P-037 - o Planeta Louco - Clark Darlton - Projeto Futurâmica Espacial
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O Planeta Louco
Clark Darlton
Tradução
Richard Paul Neto
Digitalização
Pescado Na Net
Revisão
Arlindo_San
Formatação
ÐØØM SCANS
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Finalmente chegou a grande hora do peque-
no Gucky — e o sargento Harnahan descobre
uma coisa inacreditável.
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Personagens Principais:
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1
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No primeiro instante, Harn pensou que aca-
bara de perder o juízo e estava vendo e ouvindo
alucinações.
Quanto ao ouvido, era bem mais fácil acredi-
tar numa ilusão dos sentidos. Com a vista a coi-
sa era diferente. A esfera reluzente continuou
no mesmo lugar. Permaneceu diante dos pés de
Harnahan, imóvel e como que em expectativa.
Tinha aproximadamente o dobro do tamanho
de uma bola de futebol.
Parecia ser de metal, mas se alguém contas-
se a Harn que era de gesso, estaria inclinado a
acreditar nisso. De repente teve a impressão de
que alguma coisa estava acontecendo ao seu
cérebro. Sentiu que não era nada de mal, e não
havia nenhum tom de ameaça naquela pesquisa
que procurou misturar o consciente e o sub-
consciente. Subitamente voltou a soar a voz si-
lenciosa, que já acreditara ter ouvido:
— Não, Harnahan, seu estado é perfeita-
mente normal. O que você vê e sente é pura re-
alidade. Comecei a sentir seus pensamentos
quando você se aproximava deste mundo. Não
quis assustá-lo; por isso resolvi esperar que você
me descobrisse.
Harn teve a impressão de que a esfera esta-
va modificando os reflexos coloridos de sua su-
perfície polida. Aos poucos foi se tornando pre-
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ta como o espaço cósmico. As estrelas distantes
refletiam-se nela como nas águas profundas de
um lago. Ao fitá-la com mais atenção, Harn
percebeu que as estrelas aumentavam de tama-
nho e se aproximavam.
— Não se espante, Harnahan, mas sou ca-
paz de oferecer a imagem ótica dos meus pen-
samentos. O que deseja ver? A nave em que
veio? O planeta do qual decolou? Ah, não é seu
mundo, pelo que vejo.
Harn viu que as estrelas se deslocavam na
superfície negra e, perplexo, contemplou a cú-
pula reluzente de seu caça. Parecia que se en-
contrava vinte metros acima do cume da mon-
tanha.
— Que coisa incrível! — exclamou. —
Como é possível? Que técnica é capaz...?
— A natureza encerra tesouros muito mais
ricos que a tecnologia.
A frase gravou-se em seu cérebro com a for-
ça do fogo. O ser estranho devia tê-la formula-
do em pensamento. Aos poucos Harn começou
a compreender que a esfera que tinha diante de
si não era uma obra-prima da tecnologia de al-
guma raça desconhecida. Era um membro da
raça.
A esfera vivia.
— É claro que vivo, Harnahan, mas estou
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só. Não existe outro ser da minha raça, a não
ser que o acaso o tenha criado, como fez comi-
go. Todo início de vida tem sua origem no aca-
so divino, Harnahan. Pela sua escala de tempo
tenho cerca de cinco milhões de anos.
“Enlouqueci; não há dúvida!”, pensou Har-
nahan desesperado. Mas a esfera continuava no
mesmo lugar. Deitada aos seus pés, voltou a
exibir na superfície fortemente abaulada a pro-
fusão das estrelas. E a esfera também pensava,
e pensava de tal forma que ele entendia. Era in-
teligente e possuía capacidades telepáticas. Bas-
tava pensar para que ela o compreendesse.
— Sim, compreendo e sei qual é o motivo
da sua presença. São os mercadores galácticos.
Ajudarei você e Perry Rhodan.
Harn ficou estupefato.
— O que sabe a respeito de Rhodan? —
perguntou em voz alta no interior de seu capa-
cete. De repente teve a idéia louca de que a pe-
quena esfera que via diante de si poderia ser
uma nave espacial em miniatura, na qual se
abrigassem inteligências incrivelmente peque-
nas.
— Sei quase tudo a respeito de Rhodan.
Mas não se preocupe. Comigo qualquer saber
está em boas mãos. Mais uma coisa: sou capaz
de viver em qualquer lugar, mesmo no vácuo.
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Minha forma esférica é a mais favorável das for-
mas. A ausência de pressão e a pressão elevada
são por ela compensadas com a maior facilida-
de.
Naquele mundo sem atmosfera Harnahan
defrontou-se com o maior dos milagres jamais
visto por um olho humano. Acima dele fulgura-
va a luz das estrelas, trazendo à sua consciência
a solidão infinita em que se encontrava. Estava
só e teria que lidar com o impossível.
— Sua raça é muito poderosa, Harnahan,
mas mesmo a mais poderosa das raças tem
suas fraquezas. Até eu. Há sete séculos estou
nesta lua e armazeno energias para prosseguir
na minha viagem pelo Universo. A radiação das
estrelas é fraca. Basta para manter-me vivo e
guardar uma parcela insignificante. Terei que
aguardar mais um milênio para prosseguir na
minha viagem.
— Não compreendo, aliás, já não estou
compreendendo mais nada — gemeu Harn,
amargurado pela incapacidade de compreender
o incompreensível. — Quem... o que é você?
Uma súbita alegria tomou conta do cérebro
de Harnahan. Teve a impressão de que a esfera
estava rindo. Mas respondeu a pergunta.
— Você está aqui para esperar as naves dos
saltadores, que pretendem atacar um mundo in-
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defeso. Os terranos querem ajudar os seres in-
defesos. Estou disposto a não lhes negar meu
apoio, desde que receba um pagamento ade-
quado.
— Um pagamento? — disse Harn quase
sem fôlego.
— Isso mesmo. Um pagamento em energia.
Vocês têm bastante. Eu os ajudo na luta contra
os saltadores, e em compensação vocês me dão
energia. Ao menos o suficiente para que possa
chegar mais perto do sol. Uma vez lá, poderei
cuidar de mim.
“Rhodan!”, pensou Harn. “Não posso fazer
nenhuma concessão. Se ele recusar. Mas que
motivos teria para recusar?”
— Eu os ajudarei — interrompeu-o a esfera.
— Como?
— Isso depende da situação. O mínimo que
posso fazer é comunicar a posição das naves a
qualquer instante. Naturalmente terei que limi-
tar-me às mensagens óticas. Minhas reservas de
energia não são suficientes para uma interven-
ção pessoal. Vá buscar sua nave!
— Minha nave? Para quê? Está camuflada,
para que os saltadores não a descubram.
— Você pode entrar em contato com Rho-
dan sem recorrer à nave?
Harn sacudiu a cabeça.
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— O que acontecerá se eu for descoberto
por uma nave dos saltadores?
— Minhas reservas energéticas bastam para
lidar com uma situação desse tipo — prometeu
o ser estranho. — Vá buscar sua nave.
Harn olhou para o relógio. Já era tarde. Seu
passeio sobre os morros e os vales havia consu-
mido muito tempo. E agora a longa conversa
com... com quem mesmo? Suspirou.
— Não estarei de volta antes de uma hora, e
ali poderemos esperar a qualquer momento que
alguém descubra esta lua por acaso e comece a
inspecionar a mesma.
— Pois então esse alguém se arrependerá
por acaso — foi a resposta. — Vá logo, senão
ficará mesmo tarde. Depois responderei a todas
as perguntas formuladas por você.
Por mais alguns segundos Harnahan, mer-
gulhado em pensamentos, fitou a esfera que
emitia um brilho negro. Depois virou-se sem di-
zer uma palavra e com um forte impulso afas-
tou-se do solo.
Com três saltos transportou-se à planície.
***
***
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Quando se materializou mais ou menos no
ponto em que o vale descrevia uma curva,
Gucky viu um grupo de uma dezena de goszuls
que corria em sua direção. Gesticulavam com
os braços e soltavam gritos de pavor.
Gucky esforçou-se em vão para descobrir o
que deixara os nativos tão desatinados. Não viu
nenhum robô descontrolado.
Antes que os goszuls chegassem ao lugar em
que se encontrava, deu um salto de algumas
centenas de metros e se materializou atrás de-
les. O guarda que informara Borator sobre a
ocorrência devia encontrar-se na saída do vale.
Era o primeiro robô que Gucky desativara na-
quele dia.
Mas por enquanto o rato-castor encontrou
uma coisa diferente.
Os cadáveres de quatro goszuls apontavam-
lhe o caminho.
Era por aqui que devia estar escondido o
robô não reprogramado, e que por isso mesmo
continuava a agir obstinadamente segundo as
ordens dos saltadores. Só assim se explicava
que escapara à operação geral de limpeza.
A ausência de um mecanismo de tele dire-
ção fizera com que agisse independentemente.
No seu esconderijo pôde observar que o vale e
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o estaleiro foram ocupados pelos goszuls e por
alguns desconhecidos. Também testemunhara a
reprogramação de seus colegas.
A rigor devia atacar o estaleiro e o contin-
gente de robôs transformados em inimigos, mas
até mesmo uma máquina pensante tem um cer-
to instinto de autoconservação, desde que seu
construtor o julgue conveniente.
RK-176 sabia que não teria a menor chance
contra os noventa e nove colegas. Talvez con-
seguisse destruir dez ou vinte deles num ataque
de surpresa, mas depois disso havia uma certe-
za absoluta de que sucumbiria sob a superiorida-
de. Era necessário que levasse para o mundo
exterior a notícia do que estava acontecendo
por aqui. Os governantes precisavam conhecer
os fatos que se passavam no vale. Na saída do
vale havia um único guarda. Se conseguisse eli-
minar o mesmo, o caminho para a cidade esta-
ria livre.
Pôs-se a caminho e foi ter diretamente com
os vinte goszuls. Os nativos haviam passado na-
quele instante pelo guarda postado na entrada
do vale, que já conheciam. Já não estranhavam
os robôs. RK-176 agiu com uma rapidez enor-
me e com uma irreflexão fora do comum quan-
do abriu fogo contra os nativos inocentes e ma-
tou quatro deles. Só teve consciência de seu
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erro quando o resto do grupo fugiu aos gritos.
Era tarde para voltar atrás.
O guarda robotizado da entrada do vale tes-
temunhara o fato.
RK-176 deixou os goszuls em paz e dirigiu-
se para a passagem estreita entre as rochas,
onde a figura solitária do guarda surgia nitida-
mente na sombra de algumas moitas. Dali a
pouco a caça ao mesmo teria início.
Se tivesse condições para isso, teria dado
um sorriso amargo. Mas era um robô e não sa-
bia sorrir. Em compensação a consciência não
lhe doía.
Sabia muito bem o que devia fazer.
Seus braços de combate estavam na hori-
zontal, em posição de tiro. Manteve os olhos
rígidos fitos no novo inimigo e marchou em di-
reção ao guarda.
O receptor embutido em seu corpo permitiu
a RK-176 constatar que seu aparecimento já
não era nenhum segredo.
Gucky chegou com alguns minutos de atra-
so.
Encontrou os destroços derretidos de um
robô e junto aos mesmos traços de moitas e ca-
pim queimado. Até mesmo na rocha lisa nota-
vam-se os vestígios dos disparos energéticos.
Mas do robô revoltado não se via nada. Devia
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ter uma vantagem considerável.
Gucky lançou um olhar de lástima para o
montão de destroços e teleportou para o cume
da montanha, rochas que se elevavam quinhen-
tos metros acima da planície. Dali se enxergava
quase até o mar, se o tempo estivesse bem lim-
po.
Hoje não estava. Mas a visibilidade bastava.
A uns quatro ou cinco quilômetros dali mo-
via-se um pontinho negro, que vez ou outra,
quando refletia os raios solares, emitia um bri-
lho prateado. Deslocava-se rápida e firmemente
na direção sudoeste.
Era ele!
Gucky sorriu cheio de expectativa. Seu ins-
tinto lúdico triunfou sobre as boas maneiras. Fi-
nalmente tinha uma oportunidade de dar uma
demonstração de sua arte. Era uma pena que
não havia nenhum espectador.
Bem, isso poderia ser mudado...
RK-176 marchava numa velocidade conside-
rável, mas evidentemente sua velocidade não
bastava para escapar de um teleportador do
tipo de Gucky. Nem desconfiava de que estava
sendo perseguido e acreditava que sua tentativa
de fuga fora bem sucedida.
Seu cérebro positrônico ainda procurava por
uma explicação lógica dos acontecimentos que
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se desenrolaram no estaleiro. Não a encontrou.
Gucky materializou dez metros atrás do robô
e concentrou-se inteiramente na sua capacidade
telecinética. Os fluxos invisíveis de seu espírito
atingiram o monstro metálico e imobilizaram-
no.
RK-176 parou imediatamente. Parecia que
de um instante para outro estava condenado à
imobilidade por uma falha de seu mecanismo.
Mas o caso não era este. Pelo contrário: o dis-
positivo positrônico passou a desenvolver uma
atividade febril, mas não encontrava resposta às
perguntas que formulava.
— Você matou quatro pessoas — disse
Gucky em intercosmo, cuidando para que o
robô não pudesse executar nenhum movimen-
to. — Por isso será transformado em sucata.
Tem alguma coisa a dizer antes disso?
RK-176 respondeu com a voz metálica:
— Agi de acordo com as ordens que recebi.
Nenhum goszul pode permanecer nas proximi-
dades do estaleiro. Quem é você?
— Acredito que você gostaria de saber.
Bem, eu lhe permito uma meia-volta. Mas se
quiser atirar contra mim, avise antes. Pois nesse
caso o assunto será liquidado logo.
Era claro que o robô tentaria matá-lo. Gucky
tinha certeza absoluta disso. O robô não pode-
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ria agir de outra forma.
E ele o fez assim que viu o rato-castor.
As duas descargas energéticas passaram lon-
ge de Gucky.
— Você acaba de proferir sua própria sen-
tença de morte — chiou Gucky, fitando as len-
tes do monstro. — Agora você vai aprender a
voar...
RK-176 não estava regulado para o vôo.
Seu cérebro registrou o fato inexplicável de que
a gravidade do planeta diminuiu de uma hora
para outra e que aparentemente ele mesmo já
não pesava nada. E não era só isso: ficara mais
leve que o ar.
RK-176 subiu como um balão.
Gucky teleportou-se de volta para a entrada
do vale e a partir dali dirigiu sua vítima com
muita habilidade e alegria. O que aumentava o
efeito do espetáculo era o fato de que RK-176
disparava ininterruptamente os dois canhões de
radiações, procurando conseguir um impacto
casual.
Marshall apareceu correndo na curva da en-
trada do vale e viu que seu esforço seria recom-
pensado. O espetáculo que presenciou bem que
valia uma corrida.
A menos de trinta metros Gucky escava sen-
tado numa moita de capim, lembrando um ae-
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romodelista que, com a alegria do construtor,
faz seu artefato teleguiado descrever curvas no
céu. No fundo, Gucky não era outra coisa.
O robô subiu a mais de quinhentos metros e
parou. Não passava de uma mancha pequenina
que se destacava contra o céu e sem parar es-
pelia raios energéticos refulgentes. Ainda bem
que Gucky segurava sua vítima de tal maneira
que se tinha a impressão de que o robô preten-
dia derrubar alguma estrela invisível.
Subitamente o ponto começou a cair e au-
mentou rapidamente. Gucky virou-se e deu um
sorriso amável para Marshall.
— Daqui a pouco você vai ouvir um estouro
— profetizou. — Esse negócio vai explodir.
Nunca experimentei de uma altura dessas.
— Por que vai destruí-lo? — perguntou
John, que sabia perfeitamente que o rato-castor
notara sua vinda por via telepática e por isso
não estava surpreso. — Qualquer robô pode ser
reprogramado...
— Este não — disse Gucky, sacudindo a ca-
beça e acompanhando a queda cada vez mais
rápida do monstro metálico, que continuava a
disparar loucamente. — Seria muito complica-
do. Você tem a mania de estragar qualquer ale-
gria que eu tenha...
— Mas...
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John calou-se. Também ficou fascinado pelo
espetáculo. E sabia que Gucky não era tão fácil
de convencer. Devia ter uma raiva tremenda da-
quele robô que descia numa velocidade enorme
e atingiu o solo a quinhentos metros do lugar
em que se encontravam.
No primeiro instante teve-se a impressão de
que nada aconteceria. O peso de RK-176 fez
com que o mesmo penetrasse profundamente
no solo rochoso. O fenômeno foi reforçado
pelo fato de que os radiadores energéticos que
continuavam a disparar haviam derretido a ro-
cha, motivo por que o robô caiu praticamente
numa poça de lava incandescente.
Subitamente sentiram-se ofuscados por um
raio. Por alguns segundos uma nuvem branca
em forma de cogumelo cobriu o lugar, até que
ela se dissipasse com o vento.
Gucky suspirou fortemente.
— Foi uma bela derrubada!
Indignado, John Marshall aproximou se e
colocou a mão sobre o ombro do rato-castor.
Para isso teve que abaixar-se.
— Nunca pensei que você se alegrasse tanto
com a destruição.
— Às vezes gosto.
De repente Gucky olhou para o céu azul e
estreitou os suaves olhos castanhos. Sem mudar
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de tom, prosseguiu:
— Segure minha mão. Vou saltar para o es-
taleiro. É preferível que venha comigo.
John sabia que Gucky não teria nenhuma di-
ficuldade em levá-lo consigo. Mas antes que isso
acontecesse, também olhou para o céu.
***
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O PLANETA LOUCO encenou a loucura
para libertar-se dos seres que o oprimiam.
O estratagema da doença aparentemente
incurável, usado para repelir os mercadores
galácticos, foi coroado de um êxito fulminan-
te. Finalmente Perry Rhodan pode preparar
o AVANÇO PARA ÁRCON, há tanto plane-
jado...
AVANÇO PARA ÁRCON é o título do
próximo volume da série Perry Rhodan.
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