Improvisacao Sobre Eternamente A Importa
Improvisacao Sobre Eternamente A Importa
Improvisacao Sobre Eternamente A Importa
Três Corações
2008
Aos meus irmãos Célio, Maísa e Viviane; meus pais Aparício e Edilamar;
À minha amada esposa, Débora.
DEDICO
AGRADECIMENTOS
A Deus, por traçar meus caminhos, levando-me por onde Ele quer.
Aos meus pais Aparício e Edilamar, arqueiros de mim, pela ajuda financeira, afetiva, moral,
sem a qual, não teria ingressado neste curso.
À minha querida e amada esposa Débora pelas noites solitárias, pela paciência, pelos
“ouvidos” incansáveis, pelo amor incondicional.
Aos meus irmãos Célio e Maísa e Viviane, meu fã-clube pessoal, pelo crédito incondicional.
Ao orientador, Ms. Álvaro Borges pelos incentivos, pela paciência, pelos grandes e
inesquecíveis ensinamentos, pela mui prezada amizade e pela brilhante orientação.
Ao professor Lúcio Gomes pelas aulas incansáveis, pelas correções imprescindíveis, pela
grandiloqüência, refinamento e maestria em suas aulas de arranjo e improvisação.
Ao Ms. Fernando Pacheco pela recepção de braços abertos a esta Universidade, pelas
excelentes aulas de harmonia e improvisação e pelas estórias e conversas que fizeram a
diferença e pela correção da análise de “Eternamente”.
Aos amigos Maurílio, Vivian, Ricardo, Ed Wilson, Taciana, Adercângelo, Pachequinho,
Cloércio, Henrique e Fabrício, grandes músicos e professores, pelo convívio durante o curso,
por me receberem em sua roda de amigos, por terem me ensinado tanto e pela amizade
infinda.
Aos colegas do Conservatório Municipal de Patos de Minas e amigos Ivan Rosa, Alcino
“Castor” Dias, Anísio Dias, Wellik Soares, Wilmar Carvallho e demais professores do
Conservatório Municipal de Patos de Minas pelas “tocadas” e sessões de aprendizado prático,
motivo primário desta monografia e pela amizade mais que sincera.
À Dona Rita, pela exortação excelente, pelo apoio na busca do conhecimento, pelo carinho,
pelas conversas, pela amizade e receptividade.
Ao músico André Mehmari pelos e-mails, sempre muito atencioso e paciente, pela grandiosa
obra que vem desenvolvendo, inspirando ouvintes e músicos e pelo empréstimo de sua linda
valsa “Eternamente”.
À Universidade Vale do Rio Verde (UNINCOR) por oferecer um curso tão raro em nosso
país, com qualidade, excelência e competência.
A todos que direta ou indiretamente fizeram parte deste trabalho e de meu êxito profissional.
“Tudo quanto te vier às mãos, faze-o conforme as tuas forças, porque
no além para onde tu vais, não há obra, nem projetos, nem
conhecimento, nem sabedoria”.
Salomão
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS
Página
24
FIGURA 4 Inversões de acorde e notação de baixo cifrado..................
24
FIGURA 5 Inversões de acorde e notação de cifragem moderna..........
26
FIGURA 6 Funções primárias subdominante, dominante e tônica........
33
FIGURA 14 Exemplo de acorde de empréstimo modal em dó menor.....
34
FIGURA 15 Modulações possíveis. ........................................................
35
FIGURA 16 Modulações passageiras para ré maior e si maior...............
9
36
FIGURA 17 Exercício de escala flexível – primeiro passo. Mi Lídio.....
37
FIGURA 18 Exercício de escala flexível – segundo passo. Dó Jônio.....
37
FIGURA 19 Exercício de escala flexível – terceiro passo. Dó Jônio......
38
FIGURA 20 Conexão de escalas..............................................................
38
FIGURA 21 Conexão de escalas com cromatismo..................................
40
FIGURA 22 Partitura de “Eternamente” .................................................
LISTA DE QUADROS
Página
Exemplo de música com o emprego de harmonia com
modulações passageiras e modos diferentes sobre a
QUADRO 1 mesma fundamental............................................................. 21
Exemplo de música com o emprego de harmonia
QUADRO 2 unimodal, unitonal............................................................... 21
Exemplo de música com o emprego de harmonia unitonal,
QUADRO 3 polimodal............................................................................. 21
Exemplo de música com o emprego de harmonia
QUADRO 4 unimodal, politonal.............................................................. 21
Exemplo de música com o emprego de harmonia
QUADRO 5 polimodal, politonal............................................................. 21
RESUMO
BRAGA, César de Almeida. Improvisação sobre “Eternamente”: A importância do
conhecimento teórico. 2008. 63 p. (Monografia – Especialização em Teoria e Prática da
Interpretação Musical: Performance em Improvisação). Universidade Vale do Rio Verde –
UNINCOR – Três Corações - MG
Este trabalho de pesquisa propõe uma reflexão sobre a importância do conhecimento teórico
para a improvisação. “Eternamente”, canção de cunho lírico-jazzístico, é o objeto primário
deste estudo. Trata-se de uma canção aparentemente fácil, com duas partes bem definidas:
primeira apresentando harmonia tonal com um empréstimo modal e segunda parte com
harmonia complexa, mais difícil para improvisar. A inquietação surgiu quando se improvisou
nesta parte, causando embaraço e desconforto. Em hipótese, uma análise harmônica com vias
para escolha de escalas e prática com exercícios de escalas flexíveis e conexão de escalas
podem resolver o problema. Após a análise, foram gravados alguns takes com improvisações
sobre o tema, na medida em que ia se praticando os exercícios para fixação e dois deles foram
aproveitados, o primeiro e o último. Os mesmos foram transcritos para partitura e analisados
para resultados. Verificou-se uma melhora na sonoridade da improvisação em questão e
confirmada a hipótese de que o estudo da parte teórica – Harmonia – e exercícios de fixação
poderão auxiliar o músico a desfrutar seu lirismo e aproximar-se de um modelo de
improvisação mais ligado à expressão artística.
Prof. Ms. Álvaro Borges – UNINCOR (Orientador)
12
ABSTRACT
BRAGA, César de Almeida. Improvisation over “Eternamente”: The importance of the
theoretical knowledge. 2008. 63 p. (Monograph – Specialization in Musical Interpretation
Theory and Practice: Improvisation Performance). Universidade Vale do Rio Verde –
UNINCOR – Três Corações - MG
This research work proposes a reflection on the importance of the theoretical knowledge for
improvisation. “Eternamente”, a lyric-Jazz song, is the subject of this study. This song is
apparently easy, with two well-defined parts: A first one presenting tonal harmony with some
modalism, and a second part with complex harmony, harder to improvise. The disquieting
came out when one improvised on this part, causing uneasiness, embarrass and discomfort.
Hypothetically, harmonic analysis towards scale choice, flexible scale practice and scale
connection can put and end to this problem. After the analysis, takes with improvisation on
the theme were recorded along with practice on scale connection and two out of them were
taken, the first and the last ones. Both were transcribed to the score sheet and analyzed for
results. An improvement was noticed in improvising related here and confirmed the
hypothesis that the study on theory – Harmony – and memorizing exercices will help
musicians enjoy their lirism and become closer to a more artistic and expressive improvisation
fashion.
Professor. Ms. Álvaro Borges – UNINCOR (Major Professor).
13
INTRODUÇÃO
1
Análise da partitura editada, sem a levar em conta a crítica genética.
15
conexão de escalas descrita por Halberstadt (2001, p.45) e outros pode ser um exercício útil
para a fixação da matéria. Essa prática consiste em tocar as escalas continuadamente com
rítmica fixa, ligando-as à medida que seus respectivos acordes vão mudando na peça. Há
ainda, outros recursos práticos para o treino de escalas, os quais serão introduzimos mais
adiante, em momento oportuno.
Vários takes serão gravados para verificarmos a evolução do improviso, que serão
transcritos para pauta e analisados quantitativamente: se houve o uso adequado das notas das
escalas de acordes, e qualitativamente: se o improviso soou conforme descrevemos acima.
Após o período de análise harmônica da obra, confecção do improviso e
transcrição, espera-se adquirir experiência com a improvisação e o uso destes recursos. Como
resultado, melhorar a improvisação, sem exageros rítmicos ou deficiências técnicas, sanando
o problema de desconforto e embaraço, liberando o ser artístico, tornando-o suscetível à arte.
Com isso, ajudar à comunidade musical local, sugerindo essa solução a improvisadores
intermediários e profissionais, levando-os a compreender a importância imperiosa de se
equiparem plenamente para esta empreitada, libertando o eu artístico com madureza e
consciência.
16
OBJETIVOS
No primeiro exemplo, as notas nos tempos fortes são fá, ré, si bemol, sol: A
fundamental, sexta, quarta e segunda do acorde de F7. No segundo, fá, mi bemol, dó e lá:
18
Fundamental, sétima, quinta e terça. Agora, a segunda, quarta e sexta se tornam notas de
passagem entre as notas do acorde. Daí se chega à linguagem ou idioma do Bebop.
O ponto aqui foi mostrar a improvisação baseada no movimento escalar e mostrar
a preocupação neste estilo com a escolha de notas mais adequadas. Estes conceitos se tornam
linguagem-base para a improvisação e, segundo Baker, “Há uma lei não-escrita que reza que
o entendimento e a habilidade de funcionar em Bebop representa a base sólida para lidar com
quase todos os outros estilos de Jazz”. Em improvisação jazzística, o músico terá a
consciência dessa linguagem (BAKER, 1985, p.4). Mesmo assim, vários improvisadores não
usam a escala octatônica, mas adotam uma prática escalar a moda deste estilo.
Até aqui, temos como fundamentos de improvisação a composição de melodias
baseadas em escalas e a preocupação com escolha de notas.
Quando você escuta Louis, ficava claro que ele trabalhava de antemão muito do que
ia tocar, e ainda suas performances eram sempre frescas e inovadoras, por causa da
forma como ele respondia no contexto da apresentação, deixando sua intuição e
inspiração trabalharem “por” ele no momento da criação musical. (idem, grifo do
autor)
4) Politonal, unimodal – Uma peça que contenha o mesmo acorde construído sobre
o mesmo modo em diferentes tons (QUADRO 4).
QUADRO 4 Exemplo de música com o emprego de harmonia unimodal, politonal.
Dó Frígio Ré Frígio Lá Frígio
4 compassos 4 compassos 4 compassos
Tom: Lá b Tom: Si b Tom: Fá
Fonte: (idem)
O sétimo acorde, por conter terça menor e quinta diminuta, é chamado diminuto e
nota-se com o símbolo “°” como mostra a figura anterior. É também chamado de dominante
sem baixo por conter as mesmas notas do quinto grau, sem a fundamental e com a adição da
nona. O tom-base ou centro tonal da música é ditado pela armadura de clave, não importa as
modulações que contenha. Há de verificar se é tom maior ou menor, o que depende de um
conjunto de fatores. Por exemplo, a predominância de cadência V-I caracteriza tom maior. Se
aparecer freqüentemente cadência III7-VIm na maior parte da música em uma tonalidade com
armadura de clave com e.g. um sustenido e melódica em escala menor, pode-se dizer que está
em mi menor e não sol maior, passado a análise a ser V7-Im.
Para as tétrades construídas sobre as notas da escala, fazemos a análise
acrescentando a sétima na notação (FIGURA 3).
FIGURA 3 Tétrades construídas sobre as notas da escala maior, cifras e análise de graus.
Fonte: (GUEST, 2006a, p.46)
Quando a sétima for menor, colocamos somente o número “7” na análise. Se for
maior, acrescentamos “7M”. O sétimo acorde, por conter quinta diminuta e sétima menor é
notado como tal, tendo entre parênteses a indicação da quinta diminuta. De acordo com
Guest:
Representando as tríades diatônicas em outros tons maiores (outras armaduras),
notaremos que notas e cifras mudam, embora a análise continue a mesma, posto que
a análise representa a estrutura característica de qualquer tom maior. (idem)
24
dó maior na mão direita. O que teremos na realidade é um acorde de sétima com quarta e
nona. Este sistema facilita a leitura e a velocidade de execução de acordes com mais
alterações. O acorde menor com sexta também pode ser um acorde disfarçado. Para Guest
(2006a, p.32), “Inversões de acordes de sexta coincidem com outras inversões de tétrades e a
cifragem é escolhida conforme o contexto harmônico”. Tomando como argumento a
facilitação de leitura, o compositor pode optar por uma cifragem mais simples para chegar à
sonoridade harmônica desejada. Este recurso pode apresentar “acordes disfarçados”, como é o
exemplo de Abm6/G. Notado com ou sem a barra e complemento e dependendo da armadura
de clave (aqui, dó maior), este acorde pode ser um dominante primário disfarçado, G7(b9,
b13), ou dominante substituto disfarçado, Db7(9). Isso ocorre por causa da reunião de tensões
contidas no acorde menor com sexta e sua escala. A notação é mais simples e a execução é
mais fácil. Estes são exemplos de falsas inversões.
Uma tríade possui sua relativa e anti-relativa. A relativa se encontra a uma terça
menor abaixo e a anti-relativa, terça maior acima. Outra característica delas é o número de
notas em comum: relativas possuem duas notas em comum e anti-relativas, uma nota. Vide
Dm, Fm e Am. As três contêm a função de subdominantes. C, Am e Em têm a função de
tônica. G, seu relativo, Em e seu anti-relativo, Bdim, que já foi mencionado como “dominante
sem baixo”, formam a função dominante (por isso a notação entre parênteses). Em e Am
podem exercer duas funções em uma cadência. A escolha depende dos acordes que a cercam e
a função que exercem.
A cadência é a combinação das funções harmônicas. Eis algumas das cadências
mais típicas.
Cadência perfeita é aquela que citamos acima, criando resolução, e.g. V-I, II-V-I,
IV-V-I. Cadência imperfeita se dá quando um dos acordes ou ambos estiverem invertidos, e.g.
27
V-I6, V6-I, VII°-I. Cadência plagal é a conclusão pela subdominante, e.g. IV-I, bII-I, bVI-I.
Cadência à dominante termina na Dominante. Não é conclusiva. Cadência deceptiva tem o
quinto grau seguido por acorde de outra função que não seja a tônica, ou função de tônica
relativa ou anti-relativa. E.g. V-III, V-VI, VbII, V V/VI.
A cadência mais freqüente em Jazz é a cadência perfeita com adição do segundo
grau cadencial, ou II-V-I.
FIGURA 8 Exemplo da resolução pelo quinto grau, análise de graus e seta sobre V-I.
Fonte: (GUEST, 2006a, p.51)
FIGURA 9 Exemplo de cadência com II seqüencial e resolução pelo quinto grau, análise de
graus, colchete sob II-V e seta sobre V-I.
Fonte: (GUEST, 2006a, p.62).
harmonicamente, aumenta-se o sétimo grau, passando a ser sol sustenido. Agora, a dominante
passa a ser um acorde maior e conter a sensível (mi-sol#-si-ré). Esta escala é chamada de
menor harmônica.
Quando a subdominante é o quarto grau, não se nota o colchete. O mesmo ocorre
na resolução do quinto no sexto grau.
Cada escala tem suas características básicas. Além de maior e menor, existem
características que diferenciam escalas da mesma qualidade, como é o caso dos modos
maiores Jônio, Lídio e Mixolídio. Todos possuem os mesmos graus, com algumas exceções.
Em Lídio é a quarta aumentada e em Mixolídio, a sétima menor. Os modos Dórico e Eólio,
ambos menores, se distinguem pelo sexto grau: em Eólio é menor e em Dórico, maior. Frígio
e Lócrio são idênticos, exceto pelo quinto grau, que no último é diminuto. Falta-nos aqui, a
análise do campo harmônico da escala menor harmônica e menor melódica. Mais adiante,
30
veremos algumas escalas e acordes de empréstimo destes campos, mas somente alguns que se
tornarem importantes para esta pesquisa.
Para fazer a escolha da escala dos acordes, basta, entre outros critérios, escolher a
escala pertinente ao grau na análise. Através da cifra, temos as notas para formar o acorde e
sua inversão. Para Guest:
Pelo conceito atual, o acorde (e seu símbolo, a cifra) não só reúne as notas que o
caracterizam, chamadas notas de acorde (n.a), mas outras notas também que o
enriquecem, chamadas notas de tensão (T), embora a cifragem não indique
necessariamente essas notas. As n.a. e as T, reunidas formam uma escala de sete
notas (às vezes seis ou oito), chamada escala de acorde. (...) Encontram-se ainda na
escala de acorde notas de escala (S), que não são T nem n.a. e servem como simples
complementos ou alternativas de n.a. para reforçar o timbre, como a 6M nos acordes
maiores e menores.
Finalmente, a escala de acorde também pode incluir notas a serem evitadas (EV) na
realização do acorde, mas que podem ser usadas na linha melódica, em caráter
passageiro. Quando usadas no acorde, comprometem a clareza e/ou a identidade no
som do acorde. (GUEST, 2006a, p. 86-87)
Fica bem claro que a escala é uma excelente fonte para compor melodias
improvisadas. Todavia, pode haver, dentro da escala, algumas notas a evitar. Alguns critérios
para a escolha da escala do acorde, de acordo com Guest, são: A cifra, que inclui as notas do
acorde e algumas notas de tensão; a análise, que é a relação do acorde com o centro tonal ou
tom do momento; a melodia, que ajuda na escolha da escala; o estilo, que vai temperar a
escolha de escalas concêntricas ou excêntricas. Vale ainda ressaltar que “a escolha da escala
do acorde é governada pelo respeito às notas indicadas na cifra; as demais notas são
geralmente diatônicas. A indicação específica de tensões pela cifra pode apontar notas não-
diatônicas” (GUEST, 2006a, p.87). Analiticamente, constroem-se as escalas tomando das
notas do acorde (FIGURA 11).
FIGURA 12 Tétrade do acorde de lá maior com sétima de dominante acrescida das notas de
tensão nona, décima primeira e décima terceira.
Fonte: (GUEST, 2006a, p.89).
FIGURA 13 Escala do acorde de lá maior com sétima de dominante com notas de tensão
incorporadas.
Fonte: (idem).
Notas evitadas podem ser aquelas que causam choque com as notas do acorde, ou
notas da próxima função.
No modo Jônio, o quarto grau é nota a evitar. A razão é simples: Causa choque de
nona diminuta com uma das notas do acorde, a terça. Quando o acorde tiver função de tônica
e a quarta for tocada em tempo forte sendo enfatizada e não resolvida para o terceiro grau, soa
extremamente duro. A quarta é também a sétima de dominante. A terça e sétima do modo
Mixolídio formam um trítono, intervalo de caráter instável, sensível. É através da resolução
dele em um intervalo de terça ou sua inversão, a sexta, é que temos a sensação de tensão-
resolução. Ora, mantemos a quarta em um acorde tônico e não resolvemos, teremos confusão
de características de funções e choque harmônico.
No acorde Dórico, a sexta é nota a evitar. Esta nota é também a sétima de
dominante; enfatizá-la, por exemplo, em um início de compasso ou frase, soa antecipar
prematuramente a próxima função, caso esteja numa cadência tonal II-V, desdobrando o
dominante e tomando a função de subdominante.
Em Eólio, a sexta menor causa choque harmônico de nona diminuta com uma das
notas do acorde, a quinta. Soa melhor como apojatura.
32
Reiteramos que notas a evitar não são proibidas, mas notas que devem ter caráter
de passagem. Os sons supracitados são diatônicos, notas que fazem parte da escala. Qualquer
outro som que não esteja dentro do grupo das sete notas da escala é também nota a evitar. Elas
são importantes e o uso do cromatismo é extremamente interessante em improvisação, como
já foi exposto na linguagem do Bebop, mas devem ter caráter passageiro (GUEST, 2006).
É importante assinalar que o emprego de notas de tensão no acorde dominante é
interessante. É aqui que o improvisador pode e deve criar tensão. Recomenda-se o uso de
escalas excêntricas, simétricas e alteradas e, possivelmente, até mesmo de notas a evitar, se
dispuser de madureza e consciência de seu uso e bom manejo de resoluções. Aliás, as notas
evitadas são assim chamadas pelo alto grau de tensão que proporcionam, principalmente onde
não deveriam.
33
1.4 Prática
Descreveremos doravante modelos de treinamento prático.
A escala começa com intervalos menores e na medida em que vai ganhando mais
confiança, os saltos ficam maiores. Aqui há a ruptura com o conceito de escala linear, mas há
uma aproximação com o conceito de composição. E por último, no terceiro passo, o músico
pode adicionar rítmica à prática (FIGURA 19).
É possível também usar pausas para recolocar as notas do acorde nos tempos
fortes, como na linguagem do Bebop. É verdade que a nota a adicionar é a sétima maior no
caso da escala dominante e quinta aumentada na maior natural, mas o praticante não precisa
necessariamente se ater a elas; pode e deve desfrutar toda a escala cromática. O cromatismo
pode ser usado para “salvar” a escala, manipulando-a para que certas notas caiam no tempo
forte.
A conexão de escalas é extremamente útil na fixação das mesmas na memória. Faz
com que o improvisador agregue a teoria à sua técnica, tendo as escalas “nas pontas dos
dedos”. O ponto mais importante deste exercício é obrigar o músico a pensar rápido sob uma
rítmica fixa e andamento ininterrupto. Há de começar em andamento lento, acelerando aos
poucos. Levará tempo no início, mas os resultados são altamente benéficos, influenciando
também na performance em improvisação sobre peças futuras.
39
2 MATERIAIS E MÉTODOS
Aparece a função relativa da tônica no final de cada frase formando uma cadência
deceptiva (compassos três, sete, onze e quinze). Para esses acordes diatônicos, escolhemos
sempre a escala que corresponde ao modo do grau. Nos compassos cinco e treze, há um
acorde com falsa inversão A/D. Como foi descrito no capítulo teórico, não há inversões da
tríade com notas de tensão no baixo, sendo este acorde uma montagem de duas estruturas para
facilitar a feitura do mesmo ao piano. Trata-se de uma estrutura superior (LEVINE, 1989,
p.109-124), desejando acorde de ré com sétima e nona. Essa notação foi substituída por DM9.
O ponto culminante nesta parte está no compasso nove, quando se quebra a
simetria da melodia e da harmonia com um acorde de barra, criando surpresa. A nota que
ocupa todo o compasso com uma mínima pontuada é fá bequadro (enarmonicamente grafado,
pois se trata da quinta do acorde de A7M(#5), sendo então mi sustenido). O acorde é Db/A,
como ocorre nos compassos cinco e treze com A/D. A mão esquerda toca A e a mão direita,
Db. Esta abertura resulta em um acorde com sétima maior e quinta aumentada. Trata-se de um
empréstimo modal do relativo menor fá sustenido. A escala de nossa escolha é do terceiro
modo do campo harmônico de fá sustenido menor harmônico ou melódico. Se usar a menor
harmônica, teremos a quarta, ré, como nota a evitar. Se usar a melódica, a quarta passa a ser
aumentada, deixando de ser nota evitada. Ademais, afasta mais a escala do tom principal,
reforçando a idéia de expansão. Daí em diante, segue diatônico.
A segunda parte apresenta acordes de empréstimo modal partindo do compasso
dezoito até vinte (FIGURA 24).
3 RESULTADOS
Por uma nota, quase podemos dizer que a escala usada foi a pentatônica maior em
lá. A exceção é a nota sol sustenido do décimo compasso, clave de sol. A mão esquerda
acompanha tocando as fundamentais dos acordes, com quintas e oitavas. Verificamos um
desenvolvimento motívico nos compassos cinco e seis, desenrolando em uma frase maior
partindo do final do compasso oito até o compasso doze, com um desenvolvimento motívico
interessante, afastando do tema da música. Não se encontram notas a evitar.
47
No ponto culminante da parte A, no acorde A7M(#5), ele usa uma “parte segura”
da escala, fundamental, terça e quarta, não enfatizando a nota que caracteriza a escala, a
quinta aumentada (FIGURA 28).
Neste compasso, soando pianíssimo, temos as notas lá, si bemol, sol, si, dó. Há
várias possibilidades de inferência aqui. Terá o pianista tocado pianíssimo por opção própria,
ou terá se embaraçado por não ter certeza qual era a escala no momento? As notas marcadas
por parêntesis estão corretas: pertencem à escala de sol menor melódica. As notas que soam
logo após no terceiro tempo são uma antecipação de A/G, uma aproximação cromática para a
terça deste acorde. O acompanhamento da mão esquerda permanece tocando apenas
fundamentais, oitavas, quintas. No compasso 21, toca uma sexta. O incidente no compasso 23
atrapalhou também a mão esquerda: toca fá sustenido, antecipando prematuramente o baixo
do próximo compasso, F#m7(b5). A presença de ré no compasso 24 tem um caráter de nota
enfatizada, mas não soa tão mal por estar sincopado, antecipando o próximo acorde no
compasso 25, sendo a sexta menor (FIGURA 31).
Este fragmento em B7(b9) pode ser considerado partindo da escala menor harmônica. A
quarta justa nesse caso é uma nota a evitar. Isto não está em consonância com a análise, visto
que a escala de escolha foi a dominante diminuta, pelo fato de aparecer a quinta justa na
melodia do tema.
Encontra-se uma nota fora da escala de mi lídio no compasso 27, sol natural que
resolve em lá no compasso 28, outra nota fora da escala de si maior. Parece que o improviso
insiste em ficar dentro do tom da armadura de clave, acompanhando as modulações
minimamente, buscando delinear a qualidade dos acordes, como foi visto nos compassos 22,
26, 28 e agora, no compasso trinta (FIGURA 32).
sem preocupação em enfatizar as notas dos acordes. Durante seis compassos, na região da
modulação, não soa nenhuma nota na clave de fá. A mão esquerda só retorna agora, no
compasso 31, tocando dó sustenido em Bm7. O improviso termina com um arpejo em lá
maior.
esquerda comuns ao estilo do Jazz. Não aparecem sons na clave de fá no compasso treze. No
entanto, a melodia do improviso faz uma bordadura enfatizando as notas de caracterização do
acorde de A7M(#5): fá, mi, fá. O motivo é repetido no próximo compasso em forma de
resposta, apresentando no mesmo compasso um outro motivo a ser desenvolvido. Apesar da
surpresa, o improvisador antecipa sua escolha de escalas e as usa para compor uma nova
melodia. Percebe-se o uso variado de rítmicas, como semicolcheias, quiálteras e síncopes. A
mão esquerda inicia seu acompanhamento com aberturas em blocos e termina
complementando a melodia da mão direita. Desta vez, ambas fazem um tipo de improvisação
contrapontística simples, além de dar apoio harmônico.
O início da parte B é marcado por um acorde tocado no tempo forte, uma abertura
em posição fechada sem baixo (FIGURA 34).
A mão esquerda descansa agora, dando uma pausa nos compassos trinta e 31. No
compasso 29, o pianista arpeja uma tétrade de F#m7 sobre o acorde de D6, não revelando se a
escala usada foi o do modo Jônio ou Lídio e antecipa, através das duas últimas notas do
54
compasso si bemol e lá, a escala do acorde seguinte. Percebemos o uso de mi bemol na frase
do compasso trinta; conclui-se ter usado a escala do modo Jônio. Percebemos a caída da
quarta justa no terceiro tempo, porém em caráter rapidamente passageiro, resolvendo em ré, a
terça do acorde. Não houve uso de cromatismos aqui. A conexão com o acorde de Bm7 se dá
através da ligação da nona de Bb/D à terça de Bm7, e segue com um arpejo nas notas deste
acorde. Depois um descanso; a mão esquerda retorna fazendo fundamentais (FIGURA 37).
Nos compassos 35 e 36, é tocada a mesma abertura, que serve para ambos os
acordes e termina em um arpejo de lá maior com nona.
55
5 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BAKER, David. How to play Bebop: The Bebop scales and other scales in common use. Bloomington :
Frangipani Press, 1985.
BOUCHARD, George. Intermediate Jazz improvisation: A study guide for developing soloists. New Albany :
Jamey Aebersold Jazz, 2000.
GUEST, Ian. Harmonia: Método prático. Rio de Janeiro : Editora Lumiar, 2006. Vol 1.
GUEST, Ian. Harmonia: Método prático. Rio de Janeiro : Editora Lumiar, 2006. Vol 2.
HALBERSTADT, Randy. Metaphors for the musician. Pentaluma : Sher Music, 2001.
LEVINE, Mark. The Jazz piano book. Petaluma : Sher Music, 1989.
LEVINE, Mark. The Jazz theory book. Pentaluma : Sher Music, 1995.
NOVELLO, John. The contemporary keyboardist. Valley Village : Source Productions, 1986.
TAYLOR, Bob. Inside flexible scales. [S.l] : Visual Jazz Publication, 2007. Disponível em: http://www.visual-
jazz.com/art070130a.pdf Acesso em: 12 Fev. 2008.
58
ANEXO
Página
FIGURA 1A Partitura com análise harmônica de “Eternamente”............ 59
FIGURA 2A Transcrição do primeiro take, parte A................................. 60
FIGURA 3A Transcrição do primeiro take, parte B................................. 61
FIGURA 4A Transcrição do segundo take, parte A................................. 62
FIGURA 5A Transcrição do segundo take, parte B.................................. 63
59