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br/geografar
Curitiba, v.16, n.1, p.229-248 jan. a jun./2021 ISSN: 1981-089X
Resumo
Os municípios de Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí respondem pela maior parte da
produção mineral de quartzito no estado do Piauí. O quartzito é amplamente utilizado na construção
civil, como revestimento e outros usos, sendo uma fonte econômica da região há décadas. No entanto,
sua exploração vem ocasionando um conjunto de impactos ambientais na área. Dessa forma, o
presente trabalho objetivou analisar a cadeia produtiva do quartzito, no intuito de evidenciar os
principais impactos derivados dessa atividade na área em estudo. A metodologia empregada baseou-
se em levantamentos bibliográficos e cartográficos, entrevista semiestruturada e visita in loco,
considerando o polo responsável pela extração, fornecimento e processamento das rochas. Os
resultados demonstraram o potencial econômico desse recurso natural na região, mas foi possível
perceber diversos impactos socioambientais, tais como: pressão sobre os recursos hídricos, perda da
biodiversidade, em virtude da supressão vegetal, e alteração na paisagem natural da área, tendo em
vista os rejeitos do processo produtivo do quartzito. Dessa forma, é de fundamental importância a
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CADEIA PRODUTIVA E IMPACTOS AMBIENTAIS DA EXTRAÇÃO DE QUARTZITO NOS MUNICÍPIOS DE CASTELO DO
PIAUÍ E JUAZEIRO DO PIAUÍ
Abstract
The municipalities of Castelo of the Piauí and Juazeiro of the Piauí account for most of the
quartzite mineral production in the state of Piauí. Quartzite is widely used in civil construction, as
cladding and other uses, and has been an economic source in the region for decades. However, its
exploitation has been causing a set of environmental impacts in the area. Thus, the present work aimed
to analyze the quartzite production chain, in order to highlight the main impacts derived from this activity
in the study area. The methodology employed was based on bibliographic and cartographic surveys,
semi-structured interviews and on-site visits, considering the pole responsible for rock extraction, supply
and processing. The results demonstrated the economic potential of this natural resource in the region,
but it was possible to perceive several socioenvironmental impacts, such as: pressure on water
resources, loss of biodiversity due to vegetation suppression, and change in the natural landscape of
the area, considering the tailings of the quartzite production process. Thus, the implementation of
mitigation measures that mitigate environmental impacts in the area is of fundamental importance,
corroborating the already perceived trend scenarios in the mining sectors.
Keywords: Mineral Extraction; Economic Potential; Ornamental rock.
Introdução
O uso de recurso natural não é novidade para a sociedade, nem mesmo considerado
inapropriado, já que essa é sua finalidade e assim é feito desde os primórdios da humanidade. O
problema surge quando foge ao controle sobre o ritmo e a intensidade de exploração deste (SANTOS
et al., 2014), tendo em vista que a natureza é um todo integrado.
Menciona-se que a extração de rocha e mineral é uma das principais fontes de insumos
essenciais para a vida do homem, apresentando-se como atividade intrinsecamente ligada ao
comportamento e aos anseios da humanidade (SOUZA et al., 2017). Entretanto, necessário se faz uma
mineração mais eficiente, já que a exploração mineral em si já é uma atividade não sustentável do
ponto de vista temporal, em virtude de sua característica não renovável.
Ao considerar a diversidade geológica presente no estado do Piauí, os municípios de Castelo
do Piauí e Juazeiro do Piauí possuem jazidas de quartzitos que respondem por quase 100% das
exportações piauienses de produtos de base mineral, conferindo-lhes a denominação de Polo de
Mineração e Garimpo de Rochas Ornamentais (BRASIL, 2008).
Vale salientar que a terminologia quartzito foi utilizada no artigo em virtude de ser a
denominação local para designar a “pedra” extraída comercialmente. Não obstante, corrobora-se que
estas são rochas areníticas, no qual o cimento que ligava os grãos de areia se cristalizou (GUERRA;
GUERRA, 2008).
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Materiais e métodos
Área de estudo
Os municípios de Castelo do Piauí (Latitude 5° 10’ 20” S) e Juazeiro do Piauí (Latitude 5° 19’
20” S) estão localizados no centro-norte do estado do Piauí, na microrregião geográfica de Campo
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Maior (Figura 1). Castelo do Piauí possui uma área de 2.035,2 km² e dista cerca de 184 km da capital
do Piauí, Teresina. O município de Juazeiro do Piauí possui área de 827,2 km² e fica a 160 km de
Teresina. Ambos têm como drenagem principal o Rio Poti, importante afluente da margem direita do
Rio Parnaíba.
Vale salientar que o Grupo Serra Grande marcou o início da sedimentação da Bacia do
Parnaíba, com a deposição de um pacote de arenitos conglomeráticos, além de arenitos intercalados
com siltitos, folhelhos e argilitos. O grupo Canindé, por sua vez, ao incluir as Formações Longá,
Pimenteiras e Cabeças, é caracterizado pela alternância de estratos pouco espessos de arenitos finos,
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argilosos, cinza-avermelhados, enquanto sua textura mais grosseira (arenosa) varia de cinza-claro a
tons que variam do vermelho ao roxo (PFALTZGRAFF et al., 2010).
O quartzito extraído faz parte do domínio das rochas sedimentares paleomesozoicas pouco a
moderadamente consolidadas, correspondente à Formação Cabeças, constituída de arenitos, folhelhos
e siltitos arenosos, e apresentando aspecto fraturado (CPRM, 2006).
Ao considerar a estrutura geológica, é nítido na paisagem que os reflexos morfoesculturais que
permeiam o ambiente dos municípios estudados, encontram-se compartimentados nos seguintes
setores, a saber: I) Planaltos e baixos platôs; II) Superfícies aplainadas degradadas; III) Inselbergs e;
IV) Degraus estruturais e rebordos erosivos (PFALTZGRAFF; TORRES; BRANDÃO, 2010).
De acordo com Pfaltzgraff; Torres; Brandão (2010), os planaltos e baixos platôs são feições
típicas dos estratos rochosos dispostos em superfícies aplainadas degradadas, a exemplo da formação
Cabeças; as superfícies aplainadas degradadas são superfícies de aplainamento, suavemente
onduladas, promovidas pelo arrasamento geral dos terrenos e posterior retomada erosiva
proporcionada pela incisão suave da rede de drenagem; os inselbergs são relevos residuais isolados,
destacados na paisagem aplainada, remanescentes do arrasamento geral dos terrenos e; os degraus
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A hidrografia dos municípios é composta por rios de regimes intermitentes, dentre os quais se
destacam os rios São Miguel, Capivara, Parafuso e, de regime perene, o Rio Poti, sendo este um
importante afluente da margem direita do Rio Parnaíba, eixo principal da drenagem piauiense (CEPRO,
1990).
De acordo com a classificação da EMBRAPA (2013), os tipos de solos encontrados na região
são: Luvissolos, Argissolos, Neossolos, Plintossolo e Latossolo. Na área onde se localizam as
pedreiras, predominam manchas de solos do tipo: Argissolos e Neossolos, resultante, principalmente,
do intemperismo atuante do arenito (Figura 4).
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com aqueles apontados pelo Estudo de Impacto Ambiental (EIA) e Plano de Controle Ambiental (PCA)
gerado pela extração do quartzito. As perguntas versavam sobre informações relativas ao processo de
extração, preço, dificuldades enfrentadas, produção local e atuação do comércio internacional.
Durante as visitas, fez-se uso de geotecnologias como o aparelho de recepção de GPS
(Sistema de Posicionamento Global), e câmera digital para consubstanciar e enriquecer a pesquisa. De
posse das coordenadas, do registro fotográfico e das contribuições obtidas das empresas ECB e
Barcamp, além dos trabalhadores autônomos, os dados foram analisados qualitativamente por meio da
análise de discurso (LAVILLE; DIONNE, 1999), cuja abordagem se fundamenta nas relações sociais
com o ambiente.
Além disso, técnicas de geoprocessamento foram utilizadas por meio do SIG (Sistema de
Informação Geográfica) ArcGis 10.5 (Licença estudantil), para operacionalizar as informações
coletadas em gabinete e em atividade de campo, produzindo, assim, mapas temáticos da área em
análise no estudo.
Cabe apontar que esta pesquisa teve aprovação do Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade Federal do Piauí (UFPI), sob o número de parecer 2.868.941, atendendo, portanto, a
todos os critérios éticos exigidos. Na ocasião, coletou-se a assinatura de todos os participantes
entrevistados, tendo o Termo de Consentimento Livre Esclarecido como instrumento, sendo
preservada a identidade dos mesmos.
Resultados e Discussão
Para compreender a situação ambiental dos municípios de Castelo do Piauí e Juazeiro do
Piauí, no que tange a cadeia produtiva da exploração de quartzito, é necessário se ter uma visão sobre
o potencial econômico desse recurso natural na região para que, assim, seja possível analisar seus
impactos e consequências, uma vez que os problemas de ordem socioambiental estão intimamente
ligados à exploração desse recurso.
Cabe destacar que a extração de rochas quando realizada de forma inadequada, pode resultar
em danos irreversíveis ao ambiente. Assim sendo, é de fundamental importância caracterizar a forma
de extração dessa rocha realizada nos municípios ora em estudo, alertando sobre a importância de
implementação de medidas mitigadoras que atenuem os impactos gerados no ambiente.
Ao considerar as etapas do processo de extração do quartzito e os impactos ambientais
causados por esta atividade, constatou-se que, de acordo com as entrevistas realizadas junto às
empresas (ECB Rochas Ornamentais e Barcamp) e aos trabalhadores autônomos, a exploração desta
rocha é feita a céu aberto (Figura 5) ocupando grandes áreas, e compreendem a extração de matéria-
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prima mineral próxima à superfície, geralmente, realizada após a retirada da cobertura vegetal que
recobre o solo.
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Outro método utilizado é o corte realizado por meio de máquina semiautomática de corte
(Figura 7). In loco foi possível perceber a ausência de rede de energia e, em virtude disso, geradores
de eletricidade garantem o funcionamento dos equipamentos. Carros pipa também são usados para
resfriar o maquinário, por meio de mangueiras acopladas ao mesmo, já que os discos de corte
diamantado alcançam elevadas temperaturas, que se utilizado sem a presença da água, danificaria
rapidamente.
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Figura 7: Etapa de corte da rocha quartzítica por meio do uso de maquinário no município de Castelo
do Piauí
O beneficiamento consiste no corte em placas de quartzito. Uma vez extraída, as placas são
empilhadas e alocadas em caixotes de ferro para serem transportadas, por meio de caminhões, até a
base das empresas, sendo separadas por tamanho e cor, para o aperfeiçoamento e, assim, serem
comercializadas (Figura 8).
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Fonte: Os autores (2018).
Figura 10: Fabricação de peças artesanais realizadas por artesãs no município de Juazeiro do Piauí
Do ponto de vista das empresas, existe uma tendência de ver os impactos causados pela
mineração unicamente sob as formas de poluição que são objeto de regulamentação pelo poder
público, que estabelece padrões ambientais: poluição do ar e das águas, poluição sonora (ruídos),
vibrações e subsidência do terreno (SÁNCHEZ, 1994). No entanto, é nítido o processo de degradação
a partir da atividade de extração dessas rochas e o uso constante dos recursos naturais, e a sua
exploração intensiva tendem a intensificar ainda mais esse processo.
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Em geral, a mineração provoca um conjunto de efeitos não desejados que podem ser
denominados de externalidades, como mostra a figura 11. Algumas dessas externalidades são:
alterações ambientais, conflitos de uso do solo, depreciação de imóveis circunvizinhos, geração de
áreas degradadas e transtornos ao tráfego urbano. Estas externalidades geram conflitos com a
comunidade, que normalmente têm origem quando da implantação do empreendimento, pois o
empreendedor não se informa sobre as expectativas, anseios e preocupações da comunidade que vive
nas proximidades da empresa de mineração (BITAR, 1997).
Na região estudada, foi possível perceber um aumento substancial na disposição de rejeitos,
jogados de forma inadequada às margens das rodovias e nas proximidades dos rios sem qualquer
preocupação com o meio ambiente. Estes rejeitos gerados a partir da extração e beneficiamento do
quartzito, têm sido lançado nas partes mais baixas do terreno e em direção ao rio Poti (Figura 11),
podendo ser vistos à longa distância (impacto visual), sendo que nas próximas décadas essa
drenagem poderá vir a ser alterada, seja pelo seu desvio, vazão ou pela diminuição do volume de água
e, num cenário mais preocupante, aterrada, caso a disposição do rejeito continue em direção ao canal
fluvial.
Figura 11: Rejeitos gerados a partir da extração de quartzito e despejados nas proximidades do Rio
Poti
Média de 250 m
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Figura 12: Impacto visual pelo rejeito gerado a partir da extração de quartzito
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em trabalhadores de áreas exploratórias clandestinas, onde os EPI’s não costumam serem utilizados
ou são substituídos por equipamentos de proteção inadequados ao ofício, como pode ser visualizada
na Figura 6.
A alteração topográfica também foi outro impacto ambiental identificado na área em estudo,
implicando na modificação da paisagem e mudança no nível do terreno, com evidente impacto visual,
já que a extração é realizada até seu último nível de exploração e, quando isso acontece, as áreas são
abandonadas sem nenhum método de recuperação, como pode ser visualizado na figura 13.
Figura 13: Alteração na topografia ocasionado pela extração de quartzito no município de Juazeiro do
Piauí
Como resultado de anos de extração rudimentar das pedreiras e por trabalhadores autônomos,
verificou-se que a medida que a extração avança, mais rejeitos chegam à calha dos rios. E isso se
deve ao fato desta atividade perdurar por alguns anos até não se ter mais o que explorar. Uma vez
abandonadas, as áreas não apenas deixam os problemas existentes, mas, também, os problemas
futuros para serem resolvidos. Infelizmente, a opção do abandono ainda é uma prática comum nesse
tipo de atividade.
Além dos problemas já citados, durante as visitas técnicas, por meio da análise de discurso, há
casos de mineração predatória, o que contribui ainda mais no aumento da geração de resíduos. Com
isso, torna-se difícil a adoção de medidas mitigadoras essenciais para a recuperação de áreas que se
encontram em estágios avançados de degradação.
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É importante destacar que o fechamento de uma mina pressupõe ampla negociação entre o
minerador e o Poder Público, com o envolvimento da sociedade, especialmente com a comunidade
direta ou indiretamente atingida pelo empreendimento, a qual deve ser implementada com base nos
fundamentos e conhecimentos técnicos científicos e nos conceitos de desenvolvimento sustentável
(SOUZA, 2002).
Assim, como qualquer outra atividade, a mineração apresenta seus impactos positivos e
negativos que devem ser avaliados. Se por um lado gera emprego e renda, e ajuda a movimentar a
economia local, por outro, degrada o ambiente, comprometendo outros setores da economia, como
aqueles ligados ao turismo local. No entanto, a extração do quartzito nesses municípios precisa ser
melhor planejada, monitorada, fiscalizada, afim de acabar com as irregularidades, propiciando um
retorno social desejável da atividade, na perspectiva de aumentar a eficiência da produção e
diminuindo os problemas gerados pela extração.
Considerações Finais
A mitigação e recuperação de áreas degradadas constitui grande desafio a ser superado,
principalmente quando se busca a compatibilidade da produção com sua sustentabilidade. Sabe-se
que a preocupação com o meio ambiente é muito recente, talvez por isso constitui-se uma das
questões fundamentais enfrentadas pela humanidade no contexto atual, sobretudo quanto à
racionalização e uso desses recursos.
Ao buscar uma melhor compreensão das discussões propostas, percebe-se que toda a
distorção social e ambiental que ora se presencia na área em estudo, se deve, em parte, pelos
interesses dos agentes produtores do espaço, tendo em vista os diversos interesses que permeiam o
ambiente da lavra e da comercialização do quartzito.
Como a mineração é uma atividade de impactos ambientais significativos, ainda há muito que
se estudar e analisar a respeito da temática em epígrafe, principalmente quando se trata de prevenção,
mitigação e conscientização de todos os setores da sociedade, sobretudo, quando se leva em conta o
padrão de consumo vigente. Enquanto os interesses individuais se sobressaírem ao bem estar social, o
desenvolvimento de iniciativas em prol da manutenção e do equilíbrio ambiental não alcançará os
objetivos pretendidos.
Portanto, chama atenção uma postura pautada na responsabilidade quanto aos cuidados
necessários com o ambiente, evidentemente quando se trata da cadeia produtiva e os impactos
ambientais gerados pela extração de quartzito nos municípios de Castelo do Piauí e Juazeiro do Piauí.
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