Ação Civil Pública - Paulo Oliveira Carmo
Ação Civil Pública - Paulo Oliveira Carmo
Ação Civil Pública - Paulo Oliveira Carmo
Fundamento Constitucional:
Lei 7.347/85:
Art. 1º Regem-se pelas disposições desta Lei, sem prejuízo da ação popular,
as ações de responsabilidade por danos morais e patrimoniais causados:
I - ao meio-ambiente;
II - ao consumidor;
VI - à ordem urbanística;
Parágrafo único. Não será cabível ação civil pública para veicular
pretensões que envolvam tributos, contribuições previdenciárias, o
Fundo de Garantia do Tempo de Serviço - FGTS ou outros fundos de
natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados.
AÇÃO CIVIL PÚBLICA X AÇÃO COLETIVA
Nem toda ação civil pública pode ser considerada uma ação coletiva. Segundo a doutrina, a
ação coletiva é gênero, que abarca uma série de ações, tais como ação civil pública, ação popular,
ação de improbidade, mandado de segurança coletivo etc.
Nesse sentido, a doutrina afirma que para que uma demanda possa ser considerada uma
ação coletiva, o pleito deverá conter 05 requisitos básicos:
Diante desse cenário, se a ação veicular uma pretensão individual não haverá ação coletiva,
mas uma ACP para tutela de um direito individual.
Por fim, para saber se se trata de ação coletiva, o importante não é o nome dado a ação,
mas seu conteúdo (princípio da atipicidade).
PRESCRIÇÃO
Os Tribunais Superiores atribuem uma interpretação restritiva ao parágrafo único do art. 1º,
entendendo que ele somente se aplica quando as pretensões listadas por ele forem os pedidos da
ACP. Assim, não haverá problema quando as pretensões citadas nele forem a causa de pedir da
ACP. Dessa forma, o STJ já entendeu que o Ministério Público tem legitimidade para ajuizar ação
civil pública cujo pedido seja a condenação por improbidade administrativa de agente público que
tenha cobrado taxa por valor superior ao custo do serviço prestado, ainda que a causa de pedir
envolva questões tributárias (REsp 1.387.960-SP).
(RE 643978; Órgão julgador: Tribunal Pleno; Relator(a): Min. ALEXANDRE DE MORAES;
Julgamento: 09/10/2019; Publicação: 25/10/2019 – Informativo 955)
COMPETÊNCIA
Art. 2º As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro do local onde
ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e
julgar a causa.
Nas demandas coletivas existem dois critérios para determinar a competência: o primeiro é
o foro do local do dano (Art. 2º, da LACP). O segundo é o âmbito de extensão do dano (Art. 93, II,
do CDC c/c art. 21 da Lei 7.347/85).
Como a LACP não trata das situações em que o dano é nacional ou regional, por força do
microssistema da tutela coletiva, a doutrina entende que o art. 2º deve ser aplicado em conjunto com
o art. 93, II, do CDC. No mesmo sentido, vem entendendo o STJ (Resp 448.470/RS).
Dessa forma, se o dano for local, a competência será do foro onde ele ocorreu. Já se o dano
for de âmbito regional ou nacional, será competente o foro da capital do Estado ou do Distrito
Federal, um ou outro, sem que haja preferência entre eles. No caso de competência da Justiça
Federal, se no local do dano não houver vara federal, mesmo assim a demanda deverá ser julgada
pela Justiça Federal, não sendo a competência deslocada para Justiça Estadual.
AÇÃO CAUTELAR
Art. 4º Poderá ser ajuizada ação cautelar para os fins desta Lei, objetivando,
inclusive, evitar dano ao patrimônio público e social, ao meio ambiente, ao
consumidor, à honra e à dignidade de grupos raciais, étnicos ou religiosos, à
ordem urbanística ou aos bens e direitos de valor artístico, estético,
histórico, turístico e paisagístico.
LEGITIMIDADE
I - o Ministério Público;
(…)
Se o MP não intervier como parte atuará sempre como fiscal da lei (§1º). A doutrina mais
moderna vem adotando, inclusive, a terminologia “custus juris”, é dizer, o MP não deve atuar
apenas como fiscal da lei, mas de todo o ordenamento jurídico.
O STJ entende que é desnecessária a intervenção do MP como fiscal da lei em ACP que foi
ajuizada pelo próprio MP (Resp 156.291/SP). Portanto, só haverá intervenção do MP como “custus
legis” em ação civil pública em que o parquet não figure como autor ou litisconsorte do autor.
b) Atuação obrigatória
A atuação do MP como fiscal da lei é obrigatória. O STJ, contudo, entende que ausência de
intimação do MP em ACP para funcionar como fiscal da lei não dá ensejo, por si só, a nulidade
processual, salvo comprovado prejuízo (Resp 1.207.855/SE).
c) Desistência infundada
e) Legitimidade do MP
Hipóteses admitidas pelo STF e STJ:
1º MP tem legitimidade para proteger mediante ACP o patrimônio público de forma ampla.
2º Com base no artigo 129, V, da Carta Magna, o MP tem legitimidade para propor ação
civil pública em defesa de comunidades indígenas (Resp 961.263/SC);
7º O MP é parte legítima para ajuizar ACP em defesa dos interesses dos mutuários do SFH
(Agrg no Resp 633.470/CE);
9º O MP tem legitimidade para propor ACP com o objetivo que cesse a atividade tida por
ilegal de, sem autorização do poder público, captar antecipadamente poupança popular, ora
disfarçada de financiamento para compra de linha telefônica (Resp 910.192/MG);
10 - A inclusão de débitos não autorizados na conta do consumidor e cobrados em razão do
uso pelo consumidor ou por terceiro de serviço valor adicionado legitimam o MP a propor ação com
o objetivo de garantir a continuidade do serviço público essencial de telefonia fixa (Resp
605.755/SP);
11 - O MP tem legitimidade para propor ACP visando a cessação de jogos de Azar (Resp
813.222/RS);
13 - O MP tem legitimidade para propor ACP com o objetivo de manter curso de ensino
médio no período noturno de colégio custeado pela União (Resp 933.002/RJ);
16 - O MP tem legitimidade para propor ACP contra resolução que impõe aos graduados a
obrigação de realizarem exame como condição prévia à obtenção do registro profissional (Agrg no
Resp 938.951/DF);
22 - O Ministério Público tem legitimidade ativa para atuar na defesa de direitos difusos,
coletivos e individuais homogêneos dos consumidores, ainda que decorrentes da prestação de
serviço público (Súmula 601 do STJ).
f) Ilegitimidade do MP
1º - O MP não tem legitimidade para promover ACP com o objetivo de impedir a cobrança
de tributos na defesa de contribuintes (Agrg no Resp 969.087).
Salienta-se, contudo, que o STJ e o STF entendem, com base na literal disposição da lei,
que a restrição do parágrafo único do art. 1º da LACP diz respeito unicamente a demandas
envolvendo matéria tributária movidas contra a Fazenda Pública e em prol dos beneficiários.
Quando o objeto da ação tratar de benefícios fiscais envolvendo tributos e que possam causar
danos ao patrimônio público é legítima a autuação do MP (Resp 760.034/DF e RE
576.155/DF), como, por exemplo, nos casos de anulação de atos administrativos concessivos de
benefícios fiscais.
No mesmo sentido, o STJ entendeu que o fato de conter a ACP pedido para discriminação
da contribuição de iluminação pública, nas contas de energia elétrica não revela pretensão de índole
tributária, de modo a afastar a legitimidade do MP. Aqui, o MP atua na defesa dos consumidores,
afastando a proibição do parágrafo único do art. 1º da LACP (Resp 1.010.130/MG).
3º O MP não tem legitimidade para interpor ACP contra ex-dirigente de clube de futebol
em razão da alegada prática de atos que teriam causado prejuízos de ordem moral e patrimonial à
agremiação esportiva (Resp. 1.041.765/MG);
4º O MP não tem legitimidade para ajuizar ACP na qual busca a suposta defesa de
um pequeno grupo de pessoas – no caso, associados de um clube, numa óptica
predominantemente individual (Resp 1.109.335/SE).
II - a Defensoria Pública;
a) Defensoria pública
A Defensoria Pública – DP, foi incluída como legitimada para ACP pela Lei 11.418/07.
Para a doutrina e jurisprudência majoritárias, a DP somente será legitimada se houver interesses
de pessoas necessitadas, ainda que a ação também tutele interesses de pessoas não necessitadas. A
legitimidade da defensoria abrange todas as espécies de direitos coletivos (difusos, coletivos e
individuais homogêneos). A existência de pessoas não necessitadas no grupo não elide a
legitimação da Defensoria (Ex: ACP para proteger consumidores de energia elétrica terá pessoas
necessitadas e não necessitadas), mas a ausência de interesses de necessitados é causa de ausência
da legitimação.
a) esteja constituída há pelo menos 1 (um) ano nos termos da lei civil;
a) Associações
Para que possam ter legitimidade, as associações deverão apresentar dois requisitos:
Caso a associação preencha os dois requisitos previstos na lei (estar constituída há pelo
menos 01 ano e incluir entre suas finalidades a proteção dos bens descritos na lei) haverá uma
presunção relativa de que a associação possui legitimidade para propositura da ACP. Essa
presunção, contudo, poderá ser afastada no caso concreto pelo magistrado.
b) amplitude do termo “associações”
A doutrina entende que associações não são somente aquelas assim denominadas em
sentido estrito, mas também as entidades de classe, sindicatos e partidos políticos.
c) Pertinência temática
Não precisa ter uma finalidade específica, bastando que tenha um nexo compatível entre os
fins institucionais. O STJ já admitiu que associação que possua por finalidade a defesa do
consumidor pode propor ação coletiva em favor dos participantes desistentes de consórcios de
veículos, não se exigindo que tenha sido instituída para a defesa específica de interesses de
consorciados (Resp 132.063).
d) Dispensa da pré-constituição
Ação civil pública (ação coletiva Ação coletiva de rito ordinário proposta
proposta na defesa de direitos difusos, pela associação na defesa dos interesses
coletivos ou individuais homogêneos): de seus associados: SIM.
NÃO.
Caso ocorra dissolução da associação que ajuizou ação civil pública, entendeu o Superior
Tribunal de Justiça que é possível a sua substituição por outra associação que possua a mesma
finalidade temática. Para o STJ, o microssistema de defesa dos interesses coletivos privilegia o
aproveitamento do processo coletivo, possibilitando a sucessão da parte autora pelo Ministério
Público ou por algum outro colegitimado (ex: associação), mormente em decorrência da
importância dos interesses envolvidos em demandas coletivas (STJ. 3ª Turma. EDcl no REsp
1405697/MG, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 10/09/2019).
a) entidades despersonalizadas
Também são legitimados, mesmo que sem personalidade jurídica, órgãos públicos de
defesa do consumidor. Assim, os PROCONS ou outros órgãos públicos que visem proteger o
consumidor são legitimados para impetrar ACP.
(…)
Muito embora o art. 841 do CC vede a transação de direitos individuais indisponíveis, bem
como o CPC limite a conciliação os direitos patrimoniais de caráter privado, é possível realizar
compromisso de ajustamento de conduta as exigências nos processos em que envolvam direitos
coletivos “lato sensu”, mesmo reconhecendo a indisponibilidade processual destes direitos.
b) natureza jurídica
De acordo com a LACP qualquer dos órgãos públicos legitimados poderão celebrar TAC.
ATENÇÃO! Não obstante o entendimento até então dominante fosse pela impossibilidade de
pessoas jurídicas de direito privado celebrarem termos de ajustamento de conduta, o Plenário do
Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADPF 165/DF (Info 892), decidiu que “é possível a
celebração de acordo num processo de índole objetiva, como a ADPF, desde que fique
demonstrado que há no feito um conflito intersubjetivo subjacente (implícito), que comporta
solução por meio de autocomposição”. Segundo o Supremo, é viável o acordo no âmbito de
processo objetivo, onde existe notável conflito intersubjetivo, que comporta solução por meio de
acordo apresentado para homologação. Assim, ao homologá-lo, o STF não chancela nenhuma
interpretação peculiar dada à lei. Pelo contrário, não obstante o ajuste veicule diversas teses
jurídicas, a homologação não as alcança, nem as legitima, e abrange apenas as disposições
patrimoniais firmadas no âmbito de disponibilidade das partes. Portanto, a homologação apenas
soluciona um incidente processual, para dar maior efetividade à prestação jurisdicional. O Tribunal
assinalou, ainda, que a ausência de disposição normativa expressa no que concerne a associações
privadas não afasta a viabilidade do acordo. Isso porque a existência de previsão explícita
unicamente quanto aos entes públicos diz respeito ao fato de que somente podem fazer o que a lei
determina, ao passo que aos entes privados é dado fazer tudo que a lei não proíbe”.
d) Transação formal
O TAC na esfera extrajudicial não atinge os titulares da ação, os legitimados, e não impede
o ajuizamento de ACP (Resp 265.300/MG). Contudo, o magistrado tem a liberdade de, diante da
complexidade das matérias versadas, havendo TAC em execução (efetivamente cumprido),
entender, de forma motivada, pela extinção da ação em face da existência do TAC, por ausência do
interesse de agir, na modalidade necessidade.
§ 2º Somente nos casos em que a lei impuser sigilo, poderá ser negada
certidão ou informação, hipótese em que a ação poderá ser proposta
desacompanhada daqueles documentos, cabendo ao juiz requisitá-los.
b) Contraditório
As provas colhidas no ICP têm valor probatório relativo, porque colhidas sem a
observância do contraditório, mas só devem ser afastadas quando há contraprova de hierarquia
superior, é dizer, produzida sob a vigilância do contraditório (Resp 849.841/MG).
Art. 10. Constitui crime, punido com pena de reclusão de 1 (um) a 3 (três)
anos, mais multa de 10 (dez) a 1.000 (mil) Obrigações Reajustáveis do
Tesouro Nacional - ORTN, a recusa, o retardamento ou a omissão de dados
técnicos indispensáveis à propositura da ação civil, quando requisitados
pelo Ministério Público.
a) Norma especial em relação ao crime de desobediência
O tipo penal descrito no art. 10 é norma específica e, caso presente os requisitos subjetivos
e objetivos, deve ser aplicado em detrimento dele. Isso é relevante porque o crime do art. 10
(reclusão de 01 a 03 anos, mais multa) tem sanção mais severa que o crime de desobediência
(detenção, de 15 dias a 06 meses, e multa) (Resp 66.854/DF).
FUNDO
RECURSOS
Art. 14. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar
dano irreparável à parte.
EFEITOS E LIMITES DA SENTENÇA
Art. 16. A sentença civil fará coisa julgada erga omnes, nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado
improcedente por insuficiência de provas, hipótese em que qualquer
legitimado poderá intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se
de nova prova.
III - Ajuizadas múltiplas ações civis públicas de âmbito nacional ou regional, firma-se a prevenção
do juízo que primeiro conheceu de uma delas, para o julgamento de todas as demandas conexas.
(STF. Plenário. RE 1101937/SP, Rel. Min. Alexandre de Moraes, julgado em 7/4/2021 (Repercussão
Geral – Tema 1075) - Info 1012).
a) Insuficiência de provas
LITIGÂNCIA DE MÁ-FÉ
Art. 18. Nas ações de que trata esta lei, não haverá adiantamento de custas,
emolumentos, honorários periciais e quaisquer outras despesas, nem
condenação da associação autora, salvo comprovada má-fé, em honorários
de advogado, custas e despesas processuais.
Enquanto a litigância de má-fé do artigo anterior (Art. 17) enseja a condenação apenas em
honorários e no décuplo das custas, a condenação do art. 18 abrange os honorários de advogado e
demais despesas processuais. Não há, contudo, duplicidade de condenação, pois o litigante de má-fé
condenado pelo art. 17 da LACP nos honorários advocatícios e ao décuplo das custas, se for autor, e
perder a demanda, será também condenado nas custas judiciais e demais despesas processuais.
Referências Bibliográficas:
Curso de direito constitucional /André Ramos Tavares. – 16. ed. – São Paulo : Saraiva Educação,
2018.
Ação Civil Pública e Meio Ambiente / Marcelo Abelha Rodrigues - 4ª ed – São Paulo : Foco, 2021.
Curso de direito constitucional / Gilmar Ferreira Mendes, Paulo Gustavo Gonet Branco. – 13. ed.
rev. e atual. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.
Curso de direito constitucional / Ingo Wolfgang Sarlet, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel
Mitidiero. – 7. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018.