BAIARDI, Amilcar - Subordinação Do Trabalho Ao Capital Na Lavoura Cacaueira Da Bahia

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BAIARDI, Amilcar. Subordinagdo do trabatho ao capital na tavoura cacaueira da Bahia. Sao Paulo, Salvador, Hucitec, 1984. 156p. (Estudos Rurais, 4), Por que teria a cacavicultura baiana conservado, até os dias atuais, os mesmos tragos fundamentais da estrutura produtiva do fim do século passado e a quase imo- bilidade das relagdes sociais de produgdo, a despeito do inegavel surto de moderni- zagao agricola verificado nas ultimas décadas? Se se pudesse resumir numa pergunta, a dimensio total do problema analisado por Amilcar Baiardi, em “Subordinago do Trabalho ao Capital na Lavoura Cacauei- ra da Bahia”, esta certamente seria a questo basica. Nao se trata, simplesmente, de mais um estudo sobre o sistema produtivo da lavoura de cacau no sul baiano. A originalidade do trabalho estd em nfo se limitar ao esforco descritivo linear do siste- ma produtivo. Ele privilegia a andlise das relagdes de produgdo e comercializagao da lavoura, aprofundando nas causas que viabilizam a reprodugo do capital ao lado de formas ndo capitalistas, exibindo sempre a critica da subordinagdo do trabalho aos interesses do capital. A orientagdo tedrica estd fundamentada na andlise marxista, Cad. Dif. Tecnol., Brasilia, 2(2):313-327, maio/ago. 1985 326 que empresta os conceitos fundamentais reportados nas categorias mercadoria, trabalho, terra e capital. Essas categorias “sdéo manejadas com pericia e precisio pelo autor, que assim consegue chegar a excelentes resultados, penetrando a fundo no significado da realidade que examina, sem se deixar deter pelas suas caracteris- ticas superficiais e sem descaminhar para vas elucubragGes teéricas”, como acentua Tamas Szmrecsényi, que prefacia a obra, emprestando a sua talentosa avaliagio ao mérito do trabalho. Os pressupostos da andlise pontificam o estudo das estruturas das relagdes sociais de produg4o e comercializacdo, sendo destacados dois niveis de andlise: em primeiro lugar, arelago de subordinagao entre o capital agrdrioe a forga-de-trabalho assalariada. Essa relagdo, que responde por mais de 90% da produgao, assenta-se no assalariamento cldssico eminentemente capitalista, onde os meios de produgao sio dominados pelo capital. Depois, so avaliadas as relagdes de subordinagao verifi- cadas entre a unidade de produgao capitalista e a unidade de produgao familiar. Aqui, evidencia-se a transferéncia de valor da unidade familiar para o capital agrdrio, mediante subordinagdo da forga de trabalho familiar, como unidade de consumo de meios de produgdo e de venda de produtos cultivados para alimentagao humana e animal. Concluida a primeira etapa, que eventualmente pode estimular o leitor a uma Tecorréncia a textos fundamentais do Capital, de Marx, e a Questo Agraria, de Kautsky, 0 capitulo 2 dedica-se a caracterizagao da regido cacaueira e 4 historia econémica dessa atividade no sul da Bahia. Essa historia, condensada na descrigao de cinco ciclos, desde o desbravamento da regido até os anos recentes, desperta o interesse nfo apenas pela qualidade da andlise, no sentido de contetido, como tam- bém do ponto de vista literdrio, cuja clareza e precisio tornam agraddvel a sua leitu- Ta. Segue o capitulo 3, que constitui a base empirica do estudo, onde se carac- terizam os sistemas de producdo e comercializa¢do vigentes. Neste particular, obser- va-se que a unidade de produgdo capitalista e a unidade de produgao familiar con- Servam os mesmos tragos comuns da subordinagdo do trabalho ao capital. Isso é claramente demonstrado na apropriagdo da mais valia do trabalho assalariado e o trabalho vinculado 4 terra, como também nas relagdes da unidade de producio fa- miliar com o capital comercial. A unidade de produgdo familiar, na sua relagdo com a unidade de producdo capitalista, transfere valor mediante o trabalho vivo ¢ a re- muneragdo inferior ao prego da forga de trabalho no mercado livre. Além disso, transfere valor ao vender, a precos mais baixos, produtos de alimentagdo por ela cultivados, garantindo a reprodugdo da forga de trabalho e a sub-remuneracado por Cad. Dif. Tecnol., Brasilia, 2(2):313-327, maio/ago. 1985 326 parte da unidade de produgdo capitalista. No que se refere 4 relagdo com o capital comercial, a interagdo nao é diferente: a pequena produ¢do familiar, chamada pro- dugdo burareira, em razdo de coergdes de ordem econdmica e extra-econémica, no tecebe pelo produto o mesmo prego de mercado valido para a produgo capitalista. Nao passa despercebida, também, a presenga do Estado como reforgo 4 posigdo do capital monopolista na tegido. A cria¢do da CEPLAC no fim da década de 50 te- tia sido o principal vetor dessa presenga, contribuindo decisivamente para conso- lidar o processo de concentragado de renda e capital, em beneficio da burguesia agrdria e comercial. No capitulo final, o Autor, 4 guisa de conclusdes, procura retomar as questdes mais fundamentais do estudo, verificando possiveis tendéncias da persisténcia da pequena produgdo familiar ante o avanco do capital agrdrio, especulando a respeito do futuro das atuais formas de dominagdo do capital sobre o trabalho na regido cacaueira. Estas, a se manter a atual correlagdo de forc¢as que o Estado representa € suas respectivas estruturas de poder, nfo sofreriam maiores transformag6es, pelo menos nas proximas trés décadas. Fica, portanto, o registro e a recomendagdo. Subordinagfo do Trabalho ao Capital na Lavoura Cacaueira da Bahia, de Amilcar Baiardi, é uma obra que nfo pode deixar de ser lida, sobretudo pela originalidade do tratamento tedrico e meto- dolégico que a distingue de outros estudos realizados antes naquela regifio. Cyro Mascarenhas Rodrigues EMBRAPA/DDT Cad. Dif. Tecnol., Brasilia, 2(2):313-327, maio/ago. 1985 327

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