22 Arcanos
22 Arcanos
22 Arcanos
Os 22 Arcanos Maiores.
Um olhar reflexivo para o
Tarot de Waite
Autor: Zayin
Copyright © 2023
Todos os direitos reservados. Este material faz parte do site www.rumoatiferet.com.br e seu
uso ou qualquer parte dele não pode ser reproduzido ou usado de forma alguma sem
autorização expressa, do autor, exceto pelo uso de citações breves.
1
Sobre
Este material trata sobre os 22 Arcanos Maiores do tarot, e seu conteúdo é uma coletânea de
textos feitos para o blog Rumo à Tiferet sobre o assunto. Abordando uma visão reflexiva dos
Arcanos Maiores, o devido material proporciona um entendimento geral e básico deles, o
suficiente para entendê-los e para trazer consciência das ações que necessita tomar ao fazer
uma tiragem de tarot usando-os.
Através do significado dos Arcanos e de alguns simbolismos presentes nos desenhos do tarot
de Waite Smith, mais conhecido como Rider Waite, você tem um convite a um exercício de
reflexão a partir da leitura dos textos aqui, trazendo assim entendimento dos Arcanos
Maiores com essa experiência.
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passado a você como funciona.
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Sumário
Sobre ......................................................................................................................................... 2
Para doações .............................................................................................................................. 3
Prefácio ..................................................................................................................................... 5
0 - O Louco ............................................................................................................................... 6
I – O Mago ................................................................................................................................ 8
II – A Sacerdotisa .................................................................................................................... 11
III – A Imperatriz .................................................................................................................... 15
IV – O Imperador .................................................................................................................... 18
V – O Hierofante ..................................................................................................................... 21
VI – Os Enamorados ............................................................................................................... 24
VII – O Carro .......................................................................................................................... 27
VIII – A Força ......................................................................................................................... 30
IX – O Eremita ........................................................................................................................ 33
X – A Roda da Fortuna ........................................................................................................... 36
XI – A Justiça .......................................................................................................................... 40
XII – O Pendurado .................................................................................................................. 43
XIII – A Morte ........................................................................................................................ 46
XIV – A Temperança .............................................................................................................. 48
XV – O Diabo ......................................................................................................................... 51
XVI – A Torre ......................................................................................................................... 54
XVII – A Estrela ..................................................................................................................... 57
XVIII – A Lua ......................................................................................................................... 60
XIX – O Sol ............................................................................................................................ 64
XX – O Julgamento ................................................................................................................. 68
XXI – O Mundo ...................................................................................................................... 71
Rumo à Tiferet ........................................................................................................................ 74
Sobre autor .............................................................................................................................. 75
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Prefácio
Em dezembro de 2020 iniciei um projeto no blog Rumo à Tiferet para falar sobre os 22
Arcanos Maiores e o que achava relevante falar deles. Com isso, deu-se uma série de textos
sobre tarot, e esses formam este material aqui para leitura, consulta ou estudo.
Com um acréscimo de algumas imagens neste material, realço alguns pontos que considero
importante na simbologia presente no tarot de Waite.
Este material não tem intuito de ser um livro ou um e-book, mas sim uma coletânea dos
textos em formato de livreto sobre os 22 Arcanos Maiores presentes no blog, porém, melhor
elaborado graças à adição de imagens.
Proponho através dos textos de cada Arcano uma maneira de refletir sobre a vida, e também
uma maneira de se conectar a si mesmo através do tarot. Independente de como você achar
que funciona o tarot, fica claro que ele possui uma função de conexão com o nosso interior,
ou seja, é uma ferramenta que pode ser usada de forma a iluminar questões que não
conseguimos ver uma solução, mas através de seu uso é possível enxergar uma luz para elas.
Os 22 Arcanos Maiores. Um olhar reflexivo para o Tarot de Waite – é como nomeei esta
coletânea, e ela não tem objetivo de ser um material que explora profundamente todos os
simbolismos do tarot de Waite, mas com ele busquei trazer a essência de cada Arcano com o
apoio dos símbolos que achei pertinente realçar. Assim, quando olhar para alguns símbolos
desenhados, conseguir trazer a compreensão de aspectos relevantes a serem levantados numa
leitura de tarot.
Tentei o máximo possível não fazer associações com astrologia, kabbalah ou outras coisas
que necessitem de um prévio conhecimento e estudos, no entanto, em alguns Arcanos não foi
possível, uma vez que Waite trabalha com elas para demonstrar melhor a essência dos
Arcanos Maiores. A ideia foi fazer com que se fosse possível entender o significado deles
sem recorrer às associações mais complexas para um público mais leigo, e assim mostrar que
o tarot pode ser uma ferramenta em que se é possível compreender mesmo sem determinados
conhecimentos iniciáticos ou específico de certas áreas que abrangem o hermetismo. Porém,
é claro que quanto mais conhecimento de astrologia, alquimia, kabbalah, mitologia, e outras
áreas, mais profundo se é possível mergulhar nos Arcanos Maiores, e mais chaves e insights
pode-se receber, e melhor se entende.
Creio eu que mesmo aqueles ainda não tiveram contato com tarot, através desse material
consigam entender e aprender sobre os Arcanos Maiores. E aos que já possuam algum
contato, que ele relembre ou clareie novos pontos que ainda não tenha refletido sobre.
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0 - O Louco
O início de nossas jornadas
Começar algo novo é se permitir entrar numa aventura, e embora não se saiba
exatamente o que nos aguarda nela, vamos assim mesmo. Com ou sem medo de entrar numa
trilha desconhecida, ou que desperte nosso interesse, damos o primeiro passo rumo a uma
nova direção, pois o velho já não serve mais. Algo novo nos chama, mesmo que não
saibamos o que é esse algo, se permitir começar é a chave.
A vida é repleta de fins e inícios, mas são os começos que nos enchem de esperanças.
Esperanças num futuro que conquistamos algo tão esperado, tão querido, tão desejado. É
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preciso dar o primeiro passo a esse sonho, e mesmo que eles possam parecer loucura, seja
louco o suficiente para isso.
O Arcano de número 0 é O Louco, o primeiro dos Arcanos Maiores. Ele é o andarilho
em busca de novas jornadas. É o impulso para iniciar novas coisas. Todo início de jornada é
um chamado para criação de algo, seja lá qual área for. Uma força maior que você, podemos
dizer até divina, é que te impulsiona a buscar coisas novas, renovando assim a vida, pois
continuar no mesmo é perecer. Aqui essa força é o sopro divino que dá vida à criação.
O Louco é o potencial criativo infinito, ou seja, uma infinidade de possibilidades de
criar algo novo, por isso ele se aventura para descobrir. Nada para ele é muito claro, apenas
sente que precisa iniciar algo e sai em busca disso, e aqui se começa uma nova jornada, o
início de algo novo. Para os outros pode parecer loucura o que você deseja, eles podem tentar
te alertar, impedir, passar a perna, mas somente se permitindo começar essa nova jornada é
que você saberá se, assim como o Louco que caminha em direção a um precipício, irá cair ou
voar.
O Louco pode ser inocente às vezes, mas isso porque ele é puro de
coração. Essa pureza é simbolizada pela rosa-branca em sua mão. Ele
carrega no seu coração a inocência de uma criança, que vê o mundo e o
futuro colorido, e essa inocência nos faz ir além, faz-nos enxergar o que
os outros não conseguem, e assim nos permite conquistar nossos sonhos.
Ele leva apenas uma pequena trouxa em sua viagem, pois ele não
precisa de nada que não seja apenas o essencial.
Portanto, pergunte-se sempre o que é essencial para carregar
em sua vida ou em sua nova jornada. Um alerta para
a avareza e para gula que carregamos, e para não se prender
às coisas, pois elas tiram a sua liberdade de ser livre, e o
Louco é livre para poder voar.
Mas ele precisa ter cuidado com sua insensatez, porque pode querer tanto começar algo
que ignora o que está ao seu redor. Vislumbrando apenas a beleza do que espera, não vê os
perigos que o rodeia, e por causa disso acaba se autossabotando. E vendo por outro ponto de
vista, o Louco pode ver apenas os perigos ao seu redor, e não toma atitude, não se permite
começar algo, fica com medo e estagna. Ficará preso em seu mundinho, em sua caverna, e
assim se manterá, sem se dar a chance de começar algo novo.
O Louco olha as infinitas possibilidades de começos e dá o primeiro passo para se
permitir começar algum deles. Ele tem um pensamento que fala mais alto que a razão, talvez
por ter fé no que acredita, pois sua inspiração para tomar tal atitude vem de uma força maior
que ele, talvez do seu Eu Superior ou de alguma força divina. Portanto, se acredita que o
caminho que quer seguir, é o que você realmente quer para sua vida, vá sem medo e se jogue,
pois o divino não irá te desamparar, principalmente se sua jornada for um chamado de seu
coração.
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I – O Mago
O poder de realizar
Já parou para pensar na ideia por trás do poder da vontade? Quando uma ideia é
pensada ela é trazida da mente e por meio de nós ela se concretiza aqui neste Plano. Algo que
até então pode não existir, mas que somos capazes de criar, manifesta-se neste mundo pelo
nosso simples querer, uma vontade bem direcionada que conduz o nosso poder de realização.
Esse poder é fruto de nossa capacidade de fazer algo, de criar, de mostrar nossas
habilidades para a construção de uma ideia. O poder de realizar as coisas que desejamos é
uma expressão de nossa Vontade, e assim como um mago, mostramos nossas incríveis
capacidades de direcionar tudo o que precisamos para a realização de nossos intentos.
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O arcano I é O Mago, ele é o ser que tem as habilidades de realizar tudo o que deseja,
pois tem domínio sobre os elementos ao seu redor e sabe conduzi-los com enorme maestria.
E a chave para entender este arcano é justamente a maestria, ou seja, a capacidade e o poder
de saber exatamente o que se faz e o que tem que fazer, e o Mago tem o perfeito domínio
deles.
Ele geralmente carrega uma varinha ou uma baqueta mágica em uma das
mãos, mostrando que tem o poder de direcionar, conduzir a sua vontade para
fazer o que quer. Lembra-nos muito um maestro segurando sua batuta
conduzindo toda sua orquestra.
Em sua frente encontra-se a mesa de trabalho do Mago, e em cima dela
estão dispostos quatro itens representando os 4 elementos que compõem o Ser:
o bastão é o elemento fogo (espiritual/Vontade); a taça é o elemento água
(emoção); a espada é o elemento ar (mental); e o disco/moeda é o elemento
terra (material). Mostrando que ele sabe administrar e trabalhar muito bem com os
elementos, pois o mago é quem tem domínio sobre eles e não o contrário.
Sob sua cabeça está a lemniscata, o símbolo do infinito, mostrando que o Mago
é guiado por uma força maior que ele, uma fonte infinita de poder, e que ele é
um canal pelo qual o divino se manifesta aqui nesse plano de existência, e o
Mago mostra isso com uma mão apontando para cima e a outra para baixo,
fazendo alusão ao axioma hermético “o que está acima é como o que está embaixo”, ou então
como o trecho do Pai-Nosso diz “Que seja feita a vossa vontade, assim na Terra como no
céu”.
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Ao seu redor estão rosas-vermelhas e lírios-brancos, e essas flores simbolizam o Plano
material e o espiritual, e também o nascimento e a morte, mostrando que o Mago sabe muito
bem que sua passagem aqui neste mundo é momentânea, que a vida e a morte andam juntas,
mas isso não o abala, pois ele irá fazer o seu melhor enquanto estiver nessa vida.
A figura do Mago representa o Louco que saiu em sua jornada e agora está realizando
o objetivo principal por trás dela. Em alguns tarots ele é a figura de um artista de rua,
mostrando à plateia o que sabe fazer, e também está associado ao planeta Mercúrio e ao deus
Hermes.
Mas nem só de qualidades esse arcano é feito, todos eles possuem dois lados, e da
mesma maneira que o Mago pode usar de suas habilidades para a criação, manifestação de
algo, ele também pode usar para enganar, ludibriar, trapacear as pessoas com elas. Pode dizer
que sabe fazer algo muito bem, mas lá no fundo sabe que não é verdade, falta-lhe
conhecimento, experiência, e por causa disso pode se atrapalhar e pôr tudo a perder. Então o
arcano O Mago lhe diz duas coisas essenciais, a primeira é que ele pode te afirmar que você
tem a capacidade para realizar tal coisa, e a segunda ele te questiona: você tem a capacidade
para realizar tal coisa?
No tarot, o Mago é o sinal que você precisa para botar a mão na massa e realizar a sua
vontade, pois você tem o conhecimento, as habilidades, e tem o apoio de uma força Superior
que te guia para a realização de seus objetivos. Também te questiona se você está
sabendo dominar os 4 elementos na sua vida ou se eles que estão te dominando. Ele lhe diz
para ter cuidado em como irá utilizar seus conhecimentos, pois usá-los para enganar os
outros ou a si mesmo não irá acabar bem. Mas o mais importante aqui é: saiba direcionar e
comandar muito bem o poder de sua Vontade, pois ela pode construir coisas incríveis e belas,
e dentro de você existe a força, a destreza e habilidade para isso.
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II – A Sacerdotisa
A voz da intuição
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Se fechar os olhos descobrirá que existe um mundo interior dentro de você, e quanto
mais adentrar nesse mundo maiores serão os segredos que irá descobrir sobre ele. Talvez seja
difícil de perceber, mas na verdade todo esse mundo é você!
Às vezes esquecemos que somos muito mais do que essa mente pensante e esse corpo
de carne que nos sustenta. Esquecemo-nos que muita coisa sobre nós está acontecendo além
do que podemos enxergar objetivamente. Estamos rodeados por um mar de emoções no qual
podemos navegar sobre elas ou deixar com que elas nos afundem. Achamos que conhecemos
tudo sobre quem somos, mas a verdade é que não. Muita coisa está oculta em nosso
inconsciente, muitas delas, influenciam-nos positiva ou negativamente, e podemos passar a
vida sem saber da existência delas. Conhecer a si mesmo envolve um processo de reflexão
interior, envolve ouvir a voz que vem de dentro, pois essa voz guarda muitos segredos dos
quais você nem sabia, segredos esses que podem transformar a sua vida.
A Sacerdotisa é o arcano de número II. Ela é puramente a energia Yin, passiva,
intuitiva, receptiva e feminina. Ela é a fonte de conhecimento de seu mundo interior, a guia e
a guardiã dos segredos dele. Ela se comunica com você por meio da intuição, pois ela é a sua
voz interior, o sexto sentido que possui. Ela te mostra o que você não consegue ver
objetivamente, pois possui capacidade de iluminar o que a mente racional não consegue
enxergar.
Diferente do arcano do Mago que externaliza suas capacidades e habilidades,
manifestando no mundo o poder de sua Vontade, a Sacerdotisa internaliza tudo isso, guarda
dentro de si. O mago é senhor de si e controla o mundo ao seu redor, o mundo exterior, a
Sacerdotisa também é senhora de si, mas controla o mundo interior.
Em seu peito ela carrega o símbolo da cruz de braços iguais, conhecida também como
a cruz dos elementos, mostrando que ela, assim como o Mago, controla os 4 elementos que
compõem o ser, que foi estrategicamente colocada em seu centro cardíaco no tarot de Waite,
representando também a esfera de Tiferet na Árvore da Vida, mas para isso ficar mais claro é
necessário prestar atenção no véu que está estendido atrás dela entre as duas colunas.
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Ele é o véu da realidade, o véu que separa o mundo objetivo do intuitivo, e como
guardiã desse mundo, a Sacerdotisa o guarda e decide se você pode ou não ter acesso a ele.
Nesse véu há figuras de romãs desenhadas dispostas nas exatas posições das esferas da
Árvore da Vida, mostrando mais uma vez que ela é detentora dos conhecimentos e caminhos
do ser e da vida. Apenas para reforçar mais essa ideia, em sua mão ela carrega
um pergaminho escrito Tora, que compõe os textos judaicos sagrados.
A Sacerdotisa é uma figura que representa o
inconsciente, as emoções, as intuições, tanto que é bem
pertinente a figura da lua neste arcano. Sob seus pés está a
figura de uma lua, mostrando que ela está acima das ilusões
dela.
Em sua cabeça está um chapéu fazendo aqui duas
alusões, uma à tríplice lunar e a outra à deusa egípcia Ísis,
mais uma vez reforçando a ideia da energia do princípio
passivo/feminino presente no arcano.
O véu azul, que cobre seu corpo até seus pés, lembra muito a figura das águas de um
mar, as águas do inconsciente a qual ela domina.
Mas por que essa ideia de energia feminina e do inconsciente é tão reforçada nesse
arcano? Porque ambas estão interligadas e também porque a vida se manifesta com base no
princípio da dualidade. É o Yin e Yang, passivo e ativo, feminino e masculino, no qual aqui
em nada tem a ver com sexualidade, mas sim com uma energia oposta e complementar que
faz parte da vida, que também neste arcano é representado pelos dois pilares ao redor da
Sacerdotisa, Jaquim e Boaz, os pilares de entrada do templo de Salomão. Acessar esse nosso
mundo interior é uma atividade totalmente passiva, pois envolve estar calmo e receptivo para
receber e entender os sinais que vêm de dentro.
A Sacerdotisa também nos alerta para algo muito importante, que é quando sobe à
nossa cabeça o querer ser intuitivo. Achar que está recebendo mensagens que te dizem uma
coisa que não existe na realidade, sendo tudo fruto de uma imaginação que quer receber
sinais do além e vai enxergar em qualquer coisa uma mensagem importante, que de
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importante ou relevante não tem nada. Portanto, discernimento é essencial para saber
diferenciar o que é imaginação de intuição. E como se faz isso? A experiência da intuição é
algo muito mais forte, é algo que transcende a barreira da imaginação, você não vai sentir
como se fosse algo de sua cabeça, mas o impacto de uma intuição, de uma mensagem que
vem de dentro, da Sacerdotisa, gera um sexto sentido quase que “palpável”.
A Sacerdotisa te diz que é hora de sentar, respirar fundo e acalmar a mente para ouvir
sua voz interior, deixar que ela seja sua guia. Ela te diz que os segredos que busca sobre você
ou para resolver uma situação já estão dentro de ti, mas não é com a mente objetiva que irá
encontrar, mas sim deixando de lado o racional e tentando entrar em sintonia com sua
intuição, pois o inconsciente guarda segredos, e ele só irá os revelar se entrar em contato com
teu Eu Interior. Esteja receptivo aos sinais que vem de dentro, pois neles estão ocultas as
verdades que lhe trarão o conhecimento que busca.
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III – A Imperatriz
O amor que faz crescer
Amor pelo que se faz, amor pelo que se envolve, amor pelo que se cuida. É o amor o
ingrediente capaz de tornar tudo isso belo. O amor é o que dá luz e vida a algo, é a força
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capaz de fazer florescer as mais belas coisas, é o sentimento que permite você se dar por
inteiro ao que se ama.
O arcano de número III é A Imperatriz, ela é associada à Vênus e também é conhecida
como A Grande Mãe, no sentido de quem cuida, de quem ama, de quem cria, de gerar, de ser
fértil. É a representação da fertilidade na sua vida, indicando que existe algo nela que está
pronto para ganhar vida, e isso vai desde um simples projeto que está para nascer ou algo do
qual você cuida que dará ótimos frutos, e até mesmo uma gravidez.
A Imperatriz é o campo fértil no qual pode ser fecundado todas as ideias possíveis de
se imaginar, e dessa multiplicidade de possibilidades, uma delas nascerá. Então esse arcano
te diz que o terreno está pronto, se quiser plantar algo a hora é agora. E ele pode também
estar te dizendo que algo está tomando forma para se apresentar a você, então pode ser que
algo benéfico apareça em sua vida em breve, e com isso o início de alguma coisa que pode
ser maravilhosa.
A figura da Imperatriz no tarot de Waite usa uma roupa que aparenta ser muito
confortável e espaçosa, e essa era uma espécie de roupa que as grávidas costumavam usar no
passado, isso para indicar que a Imperatriz está grávida, tanto que o trono em qual está
sentada é o mais confortável possível para ela, pois ela é a figura de uma mãe como já foi
dito.
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No ambiente ao redor da Imperatriz é possível perceber uma natureza bem vívida, rica
em vida natural, indicando o poder de fertilidade desse arcano. À frente dela estão vários
trigos, eles são símbolos da abundância, fartura e
crescimento.
Uma mensagem muito importante desse arcano é que se deve amar o que você tem ou
faz na vida, amar igual uma mãe ama seus filhos, um amor de coração, pois ele é a força que
dá vida à criação, é ele que nos motiva a querer ver algo crescer e se tornar belo. Cuidar com
todo carinho e cuidado daquilo que amamos, com o que nos envolvemos, com o que
queremos dar vida.
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IV – O Imperador
A habilidade para comandar
Todos nós possuímos um reino pessoal, tudo o que construímos e possuímos em nossa
vida é como se fossem coisas dele, e todas as pessoas que estão nela são como a população
dele. Ao tomarmos as decisões do que fazer, isso afeta diretamente nosso reino e a nós.
Portanto, para saber como comandá-lo perfeitamente é necessário visão, retidão e equilíbrio
entre rigor e a misericórdia, mostrando que assim você possui o poder para imperar sobre
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tudo o que está em seu domínio, e se quiser expandir ainda mais o seu reino, conseguirá, pois
você possui a força de um imperador.
O arcano de número IV é O Imperador. Ele é a figura do arquétipo de pai, chefe, líder,
rei responsável por governar todo o seu reino. Demonstra poder, sabedoria e uma visão muito
apurada das decisões que toma. Ele é a força da autoridade, o que ele fala é lei, sua decisão é
a voz final. Em sua mão direita ele carrega um cetro, símbolo de poder e de comando, e em
sua mão esquerda um orbe, símbolo utilizado para representar o
mundo material, mostrando que ele tem o mundo em sua mão e o
poder de comandá-lo em outra.
Em seu trono de pedra existem quatro cabeças de carneiro, elas são
referências ao signo de Áries, mostrando que o imperador possui as qualidades
mais altas desse signo como, por exemplo, a liderança, o dinamismo e o poder de
avançar para conquistar o que deseja. Existe nesse arcano uma referência ao número quatro,
tanto que é o número dele. O quatro representa o mundo material, e o Imperador é o senhor
dele, é ele quem impera sobre o reino material.
Diferente do arcano do Mago que pega e faz, põe a mão na massa, o Imperador é
quem comanda tudo. Ele é quem decide o que será feito e por quem, pois já está numa
posição altíssima e não necessita botar a mão para fazer as coisas, ele simplesmente tem
quem faça, pois quem tem o mundo nas mãos tem quem faça os trabalhos por ele. E para o
imperador só basta comandar e governar.
Do caos ele traz a ordem, a estabilidade, a solidez. Possui o poder de
administrar, de ordenar, de criar estratégias, de ser visionário, possuindo uma
visão que enxerga além. Faz com que as coisas tenham estrutura, pois ele é
conhecedor e sábio, tanto que é uma figura que ostenta uma grande barba, e
antigamente a barba era sinal de sabedoria e autoridade.
Por baixo de sua roupa ele veste uma armadura, mostrando que ali
ainda reside um guerreiro, e se precisar ele está pronto para ir à guerra, mas que ali, sentado
em seu trono, ele não é a figura do rei guerreiro, mas sim do rei governador, do grande
imperador de seu reino.
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Na figura em que reside o poder de autoridade, de chefiar, de liderar, de comandar, é
necessário ter o poder de retidão para se alcançar seus objetivos. A retidão é a capacidade de
direcionar a sua visão para o que quer conquistar. Mas essa figura não pode ser rígida, não
pode querer usar apenas de seu rigor para conquistar o que deseja, pois dentro da figura do
Imperador também reside a misericórdia, reside a benevolência. Mostrando-nos que querer
ser rígido e autoritário demais em um ponto pode ser uma má decisão, uma vez que não é
apenas focando no objetivo final, ignorando os percursos no caminho, que irá conquistar o
que deseja.
O Imperador é um arcano que traduz a energia de poder de comando, da autoridade, e
isso pode se aplicar a você, no sentido de que você possui ou precisa incorporar essa energia,
ou de alguém que exerça esse papel na sua vida. Ele te diz que você impera sobre seu reino, e
com isso a responsabilidade de saber o melhor caminho a se tomar. Está na hora de você
possuir uma visão sobre o que quer resolver ou conquistar na vida que vá além do costume.
Veja as coisas de longe, do alto, veja as coisas como um todo. Saiba comandar o que
está sob sua responsabilidade, mas sem ser rígido demais, pois isso castra a possibilidade de
expandir o seu reino. Seja sábio, saiba quando aplicar o rigor e a misericórdia, seja firme em
suas decisões se elas vêm da sabedoria adquirida na vida. E mostre que você tem a força de
um imperador, pois é você quem manda em seu reino.
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V – O Hierofante
O grande Mestre e Professor
Sempre tivemos figuras de alguém na vida que nos ensinaram lições valiosas, foram
fonte de nossos conhecimentos que possuímos hoje. Verdadeiros professores que com a
sabedoria adquirida na vida deles possuíam autoridade para falar com propriedade o que
ensinavam. Graças a esses mestres os nossos horizontes puderam se expandir, nossa visão de
mundo mudou e não ficamos limitados ao mundinho que nos cercava. Com o passar tempo,
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nós também nos tornamos mestres em algo, e assim passamos adiante os conhecimentos
adquiridos em vida para os próximos.
O arcano de número V, O Hierofante, também chamado de O Papa em alguns tarots, é
a representação daquele alguém que possui autoridade naquilo que ensina, e essa é a ideia
principal por trás dele, alguém que está ali para ensinar algo, e essa figura pode ser tanto uma
pessoa que irá te ensinar ou até mesmo você, que possuindo um certo tipo de conhecimento
poderá passar adiante. Portanto, o Hierofante é a figura de um professor, de um mestre, de
um Iniciado, até mesmo de uma figura ligada ao espiritual.
Este é um arcano que apesar do cunho religioso em sua imagem, carrega bem mais do
que esse sentido de religiosidade ou espiritualidade, apesar de também estar ligado a elas. Do
ponto de vista espiritual, este arcano representa nossa fé, as crenças que temos, a busca de
um sentido na vida mais filosófico ou espiritual, de algo além da matéria física, aponta que
talvez apareça alguém em nossa vida que nos guiará nesse caminho, ou então nos alerta para
ficarmos atentos aos sinais espirituais que a vida nos dá. Do ponto de vista de ensino, é um
chamado a ensinar o que se sabe, ou então de aprender por meio de alguém.
A lição do Hierofante é fazer você passar por um aprendizado e assim ampliar sua
visão de mundo. É um chamado também para rever suas crenças, pois elas podem ser
limitantes e te bastar no mundinho que sua mente cria para você viver. Fechar os ouvidos a
novos aprendizados é manter-se preso dentro de uma caixa, bastando-se com as crenças
enraizadas que você criou por conta de uma tradição familiar, das palavras de alguém que
você segue fielmente ou da figura que você aceita como autoridade tudo o que lhe é dito, e
isso tudo pode te levar ao fanatismo. E como é chato e irritante gente fanática! Não seja
assim, a humanidade agradece.
Um detalhe importante a se reparar é que o Hierofante veste um manto nas mesmas
cores do Arcano do Mago, e por baixo as mesmas cores do Arcano da Sacerdotisa, ou seja,
ele carrega o poder dos dois em si, tornando-se o elo de conexão entre o divino e a matéria,
tendo o poder de manifestar a vontade divina nela e também o poder de compreender e ser o
detentor dos conhecimentos que vêm das mensagens divinas.
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Da mesma maneira que essa figura pode exercer as mais altas qualidades da síntese
dos arcanos do Mago e da Sacerdotisa, ela também pode exercer as piores, por isso cuidado
com quem você quer ter como autoridade de suas verdades. E se você é um professor ou é
alguém que está passando adiante seu conhecimento, cuidado também com quem você
escolhe como discípulo. Como diz aquela famosa frase “Não jogue pérolas aos porcos”.
Aos pés do Hierofante você poderá ver duas chaves: as chaves de São Pedro, que abrem os
portões do céu ou do inferno. Um verdadeiro mestre espiritual ou um professor da vida pode
te abrir os portões do céu com seu aprendizado, da mesma maneira que um malandro, um
estelionatário, um mentiroso, pode te enganar com suas falsas verdades e te levar ao inferno.
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VI – Os Enamorados
O amor e as difíceis decisões
Diversos foram os caminhos que tomamos para chegarmos onde estamos hoje.
Diversas foram as escolhas que nos fizeram felizes ou tristes, que nos abriram ou fecharam
portas, que nos libertaram ou nos aprisionaram. Nem sempre estamos preparados para as
escolhas que a vida nos obriga a fazer, mas por bem ou por mal aprendemos com elas, e
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assim adquirimos conhecimento pela escolha de um determinado caminho e também a
sabedoria do que essa experiência trouxe.
Nem sempre o caminho mais fácil é o certo, e nem sempre o caminho certo é o mais
fácil. A verdadeira certeza das escolhas que fazemos é quando podemos notar que estamos
unidos de corpo e alma, de mente e espírito, e do Eu com o divino em cada um de nós.
O Arcano de número VI é Os Enamorados, chamado também de Os Amantes em
alguns tarots. Esse é um arcano que está representando escolhas, e com elas as difíceis
decisões da vida, que de difícil realmente não são quando se está unido com sua essência
para decidir. Mas aqui também é abordado o amor, não só por uma pessoa, mas por tudo o
que seu coração é capaz de sentir, seja alguém, seja algo, seja um trabalho pelo qual é
apaixonado. Muitas decisões que tomamos não são pautadas no real amor, e com isso
podemos escolher algo que lá na frente que nos deixará infelizes. E o amor aqui é a união, é o
laço que nos une a algo tão amado.
O tarot de Waite faz alusão a Adão e Eva no paraíso. Os dois são feitos um para o
outro, assim como certas coisas na vida são feitas para nós, e sob a benção divina eles vivem.
Estão despidos, pois não existe a vergonha para eles, não há vergonha em ser quem eles são,
no paraíso em que vivem eles podem ser eles mesmos, portanto se lembre sempre de não ter
vergonha de escolher o caminho em que você pode ser quem realmente é.
Este arcano pode estar indicando que você busca o seu paraíso, mas está em um
impasse, está em um momento de escolhas que seguem diferentes caminhos, e talvez acredite
que eles possam ser o seu paraíso e por isso é tão difícil a escolha. Você pode também sentir
medo de errar ao escolher, e isso lhe trava a decidir o caminho, mas lembre-se que se a
indecisão prevalecer, a vida que pode tomar essa decisão por você.
Pode também estar indicando que a escolha já foi feita, e agora você vive o seu
paraíso, ou então descobriu que o paraíso não é tão perfeito assim, da mesma maneira que
Adão e Eva perceberam.
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É sabido que ambos são expulsos dele após comerem o fruto da Árvore do
Conhecimento do Bem e do Mal. Uma visão interessante a respeito desse mito dentro do
contexto de escolhas e amor é olhar a decisão de Eva em comer do fruto. Ela e Adão estavam
no paraíso, não precisavam trabalhar, viviam cercado de animais, tinham a vida eterna. Mas
será que esse “paraíso” era realmente perfeito?
O ser humano é um animal racional, e em comparação aos outros que são irracionais,
nós possuímos mais consciência de nossas capacidades. Então por que viver em um lugar em
que limita seu potencial de existência? Por que viver em um lugar com seres irracionais?
Fora do paraíso existem perigos, mas também existe a beleza do potencial de ser mais, de
não se limitar na pequenez do que se tem ou se é quando se pode ter mais, de fazer mais, de
ser mais. A serpente desperta em Eva essa visão, e assim ela faz a difícil escolha de comer do
fruto proibido, contrariando as ordens de Deus. Adão, por amor à Eva, também come do
fruto, e assim ambos despertam do “mundinho perfeito” que viviam, pois adquiriram o
conhecimento, e agora possuem a possibilidade de serem e conquistarem tudo o que o mundo
afora pode lhes proporcionar.
As difíceis decisões da vida são tomadas por causa do amor ou pela falta dele, erradas
ou certas essas decisões, elas nos fornecem conhecimento e sabedoria, portanto, o arcano dos
Enamorados coloca em xeque as escolhas que devemos tomar, apontando que o caminho em
que reside o amor e a união com o divino é a melhor decisão, mesmo que seja um caminho
difícil. O paraíso pode não ser perfeito como você imagina, mas até mesmo errando em
nossas escolhas ganhamos algo: sabedoria.
Quando se está conectado com sua essência, perceberá que não existem escolhas
difíceis, existem escolhas que libertam, e se residir o amor no caminho que escolher,
abençoado ele será, e assim alcançará seu próprio paraíso. E mesmo que erre na escolha,
percebendo que não existe o tal paraíso perfeito nela, poderá escolher em se libertar dele, por
mais difícil que possa parecer o caminho depois disso, a escolha está sendo feita com a união
com o divino que existe dentro de você.
Os Enamorados é a expressão máxima do amor que lhe indica onde está seu coração.
Tente não ficar na indecisão do que escolher, pois a vida pode escolher por você. Pondere
bem sobre suas escolhas, pois seu paraíso pode estar em uma delas e você sabe muito bem
disso. Portanto, deixe que o real amor seja a espada que irá carregar consigo para batalhar por
sua escolha.
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VII – O Carro
Rumo ao sucesso
Por vezes passamos por momentos na vida em que parece que nada anda, tudo dá
errado, tudo nos atrasa, e até por nossos próprios erros nos vemos presos, estagnados numa
situação que não sabemos quando sairemos dela. Mas por vezes há momentos na vida que
tudo flui, tudo começa a dar certo, as coisas vão caminhando para algo melhor, evoluem,
crescem, deixando assim a inércia da vida para trás.
Quando há uma decisão de sua parte, uma decisão certa, uma vontade direcionada,
focada em seu verdadeiro objetivo, a vida começa a fluir. Quando se está pronto para mostrar
que é capaz de assumir as responsabilidades que ela lhe dá, as coisas tomam rumo. Se você é
capaz de conduzir sua vida, mostrar que tem a capacidade para isso, então suas escolhas não
serão um erro que irão lhe atrasar, mas elas irão abrir os caminhos para que você cresça e
conquiste seus objetivos.
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O Arcano de número VII é chamado de O Carro, ele te mostra, principalmente, que as
coisas estão tomando um rumo, que sob o poder de sua Vontade você conduz sua vida com
sucesso. Enquanto no Arcano Os Enamorados há a dúvida do que escolher, aqui essa decisão
já foi tomada, é uma decisão certa, e agora você caminha em direção a ela.
A figura do guerreiro neste arcano é a representação de você, que caminha em direção
a algo. Ele é o herói solar, abençoado pelo céu, que possui a benção divina para conquistar
seus objetivos. Ele está em uma carruagem sob um dossel estrelado sustentado por quatro
pilares, mostrando que o divino presente no céu caminha consigo, e que os quatro
elementos (espiritual, emocional, mental e material) sustentam a sua vida e lhe dão proteção,
pois sem eles não haveria equilíbrio para sustentar nada nela.
Sua carruagem é puxada por duas esfinges, representando o princípio dual da vida.
Fazem a mesma alusão aos pilares no Arcano da Sacerdotisa, Jaquim e Boaz, o Yin e Yang,
masculino e feminino, ativo e passivo, o Rigor e a
Misericórdia. Porém, não há nenhuma rédea que
estejam nelas, mas se reparar bem, o guerreiro
carrega em sua mão um cetro, símbolo
de poder, do poder de direcionar, de
comandar, de conduzir, e assim como
o Mago, sob sua Vontade ele conduz a
carruagem conforme quer, caminhando
assim para seu objetivo.
Cada uma das esfinges está voltada e olham para direções diferentes, e cabe então
a esse guerreiro saber direcioná-las para um caminho de retidão, pois se não saber, a
carruagem não anda. Isto significa que enquanto não houver um direcionamento de sua razão
e emoção para um mesmo caminho, haverá estagnação, as coisas não andarão direito, pois se
cada uma delas querem ir para um lado quer dizer que não há um foco real para seguir o
caminho escolhido.
Existe um escudo na carruagem sob o desenho de um sol
alado, é dito que a figura dentro dele é o desenho de um lingam,
que carrega a mesma ideia da união das polaridades, e assim o
desenvolvimento da vida.
No fundo, é possível ver uma cidade com muros altos, talvez uma fortaleza,
mostrando que esse guerreiro está saindo dela, abandonando seu porto seguro e indo em
direção ao que deseja buscar, e ele sai nessa caminhada já seguro de si que irá chegar ao seu
destino final, pois está coroado com uma coroa de louros, símbolo dos vencedores.
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Os aspectos positivos deste Arcano mostram que as coisas estão caminhando,
tomando direção, estão em desenvolvimento, que há uma vontade direcionada, um objetivo a
ser conquistado e se caminhando em direção a ele. Existe aqui o progresso, o avanço de uma
situação ou da vida em geral. Mas nem só de aspectos positivos são feitos os arcanos. O seu
lado negativo é mostrar que talvez a estagnação e bagunça que há na sua vida é por causa da
falta de direção nela, pelo motivo de estar com a razão e a emoção voltadas a lados
totalmente opostos. Pode mostrar que há falta de foco, do poder real de saber conduzir
situações na vida, que parecia que as coisas finalmente iriam andar e no fim não foi bem
assim.
O Arcano O Carro está mostrando que agora que sabe o que quer para vida, as coisas
tomam rumo. Você sai confiante de sua vitória, mesmo que tenha que abandonar seu porto
seguro. Mas sabe que essa caminhada é abençoada, acredita que o divino lhe ampara nela, e
não é à toa, pois uma escolha feita sob o poder da Verdadeira Vontade, a consequência é tudo
fluir, pois nela há o direcionamento, há o equilíbrio da razão e emoção, há o verdadeiro
desejo do coração, há a verdadeira benção divina, você se torna o guerreiro destinado à
vitória em sua jornada.
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VIII – A Força
O poder de ser forte
Afinal, o que é ser forte? É algo que poderia ser resumido em força física? Óbvio que
não. Essa aptidão não pode ser só resumida física, emocional ou mentalmente. Ser forte é
possuir a capacidade de lidar com os desafios e dificuldades que a vida impõe sem que esses
não te tirem do seu eixo, caso contrário quem passa a comandar o seu Eu é o ego arbitrário,
sujeito aos defeitos da personalidade que temos. Um ego capaz de trazer à tona os nossos
demônios e a liberar a fera maléfica que reside em nós.
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Todos nós estamos sujeitos às influências, para bem ou para mal, do nosso ego.
Apenas para conceituá-lo aqui e para que compreenda a maneira que ele é abordado nesse
texto, entenda o ego como personagem/a máscara que você vive para o mundo, com seus
aspectos positivos e negativos. Já o ego arbitrário como um personagem que com o tempo
ofusca o brilho de sua essência, trazendo à tona todos os defeitos de uma máscara social para
o seu Ser sem que você note, podendo agir tão inconscientemente dentro de ti que nem se
dará conta do quanto ele lhe é prejudicial e lhe afasta de seu Verdadeiro Eu.
Se existe algo que pode domar a fera do ego arbitrário, esse algo é a pureza de nossa
Essência, pois nela reside um poder. Um poder que nos dá força para controlar nossos
instintos prejudiciais. Uma força que guia nossa essência para se expressar no lugar do ego.
O Arcano de número VIII se chama A Força. Como o próprio nome já diz, ele traduz a
força interior de nosso Ser. É o poder que temos em sermos fortes em diversas situações da
vida, nos condicionando a superar os desejos do ego em ser prejudicial de algum modo a nós.
Por vezes a vida sempre irá nos colocar numa situação delicada, num momento difícil,
irá exigir um tremendo autocontrole, que caso não tenhamos fará o pior de nós vir à tona. É
nesses momentos que esse Arcano aparece para te dizer “Calma! Respire, olhe para dentro de
ti e encontre sua força interior, pois agora você precisa dela!”.
A ideia de força nesse Arcano pode estar representando a força interna, a força de
vontade, uma força divina, de forma geral é uma força que é necessária possuir para
ultrapassar algum desafio. Ela é representada no tarot de Waite pela donzela, que calma e
suavemente abre a boca do feroz leão, mostrando que é por meio da influência divina, da
nossa Essência, que se vence o ego arbitrário, e não à toa essa donzela usa uma vestimenta de
cor branca, representando a pureza da essência sendo guiada pelo divino, simbolizada pela
lemniscata, uma fonte de poder infinita que o representa.
Mas caso não tenhamos ou consigamos encontrar essa força, o que irá controlar o
nosso ser é o ego, mais especificamente os defeitos do ego arbitrário. Raiva excessiva,
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impulsividade, a incapacidade de controlar seus instintos primitivos, tudo isso vem à tona
quando não há essa força interna. E obviamente torna tudo mais difícil e prejudicial para nós,
sendo um dos pontos mais negativos desse arcano: a sua agressividade.
O leão é um animal de símbolo solar. O sol possui como defeito o orgulho, e como
virtude a magnanimidade, portanto deixar o ego arbitrário tomar o controle é puramente
a força do orgulho, veja o orgulho aqui como algo negativo, inclusive ele é um dos Defeitos
Capitais. Mas é com a magnanimidade que mostramos a excelência de nosso ser, de nossas
qualidades, daquilo que temos de melhor em nós, e ser magnânimo é mostrar a pureza e
beleza de nossa Essência Divina.
O ponto-chave do Arcano A Força é o domínio sobre as emoções e instintos que
possuímos por meio de uma força maior que nós, e com isso adquirimos o controle, o
verdadeiro equilíbrio da pureza da essência e do ego que possuímos. Ego e essência podem
ser aliados, agora se isso vai ser um acontecimento suave ou difícil aí depende de cada um. O
quão forte é a voz de sua essência para domá-lo e agir em conjunto? O quão forte é a
presença do Divino em você para domar o leão do ego e te tornar alguém melhor?
O exercício para encontrar e fortalecer essa força interior que possui deve ser
constante, pois só assim, quando surgirem os momentos complicados e difíceis da vida,
haverá uma maior chance de sua Essência, da Força Divina, de sua magnanimidade, falarem
mais alto do que seu ego arbitrário que só agirá para te prejudicar. Então quando esse Arcano
surgir, pare um pouco, respire fundo, perceba que o momento te pede para ser forte, para ter
força. Analise bem se é com o ego ou com seu Verdadeiro Eu que quer agir ou se já está
agindo. De onde vem a força que te impulsiona a agir?
O Arcano A Força te diz para aguentar, e você pode fazer isso de duas maneiras, ou
com a força de sua Essência que torna tudo mais fácil e o desafio mais suave, ou com a força
do ego, uma força mais feroz e mais difícil de se domar. Então reflita bem e pergunte-se: O
que em essência torna-me forte?
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IX – O Eremita
O sábio que existe no silêncio interior
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é necessário para este momento nela. As respostas para as dúvidas, aflições e indecisões que
tanto lhe afligem já não podem ser mais encontradas no mundo, mas somente dentro de si.
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Então a síntese do arcano do Eremita, dentro da visão do sábio no alto
das montanhas, é a de alguém que precisa se afastar de tudo um pouco, ter um
momento para reflexões e introspecção. Na sua figura de velhinho representa
alguém que possui a experiência necessária para compreender melhor seus
questionamentos, e por isso ele é um sábio e também um buscador. É a
representação da prudência, da paciência, da sabedoria, da experiência, da
maturidade, de um trabalho que requer tempo e de aperfeiçoamento, pois em
essência ser sábio representa tudo isso.
Aqui se inicia uma busca interior dentro de ti, e o arcano pode estar lhe
pedindo tempo para refletir melhor sobre você ou sobre uma situação. E mesmo
que as coisas não estejam claras no momento, existe uma luz que iluminará seus
passos nesse processo. E enfim terminará essa busca achando a resposta que
precisa no mesmo lugar que ela começou: dentro de você.
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X – A Roda da Fortuna
Tudo na vida passa
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A essência dos ciclos é a eterna mudança. Não há mal que dure para sempre, nem bem
que dure eternamente. A vida é um eterno ciclo que se desdobra no universo, na natureza, em
nossas vidas. Por horas tudo está bem e em outras tudo está mal, mas uma coisa é certa: tudo
na vida passa.
O Arcano de número X se chama A Roda da Fortuna. Ele trata justamente desses
ciclos da vida, muitas vezes compostos por momentos dos quais não gostaríamos de passar,
ou sequer imaginaríamos que teríamos que passar por tais coisas. Mas essa é sua essência, ser
uma força capaz de estar além de nossa capacidade de controlar, cabendo a nós apenas a
aceitação dela, pois ela está além de nossos domínios.
A Roda da Fortuna representa as mudanças da vida, os ciclos, o destino, o karma, é
uma roda que gira fazendo quem está no seu topo cair, e quem está embaixo subir. Ela fala
sobre a colheita do que plantamos, mostrando que no atual momento você está recebendo o
que plantou, seja isso bom ou ruim.
É uma força maior do que nós em ação, e tentar ir contra ela é não aceitar a grande
verdade de que tudo muda, e a não aceitação disso leva a um sofrimento maior e
desnecessário. Conseguir observar e analisar o que os momentos de mudanças além de seu
poder trazem, é ter a capacidade de tirar ensinamentos deles. E por que isso é importante?
A Roda da Fortuna também fala sobre ciclos repetitivos em nossas vidas. Ter essa
capacidade de observar, analisar e praticar mudanças é ter o poder de quebrá-los. Quebrar
esses padrões cristalizados de comportamento que temos, e assim mudar o destino a qual
estávamos fadados, e aqui você pode atribuir o significado de destino a uma força espiritual
ou além de nossa compreensão que comanda as lições que precisamos passar para evoluir, ou
então, atribuir ao inconsciente como Jung faz.
“Até você se tornar consciente, o inconsciente irá dirigir sua vida e você irá chamá-lo de
destino” - Carl G. Jung
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No topo da roda tem-se a esfinge. Ela é um ser mitológico com
corpo de animal, no qual suas patas traseiras são de leão e as dianteiras de
boi, possui asa de águia e uma cabeça humana. A representação dos 4
elementos num único ser. Mostrando que a esfinge é o equilíbrio em si,
por isso está no topo da roda. Uma famosa frase do mito dela é “Decifra-
me ou te devoro”, uma frase bem interessante para se aplicar a este arcano.
Portanto, a chave aqui é encontrar o equilíbrio para saber passar pelos ciclos de altos e
baixos que vida nos põe.
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Então neste momento em sua vida, qual das três ideias representadas pelas figuras na
roda se faz presente? Alguém equilibrado que está sabendo lidar com o momento; alguém
tentando melhorar para quebrar ou superar o atual ciclo; ou alguém que deixa tudo de ruim
que o inconsciente traz dirigir sua vida?
A Roda da Fortuna nos lembra dos ciclos da vida, que tudo passa, e a nós cabe às
vezes aceitar o destino dado por uma força maior que a gente e tirar proveito disso, mas
também saber o que está em nosso poder e praticar a mudança em nós, para que não nos
enganemos com um falso destino predestinado, quando, na verdade, a culpa dos ciclos pode
estar vindo de nossas decisões inconscientes.
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XI – A Justiça
Para toda ação há uma reação
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que seria uma decisão justa, e por isso nem todos concordam com algumas decisões. Mas
enquanto a justiça humana pode por vezes errar, a divina jamais irá falhar.
O arcano de número XI é A Justiça, figura essa de fácil compreensão para todos. Ela é
a representação de uma força maior que rege a vida. É a lei da causa e efeito, implacável,
imparcial, rigorosa, mas justa. Ela age para corrigir o que está causando o desequilíbrio na
vida, e com sua espada corta os excessos do que causa isso.
Ela incita a caminharmos num caminho de retidão e justo. Um chamado para ajustar o
que é necessário, pôr ordem onde há caos, e assim encontrar o justo equilíbrio na vida. Não à
toa, Waite enumera este arcano como número 11, localizado no meio dos 22 Arcanos
Maiores.
Com uma balança nas mãos, a figura central está a buscar o equilíbrio já dito, mas
também a pesar nossas ações, e assim tomar uma justa decisão. Ela é o arcano da ação e
reação, de uma justiça não só humana, mas também divina.
Apesar deste arcano abordar a ideia de justiça divina, numa tiragem ele também pode
falar sobre o nosso próprio senso do que é justo, de nosso viés de julgamento, e com isso
fazer um chamado para que possamos notar se nossa justiça é de fato justa, ou então se há a
falta dela.
A figura presente no tarot de Waite faz uma alusão ao Rei Salomão, um grande sábio
no quesito de ser justo. O véu atrás dele tampa o fundo da imagem, mostrando que por trás
ele encobre uma força maior que não podemos ver, e essa é a força que rege a justiça divina.
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Diferente das famosas representações da justiça em que são feitas com os olhos
vendados, aqui temos o personagem central observando, representando os olhos que
enxergam as ações, e mais do que isso, enxergam também as intenções. Não há mentiras,
ilusões, falsidades que enganem a verdadeira justiça divina, portanto, recebemos uma decisão
justa para nos colocarmos no caminho da retidão, sendo cortado aquilo que não nos serve e
dado aquilo que precisamos, mesmo que não queiramos.
A Justiça, do ponto de vista de uma Força Maior (entenda como uma lei divina), está
indicando que decisões maiores que você ou qualquer outra pessoa está sendo tomada, ou
que já foi. Você está ou receberá aquilo que é justo, do ponto de vista do divino ou da lei da
ação e reação. Logo, dependendo de sua situação e pergunta, este arcano diz que o mais justo
ocorrerá, você gostando ou não. E caso ocorra da situação necessitar uma decisão sua, reflita
bem sobre seu senso de justiça para tentar ser o mais justo possível.
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XII – O Pendurado
Consciência, transcendência e sacrifício
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Existem momentos na vida em que ela pode te fazer sentir que está imóvel perante
alguma situação. Sem perspectiva, vontade ou ideias de como ir adiante, de como sair de tal
circunstância em que se encontra, fica assim esperando uma resposta para isso, porém não se
move para encontrá-la e isso te deixa preso perante à situação que está, até então conseguir
um jeito de sair dela, isso se sair...
O Arcano XII chama-se O Pendurado, ou O Enforcado dependendo do tarot. A
imagem de uma figura pendurada pelo pé e amarrada pelas mãos mostra nitidamente uma
situação de imobilidade e de se estar preso. Com ela, um ponto importante é mostrado sobre
este Arcano, o de estagnação de alguma coisa na vida.
O Pendurado revela que você está preso numa situação sem haver um esforço real
para sair dela. E mesmo que estar preso lhe incomode, é provável que o comodismo já lhe
tomou conta, e isso é perigoso, no sentido de que a vida passará e você ficará parado no
tempo até resolver sair de onde se encontra. E lembre-se que você pode parar no tempo, mas
o tempo não irá parar por você.
Ele é a contraparte do Arcano da Roda da Fortuna, enquanto a roda gira e se mantém
em movimento, o Pendurado está estagnado. Porém, este Arcano também reforça a
necessidade de haver uma reavaliação sobre o que te leva a estar preso a algo, fazendo-lhe
chegar a uma saída dessa situação, que irá exigir uma compreensão melhor, e assim te dando
uma nova visão a respeito de algo.
No tarot de Waite, a figura central que está pendurada nos revela que apesar de estar
presa, ela mantém uma expressão serena, não está desesperada por causa disso, e isso pode
significar duas coisas: significa o comodismo já dito anteriormente, e possível causador de
ficarmos em nossa zona de conforto e a não enfrentar a situação que nos libertará dessa
prisão que acabamos. E a outra é que a calma e serenidade precisam fazer parte de nós e estar
em sintonia com nosso intelecto para assim chegarmos a uma resposta, a uma expansão de
consciência.
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manter tudo sob seu domínio, enquanto o Pendurado não tem nada disso. Mas ele possui uma
única coisa que lhe é possível no momento: o poder de tomar consciência.
Estando imóvel não lhe cabe muita coisa a não ser pensar, reavaliar e saber o que é
preciso ser feito para sair dali. Porém, essa saída implica num sacrifício, sendo esse outro
ponto focal e importante deste Arcano. Às vezes para mudar uma situação é necessário abrir
mão de algo, é necessário um sacrifício. O momento em que se encontra é uma provação que
precisa passar, mas que só será ultrapassado se houver um sacrifício voluntário para se
libertar do que lhe prende.
Como você irá e do que precisa para se libertar da prisão que está? E o que é preciso
ser renunciado de sua parte para isso? Essas são questões importantes que o Pendurado traz.
Seja a vida ou então você os responsáveis por te colocar na situação que está, O
Pendurado lhe pede para reavaliar o que te fez estar aí. Está te mostrando que talvez esteja
gastando tempo, energia ou dinheiro em coisas que não te levarão a lugar algum, pois se está
preso em algo que não irá escapar a menos que faça um sacrifício, que será fruto de uma
visão mais apurada de sua consciência, uma possível transcendência do seu pensar, para
assim sair dessa estagnação, comodismo, zona de conforto ou prisão em que se encontra.
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XIII – A Morte
Live and Let Die
O fim chega para tudo e todos, e isso é um fato inegável. Para muitos é algo triste, mas
decerto reside uma beleza em todos os fins, e ela é o poder da conclusão e da transformação
dado por eles.
Um ponto final em algo é a chance de seguirmos num outro caminho, por vezes mais
belo, profundo, transformador e em sintonia com nosso real propósito.
O Arcano de número XIII chama-se A Morte. Temível sem nenhuma necessidade.
Não há porque temer ou se desesperar com este arcano, mas de fato sim sentir um alívio, pois
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ele está mostrando que o fim precisa chegar, para que assim abra-se espaço para uma
renovação, ou um renascimento de algo novo no seu caminho.
É hora de finalizar, abandonar, despedir-se de algo que já deu na sua vida. A Morte
também é um alerta para sabermos a hora de parar, pois continuar pode trazer apenas mais
sofrimento e estagnação, e deixar morrer é um tipo de sacrífico necessário, caso contrário
estará sempre no mesmo lugar igual ao arcano do Pendurado.
Seja alguma coisa ou caminho, relacionamento ou uma postura, existe algo na sua
vida que clama por um fim, e é preciso dar este fim a essas coisas para enfim haver uma
transformação. Uma jornada espiritual, por exemplo, demanda muita transformação, para
assim chegarmos a um novo patamar de quem podemos ser, logo A Morte é um Arcano de
transição. E muito é dito que a morte é apenas a transição para outra vida.
No tarot de Waite, ele traz o cavaleiro do apocalipse, a morte em pessoa, vestindo
trajes de um cavaleiro, carregando uma bandeira com a rosa de
Tudor, montada em seu cavalo, vindo ceifar a vida das figuras na
carta. Um rei jaz morto no chão, uma donzela estás a morrer, uma
criança olha assustada para a Morte, e a figura de um papa clama
ou tenta negociar sua vida. Nenhuma delas irá escapar da morte.
Pobre ou rico, plebe ou realeza, independente da classe social,
ninguém escapa da morte, pois o fim vem para tudo e todos.
Ao fundo da carta é possível ver o sol nascendo entre duas torres. São elas as torres
presentes no Arcano A Lua. E isso dá um contraste interessante ao Arcano
da Morte, pois mostra que mesmo no fim, lá no fundo reside o poder para
renascer.
A Morte é um arcano revelador, pois mostra que o fim chegou.
Chega de gastar energia e tempo com coisas que já não podem prosperar, que não irão dar
em lugar algum. É hora de transformação! Deixe os apegos para trás. É preciso morrer para
as coisas velhas e deixar o novo nascer. Então viva e deixe morrer!
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XIV – A Temperança
A chave para a harmonia
“1 + 1 é igual a 3.
Isso que quero mostrar a vocês.
Algo único e novo eu trago
Do equilíbrio de dois lados.
É com a influência de minha companhia
Que os faço encontrar harmonia.
Sou o anjo que lhes traz inspiração
Para que possam encontrar reintegração.
É através de meu poder
Que vocês podem ser
A verdadeira essência da conciliação
Do divino e da pessoa que são.
E assim seguir suas jornadas com segurança,
Com a virtude retificadora chamada a Temperança.”
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O Arcano de número XIV é A Temperança. Assim como a expressão da virtude
cardeal que carrega esse nome, este arcano também fala sobre moderação, ou seja, da exata
medida capaz de trazer equilíbrio e consequentemente harmonia para as coisas fluírem em
nossas vidas.
O Arcano XIV mostra uma verdadeira alquimia espiritual, pois essa alquimia leva a
um processo de fusão de nossas forças externas e internas, trazendo a capacidade de
entendimento do melhor caminho ou atitude a se seguir.
Nem para lá ou para cá, 8 ou 80, lado direito ou esquerdo, mas sim o caminho do
meio, é isso que o arcano da Temperança nos mostra que devemos seguir, um caminho em
que reside a união, conciliação, negociação de dois lados que irá resultar num terceiro, que
será harmônico e trará a capacidade de seguir adiante.
No tarot de Waite, tem-se presente um anjo com
um disco solar na testa. Ele está representando o
chamado Sagrado Anjo Guardião de cada um de nós, a
essência divina presente no íntimo de nosso ser. Ele
segura duas taças e mistura seus conteúdos, e esses são
as Águas Superiores se unindo às Águas Inferiores,
para mostrar que é a inspiração proveniente das
emoções divinas que são capazes de trazer equilíbrio
entre nossa essência e ego, Individualidade e Personalidade, e assim haver harmonia em
nossa forma de ser e agir.
Reforça-se esta ideia de equilíbrio no terreno onde o anjo está pisando, no qual um pé
está sobre terra firme e o outro sob água. Isso nos diz que apesar dele estar pisando em
terrenos opostos, a estabilidade para manter-se em pé e equilibrado se faz presente.
Em sua roupa está escrito o tetragrammaton Yod Heh Vav Heh, e também está desenhado a
figura de um triângulo dentro de um quadrado. O triângulo é o símbolo para o
elemento fogo, que aqui simboliza o fogo do espírito dentro do quadrado da
matéria, ou seja, a inspiração divina capaz de agir no mundo físico por intermédio
de nossa essência, capaz de reintegrar ego e self em vista de um objetivo mais
elevado.
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Ao fundo está presente um caminho onde ao final encontra-se uma
coroa simbolizada pelo sol. Aqui tem-se uma referência puramente cabalística
à Árvore da Vida, mostrando que é através da temperança (através do ato de
misturar as águas que o anjo faz) que conseguimos nos livrar das amarras de
nosso egoísmo e individualismo, e assim nos tornarmos uma extensão de algo
mais elevado, em prol de um propósito maior que nós mesmos.
É uma carta de conciliação, negociação, de união no qual 1+1 é igual a
3, formando assim algo novo a partir da soma de duas partes, fazendo nascer o equilíbrio e
com ela a vinda da harmonia, da qual é capaz de abrir um caminho com um ideal ou
propósito maior e perfeito que queremos alcançar.
Num contexto consigo mesmo, a Temperança te fala sobre encontrar estabilidade em
suas emoções, ter um coração equilibrado, fruto de uma reintegração e transformação de
quem é através da união de suas forças visando algo que trará harmonia para sua vida. Num
contexto com outras pessoas fala sobre conciliação de duas partes com intuito também de
encontrar harmonia, assim como paz. Uma negociação ou acordo benéfico para todos.
Pode-se dizer que o arcano da Temperança é sobre um conflito que precisa de
resolução, seja consigo ou com outros, e a solução virá, mas somente ao se permitir encontrar
equilíbrio no coração para seguir com moderação em suas atitudes, desejos e vontades. É a
harmonia encontrada na justa medida de suas partes que te leva a se conhecer melhor e agir
da maneira mais benéfica para o que deseja.
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XV – O Diabo
A sombra dentro de nós
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O que escondemos no canto mais escuro de nosso ser? Nossos desejos mais instintivos
dos quais não queremos nos identificar, mas querendo ou não eles estão lá. Talvez desejos
vergonhosos, vícios, obsessões, cobiça, luxúria, coisas das quais são moralmente erradas,
mas por algum motivo reluz e nos chamam atenção. São essas as tentações pelas quais nosso
ego é atraído. Ir com elas ou não vai de cada um, mas quem vai, vai também de braços dados
com o diabo.
O Arcano XV é O Diabo, e não, aqui ele não é a figura que os cristãos tanto temem.
Esse arcano fala sobre a parte feia do ser humano, por feia entende-se aquilo que queremos
esconder, pois não é aceitável aos olhos dos outros, ou mesmo aos nossos, e por vezes a
pessoa nem esconde. Mentiras, inveja, desejos viscerais, o querer o mal, o que tem de
vergonhoso em você, são algumas representações do que é essa parte feia.
O Diabo não é a figura que te prejudica, ele apenas te testa, oferece-lhe as tentações, e
se você as aceita, quem está se prejudicando é você mesmo. Ele está mais dentro de ti do que
fora. É a força que te escraviza, que te seduz, que desperta os interesses de seu ego, mas
daquele ego arbitrário, que é levado pelo egoísmo, materialismo e instintos mais baixos. É
um arcano que pode representar algo excitante, contudo perigoso ou proibido.
No tarot de Waite tem-se a figura central do que seria o diabo deste arcano, e à sua
frente duas pessoas acorrentadas. O diabo aqui faz uma alusão à figura de Baphomet de
Eliphas Lévi, mas não é ela, é apenas uma representação que ganhou forças no imaginário
cristão de como seria o diabo. Aqui, ele possui o rosto e corpo do que seria de um demônio,
chifres, asas de morcego, pés de águia, é uma figura para reforçar que ela é o próprio diabo
no desenho. Possui um pentagrama invertido na testa, que significa que a matéria é mais
importante que o espírito, já um pentagrama normal tem o sentido contrário.
O Diabo segura uma tocha com a mão esquerda e faz a mesma pose que o Mago faz,
mas aqui tem o sentido contrário. Enquanto o Mago manifesta do alto seu poder para trazer
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ao mundo físico, o Diabo não, de fato seu poder vem do físico, da matéria, do materialismo.
O Mago diz “seja feita a vossa vontade”, já o diabo diz “seja feita a minha vontade”.
As duas pessoas na carta estão acorrentadas por correntes frouxas ao meio cubo em
que o diabo está em cima, simbolizando o ser humano preso a matéria incompleta e
imperfeita, ao materialismo, e também aos instintos carnais e tudo aquilo que lhe torna
escravo. Porém, a corrente frouxa diz que elas podem se libertar a qualquer momento, basta
querer.
Então tudo o que remete a servidão, escravidão, as prisões em que nos aprisionamos
por conta de nossos desejos são postas nesse arcano. Todos sofremos tentações todos os dias.
Todos enfrentamos um diabo diariamente, seja ele externo ou principalmente interno. Não há
nenhum problema em ser tentado, pois faz parte da vida, o problema é o quão prejudicial a
tentação pode ser para você e para o outro se cair nela.
Outra visão do diabo também é que ele é um adversário. Numa tiragem, dependendo
da posição que o arcano saia e o sistema utilizado, além de mostrar que está preso a alguma
situação que pode ser prejudicial, pode mostrar também um adversário na sua vida, alguém
que quer te prejudicar, que lhe quer mal, ou até mesmo que você pode ser essa pessoa na vida
de alguém, portanto cuidado redobrado e consciência de seus atos.
Este arcano pede para enfrentar sua sombra. Enfrentar o que há de vergonhoso ou
oculto em você. Pede para ficar atento ao que se aprisiona, pois você é seu próprio senhor e
seu próprio escravo. A sua vontade pode estar fraca e perdendo o controle para seus desejos.
E é um aviso também de que há algo muito errado, do qual você pode estar fazendo ou
alguém com segundas intenções querendo fazer a ti. Há mentiras no ar.
Mas o lado bom dele é te dizer que alguma coisa lhe atrai, e isso de certa maneira é
bom, pois lhe instiga a viver os prazeres da vida, mas não se tornando escravo do que lhe
atraiu. Às vezes precisamos nos permitir a viver alguns prazeres, tirar os bloqueios e
inibições que temos, perder a vergonha do corpo, de demonstrar gostar do que gostamos.
Libertação de nossas próprias prisões, é isso que o arcano O Diabo pede.
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XVI – A Torre
A força destrutiva
Quantas foram as torres que construímos em nossas vidas e que em alguma hora
acabaram sendo destruídas. Crenças e certezas inabaláveis, uma confiança absurda de que
tudo daria certo, que o que acreditávamos estar construindo era uma verdade abençoada, mas
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no fim desabaram sobre nós de uma maneira dolorosa e sofrida. E então percebemos que nos
enganamos, pois o que tínhamos não era forte, não era abençoado, e não era de fato uma
verdade.
Essa força destrutiva que desaba falsas estruturas ao longo de nossas vidas está
representada no Arcano XVI A Torre. Ela vem para romper com tudo aquilo que você
acredita como verdade. É a força maior, divina, que destrói sua torre de mentiras, de um falso
eu, de falsas certezas. Vem para derrubar suas crenças, destruir antigos padrões, destruir seu
ego.
Mas A Torre não é de todo ruim, de fato é até boa, pois mostra o que é falso na sua
vida indo embora. Ela está lhe trazendo libertação. No Arcano XV, O Diabo, mostra que
estamos presos a alguma coisa, mas que podemos nos libertar por conta própria, e se não
conseguirmos aí a vida fará isso por nós, e a vida é A Torre, que vem pra te libertar, mas não
de uma maneira agradável. Vai doer, vai ser sofrido, mas será preciso.
No tarot de Waite temos uma torre sendo atingida por um raio que a destrói e a
descoroa. Chamas saem de dentro dela e duas pessoas despencam do alto da torre em direção
ao chão.
A torre está simbolizando a fortaleza do ego, nossas estruturas e bases superficiais,
nossa ignorância e falsas certezas, as prisões de nossas próprias construções. Ela está sendo
destruída tanto de dentro quanto de fora. Por fora tem-se um raio atingindo seu topo, esse
raio é a força divina, é a vida, é o fator externo que derruba o que é fraco e falso. Ele ainda
atinge uma coroa no alto, uma referência cabalística à Kether, que significa coroa, mostrando
a derrubada da falsa espiritualidade, de uma falsa fé e crença.
Por dentro a torre pega fogo, e o fogo aqui é um símbolo transmutador, pois é
purificador e transformador, dizendo-nos que as mudanças são transformadoras e que elas
podem destruir e abalar antigas estruturas de nosso ser tanto por dentro quanto por fora. E a
simbologia para o fogo é bem pertinente aqui, pois existe uma chuva de chamas no céu em
formatos da letra hebraica Yod.
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As duas pessoas despencando são os aspectos
consciente e subconsciente do ser humano que se desesperam
frente às bruscas mudanças. As cores de suas roupas remetem
aos arcanos do Mago e da Sacerdotisa, a energia ativa e
passiva, logo consciente e subconsciente. Uma delas ainda
está coroada, e isso mostra que a própria noção de
superioridade e falsas intuições são derrubadas aqui nesse arcano.
Portanto, quando A Torre aparece ela vem para avisar que algo vai ruir, ou já ruiu.
Aqui temos uma ruína, uma demolição, uma derrota, perdas, é onde falhamos, e não por falta
de avisos, pois a vida dá vários sinais de que algo vai ruir, pois nossos erros vão sendo
acumulados até a hora que nossa torre desmorona. A porrada aqui é inevitável, não há o que
fazer a não ser aceitar as mudanças. Numa posição em que ela caia no futuro é sinal de que
vai dar ruim, então é hora de rever o que está fazendo e consertar o que pode.
A Torre traz também excelentes reflexões, pois nos questiona em quais torres estamos
presos e também nos alerta sobre mudanças que precisam ocorrer, e no fim são mudanças
que trazem libertação para que algo melhor venha. Por isso que aqui é importante não se ver
destruído pelas mudanças que ocorreram, não se apegar aos escombros de sua torre de ego
caído. Liberte-se do passado, aceite esse rompimento e reconstrua algo melhor, com base
sólida, não mais baseada em ilusões ou mentiras. Aceite a mudança, a derrota, a sua falha, e
levanta-te mais forte do que nunca.
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XVII – A Estrela
Fé e esperança pra ir em frente
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acreditamos ser melhor, pois despidos do ego, sem saber exatamente por onde ir, existe um
caminho que nos chama atenção, no qual reside esperança de algo melhor, no qual
acreditamos com a força da fé existir um caminho que nos preenche, que nos inspira a
sermos melhores e a lutar por nossos sonhos.
Este arcano te mostra a força para continuar em frente. Traz a inspiração para realizar
algo. Esperança e fé são dois aspectos muitos relevantes aqui, pois apontam que você pode
estar no caminho correto. Revela também um momento de renovação de forças, pois é
através dessa renovação que se é possível criar confiança no futuro.
Numa tiragem ela pode indicar um momento de preparação, de espera, perseverança
para ir em frente, logo remete ao que já foi dito sobre fé e esperança. A Estrela diz para você
esperar o melhor. Pode indicar também uma situação de tranquilidade, boa para relaxar um
pouco.
No tarot de Waite temos a figura de uma mulher nua segurando dois jarros e
derramando o conteúdo deles num lago e na terra. No céu brilham oito estrelas ao total, sete
menores e uma maior. Ao fundo do desenho um campo verde se estende e está presente uma
árvore com um pássaro.
A mulher nua representa o Eu despojado do ego, das
falsas máscaras criadas por nós, o Eu livre da falsa torre que
criamos ao nosso redor. É casta e pura. Indica também o
princípio passivo, a energia Yin que nos conecta à nossa
intuição.
Os dois jarros que ela segura são os mesmos jarros
presentes no Arcano da Temperança, mas dessa vez seus
conteúdos já estão devidamente misturados e equilibrados,
sendo jogados no lago (emoção) e na terra (razão).
No céu, há um total de oito estrelas, das quais sete
indicam os 7 planetas clássicos da astrologia e a maior simbolizando a estrela Sirius. Essa
maior possui oito pontas, lembrando muito uma rosa-dos-ventos, que poderia simbolizar o
norte espiritual. E a estrela de oito pontas também é símbolo para Vênus, a estrela guia, e que
também traz esperança.
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A Estrela é um excelente arcano, pois nos lembra de termos fé e esperança e que tudo
pode dar certo. É preciso acreditar em si e na vida, e a não se preocupar muito, pois no fim
tudo pode ocorrer bem. Vá em frente se o caminho que deseja lhe chamar, se lhe traz
inspiração, confiança e esperança de um futuro melhor. Siga sua estrela guia.
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XVIII – A Lua
A lua me traiu, acreditei que era pra valer
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Seria o que a luz da lua ilumina confiável para nós? Em meio à noite, a sua luz pode
clarear um pouco as coisas ao nosso redor, mas seriam essas coisas iluminadas seu real
aspecto? Nossa visão, apesar da luz, estaria enxergando direito?
Essa falta de clareza aparece muitas vezes na vida, mas seguimos assim mesmo, com
medo ou não, é preciso seguir. Se é real ou imaginação no que acreditamos estar no nosso
caminho, é passando por ele que descobriremos.
O Arcano XVIII é A Lua. Considerado um dos arcanos mais extensos para se explicar
e complexos em sua essência, mas talvez o melhor caminho para o entender sejam essas três
palavras: enfrentamento, ilusão e ocultação.
Sob a luz do luar, nem tudo é o que aparenta ser. Podemos fantasiar coisas que não
existem ao nosso redor, imaginar uma coisa e ser outra, cair na ilusão e no engano de uma
luz que “ilumina”. A lua é um satélite que não possui luz própria, e a sua superfície apenas
reflete a luz do sol. Isso traz consigo uma reflexão de que nem tudo o que acreditamos ver é
iluminado pelo nosso Sol (entendendo-o aqui como nossa essência, um princípio norteador,
divino, do qual tudo que fazemos o seguindo, resplandece na vida). Logo é um arcano que
fala de ilusão, palavra-chave para entendê-lo.
A lua é símbolo do inconsciente, e nele estão as coisas ocultas das quais nos
influenciam positiva ou negativamente. Por isso que ocultação é outra palavra-chave para
entender esse arcano. Nele, as coisas não são claras, e você quase nunca vai saber o que
esperar, e se sabe, certamente ainda há coisas ocultas que te pegarão de surpresa. E nessa
escuridão da qual pouco enxergamos, temos que ir em frente, mas existe uma coisinha que
nos trava: o medo.
Medos podem ser despertos aqui, e muitas vezes são inconscientes. Eles podem te
travar, recuar, fazer retroceder e ver coisas que não existem. O medo pode te fazer viver um
pesadelo, e é por isso que o arcano A Lua não representa um caminho fácil. É um caminho
desafiante, que exige enfrentamento, outra palavra-chave para compreendê-lo.
Apesar do medo, da pouca luz para enxergar as coisas, das incertezas pessoais e no
caminho, é preciso enfrentar o “monstro” que se apresenta à nossa frente. É um desafio em
que você precisa mostrar para o que veio, pois ou você tem força e capacidade para
ultrapassá-lo, e acredita nisso, ou se ilude disso, e se dá mal no final.
No tarot de Waite, estão desenhados nesse arcano um lago do qual emerge um
lagostim, que supostamente irá caminhar a trilha à sua frente. No início dela existe um cão e
um lobo. Ao fundo, duas torres, e todo ambiente é iluminado por uma lua que emana chuvas
da letra hebraica Yod.
O lago é símbolo para o inconsciente, pois o elemento água o representa, assim como
as emoções. O lagostim está saindo dele, deixando a inconsciência. Como animal, ele possui
uma carapaça dura, representando o ego que necessita ser quebrado. É também as falsas
“certezas”, as máscaras que precisam acabar para que o que está por dentro possa se mostrar.
Uma característica do lagostim é que ele anda para trás, representando o medo que nos faz
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recuar, e é quase como se ele estivesse querendo retornar para o lago, prendendo-se nas
águas ilusórias do inconsciente.
A estrada é o caminho que o lagostim precisa percorrer, é o seu desafio, assim como
temos os nossos. O cão e lobo representam dois aspectos do ser humano, o
primeiro o lado instintivo, e o segundo o lado “domesticável” e mais dócil - a
emoção e a razão. Eles são também
guardiões do caminho, e que servirão como
protetores do lagostim em sua jornada, mas
somente se ele estiver apto a isso, senão será
devorado pelos animais. O nosso intelecto e
emoção podem nos guiar ou nos destruir,
tudo depende do preparo que temos. Se fantasiarmos que estamos preparados, iremos cair
num devaneio que nos enganará e que irá nos levar à derrota. Mas não se autossabotando e
tendo a certeza que fez tudo certo para enfrentar seus problemas, então uma vitória poderá
surgir.
As torres ao fundo possuem duas referências, uma delas é ao arcano A Torre, pois o
desafio do lagostim é também passar pela Torre. Na vida construímos várias torres que
precisam ser demolidas, então nunca enfrentamos uma só. A segunda referência é ao
Caminho de Peh na kabbalah.
A figura da lua parece estar eclipsando o sol, ou seja, eclipsa a verdade. E nisso, as
verdades que acreditamos não passam de ilusões ou mentiras ocultas por uma visão incapaz
de enxergar o real. Portanto, lidamos com a questão do realismo contra o idealismo.
Enquanto buscamos um ideal, podemos negar a realidade, pois há coisas tão veladas ao nosso
saber que nos tornamos incapazes de enxergar além dos nossos olhos, e com isso nos
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prendemos num mundo de ilusão, de sonhos, fantasias ou pesadelos. Mas a chuva de Yods é
uma luz que ilumina um pouco o caminho, sendo ela um aspecto solar.
A Lua é um chamado para romper com o véu da ilusão, e isso é um desafio, pois nem
tudo é o que aparenta. Então como saber o que é real ou não? A chave está na intuição. A
imagem que aparece na figura da lua é a Sacerdotisa, lembrando-nos que ela tem o poder de
nos mostrar o que está invisível, tem a capacidade de iluminar o que não conseguimos ver,
tudo isso através da intuição e do contato com seu Eu Interior. Outra questão aqui é saber
diferenciar o que é intuição do fruto do desejo do ego de querer algo, e dele se iludir de que
pode.
Nesse arcano você encontra seus desafios e ele te questiona até onde está disposto a ir
para enfrentá-lo. Se o medo de ir em frente te trava, então é hora de confrontar seus traumas
que o fizeram surgir, e assim buscar a compreensão deles e se libertar do que te faz recuar. A
Lua é um alerta para você se questionar das coisas que não estão muito claras, e a não se
iludir com elas. É um caminho difícil, porém, no fim, traz à tona as verdades, e aí saberá se
no que tanto acreditou é real ou uma mera ilusão.
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XIX – O Sol
O resplandecer de um fim
“O sol há de brilhar
Quando meu objetivo eu alcançar.
E enfim brilhou,
E luz que há em mim ele me mostrou.
Conquistei tudo dando o melhor de mim
E alcancei então o merecido fim.
Enfim colho os louros da vitória
Dessa minha jornada, dessa minha história.
E agora tudo na vida reluz,
Graças ao sol, graças a sua luz.”
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simbolizando a conexão com o espiritual, assim como O Louco que também possui. A
criança é de fato o Louco renascido, que passou por toda jornada e agora chega ao fim como
uma nova pessoa. Ela está nua, simbolizando que não tem medo de se expor, de mostrar
quem ela é.
Mas é também necessário olhar para este arcano com outra perspectiva, da qual em
que tudo que já foi dito anteriormente está em falta na vida. Quando falta este brilho pessoal
que temos, a alegria interior, a vitalidade da vida, sentimos um vazio, estamos desconectados
conosco. Isso pode te gerar um estado de infelicidade por uma falta de propósito maior na
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vida. Com isso, é preciso um olhar diferente para as questões que te cercam e renascer como
uma nova pessoa, resgatando o que há de melhor em você. Trazer à tona sua essência que
tirará todas as dúvidas da sua mente e te guiando para uma vida que vale a pena ser vivida. O
Sol é capaz de trazer uma cura interior.
Este arcano é também um chamado para você olhar para si e se questionar se não está
se mostrando demais. Talvez esteja num momento da vida que está se gabando muito, ou
sendo muito orgulhoso de seus feitos, faltando humildade em seu ser. Talvez você esteja
querendo atenção demais para ser visto pelas coisas que conquistou, revelando uma
necessidade muito egoica e vaidosa. Desse ponto de vista, o melhor a ser feito é expor-se
menos.
O Sol lhe diz que é o momento de receber sua luz, então você chegará ou chegou ao
fim que tanto precisava. E nesse fim você renasce como um novo eu, levantando a bandeira
da vitória. Tudo tende a ser belo, luminoso, vívido, pois o melhor de si é dado. Você pode
superar suas adversidades e isso será uma maravilhosa conquista. Colha os louros de sua
vitória, porque conseguiu ou conseguirá chegar ao desejado e belo final que tanto desejou.
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XX – O Julgamento
Avalie com consciência
Nossas escolhas nos tornaram quem somos hoje. Nossas escolhas fizeram-nos chegar
até onde estamos e a conquistar o que temos agora. Mas nos tornamos e conseguimos tudo
isso a troco de quê? Quando olha para trás, qual é o balanço que você faz de toda sua
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caminhada até aí? É hora de avaliar, de analisar e refletir sobre seus passos. É hora de seu
julgamento.
O Arcano XX é chamado de O Julgamento. Ele é um chamado de conscientização de
tudo que é importante para a sua vida. Trazendo assim entendimento para ter a compreensão
do que fez para chegar até esse ponto e daí se preparar para a próxima fase.
É um período de avaliação, de fazer um balanço dos seus erros e acertos, e com eles
ver o que pode ser melhorado. Aqui você tem uma somatória de todas as suas experiências
passadas para que se conscientize e se prepare para o futuro.
Mas quando olhamos para o passado podemos ser tomados por sentimentos de
arrependimento ou de culpa. No entanto, é preciso ficar ciente de que erros fazem parte da
vida. É errando que se aprende, ou melhor, é corrigindo os erros que se aprende. É melhor
errar tentando fazer algo do que nunca tentar. Então esse Arcano é também um chamado para
trabalhar o perdão, pois através dele você consegue a cura de feridas que causou a ti mesmo
ou a outros, e assim desprende-se do passado que te impossibilita de crescer. E esse
crescimento é um renascimento do Eu, um amadurecimento, que foi desperto através de um
olhar de retrospectiva e de ponderação. Por isso que a compreensão e aceitação do passado é
importante ao olhar para trás.
No tarot de Waite, tem-se a figura de um anjo tocando uma trombeta e saindo de uma
nuvem. Túmulos emergem do mar e são abertos. Pessoas se levantam dele ao ouvir o som da
trombeta. Esta é uma iconografia cristã representando o arrebatamento do juízo final.
É dito por alguns autores que o anjo nesse arcano é Gabriel, já outros dizem ser
Mikael (Miguel). Pelos meus estudos observo que Mikael condiz mais com o propósito aqui,
pois ele é regente do fogo solar. E observando bem, o cabelo do anjo é feito de fogo, que
aqui simboliza a conexão com o divino.
Ele sai do meio de uma nuvem. As nuvens, especialmente no tarot de Waite, trazem
um presente divino, vide os quatro Ases nos Arcanos Menores.
O anjo toca uma trombeta, e ela é um chamado para o despertar. É a voz da razão.
Nela está pendurada uma bandeira com a cruz de São Jorge.
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Os túmulos emergem do mar, da água, elemento esse que representa o inconsciente,
ou seja, os corpos se levantam ao ouvir o chamado da trombeta e despertam do inconsciente
para uma chamada da razão ou do espiritual, para que assim eles façam o que tem que ser
feito: despertar e seguir para uma nova vida.
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XXI – O Mundo
O fim é um novo começo
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O Arcano XXI, o último dos Arcanos Maiores, é O Mundo. Aqui, o Louco que iniciou
sua jornada lá atrás, chega ao fim dela, carregando dentro de si todos os ensinamentos, lições,
dores, felicidades, tudo o que aprendeu no caminho, ele enfim carrega de forma harmoniosa,
e com isso torna-se uma nova pessoa. Ainda o mesmo, mas diferente. Uma nova versão em
harmonia consigo mesmo e com o mundo ao seu redor.
O Arcano O Mundo nos remete à completude que o desejado fim que queríamos
alcançar nos proporciona. São as benesses do objetivo concluído. É não somente o fim, mas
o que ele trouxe a você. Afinal, graças a essa finalização, o que ela lhe trouxe? Como que
isso te mudou? Pois certamente, após alcançar sua meta, a mesma pessoa que a iniciou você
não é mais. Então quando você olhar para o todo, o que consegue contemplar de toda sua
jornada até esse fim?
No tarot de Waite, tem-se a figura de uma mulher no centro de uma guirlanda e quatro
seres nos cantos surgindo de nuvens.
A mulher é chamada de Sofia, a sabedoria. Ela ocupa o centro da carta, pois está no
centro do mundo, e a sabedoria precisa ocupar esse lugar, pois estar no centro dele é ter
estabilidade, diferente do Arcano da Roda da Fortuna, em que as figuras caminham junto da
roda, uma hora em cima e outra embaixo. Ela carrega em suas mãos duas baquetas, referentes
ao elemento fogo, o princípio ativo/masculino, e por ela em si ser o princípio
passivo/feminino, essa união é a junção das polaridades que levam ao equilíbrio do ser.
A guirlanda está representando o mundo ao seu redor, e remetendo também à figura
do ouroboros, a serpente que come a própria cauda infinitamente. Trazendo em si a ideia do
fim e início do Arcano. Um ciclo que termina para começar outro.
Os quatro seres nos cantos, o Leão, o Touro, a Águia e o Anjo, representam pelo
menos quatro coisas importantes:
1ª - É uma referência à visão de Ezequiel dos Querubins. E isso leva à segunda coisa...
2ª - Cada um dos quatro seres foi associado aos quatro evangelistas: Marcos/Leão –
Lucas/Touro – João/Águia – Mateus/Anjo.
3ª - Aos quatro elementos: Fogo – Terra – Água - Ar.
4ª - Aos quatro signos fixos do zodíaco: Áries – Touro – Escorpião (Águia) – Aquário
(Anjo). Os signos fixos mostram que através da oposição/conflito é que a harmonia pode
surgir.
A satisfação, a realização, a plenitude, são aspectos que se é possível sentir aqui. É o
fim de um ciclo, é a celebração de um fim. Um fim que te leva de volta a um novo início. O
Mundo te diz que o final é apenas um passo para um novo começo. Então sinta-se grato por
tudo o que passou e conquistou, pois essa sua vitória lhe proporcionou ser capaz de dominar
todos os elementos ao seu redor para alcançá-la. E hoje, a pessoa quem você é, são todas as
lições aprendidas no caminho já equilibradas e harmonizadas dentro de ti, que te
transformaram num novo Eu, completo e íntegro em essência.
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A vida é feita de ciclos, às vezes nos prendemos em ciclos que é necessário dar um
fim. Não queremos, mas é preciso, e isso faz parte da vida, pois tudo tem um fim. Por isso,
este Arcano também é um aviso para nos alertar se não estamos apegados ao passado, e, por
causa disso, não conseguimos dar o devido final que a vida pede.
É hora de deixar para trás as coisas já finalizadas. O novo não pode começar se ficar
preso ao velho, então agradeça pela jornada, por tudo o que viveu e passou, contemple-a e dê
o seu devido fim, para que assim um novo mundo surja.
O fim é um novo começo. Ciclos se fecham para outros se abrirem. O Mundo lhe diz
para pegar tudo o que aprendeu e ir em frente a um novo rumo, pois tudo o que precisava
fazer ou conquistar já foi feito. Portanto, se conquistou o que queria, chegou ao seu ápice, ao
seu apogeu, saiba que você pode muito mais ainda. Você é capaz de obter mundos muito
maiores, pois tem esse poder, por isso acredite em si, agradeça por tudo o que passou e rumo
ao próximo passo. Rumo a um novo mundo.
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Rumo à Tiferet
- 7 Defeitos Capitais
- Kabbalah Hermética
- Mitologia
- Sabbats
- Psicologia
- Tarot
- Animações
- E outros temas...
Todas essas áreas se encontram dentro do Hermetismo, por isso que esse é um caminho
magnífico, pois cada coisa que você estuda ou tem interesse, é possível obter um
conhecimento transformador.
Estudar o hermetismo é tornar-se uma versão melhorada de você, porque ele fornece o
contato com o seu Eu Interior, e dele brota a essência de quem somos. Essa essência é divina,
faz-nos encontrar a paz interior e a nos guiar pelo caminho que acende a chama de nosso
coração.
Estar em contato e sintonia com nossa essência é viver o prazer da vida em cada ato que
exercemos. É fazer valer a pena nossa existência. É ser uma expressão do melhor que há em
nós. E essa é a essência do Rumo à Tiferet, fornecer os conhecimentos e reflexões
necessárias para esse reencontro com nosso Eu Interior.
Tiferet é uma esfera dentro da Árvore da Vida da Kabbalah, na qual representa a beleza de
todo nosso potencial que podemos alcançar. É a expressão da verdadeira essência de quem
somos, é o ouro dos alquimistas. Como pessoas, nosso objetivo é alcançar Tiferet e com isso
fazer o nosso melhor aqui enquanto vivos. E assim surgiu o nome e intuito do blog.
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Sobre autor
Zayin é o nome que adoto para escrever para o blog. Conheci o hermetismo em 2013 e
desde então tenho o estudado e vivido esse caminho. Ao longo dessa jornada venho buscando
sempre me aprimorar cada vez mais nas áreas que mais me despertaram interesse dentro do
hermetismo, e isso fez-me conhecer pessoas maravilhosas com conhecimentos louváveis.
Sou um apaixonado por tudo que escrevo no Rumo à Tiferet, mais principalmente por
Kabbalah hermética, psicologia, mitologia, religiões e tarot. Considero-me um eterno amante
e estudante dessas áreas. E com o conhecimento que tenho espero poder ajudar a quem
precisar.
E deixo aqui uma frase que me inspira todo dia a dar o meu melhor:
“Hoje ser melhor do que fui ontem, e amanhã ser melhor do que fui hoje.”
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