Material de Apoio - Direito Civil - João Aguirre - Aula 9
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CUIDADO: Não confundir a meação com a herança, ou seja, não confundir regime de bens e
sucessão
Regra: Quando alguém morre e era casado ou vivia em união estável, o primeiro passo será
verificar se o cônjuge ou o companheiro sobrevivente tem direito à meação (regime de bens). Só
depois é que se deve apurar a herança do falecido (sucessão).
José tem 72 anos e um patrimônio de R$ 10.000.000,00. Neste ano, casou-se com Maria, que tem
30 anos. Passados, seis meses, José vem a falecer, vítima de um ataque cardíaco fulminante.
Sabendo-se que ele possui um irmão vivo, Antônio, e que não possui descendentes e nem
ascendentes, pergunta-se: para quem irão os R$ 10.000.000,00?
Regime do casamento: separação total obrigatória – art. 1.641, II (maior de 70 anos)
A herança caberá à Antônio, posto que Maria estava casada pela separação e nada contribuiu para
a aquisição desse patrimônio, não se aplicando a Sum 377 do STF.
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Resposta: Os R$ 10.000.000,00 caberão integralmente à Maria, posto ser a herdeira do falecido.
Solução:
1º) Meação: 0 – regime de separação obrigatória e porque não houve esforço comum, razão pela
qual não se aplica a Sum 377 do STF.
2º) Herança: 10.000.000 – irão todos para Maria, pela regra dos arts. 1.838 e 1.839 do Código Civil
Art. 1.838. Em falta de descendentes e ascendentes, será deferida a sucessão por inteiro ao
cônjuge sobrevivente. E ao companheiro! STF – Repercussão geral 809, 10.05.18, em que declarou
inconstitucional a regra do art. 1.790 do Código Civil, que regulava a sucessão do companheiro e
determinou que fosse aplicada a regra do art. 1.829 e ss., ou seja, as mesmas regras aplicáveis à
sucessão do cônjuge
Art. 1.839. Se não houver cônjuge sobrevivente (e companheiro), nas condições estabelecidas no
art. 1.830, serão chamados a suceder os colaterais até o quarto grau.
*Na sucessão legítima, pela ordem de vocação hereditária, o colateral só tem direito à herança se
o falecido não tiver deixado descendentes, ascendentes, cônjuge e nem companheiro
sobreviventes (qualquer que seja o regime de bens)
I - aos descendentes, em concorrência com o cônjuge sobrevivente, salvo se casado este com o
falecido no regime da comunhão universal, ou no da separação obrigatória de bens (art. 1.640,
parágrafo único); ou se, no regime da comunhão parcial, o autor da herança não houver deixado
bens particulares;
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I – Pelo Regime de Comunhão Universal
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II – Pelo Regime de Separação Obrigatória – art. 1.641
Lembrar da Sum 377 STF: “No regime de separação legal de bens, comunicam-se os
adquiridos na constância do casamento”.
- O STJ tem aplicado de forma consolidada a SUM 377 do STF para os casos de Separação
Obrigatória do art. 1.641 do Código Civil, com presunção do esforço comum.
- Pelo entendimento pacificado do STJ, as pessoas casadas pela separação total obrigatória (legal)
têm direito a metade dos bens adquiridos na constância do casamento à título oneroso, com prova
do esforço comum.
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III – Pelo Regime de Separação Convencional (arts. 1.687 e 1.688)
* Decorre de um acordo entre os nubentes, lavrado através de pacto antenupcial e não cabe
meação e nem a aplicação da SUM 377 STF.
1º) Meação: 0 – Bens estão apenas em nome do falecido e não se aplica a SUM 377 STF
1.200.00/3= 400.000
REsp 1.382.170/SP (Rel. Ministro Moura Ribeiro, Rel. p/ Acórdão Ministro João Otávio de Noronha,
Segunda Seção, julgado em 22/04/2015, DJe 26/05/2015)
CIVIL. DIREITO DAS SUCESSÕES. CÔNJUGE. HERDEIRO NECESSÁRIO. ART.1.845 DO CC.
REGIME DE SEPARAÇÃO CONVENCIONAL DE BENS. CONCORRÊNCIA COM DESCENDENTE.
POSSIBILIDADE. ART. 1.829, I, DO CC.
1. O cônjuge, qualquer que seja o regime de bens adotado pelo casal, é herdeiro necessário (art.
1.845 do Código Civil).
2. No regime de separação convencional de bens, o cônjuge sobrevivente concorre com os
descendentes do falecido. A lei afasta a concorrência apenas quanto ao regime da separação legal
de bens previsto no art. 1.641 do Código Civil. Interpretação do art. 1.829, I, do Código Civil.
3. Recurso especial desprovido.
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IV – Regime de Comunhão Parcial
1º) Para entender a regra sucessória do casamento ou da união estável, no regime de comunhão
parcial e quando o falecido deixa descendentes, é necessário lembrar da diferença entre a) bem
comum e b) bem particular:
- Se houve a troca (permuta), tanto por tanto, de um bem particular, por outro, na constância do
casamento, esse novo bem não entra na comunhão, porque adquirido em sub-rogação de um bem
particular.
- Se houver uma parte em dinheiro excedente ao valor do bem particular ela entra na comunhão,
mas não o valor proporcional ao bem particular.
- O art. 1.659, VI do CC, estabelece que não se comunicam os proventos do trabalho pessoal de
cada cônjuge. E o FGTS entra na comunhão? SIM
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AgInt no AREsp 331.533/SP (Rel. Ministro ANTONIO CARLOS FERREIRA, QUARTA TURMA, julgado
em 10/04/2018, DJe 17/04/2018)
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No final:
Maria (meeira + herdeira): 300.000 (meação) + 200.000 (herança do bem particular)
REsp 1.368.123/SP (Rel. Ministro SIDNEI BENETI, Rel. p/ Acórdão Ministro RAUL ARAÚJO,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/04/2015, DJe 08/06/2015)
CUIDADO: Com a quota de ¼ da herança prevista pela regra do art. 1.832 do Código Civil:
1º) A regra do art. 1.832 só se aplica aos regimes em que o cônjuge ou o companheiro concorrem
com os descendentes do falecido. Isso significa que ela não se aplica aos regimes de : a)
Comunhão universal
b) Separação obrigatória
c) Comunhão parcial quando o falecido não tiver deixado bens particulares
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2º) Manda a regra do art. 1.832 que, quando o cônjuge ou o companheiro concorrerem com os
descendentes do falecido, essa divisão seja equitativa, ou seja, todos tenham quinhões iguais,
salvo na exceção expressa no item 3º abaixo em que o cônjuge ou companheiro é ascendente dos
demais herdeiros e terá direito a uma quota mínima de ¼ da herança.
3º) Quando o cônjuge ou companheiro for também ascendente dos demais herdeiros do falecido
(ex.: é mais dos filhos do de cujus), terá direito à um quota não inferior à ¼ da herança. Pode ser
superior a ¼ da herança, mas não pode ser inferior a esse patamar.
Simulação:
José e Maria são casados pelo regime de separação convencional (Cônjuge concorre com os
descendentes do falecido - STJ) e o casal possui:
a) Um filho: a herança será dividida entre o filho e Maria, na proporção de 50% (1/2) para cada
um (quinhões iguais);
b) Dois filhos: a herança será dividida entre os dois filhos e Maria, na proporção de 33,33% (1/3)
para cada um (quinhões iguais);
c) Três filhos: a herança será dividida entre os filhos e Maria, na proporção de 25% (1/4) para
cada um (quinhões iguais);
d) 4 filhos ou mais: a herança não será dividida em partes iguais, o que daria 20% (1/5) para
cada um, porque, como Maria é mãe dos demais descendentes, terá direito à quota de 25%
(1/4) e os outros 75% (3/4) serão divididos entre os filhos (quinhões dos descendentes e dos
cônjuges são desiguais)
Cuidado: A quota não inferior à ¼ da herança vale para as situações em que o cônjuge ou o
companheiro sobrevivente é ascendente dos demais herdeiros (ex.: é mãe dos filhos do falecido).
Logo, chega-se à conclusão que essa quota não vale para as situações em que o cônjuge ou
companheiro não é o ascendente dos demais (ex. a viúva não pé mãe de nenhum dos filhos do
falecido).
Pergunta: E se o cônjuge ou companheiro fora ascendente de algum dos herdeiros, mas não o for
de outros – Giselda Hironaka: filiação híbrida.
A doutrina majoritária tem entendido que nesse casos a divisão deve ser por quinhões iguais,
reservando-se a quota de ¼ apenas para a situação em que o cônjuge ou o companheiro for
ascendente de todos os demais herdeiros do falecido. Caso contrário, não terá direito à quota
mínima de ¼.