Guia para Imprensa
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Além das políticas públicas e ações afirmativas, o rompimento desse ciclo se deve, em
grande parte, a um esforço da mídia na inclusão de pessoas com deficiência em suas
produções. As representações que circulam nos meios têm um enorme impacto sobre a
opinião pública. Muitas pessoas que não têm contato direto com indivíduos com
deficiência construíram em seu imaginário uma imagem negativa sobre o grupo, baseada
em esteriótipos ultrapassados. Através de filmes, novelas, da imprensa e redes sociais, é
possível compensar essa falta de convivência, diminuindo o estranhamento
experimentado pelo público, que é fruto da desinformação. Isso ajuda a construir novas
percepções sociais e formar uma nova cultura mais inclusiva.
DEFINIÇÃO DE DEFICIÊNCIA
A Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD)
foi aprovada no Brasil em 2009/2009 como norma constitucional e diz que “pessoas com
deficiência são aquelas que têm impedimentos de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdades de condições com as
demais pessoas.”
Repare que a relação com o meio, ou seja o acesso, é que determina a participação ou
não da pessoa na comunidade.
CULTURA CAPACITISTA
Capacitismo é privilegiar corpos perfeitos, considerar as pessoas com deficiência como
inferiores às pessoas sem deficiência, objetos de piedade, fardos para as suas famílias e
para a sociedade, cidadãos de segunda classe, cuja vida não vale a pena. Como a
cultura do estupro, a cultura machista e a cultura racista, a cultura capacitista resulta em
marginalização e discriminação. E discriminação é crime, segundo a Lei Brasileira de
Inclusão e a CDPD. A Convenção, que celebra o seu décimo aniversário este ano e foi
ratificada por 164 países, tem como princípio principal "promover, proteger e assegurar o
exercício pleno e eqüitativo de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de
todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela sua dignidade inerente."
Coloque a pessoa em primeiro lugar, não sua deficiência. Use pessoa com deficiência,
mulher com esclerose múltipla ou criança com deficiência intelectual. Colocando a
pessoa em primeiro lugar, o foco recai sobre o indivíduo, não sua limitação funcional.
Rotular, por exemplo, um autista), desumaniza e o reduz ao seu diagnóstico. Uma pessoa
é muito mais do que um diagnóstico. Use essa forma também para indicar grupos, como
pessoas com paralisia cerebral.
Esta terminologia foi escolhida pelas próprias pessoas com deficiência e é utilizada tanto
na CDPD quanto na Lei Brasileira de Inclusão.
Ressalte as habilidades, e não as limitações. Por exemplo, diga “ela usa uma cadeira de
rodas” ou “usa um dispositivo/equipamento de comunicação” em vez de “está confinada a
uma cadeira de rodas” ou “é incapaz de falar”, “mudo” ou “não-verbal”. Na realidade,
cadeiras de rodas e outros aparelhos de assistência representam independência para
seus usuários, e não um empecilho. Para enfatizar as capacidades, evite palavras
negativas que retratem a pessoa como passiva ou sugiram que são “menos”, como
“vítima, inválida, defeituosa, paralítica, entrevada ou aleijada”.
Não focalize o texto na deficiência, a menos que seja essencial para o relato. Evite
histórias tristes, que fazem chorar, sobre doenças incuráveis, deficiências congênitas ou
ferimentos graves. Concentre-se em questões que afetem a qualidade de vida para esses
mesmos indivíduos, tais como habitação e transporte acessível, educação inclusiva,
cuidados de saúde, oportunidades de emprego e discriminação. Concentre-se em
características pessoais que não estão relacionadas com a deficiência, como artista,
profissional, mãe, etc.
As pessoas com deficiência são muitas vezes retratadas como objetos de piedade, um
fardo para suas famílias e para a sociedade, ou então como super-heróis. Esse último
tipo de representação é equivocadamente percebido como positivo. Os meios de
comunicação costumam contar histórias pessoais supostamente incríveis (que muitas
vezes provocam lágrimas), de indivíduos com algum talento que têm se esforçado para
"superar" a deficiência para alcançar os seus sonhos. Mesmo que o público possa achar
esses retratos inspiradores, esses estereótipos levantam falsas expectativas para as
outras pessoas com deficiência.
Algumas narrativas mostram pessoas com deficiência como "heroínas" simplesmente por
fazer coisas do dia a dia, como ir à escola, pegar o ônibus ou usar um computador no
trabalho. O tom condescendente dessas representações costuma fazer mais mal do que
bem. A falecida ativista australiana Stella Young criou o termo “pornografia inspiracional"
como uma forma provocativa para chamar a atenção para o principal propósito desse tipo
de representação: usar a deficiência alheia para fazer as pessoas sem deficiência "se
sentirem bem" sobre si mesmas por não terem uma deficiência.
Veja o TED Talk de Stella Young– Eu não sou sua inspiração”- https://www.ted.com/talks/
stella_young_i_m_not_your_inspiration_thank_you_very_much?language=pt
Outro tipo nocivo de matéria, que pode erroneamente passar como positivo, é aquela cujo
foco se encontra nas pessoas à volta da pessoa com deficiência. Pode ser aquele colega
que faz um “esforço” para “ajudar” uma pessoa com deficiência, que suscita comentários
como “olha como fulano é legal/bonzinho – convidou a colega com deficiência para
dançar", ou "deixou o aluno com autismo participar do jogo”. “Olha como essa mãe sofre
para dar conta de cuidar do filho com microcefalia”. Geralmente, nesse tipo de matéria, a
pessoa com deficiência é completamente ignorada, não tem voz. Ela só serve como
objeto, ponte para a exaltação pessoal de outras pessoas, tão "bondosas e abnegadas".
TRILHA SONORA
Para matérias de rádio e TV, musiquinha triste de pianinho ao fundo pode acabar com
uma boa história. Prefira um som dinâmico, pra cima, ou, na dúvida, nenhuma
sonorização.
Evite sensacionalizar e usar rótulos negativos. Descrever pessoas com palavras como
“padece de, é vítima de, sofre de”, contribui para diminuí-las é retratá-las como indefesas,
mostrando-as como objetos de piedade e caridade. Exponha os fatos em termos neutros,
dizendo que uma pessoa tem o braço amputado, por exemplo. Procure não fazer,
tampouco, julgamento de valor. Ao dizer que o “ risco de ter um bebê com síndrome de
ENTREVISTA
ACESSIBILIDADE
E já que estamos falando de comunicação, não poderíamos deixar de dar algumas dicas
básicas de acessibilidade para serem incorporadas em seu dia a dia. Isso possibilitará
que mais pessoas tenham acesso a suas produções.
• Quando postar uma foto ou mandar um email, lembre-se que pessoas cegas podem
estar recebendo a mensagem. Faça a descrição da imagem, inclusive de convites em
arquivos de imagem (jpeg, etc). A regra é: tudo que não pode ser iluminado com o
cursor, não dá pra ser lido pelo leitor de texto do computador.
GLOSSÁRIO
e/ou lemos esses termos incorretos em livros, revistas, jornais, programas de televisão e
de rádio, apostilas, reuniões, palestras e aulas.
1. adolescente normal
Desejando referir-se a um adolescente (uma criança ou um adulto) que não possua uma
deficiência, muitas pessoas usam as expressões adolescente normal, criança normal e
adulto
normal. Isto acontecia muito no passado, quando a desinformação e o preconceito a
respeito de
pessoas com deficiência eram de tamanha magnitude que a sociedade acreditava na
normalidade
das pessoas sem deficiência. Esta crença fundamentava-se na ideia de que era anormal
a pessoa
função de adjetivo, foi uma grande novidade na época. No início, houve reações de
surpresa e
espanto diante da palavra pessoa: “Puxa, os deficientes são pessoas!?” Aos poucos,
entrou em uso
2000). Consultar ANTUNES (1998, 1999). FRASE CORRETA: “aquela criança é menos
desenvolvida
na inteligência [por ex.] lógico-matemática”.
6. ceguinho
O diminutivo ceguinho denota que o cego não é tido como uma pessoa completa.
TERMOS
CORRETOS: cego; pessoa cega; pessoa com deficiência visual. Ver o item 59.
8. defeituoso físico
Defeituoso, aleijado e inválido são palavras muito antigas e eram utilizadas com
frequência até o
final da década de 70. O termo deficiente, quando usado como substantivo (por ex., o
deficiente
físico), está caindo em desuso. TERMO CORRETO: pessoa com deficiência física. Ver os
itens 10 e
12. deficiente mental (quando se referir a uma pessoa com deficiência intelectual)
TERMO CORRETO: pessoa com deficiência intelectual (esta deficiência ainda é
conhecida como deficiência mental). O termo deficiente, usado como substantivo (por ex.:
o deficiente intelectual), tende a desaparecer, exceto em títulos de matérias jornalísticas
por motivo de economia de espaço. Consultar RIO DE JANEIRO (c. 2001).
13. doente mental (quando se referir a uma pessoa com transtorno mental)
A frase acima contém um preconceito: ‘Todo surdo ou cego tem retardo mental’.
Retardada mental, retardamento mental e retardo mental são termos do passado. O
adjetivo “mental”, no caso de deficiência, mudou para “intelectual” a partir de 2004. Ver o
item 12. FRASE CORRETA: “ela é surda [ou cega] e não tem deficiência intelectual”.
18. “ela teve paralisia cerebral” (quando se referir a uma pessoa viva no presente)
A paralisa cerebral permanece com a pessoa por toda a vida. FRASE CORRETA: “ela
tem paralisia cerebral”.
A palavra sofrer coloca a pessoa em situação de vítima e, por isso, provoca sentimentos
de piedade.
FRASE CORRETA: “ela tem paraplegia” [ou paralisia cerebral ou sequela de poliomielite].
28. inválido (quando se referir a uma pessoa que tenha uma deficiência)
A palavra inválido significa sem valor. Assim eram consideradas as pessoas com
deficiência desde a Antiguidade até o final da Segunda Guerra Mundial.
TERMO CORRETO: pessoa com deficiência.
35. mudinho
Quando se refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa.
O diminutivo mudinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa.
TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Há casos
de pessoas que ouvem (portanto, não são surdas) mas têm um distúrbio da fala (ou
deficiência da fala) e, em decorrência disso, não falam. Ver os itens 46, 56 e 57.
TERMO CORRETO: pessoas com deficiência. A palavra ditas, neste caso, funciona como
eufemismo para negar ou suavizar a deficiência, o que é preconceituoso.
54. surdez-cegueira
GRAFIA CORRETA: surdocegueira. No que se refere à comunicação das (e com)
pessoas surdocegas, existem a libras tátil (libras na palma das mãos) ou o tadoma
(pessoa surdocega coloca sua mão no rosto do interlocutor, com o polegar tocando
suavemente o lábio inferior e os outros dedos pressionando levemente as cordas vocais).
O método tadoma foi utilizado pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1926, quando
Sophia Alcorn conseguiu comunicar-se com os surdocegos Tad e Oma, nomes que
deram origem à palavra “tadoma”. Ver o item 22.
55. surdinho
TERMOS CORRETOS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. O
diminutivo surdinho denota que o surdo não é tido como uma pessoa completa. Os
próprios cegos gostam de ser chamados cegos e os surdos de surdos, embora eles não
descartem os termos pessoas cegas e pessoas surdas. Ver os itens 36, 46 e 57.
56. surdo-mudo
GRAFIAS CORRETAS: surdo; pessoa surda; pessoa com deficiência auditiva. Quando se
refere ao surdo, a palavra mudo não corresponde à realidade dessa pessoa. Ver os itens
36, 46 e 56.
Adaptado de:
Guidelines: How to Write and Report About People with Disabilities – Kansas University
http://rtcil.org/products/media/guidelines#Person-First
Tips for interviewing people with disabilities
hKp://ncdj.org/resources/reporters/interviewing-‐:ps/
Gadim : www.gadim.org