porte da planta;
✓ promove precocidade e plantas mais produtivas;
✓ Multiplica plantas hermafroditas;
✓ Restaura plantas danificadas;
✓ Previne plantas contra pragas e doenças de solo com uso de porta-
enxertos resistentes.
No caso de propagação de cultivares ou clones superiores, estes, geralmente,
já passaram por um processo rigoroso de seleção, apresentando
características superiores. Quando propagados por enxertia, essas
características serão mantidas na nova planta. Contudo, em casos em que não
se têm cultivares ou clones superiores selecionados, como é o caso de muitas
espécies nativas em início de estudo ou cultivo, o processo de selecção da
planta-mãe é de extrema importância.
Se a planta-mãe for mal escolhida, como, por exemplo, apresentar baixa
produtividade ou frutos pequenos e de pouco sabor, ou ainda muito
susceptível a pragas e doenças, todas as novas plantas produzidas
apresentarão essas mesmas características. Para além dessa limitação, é
necessária mão-de-obra muito especializada, o grau de dificuldade varia de
espécie para espécie; muitas vezes ocorre uma rejeição à enxertia sem origem
conhecida e a sobrevivência costuma ser baixa em muitas espécies (ex:
mangueira e pessegueiro).
Ainda assim, e para além das vantagens já mencionadas, a enxertia permite
propagar plantas que não podem ser multiplicadas por meio de outros
métodos. Algumas fruteiras não produzem sementes ou, muitas vezes, as
sementes apresentam um baixo poder germinativo. Também, inúmeras
espécies, quando propagadas por sementes, produzem descendência com
elevada variabilidade.
A enxertia é particularmente utilizada para espécies que não são possíveis de
serem propagadas por estacas.
22
1.3.3. Mergulhia
A mergulhia é um processo de multiplicação assexuada no qual a planta a ser
formada só é destacada da planta-mãe após ter formado o seu próprio sistema
radicular. Como o próprio nome indica, consiste em raspar uma parte do ramo
da planta que se deseja enraizar e mergulhá-lo no solo até que o ramo esteja
com as raízes formadas.
Este método de propagação assexuada pode ser realizado de formas distintas.
Contudo, todas elas partem do mesmo princípio:
✓ A cobertura parcial ou total do ramo, com solo ou outro material
semelhante, no qual se proporcionam condições de humidade,
arejamento e ausência de luz sendo, tais condições, favoráveis à
emissão de raízes.
Este processo pode ser realizado no solo, o mais comum, ou fora do solo, ao
qual se dá o nome de alporquia ou mergulhia aérea. Em geral, trata-se de um
método realizado no final do verão.
Os factores que afectam a formação de raízes pelo método de mergulhia são
praticamente os mesmos referidos para a estacaquia, diferindo apenas na
ordem de importância. Tal facto é explicado pela grande semelhança entre os
dois métodos de propagação.
1.3.3.1. Mergulhia de solo
Quando realizada no solo, a mergulhia pode ser classificada como simples
(normal e de ponta), contínua (chinesa, chinesa serpenteada) e de cepa.
a) Mergulhia simples normal
Consiste em curvar o ramo para o solo e
uma parte dele, a qual fica em contacto com
o solo, é fixada (para evitar danos às raízes,
causados principalmente pelo vento) e
coberta com solo, deixando-se a sua
extremidade descoberta e em posição
vertical (Fig. 11). Depois do enraizamento,
destaca-se da planta-mãe e faz-se o plantio
da nova planta num local definitivo ou num
recipiente, de forma dar continuidade ao Figura-11: Mergulhia simples
seu desenvolvimento. normal
b) Mergulhia simples de ponta ou invertida
Muito semelhante à mergulhia simples normal, porém, neste caso, a
extremidade do ramo fica coberta com solo (Fig. 12). Nesse ramo, ocorre
inversão de polaridade das gemas, que crescerão e formarão novas plantas.
23
Após o enraizamento, separa-se da planta-mãe e a nova planta é replantada
num local adequado.
e) Mergulhia de cipó
Em primeiro lugar, é necessário fazer a plantação de uma planta oriunda de
semente ou de propagação vegetativa, seja por estaca ou por mergulhia. Após
o estabelecimento da planta, faz-se uma poda drástica do tronco, de forma a
que a planta seja estimulada a emitir inúmeros novos rebentamentos.
24
Quando os rebentos tiverem entre 10 a 15 cm de altura, realiza-se a primeira
amontoa com terra, sendo a segunda realizado quando os rebentos atingirem
20 a 25 cm, e a terceira com aproximadamente 40 cm (Fig. 15).
A amontoa deve ser realizada no final do inverno, de modo a que se forme um
camalhão com 25 a 30 cm de altura para possibilitar um bom desenvolvimento
do sistema radicular formado. No inverno seguinte, faz-se a separação dos
rebentamentos enraizados da planta-mãe, retirando-se a terra com cuidado
para evitar danificar o sistema radicular.
O corte de separação deve ser feito o mais
próximo possível da planta-mãe, a qual
deve permanecer descoberta para emitir
novos rebentamentos. É de notar que este
método apenas pode ser utilizado em
espécies com capacidade para emitir
gemas adventícias ou dormentes, uma
vez que a poda drástica que é realizada,
toda a parte aérea da planta é eliminada. Figura-15: Mergulhia de cipó
f) Mergulhia aérea ou alporquia
Este método é utilizado quando o ramo não pode ser levado até o solo, por
estar localizado na parte superior da planta, por não ter comprimento
suficiente ou por não ser flexível. Nesse sentido, um ramo ao qual, num
segmento do caule, foi removida a casca, é rodeado por solo e vedado com um
plástico escuro ou balde. O substrato deve ser mantido sempre húmido, sendo
necessária a irrigação com certa frequência (Fig. 16). Após um determinado
período, variável entre as espécies, formam-me, na zona de corte, várias raízes.
A separação do ramo do resto da planta permite a sua cultura em solo e
clonagem da planta-mãe.
A alporquia, por ser uma técnica muito trabalhosa e de baixo rendimento, não
é utilizada na propagação em escala comercial de plantas frutíferas. Porém,
em espécies de difícil propagação pode ser utilizada com sucesso. É utilizada
para propagar várias espécies tropicais e subtropicais, como é o caso da lichia,
longan e Citrus aurantifolia.
25
1.3.3.2. Vantagens e limitações da mergulhia
Trata-se de um dos métodos mais simples e que apresenta a mais alta
percentagem de enraizamento, porém de pouca utilização na multiplicação
comercial, por ser uma técnica trabalhosa e exigir muita mão-de-obra
acarretando, por isso, um elevado custo em relação aos demais métodos de
propagação vegetativa. Ainda assim, é uma técnica recomendada para
espécies que apresentam problemas ou dificuldades de propagação por outros
métodos e além disso, é utilizada comercialmente para produção de porta-
enxertos de algumas fruteiras.
1.4. NECESSIDADES DAS CULTURAS
As culturas têm necessidades gerais de cultivo que contribuem para um
melhor desenvolvimento e produção, como por exemplo as necessidades
hídricas, nutricionais, a redução da competição com as infestantes e/ou
pragas e doenças e, têm necessidades especificas, como por exemplo, a poda
ou desbrota para o controlo de crescimento ou o desbaste para controlar a
densidade das plantas.
26
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. O ciclo de vida de uma planta pode ser dividido em duas fases.
a) Mencione-as.
27
2
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Preparar o solo
Preparar o solo
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de
aprender sobre:
a) O efeito da preparação do solo na produção das culturas
✓ Melhoria da estrutura e fertilidade do solo;
✓ A relação entre as propriedades fisicas e a preparação do solo
b) Método de preparação do solo
✓ Lavoura Zero (Zerro tillage), lavoura mínima (minimum tillage),
Lavoura convencional e gradagem.
c) Equipamento e ferramentas manuais e/ou mecânicas de preparo do
solo
✓ Arados simples de aivecas, grades de bicos, sulcadores, e
implementos manuais tais como enxadas, ancinhos e pás.
d) Medidas de HST na preparação do solo
✓ Uso apropriado do equipamento e ferramentas;
✓ Uso de equipamento de protecção pessoal.
28
2.1. PREPARAÇÃO DO SOLO NA PRODUÇÃO DAS CULTURAS
Na propriedade agrícola, para se chegar à fase de comercialização de um
determinado produto, são realizadas uma série de actividades denominadas
de operações agrícolas. As operações agrícolas iniciam com o preparo do solo
e terminam com a comercialização ou uso do produto. Dependendo da
condição actual do uso do terreno, o preparo do solo pode ser dividido em:
Limpeza ou preparo inicial e preparo secundário ou periódico do solo.
2.1.1. Limpeza ou preparo inicial do solo
Preparo Inicial do Solo compreende as operações necessárias para criar
condições de implantação de culturas, em áreas não utilizadas anteriormente
com essa finalidade. A principal operação que se caracteriza em tal processo
é a de desmatamento, que inicia-se com a eliminação da vegetação, seguida
de uma limpeza do solo visando a erradicação de pequenas raízes ou ramos.
2.1.1.1. Factores a ter em conta no preparo inicial do solo
a) Vegetação: É um dos principais factores a ser considerados, já que em
função de seu reconhecimento, é escolhido o método a ser utilizado no
processo de desmatamento, tempo necessário para desempenhar tal
trabalho e custos envolvidos. Constitui-se da verificação do número e
tamanho das árvores, densidade da vegetação, sistema radicular (formato
das raízes), cipós, etc.
b) Finalidade do uso do terreno: Refere-se à função que o terreno possuirá,
como rodovias, barragens, culturas, etc. Por exemplo:
✓ Se a finalidade do uso do terreno for a construção auto-estradas ou
barragens, é necessário a remoção total da vegetação;
✓ Se a finalidade do uso do terreno for a produção de culturas normais é
somente necessária a remoção da vegetação até 10 a 15 cm de
profundidade do solo;
✓ Se a finalidade do uso do terreno for a produção pecuária, algumas
árvores podem ser deixadas para servirem de sombras ou alimentos
para os animais.
c) Topografia: Os acidentes topográficos afectam e/ou limitam a utilização
normal de determinados equipamentos.
d) Condições climáticas: Afectam as operações desde o corte até a queima.
e) Especificação do trabalho: Determinam o grau de desbravamento, prazos
de execução e selecção adequada do equipamento.
29
2.1.2. Preparo Periódico do Solo
São as operações realizadas após o preparo inicial do solo, em que a
mobilização da camada superficial é realizada com implementos de órgãos
activos: Discos (lisos ou recortados), Hastes, Lâminas ou Enxadas e
Ferramentas, cuja conformação destina-se à erradicação de plantas daninhas.
2.1.3. Melhoria da estrutura e fertilidade do solo
Solos férteis e produtivos são componentes vitais das sociedades estáveis
porque eles garantem o crescimento das plantas, necessário para produzir
alimentos, fibras, forragem, produtos industriais, energia e para um ambiente
de produção sustentável.
Altas produtividades da cultura implicam em grande esgotamento no
suprimento de nutrientes, que, eventualmente precisa ser balanceado pelo
aumento no uso de insumos contendo nutrientes para manter os solos férteis.
Assim, a agricultura de alta produtividade depende de fertilizantes minerais
para restaurar a fertilidade do solo. Em um contexto mais amplo de
produtividade, a fertilidade regula o suprimento de nutrientes herdados
naturalmente nos solos ou aplicados como estercos ou outros fertilizantes
orgânicos ou organominerais.
A estrutura do solo é a combinação entre as partículas unitárias do solo
(agregados) e a porosidade do mesmo. As partículas unitárias do solo (silte,
areia e argila) unem-se através das forças de adesão e coesão formando os
agregados do solo. Estes agregados podem ser descritos como sendo pequenos
torrões de solo que apresentam a estabilidade.
O aumento da cobertura do solo, da actividade microbiana, da matéria
orgânica e a menor exposição da matéria orgânica à decomposição pelos
microrganismos, aumentam a estabilidade estrutural do solo, a qual tem uma
relação directa com a habilidade de um solo resistir à erosão.
Os microrganismos ajudam na formação e estabilidade dos agregados solo,
resultando numa melhor estrutura do solo com formação de poros de vários
tamanhos, sendo os poros mais finos para a retenção de humidade e os poros
maiores para a circulação do ar o que permite o fornecimento de água,
oxigénio e nutrientes necessários para as plantas.
Os microrganismos também participam na decomposição da matéria
orgânica, misturando-na com o solo, aumentando deste modo a estabilidade
dos agregados. A matéria orgânica bem decomposta liberta nutrientes que
ficam à disposição da raiz da planta, além de contribuírem para o
melhoramento da porosidade do solo, assim como a capacidade de infiltração
da água e de circulação do ar. A incorporação da matéria orgânica no solo,
por parte dos microrganismos reduz os riscos de perda de nitrogénio por
erosão e volatilização.
30
A presença de matéria orgânica no solo é fundamental para manter-se a sua
fertilidade. Esta matéria orgânica é constituída por material orgânico fresco
(resíduos de plantas e cadáveres de animais) e húmus. O material orgânico
fresco é convertido em húmus pelos organismos no solo. Este húmus, que
confere uma cor escura ao solo, permite reter muita água e nutrientes.
Isto significa que, para manter a fertilidade do solo, é preciso começar por
preservar a matéria orgânica que o mesmo contém, o que pode ser feito através
do uso de práticas agrícolas apropriadas e da aplicação de estrume e de
composto.
A matéria orgânica é importante na manutenção da fertilidade do solo e para
o bom desempenho do uso de fertilizantes. A queda dos níveis de matéria
orgânica ameaça a sustentabilidade da fertilidade do solo, em função do
aumento dos processos de lixiviação e da redução da liberação de fósforo para
o sistema radicular
2.1.3.1. Relação entre as propriedades físicas e a preparação do solo
As propriedades físicas (textura, estrutura, consistência, porosidade e
densidade) do solo podem influenciar de forma positiva ou negativa nas
actividdes de preparo do solo.
No geral, os solos de textura arenosa são fáceis de preparar do que os solos
de textura argilosa, pois, os solos argilosos, pela presença de partículas muito
finas (<0,002mm), tendem a ser mais compactos (maior densidade e menor
porosidade) em relação aos solos arenosos (partículas grossas de 2 a 0,05mm).
A estruturação do solo é promovida principalmente pela argila e matéria
orgânica do solo. Quanto mais estruturado o solo, maior é o volume total dos
poros que ele possui e maior capacidade de retenção de água e mais fácil de
preparar. A estrutura do solo está inversamente relacionada à densidade e
directamente relacionada à porosidade do mesmo, à aeração, infiltração de
água entre.
A consistência do solo ajuda na tomada de decisão sobre quando deve-se trabalhar o
solo, dependendo do tipo e objectivo do trabalho, pois, muitas das operações de
preparo do solo devem ser feitas quando o solo está no ponto de friabilidade.
A tabela-1 que segue, mostra como é que o solo comporta-se em seus diferentes
estados de consistência e a sua influência no preparo do solo.
Tabela-1: Efeito da consistência no maneio dos solos de médio e alto teor de argila
Consistência Seca Húmida Muito húmida
Forma Duro e áspero Friável e macio Plástico e viscoso
Condições para o Fácil Difícil
Muito difícil
preparo do solo
Resultados na O solo forma Solo destorroado Poças de solo
lavoura torrões e poeira
31
2.2. MÉTODOS DE PREPARO PERIÓDICO DO SOLO
O preparo periódico do solo pode ser feiro com recurso a vários métodos
(mecanizados ou manuais) que incluem a Lavoura Zero (Zerro tillage), lavoura
mínima ou reduzida (minimum tillage) e lavoura convencional (aração,
gradagem, subsolagem, escarificação e sulcagem).
A execução da aração sempre à mesma profundidade pode resultar, conforme
o tipo de solo, na formação de uma camada endurecida (compacta), conhecida
como “fundo-de-arado” ou “pé-de-arado” (hard-pan). Para evitar esse
problema, deve-se sempre que possível alterar-se o tipo do equipamento e a
profundidade de lavoura.
2.2.1. Lavoura zero (Zero tillage) e mínima (minimum tilage)
Sistemas de trabalho mínimo e trabalho reduzido são aqueles em que, ao invés
de se fazer a preparação do solo pelo sistema convencional de lavouras e
gradagens, o remechimento do solo é mantido a um mínimo, optando-se por
fazer a sementeira num campo "sujo" e fazendo o controlo de infestantes
através de produtos químicos (herbicidas).
Em geral os sistemas de trabalho mínimo reduzem o tempo e o esforço
necessário para a preparação do solo, permitindo que a sementeira seja feita
a tempo, que o controlo de infestantes seja melhorado, que a área preparada
(semeada) seja maior, acabando por permitir que um maior número de
culturas seja feito em cada estação ou ano. Tem sido assinalado que, entre as
principais vantagens do "minimum tillage", está o facto de reduzir a potência
necessária para a preparação do solo, assim como os seus custos.
Com a eliminação de práticas como as lavouras e gradagens, foi necessário
encontrar alternativas para o controlo de infestantes. Assim, recorre-se ao uso
de herbicidas, tanto pré-emergentes como pós-emergentes. Uns dos exemplos,
é o uso de AUXO (Tembotriona + Bromoxinil) e LAUDIS (Tembotriona +
Isoxadifene-etilo) no controlo de infestantes na fase inicial da cultura de milho.
Muito embora geralmente se usem herbicidas para o controlo de infestantes
no "minimum tillage", fazer o controlo manual (com enxada) das infestantes
pode levar a efeitos semelhantes àqueles obtidos com o uso de herbicidas.
Uma das vantagens dos sistemas de trabalho mínimo é o melhoramento do
solo a longo prazo. Com a adição contínua de matéria orgânica no solo, com o
sistema radicular das plantas a decompor-se "in-situ", não só, a
permeabilidade aumenta, por a água poder passar pelos canalículos abertos
pelas raízes, como a própria estrutura do solo vai melhorando.
Como se sabe, o processo de decomposição da matéria orgânica consome azoto
(N2) do solo, pelo que é frequente que os vários sistemas de trabalho mínimo
necessitem de maiores adições de azoto, para o suprimento das necessidades
das culturas.
32
Sempre que se pensa em introduzir o "minimum tillage" é fundamental fazer
uma análise económica, pesando-se os custos da potência utilizada no
sistema convencional de preparação do solo contra os custos dos herbicidas
a usar no "minimum tillage".
✓ Entre as vantagens do "zero-tillage" podem-se destacar:
✓ Permite o controlo da erosão pela redução do run-off;
✓ Redução na quantidade de combustível necessária;
✓ Permite uma maior flexibilidade na sementeira e na colheita;
✓ Reduz as necessidades de trabalho;
✓ Permite o melhoramento na retenção da água no solo;
✓ Reduz a evaporação, por existir uma maior cobertura do solo;
✓ Permite uma maior infiltração de água no solo;
✓ Permite a manutenção do nível de matéria orgânica no solo;
✓ Reduz a compactação do solo;
✓ Permite um aumento na eficiência no uso da rega;
✓ As técnicas culturais utilizadas adaptam-se à maioria das culturas.
Contudo, as culturas de raízes e tubérculos têm menos possibilidades,
devido á grande necessidade de remoção de solo na altura da colheita
e, por vezes, na sementeira;
✓ Reduz a necessidade de equipamento.
Entre as desvantagens há a salientar:
✓ A necessidade e o uso de adubos podem ser diferentes do convencional,
tanto na quantidade como no tempo, podendo levar a uma necessidade
de investigação, para a identificação de novas recomendações.
✓ Exige novas técnicas para a sementeira. Aspectos tais como a
profundidade, estabelecimento do contacto entre a semente e o solo e a
forma de cobertura da semente devem ser aprendidos e identificados.
✓ A temperatura do solo tende a ser mais baixa. Este facto pode ser um
problema nas regiões temperadas. Contudo, nas regiões tropicais, isto
pode ser uma vantagem.
✓ Controlo de infestantes tende a ser mais difícil. A propensão para
rápidas mudanças na composição florística pode levar à necessidade de
adopção de novas técnicas de aplicação e selecção e identificação de
novos herbicidas, assim como de rotação de culturas.
✓ Devido à existência de resíduos orgânicos na superfície do solo, existe
tendência para a ocorrência duma maior incidência de insectos,
roedores e doenças.
✓ Falta de estética de campos "sujos".
33
2.2.2. Lavoura convencional
A preparação do solo inclui todas as actividades que se realizam no solo antes
da sementeira, com o objectivo de criar um leito adequado para o crescimento
e desenvolvimento da cultura atravéz de:
✓ Modificações na estrutura do solo;
✓ Modificações no teor de água do solo;
✓ Incorporação de materiais estranhos e adubos;
✓ Redução da população de infestantes;
✓ Criação de condições para a mecanização;
✓ Controlo de pragas;
✓ Tornar alguns nutrientes mais assimiláveis pelas plantas;
✓ Aumentar a permeabilidade do solo;
✓ Facilitar o enraizamento;
✓ Nivelar e armar o terreno depois de actividades culturais ou colheita em
período chuvoso;
✓ Aumentar a temperatura do solo.
A preparação do solo realizada por pequenos agricultores, normalmente feita
com enxada, é geralmente pouco profunda, limitada apenas ao mais essencial
em termos de adequação do solo para cultivo e controlo de infestantes. O uso
de tracção animal permite uma lavoura mais profunda, mais uniforme e uma
maior área lavrada. Contudo, esta técnica é ainda pouco utilizada em
Moçambique.
Para além das vantagens directas trazidas pela introdução da tracção animal
para as lavouras, alguns problemas podem acontecer se não se tiverem certos
cuidados. Com o uso da tracção animal, maiores áreas podem ser lavradas
por cada camponês. Mas, caso não se introduzam, em simultâneo, algumas
alfaias para outras práticas culturais como a sacha, problemas podem
acontecer. Isto porque, com maiores áreas lavradas e semeadas, maior será a
necessidade de força de trabalho para a sacha e a colheita, especialmente
durante os períodos pico.
Assim, como a disponibilidade de mão-de-obra duma família camponesa é
limitada, pode haver tendência para o atraso das várias práticas culturais,
mormente a sacha. Com o atraso do controlo de infestantes, maior será a
competição imposta por estas, provocando-se assim um abaixamento dos
rendimentos. Este abaixamento pode mesmo provocar uma redução da
produção total.
Não só devido ao custo das lavouras, mas também devido aos seus efeitos, é
comum dizer-se que, os objectivos a serem atingidos com as lavouras se devem
lograr com o mínimo de trabalho possível. Pois, o excesso de trabalho pode
causar a pulverização da superfície que, por reduzir a infiltração, causa o
aumento do run-off e, subsequentemente, da erosão laminar.
34
Os efeitos benéficos das lavouras são temporários. A longo prazo, todos os
métodos permitem que a chuva destrua os agregados do solo, induzem à
formação de crosta, permitem a eluviação de partículas finas para maiores
profundidades e levam a maior run-off.
Em suma, a lavoura consiste numa operação de inversão de camadas. O arado
corta uma faixa de solo, denominada "leiva", que é elevada e invertida.
As finalidades da lavoura são:
✓ Eliminação ou incorporação profunda de restos vegetais; - aumentar a
infiltração de água;
✓ Aumentar aeração do solo;
✓ Melhorar estruturação (melhoramento de suas condições físicas,
químicas e biológicas, pela mistura da matéria orgânica com o corpo do
solo);
✓ Incorporar correctivos em profundidades;
✓ Enterro de larvas e ovos de insectos em profundidade ou destruição de
insectos nocivos pela exposição de larvas ao efeito do sol, ataque de
pássaros etc.;
✓ Controlo de plantas daninhas pelo enterro profundo e dificultando a sua
disseminação;
✓ Incorporação profunda de adubo orgânico (esterco);
2.2.3. Gradagem
A gradagem é a operação que complementa ou que completa a aração no
preparo primário do solo, apresentando como objectivo, destorroar e nivelar o
solo, facilitando as operações de semeadura, tractos culturais e até a colheita
de algumas culturas. Além disso, as grades realizam uma série de outras
actividades:
✓ Destruição de restos vegetais da cultura anterior;
✓ Incorporação de correctivos ou defensivos;
✓ Incorporação de adubo e sementes (semeadura a lanço);
✓ Destorroamento;
✓ Eliminação de plantas daninhas em início de desenvolvimento
(gradagem as vésperas da semeadura).
2.3. EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS MANUAIS DE PREPARO DO SOLO
2.3.1. Lâminas Anglodozer e Buldózer
a) Lâminas Anglodozer: São especialmente utilizadas na remoção e
derrubada de vegetação de diâmetro até 20 cm.
b) Lâminas Buldózer: São lâminas especiais utilizadas na derrubada de
vegetais com diâmetro que varia de 20 a 70 cm.
35
2.3.2. Tractores a Correntões
Acoplam-se à tractores de alta potência e de esteira. São recomendados para
cerrado e cerradão (diâmetros de vegetação até 10 cm).
a) Destocadores
Destocamento é a retirada dos restos vegetais principalmente deixados pela
operação com moto-serras e buldózer. Os processos de destoca podem ser:
✓ Mecânico: Utilizando-se destocadores rotativos e lâminas tipo rabo de
pato que trabalha com a força de tracção do tractor;
✓ Químico: Aplicando-se NaNO3 em um furo na árvore feito através de
uma broca. Este produto químico faz com que a madeira absorva e
deteriore-se. Tem a desvantagem de ser um processo demorado (cerca
de 3 meses;
✓ Manual: No qual são utilizadas ferramentas manuais como enxadas,
catanas, cerrotes, machados e outros.
36
Também têm a função de:
✓ Complementar o preparo do solo, no sentido de desagregar os torrões;
✓ Nivelar a superfície do solo para facilitar a semeadura;
✓ Diminuir vazios que resultam entre os torrões;
✓ Destruir os sistemas de vasos capilares que se formam na camada
superior do solo para evitar a evaporação de água das camadas mais
profundas.
As grades agrícolas podem ser de dentes, de molas ou de discos conforme as
figuras abaixo:
37
Figura-21: Sulcadores
2.3.7. Ferramentas manuais e/ou mecânicos de preparo do solo
São várias ferramentas manuais de preparo do solo, entre elas, as mais
conhecidas são:
✓ Ferramentas de preparo inicial do solo: aqueles usados para a
derruba das arvores ou destroncamento (Catana, Machado, Cerrote e
Motosserras);
✓ Ferramentas de preparo periódico do solo: aqueles usados para as
actividades de lavoura, gradagem e limpeza (Enxada, ancinho, pá).
2.4. MEDIDAS DE HST NA PREPARAÇÃO DO SOLO
Durante as operações de preparo do solo, deve-se ter sempre em consideração
das medidas de HST no manuseio do equipamento ou material de plantio.
Dentre elas citam-se:
✓ Uso de equipamentos individual e colectivos sempre que necessário;
✓ Desinfecção e limpeza dos equipamentos antes de depois de utiliza-los;
✓ Ter cuidado e guardar em lugares apropriados todos os equipamentos
após o seu uso;
✓ Garantir sempre a manutenção preventiva dos equipamentos agrícolas.
38
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
39
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
Manusear o material de plantio para
garantir o estabelecimento de uma
cultura no campo definitivo
Manusear o material de plantio para garantir o estabelecimento de uma cultura no campo definitivo
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de
aprender sobre:
a) Materiais de propagação dos vegetais
3
✓ Sementes, estacas, ramas, rizomas, tubérculos, plântulas.
b) Factores que afectam o estabelecimento da cultura
✓ Abióticos: Precipitação, Temperatura, Humidade relativa do ar,
velocidade do vento e solos;
✓ Bióticos: Variedade da cultura, infestantes, Pragas e doenças;
✓ Zoneamento agrícola.
c) Medidas de HST no manuseamento do material de plantio
✓ Desinfecção, limpeza, cuidados no uso de instrumentos cortantes;
✓ Equipamento de protecção individual.
40
3.1. MATERIAS DE PROPAGAÇÃO DOS VEGETAIS
A propagação dos vegetais pode ser feita por dois métodos: Sexuada e
Assexuada.
3.1.1. Propagação Assexuada (Plantio)
É o acto de colocar partes vegetativas ou mudas no solo para instalação de
uma determinada cultura. Dos principais materiais de propagação
Assexuada, incluem-se:
✓ As estacas (cana-de-açúcar);
✓ Manivas (mandioca);
✓ Tubérculos (batata-reno, Inhame);
✓ Ramas (batata-doce);
✓ Dentes (alho);
✓ Socas (bananeira);
✓ Rizomas (gengibre);
✓ Perfilhos (ananaseiro).
3.1.2. Propagação Sexuada (Sementeira)
É o acto de colocar a semente no solo. Na propagação sexuada usa-se
sementes como materiais de propagação das culturas, como por exemplo o
uso das sementes de milho, arroz, soja, trigo, algodão, hortaliças para a
produção de novas plantas.
3.2. FACTORES QUE AFECTAM O ESTABELECIMENTO DA CULTURA
3.2.1. Factores abióticos
3.2.1.1. Precipitação
A precipitação e sua má distribuição não é um factor limitante sério em climas
equatoriais. O problema real só começa quando a Evapotranspiração é maior
que a taxa de extracção de água do solo.
Em Moçambique a precipitação é sem duvida um dos mais importantes, senão
o mais importante, factores influenciando a agricultura. A duração da época
das chuvas, assim como a quantidade e distribuição da precipitação podem
limitar:
✓ Tipo de cultura a usar.
✓ Os rendimentos possíveis de obter.
A ocorrência de chuvas fortes e frequentes pode ser uma desvantagem
quando:
✓ Aumenta o lexiviamento de nutrientes.
✓ Provoca a erosão do solo e arrasta os adubos devido ao run-off.
✓ Interfere com as actividades agrícolas.
41
A ocorrência de períodos secos limita a produção durante parte do ano, a
menos que seja usada a irrigação. A duração do período chuvoso ou a
quantidade, distribuição e certeza de precipitação podem limitar:
✓ As culturas a utilizar.
✓ Os rendimentos possíveis de obter.
Na maior parte das zonas tropicais o regime da precipitação é o factor climático
mais importante para a agricultura determinando:
✓ O potencial agrícola da região.
✓ O sistema de produção em uso.
✓ As culturas a usar.
✓ A sequência e tempo de realização das operações culturais.
Depois da ocorrência de chuvas podem-se salientar as seguintes fases de
movimento da água:
✓ A primeira camada do solo enche até à saturação, drenando depois até
à Capacidade de Campo (Field Capacity).
✓ Satura a segunda camada, que também drena. O processo continua até
que todo o perfil fique cheio (até FC).
✓ Depois da chuva parar vai haver evaporação da superfície do solo e a
água vai ser utilizada nos primeiros 30-60 cm pela cultura.
Em muitas áreas a precipitação é menor que as necessidades potenciais da
cultura. Isto pode ter duas consequências:
✓ No fim do ciclo, a humidade é insuficiente e pode restringir o
crescimento e rendimento da cultura.
✓ Depois da colheita, o solo, nas camadas profundas, vai estar perto do
ponto de emurchecimento permanente, e deve ser recarregado antes da
sementeira seguinte.
3.2.1.2. Humidade relativa do ar
A Humidade relativa do ar varia com a precipitação total e a distribuição da
precipitação. Alta Humidade Relativa conjuntamente com altas temperaturas
favorece o desenvolvimento de doenças no campo e nos armazéns. Muitas
vezes é difícil secar os grãos até às humidades necessárias, levando à sua
rápida deterioração.
3.2.1.3. Temperatura
Temperaturas muito baixas não são normalmente um factor limitante nas
regiões tropicais, excepto a grandes altitudes, onde temperaturas abaixo dos
15 C retardam ou param o crescimento e desenvolvimento ou matam a
planta. Deve-se ter em conta que, para um aumento de 300 m em altitude,
existe um abaixamento da temperatura de 1,8ºC.
42
Geadas podem ocorrer a grande altitude. Algumas culturas suportam maiores
temperaturas que outras, mas isto está, muitas vezes, ligado à resistência á
seca (caso da mapira e do sisal). Altas temperaturas têm efeitos negativos
quando associados à falta de água.
Altas temperaturas associadas a baixas Humidades Relativas podem causar
efeitos negativos como:
✓ Podem matar as bandeiras do milho, por dissecação.
✓ Causam a queda de frutos de algodão.
✓ Causam a queda prematura de frutos em certas fruteiras.
Em solos sem cobertura, podem-se atingir temperaturas tais, que inibem ou
retardam a germinação e crescimento inicial das culturas. O efeito da
temperatura depende das culturas. Por exemplo, o milho é mais susceptível
que o feijão nhemba.
3.2.1.4. Duração do dia e fotoperíodo
No equador o dia tem cerca de 12 horas de luz durante todo o ano. A duração
do dia varia com a estação e a latitude.
A floração é afectada pela duração do dia, sendo o efeito conhecido por
fotoperiodismo. Existem 3 classes de comportamento em relação à floração:
a) Plantas de dias curtos: (cana, milho, mapira, batata-doce, soja, tabaco).
Estas plantas só florescem se o dia for menor que uma certa duração
crítica, sempre que o comprimento do dia esteja a diminuir. Entre a
duração óptima (menor que a crítica) e a crítica, o período entre a
germinação e a floração aumenta.
b) Plantas de dias longos: (trigo e cevada de inverno, espinafre, beterraba).
Só florescem se o dia for mais longo que um mínimo crítico, sempre que o
comprimento do dia estiver a aumentar. A floração é induzida por
fotoperíodos longos.
c) Plantas de dias neutros: Inclui as plantas não fotossensitivas (tomate,
algodão).
A temperatura nocturna interactua com o fotoperíodo. A maioria das plantas
tropicais são de dias curtos, como é o caso do feijão nhemba que é geralmente
de dias curtos, podendo ser também de dias neutros.
O período até a floração pode afectar o rendimento. Nos trópicos, podem-se
considerar duas situações:
a) Semear cedo, quando os dias alongam: Alonga o ciclo, por atrasar a
entrada em floração. A floração ocorre quando se atinge o período crítico
(resulta num maior período vegetativo).
b) Semear tarde, quando os dias encurtam: Provoca floração precoce.
43
Tabela-2: Comprimentos médios do dia à latitude de 20º S
44
3.2.2. Factores bióticos
3.2.2.1. Variedade da Cultura
Entre as características requeridas em variedade de uma cultura, destacam-
se: ciclo vegetativo adequado (Super precoce, precoce e normal), potencial
produtivo, tolerância a adversidades climáticas como déficits hídricos e
geadas, tolerância ao alumínio tóxico e à baixa fertilidade do solo e resistência
ou tolerância a pragas e doenças.
No entanto, a escolha da variedade adequada às condições climáticas da época
ou região de plantio é muito importante para o sucesso do empreendimento,
sendo considerada uma das etapas mais valiosas para a produção comercial.
3.2.2.2. Plantas infestantes
As infestantes possuem um crescimento inicial rápido, ocorrem na área em
alta densidade e, se não forem controladas, acarretam interferências negativas
ao desenvolvimento da cultura devida a habilidade competitiva pelos recursos
naturais e dos seus efeitos alelopáticos, sendo assim, consideradas um dos
grandes problemas na agricultura e indicadas como responsáveis por grandes
prejuízos nas culturas, aumentando o custo de produção até 30% do total.
As infestantes quando não forem controladas, chegam a diminuir de 6 a 7
vezes a produção final devido à competição por recursos naturais.
3.2.2.3. Pragas e doenças
A presença destes organismos pode reduzir significativamente a produção e
produtividade da cultura, causando injurias com diferentes graus de
severidade e danos directos e indirectos. Dependendo da condição nutricional
e a fase de desenvolvimento da planta, as perdas podem chegar a comprometer
completamente a produção.
3.2.3. Zoneamento agrícola
Cada cultura agrícola tem suas peculiaridades, como a susceptibilidade de
uma cultura às condições climáticas, fotoperíodo e principalmente em relação
à quantidade de calor e de água que chegam até a planta e a quantidade destes
para poder se desenvolver. Cabe ainda lembrar que nem todas as áreas e tipos
de solos são convenientes à utilização econômica de algumas culturas.
O zoneamento agrícola visa identificar e propiciar condições ambientais
favoráveis às cultivares para manifestarem seu potencial genético em termos
de produtividade.
Além disso, nos períodos em que as condições climáticas são adequadas às
necessidades da cultura, reduz os riscos de perdas por excesso ou déficit de
chuvas nos estágios críticos e contribui para optimizar o controlo das
infestações de pragas e doenças.
45
Como exemplo, as condições agroecológicas de Caia não favorecem o cultivo
de litchi, devidas as altas temperaturas que se verificam neste Distrito, pois
esta cultura se adequa melhor nas zonas de altas altitudes, nas quais as
temperaturas são baixas.
3.3. MEDIDAS DE HST NO MANUSEAMENTO DO MATERIAL DE PLANTIO
Durante o manuseamento de materiais de propagação das culturas, deve-se
ter sempre em consideração das medidas de HST no manuseio do
equipamento ou material de plantio. Dentre elas citam-se:
✓ Uso de equipamentos individual e colectivos sempre que necessário;
✓ Ter cuidado e guardar em lugares apropriados todos os equipamentos
após o seu uso;
✓ Desinfecção, limpeza, cuidados no uso de instrumentos cortantes,
equipamento de protecção pessoal.
46
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. A propagação dos vegetais pode ser feita por dois métodos: sexuada e
assexuada.
a) Mencione materiais de propagação dos vegetais que você aprendeu.
b) Explique quando é que se considera um material de plantio saudável
para um crescimento óptimo?
47
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
4
Plantar ou semear o material de
plantio no compasso correcto entre
linhas e entre plantas na linha, e na
profundidade correcta para cada
cultura específica
Plantar ou semear o material de plantio no compasso correcto entre linhas e entre plantas na linha, e na profundidade
correcta para cada cultura específica
Neste resultado de aprendizagem, os formandos terão oportunidade de
aprender sobre:
a) Métodos de sementeira e plantio
✓ Mecanizado
✓ Manual
b) Sistemas de sementeira
✓ Sementeira a lanço
✓ Sementeira em covas
✓ Sementeira em linhas
c) Densidade de sementeira ou plantio
✓ Compasso adequado
✓ Relação entre a densidade de plantas e os recursos ambientais
d) Factores que determinam a profundidade de sementeira
✓ Textura do solo, tamanho da semente
✓ Necessidades de material de plantio
✓ Poder germinativo da semente
e) Alfobres e viveiros
✓ Tipos de alfobres (tradicionais, controlados e tecnificados)
✓ Tipos de viveiros (tradicionais e moveis)
f) Processo de germinação da semente
✓ Germinação epígea
✓ Germinação hipógea
✓ Fases da Germinação
✓ Factores que influenciam a germinação da semente
48
4.1. MÉTODOS DE SEMENTEIRA E PLANTIO
A sementeira ou plantio pode ser feita segundo dois (2) métodos básicos:
a) Método mecânico: Pouco usado na agricultura tradicional, podendo a
semente ser distribuída a lanço, em sulcos ou em linhas por meio de
equipamentos mecânicos (semeadoras ou plantadoras mecanizadas).
b) Método manual: Este é método normalmente usado pelo camponês de
subsistência. Consiste na distribuição das sementes ou plântulas
manualmente.
A sementeira pode ser directa ou indirecta em alfobres.
a) Sementeira directa: Aquela feita directamente no campo definitivo
(cereais, leguminosas, oleaginosas, etc).
b) Sementeira indirecta em alfobres: Quando usa sementes pequenas
(alface, couve, tomate, etc.) em alfobres, cujas plântulas são
posteriormente transplantadas no campo definitivo.
c) Sementeira indirecta: Em alfobres e depois em viveiros para futura
enxertia e plantação (a maior parte das fruteiras).
d) Plantação directa: Quando faz uso de material vegetativo (estacas,
tubérculos, perfilhos, rizomas, socas, manivas, ramas, etc) plantado
directamente no campo definitivo (cana-de-açúcar, bananeira, ananás,
mandioca, batata-doce, etc).
e) Plantação em viveiros: Para posterior transplante no campo definitivo
(café, cacau, sisal).
4.2. SISTEMAS DE SEMENTEIRA
4.2.1. Sementeira a lanço
Pode ser manual ou com máquinas do tipo centrifugas, após a sementeira é
necessário cobrir a semente com outro implemento. Esta distribuição de
semente é a mais irregular, a profundidade é desuniforme e se torna
necessária um maior número de semente.
4.2.2. Sementeira em covas
É feito manualmente com espaçamento e quantidade de semente
determinados, é possível uma melhor uniformidade de enterrio, porém
caracteriza-se por ser um processo moroso, rotineiro, cansativo e
antieconómico.
É comumente utilizado para culturas perenes, como citrus, café, mangueira,
cajueiro, bananeira, e outras, entretanto algumas culturas semi-perenes,
principalmente em pequenas áreas, podem ser plantadas em covas, como é o
caso da mandioca.
49
4.2.3. Sementeira em linhas
Este sistema é considerado o mais racional e económico, isto porque
proporciona uma profundidade mais uniforme, facilidade nos tratos culturais,
maior rapidez, economia de sementes e etc. Para utilização deste sistema deve-
se observar o tamanho da área bem como a declividade para a partir daí
escolher as maquinas tratorizadas ou de tração animal.
4.2.4. Plantio em camalhões ou sulcos
Mais utilizado para culturas semi-perenes e anuais como cana-de-açúcar,
batata-reno, cebola, tomate, etc.
Muitas vezes existe a tendência para semear muitas sementes por covacho.
Neste caso, se não se fizer o desbaste, o rendimento é fortemente reduzido pela
competição entre plantas.
Tradicionalmente, é comum fazer-se a sementeira em zig-zag, ou seja,
distribuindo as plantas de forma mais ou menos uniforme pelo campo, mas
sem qualquer arranjo espacial geométricamente definido. Embora a
sementeira em zig-zag feita pelos camponeses em Moçambique já tenha sido
por diversas vezes acusada de ser uma das causas do baixo rendimento do
Sector Familiar, a afirmação não é completamente verdadeira pois, uma das
possíveis causas, de certo modo encoberta pela sementeira em zig-zag, é a
baixa densidade normalmente usada.
Na maioria dos casos, a sementeira localizada (linhas ou sulcos) é mais
vantajosa que a sementeira a lanço porque:
✓ Garante maior economia de semente (menor taxa de sementeira).
✓ Permite uma distribuição mais uniforme da semente.
✓ Permite maior uniformidade na profundidade de sementeira.
✓ Devido a se usarem menores densidades, existe menor competição entre
as plantas.
✓ Ataque de pragas e doenças é geralmente menor.
✓ Permite maior facilidade na realização das práticas culturais.
Quanto á forma da superfície do solo, a sementeira pode ser:
a) Sementeira em Lister ou sulcos
b) Sementeira plana
50
c) Sementeira em camalhões
/---->Superfície
/
** ** / **
* * * * * *
* O * * O * * O *
* ** * * \ * * ***
\-----> Semente
Quanto à distância entre as linhas, temos a sementeira:
a) A jorro ou em linhas contínuas.
b) Em linhas a espaços.
c) Em rectângulo.
d) Hexagonal ou quinconcial.
Quanto ao número de linhas, a sementeira pode ser:
a) Sementeira standard
OOOO Onde:
OOOO Compasso = Dl x Dp (cm).
OOOO Dl = distância entre linhas.
OOOO Dp = distância entre plantas.
b) Sementeira em linhas duplas
OOOOOO Onde: Compasso = (Df + Dlf) x Dp (cm).
OOOOOO Df = distância entre faixas.
OOOOOO Dlf = distância entre linhas numa faixa.
OOOOOO Dp = distância entre plan
c) Sementeira em faixas ou linhas múltiplas
OOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOO
OOOOOOOOOOOO
4.2.5. Época de sementeira ou plantio
Dentre as espécies cultivadas, cada variedade possui uma época de
semeadura de acordo com a região, com o ciclo da variedade, com a estatura
e com a incidência de pragas.
Existem para cada variedade em cada região os períodos ditos recomendados
em que as condições não são totalmente ideais, mas toleradas, e existem os
períodos ditos preferenciais onde a variedade pode expressar seu maior
potencial de produção, as condições de clima principalmente são as mais
favoráveis possíveis naquela região.
As regiões apresentam factores limitantes para as culturas, esse factores
podem ser, deficiência hídrica e baixas temperaturas principalmente, é a
partir desses aspectos que se determina a época de plantio para cada
variedade.
51
O ciclo da variedade indica dentro da época recomendada se o plantio pode
ser antecipado ou atrasado, pois, o período vegetativo ou de crescimento será
aumentado ou diminuído respectivamente, visto que, o inicio do florescimento
depende do fotoperiodo ou queda de temperatura.
A incidência de pragas em plantios antecipados normalmente é menor, pois
as condições antes eram desfavoráveis às pragas, por exemplo, um inverno
com baixas temperaturas no inicio da primavera haverá bem menos pragas
do que no final da mesma.
No geral, a época de sementeira e/ou plantio é de extrema importância, uma
vez que as culturas apresentam exigência diferente com relação à
temperatura, humidade e fotoperíodo, o que faz com que cada cultura tenha
uma época aproximada para o plantio e/ou sementeira
4.2.6. Datas de sementeira
É mais importante que os campassos, tendo maior influência sobre os
rendimentos.
Normalmente os camponeses atrasam as sementeiras. Deve-se semear logo
que as chuvas começam, mas, a preparação do solo é difícil em terreno seco
e, só depois do início das chuvas, é iniciada.
Algumas culturas (alimentos base) tem prioridade, atrasando a sementeira
das outras. Para além disso, aspectos como carência de mão-de-obra familiar
e falta de semente, podem também levar ao atraso da data de sementeira.
O atraso na sementeira, na agricultura de sequeiro, reduz normalmente a
quantidade de água disponível, o que leva normalmente a reduções no
rendimento.
4.3. DENSIDADE DE SEMENTEIRA OU PLANTAÇÃO
Densidade de sementeira ou plantação corresponde ao número de plantas
numa determinada área. a densidade adequada é aquela que garante a menor
competição possível entre a cultura e as infestantes com os recursos do meio
(nutrientes, espaço, luz e água) com maior produtividade.
O Espaçamento e a Densidade definem o "padrão" da cultura, a população de
plantas ou número de plantas por unidade de área
4.3.1. Compasso adequado
É aquele que permite o crescimento de folhagem suficiente para utilizar
maximamente a radiação, sem que ocorra excesso de auto-sombreamento,
enquanto que as raízes têm espaço suficiente para absorção de água e
nutrientes.
Existe pouca resposta à variação da densidade de sementeira nas culturas
com afilhamento e culturas prostradas, devido à sua grande plasticidade.
52
Variedades erectas devem ser semeadas em maiores densidades. Por exemplo,
para o amendoim, em Moçambique recomenda-se a utilização de compassos
de:
✓ 45 x 10 cm para as variedades erectas.
✓ 60 x 10 cm para as variedades prostradas.
Plantas perenes semeadas a altas densidades reduzem de rendimento com a
idade devido ao auto-sombreamento, como é o caso dos citrinos e da
bananeira, e também por falta de espaço para o crescimento e
desenvolvimento do sistema radicular.
Por vezes, semeia-se apertado para se fazer um futuro desbaste (em linhas
alternas ou plantas alternadas). Mas, deve-se pensar nos custos. Por vezes
esse desbaste é atrasado e efeitos negativos ocorrem. Noutros casos,
removem-se plantas vigorosas e de alto rendimento, deixando-se outras
menos produtivas.
No Sudão (Gezira), semear algodão de ciclo longo em densidades altas é uma
necessidade, especialmente para reduzir os danos causados por insectos.
O efeito de fertilidade do solo na densidade de plantação depende da cultura
e do local. Solos mais férteis podem suportar mais ou menos plantas que solos
menos férteis, dependendo do tipo de cultura, do seu crescimento e da
tecnologia utilizada.
A densidade de plantação depende de aspectos como:
✓ Pragas, doenças e infestantes.
✓ Clima.
✓ Solo.
✓ Espécie ou variedade da cultura.
Em Fruteiras e em grandes plantações, é preferível plantar em linhas com
distâncias que permitam a circulação de tractores para a realização de
diferentes práticas culturais, como é o caso da sacha e da protecção
fitossanitária. Esta redução da densidade, por aumento da distância entre
linhas, pode ser compensada quando se provoca um aumento do número de
plantas dentro da mesma linha.
4.3.2. Relação entre a densidade de plantas e os recursos ambientais
a) A água: Com o aumento da deficiência de água, deve-se reduzir a
densidade, para garantir o suprimento das plantas.
b) Nutrientes: Em solos férteis ou onde a disponibilidade de nutrientes é alta,
podem-se usar densidade mais altas, de forma a atingir maiores
rendimentos.
53
c) Luz: Com o aumento da densidade, reduz-se a quantidade de luz disponível
por planta, causando um maior sombreamento. Com vista a garantir
máxima intercepção deve-se:
✓ Minimizar a competição intra e inter-específica.
✓ Melhorar o padrão de distribuição e orientação das folhas.
✓ Aumentar a densidade, até atingir o LAI óptimo.
Para além do anteriormente falado, pode ainda sublinhar-se os seguintes
efeitos do aumento da densidade de plantas:
✓ Redução da extensão do sistema radicular e aumento da sobreposição
das raízes de várias plantas.
✓ Aumento da altura da planta.
✓ Aumento da susceptibilidade à acama.
✓ Devido ao aumento da competição entre plantas, a taxa de mortalidade
das plantas aumenta.
✓ Como as plantas ficam, regra geral, mais sensíveis, o índice de
incidência de doenças aumenta. A roseta do amendoim e outras
doenças transmitidas por afideos, tem a tendência de reduzir a
velocidade de espalhamento com aumento da densidade. Com
densidades mais baixas, embora o total de plantas atacadas possa ser
o mesmo, a área afectada é maior.
✓ Atrasa a maturação.
4.3.3. Quantidade de sementes
Para semear-se uma determinada área, deve-se antes, fazer-se uma prévia
planificação, do que vai semear-se, como vai semear-se, quais os gastos dos
bens a usar bem como a quantidade de sementes por forma a prever os
rendimentos esperados, por meio de análise se o que vai produzir-se será
viável ou não.
A quantidade de semente é calculada em função do número de plantas que se
deseja obter por metro linear.
𝑸𝒔(𝑲𝒈/𝒉𝒂) =
𝑁𝑆/ℎ𝑎 ∗ 𝑃1000𝑆(𝐾𝑔/ℎ𝑎)
Onde: Qs: Quantidade de sementes (kg/ha);
1000
Ns/ha: Número de sementes (s/ha);
P1000s: Peso de 1000 sementes.
O número de sementes é calculado com base na seguinte equação:
𝐷𝑒𝑛𝑠𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑝𝑙𝑎𝑛𝑡𝑎çã𝑜
𝑵𝑺/𝒉𝒂 =
PG(%) ∗ PF(%) ∗ VA(%)
PG: Poder germinativo da semente;
PF: Pureza física da semente
VA: Valor agrícola ou percentagem de sobrevivência
54
A densidade de plantação corresponde ao número total de plantas previsto
para uma determinada área e ela é calculada em função do compasso óptimo
definido (espaçamento entre linhas e entre plantas numa linha).
55
4.4.1. Tipo do solo
Em solos arenosos, solos leves ou em solos quentes devem-se fazer uma
sementeira mais profunda. Pois, a resistência posta pelo solo á germinação é
menor, devido à pouca coesão existente entre os grãos de areia.
Para além disso, deve-se ter em mente que, solos mais leves têm a tendência
a secarem a superficie do solo com maior rapidez. Assim, com uma sementeira
mais profunda, garante-se que a semente fique mais tempo em contacto com
solo húmido.
4.4.2. Tamanho da semente
Quando se usam culturas com sementes grandes, fazem-se as sementeiras a
maior profundidade. Estas sementes, por terem maior quantidade de
carbohidratos armazenados, conseguem vencer camadas de solo mais
grossas, apenas com as reservas acumuladas na semente.
No entanto, para sementes de tamanho menor, fazem-se as sementeiras a
menor profundidade. Estas sementes, por não terem maior quantidade de
carbohidratos armazenados.
4.5. ALFOBRES E VIVEIROS
São locais destinados a produção de mudas, como regra geral não devem ser
usados por mais de 2 anos, faz-se rotação com leguminosas anuais e em
especial para a maça se faz rotação com gramíneas, promovendo melhor
desenvolvimento da muda.
Aspectos a serem observados:
a) Localização: A escolha do local de um viveiro para atender as condições
de produção de mudas deve seguir os seguintes princípios:
✓ Não ser localizados em baixadas húmidas, que favoreçam o
aparecimento de doenças;
✓ Preferir topografia plana ou levemente ondulada para reduzir gastos;
✓ Possuir água necessária para seu consumo;
✓ Não ser situados em locais onde transitem pessoas ou animais que
possam contaminar as mudas;
✓ Possuir fácil acesso durante todo o ano e principalmente na ocasião das
chuvas.
b) Distribuição e orientação dos canteiros: Os canteiros devem ter 1,2 m
de largura e comprimento variável até o máximo de 20 m. Os espaços entre
os canteiros devem ser de 0,6 m. No meio dos viveiros deverá ser deixado
um corredor de 3,5 m de largura para passagem de veículos maiores. Entre
os canteiros e protecção deverá ser deixado um espaço livre de 1m
necessária manipulação das mudas.
56
Os alfobres e viveiros têm a vantagem de permitir um controlo e selecção
rigorosos durante o período de produção das mudas. É mais fácil controlar
plantas agrupadas em viveiros. A adubação, o sombreamento, a rega, o
controlo de infestantes e a protecção fitossanitária são facilitados e mais
económicos.
O uso de alfobres e viveiros permitem o avanço na produção de plantas, de
forma a que as plantas já estejam prontas para o transplante, quando o
terreno estiver pronto e as condições forem propícias.
O uso de sacos de plástico perfurados na base para drenagem produz árvores
mais rapidamente e permite uma maior taxa de sobrevivência depois do
transplante.
Deve-se usar solo novo para cada viveiro, devendo-se dar particular atenção à
rega. Sombreamento com rede fina (verde) é excelente e permite a rega. Como
forma de seleccionamento, as plantas com mau desenvolvimento ou atacadas
por doenças devem ser incineradas.
4.5.1. Tipos de alfobres
4.5.1.1. Alfobres tradicionais
Este tipo de alfobre é feito com uma largura de 1,0 a 1,2 m, sendo o seu
comprimento variável, podendo variar de 1 m (agricultura familiar) a 30 m ou
mais (agricultura convencional). A altura dos canteiros varia de 15 a 35 cm.
A largura dos canteiros é definida pelo comprimento médio do braço humano,
de forma a que, dois homens, trabalhando em lados opostos, possam fazer as
várias práticas culturais (sementeira, monda, escarificação, etc) de forma a
cobrir todo o canteiro.
Os alfobres tradicionais são particularmente úteis em solos pesados, pois
permitem uma drenagem melhorada, devido à elevação do solo.
57
É, ainda, usado para permitir a criação de condições ambientais diferentes
das climáticas. A armadura em tijolo ou bloco pode ainda servir como suporte
para coberturas.
___ ___
│ │ │ │
│__│......................................│__│
........_____│ │ SOLO + M.O. (5 – 8 cm) │ │_____.........
│__│......................................│__│
SOLO │ │ AREIA (20 – 25 cm) │ │SOLO
│__│......................................│__│
↓
Ttijolo ou bloco
58
4.6. PROCESSO DE GERMINAÇÃO DA SEMENTE
59
4.6.1.1. Fase de Embebição
A fase de embebição consiste na captação de água que provoca o
umedecimento inicial dos tecidos mais próximos à superfície. A quantidade de
água absorvida deve ser suficiente não só para iniciar a germinação, como
também para garantir que o processo ocorra até o fim.
4.6.1.2. Fase de Indução do Crescimento
Nessa fase há uma redução na captação de água. Ocorre a formação de novos
tecidos e a ativação do metabolismo.
4.6.1.3. Fase de Crescimento do Eixo Embrionário
A fase de crescimento compreende o processo de expansão celular e a ruptura
do tegumento com a protrusão da radícula (raiz embrionária). A radícula é a
primeira parte a emergir da semente
4.6.2. Factores que influenciam a germinação da semente
Existem diversos factores que afectam a germinação das sementes,
nomeadamente a sua qualidade, a dormência, o conteúdo em água, bem como
o ambiente a que são submetidas, incluindo a temperatura, a presença de
gases (principalmente oxigénio e dióxido de carbono) e a luz.
4.6.2.1. Qualidade da semente
A qualidade fisiológica da semente é representada pela viabilidade e pelo vigor.
A viabilidade é expressa pela percentagem de germinação, enquanto o vigor
favorece o estabelecimento rápido e uniforme no campo. Os principais factores
que afectam a qualidade inicial das sementes são as condições climatéricas
durante a maturação das sementes, o grau de maturação na colheita e a
incidência de danos mecânicos.
4.6.2.2. Dormência
A dormência é uma condição em que as sementes não germinam mesmo
quando expostas a condições ambientais favoráveis. Nesse estado, o
metabolismo das células é praticamente nulo, estando geralmente associado
à acentuada desidratação do citoplasma e desenvolvimento de tecidos
protetores nas sementes, permitindo que estas se mantenham viáveis por
períodos relativamente longos.
Do ponto de vista da sobrevivência da espécie no seu ambiente natural, a
dormência é vantajosa, pois faz com que a germinação seja distribuída ao
longo do tempo e que esta apenas ocorra quando as condições ambientais
forem favoráveis ao estabelecimento e sobrevivência das plântulas. Quando o
objectivo é a produção comercial, na qual se deseja que grande quantidade de
sementes germine num curto espaço de tempo, a dormência é um factor
prejudicial.
60
Consideram-se fundamentalmente dois tipos de dormência:
✓ A dormência primária: Está presente imediatamente após a paragem
do crescimento do embrião, ainda quando a semente se encontra na
planta-mãe. Esta dormência já existe, portanto, quando colhemos as
sementes, isto é, é programada geneticamente;
✓ A dormência secundária: Ocorre esporadicamente, após a maturação,
em resposta a condições específicas de ambiente, isto é, ocorre quando
não existem condições para a semente germinar (ex: temperaturas
demasiadamente elevadas, temperaturas baixas, escuridão prolongada,
períodos prolongados de luz, estresse hídrico e anoxia).
O conhecimento das causas dessa dormência é importante, pois permite que
sejam aplicados tratamentos apropriados, de forma a aumentar e uniformizar
a germinação. Existem alguns métodos utilizados para a quebra de dormência
de sementes, sendo os principais:
✓ A estratificação a baixa temperatura: Consiste em submeter as
sementes ao frio (normalmente entre 1 e 5 °C) e com humidade elevada
por um período variável. O frio desencadeia mecanismos internos,
modificando a natureza e o nível das hormonas vegetais envolvidas no
controle dos processos de dormência-germinação.
✓ A escarificação: Consiste em provocar ruptura ou enfraquecimento do
tegumento da semente, facilitando a germinação. Esse processo pode
ser mecânico ou químico. Na escarificação mecânica, a semente é
friccionada numa superfície abrasiva, tal como lixa ou areia. Na
escarificação química, utiliza-se normalmente o ácido sulfúrico
concentrado, o ácido giberélico, o acido úrico, o peróxido de hidrogénio,
entre outros. Tanto na escarificação mecânica como na química, deve-
se ter cuidado para não danificar o embrião.
✓ Tratamento com água quente: As sementes são imersas em água a
uma temperatura entre 77 e 100 °C, por período variável, dependendo
da espécie. Deve-se ter cuidado para não danificar o embrião, evitando
períodos prolongados de exposição em água quente.
✓ Tratamento hormonal: As principais hormonas utilizadas para
acelerar a germinação das sementes são as giberelinas, as citocininas e
o etileno, principalmente para a quebra da dormência do embrião. Já o
ácido abscísico possui um papel oposto uma vez que se trata de um
indutor de dormência. As concentrações e períodos de exposição às
hormonas também são variáveis, dependendo da espécie.
61
4.6.2.3. Teor de humidade
A água é essencial para activar o metabolismo da semente no momento da
germinação. O teor de água mínimo para a germinação depende da espécie,
variando geralmente, entre 40 e 60%. Relativamente ao teor de humidade
durante o armazenamento, as sementes são classificadas como:
✓ Sementes ortodoxas: Presentes na maioria das plantas cultivadas,
podem ser armazenadas com baixos teores de água, normalmente entre
2 e 5%, e a temperaturas abaixo de 0 °C.
✓ Sementes recalcitrantes: Apresentam teores de água entre 30 e 70%
quando maduras. Trata-se de um tipo de semente muito sensível à
dessecação e a baixas temperaturas durante o armazenamento e,
quando submetidas à secagem a teores de água abaixo de 30%,
geralmente perdem rapidamente a viabilidade.
Para as espécies que produzem sementes recalcitrantes, recomenda-se a
sementeira logo após a colheita evitando, assim, a perda de viabilidade e a
diminuição do poder germinativo.
4.6.2.4. Temperatura
A temperatura é um factor muito importante para a germinação, afetando
também o crescimento das plântulas. A temperatura óptima para a
germinação da maioria das sementes não dormentes varia de 25 a 30 °C. No
entanto, as sementes de algumas espécies germinam melhor a temperaturas
inferiores, por exemplo 15 °C.
4.6.2.5. Oxigênio
Na maioria dos casos, o oxigénio favorece a germinação das sementes, dado
que activa o processo respiratório. Já o dióxido de carbono, pelo contrário,
pode impedir ou dificultar a germinação quando em concentrações elevadas.
A longevidade das sementes, isto é, o período durante o qual as sementes
conservam a sua capacidade germinativa, varia muito consoante a espécie e
as condições de armazenamento. Além disso, outros factores como a
humidade da semente, a temperatura, o tipo de embalagem, os danos
mecânicos a que foram sujeitas, o processo de secagem e as pragas e doenças,
influenciam bastante a longevidade e viabilidade seminal.
Nas espécies cultivadas, cada variedade possui uma época de sementeira de
acordo com a região, com o ciclo da variedade, com a estatura e com a
incidência de pragas. Para cada variedade, em cada região, existem períodos
recomendados, em que as condições não são totalmente ideais, mas toleradas,
e existem os períodos preferenciais, onde a variedade pode expressar o seu
maior potencial de germinação.
62
EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
Culturas
63
RESULTADO DE APRENDIZAGEM
64
5.1. OPERAÇÕES OU PRÁTICAS OU CULTURAIS
Existe uma série de actividades, chamadas de operações ou práticas culturais
ou ainda, amanhos culturais, que se realizam após o plantio ou semeadura e
que vão se repetindo todo ano (no caso de culturas perenes ou bianuais), ou
em culturas anuais, que se realiza após o plantio ou semeadura até a colheita.
5.1.1. Escarificação
É uma operação realizada superficialmente com o objectivo de melhorar a
aeração do solo e a infiltração de água, utiliza como implemento o
escarificador, sendo mais utilizada em culturas perenes ou bianuais, pois com
a colheita pode ocorrer compactação do solo pelo trânsito de veículos.
5.1.2. Amontoa
A amontoa consiste em acumular solo na base da planta, é muito utilizada em
culturas produtoras de tubérculos e após a emergência/brotação, tendo como
objectivos:
✓ Diminuir o acamamento;
✓ Aumentar e facilitar o enraizamento;
✓ Controlar de plantas daninhas;
✓ Incorporar o adubo;
✓ Escarificar o solo.
5.1.3. Desbaste
É a eliminação de plantas em excesso na área de cultivo para obtenção do
padrão adequado. O desbaste deve ser feito após as plantas mostrarem o seu
potencial produtivo, porém, antes do início da competição entre elas, devem
ser eliminadas as plantas mais fracas e fora do alinhamento. Exemplo algodão
semeado em lister. O desbaste em espécies silvícolas é executado com
diferentes finalidades, entre elas:
✓ O aumento da produção volumétrica
✓ A melhoria da qualidade do produto final
✓ Acelerar o retorno dos investimentos, diminuindo os riscos do projecto.
Neste caso o desbaste não necessariamente retira plantas que não irão ser
aproveitadas, pois, neste caso, ele é utilizado para uma finalidade secundaria.
Por exemplo, Eucalyptus com a finalidade de produção de toras, realiza-se o
desbaste utilizando-se a madeira como carvão ou lenha.
5.1.4. Adubação em cobertura ou manutenção
Existem nutrientes que devido as suas características ou devido às
características da cultura devem ser aplicados parceladamente, tal como
Nitrogênio (sulfato de amônia, uréia e nitratos) e o Potássio (KCl, KNO3).
65
Adubação em cobertura é em relação a culturas anuais e a adubação de
manutenção é em relação à cultura perenes e semi-perenes. A adubação de
manutenção deve ser feita em função da espécie, idade, porte da planta, da
análise de solo e do potencial de produção que a lavoura tem, devendo ser
repetida quatro vezes aproximadamente, enquanto houver humidade no solo.
Actualmente, existem diversos tipos de adubos, que podem ser aplicados nas
formas sólidas, granuladas e líquidas. Existem ainda produtores que
aproveitam a tecnologia de irrigação para adubarem suas lavouras. Essa
técnica é chamada fertirrigação. A adubação pode ainda ser feita pelo solo ou
através das folhas.
5.1.5. Adubação foliar
Consiste no fornecimento de nutrientes através das folhas:
✓ Macronutrientes: Viável a adubação foliar com a finalidade de correção
de deficiência ou complementação do fornecimento via solo.
✓ Micronutrientes: Viável a aplicação para correção de deficiência ou
mesmo para o fornecimento total, neste caso é necessário a aplicação
de manutenção durante o ano.
5.1.6. Controlo de infestantes
Toda planta que se desenvolve em local inadequado e compete com a cultura
por água, luz, nutrientes e espaço físico e, em algumas vezes, criando
problemas na colheita.
5.1.6.1. Período crítico de competição
O período crítico de competição entre a cultura com as infestantes é o período
no qual a presença de infestantes acarretará em prejuízos futuros, ou seja, é
o período no qual a cultura é sensível a presença de infestantes e tem seu
desenvolvimento comprometido, seguido de queda de produtividade.
Geralmente, quanto maior for o período de convivência cultura-infestante,
maior será o grau de competição. No entanto, isto não é totalmente válido,
pois depende do momento do ciclo da cultura em que este período de
convivência ocorre.
Para muitas culturas (anuais ou bienais), o período crítico de competição é,
aproximadamente, equivalente ao primeiro terço do ciclo da cultura. Para
culturas perenes, competição ocorre praticamente durante o ano todo, sendo
que no período chuvoso a competição maior é por nutrientes no período seco
do ano a maior competição é por água.
66
5.1.6.2. Métodos de controlo de infestantes
a) Controlo cultural
O controle cultural consiste na utilização de técnicas de maneio da cultura,
tal como, época de sementeira, espaçamento, densidade, adubação, selecção
de variedades mais adaptadas ao ambiente, rotacção de culturas, cobertura
morta, etc. que propiciem o desenvolvimento da cultura, em detrimento ao da
planta daninha.
b) Controlo mecânico
É o método que pressupõem a eliminação das infestantes mecanicamente,
arrancando-as, enterrando-as ou moendo-as.
Podem-se distinguir:
✓ Sacha manual: É o método normalmente utilizado pelos camponeses
no controlo de infestantes. Os instrumentos utilizados são geralmente a
enxada e sachadeiras.
✓ Sacha mecânica: Usada geralmente na agricultura mecanizada.
Pressupõe o uso de sachadores, cultivadores, enxadas rotativas.
✓ Lavoura: O mais importante objectivo das lavouras em climas tropicais
é sem duvida o controlo de infestantes. Assim, as lavouras devem ser
planificadas e feitas de forma a conseguir o melhor controlo de
infestantes possível. As infestantes são mortas por enterramento. Uma
forma de aumentar a eficiência das lavouras no controlo de infestantes
é fazer-se uma rega ligeira antes da lavoura. Esta rega induz a
germinação de parte das sementes de infestantes, que são depois
eliminadas durante a lavoura, reduzindo a quantidade de infestantes
possível de germinar.
✓ Moagem: Esta é uma das possibilidades de controlo de infestantes e
redução da população de infestantes em épocas posteriores. Quando as
infestantes entram em floração e, de preferência, antes de produzirem
sementes viáveis, as infestantes são cortadas e moídas, podendo ser
depois usadas para a alimentação animal.
c) Controle químico
O método mais utilizado para controlar as plantas daninhas é o químico, isto
é, o uso de herbicidas (substâncias que quando aplicadas no solo ou sobre a
parte aérea das plantas daninhas, provocam sua morte). Suas vantagens são
a economias de mão-de-obra e a rapidez na aplicação.
67
d) Controle físico
✓ Fogo: Pouco utilizado, consiste da utilização de um lança chamas,
aonde irá coagula as células. O ponto térmico letal para a maioria das
células vegetais é entre 45-50 ºC, sendo que as sementes toleram um
pouco mais. É mais utilizado o método das queimas, sendo esta, uma
prática incorreta agronomicamente e ecologicamente.
✓ Eletroherb: Morte das plantas daninhas por choque, com custo 30-50%
mais baixo que o herbicida. Após a descarga elétrica as plantas
daninhas deixam de absorver água e nutrientes e começam a murchar
em poucos dias murcham e morrem.
✓ Inundação e drenagem: A inundação é utilizada principalmente na
cultura do arroz irrigado por inundação, controlando praticamente
todas as plantas, menos as aquáticas. A drenagem é eficiente no
controle de plantas daninhas aquáticas.
e) Controlo integrado
Consiste na utilização de mais de um método de controle. São as vantagens
do controlo integrado:
✓ Pode ser utilizado produtos mais baratos mesmo sabendo que a
eficiência de controlo é menor;
✓ Uso de doses menores;
✓ Redução no custo de controlo.
5.1.7. Controlo de pragas
O controlo de pragas é feito com recursos à vários métodos nomeadamente:
5.1.7.1. Métodos legislativos
Consistem na fiscalização de portos, aeroportos, etc. Realizado através do
serviço de vigilância sanitária (serviço de quarentena).
5.1.7.2. Métodos mecânicos
Utilizado em pequenas áreas, consiste na catação manual das pragas.
5.1.7.3. Métodos culturais
✓ Rotação de culturas: É eficiente no controlo de pragas mais específicas
das culturas;
✓ Aração do solo: Através da aração as larvas presentes no solo são
expostas à acção de pássaros, raios solares, etc.;
✓ Época de semeadura e de colheita: Normalmente as antecipações na
época de sementeira e de colheita propiciam menor ocorrência de
pragas;
68
✓ Destruição de restos: A destruição de restos culturais diminui a fonte
de alimentação de determinadas pragas. Ex: bicudo do algodoeiro;
✓ Poda e destruição de ramos: É uma prática mais utilizada em culturas
perenes, principalmente frutíferas. A poda dos ramos atacados diminui
a população da praga;
✓ Adubação e irrigação: Condição mais adequada ao desenvolvimento
propicia a planta maior tolerância à ocorrência de pragas.
✓ Selecção de variedades resistentes: Medidas ideais de controlo de
pragas.
5.1.7.4. Controlo por comportamento
Consiste na utilização de feromônios sexuais (substâncias produzidas pelos
insectos com a finalidade de atrair o sexo oposto):
✓ Controlo massal: Cápsula contendo o feromônio servindo como
armadilha para capturar os insectos;
✓ Confusão de machos: Uso de alta concentração do feromônio,
distribuído na área através de cápsulas, provocando perda de
orientação dos machos, que após certo tempo acabam morrendo;
✓ Uso de armadilhas luminosas: Importante no controlo de pragas com
hábito noturno, as pragas são atraídas pela utilização de lâmpadas
especiais.
5.1.7.5. Controlo físico
Pode ser utilizado o fogo par queimar restos de ramos podados, a água para
inundar a área (em arroz irrigado), etc.
5.1.7.6. Controlo químico
Realizado através do uso de produtos químicos que podem ser aplicados nas
sementes, no solo, em pulverização ou através da água de irrigação.
5.1.7.7. Controlo biológico
Realizado através de inimigos naturais das pragas. Por exemplo a broca-da-
cana é controlada através da vespinha (Cotesia flavipes).
5.1.8. Controlo de doenças
✓ Rotação de culturas: Consiste no cultivo alternado de culturas de
famílias diferentes época-após-época. É recomendado para o controlo
da maioria das doenças de plantas;
✓ Tratamento de sementes: Tem por finalidade proteger a semente e a
planta na fase inicial de desenvolvimento e eliminar doenças
transmitidas por sementes;
69
✓ Uso de sementes sadias: Prática importante no controlo de doenças
transmitidas por sementes;
✓ Enterro profundo dos restos: A destruição e enterro profundo dos
restos culturais é medida de controlo recomendada para várias
culturas;
✓ Época de semeadura: Na cultura do feijão, por exemplo, o mosaico
dourado transmitido pela mosca branca, a melhor medida de controlo é
realizar a semeadura em época de baixa população de mosca no campo;
✓ Selecção de variedades resistentes: Medida ideal de controlo. Por
exemplo, algumas variedades de feijão são resistentes ao mosaico
comum do feijoeiro;
✓ Controlo químico: Realizado através de fungicidas e bactericidas, que
podem ser aplicados nas sementes, em pulverização ou através da água
de irrigação.
5.1.9. Poda
Algumas plantas, especialmente as perenes, necessitam de podas, para a sua
boa formação, para a produção bons frutos, regularização da produção, para
a reforma da planta, para limpeza, etc. Existem diferentes tipos de poda, no
entanto, os principais são:
5.1.9.1. Poda de Formação
Visa orientar a formação da copa para sustentar futuras produções,
aproveitando melhor o potencial de produção da planta. É executada desde o
plantio da muda até que a planta tome o tamanho e o formato desejável. Deve
ser realizada em um ou dois anos, para formação de um dos três tipos de copa:
taça aberta, "Y" e líder central, sendo a primeira a mais utilizada.
5.1.9.2. Poda de frutificação
Após a entrada em frutificação, a planta deve ser podada com frequência, em
função do hábito de frutificação da espécie. Algumas plantas frutificam em
ramos novos, de um ano, e, anualmente, ramos novos devem ser emitidos
para serem os produtores no ciclo subsequente. Exemplo: pêssego, uva, etc.
Os principais objetivos da poda de frutificação são:
✓ Deixar um número adequado de ramos produtivos, para obter equilíbrio
entre a produção e a vegetação;
✓ Manter a produção mais próxima dos ramos principais;
✓ Obter maior quantidade de frutos com boa qualidade para
comercialização;
✓ Eliminar ramos com problemas ou mal localizados;
✓ Formar novos ramos produtivos para o ciclo seguinte;
70
✓ Facilitar o maneio fitossanitário da planta, promovendo melhor
insolação e arejamento da copa;
✓ Em plantas jovens (1 a 2 anos), desenvolver ramificações primárias
fortes e bem localizadas.
A poda de frutificação deve ser realizada conforme segue:
✓ Eliminação dos ramos doentes, secos, quebrados, machucados, mal
situados, próximos entre si e ramos ladrões (ramos vigorosos, com
orientação vertical para cima ou para baixo do ramo);
✓ Eliminação e/ou encurtamento de ramos que já produziram, visando a
renovação de ramos de produção para o próximo ano.
✓ Seleção de ramos mistos de ano que permanecerão e deverão produzir
na época actual.
5.1.10. Sacha
É uma operação cultural que consiste em remover a camada superficial da
terra eliminando as infestantes para permitir um bom desenvolvimento das
plantas, evitando assim a incidência de pragas e doenças. O objectivo desta
actividade é reduzir a competição inter-específica pelos recursos do meio como
água, luz, nutrientes e espaço.
5.1.11. Monda
É destruição ou remoção de infestantes à mão, que crescem num campo de
cultivo como é o caso da cultura de arroz. O objectivo desta actividade é
reduzir a competição inter-específica pelos recursos do meio como água, luz,
nutrientes e espaço.
5.1.12. Tutoramento
É uma operação cultural que consiste em colocar as estacas (tutores) junto da
planta para servir de suporte, cujo objectivo é evitar que os frutos toquem o
chão, por forma a não correr o risco de contaminação e apodrecimento. Por
exemplo: na cultura do pepino.
5.1.13. Retancha
É a operação cultural que tem por finalidade substituir as plantas mortas ou
não germinadas, numa dada cultura. O objectivo e manter a densidade de
sementeira e/ou plantação quase próximo do desejado por forma a atingir o
rendimento esperado.
5.1.14. Roguing
Actividade que consiste em eliminar plantas com sintomas de doenças ou
atacadas por pragas. O objectivo é evitar o alastramento de doenças e/ou
pragas por todo o campo.
71
5.1.15. Irrigação
Há culturas para quais não basta a água das chuvas. É preciso recorrer-se a
irrigação ou a prática de regadio. Nem todas as plantas têm necessidades
iguais de água. Umas precisam de mais água e outras em intervalos menos
frequentes. A irrigação tem como objectivo fornecer água para plantas no
momento certo e em quantidades requeridas, por forma a melhorar a absorção
de sais minerais do solo e as actividades fotossintéticas da planta.
5.1.16. Vedações
São muito importantes para a agricultura, pois para além de vedarem as
culturas também servem de quebra-ventos e vedam o acesso dos animais às
machambas.
5.2. FACTORES QUE INTERFEREM NA ACTIVIDADE DOS HERBICIDAS
a) Calor e luminosidade: O trifluralin, por exemplo, após a aplicação no solo
é necessário realizar a incorporação em no máximo 8 horas, com o objectivo
de evitar a degradação do princípio activo pela luz;
b) Humidade: É necessária boa humidade no solo para um bom
funcionamento dos herbicidas;
c) Fases de desenvolvimento das plantas daninhas: A fase mais adequada
para a aplicação PÓS é quando a planta daninha apresenta 2-3 pares de
folhas;
d) Escolha do herbicida: É necessário que na escolha do produto seja levado
em consideração as plantas daninhas predominante na área de cultivo;
e) Uso de espalhante adesivo: Tem por finalidade quebrar a tensão
superficial da água (aplicação em PÓS) aumentando o contacto com a área
foliar da planta.
5.2.1. Classificação dos herbicidas
5.2.1.1. Quanto ao modo de ação
a) Herbicidas de Contacto: Provocam a morte das partes das plantas que
entram em contato com o herbicida. Ex: paraquat (Gramoxone).
b) Herbicidas Sistêmicos: translocam no interior da planta provocando sua
morte. Ex: gliphosate (Roundup).
5.2.1.2. Quanto à seletividade
a) Herbicidas não selectivos: são herbicidas que provocam a morte de
qualquer planta. Ex: paraquat, gliphosate.
b) Herbicidas Selectivos: matam apenas algumas espécies de plantas
daninhas. Ex: trifluralin (Treflan). Às vezes é a planta que apresenta o
mecanismo da seletividade. Ex.: O milho possui uma enzima chamada
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glutation s-transferase que "quebra" o princípio ativo dos herbicidas do
grupo das triazinas (Gesatop, Gesaprin, etc.) em substâncias não tóxicas
para o milho. Em arroz a enzima arilacilamidase "quebra" o princípio ativo
do herbicida propanil em substâncias não tóxicas.
5.2.1.3. Quanto ao modo ou momento de aplicação
a) Herbicidas de pré-plantio incorporado (PPI): o herbicida é aplicado ao
solo antes da implantação da cultura, e incorporado geralmente com a
utilização de grade. Ex.: trifluralin;
b) Herbicidas de pré-emergência (PRÉ): o herbicida é aplicado ao solo após
a semeadura da cultura, porém antes da sua emergência. Ex: oxadiazon
(Ronstar);
c) Herbicidas de pós-emergência (PÓS): aplicado quando as plantas
daninhas estão em desenvolvimento.
5.3. FACTORES QUE INTERFEREM NA ADUBAÇÃO FOLIAR
a) Inerentes à folha
✓ Número de estômatos;
✓ Espessura da cutícula;
✓ Posição (vertical, horizontal);
✓ Idade da folha (folhas novas são mais ativas).
b) Inerentes aos nutrientes
✓ mobilidade dos nutrientes;
✓ velocidade de absorção.
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EXERCÍCIOS DE CONSOLIDAÇÃO
1. As práticas culturais são realizadas de acordo com as necessidades de
cada cultura.
a) O que são práticas culturais.
b) Mencione e descreva as operações culturais que você aprendeu.
c) Explique os objectivos de sacha e roguing e sua relação com o
crescimento das plantas
d) Mencione os principais factores que afectam na eficácia das operações
culturais.
e) Explique a diferença entre a adubação de fundo e a de cobertura.
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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
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Universidade Zambeze. Faculdade de Ciências Agrárias-Tete.
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