As Palavras Do Corpo - Maria Teresa Horta
As Palavras Do Corpo - Maria Teresa Horta
As Palavras Do Corpo - Maria Teresa Horta
O desejo revolvido
A chama arrebatada
O prazer entreaberto
O delírio da palavra
A planta
é o sentir do teu corpo
de asceta
Recordarei amanhã
e depois recordarei
como se fosses
Como se fosses
és
a intimidade antiga
que predisse inclinada
pelas tuas mãos
tu
a ruiva sensação
de seres-me idêntico
oferece-me
o outono liquefeito
do teu corpo
É para ti
que crio os hinos
e os oceanos
a persistência opaca
da noite
o vício das árvores
Os cabelos pretos
que desprendo
são para ti que invento
o extinto
roxo
dos teus lábios
Pedir-te a sensação
a água
o travo
Pedir-te da vertigem
a certeza
que tens nos olhos
quando me desejas
de oceano
com ébano
e por fraqueza
E vertical o hálito
é saudade
Situando-te no meio
desta frase
que se equilibra morna
de saliva
Ou pôs a ausência
daquilo que faço
se longe de ti impeço o começo
ou junto de ti me ergo e renasço
Já nada é razão
quando esta é segredo
ou quando a razão é corpo
e desfaz-se
A única diferença
que une a tarde à manhã
é das tuas mãos espessas
a memória
o rasto
a lã
não a lã da camisola
que usas rasando o peito
mas aquela das palavras
que deixas cair a meio
INTERVALO
que se prende
Direi verde
do verde dos teus olhos
Direi vácuo
volume
direi vidro
As tuas mãos
compridas e serenas
de pele esticada sobre os dedos
as tuas mãos
sedentas
mais profundas de secretas razões
e que se afundam
nas partes fundas
do meu corpo
E se abres os olhos
de manhã
sobre o cansaço morno
dos meus olhos
desfazes o sono
sobre a lã
da sede do meu corpo
que tu colhes
Um pequeno prédio
morno
a nossa cama
é vício – é caverna
e é pecado
Descontrolo devagar
sobre o teu corpo
os lábios de súbito desmanchados
Mas se desfeito
descubro nos lençóis
um suor curvado amachucado
E não defendes
não podes
nem pretendes
o prazer que me
acendes
o espasmo que semeias
Canto a tua
febre
fechada no meu ventre
Canto o teu
grito
e canto as tuas veias
adivinho-te a dureza
o movimento sedento
a macieza da boca
Adivinho o teu
desejo
sobre a pele dos meus seios
O MEU DESEJO
Entreabro as minhas
coxas
no início dos teus beijos
imagino as tuas
pernas
guiadas pelo desejo
Que eu sinta de ti
a queimadura
e a tua mordedura nos meus rins
Deitar-me sobre
o teu corpo
país de minha evasão
Geografia de agosto
com um mês
em cada mão
Meu amor
a minha sede
é uma fêmea – uma égua
AS NOSSAS MADRUGADAS
Desperta-me de noite
o teu desejo
na vaga dos teus dedos
com que vergas
É raiva
então ciúme
a tua boca
É dor e não
queixume
a tua espada
E tomas-me à força
não o sendo
e deixo que o meu ventre
se trespasse
E queres-me de amor
e dás-me
o tempo
A trégua
A entrega
E o disfarce
Despertas-me de noite
com o teu corpo
Tiras-me do sono
onde resvalo
E eu pouco a pouco
vou repelindo a noite
E tu dentro de mim
vais descobrindo vales
ENTRE NÓS E O TEMPO
as ancas devagar
as pernas lentas
a boca devagar
os dedos lentos
os rins devagar
o espasmo lento
ROSA
Ó meu amor!
Afasto de ti com
raiva surda
o corpo
as mãos
o pensamento
e apago secreta
uma a uma
as velas acesas do teu vento
penso ganhar
e fujo
e não entendo
penso dormir
mas não consigo
o tempo
E cede-se o vazio
sobre o meu ventre
e segue-se a saudade
em seu sustento
E digo este meu vício
dos teus olhos
de um verde tão lento
muito lento
e torno a oferecer-te
o que receio
e sobe devagar
até ao cimo
Contorna o poço
aí tens de parar
descer, talvez
tomar outro caminho...
Digo-te
um amparo para a cabeça
o ombro
os pulsos em repouso
sobre o ventre
A violência somente
sobre a boca
num meigo disfarce de doente
e os dedos em silêncio
no seu vício
E a língua mansamente
sob os dentes
e já na febre o corpo
recolhido
Não me acordes
se de acordo já estou morta
Não me dispas
se de pedra já me visto
Não me beijes
se de bruços já me mordes
Não insistas
se de sono já desisto
Se desatá-lo pudesse
dos meus lábios...
Se apunhalá-lo pudesse
ou não custasse
adormecer e acordar
com ele em face
A VOZ
Da tua voz
o corpo
o tempo já vencido
os dedos
que me vogam
nos cabelos
Meu amor
que quartos na memória
não ocupamos nós
se não partimos...
Bebi de ti
o suco do teu corpo
Frente a ti me ponho
me encontro
e sem disfarce
Face
a face
DOCEMENTE
Docemente
disponho dos teus braços
Docemente
disponho em minha face
Docemente
canso, disponho do cansaço
Docemente
afago, a tua boca apago
Saber de ti,
quem sabe?
PODER ESQUECER
Que ignorei
contigo
tão meigas vontades que esquecemos
PERGUNTAS
Que suspensa
morte
se levanta?
Que lentidão
se acende
na garganta?
Lassa a maneira
do cristal do tempo
laço do corpo a nascer na roupa
Rente à nudez
que te mostro aberta
demora as mãos numa carícia louca
Nardo a crescer
já perto dos meus
seios
Seta dormente
já rente
dos meus lábios
Que lentidão
secreta
nos defende?
Que loucura
secreta
nos invade?
Perversa imagem
a minha
nos teus olhos
Talvez um espanto
uma incerteza
breve
Mas já os dedos
vão
na sua arte
Os meus em mim
e os teus tão devagar
que em mim desfolham e em ti se alastram
As árvores
ocultas
nas palavras
O couro a violência
o trilho
a lã
Eis o linho
bordado
numa cama
A linha
na fímbria
da toalha
O fuso o feltro
o fundo
da memória
Eis a água
dita
como vã
Depostos
objectos
da batalha
A tenda a espada
a sela
a sede a vela
E que retomo
à seda com que visto
a faca de sede com que rasgo
O rigor da calma
o rigor das pernas
o rigor dos seios quando minto
TUA VELOCIDADE
Os cavalos brancos
do teu ventre
como veneno do vento
Os cavalos brancos
do teu sono
como vício brando no veneno do vento
Os cavalos brancos
dos teus dentes
como vidros no veneno do vento
Os cavalos brancos
do teu tempo
como varas venenosas do teu vento
O MAR NOS TEUS OLHOS
É o manso fascínio
da onda que se inventa
É o mirto, o queixume
a mansidão tão lenta
II
os gomos do gozo
onde se afundam
pétala por pétala no poço do teu hálito
FACA E FENDA
ou desfruto
deixo
e minto
Me deponho e me defendo
empunho
faca e fenda
no fundo sangue do tempo
GOTA DE ÁGUA
Gota de água
eu
em tua boca
A matar-te a sede
de solidão incerta
Gota aprisionada
que logo se liberta?
CICUTA
Bebe-me o hálito
morde-me os gemidos
Eu sou o copo
de cicuta
(o vinho)
Quando o vácuo
é de vingar
ou de vergar
cravando sobre os seios a sua enxada
A língua branda
com que te fecho os olhos
ou te entreabro os lábios e as gengivas
Gume do gosto
na faca
do palato
Palavras roucas
que tu lá aninhas
a devorares no sono dos estilhaços
o ouro dos olhos
dos pombos as anilhas
Sedutora
da semente
mais aberta
Poço
do corpo
ou fruta do seu vaso
onde penetras e bebes
minha água
Olhos de vento
no ventre dos estilhaços
ROSEIRAS
como se haste
só apetecida
brandura erecta em que se reparte
A VEIA DO (TEU) PÉNIS
O vulto...
A vulva?
A veia em movimento
que cresce e doma
o nervo do teu pénis
O ventre...
O vácuo?
Traço a romã
por dentro do teu ventre
onde se inventa a fonte
dos teus espasmos
Um rubi de esperma
e de silêncio
num odor de fruto
onde o útero acaba
O CORPO – O COPO
Despe o corpo
o copo no sabor
água ou fato
ou filtro que se tira
Despe-se o corpo
o copo
pelo vidro
Despido o copo
o corpo pelo cimo
Que surpresa
a dos dedos
quando percorrem o corpo
ou espalham os cabelos
pelas costas
despidas
as pernas lentas
mansamente erguidas
O CORPO
Digo do corpo
o corpo
e do meu corpo
digo do corpo
o sítio e os lugares
de feltro os seios
de lâminas os dentes
de seda as coxas
o dorso em seus vagares
Lazeres do corpo
os ombros
as lisuras o colo alto
a boca retomada
Digo do corpo
o corpo
e do teu corpo
as ancas breves
ao gosto dos abraços
os olhos fundos
e as mãos ardentes
com que me prendes
em súbitos cansaços
Vício de um corpo
o teu
com o seu veneno
Digo do corpo
o corpo
o nosso corpo
digo do corpo
o gozo
do que faço
Digo do corpo
o uso
dos meus dias
a alegria do corpo
sem disfarce
A BOCA – OS LÁBIOS
A boca
os lábios
(a tua língua)
(a tua língua)
(a tua língua)
mais pesado é o hábito
que circula
enovelando o que sobra ainda
de lucidez
de prazer
e gula
OS CABELOS
O peso vegetal
da noite nos cabelos
do fuso e da língua
nos cabelos
Depois há a memória
os dedos
a palma quente
A nudez o rio
o risco
o traço laçado sempre
os goivos brandos
da seda
dos cabelos
Tão pouco as mãos
desmancham
ou descuram
tomam e imobilizam
no jaspe
da moldura
Da maciez cantada
dos cabelos
permanece a cor
deles nascendo
o metal das horas
O novelo do tempo
um odor de fruto
que perdura
pérola de novo
ou ametista
pura
A NUCA
Para a nuca
a boca
a guilhotina
Nunca dobada
bordada a fio de prata
na morna tepidez desses cabelos
arbusto brando
humedecido e lasso
da lâmina o vício
dos lábios o cansaço
O PESCOÇO
se verga
e entorpece aos poucos
labirinto de veias
à transparência
ao osso
quebrado com vagares
Os ombros
a forma espessa dos ombros
na penumbra
adormecem
e retornam dos ombros
pelo caminho dos braços
o sabor o odor
salgado vai subindo
e nos ombros
formam a linha dos braços
Aquário do corpo
pelo dentro do silêncio
do corpo
do espesso do opresso
cansaço
do corpo
Opala marinha
a língua onde os ombros
não consomem
a doçura do quarto
quartzo
o ombro breve e espesso
na rouca maneira do afago
AS AXILAS
As axilas
com o seu meigo sabor
a chocolate
O nó dos braços
à roda
do pescoço
Ou lassos abertos
em cima
do lençol
Os braços o gosto
de domarem o corpo
afastando e unindo a sua fome
Limite digamos
se tomam
a fadiga
finalmente fechados
nos ombros
onde se acolhem
no regaço
do ócio
onde se confirmam
Os pulsos
Digo-vos:
nem ternura
Digo-vos:
nem brandura
OS DEDOS
Serenamente os dedos
sob os dedos
um fogo brando
nos seios da madrugada
se bebo o medo
do medo dos teus dedos
apago os lábios
nos lábios dessa água
Punho da espada
ou pulso do teu braço
os dedos baixo
descobrindo o nada
subindo em mim
até de madrugada
OS SEIOS
O gosto brando
acidulado e róseo
Matriz do suco
onde a saliva vence
os bicos duros
na sede onde se dobam
Voraz primeiro
a raiva em que acendem
se curvam breve
sobre a boca ansiosa
A CINTURA
A curva branda
no breve ser dos dedos
que aí não param senão
a debruçarem
Mármore aceso
pelo calor da carne
mármore da pele
aí detido e lento
Círculo breve
que ao repelir oferece
cintura só
no contornar dos dedos
AS NÁDEGAS
De todo o corpo
aquele
menos dado
Repositório do corpo
e taça dos seus líquidos
é o ventre o repouso sobre a cama
É a chama do corpo
é o susto é aquilo
é tudo o que inventar se possa na vontade
Falemos em seguida
do umbigo
onde a sede
(a sebe)
se prende devagar
e devagar se escoa
(estende)
a quem do corpo
bebe
o manso lago adormecendo a pele
Dália dormente
largada sobre o corpo
Duna sedenta
a começar nas pernas
Limo enlaçado
no fundo do seu ventre
Pálpebra acesa
na raiz das trevas
Taça de areia
virada no seu fundo
Onde se afunda
a boca sobre ela
Piscina espessa
onde nada a sombra
Guelra do corpo
a respirar a névoa
O CLITÓRIS
Eis na flor
o nervo mais antigo
na boca dela o botão dos lábios
Lugar do corpo
de me vir a nado
Cisterna
cisterna
de todo o orgasmo
A BOCA DO CORPO
a língua lenta
e o suco da garganta
Gomo a gomo
do útero
a laranja
O fito o fato
tirado pela cabeça
Em baixo a boca
no fio do movimento
Acompanha o pé
subindo até à anca
o fio do cuspo
da rosa o alimento
A arte a harpa
tangida
nos joelhos
de borco a porta
escondida no calor
do corpo a boca
colhida como rosa
Do corpo a boca
no lago dos sentidos
guiando os dedos
A rosa a roca
a boca da flor
A VAGINA
É cálida flor
e trópica mansamente
de leite entreaberto às tuas mãos
Rosa do corpo
pulmão que não respira
dobada em cuspo tecida a sua água
Entreabrem-se as coxas
e expõem-se
as virilhas
Com a tepidez
do musgo
ao tacto incerto
Perto de um bosque
que precipita ainda
em humidade doce
o lábio
o dedo
e só depois o gesto
Morbidez do corpo
pior que as axilas
estas colinas mansas entre as pernas
pequenas cordilheiras
a seguir
se incerta se procura
o túnel da vagina
OS JOELHOS
São os joelhos
sítios da entrega
São os joelhos
os sítios já escolhidos
como caminhos
lugares
ou alcateias
De pernas longas
e coxas recurvadas
ou dos joelhos
as indomáveis teias
Textura baça
debaixo do vestido
cuja bainha acentua
e estreita
De bruços posta
de joelhos lidos
dobados devagar
no vício da ideia
AS PERNAS
As pernas
as pérgulas
os caminhos
que do corpo
no corpo desaguam
Gladíolos postos
no seu cimo
modeladas na pele das pessoas
As pernas
as pérgulas
os rios
Se mansamente percorreres
as pernas
encontrarás os pés
Tornarás depois
no sentido inverso
ao longo das pernas
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
As pernas cruzadas
na racha entreaberta
Os braços erguidos
e o vestido
subido nas coxas que se despe
II
Depois é a penumbra
e o vestido
a tirar pela cabeça
amarrotado
As mãos abocanhando
o cimo do vestido
no desatino – na pressa
que as invade
Acesa a carne
no ócio dessa tarde
liberta enfim da seda do vestido
que em vez de seda é sede
e é a tarde
acesa enfim no corpo sem vestido
III
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
na febre em que
se despe
e é tirado
no hálito do quarto
ou atirado
e cai devagar
depois de ser despido
IV
Aos pés
está o vestido
amachucado
V
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
que se ergue
do chão
amarfanhado
VI
VII
Quanta saudade
da seda do vestido
que à pele adere
num outro abraço
Baraço entorpecido
nos sentidos
secreta maneira
de tolher os passos
VIII
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
Já só memória
o corpo todo
nu
um a um
IX
A fímbria do vestido
a fenda do vestido
Lambe-me os seios
desmancha-me a loucura
usa-me as coxas
afaga-me o umbigo
abre-me as pernas
põe-nas nos teus ombros
a nuca a descoberto
o corpo em movimento
as pernas longas
firmadas no lençol
Encostada ou de lado
no teu peito
em leque as pernas
abertas
o ventre inclinado
ambos de pé
formando lentos modos
As sombras brandas
tombadas
no soalho
MODO DE AMAR V
Docemente, amor
ainda docemente
o tacto é pouco
e curvo sob os lábios
dália suposta
no calor da carne
lábios cedidos
de pétalas dormentes
Louca ametista
com odores de tarde
Avidamente, amor
com desespero e calma
E logo os ombros
descaem
e os cabelos
Suavemente, amor
agora velozmente
os rins suspensos
os pulsos
e as espáduas
o ventre erecto
enquanto vai crescendo
planta viva entre as minhas nádegas
MODO DE AMAR VI
Inclina os ombros
Deixa
as minhas mãos avançarem
na branda madeira
Deixa
que te entreabra as pernas
docemente
MODO DE AMAR VII
Secreto o nó na curva
do meu espasmo
Macias as pernas
na penumbra
e as ancas
subidas
nos dedos que as desviam
Entreabro devagar
a fenda o fundo a febre
dos meus lábios
e a tua língua
vagarosa
Toma morde
lambe
essa humidade esguia
MODO DE AMAR IX
Enlaçam as pernas
as pernas
e as ancas
O ar estagnado
estendido
no quarto
As pernas deitadas
ao comprido
sob as pernas
E sobre as pernas
vencem o gemido
flor nascida no vagar do quarto
MODO DE AMAR X
A praia da memória
a sulcos feita
a partir da cintura
Memória da boca
dos ombros
da tua mansa língua que caminha
A abrir-me devagar
a pouco
e pouco
A anca repousada
que inclinas
as pernas retesadas que levantas
São as pedras
os seios
são as pernas
pele e brandura
no interior
dos lábios
São as pedras
os seios
são as pernas
Pêssegos nus
no corpo
descascados
Saliva acesa
que a língua
vai cedendo
o gozo em cima
na pedra
dos meus lábios
a mão dolente
como quem masturba
entre os joelhos uma longa história
o fruto a fenda
o fundo onde se afunda
o lado do corpo já fechado
MODO DE AMAR XIV
O reflexo do espelho
onde o meu corpo
espia devagar os teus gemidos
É o gomo depois
e em seguida a polpa
O penetrar do dedo
o punho do punhal
A enterrares no corpo
docemente
como quem adormenta
aquilo que é fatal
É a urze debaixo
onde o lodo acalenta
O arrepio a deslizar
pelo umbigo
sede secreta da boca mais sedenta
Bordada a cuspo
na pele do umbigo
E se desdigo a febre
dos teus olhos
logo me entrego à febre
do teu ventre
Grinaldas de prazer
em torno dos joelhos
a entreabri-los então suavemente
MODO DE AMAR XV
Entreabre-se a boca
na saliva da rosa
na rasura da fenda
na fissura das pernas
Entreabre-se a rosa
na boca onde descerra
no topo do corpo
a rosa entreaberta
E prolonga-se a haste
a língua na fissura
na boca da rosa
na caverna das pernas
e aí se entrecurva
se afunda e se perde
se entreabre a rosa
entre a boca das pétalas
GOZO I
Túnica branda
cingida
nas espáduas
Os rins despidos
no fato já subido
as tuas mãos abrindo a madrugada
A lã da boca
cardada
no gemido
E nos joelhos
a sede
que os abranda
A boca espessa
o fuso
da garganta
GOZO II
teu pénis
meu pão tão cedo
de vestir e de enfeitar
espasmos tomados por dentro
a guarnecer o deitar
de tudo que sou gemendo
Meu amor
por me habitares
em jeito de teu
invento
Vigilante a crueldade
no meu ventre
A vara fendendo
o corpo
São de bronze
os palácios do teu sangue
de cristal absorto e ensimesmado
São de esperma
os rubis que tens no corpo
a crescerem-te no ventre ao acaso
As rútilas esmeraldas
divididas a ferirem de verde
onde ainda nem sabes
Na minha vulva
o gosto dos teus espasmos
GOZO VII
As tuas pernas
atentas e curvadas
O cravo o crivo
sabor da madrugada
no manso odor do mar das tuas espáduas
Logo me vergas
Em cada vento
o seu peixe
no tempo que a água tenha
Um cinzel de lisura
com a doçura do pranto
de prata e bronze a secura
Mas só no teu
há o espasmo
com que o teu pénis me alaga
GOZO X
São de bronze
os teus flancos
de feltro a tua língua
De felpa ou seda
a abertura incerta
cedendo breve a humidade esguia
presa no quente interior da pedra
Conduzes na saliva
um candelabro aceso
um chicote de gozo
nas palavras
as tuas pernas
vezes o teu ventre
A tua língua
vezes os teus dentes
O peito o feltro
a curva da cintura
As mãos os dedos
a lentidão dos braços
da boca os gomos
da outra boca
os dentes
A laranja
das coxas
O ventre
que entreabres
O vaso
o visco o suco
do teu corpo
O surto o sítio
o véu do teu palato
Os pés o pénis
no sono dos meus ombros
Os seios as pernas
os pulsos
que entreabres
O vidro do desejo
o vinho dos teus olhos
O vagar da arte
dos teus hábitos
O cedo
a sede da pele
das virilhas
na branda sede
da pele dos teus lábios
ANJOS DO PRAZER
Aventura
VII
Asas
XIII
os anjos da fala
– dormindo na saliva da boca
ANJOS DO AMOR
Abraço
II
Que domínio
tenho
dos teus braços?
meu amor
Anjo negro
VII
Tu
és o anjo negro
da boca...
do meu corpo
ANJOS DO CORPO
Guarda
Meu infatigável...
anjo
da guarda do corpo...
Pastores
II
Pastores
dos rebanhos
dos ardores
dos odores do corpo
Confissão
III
Hei-de confessar-te
um dia
o meu desejo
um anjo
Voar
VI
infatigável
suco
da língua
Despir
IX
Despir os anjos
um por um
passando-lhes a língua...
lentamente,
pelo sal do pénis
sorvendo-lhes em seguida
os sucos da vagina
Céu
XII
Lambe-me devagar
o céu da boca
como se a voasses
Matiz
XIII
É um púbis de anjo
com pequenas asas
sob:
sobre o doce matiz
matriz
do clitóris
Cisterna
XV
Adormeço de ventre
em tuas
asas
deitada ao comprido
no espaço
das tuas penas
pernas
Cisterna
posta à beira
da sede dos teus braços
Arrepio
XVII
Traz o anjo
o arrepio
ao corpo todo
um aperto nos
seios
e na vagina
Voo
XIX
O teu corpo
neste envolvimento
de voo
e de vulva
Anjo expectante
da vagina
Desejo
XXI
Anjo
voando sobre
o que é baixo
Sob
voando sob
o que é por baixo
Tocar-te
XXII
Tocar-te apenas
com a língua
a cabeça do pénis
como se devagar
lambesse
o meu clitóris
Saliva
XXIII
Bebem os anjos
a saliva
dos anjos
Pela taça
– taça –
da vagina
ANJOS DA MEMÓRIA
Teu corpo
XV
A parte que é
anjo
do teu corpo
e me procura a meio
da madrugada
sobrevoando o lago
que é suposto
ser no meu sono
aquilo que calava
A parte que é
anjo
do teu corpo
e me visita
a meio da madrugada
descansando as asas
dos teus ombros
a meu lado:
em cima da almofada
ANJOS MULHERES
Rumo
XIV
Mudar o rumo
e as pernas mais
ao fundo
Abrindo o ar
com o corpo num só golpe
Soltas
voando
até chegar ao fim
Direi nos poemas
a cintilação das pedras
... acesas?
PONTO DE PÉROLA
Lambo e engulo
o seu travo amargo
Travo-lhe o gosto
cuspo-lhe a bainha
Em seguida perco-me
confundindo os cheiros
dividindo os gostos
que se alpendram gastos
O cuspo grosso
de açúcar cheio
se mexo e o ponho
a um lume farto
Um silêncio dormente
a corpo inteiro
Com este odor a verão
desencontrado
A ameixa
a doce a ferver no tacho
A febre a nascer
a crescer debaixo
Em baixo...
a saia a subir nas coxas
e esse cheiro mais grosso se entreabro
As pernas os lábios
e o gosto
onde o sabor da amêndoa
se torna mais amargo
É esse o momento
o instante exacto
em que tudo se prende
ao gesto sem sentido
A calda no ponto
deixa a língua em brasa
E eu tiro pela cabeça
o meu vestido
DE AMOR
Falar da paixão
mais do que o sangue
Morrer de amor
ao pé da tua boca
Desfalecer
à pele
do sorriso
Sufocar
de prazer
com o teu corpo
e tu vais-me tomando
tocando, mais acima
entreabrindo-me as pernas
puxando-me para baixo
Depois
nenhum dos dois
já sabe onde termina
onde se acoita o grito devorado
Tu deslizas, tu moves
e tu escutas
Tu lutas por escapar na tua rusga
Tu escusas de atentares
e de ficares
agachado no silêncio à minha escuta
Tu doce ou agressivo
tanto monta
Tu monte ou mar
tanto se usa
Se aí ficas preso
nesse esgar
a tentar entender a minha fuga
Tu partes e regressas
estás atento
a cada gesto feito à minha beira
Dispões o disponível
e não despes
senão o que tu queres e eu não queira
Tu escutas o escusado
e só no excesso
me encontrarás a beijar-te o corpo todo
Sou eu a pôr aquilo
que tu vestes
e disponho daquilo que tu escondes
Tu rápido exacto
e porque não? – perdido
rasgado no meu peito o tempo todo
Irás descobrir-me
na paixão
Pois só aí eu sou
e aí me encontro
O CORPO, OS CORPOS
Dizer do corpo
o corpo da poesia
Os ombros
os seios
o ventre que sequestra
Pensar do corpo
o corpo da poesia
Mais a ruga
Mais a rusga das coxas
e das pernas
Escrever do corpo
o corpo da poesia
Os pulsos tão febris
a nuca
e a garganta
Em brasa ardendo
até ao fim
da vida
O desejo aceso
à lareira do corpo
Os dedos descuidados
o gesto de que lembro
Se desvendo de ti o sol-posto
é porque vejo o coração
amar
e nada mais me dá tamanho gosto
VÍCIO
Saberás tu da vertigem
só o vício?
Logo no começo
o fim do precipício
JOELHO
Ponho um beijo
demorado
no topo do teu joelho
Desço-te a perna
arrastando
a saliva pelo meio
Onde a língua
segue o trilho
até onde vai o beijo
Não há nada
que disfarce
de ti aquilo que vejo
Em torno um mar
tão revolto
no cume o cimo do tempo
E os lençóis desalinhados
como se fossem
de vento
Deixando a boca
faminta
seguir o desejo nelas
CANTO
Retomo
Retribuo
Rebusco
O rebuço do lábio
sobre a espádua
A cintura
a escorregar nos dedos
A sede do corpo
a escapar à água
Refaço Resguardo
Regateio
Do regaço a pele
tão macia
À febre
mais afoita
que os tornozelos abrem
VERDE-PINHO
Tuas pálpebras
de seda quase lilás
Teus olhos
de verde-pinho
tua boca tão voraz
onde o sorriso fugaz
faz silêncio de mansinho
Teu hálito
mordendo os dedos
quando te entreabro a boca
Procurando conhecê-la
no segredo
que se solta
CHAMAMENTO
Convoco-te
Contorno-te
Comovo-me
O odor almiscarado
da tua pele
agridoce
Demorada
nos gomos da saliva
da tua boca
AS ROSAS
Quantas nuvens
encontras
no meu peito?
Quantos mares
me crescem
na vagina?
Quantos prados
nas pernas
que a seu jeito
Se desdobram
se curvam
se assassinam?
A MÃO SOBRE O REGAÇO
Beijo, seguro
e devagar tropeço
Trespasso as emoções
e devolvo-te o espaço
O laço e o lençol
onde me deito
e faço
Do tempo do amor
a mão
sobre o regaço
PAIXÃO
Limito-me a sentir-te
simplesmente
a beber o teu cheiro
cheia de sede
És a minha foz
de lava e lume
Eu sou o rio
de águas separadas
Tu és a seta
de vício e de veneno
Eu sou a voz
onde invento o nada
Tu és o meu lavor
eu sou a bordadeira
És o meu anjo
de asas decepadas
Eu sou a distância
tu és a colmeia
Tu és o silêncio
e eu sou a tua espada
A brasa do teu corpo
a queimar a palma
acesa
da mão do meu desejo
DESEJO
Adormeço tropeçando
no desejo
encostada ao teu pescoço
Olho a desordem
da cama tão desfeita
O suor na camisa
o esperma no lençol
o gemido no ar a desfazer-se ainda
Duas lágrimas
desdobradas
num mar de sal desfeito
Nem preconceito
nem sombra
nem fome de mais sentida
Predisposto e desavindo
o travesseiro
na nudez
No íngreme da língua
o sangue e o leite
Suponho ponho
encaminho o espaço
no céu da tua boca
e teu palato
As palavras formadas
na saliva
quando bebo o vinho
em tua face
Faço o novelo
e desfaço a arte
teço com o grito da água
a tua sede
É pêssego
Tangerina
E é limão
Do mel
o açúcar que reveste
Do licor
a febre que no seu rasgão
me invade, me inunda e me apetece
Delírio a encher-me
de prazer
tomando ponto num lume que humedece
Devagar mexo sem tino
as minhas mãos
Provando de ti
o que de ti viesse
O anis do esperma
o doce odor do pão
que o teu corpo espalha e enlouquece
CHEIRO
O cheiro
O sabor
da tua boca
A baunilha
a camélia desfolhada
A saliva a saber
a leite morno
Escutando o rumor
das tuas asas
ALIMENTOS
Os trópicos da tua
boca
entre ameixa e desatino
O visco do doce
aberto
a descobrir o destino
Ao sentar-me no teu
colo
a comer devagarinho
TURBAÇÃO
Subo os dedos
e toco a minha folha
Entreabro os lábios
e não querendo é já
uma rosa doce
que a minha mão desfolha
SABOR
Entranhando-se doido
nos teus pêlos
DELÍRIO
É o meu mel
que eu cheiro na tua boca
É no teu pénis
que eu bebo a sede toda
É a lagoa – eu digo
de veludo
É o grito – eu sei
na raiva solta
É a proa do prazer
sobre o lençol
onde mais tarde vai rebentar a onda
Secreto é o ruído
dos corpos
no combate
Eu levo a bandeira
do orgasmo
E «para tão grande amor é curta a vida»
O meu corpo:
guloso
do açúcar da tua boca
FLOR DA BOCA
És tentação permanente
à minha beira
Beijos rasos
à flor das bocas
Húmidas as duas
e as duas loucas
A do corpo mais
do que a da face inteira
Inteiramente tuas
de maneira
que quando a tua língua
se incendeia
Trepando devastando
e só no topo
é grito e orgasmo
e é madeira
O TEU CHEIRO
Como se fosse
caviar na minha língua
PÉTALA
A maresia salgada
do teu pénis
O suor aberto
da tua nuca incerta
A pétala
VIAGEM
Secreta lenha
que arde na lareira
do teu fogo posto
na almofada ao lado
Dispor de ti
assim
não é acinte
Debruçando devagar
o que de ti
nesta viagem meu amor
desvendo
REFLEXO
Quando a luz
se suspende ao pé dos ombros
à mistura com
o açúcar
do teu umbigo?
SEQUESTRO
Ah! a tua
língua
Alongada na sua
trança
de saliva branda
Tão ácida
tão meiga
na minha anca
MAIS FORTE
No voo raso
que traças no orgasmo
penetrando mais fundo
sem que o oiças
Tu acendes a chama
do meu corpo
pões a lenha ao fundo
em sítio seco
Procuras no desejo
o ponto certo
e convocas aí
o lume aberto
Se a madeira demora
a ganhar fogo
tomas-me as pernas
e deitas lento o vinho
Tu és homem e és mulher
sobre o meu corpo
és mar e és rio ao mesmo tempo
És tu e eu misturando o vento
velejando a tempestade
sem ter medo
Tu és calma e turbilhão
nos meus sentidos
és arcanjo e demónio que domina
Eu lambo
o novelo
em tua língua
JOGO
Levanto eu a saia
enquanto espero que abras
devagar a camisa
sobre a nudez do peito
Deitar o fogo
ao chão
e incendiar o grito
OCEANO
E devagar
no suor
te bebo a mágoa
Se me afasto de ti
ou se nadando invoco dos teus lábios
os beijos que me alagam
CORTINA
Bebo-te a boca
com o seu manso sabor
a tangerina
Gulosamente
a comer o mel
no favo da abelha
PEDIDO
a faca
VIAGEM
Entreabres-me as pernas
tão de súbito
e devagar afagas-me o cabelo
Fendendo em mim
a tua língua abre
Separa da vulva
os lábios mais sedentos
Degustando a saliva
e lá dentro
tocando-te do corpo
o que do corpo sendo
é da boca já
e eu não entendo
VULCÃO
No vício
no vacilo
nas ameias
onde a saliva surge e já se rasga
se enovela
novelo
à minha ilharga
II
Toca-me o peito
e desce até às ancas
acende a lâmpada
dum tornozelo breve
Deixa correr
a lava
que levantas
o sol ainda
à noite que não cede
III
A vertigem cismada
na entrega
Desprendo a boca
depois
no grito solto
mordo-te os pulsos
ambos
no orgasmo
Volto ao cimo
da água
do meu gosto
Bebo-te a vertigem
e em seguida o hálito
O TEU CORPO
Atentas as mãos
cobrem os lugares
trocam os sítios e perdem os sinais
Desassossegam o coração
e mais:
despertam os silêncios que se entregam
Encontro ou desencontro?
Não interessa
Retrato à beira-boca
do teu pénis
se eu canto as virilhas e o olfacto
De ti
o cotovelo alto
o joelho em baixo que sossega
Esquecer-te é impossível
e por isso volto
a visitar-te a nuca que se nega
A vertigem
descendo em tuas costas
as ancas estreitas que escorregam
Depois provo de ti
o vinho solto
salto de baixo para tomar o alto
Desabelham os beijos
desabridos
na comissura dos lábios
Turvo desejo
procurando um sentido
CARMIM
Desordenada comigo
oponho o corpo ao destino
como quem veste o vestido
e o despe em desatino
Dou laços
com os meus braços
em redor do teu pescoço
De bruços desfaço
o espaço
no torpor que solto e ouço
Desentrelaço o amor
deslaçando o imprevisto
e se com ele me visto
Corre os lábios
nos meus ombros
desce a vertigem no dorso
Troca a penumbra
das pernas
pelo luar do meu gosto
Deixa os dedos
encontrarem
a penumbra do pescoço
SEREI MAR
Um tudo nada
mais fundo
um tudo nada
Um tudo nada
mais longe
e mais acima
Um tudo nada
mais torpe
um tudo nada
Um tudo nada
mais vasta e mais perdida
II
Um tudo nada
mais chama
um tudo nada
Um tudo nada
mais só
e mais urdida
Um tudo nada
mais corpo
um tudo nada
Um tudo nada
mais fogo
e mais despida
AS FERAS
Me voltes e tornes
me envolvas
e faças
Me beijes e bebas
me enlaces
e largues
Me dês um nó
cego
e depois me desates
LUZ
Deixa-me concertar
a luz que tens desgarrada
Te acerte e desacerte
a paixão desgovernada
DIAMANTE
Dizer desassossego
sem razão
da raiva silvando no delírio
Apunhalo o coração
enveneno o peito
aberto
A paixão é meu
destino
meu final e meu começo
Morrer de amor
e de amar
é a morte que eu mereço
VAGARES
É minha a sede
e tua a impudícia
Deita-se e despe-me
debruça-se e vira-me
VERDE-ÁCIDO
Verde-jade do abraço
verde amêndoa
Verde-oásis do corpo
do poema
POEMA
Desfio a poesia
no baraço
do peito
Na curva da cintura
em fogo-fátuo
Pois na cama
é poema e é papel
Chegar na palavra
e naquilo que rasgo
Incontáveis as armadilhas
as grutas os becos
os desvios do poema
E a urdidura da alma
Obsessiva memória
que o tempo despreza
e a mão não acalma
DISPO
Cerco e troco
escrevo e ponho
Perpasso as mãos
nas penumbras
desacato o que é restrito
Disponho do proibido
permito dispo
desdigo
No lugar do coração
onde a paixão
se incendeia
No bosque do corpo
perde-se
abriga o tigre selvagem
Rumoreja e intumesce
submete-se
e resvala
CELA
Quebro a cela
do meu corpo
ao golpe da tua anca
Derramo o prazer
na boca
onde a sede se desmancha
DESEJO
Avanço a ponta
dos dedos
na mata da tua nuca
E dobando a suspeita
do que vou encontrar
te tire o relógio
com mão indecisa
Contornando o velo
da mata que arde
E entre as tuas pernas
eu descubro a vertigem
NUDEZ
E quando o tiro
da nudez
eu brinco invento suponho
Desembaraço o prazer
mexo com os dedos
no gosto
Fecho os olhos
vou voando
na sede do sol-posto
MÃOS DE ANJO
Entreabre as minhas
pernas
e tira a folha da parra
Perde na mata
os teus dedos
deixa a língua arrebatada
LOBO
O prazer do corpo
do poema
O júbilo
da mão
ensimesmada
Vistoriando os versos
e ao escrevê-los
buscar sem dó
O lobo
das palavras
ARMADILHADO
A vergasta cruel
que a sedução conduz
até ao meu desejo armadilhado
PROPÓSITO
O desejo revolvido
A chama arrebatada
O prazer entreaberto
O delírio da palavra
Manipulo a linguagem
tomo a nudez dos meus versos
faço amor com a poesia
«Puros, sem mácula peccati
o quê, senhora?
sem a mancha do pecado
quem?»
Hilda Hilst
Hélène Cixous
Índice
CAPA
Ficha Técnica
Ao Luís
DELÍRIO
DÁDIVA
HINO
INVOCAÇÃO AO AMOR
ENCONTRO
VORAGEM
HÁLITO
SALIVA
O ESPAÇO
AMOR SEM RAZÃO
LÃ
INTERVALO
OS TEUS OLHOS
AS TUAS MÃOS
MEMÓRIA
NOITE
DESEJO
A CAMA
DESEJO
FELICIDADE
PENUMBRA
POEMA SOBRE O ENREDO
SEGREDO
CANTO O TEU CORPO
EXERCÍCIO
O MEU DESEJO
ANTECIPAÇÃO
POEMA AO DESEJO
GEOGRAFIA
AS NOSSAS MADRUGADAS
ENTRE NÓS E O TEMPO
ROSA
POST SCRIPTUM
EDUCAÇÃO SENTIMENTAL
LENÇOL
A DOENÇA II
AMBIGUIDADE
O NÓ
A VOZ
A CHAMA
FACE A FACE
DOCEMENTE
SOSSEGO
PODER ESQUECER
PERGUNTAS
DEPOIMENTO
TUA VELOCIDADE
O MAR NOS TEUS OLHOS
PENUMBRA
FACA E FENDA
GOTA DE ÁGUA
CICUTA
NEM SÓ
ESTILHAÇOS
ROSEIRAS
OUTRO CORPO NÃO
O PÉNIS – A HASTE
A VEIA DO (TEU) PÉNIS
ESPERMA
O CORPO – O COPO
IMPREVISTO
O CORPO
A BOCA – OS LÁBIOS
A LÍNGUA
OS CABELOS
A NUCA
O PESCOÇO
OS OMBROS
AS AXILAS
OS BRAÇOS
OS PULSOS
AS MÃOS
OS DEDOS
OS SEIOS
A CINTURA
AS NÁDEGAS
AS ANCAS
O VENTRE
O UMBIGO
O PÚBIS
O CLITÓRIS
A BOCA DO CORPO
A VAGINA
AS VIRILHAS
OS JOELHOS
AS PERNAS
OS PÉS
RITUAL DO AMOR
MASTURBAÇÃO I
MASTURBAÇÃO II
MODO DE AMAR I
MODO DE AMAR II
MODO DE AMAR III
MODO DE AMAR IV
MODO DE AMAR V
MODO DE AMAR VI
MODO DE AMAR VII
MODO DE AMAR VIII
MODO DE AMAR IX
MODO DE AMAR X
MODO DE AMAR XI
MODO DE AMAR XII
MODO DE AMAR XIII
MODO DE AMAR XIV
MODO DE AMAR XV
GOZO I
GOZO II
GOZO III
GOZO V
GOZO VI
GOZO VII
GOZO VIII
GOZO X
GOZO XI
GOZO XII
OS DOIS CORPOS
ANJOS DO PRAZER
ANJOS DO AMOR
ANJOS DO CORPO
ANJOS DA MEMÓRIA
ANJOS MULHERES
PONTO DE PÉROLA
A CORPO INTEIRO
AMÊNDOA AMARGA
DE AMOR
MORRER DE AMOR
O VOO
DO EXCESSO
O CORPO, OS CORPOS
OS TEUS PULSOS
INVENÇÃO
VÍCIO
JOELHO
CANTO
MAIS
VERDE-PINHO
CHAMAMENTO
OS NOSSOS DIAS
ALMÍSCAR
AS ROSAS
DÚVIDA
A MÃO SOBRE O REGAÇO
PAIXÃO
FOZ
DESEJO
DESORDEM
ENTRANÇAMENTO
CORPO TODO
SEDE
CORPO
CHEIRO
ALIMENTOS
TURBAÇÃO
SABOR
DELÍRIO
FLOR DA BOCA
O TEU CHEIRO
PÉTALA
VIAGEM
REFLEXO
CANELA
SEQUESTRO
MAIS FORTE
INCÊNDIO
SIMULTÂNEO
NOVELO
JOGO
OCEANO
CORTINA
BEBER-TE
PEDIDO
JOGO DE AMOR
VIAGEM
CHAMA
LÍNGUA
VULCÃO
VERTIGEM
O TEU CORPO
CORPO
ABRIGO
CARMIM
FOGO
DESAVINDA
ÁGUA
CALABOUÇO
ENTRELAÇAR
SEDA PURA
VOLÚPIA
SEREI MAR
FUNDURA
AS FERAS
GOSTO
LUZ
DIAMANTE
RITUAL
CORAÇÃO PARTIDO
PAIXÃO
VAGARES
VERDE-ÁCIDO
POEMA
FAZER O POEMA
VERSOS
DISPO
RIGOR
INCÊNDIO
PRAZER
DESEJO
CELA
DESEJO
VERTIGEM
NUDEZ
MÃOS DE ANJO
LOBO
ARMADILHADO
PROPÓSITO
CORPO DOS VERSOS