147 3 384 1 10 20181211
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147 3 384 1 10 20181211
CARACTERIZAÇÃO DE POLIANILINA
COM INCORPORAÇÃO DE
NANOPARTÍCULAS DE TiO2
A DIFERENTES pHs
Reitora
Cláudia Aparecida Marliére de Lima
Vice-Reitor
Hermínio Arias Nalini Jr.
Diretor
Prof. Frederico de Mello Brandão Tavares
Coordenação Editorial
Daniel Ribeiro Pires
Assessor da Editora
Alvimar Ambrósio
Diretoria
André Luís Carvalho (Coord. de Comunicação Institucional)
Marcos Eduardo Carvalho Gonçalves Knupp (PROEX)
Paulo de Tarso A. Castro (Presidente Interino do Conselho Editorial)
Sérgio Francisco de Aquino (PROPP)
Tânia Rossi Garbin (PROGRAD)
Conselho Editorial
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Profa. Dra. Elisângela Martins Leal
Prof. Dr. José Luiz Vila Real Gonçalves
Prof. Dr. José Rubens Lima Jardilino
Profa. Dra. Lisandra Brandino de Oliveira
Prof. Dr. Paulo de Tarso Amorim Castro
Valfrido Furtado Leite Filho
ELETROPOLIMERIZAÇÃO E
CARACTERIZAÇÃO DE POLIANILINA
COM INCORPORAÇÃO DE
NANOPARTÍCULAS DE TiO2
A DIFERENTES pHs
Ouro Preto
2018
© EDUFOP
Coordenação Editorial
Daniel Ribeiro Pires
Capa
Daniel Ribeiro Pires
Diagramação
Pollyanna Assis
Revisão
Ciro Mendes
Lívia Moreira
Rosângela Zanetti
Ficha Catalográfica
(Elaborado por: Elton Ferreira de Mattos - CRB6-2824, SISBIN/UFOP)
CDU: 541.6
ISBN 978-85-288-0361-7
Todos os direitos reservados à Editora UFOP. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida,
arquivada ou transmitida por qualquer meio ou forma sem prévia permissão por escrito da Editora.
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EDITORA UFOP
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Ouro Preto / MG, 35400-000
www.editora.ufop.br / [email protected]
(31) 3559-1463
Dedico aos meus pais.
AGRADECIMENTOS
A todos que de alguma forma contribuíram para a elaboração deste
trabalho, a minha mais sincera gratidão.
A minha orientadora, Profa. Dra. Taíse Matte Manhabosco, por sua
paciência, ensinamentos e por apostar em mim para a concretização des-
te projeto.
A minha coorientadora, Profa. Dra. Giovanna Machado, e a toda a
equipe do Laboratório de Microscopia Eletrônica e Nanotecnologia do
Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (CETENE), por torna-
rem possível a realização de caracterizações das amostras deste trabalho
e por suas diversas contribuições intelectuais.
À coordenação do Programa de Mestrado em Ciências: Ênfase em
Física de Materiais, nas pessoas do Prof. Dr. Antonio Claret Sabione, do
Prof. Dr. Genivaldo Perpétuo e da secretária Mariana, por todo o apoio
indispensável.
Ao Prof. Ronaldo Batista, por sua importante contribuição teórica
em cálculos de primeiros princípios. Aos professores Dr. Thiago Cazati
e Dra. Jaqueline Soares, por suas diversas contribuições no trabalho em
laboratório.
A minha família, por todo o apoio, o amor e o incentivo, principal-
mente nos momentos mais difíceis e exaustivos da realização deste tra-
balho. Em especial, a meus pais, Ana e Valfrido, os quais são os pioneiros
na minha formação ética, moral e profissional. A meus primos, Alan
e Michele, por seu suporte e incentivo inestimável, os quais eu nunca
esquecerei. A minhas irmãs, Diana e Cláudia, por suas sábias palavras e
pelo estímulo e apoio em muitos aspectos durante esta jornada. A minha
namorada, Giseli, por seu suporte, compreensão e apoio, por meio de
ações e palavras que me proporcionaram grande incentivo.
Ao meu amigo Adelson Viegas, pela ajuda material e moral, e pelos
incentivos durante o trabalho em laboratório e nas horas de estudos.
Além de proporcionar boas conversas na pausa para o café. Aos sábios
amigos Amauri Libério e Frederico Chaves (Fred), pelas valorosas dis-
cussões e incentivos.
Ao meu amigo Márcio Marques (Manga), pelas diversas discussões
construtivas, conselhos e ajuda material e moral durante praticamente
todo o curso.
A todos os meus colegas de turma e aos professores do programa
que de alguma forma acrescentaram em minha formação não só conhe-
cimento científico, mas também por adicionarem valores a minha vida
pessoal.
À Universidade Federal de Ouro Preto e às agências de fomento
CAPES e CNpQ, pela oportunidade e suporte financeiro.
“Para realizar grandes conquistas,
devemos não apenas agir, mas também sonhar;
não apenas planejar, mas também acreditar”.
(Anatole France)
Comissão Editorial
Prof. Dr. Alan barros de Oliveira (UFOP/MG)
Prof. Dr. Marco Cariglia (UFOP/MG)
Prof. Dr. Matheus Josué (UFOP/MG)
SUMÁRIO
19 PREFÁCIO
25 INTRODUÇÃO
CAPÍTULO 1
29 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
29 1.1 Polianilina
29 1.1.1 Síntese da polianilina
32 1.1.2 Estados de oxidação da polianilina
35 1.2 Titânio
37 1.2.1 Dióxido de titânio
38 1.2.2 Propriedade fotocatalítica do TiO2
40 1.2.3 Materiais e compósitos constituídos com TiO2
41 1.3 Eletropolimerização
42 1.3.1 Instrumentação eletroquímica
44 1.3.2 A Célula eletroquímica
46 1.3.3 Eletropolimerização pulsada
48 1.4 Técnicas de caracterização
48 1.4.1 Voltametria
50 1.4.2 Voltametria cíclica
53 1.4.3 Espectroscopia ultravioleta-visível
53 1.4.3.1 Espectroscopia
53 1.4.3.2 Fundamentos da espectroscopia UV-Vis
55 1.4.3.3 A Natureza da excitação eletrônica
57 1.4.3.4 Lei de Lambert-Beer
59 1.4.3.5 Espectro de absorção
60 1.4.3.6 O espectrofotômetro
62 1.4.4 Microscopia eletrônica de varredura (MEV)
65 1.4.5 Espectroscopia Raman
68 1.4.6 Difração de raios-X
CAPÍTULO 2
79 MATERIAIS E MÉTODOS
79 2.1 Descrição das amostras
79 2.1.1 Preparação dos substratos
80 2.1.2 Solução eletrolítica
81 2.2 Aparato experimental
81 2.3 Técnicas eletroquímicas
81 2.3.1 Deposição potenciostática
82 2.3.2 Voltametria cíclica
83 2.4 Espectroscopia UV-VIS
85 2.5 Microscopia eletrônica de varredura
86 2.6 Difração de raios-X
87 2.7 Espectroscopia Raman
88 2.8 Cálculos de primeiros princípios
CAPÍTULO 3
91 RESULTADOS E DISCUSSÕES
91 3.1 Influência do pH na deposição dos filmes
93 3.2 Influência da adição de TiO2 nos filmes depositados a
diferentes pHs
98 3.3 Influência do pH nas curvas de voltametria de filmes
contendo TiO2
98 3.4 Espectroscopia ultravioleta-visível
100 3.5 Microscopia eletrônica de varredura
103 3.6 Difração de raios-X
104 3.7 Espectroscopia Raman
CAPÍTULO 4
111 CONCLUSÃO
113 REFERÊNCIAS
13
47 FIGURA 19 – Imagem de um filme de polianilina polimerizado du-
rante este trabalho sobre um substrato de ITO (óxido de índio do-
pado com estanho)
48 FIGURA 20 – Voltamograma
49 FIGURA 21 – Célula eletroquímica envolvendo três eletrodos
50 FIGURA 22 – Sinal de excitação em um experimento qualquer de
voltametria cíclica
51 FIGURA 23 – Etapas em um ciclo do sinal de excitação
52 FIGURA 24 – Voltamograma típico e suas etapas
54 FIGURA 25 – Um feixe de radiação e sua natureza ondulatória com
uma única frequência
55 FIGURA 26 – O espectro eletromagnético
56 FIGURA 27 – Esquema ilustrando os princípios do método de absor-
ção
56 FIGURA 28 – Diagrama de níveis energéticos ilustrando algumas
mudanças que acontecem durante a absorção da radiação infraver-
melha (IR), visível (VIS) e ultravioleta (UV) por espécies molecula-
res
58 FIGURA 29 – Atenuação de um feixe de radiação por uma solução
absorvente
59 FIGURA 30 – Espectro de absorção típico do permanganato de po-
tássio a diferentes concentrações
60 FIGURA 31 – Espectrofotômetro e seus componentes básicos
61 FIGURA 32 – Esquema óptico dos principais componentes do es-
pectrofotômetro
61 FIGURA 33 – Cubeta utilizada em espectrofotometria
63 FIGURA 34 – Esquema simplificado de um MEV
64 FIGURA 35 – Vista geral de um microscópio eletrônico Hitachi SU
9000
66 FIGURA 36 – Processo de espalhamento da Iuz em um material
67 FIGURA 37 – Exemplo de espectro Raman
69 FIGURA 38 – Produção de raios-X a nível atômico
70 FIGURA 39 – Relação da diferença de potencial entre o ânodo e o
cátodo do tubo e as intensidades de cada comprimento de onda
produzido
14
70 FIGURA 40 – Níveis atômicos de energia e as emissões de radiação
72 FIGURA 41 – Esquema de tubo de raios-X selado
73 FIGURA 42 – Feixe hipotético de raios-X incidindo em um cristal
74 FIGURA 43 – Feixe hipotético de raios-X incidindo em um cristal
com ângulo mais rasante
74 FIGURA 44 – A relação entre o ângulo de incidência e a difração de
raios-X
75 FIGURA 45 – Exemplo de difratograma do NaCl na forma de policris-
tal
80 FIGURA 46 – Lâmina de vidro revestido com ITO
81 FIGURA 47 – Foto da célula eletroquímica utilizada e os três eletro-
dos que a compõem
82 FIGURA 48 – Sistema para Eletroquímica MQPG-P e Potenciostato
MQPG-01
83 FIGURA 49 – Potenciostato/Galvanostato da Autolab
84 FIGURA 50 – Aparência do espectrofotômetro Cary 300 da Agilent
Technologies
85 FIGURA 51 - Visão geral de um microscópio eletrônico de varredura
modelo Quanta 200 FEG
86 FIGURA 52 – Suporte para MEV, porta-amostra (stub) e suporte com
alguns stubs
86 FIGURA 53 – Difratômetro raios-X modelo D8 ADVANCE da marca
Bruker
88 FIGURA 54 – Espectrômetro Raman T64000 da Horiba
91 FIGURA 55 – Curvas de voltametria cíclica para polianilina deposi-
tada a diferentes pHs
93 FIGURA 56 – Espectro UV-Vis para filmes de PANI a pH 1,5, 3,9 e 5,9
93 FIGURA 57 – Curvas de voltametria de filmes de PANI e PANI-TiO2
depositados a pH 1,5
94 FIGURA 58 – Curvas de voltametria de filmes de PANI e PANI-TiO2
depositados a pH 3,9
94 FIGURA 59 – Curvas de voltametria de filmes de PANI e PANI-TiO2
depositados a pH 5,9
95 FIGURA 60 – Estrutura atômica da polianilina na forma sal de es-
meraldina
15
95 FIGURA 61 – Estrutura de bandas relativa à geometria da Figura 60
96 FIGURA 62 – Estrutura atômica do TiO2 (anatase)
96 FIGURA 63 – Estrutura de bandas relativa à geometria da Figura 62
96 FIGURA 64 – Estrutura atômica da polianilina (sal de esmeraldina)
depositada sobre TiO2 (anatase)
97 FIGURA 65 – Estrutura de bandas relativa à geometria mostrada na
Figura 64
98 FIGURA 66 – Filmes depositados a pH de 1,5 com adição de TiO2 e
ciclados em solução de ácido sulfúrico a pH 1,5, 3,9 e 5,9
99 FIGURA 67 – Espectro UV-Vis para filmes de PANI e filmes de PANI
com nanopartículas de TiO2 adicionadas (PANI- TiO2)
100 FIGURA 68 – Imagem MEV da superfície do filme de PANI a pH 1,5
ampliada em 50.000x
101 FIGURA 69 – Imagem MEV da superfície do filme de PANI-TiO2 a pH
3,9 ampliada em 50.000x
101 FIGURA 70 – Imagem MEV da superfície do filme de PANI a pH 5,9
ampliada em 50.000x
101 FIGURA 71 – Imagem MEV da superfície do filme de PANI-TiO2 a
pH 5,9 ampliada em 25.000x
102 FIGURA 72 – Espectros EDS para PANI a pH 1,5 com e sem nanopar-
tículas de TiO2
103 FIGURA 73 – Difratogramas de raios-X de amostras depositadas a
pH 1,5, com e sem adição de nanopartículas de TiO2, bem como o
padrão de difração do substrato de ITO DRX
104 FIGURA 74 – Difratograma de nanopartículas de TiO2 com planos
cristalográficos
105 FIGURA 75 – Espectro Raman de filme de PANI depositado a pH de 3,9
106 FIGURA 76 – Espectro Raman de filme de PANI depositados a pH
1,5, com e sem incorporação de nanopartículas de TiO2
107 FIGURA 77 – Espectro Raman de filmes depositados a pH 5,9
16
LISTA DE TABELAS
71 TABELA 1 – Radiações características dos principais materiais
utilizados em tubos de raios-X
83 TABELA 2 – Parâmetros usados para a realização de voltametria
cíclica de todos os filmes de PANI e PANI com TiO2
17
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CE – Counter Electrode
CETENE – Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste
DFT – Density Functional Theory
DRX – Difração de Raios X
EB – Emeraldine Base
ECS – Eletrodo de Calomelano Saturado
EDS – Energy Dispersive Spectroscopy
ES – Emeraldine Salt
FE – Field Emission
FEG – Field Emission Gun
ITO – Indium Tin Oxide
LED – Light Emitter Diode
MEV – Microscopia Eletrônica de Varredura
PANI – Polianilina
pH – Potencial Hidrogeniônico
RE – Reference Electrode
Redox – Redução-Oxidação
SEM – Scanning Electron Microscopy
SIESTA – Spanish Initiative for Electronic Simulations with Thousands of Atoms
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
UV-Vis – UltraVioleta-Visível
WE – Working Electrode
19
PREFÁCIO
Antes mesmo de graduar-se em Tecnologia em Redes de Compu-
tadores, mas já como Técnico em Manutenção de Microcomputadores
e Periféricos, Valfrido começou a trabalhar com recondicionamento de
computadores — recuperação de equipamentos, sobretudo seus compo-
nentes eletroeletrônicos, como as placas-mãe, que aparentemente não
tinham mais conserto. Ao graduar-se, retornou aos estudos de Física,
a fim de se dedicar à pesquisa de materiais — a ciência dos materiais
é uma área interdisciplinar que estuda as propriedades dos materiais
e a sua relação com a estrutura a nível nanométrico, micrométrico ou
macroscópico —, e em 2012 compôs, como aluno visitante, o grupo de
pesquisa sobre o desenvolvimento de filmes de polianilina do departa-
mento de Física da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Seu
desempenho no grupo foi bastante elogiado, tanto pelos colegas quanto
pelos professores, o que o motivou a continuar suas pesquisas, decidin-
do cursar o mestrado em Ciência de Materiais, na mesma universidade,
em 2013.
Seu interesse, bem como seu conhecimento prático e teórico no
campo de estudo da tecnologia dos materiais e suas propriedades, pode
ser mensurado já na introdução da sua dissertação de Mestrado, que deu
origem a esta obra, onde explica o potencial dos materiais orgânicos na
produção de dispositivos elétricos e eletrônicos. Por serem menos escas-
sos, mais baratos e menos nocivos ao meio ambiente, vêm despertando
cada vez mais interesse científico e comercial, principalmente quando
comparados à tecnologia baseada em materiais inorgânicos, como o si-
lício, que é muito custosa, tanto em termos financeiros quanto ambien-
tais. Essa compreensão do fim prático a que se destina a ciência perpassa
todo o seu trabalho sobre a polianilina (PANI) e seus derivados.
A polianilina é um polímero (orgânico) condutor, isto é, “um plás-
tico que conduz eletricidade”, que, pela facilidade de síntese e proces-
21
samento, e principalmente pela melhor estabilidade quando exposta ao
meio ambiente, está entre as mais promissoras matérias-primas para uti-
lização em componentes de dispositivos e aparelhos eletrônicos, entre
outras inúmeras aplicações, como na Medicina. E esse potencial para
múltiplas aplicações transformou a Polianilina em seu objeto de estudo.
O trabalho que ora apresentamos é resultado do estudo das pro-
priedades e da estrutura da polianilina (PANI), após a incorporação de
nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2), a fim de obter propriedades
mais aprimoradas, ainda não verificadas na literatura, e, especificamen-
te, a fim de verificar a influência das nanopartículas nas propriedades
da PANI, adquirida eletroquimicamente a diferentes pHs (1,5; 3,9; 5,9).
Como consequência, foi possível aumentar a condutividade da PANI em
6 (seis) vezes, a pH menos ácido ( pH 5.9), e ainda obter PANI na forma
condutora, sendo que a ocorrência típica da PANI a pHs mais elevados é
a PANI não dopada — a dopagem é uma técnica que transforma um ma-
terial isolante em condutor de eletricidade, e consiste em injetar molé-
culas de ácido no polímero, o que provoca uma troca de cargas elétricas.
Ao longo do texto, esta ocorrência é explicada em termos fundamentais,
com ajuda de simulações de primeiros princípios.
Ou seja, o monômero anilina foi polimerizado, através da técnica
de eletropolimerização pulsada, para formar filmes de polianilina sobre
substrato de ITO (Indium Tin Oxide ou Óxido de Índio dopado com
estanho), e depois as nanopartículas de dióxido de titânio (TiO2) foram
adicionadas aos filmes, com vistas a sua utilização, no futuro, na confec-
ção de células solares orgânicas.
Em outras palavras, a produção e caracterização de filmes de PANI,
com e sem adição de nanopartículas de TiO2, terá possível aplicação em
células fotovoltaicas orgânicas, ou poliméricas, uma tecnologia que pro-
duz eletricidade a partir da luz solar, captada com a ajuda de polímeros
semicondutores, o que hoje representa uma solução viável, econômica e
ambiental, para superar nossa insegurança energética, à medida que nos
tornemos menos dependentes das hidrelétricas, por exemplo.
22
O trabalho é, sem dúvida alguma, de excelência, pela qualidade téc-
nica da pesquisa, pelo inegável valor científico e pelo valor socioambien-
tal que manifesta desde as primeiras linhas.
23
INTRODUÇÃO
Os materiais orgânicos despertam grande interesse na produção de
dispositivos elétricos e eletrônicos, por serem menos nocivos ao meio am-
biente, abundantes e mais baratos. Os dispositivos fotovoltaicos baseados
em materiais inorgânicos, como o silício, ainda são os mais eficientes na
conversão de energia solar. Porém, a sua purificação é cara, o que torna os
dispositivos baseados nesta tecnologia muito custosos [1].
Em meados dos anos 80, um novo polímero condutor se destaca, a
polianilina (PANI) [2-6]. Seu mecanismo de dopagem se dá por protona-
ção da cadeia polimérica. Suas vantagens sobre os demais polímeros con-
dutores são decorrentes da facilidade de síntese e processamento de filmes
e, principalmente, da sua melhor estabilidade na presença do ar, tanto no
estado não dopado quanto no dopado. Logo, a PANI e seus derivados são
potencias materiais para inúmeras aplicações, inclusive na área de dispo-
sitivos eletrônicos. [2, 5, 7, 8]
A síntese eletroquímica da PANI possui características singulares para
a produção de filmes poliméricos [7, 9]. A eletropolimerização é uma téc-
nica simples e eficiente para síntese de polímeros orgânicos e inorgânicos
[10]. As vantagens da eletropolimerização são a formação reprodutível de
filmes de polímeros orgânicos com resolução precisa sobre superfícies, o
menor consumo de reagentes e a facilidade de síntese [11, 12].
Neste trabalho, o monômero anilina foi polimerizado através da téc-
nica de eletropolimerização pulsada para formar filmes de polianilina so-
bre substrato de ITO (Indium Tin Oxide ou Óxido de Índio dopado com
estanho). Em um segundo passo, nanopartículas de dióxido de titânio
(TiO2) foram adicionadas aos filmes. O intuito é utilizar os filmes, em
trabalhos futuros, para confecção de células solares orgânicas e testar a
eficiência delas. Contudo, diodos emissores de luz (LED), dispositivos
eletrocrômicos, baterias recarregáveis, entre outros, também estão na lista
de aplicações viáveis para este polímero. O grande potencial da PANI para
diversas aplicações desperta a atenção dos pesquisadores [12-16].
25
Os objetivos são a produção e caracterização de filmes de PANI com
e sem a adição de nanopartículas de TiO2 através da técnica de eletro-
polimerização pulsada, para possível aplicação em células fotovoltaicas
orgânicas. Busca-se ainda investigar e caracterizar a estrutura dos filmes
depositados a diferentes pHs, com ou sem adição de nanopartículas, atra-
vés das técnicas de espectroscopia UV-Vis, espectroscopia Raman, difração
de raios-X e microscopia eletrônica de varredura, bem como investigar o
comportamento eletroquímico de todos os filmes por meio de curvas de
voltametria cíclica.
26
CAPÍTULO 1
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1.1 Polianilina
29
Figura 1 – Esquema ilustrativo de uma síntese química de
nanofibras de polianilina
30
Figura 2 – Esquema simplificado da eletropolimerização da PANI.
31
Figura 3 – Mecanismo de polimerização da anilina
proposto por Jansen et al
32
A classe de polímeros que as polianilinas representam é dada por
uma fórmula geral do tipo exibido na Figura 4 [7]:
33
Na forma base esmeraldina, a polianilina reage com ácidos, resul-
tando na forma condutora sal esmeraldina. O processo se chama do-
pagem por protonação e está apresentado na Figura 6. É interessante
mencionar que este material protonado não perde condutividade quan-
do exposto ao ar por um longo tempo e que a protonação é reversível
(desprotonação) por tratamento com solução aquosa básica [6, 7]. Além
da alta condutividade elétrica, quando no estado de sal esmeraldina, a
polianilina possui a curiosa propriedade de variar a cor em função do
potencial e do pH (eletrocromismo) [7, 20, 30, 31].
34
Figura 7 – Voltamograma cíclico típico de um filme de polianilina
(sal de esmeraldina), com a indicação das cores observadas
nas diferentes regiões de potencial, vs. ECS, V = 50mV/s
Fonte: [7]
1.2 Titânio
35
somente foi feito a partir de 1910 por Hunter, através do aquecimento
do Tetracloreto de Titânio (TiCl4) [32].
36
Na sua forma metálica, é muito conhecido por ter excelente resis-
tência à corrosão, pela grande resistência mecânica e por diversas outras
qualidades interessantes para muitas aplicações, sendo inclusive consi-
derado fisiologicamente inerte [32].
37
Figura 11 – Fases do dióxido de titânio
38
pH, fotoestabilidade e potencial de ativação por luz solar [45]. Estas pro-
priedades podem ser exploradas para enfrentar muitos desafios globais
contemporâneos, tais como degradação de poluentes, síntese orgânica e
quebra de moléculas de água em H2 e O2 (com potenciais aplicações para
gerar o combustível do futuro, o hidrogênio) [38, 42, 45, 46].
Os princípios básicos em uma reação fotocatalítica estão esquema-
tizados na Figura 12. Se luz de energia igual ou superior ao band-gap
atinge um semicondutor como o TiO2, um elétron é promovido da banda
de valência para a banda de condução, criando um buraco na camada de
valência [38, 45, 46].
39
oxidar um amplo número de compostos orgânicos e inorgânicos, por
exemplo, para a destruição oxidativa — teoricamente — de qualquer
poluente orgânico [38].
A atividade fotocatalítica depende da estrutura cristalina, do tama-
nho do cristal e da área superficial [42]. O dióxido de titânio é um dos
melhores candidatos para funcionalizar materiais [46]. Os compósitos
exibem melhoria na atividade catalítica, na bioatividade ou no desem-
penho de células solares, se comparado com as nanopartículas de TiO2
puro [39]. Atualmente, a pesquisa em fotocatálise tem focado no de-
senvolvimento de métodos para modificar semicondutores através da
incorporação de materiais que absorvam luz na região do visível para
um melhor aproveitamento da radiação solar [42, 45, 46].
40
óptica não linear e outros [42, 47]. A combinação de PANI com nano-
partículas tem sido considerada como responsável por um aumento nos
valores de fotocorrente da PANI, devido à ocorrência da dissociação de
éxciton na sua interface [47].
Para alguns autores, um dos desafios para aumentar a eficiência ca-
talítica é reduzir o gap entre bandas do TiO2, o qual tem valor entre 3.0
e 3.2 eV. A redução do gap entre bandas pode ser realizada por meio da
síntese com adição de outros materiais com menor gap [38, 42].
1.3 Eletropolimerização
41
Figura 13 – Ilustração do processo de eletropolimerização
Legenda: O monômero (M) é oxidado (M*) e, unindo-se a outro monômero oxidado, forma um
oligômero (O*), o qual também se une a outro monômero oxidado, formando um oligômero maior
(O* + O*) e, assim, sucessivamente, resultando no polímero.
Fonte: (Adaptado de [52]).
42
Figura 14 – Esquema dos componentes necessários
para o trabalho experimental em eletroquímica
43
O potenciostato, os amplificadores e outros módulos utilizados para
condicionar os sinais de corrente e potencial, são dispositivos analógicos
construídos com amplificadores operacionais [54]. Os dispositivos ana-
lógicos são sistemas eletrônicos que manipulam sinais contínuos, tais
como voltagens. O gerador de função também pode ser do tipo analógi-
co, mas muitas vezes o sinal desejado é gerado na forma digital com um
computador e, em seguida, alimentado para o potenciostato através de
um conversor analógico-digital [54].
44
A fonte externa forma um campo elétrico (E) carregando os eletro-
dos com cargas contrárias (Figura 16). O eletrodo positivo é chamado
ânodo, e o negativo, cátodo. O campo elétrico determina o movimento
dos íons presentes no eletrólito, e tal movimentação é uma corrente elé-
trica originando o fechamento do circuito. [48, 50, 51]. O problema é
que essa configuração (célula com dois eletrodos) torna difícil manter
constante o potencial no eletrodo de trabalho, devido à passagem de
corrente entre ele e o contraeletrodo. Portanto, é necessário um terceiro
eletrodo, o eletrodo de referência, para se ter certeza de que o potencial
aplicado é o desejado (Figura 17) [54].
45
plo, quando este tipo de eletrodo for usado [54]. Considerando que o
eletrodo de referência tem uma composição constante, o seu potencial é
fixo. Portanto, quaisquer alterações na célula são atribuídas ao eletrodo
de trabalho. Pode-se dizer que observar ou controlar o potencial do ele-
trodo de trabalho em relação ao de referência é equivalente a observar
ou controlar a energia dos elétrons dentro do eletrodo de trabalho [54].
As técnicas da eletroquímica são particularmente interessantes para
a manipulação química porque a extensão da modificação pode ser con-
trolada pelo potencial eletroquímico [55].
46
Os filmes poliméricos obtidos por esta técnica apresentam, visual-
mente, uma aparência uniforme e sem falhas, que puderiam decorrer da
formação ou adsorção de bolhas de oxigênio durante a reação de poli-
merização (Figura 19). É possível que a ausência de descontinuidades
esteja relacionada à não nucleação de bolhas de oxigênio ou à não ad-
sorção destas no filme polimérico, tendo em vista que, com a deposição
pulsada, o oxigênio tem a possibilidade de se disseminar no período em
que não há passagem de carga [57].
47
1.4 Técnicas de caracterização
1.4.1 Voltametria
Figura 20 – Voltamograma
48
O eletrodo de trabalho (WE - Working Electrode) é o terminal, nor-
malmente feito de platina, ouro, grafite ou óxido de índio e estanho,
usado para conectar a amostra adequadamente ao circuito do potencios-
tato. É neste eletrodo que ocorrem os processos de redução e oxidação
do material a ser analisado. O contraeletrodo (CE – Counter Electrode),
se for um eletrodo inerte, é constituído geralmente de platina ou ouro
e, em relação ao eletrodo de trabalho, possibilita a passagem de corren-
te, que é medida e registrada. O eletrodo de referência (RE – Reference
Electrode) tem como função fundamental manter constante o potencial
aplicado ao eletrodo de trabalho. Os tipos mais comuns de eletrodo de
referência são o de prata e o de calomelano saturado [62-64], como já
mencionado na seção 2.3.2.
50
potencial resultante aplicado entre o eletrodo de trabalho e o eletrodo de
referência. Esse pulso triangular varre o potencial do eletrodo entre dois
valores, conhecidos por potencial inicial (Eincial) e potencial final (Efinal),
percorrendo outros pontos chamados de potencial de pico anódico (Epa)
e potencial de pico catódico (Epc). É interessante perceber que a taxa ou
velocidade de varredura é dada pela inclinação ou coeficiente angular do
sinal de excitação [64, 65].
Legenda: (a) potencial inicial; (b) valor do potencial em que a redução do ana-
lito aumenta; (c) potencial de pico catódico; (d) potencial de comutação; (e)
valor do potencial em que a oxidação aumenta; (f) potencial de pico anódico;
(g) potencial final.
51
Figura 24 – Voltamograma típico e suas etapas
Legenda: (a) potencial inicial (Eincial); (b) valor do potencial em que a redução
do analito aumenta; (c) potencial de pico catódico (Epc); (d) potencial de comu-
tação, conhecido por vértice (vertex) nos potenciostatos; (e) valor do potencial
em que a oxidação aumenta; (f) potencial de pico anódico (Epa); (g) potencial
final (Efinal).
Fonte: [61, 66].
52
1.4.3 Espectroscopia ultravioleta-visível
1.4.3.1 Espectroscopia
c=λ.ν (1)
54
tamente proporcional ao número de fótons por segundo [68].
O olho humano só é sensível a uma estreita parte de todo o espec-
tro eletromagnético, que está compreendido entre 380nm e 780nm [67,
68]. Já a região do ultravioleta (o qual não é visível), tem limites que vão
de 190nm a 380nm [67, 69], como pode ser observado na Figura 26.
55
Figura 27 – Esquema ilustrando os princípios do método de absorção
Legenda: Em (a), a radiação com potência radiante incidente igual a P0 pode ser absorvida pela
amostra (ou analito), resultando em um feixe transmitido de menor potência P. Para que haja absor-
ção, a energia do feixe incidente deve ser equivalente a uma das diferenças de energia evidenciadas
em (b). O espectro de absorção resultante é exposto em (c).
Fonte: [67].
Nota: Para um conjunto de moléculas, a transição de E0 para E1 pode requerer a radiação VIS. Com
outras moléculas, a transição de E0 para E2 só deve ocorrer com UV, e não com a radiação visível.
Fonte: [67].
56
As setas centrais na Figura 28 sugerem que as moléculas analisadas
absorvem a luz visível de cinco comprimentos de onda, promovendo os
elétrons para os cinco níveis vibracionais do nível eletrônico excitado E1.
Fótons ultravioletas, que são mais energéticos, vão produzir a absorção
indicada pelas cinco setas à direita. Como é possível observar ainda na
Figura 28, a absorção molecular nas regiões do ultravioleta e visível con-
siste em bandas de absorção constituídas por linhas próximas entre si.
Uma molécula real apresenta muito mais níveis energéticos que aqueles
da Figura 28, ou seja, uma banda de absorção típica é composta por um
número muito grande de linhas [69].
T = P/P0 (3)
57
sante notar que, se a absorbância do material aumentar, a transmitância
vai diminuir (Figura 29).
58
A = log(P0/P) = abc (7)
59
Vários espectrofotômetros modernos produzem os espectros de ab-
sorbância diretamente (Figura 31). Os instrumentos antigos comumen-
te indicam a transmitância e fornecem os gráficos de T ou %T versus o
comprimento de onda. [67]
1.4.3.6 O espectrofotômetro
60
Figura 32 – Esquema óptico dos principais componentes do espectrofotômetro
Legenda: (a) fonte de luz; (b) colimador; (c) prisma ou rede de difração; (d) fenda seletora; (e)
compartimento de amostras com cubeta contendo solução; (f) detector; (g) amplificador.
Nota: Em geral, a cubeta possui aresta de 1 cm, correspondente ao caminho do feixe de luz, com o
intuito de facilitar os cálculos da Lei de Beer.
61
O detector é um fotodiodo de silício responsável por receber o sinal
ou feixe irradiado pela amostra.
Há muitas combinações de fontes, monocromadores, sistemas de
medição etc., os quais podem ser montados para formar espectrofotô-
metros integrados com vários níveis de precisão e capacidade para apli-
cações específicas. Um típico aparelho possui duplo feixe, um feixe para
atravessar a amostra e outro que transpassa uma cubeta vazia (referên-
cia) para posterior comparação de radiação aplicada e transmitida [69].
O espectrofotômetro possui uma ampla faixa de aplicações em vá-
rias áreas, tais como em química, física, bioquímica e biologia molecular.
Quem inventou este instrumento tão fundamental na atualidade foi o
químico americano Arnold O. Beckman, em 1940. Muitos elementos
químicos foram descobertos por meio da espectroscopia [67].
62
Figura 34 – Esquema simplificado de um MEV
63
Figura 35 – Vista geral de um microscópio eletrônico Hitachi SU 9000
64
Os raios-X emitidos da amostra (devido ao bombardeio de elétrons
do feixe) podem ser detectados por um detector de raios-X do MEV. Dois
tipos de detectores que captam raios-X característicos podem ser utiliza-
dos: por dispersão de energia (EDS) ou por dispersão em comprimento
de onda (WDS). O detector é capaz de determinar a energia dos fótons
que ele recebe.
A técnica de espectroscopia de energia dispersiva (EDS - Energy Dis-
persive Spectroscopy) considera o princípio de que a energia de um fóton
(E) está relacionada com a frequência eletromagnética (ν) pela relação
E = hν, onde “h” é a constante de Planck. Fótons com energias corres-
pondentes a todo o espectro de raios-X atingem o detector de raios-X
quase que simultaneamente, e o processo de medida é rápido, o que
permite analisar os comprimentos de onda de modo simultâneo. É pos-
sível, portanto, traçar um histograma com a abscissa sendo a energia dos
fótons (keV) e a ordenada, o número de fótons recebidos (contagens).
Através da análise dos picos obtidos no espectro, pode-se determinar os
elementos presentes na amostra. Elementos em quantidade inferior a
0,2% em massa, o hidrogênio (H), o lítio (Li) e o berílio (Be) não pode-
rão ser detectados por serem leves [71].
65
gunda situação, ou seja, com espalhamento inelástico, é possível obter
várias informações importantes sobre a composição química e estrutural
da amostra.
O espalhamento Raman é distinguido quando a frequência da luz
incidente mudar para maior ou menor frequência. Quando a radiação
incidente é deslocada para uma menor frequência (menor energia), a luz
espalhada é chamada de espalhamento Stokes. Similarmente, quando
a radiação incidente é deslocada para uma frequência mais alta (maior
energia), a luz espalhada é chamada de anti-Stokes. Essa diferença de
energia entre a radiação incidente e a espalhada corresponde à energia
com que átomos presentes na amostra estão vibrando, e essa frequência
de vibração permite descobrir como os átomos estão ligados, bem como
ter informação sobre a geometria molecular e sobre como as espécies
químicas presentes interagem entre si e com o ambiente, entre outros
dados [78, 79].
66
vibracionais de uma molécula hipotética. O processo (a) corresponde
ao espalhamento Rayleigh, no qual as moléculas do material, em seu
estado fundamental, absorvem a energia dos fótons (hν) incidentes e
passam a um estado intermediário virtual para, em seguida, decairem de
volta ao estado fundamental, emitindo (espalhando) fótons de mesma
energia que os incidentes. Nos processos (b) e (c) da Figura 36, a luz
absorvida também conduz o sistema de seu estado inicial para um esta-
do intermediário virtual. Porém, quando o sistema decai, ele não volta
para o mesmo estado vibracional inicial, e a energia emitida é diferente
da absorvida. São estes os processos que caracterizam o efeito Raman. O
processo (b) corresponde ao espalhamento Stokes. Nele, o sistema decai
para um estado vibracional mais energético do que o estado inicial, es-
palhando fótons de menor energia, já que parte da energia do fóton fica
no sistema. Em (c), o sistema já está num estado vibracional excitado e,
quando absorve um fóton incidente, muda para o estado intermediário
virtual e decai para um estado vibracional de menor energia. Este é o
processo anti-Stokes.
Frequentemente a energia da luz incidente ou espalhada coincide
com um gap eletrônico do sistema em estudo. Neste caso, os estados
intermediários virtuais mostrados na Figura 36 correspondem a estados
eletrônicos, e o espalhamento Raman é amplificado, chegando a ser 105
vezes maior que no espalhamento Raman convencional [81]. Este fenô-
meno de intensificação é conhecido por efeito Raman ressonante e está
representado Figura 36 pelo processo (d).
67
Considerando que, de modo geral, as espécies químicas são com-
plexas, não há apenas um tipo de vibração, e a radiação espalhada
inelasticamente é constituída por um número muito grande de dife-
rentes componentes espectrais ou frequências, as quais precisam ser
separadas e ter sua intensidade medida. O gráfico que representa a in-
tensidade da radiação espalhada em função de sua energia é chamado
de espectro Raman (Figura 37). A energia é dada em número de onda
(cm-1). Cada espécie química fornece um espectro, que é como sua im-
pressão digital. Isso possibilita a identificação indubitável do material
analisado ou, ainda, a detecção de alterações químicas derivadas da
interação com outras substâncias ou com a luz. A análise por espec-
troscopia Raman é feita sem necessidade de preparações ou manipu-
lações especiais, ou seja, a amostra pode ser inserida no equipamento
diretamente pelo operador [83, 84].
68
Figura 38 – Produção de raios-X a nível atômico
Legenda: Um elétron altamente energético atinge o alvo (a), um elétron do material é liberado na
forma de fotoelétron (b), outro elétron mais externo passa à camada inferior (c), liberando energia
na forma de um fóton de raio-X (d).
Fonte: (Adaptado de [87]).
69
Figura 39 – Relação da diferença de potencial entre o ânodo e o cátodo do tubo
e as intensidades de cada comprimento de onda produzido
70
O comportamento do espectro de raios-X pode ser explicado atra-
vés das transições de níveis atômicos de energia (Figura 40). Para cada
diferente transição, um comprimento de onda diferente é emitido. A ra-
diação Kα1 é produzida quando um elétron transita da camada LIII para
a camada K, enquanto que a radiação Kβ1 é gerada quando o elétron
transita da camada MIII para K [86].
Conforme já mencionado, a energia do fóton emitido equivale à di-
ferença de energia entre as duas camadas. Para a radiação Kα1, a energia
do fóton é
71
Figura 41 – Esquema de tubo de raios-X selado
Fonte: [89].
72
a onda espalhada não tem direção definida. Ela não mantém a fase nem
a energia (Efeito Compton). A colisão é inelástica, e a energia referente à
diferença entre a onda incidente e a onda espalhada traduz-se em ganho
de temperatura (vibração do átomo).
Para que haja interferência construtiva das ondas espalhadas, é ne-
cessário que a seguinte condição seja obedecida: λ = 2dsen(θ), em que θ
é o ângulo de incidência do feixe [86].
Para compreender melhor esta condição, faz-se necessário supor
que um feixe de raios-X hipotético incide sobre um cristal, como na
Figura 42. O espaçamento entre os átomos do cristal tem um valor com-
parável com o comprimento de onda do raio-X. O feixe será refletido nos
planos dos átomos como em um espelho.
73
Figura 43 – Feixe hipotético de raios-X incidindo em
um cristal com ângulo mais rasante.
74
Agora, analisando a Figura 44, é possível perceber que a diferença
de caminhos é 2.d.sen(θ). A interferência será construtiva e, portanto,
haverá um feixe difratado apenas no caso em que essa diferença de cami-
nhos for um número inteiro de comprimentos de onda do raio-X. Assim:
75
CAPÍTULO 2
MATERIAIS E MÉTODOS
79
etanolamina (marca Vetec) a 80 °C por 20 minutos, enxaguadas com
água destilada a 90 ºC e secas com gás nitrogênio.
80
2.2 Aparato experimental
81
O software Sistema para Eletroquímica MQPG-P foi utilizado para
controlar e monitorar todo processo de deposição (Figura 48). Foi
mantido fixo o potencial de 1,1VECS (eletrodo de calomelano saturado)
e a frequência de 0,1 Hz durante a eletrodeposição pulsada de todas as
deposições.
Legenda: Em (a), reprodução de uma tela do software (baseado na plataforma Microsoft Windows)
Sistema para Eletroquímica MQPG-P, utilizado para controle do potenciostato, pronto para iniciar a
eletropolimerização dos filmes de PANI e PANI com TiO2, com a caixa de diálogo “Onda Quadrada”
aberta. É possível parametrizar os potenciais superior e inferior em volts, bem como a frequência
dos pulsos aplicados. Em (b), Vista frontal do Potenciostato MQPG-01 utilizado durante o projeto.
Ele é totalmente controlado por computador.
82
Figura 49 – Potenciostato/Galvanostato da Autolab
Fonte: [90].
83
12.00) da Agilent Technologies (Figura 50). A versão do software de
varredura é a 3.00(303).
Fonte: [91].
α = 2,303A/L (12)
Ef = 1240/λ (13)
84
2.5 Microscopia eletrônica de varredura
Fonte: [95].
85
Figura 52 – Suporte para MEV, porta-amostra (stub) e suporte com alguns stubs.
Fonte: [97].
86
A técnica foi utilizada com a finalidade de determinar as fases cris-
talinas do semicondutor TiO2 e o tamanho dos cristalitos. O pó de TiO2
passou por processo de secagem (36 horas em estufa a temperatura am-
biente), foi moído, pesado e em seguida armazenado, para posterior-
mente ser caracterizado.
A partir da intensidade de um feixe difratado obtém-se uma relação
entre a largura a meia altura do pico de difração e o tamanho da partícu-
la. A fórmula de Scherrer (equação 12) relaciona essas grandezas [94].
ε = K.λ/β.cosθ (14)
87
Figura 54 – Espectrômetro Raman T64000 da Horiba
Fonte: [98].
88
CAPÍTULO 3
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Legenda: Curvas de voltametria cíclica para polianilina depositada a diferentes pHs: 1,5 (a); 3,9 (b);
5,9 (c); e todas as curvas juntas para comparação (d).
91
Na varredura anódica da Figura 55a verificamos um primeiro pico
de oxidação localizado em 260 mVECS que corresponde à transformação
da anilina na forma reduzida (leucoesmeraldina) para a forma semioxida-
da (esmeraldina), com a consequente formação de cátions radicais (pó-
larons), segundo Focke et al. [23]. Na sequência, um segundo pico de
oxidação está localizado em aproximadamente 660 mVECS e corresponde
à transformação da esmeraldina para a forma completamente oxidada da
polianilina, a pernigranilina. Fazendo a varredura no sentido inverso, var-
redura catódica, detectamos um pico de redução em aproximadamente
500 mVECS, correspondente à redução da pernigranilina à esmeraldina e,
sequencialmente, uma banda representando a redução da esmeraldina à
forma mais reduzida do polímero, a leucoesmeraldina.
Filmes depositados a maiores pHs (pH 3,9 e 5,9) apresentam menores
densidades de corrente, possivelmente devido à diminuição da conduti-
vidade do filme e à menor quantidade de material depositado, o que foi
confirmado por espectroscopia UV-Vis (Figura 56). Na Figura 56, pode-se
observar que os polímeros depositados a pH 1,5 apresentam maior absor-
ção, o que está relacionado à espessura do filme.
Filmes depositados a pH de 3,9 apresentam um único pico anódico,
indicando a não estabilidade de cátions radicais devido à desprotonação.
Filmes depositados a pH de 5,9 apresentam dois picos de oxidação que pa-
recem fundir, o que também indica a desestabilidade dos cátions radicais,
já que o polímero encontra-se na forma mais desprotonada.
92
Figura 56 – Espectro UV-Vis para filmes de PANI a pH 1,5, 3,9 e 5,9
93
Filmes de PANI com TiO2 depositados a pH de 3,9 e 5,9 apresentam
um aumento na densidade de corrente se comparados a filmes deposita-
dos sem a adição das nanopartículas, como mostram as Figuras 58 e 59.
No entanto, os filmes a pH 5,9 apresentam maior densidade de corrente
entre os pHs aqui testados (1,5; 3,9 e 5,9).
94
Figura 60 – Estrutura atômica da polianilina na forma sal de esmeraldina
95
Figura 62 – Estrutura atômica do TiO2 (anatase)
96
Figura 65 – Estrutura de bandas relativa à geometria mostrada na Figura 64
97
3.3 Influência do pH nas curvas de voltametria de
filmes contendo TiO2
98
sal de esmeraldina (estado parcialmente oxidado), uma localizada em
410-460 nm e outra localizada em comprimentos de onda maiores que
800 nm. A banda localizada em 410-460 nm é atribuída ao cátion ra-
dical (pólaron) na matriz de polianilina, ao passo que a banda em 800
nm é atribuída à banda eletrônica de carregadores livres (cátion radical
deslocalizado) [101]. Filmes depositados a um pH de 3,9 apresentam
uma única banda em 550-600 nm, que é atribuída a transição de Peierls
[102]. Filmes com esta característica são representativos de polímero
completamente oxidado (pernigranilina). Filmes depositados a pH de
5,9 apresentam uma única banda localizada em 450-550 nm, a qual pode
representar a transição de Peierls. A banda está deslocada para menores
comprimentos de onda possivelmente devido ao estado de oxidação do
polímero, sendo que polímeros mais oxidados tendem a apresentar a
transição de Peierls a menores comprimentos de onda. Observa-se que
filmes depositados a pH de 1,5 possuem uma absorbância maior, o que
indica que filmes depositados a este pH possuem uma quantidade maior
de material depositado [57], como já discutido.
99
Filmes depositados a pH de 1,5 e 3,9 com adição de TiO2 não apre-
sentaram mudanças no espectro UV-Vis, ou seja, a adição de TiO2 não
provocou nenhuma mudança no estado de oxidação do polímero. Já a
adição de TiO2 a filmes depositados a um pH de 5,9 promoveu mudan-
ça no estado de oxidação dos filmes, que passaram a apresentar uma
banda em 410-460 nm — o que é característico de filmes dopados (sal
de esmeraldina). Estes resultados indicam que a anatase influencia nas
propriedades do filme a pHs mais elevados.
100
Figura 69 – Imagem MEV da superfície do filme de PANI-TiO2 a pH 3,9 ampliada em 50.000x
101
A Figura 72 apresenta a análise EDS (Energy Dispersive Spectrosco-
py) realizada para a amostra de pH 1,5 sem (Figura 72a) e com adição de
TiO2 (Figura 72b). Verifica-se a existência de elementos que constituem
a PANI e o TiO2. A análise foi utilizada para verificar a presença de nano-
parículas de TiO2 a diferentes pHs.
Figura 72 – Espectros EDS para PANI a pH 1,5 com e sem nanopartículas de TiO2
Legenda: Em (a), PANI sem as nanopartículas. Em (b), é possível confirmar a presença de titânio na
amostra de PANI com nanopartículas de TiO2.
102
3.6 Difração de raios-X
103
Figura 74 – Difratograma de nanopartículas
de TiO2 com planos cristalográficos.
104
Figura 75 – Espectro Raman de filme de PANI depositado a pH de 3,9
105
pico relativo aos modos de estiramento C-C de unidades semiquinóides
[104] e o pico localizado em 1638 cm-1 pode ser atribuído a segmentos
fenazino, safranina ou fenoxazina [108]. Os picos localizados em 737 e
1398 cm-1 não foram atribuídos a modos de vibração existentes na lite-
ratura. Nesses filmes a pH 1,5, acrescentar nanopartículas não favorece
alterações no espectro.
106
Figura 77 – Espectro Raman de filmes depositados a pH 5,9
107
CAPÍTULO 4
CONCLUSÃO
111
mudança no estado de oxidação do filme de PANI. Estes resultados cor-
roboram os de espectroscopia Raman.
Imagens de microscopia eletrônica de varredura foram feitas e pô-
de-se verificar que o pH influencia na morfologia dos depósitos. A pHs
bastante ácidos, por exemplo, os filmes apresentam um crescimento ale-
atório, resultando em filmes bastante rugosos, em contraste com o as-
pecto dos filmes a pHs 3,9 e 5,9, que apresentam morfologia mais plana.
112
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125
SOBRE O AUTOR
127
"Este livro foi desenvolvido com as fontes Berkeley Oldstyle
e Pill Gothic, conforme Projeto Gráfico aprovado pela
Diretoria da Editora UFOP em 2014."