2023 Relevo Geosistemico

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O RELEVO COMO PONTO DE PARTIDA AO ESTUDO GEOSSISTÊMICO


DA NATUREZA: O CASO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO
MIGUEL, ALAGOAS1.
RELIEF AS A STARTING POINT TO STUDY GEOSSISTÊMICO OF NATURE: THE CASE OF RIVER
BASIN SAN MIGUEL, ALAGOAS

RELIEVE COMO UN PUNTO DE PARTIDA AL ESTUDIO GEOSISTEMICO DE LA NATURALEZA: EL


CASO DE LA CUENCA DEL RÍO SÃO MIGUEL, ALAGOAS
2
Júlio César Oliveira de Souza
[email protected].
3
Antonio Carlos de Barros Corrêa
[email protected]

Para Ana Paula, sempre...

RESUMO
O relevo pode ser visto como o substrato no qual o homem mantém um contato mais íntimo com a
Terra, pois com este, interage diretamente altera-o de modo contundente e por isto, merece
atenção quando ao seu estudo, logo, pode ser considerado como o ponto de partida para a análise
da natureza em uma bacia hidrográfica e, de modo particular, a bacia do rio São Miguel, no estado
Alagoas. A ocupação da citada bacia foi acompanhada por alterações substanciais em suas
morfoestruturas e desta forma, este artigo objetiva apresentar os efeitos que as mudanças
ocorridas no uso e ocupação do solo promoveram na bacia hidrográfica, sob a perspectiva dos
geossistemas. O método adotado foi a identificação das unidades morfoestruturais, a criação de
SIG com cartas temáticas acerca do estado de degradação da bacia e a proposição de um
zoneamento geográfico para área usando como parâmetro, as características de cada forma de
relevo. Os resultados preliminares apontaram que todas as unidades morfoestruturais e suas
respectivas subunidades locais encontram-se em estágios variados de degradação, e que seria
preciso identificar formas de uso menos nocivas nas mesmas de modo a tornar mais racional, ao
final, o uso esperado e o permitido na bacia.
Palavras-Chave: Relevo. Geossistemas e Natureza.

1
Este artigo foi baseado na dissertação de mestrado intitulada “Identificação de Geossistemas e sua
Aplicação no Estudo Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel – Alagoas”, orientada pelo Prof. Dr.
Antônio Carlos de Barros Corrêa (PPGeo/CFCH/UFPE) e Co-orientada pela Profª. Drª. Silvana Quintella
Cavalcanti Calheiros (IGDEMA/UFAL).
2
Mestre em Geografia (CFHC/PPGeo/UFPE). Bacharel e Licenciado em Geografia (IGDEMA/UFAL).
Docente da Rede Municipal de Ensino e Tutor do Curso de Graduação em Geografia
(UAB/CIED/IGDEMA/UFAL).
3
Doutor em Geografia. Professor do Programa de Pós-graduação em Geografia (PPGeo/CFCH/UFPE).
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SOUZA J.C.O. de & CORRÊA A.C.de B. O Relevo como ponto de partida ao estudo geossistêmico da
natureza: o caso da bacia hidrográfica do rio São Miguel, Alagoas. Revista GeoUECE - Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
http://seer.uece.br/geouece
GeoUECE, v.2, n.3, Julho/Dezembro 2013 ISSN: 2317-028X

ABSTRACT
The relief can be seen as the substrate on which the man keeps a closer contact with earth,
because with this , interacts directly alters it in a forceful manner and therefore, deserves attention
when your study thus can be considered as the starting point for the analysis of nature in a
watershed and, in private, the basin of San Miguel, Alagoas state. The occupation of the said basin
was accompanied by substantial changes in their morphostructures and thus, this article presents
the effects that changes in the use and occupation of land in the watershed promoted, from the
perspective of geosystems. The method adopted was to identify the morphostructural units, the
creation of thematic maps with GIS on the state of degradation of the basin and the proposition of a
geographic area using zoning as a parameter, the characteristics of each form of relief. Preliminary
results showed that all morphostructural units and their local subunits are in varying stages of
decay, and that would need to identify ways to use less harmful in the same order to make more
rational, in the end, the expected usage and allowed in the basin .
Key-words: Relief. Geosystems and Nature.

RESUMEN
El relieve debe verse como el sustrato en cuál el hombre mantiene un contacto ligeramente íntimo
con la Tierra, pues él interactúan casi directamente y cambia del mismo modo más concluyente y
por esto, alcanza atención cuanto al su tesis y sutilmente, logra ser calificado puesto que el punto
de partida para el análisis de la naturaleza en una cuenca hidrográfica y, de carácter particular, la
cuenca del rio São Miguel, en el estado de Alagoas. La ocupación de la nombrada cuenca estuvo
acompañada por mudanzas esenciales en suyas morfoestructuras y de esta condición el artículo
objetiva lucir los efectos que los cambios ocurridos en el uso y función del suelo promoverán en
la cuenca hidrográfica, sobre la perspectiva de los geosistemas. El procedimiento adoptado fue la
identificación de las unidades morfoestructurales, a instauración de SIG con escritos temáticos
acerca del estado de degradación de la cuenca y la proposición de una zonificación geográfica
para espacio empleando como parámetro, las características de repetición de la forma de relieve.
Las consecuencias preliminares puntearan que cualesquiera unidades morfoestructurales y sus
respectivas subunidades locales encuéntrense en estigios variados de degradación, y que sería
interesante asemejar las formas de uso menos perniciosas en las mismas condiciones a ser un
poco más racional, al terminable, el uso ambicionado y el reconocido en la cuenca.
Palabras-clave: Relieve. Geosistemas y Naturaleza.

INTRODUÇÃO

A relação sociedade-natureza é intrínseca à análise da Geografia e os frutos desta, podem


ampliar a produção do conhecimento científico e reverter-se em melhorias à humanidade. Ross
(2006, p. 13) ressalta que “não existe Geografia sem sociedade, pois é com base nesta que se
elaboram as análises geográficas e se podem executar aplicações fundamentadas nos
conhecimentos obtidos”.
A Geografia, na medida em que também estuda as organizações espaciais, desde a sua
origem se propôs a ser uma ciência integradora. Mas para chegar a tal objetivo, era necessário
delinear em que perspectiva este modelo catalisador de disciplina poderá se focar, pois o estudo
ambiental, sob a lógica da modernidade, apresenta inúmeras possibilidades analíticas e
metodológicas.
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SOUZA J.C.O. de & CORRÊA A.C.de B. O Relevo como ponto de partida ao estudo geossistêmico da
natureza: o caso da bacia hidrográfica do rio São Miguel, Alagoas. Revista GeoUECE - Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
http://seer.uece.br/geouece
GeoUECE, v.2, n.3, Julho/Dezembro 2013 ISSN: 2317-028X

Anteriormente colocada em um viés separatista, a Geografia buscou ao longo de sua


consolidação acadêmico-científica uma perspectiva de análise conjunta e, portanto, era necessária
a compreensão integral do meio natural e de seus elementos animadores e neste sentido, a teoria
dos geossistemas mostra-se interessante a esta investida para uma análise total da natureza.
Cada geossistema é resultante de uma interação de elementos que lhe determinam uma
feição e uma função sendo então, também, uma manifestação das formas complexas resultantes
do movimento da matéria que existe disponível na natureza e até na sociedade. Assim, os
sistemas naturais, como as bacias fluviais, podem ser avalizados dentro da lógica trazida pelo
geossistema.
O estudo da natureza, dentro da perspectiva do geossistema prescinde de uma base que
seja capaz de concretizar o seu funcionamento e estrutura bem como as formas do relevo, na qual
são elementos que possibilitam tal estudo, já que a sua própria morfoestrutura e morfoescultura
associam-se a diversos fatores de caráter natural e agora também, antrópico.
Cada forma de relevo é reveladora de um processo endógeno e exógeno específico, pois,
ao observarem-se grandes arqueamentos de montanhas ou planícies litorâneas ou fluviais, logo,
percebe-se que processos distintos de maior ou menor energia foram empregados na constituição
de tais formas e em várias escalas de tempo diferentes, mas também não podem ser vistos como
produtos acabados, mas em permanente modificação, dado que há uma constante troca de
matéria e energia entre os modelados que formam um sistema dinâmico aberto e que interagem
com os diferentes sistemas naturais.
Enquanto um dos componentes dos sistemas naturais, a bacia hidrográfica é um meio
natural capaz de reunir, um grande e variado conjunto ambiental que interage de maneira intensa e
imediata em toda a sua extensão com os demais elementos do meio natural, provocando
transformações nas estruturas mórficas, climáticas, vegetais, pedológicas e geológicas
circunscritas em seu interior.
Este artigo, portanto, visa trazer uma reflexão acerca da importância das formas do relevo
como referencial de estudo na abordagem geossistêmica, tendo por recorte teórico de análise, a
bacia hidrográfica do rio São Miguel, no estado de Alagoas. Na primeira parte será feita uma breve
revisão de literatura na qual abordaremos a relevância do relevo como ponto de partida a estudos
de caráter ambiental. Na segunda parte, será feita a caracterização da área de estudo, bem como
a exposição da metodologia aplicada ao trabalho. Por fim na terceira e última sessão, serão
discutidos os resultados alcançados com o referido estudo.

O ESTUDO DO RELEVO EM UMA PERSPECTIVA GEOSSISTÊMICA

Praticamente todas as localidades da epiderme terrestre estão preenchidas pela ação


humana, e concordamos com Mendonça (2011), que o grande mosaico de paisagens que
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natureza: o caso da bacia hidrográfica do rio São Miguel, Alagoas. Revista GeoUECE - Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
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constituem o espaço geográfico são os sinais claros que atestam uma situação jamais observada
na história da natureza e das sociedades humanas. Progressivamente, a Geografia Física passa a
ser convidada a sair de sua zona de conforto teórico e se abrir à novas perspectivas que à coloque
em consonância com a nova realidade em que os sistemas naturais e sociais são partes
inseparáveis. Será então a paisagem, o elemento externo síntese deste novo momento.
A paisagem se mostra como um dos elos mais factíveis do homem com o meio natural,
pois esta concretiza, externamente, este universo de relações. Acompanha as diferentes
configurações que são dadas ao espaço socioambiental humano ao longo do processo histórico.
Ao estudo da paisagem, também são incorporadas ideias presentes na Teoria Geral dos Sistemas
de Ludwing Von Bertalanfy (1968), que são manifestadas pelo conceito de geossistema e com
este, a Geografia Física tem a oportunidade de (re) encontrar uma nova situação analítica da
paisagem a partir de uma unidade sistêmica, mas que também possui um sistema multiescalar e
hierárquico (FIGUEIRÓ, 2011). O meio natural tem as suas estruturas organizacionais
manifestadas nas diferentes configurações que o relevo assume na epiderme terrestre. O “estrato
geográfico” de Grigoriev (1968) sob o raciocínio de ROSS (2006) é fruto dos processos físicos e
químicos e também das morfologias que os diversos materiais que o compõem, assumem na
paisagem a que também se somam os componentes antrópicos e que, no relevo se externalizam.
Neste estrato geográfico, compreende-se que o homem tem uma função essencial em sua feitura,
pois é neste, que se vão evidenciar os efeitos mais imediatos da ação humana sobre os recursos
naturais e como irão se re-configurar de acordo com o uso que lhe são dados e também, a própria
dinâmica ambiental será mais efetivamente percebida. O relevo, então, mostrar-se-á revelador do
próprio estrato geográfico. Além da vegetação, a identificação do geossistema pode estar também
diretamente ligada ao relevo, pois este configura a gênese de diferentes processos internos e
externos e por isto, manifestam fisionomias distinguíveis e compartimentáveis de acordo com os
elementos que a modelam como o clima, o solo, o substrato geológico e o biogeográfico. Assim,
são passíveis de familiarização pelo conjunto de “aparências” que adquirem nas paisagens.
Portanto, as formas do relevo: “interagem com a rocha, com o clima, com o solo, com a
vegetação e os recursos hídricos. Tal abrangência resulta na constituição da paisagem natural ou
até mesmo com cultural quando este se associa às atividades humanas” (FALCÃO SOBRINHO,
2007, p. 84). O entendimento do relevo, não enfoca somente a sua estrutura de origem e forma,
mas, quando o interpreta sob a luz da ação humana, a tomada de decisões sobre o planejamento
do uso do solo e também de determinados ambientes, os modelados tornam-se elementos
essenciais ao próprio modo de como se organizará a ocupação destes espaços.
De maneira clara as últimas mudanças que o homem imprimiu sobre a epiderme da Terra,
concebida desde a revolução vista no neolítico motivado pela produção de seus meios de
sobrevivência, impulsionou o surgimento da agricultura e a domestificação de animais; o
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Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
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entendimento da organização territorial, o fizeram um agente geológico dos mais eficientes e


diferenciados.
Mesmo sofrendo com a ação poderosa da natureza sobre si, o homem também a reverte
motivado por sua necessidade, tirando-lhe vantagens necessárias para si, suprimindo eventuais
obstáculos que a mesma possa lhe produzir, enfim, adequando-a às suas convenções e
finalidades, tornando-a cada vez mais humana (PELOGGIA, 1998). Sobrinho Falcão (2007) propõe
o seguinte modelo (figura 01) como uma maneira de situar o relevo como foco de uma análise
integrada, considerando dois enfoques centrais, a saber: a) elementos estruturais e b) potencial de
exploração.

Figura 01. O relevo é principal elemento integrante da paisagem.


Fonte: SOBRINHO FALCÃO, 2007 (adaptado pelo autor)

Ainda para Falcão Sobrinho (2007) a ação humana tem uma relação direta com a dimensão
que ele estabelece com o lugar em que se vive, com o seu modo de vida e o gênero que lhe é
congênere, pois este determina o tipo de uso que é dado a Terra. Considerando a importância que
o relevo assume nos estudos geomorfológicos, o professor Aziz Ab’Sáber (1969) propôs três níveis
de tratamento que deveriam ser concedidos às informações referentes aos modelados terrestres: a
compartimentação geomorfológica ou topográfica, a estruturação superficial da paisagem e por fim,
a fisiologia da paisagem.
A proposta de Ab’Sáber, embora muito útil na identificação evolutiva dos modelados do
relevo e, por consequência, na própria compreensão da paisagem derivada desta, só considera os
fatores naturais e os seus elementos na cronologia das mesmas, mesmo que no momento da
publicação do estudo (1969), a integração humana às paisagens ainda não encontrava trabalhos
mais concretos.
Ao buscar também compreender os estudos relacionados ao relevo Ross propôs em 1992,
uma classificação taxonômica do relevo em seis táxons. Para esta classificação, o mesmo se
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Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
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baseou nos estudos de Penck (1958), que compreendeu a origem dos modelados terrestre como o
resultado de forças motoras antagônicas endógenas e exógenas que são vistas nas formas de
relevo pequenas, médias e também nas grandes da epiderme terrena.
O autor lembra que esta proposição, não possui a rigidez da escala espaço-temporal vista
nas classificações de Tricart e Cailleux (1956) e também a de Mescerjakov (1968), mas amplia a
proposta taxonômica de Demek (1967) concernente à análise e à classificação cartográfica dos
eventos geomorfológicos em diversas e variadas escalas. Ross (1992) lembra que os conceitos de
morfoescultura e morfoestrutura, que são utilizados na classificação dos táxons, foram elaborados
por Guerasimov (1964) e Mescerjakov (op. cit).
Assim, esta classificação visa reportar ao relevo, a sua importância no contexto dos estudos
geomorfológicos, pois são “os pisos sobre os quais se fixam as populações humanas e são
desenvolvidas suas atividades, derivando daí valores econômicos e sociais que lhe são atribuídos”
(MARQUES, 2011, p. 25) e, portanto, são elementos integrantes da própria dinâmica
socioeconômica e cultural humana.
Ab’Sáber (1997) menciona que cada paisagem e também os espaços ecológicos, são
complicadas heranças, um legado que acumula interferências gestadas ao longo de tempos
imensos e são de difícil acompanhamento. São segundo o autor (op. cit. p. 01) “herança de
processos geológicos e fisiográficos. Herança de uma longa história vegetacional, traduzida em
biodiversidades regionais”. Desde modo, as formas assumidas pelo relevo são de grande
relevância aos estudos que relacionam a intervenções pontuais ou intensivas sobre a paisagem.
Portanto, na Geografia Física o relevo passa a assumir na visão de Casseti (1991), uma
dimensão de globalidade correspondente ao temário ambiental, pois é um receptor direto no
estrato geográfico de todas as questões que envolvem a relação do homem com o meio natural e
por isso, pressupõe que se faça uma análise em uma perspectiva integrada e sistêmica.
As primeiras referências teóricas sobre uma análise integrada da natureza são observadas
nos já clássicos textos de pesquisadores externos como Sotchava (1977), Tricart (1977) e Bertrand
(1982). No Brasil, destacam-se os escritos de geógrafos que também buscam essa perspectiva de
interpretação analítica, como por exemplo: Christofoletti (1979) e Monteiro (2000)
(SUETERGARAY, 2004).
Para Sotchava (1978 apud ROSS, 2006) os geossistemas são uma classe peculiar de
sistemas dinâmicos abertos e hierarquicamente organizados e que se manifestam no espaço
físico-territorial. Permitem que se crie uma unidade dinâmica em que participem todos os
componentes do mesmo. Por isso que o conceito de geossistema, apesar de possuir uma mesma
base teórica com a do ecossistema, difere-se deste na medida em que no último, os complexos
são monocêntricos e partem de um ponto de vista biológico (op. cit).

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Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
http://seer.uece.br/geouece
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Bertrand (2007, p. 93) entende o geossistema como um “conceito territorial, uma unidade
espacial bem delimitada e analisada a uma dada escala; o geossistema é muito mais amplo que o
ecossistema, ao qual cabe, desse modo, uma parte do sistema geográfico natural”. Este geógrafo
francês amplia ainda mais o horizonte analítico iniciado em Sotchava (1977), pois entende que a
sucessão de tempos e a diversidade de paisagens são também determinantes ao próprio estudo
da natureza nos geossistemas.
Em outra proposição, Cavalcanti et al. (2010, p. 542) entendem o geossistema como:

Um complexo natural que apresentam um padrão espacial (territorial) resultante


de sua história, sua autonomia funcional e da função que desempenha no
contexto em que está inserido. Geossistemas mudam com o tempo (são sistemas
dinâmicos), pois tem uma história.

Bólos i Capdevila (1981), ao analisar a concepção dos geossistema e como este se aplica
aos estudos integrativos da paisagem, menciona que o mesmo pode ser entendido como um
processo e relata que:

[...] en el geosistema encontramos como en cualquier sistema unos elementos,


los subsistemas, en interconexíon que evolucionan en bloque hacia una dirección
concreta. El mecanismo de esta evolución responde a la entrada de una
determinada energía, cuyas características intrínsecas por un lado y sus efectos
sobre el complicado mecanismo que ponen en marcha, por el otro, contribuyen a
caracterizar al geosistema ya que permite definir aspectos muy importantes del
mismo. Gracias a esta transformación constante del conjunto del sistema es que
se puede definir también el geosistema como un proceso (BÓLOS I CAPDEVILA,
1981, p. 51).

Ao convergir com Corrêa (2006), parece-nos evidente que, integrar os estudos que
enfoquem tal situação se faz necessário e o alerta já anunciado, traz novamente à tona na
Geografia, o imperativo da perspectiva geossistêmica, principalmente em sua corrente física, na
medida em que o interesse sobre as possíveis interações que podem ser feitas sobre as esferas
físicas do mundo físico é resgatado além de também o protagonismo humano no meio natural
passa a ser visto como um fator de grande relevância.
Monteiro (1996) menciona que a ideia dos geossistemas ainda continua em progressão e
que muito menos se pode entender que muitos geógrafos já compartilham a ideia, em consenso.
Contudo, ainda são vistas dificuldades neste conceito, que vão desde a transição de
fundamentação teórica para se chegar a estudos e respostas mais práticas, mas que merecem
serem perseguidas, principalmente num momento em que a preocupação para com qualidade
ambiental cresce entre os grandes centros de decisão mundial e já toma contornos de política
pública.
Monteiro (2000) ainda reforça a ideia que o geossistema assume uma proposição de veiculo
integrador da abordagem geográfica, uma vez que o pesquisador reafirma, pessoalmente, o papel
do homem como um “derivador” da natureza, tanto positiva quanto negativa.
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CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO

A bacia hidrográfica do rio São Miguel está situada na porção centro-meridional-leste de


Alagoas entre a mesorregião do Leste Alagoano ou Zona da Mata e a Mesorregião do Agreste
Alagoano (figura 02). Localmente, estende-se entre as microrregiões de São Miguel dos Campos,
Maceió e Palmeira dos Índios. As cabeceiras do rio São Miguel estão posicionadas nas encostas
orientais do planalto da Borborema, de modo mais preciso, na serra de Tanque d’Arca, entre os
municípios de Mar Vermelho e Tanque d’Arca a uma altitude aproximada de 588 metros.

Figura 02: Localização da bacia do rio São Miguel


Fonte: IBGE, 1983 (adaptado por SOUZA, 2012).

2
A bacia drena uma área de 624 km , ao longo do curso de 90 km de extensão que perfaz o
seu canal principal. A região estuarina do rio São Miguel está situada entre os municípios de Barra
de São Miguel e Roteiro, onde este configura um estuário misto em laguna e “ria”. A laguna é um
2
complexo flúvio-estuarino com aproximadamente 7,8 km de extensão e de grande importância
ambiental e ecológica para as comunidades de pescadores que habitam as proximidades do local
(CALHEIROS; GUIMARÃES JÚNIOR, 2010).
Ao definir a bacia hidrográfica como a unidade geoambiental a ser estudada, independendo
da finalidade principal do estudo a delimitação espacial da bacia é uma etapa que permite, de
imediato, reconhecer o ambiente físico que a constitui e que pode particularizá-la como também
mostrar os tipos de usos que a mesma se submete. Uma vez feita a delimitação, proceder a
identificação de conjuntos geológicos, geomorfológicos, pedológicos, climatológicos, hidrográficos
e biogeográficos tornam-se mais factíveis. A adoção da perspectiva sistêmica para estudos
ambientais pressupõe considerar que o meio natural e a paisagem derivada como um palimpsesto,
onde se encontram diferentes e complexos arranjos de forma que se sobrepõem e assim
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Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
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interagem entre si e que geram alterações na configuração final que a paisagem pode assumir
(CORRÊA, 2005). Ao trabalhar dentro da perspectiva dos geossistemas a adoção de material
cartográfico é um dos instrumentos de grande importância para a visualização de maneira mais
factível daqueles componentes e, os próprios trabalhos que emergem de uma análise geográfica
tem, na cartografia, um lastro metodológico dos mais usuais.

Identificação dos Geossistemas da Bacia Hidrográfica do Rio São Miguel

Na identificação dos geossistemas da já referida bacia, optou-se por considerar as unidades de


relevo como o parâmetro e o ponto de partida, devido à disponibilidade maior de informações
acerca destes elementos. Para o reconhecimento destas unidades, foi utilizada a
compartimentação geomorfológica proposta por Ross (2006) para as unidades geomorfológicas do
Brasil, bem como o estudo feito pelo Zoneamento Ecológico-Econômico da Zona Costeira de
Alagoas (ZEEC-AL, 2003) e a proposta de Lima (1979) para a regionalização de Alagoas.
A área de estudo, segundo Lima (1979), encontra-se limitada entre uma base escarpada cristalina,
atravessando partes de depressão periférica e inserindo-se nos baixos planaltos sedimentares dos
tabuleiros costeiros e finalizando na planície sedimentar litorânea (figura 03). A primeira unidade é
representada pelas Encostas Orientais do Planalto da Borborema, na parte oriental do Nordeste.
São arqueamentos cristalinos antigos e com posições isoladas, assemelham-se à estruturas
dômicas e que estão intensamente erodidas.
No médio curso, o relevo tabuliforme é predominante. Possuem topos extensos, formando uma
superfície aplainada com declividades que variam de 0º a 3º. Mostram-se também vales de fundos
chatos e amplos, encaixados na superfície aplainada cujos topos são ocupados por cana-de-
açúcar. O quadro 01 sintetiza a compartimentação geomorfológica da bacia.

Figura 03:
Compartimentação
geomorfológica da
bacia do rio São
Miguel.
Fonte: SOUZA,
2013.

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Quadro 01: Compartimentação geomorfológica da Bacia do Rio São Miguel

Unidades Famílias de formas Padrões de relevo


Morfoestruturais
Domínio interfluvial Domínio fluvial
Colinas com amplitude Planície aluvial, Terraços
Cimeira estrutural
média entre 30 e 50m e fluviais, Canais não-
dissecada
dissecação diferencial confinados.
Planalto da Borborema
Encostas Orientais do

Canais não-confinados,
Cimeira estrutural Colinas com amplitude
Planície aluvial, Terraços
conservada média a partir de 25m
Cimeira fluviais.
Estrutural Formações serranas com Canais semi-confinados,
Pernambuco- Escarpa cristalina
amplitude entre 30 e 50m Planície aluvial estreita,
estrutural
Alagoas e dissecação diferencial Terraços fluviais.
Formações serranas
semelhantes a domos Planície aluvial estreita,
Serras isoladas com amplitude entre 100 Terraços fluviais, Canais
e 300 metros e de alta não-confinados.
Morfoestrutura

dissecação
Superfície aplainada com
Canais não-confinados,
Depressão amplitude média entre 40
Depressão do Médio São Drenagem profunda,
Periférica e 29 metros e de alta
Miguel Planície aluvial ampla.
dissecação.
Colinas com amplitude
Drenagem profunda,
Formações Colinosas média entre 26 a 45m e
Planície aluvial estreita
dissecação diferencial
Tabuleiros Costeiros

Glacis sedimentar com


Canais não-confinados,
Baixo Planalto amplitude média entre 80
Superfície tabuliforme Drenagem profunda,
Sedimentar dos a 120m e de alta
em 4 patamares Planície aluvial ampla
Tabuleiros dissecação
Colinas com amplitude Canais não-confinados,
Colinas Isoladas dos
média entre 20 a 30m e Drenagem profunda
Tabuleiros
dissecação alta Planície aluvial ampla
Colinas com amplitude Canais não-confinados,
Colinas baixas
média entre 10 a 20m e Drenagem profunda
litorâneas
dissecação alta Planície aluvial ampla
Feição de vertente com
amplitude média entre 50
Encosta de contato -------------------
e 20 metros e de alta
dissecação
Planície Costeira

Ondulações suaves com


média amplitude em dois
Planície Costeira Planícies Flúvio- Planície aluvial amplas,
planos: 8 a 10m e 3 a
de Alagoas Marinho-Lagunar Canais de Maré
5m, Laguna, Apicuns,
Praias

Fonte: Organizado por Souza (2012)

A ascensão do modelo capitalista acresceu às formas do relevo, um valor econômico, na


medida em que se multiplicaram as maneiras de uso que foram dadas a elas e, a grande evolução
proporcionada pelo incremento técnico nos modos de produção e notadamente, na agricultura, deu
um novo sentido de uso ao relevo, onde o mesmo é também visto como elemento de organização
e planejamento do território.

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SOUZA J.C.O. de & CORRÊA A.C.de B. O Relevo como ponto de partida ao estudo geossistêmico da
natureza: o caso da bacia hidrográfica do rio São Miguel, Alagoas. Revista GeoUECE - Programa de Pós-
Graduação em Geografia da UECE Fortaleza/CE, v.2, nº3, p.81-97, jul./dez. 2013. Disponível em
http://seer.uece.br/geouece
GeoUECE, v.2, n.3, Julho/Dezembro 2013 ISSN: 2317-028X

Ross (2006) já enfatizou que as formas que são esculpidas pelos processos morfoclimáticos
podem ser facilitadores ou dificultadores da ocupação humana em uma determinada porção de
território e de seus respectivos arranjos espaciais. Na mesma medida, o traçado de rodovias e
ferrovias; o estabelecimento de empreendimentos imobiliários ou industriais e, até mesmo a
definição de atividades agrícolas, passa diretamente pelo uso e a consequente intervenção nos
modelados do relevo para atender a um determinado fim e até na elaboração de propostas
conservacionistas para bens de interesse ambiental.
Ao longo da bacia do rio São Miguel, são apresentadas formas de uso marcadas pelas
feições que o relevo assumiu em cada compartimento geomorfológico. Nas áreas que
correspondem ao Baixo Planalto Sedimentar, principalmente no médio curso, a atividade agrícola
ligada ao cultivo da cana-de-açúcar aproveita a pouca declividade para inserir uma dinâmica
produtiva baseada na colheita mecânica do vegetal; nos trechos mais acidentados como no alto
curso entre a escarpa cristalina e a cimeira, a criação de gado de corte é bastante difundida. As
encostas e a planície sedimentar flúvio-marinho-lagunar voltam-se ao turismo e a conservação
ecológica.
A importância que o relevo assume na definição de geossistemas pode ser vista em diversos
trabalhos (ROSS, 2006; VEADO e TROPPMAIR, 2001; MARQUES, 2011; RODRIGUEZ et al,
2007; ) onde também nos mesmos e outros, a exemplo de Schutzer (2012); Ab’ Sáber (2007) e
Guerra (2011) que demonstraram a importância do relevo no estudo, no ordenamento e no
planejamento territorial.
Veado e Troppmair (2001) chamam atenção que os geossistemas são animados por
variados fatores ambientais, que influenciam diretamente a sua estrutura operacional e o
funcionamento, mas que, o uso que se dá a terra se sobressai, pois, este é um dos elementos que
influencia mais diretamente a organização espacial de um dado território inserido em geossistema.
Assim, entende-se que a compreensão destas maneiras de utilizar o território abrangido por um
geossistema é importante na proposição de uma análise geossistêmica.
Na bacia do rio São Miguel foram identificados quatro geossistemas que apresentam
características marcadas pela ação dos agentes de modelação do relevo e forma fixados os
seguintes geossistemas:

 Geossistema da Cimeira Estrutural Pernambuco-Alagoas. Abrange o alto curso do rio


São Miguel, é caracterizado pela existência de áreas escarpas de alta declividade e tem
sua dinâmica associada à erosão fluvial e pluvial; exumação associada ao intemperismo
físico-químico;
 Geossistema da Depressão Periférica. Engloba o médio curso do já citado rio, apresenta
superfície aplainada e relativamente baixa e tem a sua dinâmica associada à dissecação
pela ação erosiva fluvial e transporte sedimentar;
 Geossistema do Baixo Planalto Sedimentar dos Tabuleiros. Compreende todo o médio e
inicio do baixo curso do rio São Miguel. Possui Superfície aplainada, de média
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declividade e dinâmica ligada a dissecação pela erosão do solo (fluvial e pluvial) e


transporte de sedimentos;
 Geossistema da Planície Costeira. Perfaz todo o baixo curso do rio estudado e possui
planície com influência lagunar e marinha, com áreas de inundação e de baixa
declividade e processos geomórficos associados à sedimentação, fluxo hídrico,
acumulação de matéria orgânica e abrasão marinha.

Figura 04: Geossistemas da bacia do rio São Miguel.


Fonte: SOUZA, 2013

A degradação de geossistemas em áreas tropicais - que são locais com alta produção de
biomassa e grande entrada e reciclagem de energia – são potencializadas pela alta e concentrada
pluviosidade, a instabilidade de sua cobertura vegetal e geológica. Pode ser mencionado também
que a forma de uso do solo que a população das baixas latitudes submete as feições do relevo,
permite que aumente a alteração do quadro natural das condições dos geossistemas.
As bacias hidrográficas são ambientes naturais que recebem segundo Chorley (1962) citado
por Cunha e Guerra (2010), a energia que provém do clima e da tectônica local eliminando
também, fluxos energéticos através da saída da água, dos sedimentos e solúveis. Portanto, estão
expostas a todo tipo de interferência que a ação natural e humana, ou ambas combinadas podem
provocar.
Andrade (2010) menciona que o rio São Miguel é dos grandes rios açucareiros do nordeste
oriental brasileiro. Em suas margens, a atividade pecuarista e canavieira encontraram as condições
edafológicas necessárias ao seu desenvolvimento. Estes tipos de uso que foram dados ao solo da

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bacia, deixaram marcas prementes que a dinâmica econômica do local assumira. Este quadro que
não se alterou significativamente após mais de 300 anos de inserção da cultura da cana-de-açúcar
na bacia.
A bacia do rio São Miguel enquadra-se no que Rodriguez et al (2007) consideram como
paisagem antropogênica, que “[...] concebe-se o sistema natural produtivo composto por
segmentos de natureza levemente e fortemente modificados bem como os sistemas tecnogênicos
(paisagens antrópicas)” (p. 159). Toda paisagem antropogênica constitui-se, grosso modo, um
fenômeno histórico, na qual se arquiteta evoluindo, o meio natural e as etapas de absorção dos
fatores econômicos e sociais trazidos pelo homem e impressos nesta.
Com uma urbanização intensa que fora lastrada pelas atividades agropastoris, a bacia
estudada é fortemente influenciada pela ação combinada (mecânica, física, química e biológica)
que as atividades humanas ocasionaram fato que é demonstrado pela grande descaracterização
que os geossistemas e as geofácies componentes da bacia sofrem de maneira direta.
Os geossistemas na bacia do rio São Miguel foram sendo transformados principalmente
quando novas lógicas de uso iam sendo ajustadas ao solo da área como da adoção de vertentes
econômicas pelo governo estadual a partir da década de 1980, voltadas ao desenvolvimento local
e também pelas forças dos capitais endógenos que atuaram na área e assim, pode-se encontrar
usos diferenciados nos geossistemas da área. Observações in situ foram realizadas para constatar
os tipos recorrentes de impactos ambientais que acometem a área da bacia e se percebe que
ainda é muito tênue equilibrar a conservação dos geossistemas às dinâmicas de uso
historicamente inseridas nos mesmos.
Sinteticamente, a figura 05, aponta os principais impactos dos geossistemas na bacia do rio
São Miguel, tendo por base as categorias apontadas por Vicente da Silva (1998, apud
RODRIGUEZ et al, 2007) para a avaliação dos impactos ambientais em ecossistemas do litoral de
Icapuí, estado do Ceará.

Figura 05: Principais Impactos Ambientais nos Geossistemas da Bacia do Rio São
Fonte: Adaptado de Vicente da Silva (1998, apud RODRIGUEZ et al, 2007), por Souza, 2012.
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Na bacia hidrográfica estudada, os impactos oriundos das atividades humanas se alastram


por todos os geossistemas da bacia e alteram, em graus variados, a dinâmica ambiental que é
inerente a cada geofácie da área estudada. Ao mencionar Giddens (1991) Souza e Zanella (2010)
inferem que o risco que os ambientes naturais enfrentam pode ser considerado como “fabricado”
pelo fator humano e que aqueles, dependem menos das contingências naturais e cada vez mais
de situações culturais e sociais da história antrópica sob a paisagem para que possam ser
desencadeados desastres “naturais”. No quadro 02, são apresentadas, resumidamente, as
principais características dos geossistemas e os impactos ambientais de cada.

Quadro 02: Dinâmica natural e impactos ambientais recorrentes.


DINÂMICA USO E DEGRADAÇÃO ESTADO
GEOSSISTEMA
NATURAL OCUPAÇÃO ANTRÓPICA AMBIENTAL

Área Culturas Erosão,


Cimeira Erosão fluvial e
escarpada temporárias queimadas,
Estrutural pluvial; exumação Medianamente
com alta (abacaxi, milho, poluição do solo e
01 Pernambuco pelo intemperismo estável
declividade feijão) e desmatamento.
-Alagoas físico e químico.
(20-45%) pecuária. .

Culturas
Superfície Dissecada pela Erosão,
Depressão temporárias
aplainada e ação erosiva queimadas, Medianamente
Periférica (milho, feijão e
02 relativamente fluvial e transporte poluição do solo e estável
cana-de-açúcar)
baixa (3-8%). sedimentar desmatamento.
e pecuária
Erosão,
voçorocas,
Baixo Culturas
Superfície Dissecada pela alteração de
Planalto temporárias
aplainada, de erosão do solo ecossistemas,
Sedimentar (cana-de- Instável
média (fluvial e pluvial) e compactação do
03 dos açúcar),
declividade transporte de solo, poluição do
Tabuleiros mineração e
(8-13%). sedimentos solo e
pecuária
contaminação
hídrica.
Planície com
Desmatamento,
influência Turismo intenso,
alteração de
lagunar e Sedimentação, recreação e
ecossistemas
Planície marinha, com fluxo hídrico, lazer, culturas
assoreamento, Crítico
Costeira áreas de acumulação de temporárias,
04 contaminação
inundação e matéria orgânica e extrativismo
hídrica, poluição
de baixa abrasão marinha. vegetal e
do solo e declínio
declividade animal.
da pesca.
(0-3%).
Fonte: Adaptado de Cavalcanti (1996, apud RODRIGUEZ et al, 2007), por Souza, 2012.

Veado e Troppmair (2001) chamam atenção que os geossistemas são animados por
variados fatores ambientais, que influenciam diretamente a sua estrutura operacional e o
funcionamento, mas que, o uso que se dá à terra se sobressai, pois, este é um dos elementos que
influencia mais diretamente a organização espacial de um dado território. Assim, entende-se que a
compreensão destas maneiras de utilizar o território de um geossistema é importante na
proposição de uma análise geossistêmica.

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natureza: o caso da bacia hidrográfica do rio São Miguel, Alagoas. Revista GeoUECE - Programa de Pós-
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CONCLUSÃO

Este estudo buscou realizar, a partir da abordagem geossistêmica, a análise da bacia


hidrográfica do rio São Miguel, sistema hídrico localizado na porção oeste-noroeste de Alagoas e
com foz no litoral médio do referido estado, na perspectiva de contribuir para o reconhecimento da
natureza tendo o relevo como o ponto de partida e referenciar medidas de ocupação daquele
território.
Teve-se como eixo integrador central neste estudo, a compartimentação geomorfológica que
é encontrada na bacia, pois as formas de relevo que se organizaram são os indicativos de
processos morfológicos que tiveram na interação dos elementos naturais, sua principal causa de
esculturação. Também vale justificar que o relevo é palco primário onde acontece de modo
evidente, a interações do homem com a natureza e aonde são concretizadas as transformações
advindas desta relação e logo, são elementos aplicáveis à análise geossistêmica.
Os geossistemas apresentaram-se como uma interessante possibilidade teórica para o
estudo da natureza e de seus sistemas componentes no âmbito da Geografia, devido ao seu
grande ativismo e logo, a natureza e seus sistemas podem ser apresentados como elementos
interatuantes, mutáveis e não estáticos sendo oscilados pelas forças internas e externas. O relevo
surge, portanto, como a concretização das feições que os geossistemas assumem diante do
espaço geográfico, sendo um conjunto indissociável de eventos naturais e humanos sucessíveis e
variáveis.
Portanto, o estudo da bacia hidrográfica visou sistematizar os conhecimentos sobre a
natureza e sua estrutura, os elementos que a compõe, a maneira pela qual uns influenciam os
demais, o papel de cada um deles na dinâmica geral da unidade ambiental e como o homem os
modifica, criando novas estruturas morfo-ambientais na organização espacial do território. Assim,
essa proposta considera também a importância ecológica, as fragilidades e as limitações no
tocante ao uso socioeconômico e a compatibilidade das atividades com as características
geoecológicas.

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Agradecimento.
A CAPES pela concessão da bolsa de Mestrado

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