Tese Marcia Gomes Da Silva UMINHO
Tese Marcia Gomes Da Silva UMINHO
Tese Marcia Gomes Da Silva UMINHO
Escola de Engenharia
julho de 2018
Universidade do Minho
Escola de Engenharia
Tese de Doutoramento
Doutoramento em Engenharia Têxtil
julho de 2018
Agradecimentos
A Deus, por ser meu conforto espiritual, por iluminar o meu caminho e conceder sabedoria para
ter chegado até este momento.
Quero agradecer ao Professor Doutor Jorge Santos, por ter aceitado me orientar ao longo desta
caminhada. Obrigada por ter me auxiliado em todas as dificuldades encontradas e por toda a
dedicação que sempre teve para com este trabalho. O meu muito obrigada à Professora Doutora
Maria Angélica Simões Dornellas de Barros, pela atenção e co-orientação desta pesquisa.
Aos meus pais, a minha eterna gratidão por todo o amor que sempre dedicaram a mim, pelos
esforços realizados para que eu pudesse chegar até aqui, sobretudo pelos momentos em que me
apoiaram e não me deixaram desistir.
À minha companheira e amiga Valéria, pelo apoio e incentivo em todos os momentos desta
caminhada.
Ao Professor Doutor Fernando Nunes Ferreira, diretor do 2C2T, pela atenção e auxílio em
diversos momentos e ao corpo docente do Departamento de Engenharia Têxtil da Universidade
do Minho, em especial à Professora Doutora Graça Soares e à Professora Doutora Teresa
Miranda, pela atenção e auxílio nesta investigação.
v
Ao Professor Doutor Eduardo Pilau e à doutoranda Rafaela Takako Ribeiro, do Departamento
de Química da Universidade Estadual de Maringá, pelo auxílio na realização dos ensaios de
caracterização química dos extratos naturais.
Aos amigos e à minha família, que por estarem sempre ao meu lado tornaram a realização deste
trabalho menos árdua e mais divertida.
À minha querida amiga Taís, obrigada pelo incentivo, pelo apoio e por me representar perante
à UEM durante minha permanência em Portugal. O meu muito obrigada ao Alexandre, pelas
dicas valiosas que me ajudaram muito nesta caminhada.
À Meire, obrigada por ter sido minha principal companhia durante o período que estive em
Guimarães, me apresentando os sítios mais interessantes e me auxiliando em diversos
momentos.
Aos demais colegas com quem convivi durante a minha permanência em Portugal,
nomeadamente Carlos, Alessandra, Maria Renata, Luciane, Iara, Lívia, Marcelo, Fábio,
Juliana, Caroline, Samira, Henrique e Humberto. Obrigada pela companhia e pelos momentos
que compartilhamos.
Finalmente, obrigada a todas as pessoas que, embora não tenham sido nomeadas, contribuíram
direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.
vi
Resumo
Nos últimos anos, o mercado tem manifestado um crescente interesse em agregar valor aos
materiais têxteis através da realização de tratamentos com produtos naturais. Neste contexto, a
utilização de extratos naturais de plantas, permite não apenas tingir os substratos, mas também
conferir-lhes propriedades multifuncionais consideradas atrativas para os consumidores, como
a proteção UV e a atividade antimicrobiana. Assim, o presente estudo teve como objetivo
avaliar a viabilidade da utilização de extratos aquosos de folhas de eucalipto e de cascas de
cebola no tingimento e acabamento antimicrobiano e anti-UV de substratos de poliamida e
algodão. Após definição das condições ideais para a obtenção dos extratos, procedeu-se à
determinação da sua composição qualitativa, através de técnicas de cromatografia líquida de
alta eficiência acoplada à espectrometria de massa, tendo sido identificados vários compostos
da classe dos flavonoides na sua composição. A atividade antimicrobiana dos extratos brutos
contra as estirpes E. coli, S. aureus e C. albicans foi posteriormente avaliada pelo método de
microdiluição, tendo o extrato de eucalipto apresentado atividade contra todos os
microrganismos testados, enquanto o extrato de cascas de cebola mostrou atividade somente
contra S. aureus. Os processos de tingimento com os dois extratos foram otimizados
considerando a influência das variáveis mais importantes do processo, nomeadamente a
temperatura, pH e concentração de eletrólitos. No tingimento do algodão foi também avaliada
a influência do pré-tratamento com quitosano no rendimento tintorial. Os melhores resultados
foram obtidos à temperatura de 100 °C para todos os sistemas fibra/corante analisados. O pH
de 3,5 foi aquele que produziu os melhores resultados no tingimento da poliamida com os dois
extratos, enquanto no algodão, o melhor resultado foi obtido a pH 4,0 no tingimento com extrato
de casca de cebola e 4,5 no tingimento com o extrato de folhas de eucalipto. A concentração de
20 gL-1 de NaCl foi a que proporcionou os melhores resultados no tingimento do algodão. No
entanto, o pré-tratamento com quitosano constituiu-se como uma alternativa mais sustentável,
uma vez que proporciona um maior rendimento colorístico e evita a utilização de eletrólitos,
reduzindo dessa forma o impacto ambiental do processo. Além disso, melhora a solidez à
lavagem, à fricção e ao suor, embora piore ligeiramente a solidez à luz. Por sua vez, as amostras
de poliamida tingidas com os dois extratos apresentaram genericamente bons índices de solidez,
com exceção da solidez ao suor alcalino das amostras tingidas com o extrato de casca de cebola,
classificadas com grau 2-3. As amostras de algodão tingidas com extrato de folhas de eucalipto
apresentaram atividade antimicrobiana contra S. aureus e C. albicans, enquanto as amostras
tingidas com extrato de casca de cebola apresentaram atividade somente contra S. aureus. As
amostras de poliamida tingidas com os dois extratos, não apresentaram atividade
antimicrobiana contra nenhuma das estirpes avaliadas. O fator de proteção ultravioleta (UPF)
dos substratos de poliamida foi genericamente classificado como excelente. No caso do
algodão, as amostras tingidas com o extrato de folhas de eucalipto, apresentaram índices UPF
classificado como bom, nas amostras sem pré-tratamento com quitosano e muito bom a
excelente para as amostras pré-tratadas com quitosano. Por sua vez, nas amostras de algodão
tingidas com extrato de casca de cebola, o índice UPF foi classificado como muito bom a
excelente, para todas as amostras tingidas, independentemente de terem ou não sido submetidas
a um pré-tratamento com quitosano.
Palavras-chave: corantes naturais, extrato de eucalipto, extrato de casca de cebola, proteção
UV, antimicrobiano.
vii
Abstract
There is a growing interest in adding value to textile materials through the use of natural
products. Some natural plant extracts, in addition to providing color to the textile materials, are
able to provide them with multifunctional properties such as UV protection and antimicrobial
activity. This study was carried out to evaluate the dyeing yield, UV protection and
antimicrobial activity of polyamide and cotton fabrics dyed with aqueous extracts of eucalyptus
leaves and onion skins. The extracts were analyzed for their qualitative composition using high
performance liquid chromatography coupled to mass spectrometry and the antimicrobial
activity of the crude extracts against strains E. coli, S. aureus and C. albicans was evaluated by
the microdilution method. Several compounds of the class of flavonoids have been identified.
The extract of eucalyptus leaves showed activity against all microorganisms tested, whereas
onion skin extract showed activity only against S. aureus. The dyeing process with the extracts
of eucalyptus leaves and onion skins have been optimized considering the influence of the most
important process variables, such as temperature, pH and electrolytes concentration. For cotton
fibers, the effect of a pretreatment with chitosan in dye uptake was also evaluated. The best
dyeing results were achieved using a temperature of 100 °C for all fiber/dye systems. The
optimized pH for the dyeing of the polyamide with both extracts was 3.5 and for cotton the best
pH was 4.0 for the dyeing with onion skin extract and 4.5 for the dyeing with the eucalyptus
leaves extract. The concentration of electrolytes that provided the best cotton dyeing results
was 20 gL-1. However, pre-treatment with chitosan provided a higher color yield, resulting in a
more sustainable process, as it eliminates the use of electrolytes. The fastness to washing,
rubbing and perspiration was better for samples pre-treated with chitosan and light fastness is
worse compared to the samples without pre-treatment. The polyamide samples had good
fastness properties with both extracts, except for alkaline perspiration fastness for dyeing with
onion skin extract, which was 2-3. The cotton samples dyed with eucalyptus leaves extract
showed antimicrobial activity against S. aureus and C. albicans, while samples dyed with onion
skin extract only had activity against S. aureus. The polyamide samples dyed with both extracts
showed no antimicrobial activity against any of the strains tested and the UV protection factor
(UPF) was classified as excellent for both the bleached and the dyed samples with all the extract
concentrations evaluated. The UPF of cotton dyed with eucalyptus leaf extract was classified
as good for the samples without pre-treatment and very good to excellent for the samples pre-
treated with chitosan. Cotton samples dyed with onion skin extract show UPF that can be
classified as very good to excellent for samples with and without pre-treatment with chitosan.
Keywords: natural dyes, eucalyptus extract, onion skin extract, UV protection, antimicrobial.
viii
Índice
Agradecimentos .......................................................................................................................... v
Resumo ..................................................................................................................................... vii
Abstract ................................................................................................................................... viii
Lista de figuras ........................................................................................................................ xiii
Lista de tabelas ...................................................................................................................... xviii
Lista de abreviaturas................................................................................................................ xix
Estrutura da tese ...................................................................................................................... xxi
1 INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1
1.1 Enquadramento do trabalho ......................................................................................... 1
1.2 Objetivos ...................................................................................................................... 2
2 ESTADO DA ARTE........................................................................................................... 3
2.1 Fibras Têxteis .............................................................................................................. 3
2.1.1 Algodão ................................................................................................................ 4
2.1.1.1 Composição das fibras de algodão ................................................................... 4
2.1.1.2 Estrutura das fibras de Algodão........................................................................ 5
2.1.1.3 Comportamento na presença de ácidos e bases ................................................ 6
2.1.1.4 Principais propriedades e aplicações ................................................................ 6
2.1.2 Poliamida.............................................................................................................. 7
2.1.2.1 Produção das fibras de poliamida ..................................................................... 7
2.1.2.2 Comportamento tintorial das fibras de poliamida ............................................ 8
2.1.2.3 Principais propriedades e aplicações ................................................................ 8
2.2 Corantes naturais ......................................................................................................... 9
2.2.1 Classificação dos corantes naturais .................................................................... 10
2.2.2 Tingimento das fibras têxteis com corantes naturais ......................................... 12
2.2.2.1 Vantagens e desvantagens do tingimento de fibras têxteis com corantes
naturais……. ................................................................................................................. 12
2.2.2.2 Sustentabilidade ambiental e sócio-económica da utilização de corantes
naturais no tingimento das fibras têxteis ....................................................................... 14
2.2.2.3 Solidez dos tintos obtidos no tingimento com corantes naturais .................... 16
2.2.2.3.1 Avaliação da solidez à lavagem dos tintos produzidos com corantes naturais
................................................................................................................................... 17
2.2.3 Extrato natural de folhas de eucalipto ................................................................ 19
2.2.3.1 Tingimento de fibras de algodão com extrato natural de folhas de eucalipto 21
2.2.3.2 Tingimento de fibras de poliamida com extrato natural de folhas de
eucalipto……….. .......................................................................................................... 23
ix
2.2.4 Extrato natural de casca de cebola ..................................................................... 23
2.2.4.1 Tingimento de fibras de algodão com extrato natural de cascas de cebola .... 24
2.2.4.2 Tingimento de fibras de poliamida com extrato natural de cascas de cebola . 27
2.3 Processos de modificação química das fibras de algodão para incrementar o
rendimento tintorial no tingimento com corantes naturais ................................................... 28
2.3.1 Mordentagem ..................................................................................................... 28
2.3.2 Cationização das fibras de algodão por aplicação de quitosano ........................ 30
2.4 Acabamentos anti-UV nos materiais têxteis .............................................................. 32
2.4.1 Importância dos tratamentos anti-UV no âmbito dos acabamentos têxteis ....... 33
2.4.2 Fatores que mais condicionam a proteção anti-UV dos materiais têxteis .......... 34
2.4.2.1 Composição química das fibras ...................................................................... 34
2.4.2.2 Estrutura dos materiais ................................................................................... 35
2.4.2.3 Cor dos materiais ............................................................................................ 36
2.4.2.4 Teor de humidade ........................................................................................... 36
2.4.2.5 Lavagens ......................................................................................................... 37
2.4.2.6 Acabamentos anti-UV .................................................................................... 37
2.4.3 Compostos anti-UV com maior aplicação nos acabamentos têxteis .................. 38
2.4.4 Corantes naturais com propriedades anti-UV .................................................... 39
2.4.5 Avaliação da proteção anti-UV dos materiais têxteis ........................................ 40
2.5 Acabamentos antimicrobianos nos materiais têxteis ................................................. 42
2.5.1 Importância dos tratamentos antimicrobianos no âmbito dos acabamentos
têxteis…… ........................................................................................................................ 42
2.5.2 Compostos antimicrobianos com maior aplicação têxtil.................................... 43
2.5.2.1 Classificação e mecanismo de atuação dos principais agentes antimicrobianos
com aplicação têxtil ....................................................................................................... 44
2.5.2.2 Triclosano ....................................................................................................... 45
2.5.2.3 Compostos quaternários de amónio (QAC´s) ................................................. 45
2.5.2.4 Polihexametileno de biguanida (PHMB) ........................................................ 46
2.5.2.5 N-halamina ..................................................................................................... 46
2.5.2.6 Metais e sais metálicos ................................................................................... 47
2.5.2.7 Quitosano ........................................................................................................ 47
2.5.2.8 Compostos bioativos naturais ......................................................................... 48
2.5.3 Principais métodos de aplicação de agentes antimicrobianos nos materiais
têxteis…….. ...................................................................................................................... 51
2.5.4 Avaliação da atividade antimicrobiana de extratos naturais de plantas ............. 52
2.5.5 Avaliação da atividade antimicrobiana dos materiais têxteis............................. 52
x
2.6 Considerações finais do estado da arte ...................................................................... 55
3 MATERIAIS E MÉTODOS ............................................................................................. 57
3.1 Materiais .................................................................................................................... 57
3.2 Preparação dos extratos naturais de folhas de eucalipto e de cascas de cebola......... 57
3.3 Caracterização química dos extratos dos corantes naturais ....................................... 58
3.3.1 Espectrofotometria UV/Vis ................................................................................ 58
3.3.2 Cromatografia em Camada Fina – TLC ............................................................. 59
3.3.3 Ressonância Magnética Nuclear - RMN ............................................................ 59
3.3.4 Cromatografia Líquida de Alta Eficiência Acoplada à Espectrometria de Massas
– CLAE/EM… .................................................................................................................. 59
3.4 Avaliação da atividade antimicrobiana dos extratos de corantes naturais ................. 61
3.5 Otimização dos processos de tingimento................................................................... 62
3.5.1 Influência da temperatura de tingimento no rendimento tintorial ...................... 63
3.5.2 Influência do pH da solução de tingimento no rendimento tintorial .................. 63
3.5.3 Influência dos eletrólitos neutros no rendimento tintorial ................................. 64
3.5.4 Influência do pré-tratamento do algodão com quitosano no rendimento
tintorial……. ..................................................................................................................... 64
3.6 Caracterização dos materiais tingidos ....................................................................... 65
3.6.1 Solidez à lavagem doméstica e industrial .......................................................... 65
3.6.2 Solidez à fricção a seco e a húmido ................................................................... 66
3.6.3 Solidez à luz ....................................................................................................... 66
3.6.4 Solidez ao suor ................................................................................................... 67
3.6.5 Avaliação do índice de proteção UV dos materiais tingidos ............................. 67
3.6.6 Avaliação da atividade antimicrobiana dos materiais tingidos .......................... 67
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................................... 70
4.1 Otimização do processo de extração do corante natural de folhas de eucalipto e de
casca de cebola ..................................................................................................................... 70
4.2 Caracterização química dos extratos ......................................................................... 73
4.2.1 Cromatografia em Camada Fina – TLC ............................................................. 73
4.2.2 Identificação dos metabólitos presentes no extrato de casca de cebola por
CLAE/EM-EM………… .................................................................................................. 74
4.2.3 Identificação dos metabólitos presentes no extrato de folhas de eucalipto, por
CLAE/EM-EM .................................................................................................................. 78
4.2.4 Ressonância Magnética Nuclear ........................................................................ 84
4.3 Caracterização microbiológica dos extratos de casca de cebola e de folhas de
eucalipto................................................................................................................................ 85
4.4 Desenvolvimento e otimização dos processos de tingimento ................................... 86
xi
4.4.1 Influência da temperatura no rendimento tintorial ............................................. 86
4.4.2 Influência do pH no rendimento tintorial ........................................................... 89
4.4.3 Influência dos eletrólitos neutros no rendimento tintorial ................................. 96
4.4.4 Influência do pré-tratamento do algodão com quitosano no rendimento
tintorial……… .................................................................................................................. 97
4.5 Caracterização dos materiais tingidos ....................................................................... 99
4.5.1 Solidez à lavagem doméstica e industrial .......................................................... 99
4.5.2 Solidez à fricção a seco e a húmido ................................................................. 101
4.5.3 Solidez à luz ..................................................................................................... 102
4.5.4 Solidez ao suor ................................................................................................. 105
4.5.5 Avaliação do fator de proteção ultravioleta (UPF) .......................................... 107
4.5.5.1 Avaliação dos índices UPF das amostras de algodão tingidas com extrato de
folhas de eucalipto.. ..................................................................................................... 107
4.5.5.2 Avaliação do índice UPF das amostras de algodão tingidas com extrato de
cascas de cebola…… .................................................................................................. 111
4.5.5.3 Avaliação da eficácia relativa dos dois extratos no incremento do índice
UPF……...................................................................................................................... 115
4.5.5.4 Avaliação do índice UPF das amostras de poliamida tingidas com os dois
extratos……….. .......................................................................................................... 121
4.5.6 Avaliação da atividade antimicrobiana dos materiais tingidos ........................ 124
5 CONCLUSÕES E PERSPETIVAS FUTURAS ............................................................. 130
5.1 Conclusões ............................................................................................................... 130
5.2 Perspetivas futuras ................................................................................................... 131
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 132
xii
Lista de figuras
Figura 1 - Classificação das fibras naturais ................................................................................ 3
Figura 7 - Principais compostos encontrados nas folhas de eucalipto: (a) quercetina, (b) rutina,
(c) ácido elágico e (d) ácido gálico .......................................................................................... 20
Figura 15 - a) Espectros de absorção UV-Vis dos extratos de folhas de eucalipto; b) Área dos
espectros UV-Vis representados em a) e c) Espectros normalizados dos extratos de folhas de
eucalipto representados em a) .................................................................................................. 70
Figura 16 - a) Espectro de absorção UV-Vis do extrato de casca de cebola; b) Área dos espectros
UV-Vis representados em a) e c) Espectros normalizados dos extratos de casca de cebola
representados em a) .................................................................................................................. 72
Figura 19 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 625 nos tempos de
retenção a) 7,56 min e b) 7,93 min. Energia de colisão 35 eV. ............................................... 76
xiii
Figura 20 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 463 no tempo de retenção
8,71 min. Energia de colisão 35 eV. ........................................................................................ 77
Figura 24 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 633 nos tempos de
retenção a) 5,23 min; b) 5,96 min e c) 6,71 min. Energia de colisão 35 eV. ........................... 81
Figura 26 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 783 nos tempos de
retenção a) 7,05 min e b) 7,23 min. Energia de colisão 35 eV. ............................................... 83
Figura 28 - Tingimento do algodão com extrato de folhas de eucalipto (20 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas às diferentes temperaturas testadas. ........................... 87
Figura 29 - Tingimento da poliamida com extrato de folhas de eucalipto (20 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas às diferentes temperaturas testadas. ........................... 87
Figura 30 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas às diferentes temperaturas testadas. ........................... 88
Figura 31 - Tingimento da poliamida com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas às diferentes temperaturas testadas. ........................... 88
Figura 32 - Tingimento do algodão com extrato de folhas de eucalipto (20 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas aos diferentes valores de pH testados. ........................ 90
Figura 33 - Tingimento da poliamida com extrato de folhas de eucalipto (20 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas aos diferentes valores de pH testados. ........................ 90
Figura 34 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas aos diferentes valores de pH testados. ........................ 91
Figura 35 - Tingimento da poliamida com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas aos diferentes valores de pH testados. ........................ 91
Figura 36 - Alteração das coordenadas cromáticas CIELab das amostras de algodão tingidas
com o extrato de folhas de eucalipto, em função do pH da solução de tingimento. ................ 94
Figura 37 - Alteração das coordenadas cromáticas CIELab das amostras de poliamida tingidas
com o extrato de folhas de eucalipto, em função do pH da solução de tingimento. ................ 94
xiv
Figura 38 - Alteração das coordenadas cromáticas CIELab das amostras de algodão tingidas
com o extrato de casca de cebola, em função do pH da solução de tingimento. ..................... 95
Figura 39 - Alteração das coordenadas cromáticas CIELab das amostras de poliamida tingidas
com extrato de casca de cebola, em função do pH da solução de tingimento. ........................ 95
Figura 40 - Tingimento do algodão com extrato de folhas de eucalipto (20 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas com diferentes concentrações de NaCl. ..................... 96
Figura 41 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras tingidas com diferentes concentrações de NaCl. ..................... 96
Figura 42 - Tingimento do algodão com extrato de folhas de eucalipto (20 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras com e sem pré-tratamento com quitosano, tingidas na presença e
ausência de NaCl. ..................................................................................................................... 98
Figura 43 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas K/S,
Intensidade de cor e amostras com e sem pré-tratamento com quitosano, tingidas na presença e
ausência de NaCl. ..................................................................................................................... 98
Figura 44 - Descoloração das amostras tingidas com extrato de folhas de eucalipto, em função
do tempo de exposição à fonte de radiação UV. .................................................................... 103
Figura 45 - Descoloração das amostras tingidas com extrato de casca de cebola, em função do
tempo de exposição à fonte de radiação UV. ......................................................................... 103
Figura 47 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão com (A) e sem (B) pré-tratamento
com quitosano (1,5% p/v), tingidas com extrato de folhas de eucalipto. ............................... 107
Figura 48 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos pares de
amostras tingidas com extrato de folhas de eucalipto de acordo com o teste de Tukey para um
nível de significância α = 0,05. ............................................................................................ 108
Figura 49 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de algodão
branqueado tingidas com extrato de folhas de eucalipto........................................................ 110
Figura 50 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de algodão
pré-tratado com quitosano tingidas com extrato de folhas de eucalipto. ............................... 110
Figura 51 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão com (A) e sem (B) pré-tratamento
com quitosano (1,5% p/v), tingidas com extrato de casca de cebola. .................................... 111
Figura 52 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos pares de
amostras tingidas com extrato de casca de cebola de acordo com o teste de Tukey para um nível
de significância α = 0,05. ....................................................................................................... 112
xv
Figura 53 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de algodão
branqueado tingidas com extrato de casca de cebola. ............................................................ 114
Figura 54 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de algodão
pré-tratadas com quitosano tingidas com extrato de casca de cebola. ................................... 114
Figura 55 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão sem pré-tratamento com
quitosano, tingidas com extrato de (A) casca de cebola e (B) eucalipto. ............................... 115
Figura 56 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos pares de
amostras branqueadas, tingidas com extrato de A) casca de cebola e B) folhas de eucalipto de
acordo com o teste de Tukey para um nível de significância α = 0,05. ................................. 116
Figura 58 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão pré-tratadas com quitosano e
tingidas com extrato de (A) cascas de cebola e (B) folhas de eucalipto. ............................... 118
Figura 59 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos pares de
amostras pré-tratadas com quitosano e tingidas com extrato de A) cascas de cebola e B) folhas
de eucalipto, de acordo com o teste de Tukey, para um nível de significância α = 0,05. ...... 119
Figura 60 - Intensidade de cor (I) das amostras de algodão branqueado e pré-tratado com
quitosano, em função da concentração de extrato de casca de cebola ................................... 120
Figura 61 - Intensidade de cor (I) das amostras de algodão branqueado e pré-tratado com
quitosano, em função da concentração de extrato de folhas de eucalipto. ............................. 120
Figura 64 - Tecidos de poliamida tingidos com extrato de casca de cebola – Imagens obtidas
através de uma Lupa Estereoscópica Olympus (a) e de um Microscópio de Transmissão
Olympus BH2 (b). .................................................................................................................. 123
Figura 65 - Tecidos de algodão branqueado tingidos com extrato de casca de cebola – Imagens
obtidas através de uma Lupa Estereoscópica Olympus (a) e de um Microscópio de Transmissão
Olympus BH2 (b). .................................................................................................................. 124
xvi
Figura 68 - Resultado da avaliação da atividade antimicrobiana das amostras de algodão pré-
tratadas com quitosano e tingidas com os extratos de eucalipto e casca de cebola. .............. 128
xvii
Lista de tabelas
Tabela 1 - Composição química média das fibras de algodão ................................................... 5
Tabela 3 - Avaliação das propriedades anti-UV de materiais têxteis tingidos com corantes
naturais de origem vegetal........................................................................................................ 39
Tabela 10 - CIM e CLM dos extratos de casca de cebola e de folhas de eucalipto e da solução
de quitosano, contra as estirpes E. coli, S. aureus e C. albicans .............................................. 86
Tabela 11 - Solidez à lavagem e à fricção das amostras de algodão e poliamida tingidas com
extrato de folhas de eucalipto ................................................................................................. 100
Tabela 12 - Solidez à lavagem e à fricção das amostras de algodão e poliamida tingidas com
extrato de casca de cebola ...................................................................................................... 100
Tabela 13 - Solidez dos tintos ao suor ácido e alcalino das amostras de algodão e poliamida
tingidas com extrato de folhas de eucalipto ........................................................................... 105
Tabela 14 - Solidez dos tintos ao suor ácido e alcalino das amostras de algodão e poliamida
tingidas com extrato de cascas de cebola ............................................................................... 105
Tabela 15 - Atividade antimicrobiana das amostras de poliamida (PA) e algodão (CO) tingidas
com os extratos de folhas de eucalipto (EUC) e de casca de cebola (CEB) .......................... 125
xviii
Lista de abreviaturas
AATCC American Association of Textile Chemists and Colorists
CA Acetato
CO Algodão
DMDHEU Dimetiloldihidroxietilenoureia
DO Densidade ótica
DP Desvio padrão
EM Espectrometria de Massas
I Intensidade de cor
PA Poliamida
xix
PAC Acrílico
PES Poliéster
R Refletância
Rf Fator de retenção
TR Tempo de retenção
UV Ultravioleta
UV-Vis Ultravioleta-visível
WO Lã
xx
Estrutura da tese
A presente tese está estruturada em 5 capítulos, ao longo dos quais se descrevem as várias etapas
que foram desenvolvidas nesta investigação, apresentando-se de seguida um breve resumo de
cada capítulo.
Capítulo 1 – Introdução
Nesta seção são descritos conceitos e definições relacionadas com as fibras têxteis, corantes
naturais e processos de modificação química do algodão. Apresentam-se também os resultados
da pesquisa bibliográfica realizada relacionada com a aplicação de corantes naturais em fibras
têxteis, focando em especial os corantes obtidos a partir de folhas de eucalipto e de casca de
cebola e a sua aplicação no tingimento das fibras de algodão e poliamida. Por fim, aborda-se a
importância do desenvolvimento de materiais têxteis com acabamentos antimicrobianos e/ou
anti-UV, analisando as abordagens existentes, as suas vantagens e desvantagens relativas e a
possibilidade de se utilizarem compostos naturais para alcançar os objetivos pretendidos.
Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados obtidos ao longo deste trabalho, em
especial no que se refere à otimização do processo de extração dos corantes naturais,
caracterização química e microbiológica dos extratos corados, otimização dos processos de
tingimento e caracterização dos materiais tingidos, incluindo a avaliação das suas propriedades
antimicrobianas e anti-UV.
xxi
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Capítulo 1 – Introdução
1 INTRODUÇÃO
1.1 Enquadramento do trabalho
Ao longo dos últimos anos, vários setores de atividade industrial e a indústria têxtil em
particular, têm sido alvo de severas críticas devido à sua contribuição para a poluição
ambiental. No sentido de colmatar estes problemas, as entidades governamentais têm
vindo a impor rígidas restrições ecológicas aos produtos químicos utilizados no
processamento têxtil, incluindo mesmo a proibição de comercialização de certos bens de
consumo que contenham corantes sintéticos e/ou agentes de acabamento considerados
tóxicos. A necessidade de utilizar reagentes com reduzido impacto ambiental, tem
fomentado uma crescente utilização de produtos naturais, especialmente em áreas como
o tingimento e acabamento de materiais têxteis, setores nos quais se tem registado um
incremento significativo na utilização deste tipo de compostos nos últimos anos (Shahid
& Mohammad, 2013a).
Tem-se também assistido a uma cada vez mais notória e crescente procura por produtos
têxteis que além das habituais propriedades de conforto, apresentem também outras
propriedades funcionais consideradas interessantes para os consumidores, tais como
repelência à água e a óleos, propriedades ignífugas, regulação térmica, etc. Procurando
dar resposta a estes desafios, vários investigadores têm vindo a estudar a viabilidade de
se utilizarem agentes naturais, à base de plantas, para a produção de substratos têxteis
com maior valor acrescentado, mais competitivos e altamente funcionalizados (Shahid &
Mohammad, 2013a). Neste âmbito, a proteção contra a radiação UV (Mongkholrattanasit,
Kryštůfek & Wiener, 2011) e a atividade antimicrobiana (Ali et al., 2013) são algumas
1
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Capítulo 1 – Introdução
das principais propriedades que podemos incorporar nos materiais têxteis, através da
aplicação de extratos de corantes naturais. Esta abordagem possibilita o desenvolvimento
de produtos têxteis não tóxicos e ambientalmente sustentáveis, com potencial para serem
utilizados em diversas áreas, nomeadamente na produção de vestuário, têxteis-lar, têxteis
médicos e vestuário para a prática de desporto.
1.2 Objetivos
2
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2 ESTADO DA ARTE
2.1 Fibras Têxteis
As fibras têxteis são elementos filiformes, caracterizados pela sua flexibilidade, finura e
grande comprimento em relação à dimensão transversal máxima, cujas propriedades as
tornam aptas para aplicações têxteis. São normalmente divididas em duas grandes classes,
fibras naturais e não naturais ou químicas. As de origem natural são produzidas pela
natureza, sob uma forma que as tornam aptas para o processamento têxtil, enquanto as
não naturais são obtidas industrialmente a partir de polímeros naturais modificados por
via química (fibras regeneradas ou artificiais), ou através da produção de polímeros
obtidos por síntese química (fibras sintéticas). As Figuras 1 e 2 mostram respetivamente
a classificação das fibras têxteis naturais e químicas, indicando em cada caso a sua origem
(Needles, 1986; Araújo & Castro, 1986).
3
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2.1.1 Algodão
A fibra de algodão é um pelo que se desenvolve a partir de uma única célula epidérmica
do tegumento externo da semente dos frutos de algumas espécies do género Gossypium,
da família da Malvácea. Em função da sua origem, as fibras podem apresentar
comprimento bastante variável, o qual pode ir desde 4 mm, no caso das fibras curtas,
denominadas línter, até aos 60 mm, no caso das fibras longas (Maluf & Kolbe 2003).
4
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Assim, a cutícula é constituída por uma fina membrana de cera, com uma espessura de
0,1-0,2 µm, que envolve a parede primária, formando um escudo protetor que defende a
5
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O algodão é uma das fibras naturais mais importantes, sendo amplamente utilizada na
indústria têxtil, sozinha ou em misturas com outras fibras, nomeadamente com fibras
sintéticas. Possui excelentes características, como conforto e boa absorção de água e
corantes (Haji & Branch, 2013). Por esta razão, é amplamente utilizada na fabricação de
materiais têxteis para a produção de vestuário, têxteis-lar, têxteis médicos, vestuário
profissional e vestuário para a prática de desporto.
6
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2.1.2 Poliamida
7
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
A poliamida 6, por sua vez, pode ser produzida por polimerização da caprolactama, de
acordo com a reação da Figura 5 (Oliveira, 2009).
Considerada uma das fibras sintéticas mais nobres, a poliamida caracteriza-se por ser uma
fibra leve, resistente e com elevada elasticidade. Não encolhe nem deforma, é fácil de
tratar, proporciona conforto térmico e possui moderada capacidade de absorção de
humidade (Guillen, 1987). Os tecidos de poliamida geralmente conferem boa proteção
UV, especialmente a radiação UV-B, uma vez que contêm antioxidantes e estabilizadores
8
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Desde os tempos pré-históricos, os corantes naturais têm sido utilizados para os mais
diversos fins, nomeadamente na coloração de fibras naturais (lã, algodão e seda), peles e
couro, na coloração de cosméticos e na produção de tintas e aguarelas. No entanto, a sua
utilização na coloração de materiais têxteis declinou rapidamente após a descoberta dos
corantes sintéticos por Perkin, em 1856, tendo mesmo sido praticamente abandonada a
partir do início do século XX (Cristea & Vilarem, 2006).
De acordo com Punrattanasin et al. (2013), o consumo mundial de corantes naturais situa-
se na atualidade na ordem de 10.000 toneladas por ano, o equivalente a cerca de 1% da
produção mundial de corantes sintéticos. A procura deste tipo de corantes vem, no
entanto, aumentando muito rapidamente nos últimos anos, devido principalmente a uma
crescente taxa de utilização no tingimento de materiais têxteis. Esta realidade resulta
principalmente de uma maior consciencialização dos consumidores acerca dos
procedimentos altamente poluentes que envolvem o tingimento com corantes sintéticos e
9
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Alguns dos corantes naturais mais utilizados no tingimento de fibras têxteis são
apresentados na Tabela 2 (Ferreira, 1998).
Os corantes naturais podem ser classificados com base na sua estrutura química, origem,
método de aplicação, cor, etc. Passaremos de seguida a apresentar a classificação de
acordo com a sua estrutura química, encontrando-se as classes mais importantes
representadas na Figura 6 (Vankar, 2000; Siva, 2007).
10
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
garante a obtenção de tintos com boa solidez à lavagem (Samanta & Konar,
2011a; Vankar, 2000).
f) Antocianinas: um dos corantes desta classe é o corante laranja, obtido a partir das
folhas da Arrabidaea chica, uma planta da família Bignoniaceae, também
conhecida como carajuru, utilizado no tingimento da lã e do algodão (Samanta &
Konar, 2011a).
α- hidroxinaftoquinonas Antocianina
Dihidropirano
Beta-caroteno
Figura 6 - Estruturas químicas das principais classes de corantes naturais
11
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Nos últimos anos, diversos autores têm centrado a sua investigação no desenvolvimento
de processos produtivos mais limpos e ambientalmente mais seguros e sustentáveis. Neste
âmbito, a utilização de corantes naturais não tóxicos e inócuos do ponto de vista
ambiental, no tingimento de materiais têxteis, tem assumido especial relevância, uma vez
que elimina os problemas ambientais normalmente associados à utilização dos corantes
sintéticos, os quais são produzidos a partir de fontes petroquímicas, através de processos
químicos perigosos que representam uma ameaça para o meio ambiente e para a saúde
humana. Pelo contrário, a utilização de corantes naturais não levanta problemas de ordem
ambiental nem na fase de produção, nem na sua aplicação, o que os torna especialmente
interessantes neste contexto.
Por outro lado, em virtude de suas características e do facto de serem muitas vezes
utilizados em contacto com o corpo humano, os materiais têxteis fornecem um meio
excelente para o crescimento e multiplicação de microrganismos, os quais podem aí
encontrar os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento, incluindo água, carbono,
nitrogénio e alguns sais inorgânicos. Como a maioria dos corantes naturais possui
propriedades antimicrobianas intrínsecas, o tingimento dos materiais têxteis com este tipo
de corantes pode ajudar a prevenir o desenvolvimento de microrganismos e
consequentemente a possível transferência e propagação de infecções e doenças de
origem microbiana, através deles.
De uma forma geral, os corantes naturais são obtidos a partir de recursos renováveis
baratos e facilmente acessíveis (Siva, 2007; Samanta & Konar, 2011b; Kasiri & Safapour,
2013). São menos poluentes que os corantes sintéticos, não cancerígenos e não tóxicos,
podendo por isso ser classificados como menos perigosos para a saúde. Além disso,
proporcionam a obtenção de cores suaves, brilhantes e agradáveis, quando aplicados nos
materiais têxteis, podendo produzir diferentes tons através da mistura com mordentes ou
por alteração das condições de tingimento.
O que torna os corantes naturais ambientalmente mais seguros que os sintéticos, é o facto
de os processos que conduzem à sua obtenção não serem poluentes. Além disso, este tipo
12
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
de materiais é facilmente biodegradável e não produz águas residuais tóxicas, não sendo
por isso necessário tratar os efluentes antes de os descarregar no meio ambiente (Kasiri
& Safapour, 2013).
Muitas das plantas a partir das quais se obtêm os corantes naturais, são atualmente
classificadas também como medicinais, apresentando os seus extratos notável atividade
antimicrobiana, para além de outras propriedades consideradas interessantes como
proteção UV, hidratação da pele, efeito anti-envelhecimento e anti-alérgico, etc. (Wells,
2013).
Realça-se ainda o facto de a maioria dos corantes naturais com atividade antimicrobiana
não atuar sobre os microrganismos considerados benéficos para a saúde, não produzindo
por isso efeitos colaterais no corpo humano (Wells, 2013)
Apesar das suas inerentes vantagens, os corantes naturais apresentam também algumas
limitações, as quais foram em parte responsáveis pelo declínio desta arte milenar de
tingimento têxtil. Entre elas incluem-se a dificuldade de produzir as cores pretendidas de
forma reprodutível e a falta de conhecimento técnico aprofundado acerca dos processos
de extração, purificação e aplicação nos materiais têxteis. O maior tempo consumido na
preparação da solução de tingimento e no processo de aplicação propriamente dito
também fazem com que o custo do tingimento com corantes naturais seja
consideravelmente superior quando comparado com tingimento com corantes sintéticos
(Siva, 2007; Samanta & Konar, 2011b). Além disso, a eficiência do processo de extração
de corantes naturais é geralmente baixa (Kasiri & Safapour, 2013).
Outro problema associado ao tingimento com corantes naturais, prende-se com a baixa
solidez à lavagem, à fricção, à luz e ao suor que os tintos obtidos geralmente apresentam,
provavelmente devido às fracas ligações estabelecidas com as fibras. Assim, com o
objetivo de atenuar estes problemas, é comum o recurso à utilização de mordentes, para
melhorar as propriedades de solidez dos tintos, situação que normalmente aumenta o
impacto ambiental do processo (Kasiri & Safapour, 2013).
13
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Nos últimos anos, vários investigadores e profissionais do setor têm dedicado especial
atenção à problemática da sustentabilidade ambiental e socioeconómica na indústria
têxtil. Contudo, apesar da relevância da questão, a análise integrada do impacto da
utilização de corantes naturais no tingimento de fibras têxteis, está ainda por realizar, não
existindo na literatura informação disponível sobre o assunto (Shahid & Mohammad,
2013b).
Uma vez que o tingimento com corantes naturais não se processa na generalidade das
situações à escala industrial, a maioria dos estudos atualmente disponíveis baseia-se em
resultados laboratoriais ou em processos modelo. Neste âmbito, alguns grupos de
investigadores têm avaliado o impacto ambiental associado à sua utilização, as previsões
de procura e disponibilidade futura de matéria-prima, as condições de processamento, as
suas propriedades, bem como o desenvolvimento de metodologias que garantam a sua
padronização, de forma a permitir a produção de corantes naturais em larga escala,
alavancando a sua sustentabilidade ambiental e económica, no sentido de alcançar novos
nichos de mercado (Bechtold et al., 2003; Bechtold et al., 2007).
14
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
De acordo com Geissler (2009), uma estratégia de “produção mais limpa e sustentável”
no tingimento com corantes de origem natural, passa pela intensificação do uso de
resíduos industriais como fonte de matéria-prima renovável para a produção dos corantes.
Esta opção, além de minimizar a produção de resíduos e permitir a conservação de
combustíveis fósseis, torna o processo economicamente mais rentável, uma vez que o
custo de produção de corantes naturais a partir de produtos primários da agricultura é
mais elevado, quando comparado com os custos de produção a partir de resíduos e
subprodutos.
Uma alternativa para minimizar a carga poluente associada ao processo de extração dos
corantes, proposta por Bechtold et al. (2003) e Bechtold et al. (2006) consiste no
desenvolvimento de processos de extração nos quais a água é o único solvente utilizado,
uma vez que, o uso de solventes orgânicos aumentará consideravelmente o nível de
contaminação das águas residuais, que por essa razão necessitarão de pós-tratamentos
mais complicados, aumentando os custos globais de processamento.
15
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
A solidez dos tintos reflete a resistência que um material tingido apresenta a sofrer
alterações de cor ou a permitir a transferência dos corantes nele absorvidos para materiais
adjacentes que com ele estejam em contacto, sendo normalmente avaliada através da
alteração da intensidade de cor da amostra original e do grau de manchamento produzido
nos materiais adjacentes. Neste contexto, a solidez à lavagem, a solidez à fricção a seco
e a húmido e a solidez à luz são geralmente consideradas as mais importantes para a
generalidade dos materiais têxteis. A solidez ao suor, por sua vez, é considerada
importante apenas para artigos de vestuário (Samanta & Agarwal, 2009).
Por sua vez, a solidez à fricção a seco e a húmido da maioria dos corantes naturais varia
habitualmente entre moderada a boa, não necessitando por isso de qualquer pós-
tratamento com o objetivo de a melhorar (Samanta & Agarwal, 2009).
16
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
No que se refere à solidez à luz, a maior parte dos corantes naturais possui níveis de
solidez que variam entre fraca a moderada, enquanto os corantes sintéticos apresentam
níveis de solidez que variam entre fraca a excelente. A solidez à luz é influenciada por
vários fatores, como as propriedades físico-químicas do corante, a sua concentração nas
fibras, a natureza destas e o tipo de mordente eventualmente utilizado (Cristea & Vilarem,
2006). A fraca solidez à luz patenteada por alguns corantes naturais, pode ser atribuída à
foto-oxidação do seu cromóforo, sendo possível minimizar a sua extensão, utilizando
mordentes metálicos, que atuam formando um complexo com o corante, reduzindo dessa
forma a sua degradação por exposição à luz (Vankar, 2000).
Jothi (2008) efetuou o tingimento de algodão e seda com extrato de flores de cravo-de-
defunto (Tagetes patula L.) e verificou a existência de alterações de tonalidade das
amostras tingidas após lavagem com sabão. Uma das explicações propostas para justificar
essa alteração foi a possível ionização do corante natural durante a lavagem em condições
alcalinas. Por esse motivo, a utilização de detergentes não iónicos foi recomendada no
caso deste corante, uma vez que as moléculas desta classe de detergentes, por não
apresentarem grupos negativos ou positivos na região polar, não afetam a estabilidade das
moléculas de corante.
Tepparin et al. (2012) estudaram o tingimento de algodão e seda com extrato de semente
de tamarindo e observaram que após a realização do teste de solidez à lavagem com uma
17
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
solução de detergente alcalina, ocorreu uma alteração de tonalidade dos tecidos tingidos
com ou sem o uso de mordentes. Uma tonalidade mais intensa foi observada,
possivelmente devido à instabilidade das moléculas de corante em meio alcalino, o que
promoveu uma alteração na estrutura do corante.
Montazer et al. (2004) aplicaram diferentes corantes naturais das classes antraquinona,
naftoquinona, flavonoides e taninos no tingimento da lã, realizando posteriormente um
tratamento alcalino com amónia. A avaliação das coordenadas colorimétricas das
amostras tingidas após a realização deste tratamento, mostrou que em todos os casos se
registou uma redução da luminosidade (L*) das amostras, sendo que a mesma foi
proporcional à concentração de amónia aplicada. Os autores relataram igualmente a
existência de alterações significativas de tonalidade das amostras após o tratamento
alcalino.
Mukherjee (2011) enfatiza que sabões alcalinos e carbonato de sódio são estritamente
proibidos nos testes de solidez à lavagem de tintos produzidos com corantes naturais, pois
estes produtos reagem com o corante, alterando a tonalidade final do material. Nos
estudos que realizou, utilizou um detergente não iónico na avaliação da solidez à lavagem,
aplicando um procedimento semelhante ao proposto pela norma ISO 105-C06:2010.
18
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Nisar et al. (2007) afirmaram que o componente corado que pode ser encontrado em maior
quantidade no eucalipto é a quercetina, sendo este um composto antioxidante com
propriedades anti-inflamatórias, que representa cerca de 11% da composição das folhas
de eucalipto (Kasiri & Safapour, 2013). A rutina, por sua vez, apenas pode ser encontrada
num pequeno número de espécies de eucalipto (Singh & Kumar, 2014). Na Figura 7
apresentam-se as estruturas químicas dos principais compostos corados que podem ser
encontrados nas folhas de eucalipto (Kasiri & Safapour, 2013)
De acordo com Sithole (2015), o pH dos extratos aquosos obtidos a partir de folhas de
eucalipto é ácido, devendo-se possivelmente essa acidez à presença de compostos como
o ácido gálico.
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
resíduos que podem ser utilizados na extração de corantes para o tingimento de materiais
têxteis (Silva & Barros, 2017). O extrato natural de folhas de eucalipto pode ser
facilmente obtido submetendo as folhas à fervura em meio aquoso, sem a utilização de
qualquer tipo de produto químico. Neste contexto, vários trabalhos encontrados na
literatura abordam a utilização de extratos obtidos a partir das folhas de eucalipto no
tingimento de fibras têxteis. A maior parte dos estudos estão relacionados com o
tingimento de fibras naturais, como o algodão (Nisar et al., 2007; Mongkholrattanasit,
Kryštůfek, Wiener, et al., 2011; Ben Fadhel et al., 2012; Sithole, 2015), a seda
(Mongkholrattanasit, Kryštůfek & Wiener, 2011; Mongkholrattanasit et al., 2013) e a lã
(Mongkholrattanasit, Kryštůfek, Wiener, et al., 2011; Mongkholrattanasit, 2009; Ben
Fadhel et al., 2012).
Nas últimas décadas, têm sido reportados alguns estudos relacionados com o tingimento
de fibras de algodão com extrato natural de folhas de eucalipto. Na maioria dos casos, o
objetivo desses trabalhos centrou-se na avaliação da influência de diversos parâmetros do
processo de tingimento, como a temperatura, tempo de tingimento, presença de auxiliares,
concentração do extrato e necessidade de utilização de mordentes. Neste contexto,
passaremos de seguida a fazer uma descrição mais detalhada dos trabalhos mais
relevantes relacionados com o tingimento de algodão com extrato de folhas de eucalipto.
21
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Sithole (2015) estudou a aplicação dos extratos naturais da madeira e das folhas de
eucalipto em tecidos de algodão. Cinco mordentes diferentes foram utilizados num
processo de pós-mordentagem. O estudo mostrou, através da determinação das
coordenadas colorimétricas CIELab, que é possível obter diversos tons e intensidades em
função do mordente utilizado e que o tingimento com extrato natural da madeira do
eucalipto produz tonalidades mais intensas que as obtidas com o extrato obtido a partir
das folhas.
23
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
As cascas, bem como as partes secas apicais não comestíveis dos bolbos de cebola, são
removidas antes do processamento, constituindo um subproduto agrícola abundante,
barato e facilmente disponível, que tem vindo a ser utilizado no tingimento de materiais
têxteis, uma vez que a quercetina aí presente é um corante natural que permite a obtenção
de diferentes tons de castanho em materiais têxteis produzidos com fibras naturais, como
a seda e a lã (Vankar, Shanker & Wijayapala, 2009).
Chen & Chang (2007) utilizaram plasma de baixa temperatura para modificar a superfície
de tecidos de algodão, antes do tratamento com extratos de casca de cebola, com o
objetivo de conferir propriedades antimicrobianas aos tecidos tratados. Os resultados
deste estudo mostraram que os grupos funcionais produzidos na superfície da fibra após
o tratamento plasmático a baixa temperatura, aumentam significativamente a natureza
hidrofílica do algodão e consequentemente, o rendimento do tingimento com extratos de
casca de cebola. Os tecidos de algodão não tratados com plasma e tingidos com extrato
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
de casca cebola e os tecidos de algodão pré-tratados com plasma e não tingidos, não
apresentaram atividade antimicrobiana. Por outro lado, o tecido de algodão pré-tratado
com plasma e tingido com extrato de casca de cebola mostrou atividade contra S. aureus.
A solidez à lavagem dos tecidos tratados também foi avaliada e apresentou grau 4.
Osman, El-Ebissy & Michael (2009) estudaram a aplicação de corantes naturais amarelos
em fibras de algodão, seda e lã, sob o efeito de diferentes mordentes. No caso do algodão,
o corante utilizado foi o extrato de casca de cebola, utilizando como mordentes o alúmen
de potássio, sulfato de cobre, sulfato ferroso, cloreto estânico e dicromato de potássio. Os
resultados obtidos foram expressos em termos da intensidade colorística obtida (K/S) e
mostraram que o sulfato ferroso foi o mordente que proporcionou maior intensidade de
cor no algodão.
25
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Datta et al., (2013) efetuaram o tingimento de tecidos de algodão com dez corantes
naturais diferentes, entre eles o extrato de casca de cebola, utilizando o alúmen de potássio
como mordente. A solidez à lavagem e a atividade antimicrobiana dos tecidos tingidos
contra as bactérias Bacillus subtilis e Escherichia coli foram testadas, tendo os resultados
obtidos mostrado que os tecidos tingidos apresentaram uma solidez à lavagem
razoavelmente boa e atividade antimicrobiana contra ambas as bactérias testadas e com
eficiência semelhante.
Num estudo conduzido por Ali, El-mohamedy e Rajput (2013) foi avaliada a intensidade
de cor e a atividade antimicrobiana de tecidos de algodão pré-tratados com diferentes
concentrações de quitosano de diferente peso molecular (baixo, médio e alto) e
posteriormente tingidos com corante natural extraído de cascas de cebola, com e sem o
mordente ácido tânico. A atividade antimicrobiana foi testada contra os fungos
Aspergillus flavus, Aspergillus niger e Penicillium spp. e contra as bactérias Escherichia
coli e Pseudomonas aeruginosa. Os resultados obtidos revelaram que os tecidos pré-
tratados e posteriormente tingidos foram eficientes na redução do crescimento de todos
os microrganismos testados. A concentração de quitosano, o seu peso molecular e a
presença do mordente determinaram a magnitude da atividade antimicrobiana e da
intensidade de cor. Assim, concluiu-se que concentrações mais elevadas de quitosano e a
presença do mordente proporcionavam maior intensidade de cor, comprovada pelos
maiores valores de K/S das respetivas amostras. Do mesmo modo, a atividade
antimicrobiana aumentava com o aumento do peso molecular e da concentração de
quitosano. Verificou-se também que o quitosano de peso molecular mais elevado
proporcionou melhores propriedades de solidez dos tintos à lavagem, à fricção, ao suor e
à luz.
26
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Várias têm sido as abordagens testadas, desde a realização de tratamentos de pré e pós-
mordentagem do algodão, passando pela cationização das fibras através de tratamentos
com reagentes de origem natural ou sintética e terminando no tratamento plasmático da
superfície das fibras.
2.3.1 Mordentagem
Os mordentes são compostos químicos, na sua maioria sais metálicos, utilizados com o
objetivo de aumentar a afinidade entre as fibras e os compostos corados utilizados no
tingimento. Quando utilizados com corantes sem afinidade, estabelecem pontes de
ligação entre o corante e a fibra, uma vez que possuem afinidade para os dois. Quando
utilizados com corantes com afinidade para as fibras, complexam com eles, no interior
das fibras, aumentando dessa forma a solidez do tinto obtido (Patel, 2011).
28
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Por sua vez, os taninos são compostos polifenólicos com capacidade de gelificação em
determinadas condições, sendo importantes nos processos de tingimento com corantes
naturais para a produção de amarelos, castanhos, cinzas e pretos, uma vez que permitem
aumentar a afinidade dos corantes para as fibras. Numerosas substâncias contendo taninos
são utilizadas como mordentes no tingimento de fibras têxteis (Singh & Kumar, 2014).
Por fim, os mordentes à base de óleos são essencialmente utilizados no tingimento com
extrato de granza, para obtenção da cor vermelha característica deste corante (Singh &
Kumar, 2014).
Diferentes tipos de mordentes produzem cores diferentes para o mesmo corante natural,
razão pela qual, a cor final, o brilho e a solidez do tinto não dependem apenas do corante,
mas também do tipo e concentração de mordente utilizado. O mordente ideal deve
produzir um rendimento tintorial apreciável, em condições de tingimento exequíveis e ao
mais baixo custo, sem comprometer seriamente as propriedades mecânicas das fibras ou
as propriedades de solidez dos tintos produzidos. É também importante que o mordente
não produza qualquer efeito nocivo durante o processamento e que o material têxtil não
apresente depois de tingido qualquer efeito cancerígeno que possa colocar em causa a sua
utilização (Samanta & Konar, 2011a).
Estudos realizados por diversos autores têm demonstrado que para se obterem níveis de
fixação adequados, no tingimento de fibras de algodão com corantes naturais, a
mordentagem é essencial na maioria dos casos (Shanker & Vankar, 2007; Grifoni et al.,
2014), podendo esta ser realizada antes do tingimento (pré-mordentagem), durante o
tingimento (mordentagem simultânea) ou após o tingimento (pós-mordentagem)
(Shanker & Vankar, 2007; Samanta & Agarwal, 2009; Samanta & Konar, 2011a). As
abordagens diferem entre si principalmente no que se refere ao momento de adição do
mordente. Enquanto os processos de pré e pós-mordentagem requerem uma etapa de
tratamento adicional, o processo de mordentagem simultânea é realizado através da
simples adição de uma solução concentrada de mordente ao banho de tingimento
(Bechtold & Mussak, 2009).
30
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Dadas as suas propriedades inatas, o quitosano tem um grande potencial para uma vasta
gama de utilizações, devido à sua biodegradabilidade, biocompatibilidade, atividade
antimicrobiana, não toxicidade e capacidade para melhorar a cicatrização de feridas,
propriedades que têm justificado a avaliação da sua utilização numa série de aplicações
médicas e industriais (Shanmugasundaram, 2006; Kasiri & Safapour, 2013).
Daqui se conclui que a aplicação de quitosano nas fibras de algodão pode contribuir para
potenciar o tingimento dos materiais celulósicos com corantes aniónicos, na ausência de
eletrólitos, possibilitando a obtenção de níveis de esgotamento considerados adequados.
31
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O tratamento dos materiais têxteis com quitosano é também, por vezes, considerado um
acabamento multifuncional (Giri Dev et al., 2009). Assim, vários autores relatam a
utilização do quitosano em processos de tingimento de algodão com objetivos diversos,
tais como o aumento da intensidade da cor, através da cationização da fibra (Rattanaphani
et al., 2007; Giri Dev et al., 2009), o aumento da capacidade de proteção anti-UV (Kim,
2006), a melhoria das propriedades mecânicas dos substratos (Kavitha et al., 2007) e o
desenvolvimento de materiais têxteis com propriedades antimicrobianas
(Shanmugasundaram, 2006; Kasiri & Safapour, 2013; Karolia & Mendapara, 2007;
Kavitha et al., 2007).
A sobre-exposição à radiação solar foi identificada como uma das principais causas
relacionadas com o aparecimento de problemas de pele como queimaduras solares,
envelhecimento prematuro, alergias, problemas nos olhos (cataratas) e cancro de pele,
sendo este um dos tipos de cancro com maior incidência a nível mundial (Grifoni et al.,
2014).
32
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
33
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2.4.2 Fatores que mais condicionam a proteção anti-UV dos materiais têxteis
34
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Outro fator que condiciona a proteção ultravioleta é a construção dos materiais, com
especial relevo para parâmetros como a porosidade, o peso e a espessura. De entre estes,
a porosidade do material é o parâmetro que melhor permite prever a transmissão UV
através de tecidos branqueados e não tingidos, surgindo a composição química das fibras
em segundo lugar (Grifoni et al., 2011). Segundo Pailthorpe (1998), um tecido ideal para
a produção de materiais anti-UV é aquele em que os fios constituintes são completamente
opacos à radiação UV e as aberturas ou poros no tecido são suficientemente pequenos
para bloquear a transmissão desse tipo de radiação. Nos seus trabalhos, Pailthorpe (1998)
relacionou a transmissão de radiação UV através de um tecido composto por fibras opacas
à radiação UV, com o seu fator de cobertura, estando este parâmetro diretamente
relacionado com a sua porosidade. Assim, a percentagem de transmissão UV e o índice
UPF podem ser calculados utilizando as seguintes equações:
100
𝑈𝑃𝐹 = 𝐸𝑞. (2)
100 − 𝑓𝑎𝑡𝑜𝑟 𝑑𝑒 𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑢𝑟𝑎
Em geral, os tecidos de malha apresentam fatores de cobertura inferiores aos dos tecidos
planos, devido à sua estrutura mais aberta. Entre os tecidos planos, os tecidos de debuxo
tafetá têm um fator de cobertura superior ao dos demais tecidos, uma vez que o
entrelaçamento de fios num tecido tafetá cria duas camadas de material fibroso, o que
diminui a sua porosidade. Num tecido de malha, por sua vez, as laçadas são puxadas
35
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Um outro parâmetro importante neste contexto é o peso por unidade de área, o qual se
encontra inversamente relacionado com a porosidade. Assim, materiais mais pesados
reduzem a transmissão de radiação UV, em virtude de terem menores espaços interfios e
interfibras, bloqueando assim mais eficazmente a transmissão da radiação (Sarkar, 2005).
O teor de humidade é outro fator que está intimamente relacionado com a capacidade de
proteção UV dos materiais têxteis, verificando-se que, regra geral, quando os materiais
36
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2.4.2.5 Lavagens
A capacidade de proteção UV dos materiais têxteis pode também ser influenciada pelos
processos de lavagem. Assim, verifica-se que após a lavagem, os materiais apresentam
geralmente uma diminuição na transmissão UV, sendo essa alteração mais significativa
no caso dos tecidos mais grossos e das malhas. O processo de lavagem ajuda a libertar as
tensões introduzidas durante a produção dos materiais, conduzindo à sua compactação, o
que reduz a porosidade e, consequentemente, aumenta a sua capacidade de proteção UV.
Um outro fator, que poderá contribuir para aumentar a proteção UV é a utilização de
detergentes que contenham agentes de branqueamento ótico na sua composição, dada a
capacidade que estes compostos demonstram para absorver radiação ultravioleta, em
especial na região UV-A (Saravanan, 2007; Grifoni et al., 2011).
Outra forma de incrementar o índice UPF dos materiais têxteis consiste na realização de
acabamentos especialmente destinados a melhorar as suas propriedades de proteção UV.
Um exemplo clássico deste tipo de acabamento é o tratamento com TiO2, que atua
essencialmente como absorvente de radiação UV. No caso das fibras sintéticas, o TiO2
pode ser incorporado durante a sua fabricação, sendo nesse caso o efeito permanente. O
tratamento com absorventes orgânicos de radiação ultravioleta (UVAs) constitui um outro
método eficiente de aumentar o índice UPF dos materiais. Os UVAs são compostos
incolores, com capacidade para absorver radiação na região UV (290 – 400 nm), que
podem ser aplicados por processos de esgotamento ou impregnação (Grifoni et al., 2011).
37
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Vários produtos e processos comerciais têm sido utilizados para produzir materiais têxteis
com elevados índices UPF, usando diferentes tipos de aditivos e de processos de
aplicação, em materiais produzidos a partir de fibras celulósicas, lã, seda e fibras
sintéticas. A maioria dos produtos comerciais disponíveis são compatíveis com os
corantes e com os outros agentes de acabamento aplicados no tratamento dos materiais
têxteis e podem ser aplicados por processo de impregnação ou esgotamento (Saravanan,
2007).
38
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Ao longo das últimas décadas, alguns trabalhos têm sido desenvolvidos no sentido de
determinar a capacidade de proteção UV resultante da aplicação de corantes naturais em
materiais têxteis (Gupta et al., 2005). No entanto, Grifoni et al. (2014) referem que, de
entre esses, são poucos aqueles que visam a aplicação de corantes naturais em materiais
têxteis produzidos com fibras naturais e que nos poucos casos em que tal acontece a maior
parte refere-se a fibras animais.
39
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Quando a radiação ultravioleta atinge o substrato, uma parte dessa radiação é refletida,
outra parte é absorvida e a restante penetra no tecido e é transmitida de forma difusa,
conforme ilustra a Figura 11 (Schindler & Hauser, 2004).
O fator de proteção ultravioleta (UPF) foi amplamente adotado pela indústria têxtil e de
vestuário a nível mundial, para classificar a capacidade de proteção UV dos materiais
têxteis, sendo calculado com base em medidas instrumentais, realizadas de acordo com
os procedimentos descritos na norma australiana/neozelandesa AS/NZS 4399: 1996, ou
na norma europeia EN 13758-1:2001. O índice UPF assim obtido representa o fator pelo
qual o período de exposição solar tem de ser multiplicado, quando a pele está protegida
40
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
pelo material, para que se obtenha a mesma ação eritematosa produzida quando a pele
não está protegida.
∑400
290 𝐸𝜆 × 𝑆𝜆 × ∆𝜆
𝑈𝑃𝐹 = 400 𝐸𝑞. (3)
∑290 𝐸𝜆 × 𝑆𝜆 × 𝑇𝜆 × ∆𝜆
Onde:
Classificação % de radiação UV
Índice UPF
qualitativa bloqueada
41
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Sabe-se que os materiais têxteis são suscetíveis de serem degradados por ação microbiana,
sendo essa possibilidade potenciada pela sua elevada área superficial específica e pela
capacidade de retenção de humidade característica de algumas fibras, requisitos
fundamentais para o desenvolvimento de colónias de microrganismos. A atividade
microbiana pode manifestar-se de várias formas nos materiais têxteis, sendo a mais
comum e menos gravosa através da formação de odores desagradáveis. No entanto, pode
também conduzir à degradação das suas propriedades mecânicas, descoloração e até
mesmo potenciar o aparecimento de doenças nos seus utilizadores, nomeadamente
infecções dérmicas e reações alérgicas. Por esta razão, a possibilidade de aplicação de
agentes antimicrobianos nos acabamentos têxteis tem vindo a ser cada vez mais
investigada ao longo dos últimos anos (Purwar & Joshi, 2004).
42
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
43
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
44
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2.5.2.2 Triclosano
45
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
2.5.2.5 N-halamina
Os metais pesados como o cobre, o zinco e o cobalto têm sido utilizados como agentes
antimicrobianos em aplicações têxteis, revelando-se eficazes mesmo quando aplicados
em concentrações muito baixas, seja no seu estado livre, ou integrados noutros
compostos. No entanto, o metal pesado com atividade antimicrobiana mais utilizado pela
indústria têxtil é a prata, principalmente na forma de nanopartículas (Ristić et al., 2011).
Nas fibras sintéticas, as nanopartículas de prata podem ser incorporadas no polímero antes
da extrusão, enquanto nas fibras naturais o tratamento só pode ser realizado na etapa final
de acabamento (Gao & Cranston, 2008). Durante a vida útil dos materiais tratados com
prata, esta difunde para a superfície da fibra, formando iões de prata na presença de
humidade. Acredita-se que esses iões metálicos destroem ou atravessam a membrana
celular dos microrganismos, acabando por se ligar ao grupo -SH das enzimas celulares.
A consequente diminuição da atividade enzimática faz com que o metabolismo dos
microrganismos se altere, inibindo o seu crescimento e acabando por conduzir à morte da
célula. Os iões metálicos também catalisam a produção de radicais de oxigénio que
oxidam a estrutura molecular das bactérias. A taxa de libertação dos iões de prata pode
ser influenciada pelas características fisico-químicas das fibras e pela concentração de
prata no substrato. A libertação controlada permite prolongar o período de atividade
biocida (Gao & Cranston, 2008; Ristić et al., 2011). Apesar da eficácia antimicrobiana
demonstrada pelos sais de prata, preocupações relacionadas com o desenvolvimento de
resistência bacteriana têm vindo a ser relatadas em vários estudos, assim como a possível
absorção das nanopartículas pela pele, situações que no seu conjunto têm vindo a reduzir
a sua utilização nos acabamentos têxteis (Ristić et al., 2011).
2.5.2.7 Quitosano
47
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
amina ligados aos átomos C-2 das unidades de glucosamina. Os grupos amina carregados
positivamente podem ligar-se à superfície bacteriana carregada negativamente,
conduzindo à ruptura da membrana celular e aumentando dessa forma a sua
permeabilidade. O quitosano pode também interagir com o DNA dos microrganismos,
inibindo a síntese protéica (Simoncic & Tomsic, 2010). Este potencial antimicrobiano,
associado à sua não toxicidade, biodegradabilidade e biocompatibilidade, tem fomentado
a sua aplicação em áreas como a indústria alimentar, agricultura, medicina, farmacêutica
e têxtil (Gao & Cranston, 2008).
O quitosano apresenta, no entanto, uma fraca solidez à lavagem quando aplicado sobre
fibras celulósicas. Assim, para melhorar a durabilidade do acabamento, o quitosano deve
ser reticulado com o algodão, podendo para o efeito utilizar-se
dimetiloldihidroxietilenoureia (DMDHEU), ácido cítrico, ácido 1,2,3,4-
butanotetracarboxílico (BTCA) ou glutaraldeído. Estes reagentes, alguns dos quais são
usados no acabamento anti-ruga do algodão, reticulam com o quitosano e o algodão
através de reação com os respetivos grupos hidroxilo, tornando o acabamento mais
resistente às lavagens (Gao & Cranston, 2008; Simoncic & Tomsic, 2010).
48
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Vários estudos têm demonstrado que muitas das plantas vulgarmente utilizadas para a
extração de corantes naturais são capazes de inibir o crescimento microbiano, uma vez
que possuem grandes quantidades de taninos e/ou naftoquinonas na sua composição que
lhes conferem atividade antibacteriana e/ou antifúngica (Ali et al., 2013).
49
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Algodão, seda E. coli, S. aureus, B. (Prabhu & Teli 2014; Datta et al.
Punica granatum
e lã subtilis 2013)
K. pneumoniae, S.
Berberis vulgaris Algodão (Haji & Branch 2013)
aureus
Areca catech,
Algodão B. subtilis, E. coli (Datta et al. 2013)
Terminalia arjuna
A. flavus, A. Niger,
Allium cepa Algodão Penicillium spp, E. coli, (Datta et al. 2013; Ali et al. 2013)
P. aeruginosa
Mangifera indica,
Glochidion E. coli, K. pneumoniae,
Seda e algodão (Baliarsingh et al. 2013)
lanceolarium, Litsea S. aureus, S. pyogenes
glutinosa
E. coli, S. aureus, C.
Rheum emodi L. Lã (Khan et al. 2012)
albicans, C. tropicalis
50
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Em função do tipo de agente ativo e do tipo de fibra, vários métodos de aplicação foram
desenvolvidos ou estão em desenvolvimento, com o objetivo de conferir atividade
antimicrobiana aos materiais têxteis. De uma forma geral, as tecnologias utilizadas
envolvem uma das seguintes abordagens: a incorporação do agente antimicrobiano nas
fibras, a sua aplicação à superfície da fibra ou a aplicação à superfície seguida de ligação
química com a fibra, conforme ilustrado na Figura 12 (Gao & Cranston, 2008; Patel &
Desai, 2015).
51
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
A formação de uma ligação química entre o agente antimicrobiano e a fibra têxtil constitui
o melhor método para se aumentar a durabilidade do tratamento. Esta metodologia requer,
no entanto, a existência de grupos reativos adequados no material, através dos quais se
possa processar a reação de fixação dos agentes ativos (Ristić et al., 2011).
Para a análise dos resultados da microdiluição, o crescimento nos poços que contêm o
agente antimicrobiano deve ser comparado com o crescimento nos poços do controlo, aos
quais não foi adicionado agente antimicrobiano (Weinstein et al., 2012).
52
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Os métodos quantitativos são, por outro lado, mais amplamente aplicáveis, mas mais
demorados e caros, uma vez que envolvem a contagem de microrganismos, o que permite
especificar um nível de atividade bactericida/fungicida. Estes métodos podem ser usados
para todos os tipos de materiais têxteis e permitem comparar diferentes tratamentos
antimicrobianos, bem como várias intensidades de tratamento no mesmo material têxtil
(Ristić et al., 2011).
53
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
54
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Por tudo isso, muitos laboratórios recorrem também à realização de outros testes para
rastrear a atividade antimicrobiana de superfícies funcionalizadas, nomeadamente
métodos analíticos colorimétricos, testes de viabilidade, manchas de viabilidade e
microscopia e coloração fluorescente acoplada com citometria de fluxo (Ristić et al.,
2011).
55
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Como foi possível constatar, vários autores relatam estudos de aplicação de corantes
naturais em materiais de algodão e poliamida, porém na pesquisa realizada foi encontrada
somente uma publicação que refere a utilização do extrato de casca de cebola no
tingimento de fibras de poliamida, um único trabalho que avalia a atividade
antimicrobiana de materiais de algodão tratados com extrato aquoso de eucalipto e apenas
dois trabalhos que referem a aplicação de extrato de cascas de cebola em algodão para
obtenção de acabamento anti-UV. Pesquisas referentes à aplicação de extrato de eucalipto
no acabamento anti-UV do algodão e nos acabamentos antimicrobiano e anti-UV de
fibras de poliamida não foram encontradas na literatura disponível.
56
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
3 MATERIAIS E MÉTODOS
3.1 Materiais
O quitosano (Chitoclear® 42030, peso molecular médio e viscosidade 800 cps) foi
adquirido à Primex Ingredients ASA, Avaldsnes (Noruega). O detergente não iónico, o
cloreto de sódio e o ácido acético foram adquiridos à Merck Portugal. Culturas de
Escherichia coli ATCC® 25922TM, Staphylococcus aureus AATCC® 6538TM e Candida
albicans ATCC® 10231TM foram utilizados para a avaliação antimicrobiana, além dos
meios de cultura Tryptic Soy Agar (TSA-Liofilchem), Sabouraud Dextrose Agar (SDA-
BioMèrieux), Tryptic Soy Broth (TSB) e Sabouraud Dextrose Broth (SDB) e dos caldos
de Mueller Hinton concentrado (MHB-Becton Dickinson) e de RPMI-1640 suplementado
com MOPS (Sigma-Aldrich). Todos estes reagentes foram gentilmente cedidos pela
Faculdade de Farmácia da Universidade do Porto.
57
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Procedeu-se de seguida ao cálculo da área de cada um dos espectros obtidos e por fim à
sua normalização através da aplicação da equação 4 (Thomas & Cerda, 2007).
𝑁𝑜𝑟𝑚
𝐴∗ (𝜆) = 𝐴(𝜆) × 𝐸𝑞. (4)
Á𝑟𝑒𝑎
As áreas dos espectros foram calculadas através da aplicação da equação 5 (Thomas &
Cerda, 2007).
𝜆=700
58
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
59
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
eluídos da coluna e convertidos em iões em fase gasosa, pela ação de uma fonte de
ionização, sendo de seguida separados no espectrómetro de massas, em função da sua
razão massa (m) / carga (z), m/z (Collins et al., 2011).
A identificação química dos metabolitos por espectrometria de massas pode ser obtida
através de ensaios de fragmentação (EM/EM), uma vez que o perfil de fragmentação de
cada molécula é único e intrínseco à sua estrutura química (Hoffman & Stroobant, 2007).
A análise por espectrometria de massas dos extratos de casca de cebola e eucalipto foi
realizada num cromatógrafo líquido modelo Waters 1525µ, utilizando uma coluna Waters
Symmetry® C18 (4,6 x 75 mm x 3,6 µm), acoplado a um espectrómetro Quattro micro
API Waters (Beverly, EUA) com fonte de electrospray, equipado com software de
aquisição MassLynx (Waters, Milford, USA). A fase móvel era composta por água com
0.1% de ácido fórmico (solvente A) e acetonitrilo com 0.1% de ácido fórmico (solvente
B). O sistema de gradiente foi estruturado da seguinte forma: 5% de B no período 0-2
min, 50% de B dos 2-10 min, 95% de B dos 10-20 minutos, 5% de B dos 20-25 minutos.
A taxa de fluxo foi de 0,4 mL.min-1 e o volume de injeção da amostra foi de 10 μL.
Para as análises de EM/EM (varrimento de iões secundários - Daughter Scan) dos iões
detetados na aquisição, utilizando o modo varrimento, a energia de fragmentação
(colisão) foi ajustada de 25 a 40 eV. Todas as análises foram realizadas e desenvolvidas
no Laboratório de Biomoléculas e Espectrometria de Massas – LaBioMass, do
Departamento de Química da Universidade Estadual de Maringá.
60
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Foram preparadas duas diluições em série dos extratos de eucalipto e de casca de cebola,
cada um deles com uma concentração inicial de 50 gL-1, em solução salina estéril. As
suspensões de microrganismos, com uma densidade de 0,5 McFarland em solução salina,
foram obtidas a partir de culturas de 24 horas em meio sólido de Tryptic Soy Agar (TSA-
Liofilchem) para as bactérias e Sabouraud Dextrose Agar (SDA-BioMèrieux) para a
levedura. Estas suspensões foram posteriormente diluídas (1:100) em caldo de Mueller
Hinton concentrado (MHB-Becton Dickinson) para as bactérias e em caldo RPMI-1640
suplementado com MOPS (Sigma-Aldrich) para as leveduras. Um volume igual de
solução diluída do extrato e de suspensão de microrganismos foi então adicionado nos
poços da placa de microdiluição.
61
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
𝐾 (1 − 𝑅)2
= 𝐸𝑞. (6)
𝑆 2𝑅
𝜆=700 𝑛𝑚
𝐾
𝐼= ∑ (𝜆) × ∆𝜆 ∆𝜆 = 10 𝐸𝑞. (7)
𝑆
𝜆=400 𝑛𝑚
62
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
63
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Dado o bom rendimento tintorial obtido no tingimento da poliamida com os dois extratos,
não se avaliou a influência da utilização de eletrólitos neste caso.
Preparou-se uma solução contendo 1,5% (p/v) de quitosano e 2% (v/v) de ácido acético.
A solução assim preparada foi mantida sob agitação à temperatura ambiente durante 4
horas, até completa dissolução do quitosano.
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Para se proceder à caracterização dos materiais tingidos, avaliou-se a solidez dos tintos à
lavagem doméstica e industrial, à fricção a seco e a húmido, à luz e ao suor, bem como
os respetivos fatores de proteção ultravioleta (UPF) e atividade antimicrobiana.
65
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
A avaliação da solidez à luz das amostras tingidas com os extratos de corantes naturais
foi realizada de acordo com a norma AATCC Test Method 186:2006, no equipamento
QUV – Accelerated Weathering Tester. O ciclo de teste selecionado teve a duração de 12
horas, correspondendo a 8 horas de irradiação com uma fonte luminosa de 0,77 W/m2,
com comprimento de onda de 340 nm, à temperatura de 60 °C, seguido por 4 horas de
condensação a 50 °C. Após cada dois ciclos de exposição (24 horas), as amostras foram
avaliadas num espectrofotómetro de reflexão Datacolor 550, para aquisição dos
respetivos espectros de refletância, na região visível do espectro eletromagnético (400-
700 nm), tendo esta avaliação prosseguido durante um período de 360 horas.
𝐼0 − 𝐼𝑡
𝐷 (%) = × 100 𝐸𝑞. (8)
𝐼0
66
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Para avaliar a solidez dos tintos ao suor, cada amostra foi testada em solução ácida e
alcalina, de acordo com os procedimentos descritos na norma ISO 105-E04:2013. A
avaliação da alteração de cor e do manchamento dos testemunhos foi realizada num
espectrofotómetro de reflexão Datacolor 550.
Para avaliar o fator de proteção ultravioleta (UPF) proporcionado pelos materiais tingidos
com os extratos naturais de folhas de eucalipto e de cascas de cebola, procedeu-se ao
tingimento de amostras de tecido 100% poliamida com os referidos extratos, nas
concentrações de 5, 10, 20, 30, 40, 50, 60, 70 e 80 gL-1. Tecidos 100% algodão com e
sem pré-tratamento com quitosano, foram por sua vez tingidos com os mesmos extratos,
nas concentrações de 10, 20, 30, 40 e 50 gL-1, com adição de 20 gL-1 de sal, no caso das
amostras sem tratamento prévio com quitosano. O índice UPF das amostras tingidas foi
posteriormente determinado, de acordo com o procedimento descrito na norma AS/NZS
4399:1996, utilizando para o efeito um espectrofotómetro SDL – M350, equipado com
uma esfera integradora para transmitância difusa.
Para avaliar a atividade antimicrobiana dos materiais tingidos com os extratos naturais de
folhas de eucalipto e de cascas de cebola, procedeu-se ao tingimento de amostras de
poliamida e algodão com e sem pré-tratamento com quitosano, com 30 e 50 gL-1 de cada
extrato, utilizando as condições otimizadas previamente definidas para cada caso.
Amostras de poliamida e algodão branqueados foram utilizadas como controlo negativo.
67
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Amostra Descrição
EUC-CO-QTS Algodão pré-tratado com quitosano tingido com extrato de folhas de eucalipto
CEB-CO-QTS Algodão pré-tratado com quitosano tingido com extrato de casca de cebola
Todos os materiais testados foram submetidos a uma prova de esterilidade, na qual cada
amostra foi colocada em contacto com o meio de cultura numa placa estéril e mantida
durante 24 horas em estufa a 37 °C.
A avaliação da atividade antimicrobiana das amostras testadas foi efetuada de acordo com
o método qualitativo não padronizado, baseado na inoculação de microrganismos em
tapete no meio de cultura, conforme descrito no trabalho de Magalhães (2015). Foram
testadas as bactérias E. coli e S. aureus e também a levedura C. albicans. O meio de
cultura utilizado foi o Tryptic Soy Agar (TSA) para bactérias e o meio de Sabouraud
Dextrose Agar (SDA) para a levedura, os quais após preparação de acordo com as
recomendações do fabricante, foram distribuídos em placas estéreis.
68
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
69
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 Otimização do processo de extração do corante natural de folhas de eucalipto e de
casca de cebola
Pela análise dos resultados obtidos, é possível constatar que, para o extrato de folhas de
eucalipto, o incremento da temperatura de extração conduziu a um aumento generalizado
da absorvância do extrato aquoso, para todos os comprimentos de onda analisados (Fig.
15a), o que indicia uma maior concentração de compostos em solução e,
consequentemente, uma maior eficiência do processo de extração. Manifestando-se esta
variação com intensidades diferenciadas no intervalo de comprimentos de onda analisado
(190-700 nm), procedeu-se também à determinação da área de cada um dos espectros
obtidos (Fig. 15b), confirmando-se que a mesma aumenta com o incremento da
temperatura de extração, correspondendo o valor máximo ao extrato obtido à temperatura
de 100 ºC.
70
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
71
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Também, neste caso, se procedeu à determinação das áreas dos espectros UV-Vis das
soluções obtidas, verificando-se uma vez mais que o aumento da temperatura conduziu a
um aumento da absorvância da solução, o que permite concluir que temperaturas de
extração mais elevadas aumentam a concentração de compostos presentes no extrato e
consequentemente, a eficiência do processo de extração. Os espectros normalizados das
várias soluções (Figura 16c) revelam a existência de três pontos isosbésticos, podendo
também aqui inferir-se que independente da temperatura de extração utilizada, a
composição qualitativa do extrato permanece inalterada, tal como demonstrado por Pouët
et al. nos seus trabalhos (Pouët et al., 2004).
Assim, também neste caso, a extração realizada a 100 °C foi aquela em que se obteve um
rendimento de processo mais elevado, tendo por isso sido essa a temperatura utilizada na
obtenção dos extratos de casca de cebola utilizados no decorrer deste trabalho.
Os espectros UV-Vis dos dois extratos revelaram também que ambos são capazes de
absorver radiação nas regiões UV-C (100-280 nm), UV-B (280-315 nm) e UV-A (315-
400 nm). A absorção na região 190-210 nm pode ser atribuída à presença de vários tipos
72
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
73
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Placa
Fator de retenção (Rf)
Eluente E (extrato eucalipto)
Folhas de eucalipto Casca de cebola C (extrato casca de cebola)
Rf1 = 0,16 Rf1 = 0,62
Acetona/água Rf2 = 0,20 Rf2 = 0,70
9,5:0,5 Rf3 = 0,66 Rf3 = 0,80
Rf4 = 0,72
Rf1 = 0,54 Rf1 = 0,78
Acetona/água Rf2 = 0,60 Rf2 = 0,86
9,0:1,0
Rf3 = 0,90 Rf3 = 0,92
74
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Tabela 8 - Composição qualitativa do extrato de casca de cebola e correspondente perfil de fragmentação - Identificação feita por comparação
com informação disponível na literatura
–
TR [M – H]
Número Nome do composto EM/EM Referências
(min) (m/z)
1 7,08 ácido protocatecuico 153 109 (HMDB ID: HMDB01856; Sánchez-Rabaneda et al., 2003)
2 7,56 Quercetina diglicosídeo 625 463, 301 (Lee & Mitchell 2011)
3 7,93 Quercetina diglicosídeo 625 463, 301 (Lee & Mitchell 2011)
Quercetina
4 8,66 463 301, 300, 271, 254, 179, 151 (Abdel-Hameed, Bazaid and Salman, 2013)
monoglicosilada
5 11,07 Quercetina 301 273, 257, 229, 179, 151, 107 (Wang et al. 2015)
75
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O ião de m/z 625 [M-H]- foi encontrado nos tempos de retenção 7,56 e 7,93 minutos,
com perfis de fragmentação semelhantes (Figura 19), podendo tratar-se de isómeros
diglicosilados de quercetina, gerando os fragmentos m/z 463 [M-H-162]- e m/z 301 [M-
H-162-162]-, correspondente à perda de um e dois fragmentos C6H10O5, respectivamente
(Lee & Mitchell, 2011). Este fragmento, que corresponde a uma diferença de 162
unidades de massa, indica a perda de uma hexose (glucose/galactose), por quebra da
ligação glicosídica (Abdel-Hameed et al., 2013).
a)
Sem dil
200616-Marcia-casca-cebola-90-MSMS 5 (7.562) Sm (Mn, 2x0.50); Cm (3:9) 6: Daughters of 625ES-
x2 301 3.75e4
100
300
%
463
299 302
175 313 343 356 462
151 378
0 m/z
50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500 525 550 575 600 625
b)
Sem dil
200616-Marcia-casca-cebola-90-MSMS 8 (7.936) Sm (Mn, 2x0.50); Cm (2:13) 7: Daughters of 625ES-
x2 301 2.92e4
100
300
299
%
301
463
298 462
179 464
110 151 213 253 625
0 m/z
50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500 525 550 575 600 625
Figura 19 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 625 nos tempos
de retenção a) 7,56 min e b) 7,93 min. Energia de colisão 35 eV.
O composto número 4, de ião m/z 463 [M-H]-, produziu um espectro EM-EM com
fragmentos característicos de quercetina (Figura 20) e com o fragmento de m/z 301 [M-
H-162]-, que corresponde à perda de um fragmento C6H10O5. O composto foi
76
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Sem dil
200616-Marcia-casca-cebola-90-MSMS 3 (8.718) Sm (Mn, 1x1.00); Cm (3:9) 10: Daughters of 463ES-
x2 301 6.97e3
100
300
301
151
%
271
255
243 255
107 150 269
121 179 272 287
77 83 95 135 164 168 201 227 339 402 419 430
0 m/z
60 80 100 120 140 160 180 200 220 240 260 280 300 320 340 360 380 400 420 440 460 480
Figura 20 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 463 no tempo de
retenção 8,71 min. Energia de colisão 35 eV.
O composto 5, que mostrou pico de ião precursor com m/z 301 [M-H]- e fragmentos de
m/z 273, 257, 229, 179, 151 e 107, foi identificado como quercetina, por comparação com
o perfil de fragmentação observado na literatura (Wang et al., 2015). A Figura 21
apresenta o padrão de fragmentação proposto para a quercetina.
77
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
78
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Tabela 9 - Composição qualitativa do extrato de folhas de eucalipto e correspondente perfil de fragmentação: Identificação feita por comparação
com informação disponível na literatura
[M-H]-
Número TR (min) Nome do composto EM/EM Referências
(m/z)
1 2,07 Ácido quínico 191 173, 127, 111, 109, 93, 85 (Deshpande et al. 2016)
2 5,23 Galoil-hexahidroxidifenil-glicose 633 481, 301 (Zhu et al. 2015; Boulekbache-Makhlouf et al. 2013)
3 5,33 Ácido gálico 169 125, 124, 79, 51 (Lan et al. 2013)
4 5,96 Galoil-hexahidroxidifenil-glicose 633 481, 301 (Zhu et al. 2015; Boulekbache-Makhlouf et al. 2013)
5 6,71 Galoil-hexahidroxidifenil-glicose 633 481, 301 (Zhu et al. 2015; Boulekbache-Makhlouf et al. 2013)
7 7,05 Bis(hexahidroxidifenil)-glicose 783 481, 301 (Zhu et al. 2015; Boulekbache-Makhlouf et al. 2013)
8 7,23 Bis(hexahidroxidifenil)-glicose 783 481, 301 (Zhu et al. 2015; Boulekbache-Makhlouf et al. 2013)
10 8,9 Ácido elágico 301 229, 185, 173, 157, 146 (Santos et al. 2011)
11 9,1 Quercetina 3-O-glucuronídeo 477 301, 179, 151, 107 Massbank MSJ00037
12 9,34 Quercetina monoglicosilada 463 301, 300, 271, 254, 179, 151 (Abdel-Hameed et al. 2013)
14 11,65 Quercetina 301 273, 257, 229, 179,151, 107 (Wang et al. 2015)
79
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O ião de m/z 191 [M-H]- foi identificado no tempo de retenção 2,07 minutos, tratando-
se possivelmente do ácido quínico, de acordo com o perfil de fragmentação encontrado
na literatura, apresentando os fragmentos de m/z 173, 127, 111, 109, 93 e 85 (Deshpande
et al., 2016). Um padrão de fragmentação proposto para o ácido quínico é apresentado na
Figura 23.
O ião de m/z 633 [M-H]- foi encontrado nos tempos de retenção 5,23, 5,96 e 6,71 minutos,
com perfis de fragmentação semelhantes (Figura 24), podendo tratar-se de isómeros da
mesma molécula do composto galoil-hexahidroxidifenil-glicose, produzindo os
fragmentos m/z 481 [M-H-152]- (perda de galoil) e m/z 301 [M-H-332]- (perda de
galoilglicose) (Zhu et al., 2015; Boulekbache-Makhlouf et al., 2013).
80
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
a)
Sem dil
200616-Marcia-Eucalipto-90-MSMS-A 3 (5.230) Sm (Mn, 2x0.50); Cm (2:12) 7: Daughters of 633ES-
301 1.30e4
100
301
275
%
249
274
213 632
280 302
250 633
51 71 113 125 151 169 243 299 420 430
453
221 373 395 480 515 534 645
0 m/z
50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350 375 400 425 450 475 500 525 550 575 600 625 650
b)
Sem dil
200616-Marcia-Eucalipto-90-MSMS-A 4 (5.961) Sm (Mn, 2x0.50); Cm (2:9) 10: Daughters of 633ES-
301 3.63e4
100
275
275
%
249
c)
Sem dil
200616-Marcia-Eucalipto-90-MSMS-A 3 (6.709) Sm (Mn, 2x0.50); Cm (2:8) 15: Daughters of 633ES-
300 2.38e4
100
301
274
%
275
Figura 24 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 633 nos tempos
de retenção a) 5,23 min; b) 5,96 min e c) 6,71 min. Energia de colisão 35 eV.
O composto número 3, que apresentou pico de ião precursor com m/z 169 [M-H]- e
fragmentos de m/z 125, 124, 79 e 51, foi identificado como ácido gálico, por comparação
do perfil de fragmentação com o disponibilizado na literatura (Lan et al., 2013). De acordo
com estes autores, o ião m/z 125 corresponde à perda de CO2 a partir do ião precursor.
81
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O ião de m/z 315 [M-H]-, encontrado no tempo de retenção 7,02 minutos, foi identificado
como ácido protocatecuico glicosilado, produzindo o ião de m/z 153 [M-H-162]-, por
perda de uma unidade de hexose (glucose), correspondente ao fragmento C6H10O5, por
quebra da ligação glicosídica (Catarino et al., 2015).
82
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
a)
Sem dil
200616-Marcia-Eucalipto-90-MSMS-A 12 (7.049) Sm (Mn, 2x0.50); Cm (2:12) 13: Daughters of 783ES-
301 1.91e4
100
301
300
275
%
782
302
276 450 781
217 228 251 329 358 492 534 543 576 597 601 613 765 786
67 123 138 168 185 379 383 425 445 451 482 628 726
0 m/z
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800
b)
Sem dil
200616-Marcia-Eucalipto-90-MSMS-A 3 (7.236) Sm (Mn, 2x1.00); Cm (2:3) 17: Daughters of 783ES-
301 3.61e4
100
275
%
273 764
247 299
765
168 298 401
231 632 766 783
167 170 210 226 263 287 313 319 397 427 450 480
598 613
123 151 357 730
550 556
0 m/z
50 100 150 200 250 300 350 400 450 500 550 600 650 700 750 800
Figura 26 - Espectro de fragmentação ESI (-) - EM/EM do ião de m/z 783 nos tempos
de retenção a) 7,05 min e b) 7,23 min. Energia de colisão 35 eV.
O composto 9, que apresentou m/z de 353 [M-H]-, produzindo o fragmento principal com
m/z 191, correspondente à perda de uma unidade de cafeioílo C9H6O3, foi identificado
como sendo ácido clorogénico, tendo este composto sido já encontrado noutras espécies
de eucalipto (Santos et al., 2011; Amakura et al., 2009). A Figura 27 apresenta o padrão
de fragmentação proposto para o fragmento principal do ácido clorogénico.
83
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O composto 10 mostrou pico de ião precursor com m/z 301 [M-H]-, gerando os
fragmentos de m/z 229, 185, 173, 157 e 146 que, de acordo com a literatura, são
característicos do ácido elágico (Santos et al., 2011).
O composto 11 de ião m/z 477 [M-H]- apresenta um espectro de massa com fragmentos
de m/z 301, 179, 151 e 107, característico da quercetina 3-O-glucuronídeo. O fragmento
principal de m/z 301 [M-H-176]- corresponde à quercetina por quebra da ligação
glicosídica e perda da unidade glucurónica (Massbank MSJ00037).
O composto 12 originou o ião de m/z 463 [M-H]- com fragmentos de m/z 301, 300, 271,
254, 179 e 151, sendo identificado como quercetina monoglicosilada, de acordo com a
informação disponível na literatura (Abdel-Hameed et al., 2013).
O composto 13, por sua vez, mostrou um pico de ião precursor com m/z 461 [M-H]- tendo
sido identificado como kaempferol O-glucuronídeo por comparação do seu espectro de
fragmentação com a informação disponível na literatura (Zhu et al., 2015). O fragmento
principal de m/z 285 [M-H-176]- foi identificado como kaempferol por perda de um
fragmento C6H8O6, correspondente à perda da unidade glucurónica por quebra da ligação
glicosídica.
84
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Nos espectros obtidos em água deuterada, foi possível verificar a presença de sinais na
região de 3,0 - 4,5 ppm, compatíveis com a presença de anéis de glucose (para os extratos
de casca de cebola e eucalipto) e parte alifática do ácido clorogénico e unidade
glucuronídeo (para o extrato de eucalipto).
O extrato de casca de cebola, por sua vez, apresentou atividade somente contra a bactéria
S. aureus. Considerando que não foram encontrados estudos relacionados com a atividade
antimicrobiana do extrato aquoso de cascas de cebola e que este é essencialmente
composto por quercetina e seus derivados glicosilados, como já discutido em 4.2.2, é
possível relacionar esses resultados com o trabalho de Santas et al. que avaliou a atividade
antimicrobiana do extrato da polpa de três espécies de cebolas e da quercetina pura. Neste,
a atividade antimicrobiana contra bactérias Gram-positivas e Gram-negativas e contra a
levedura C. albicans foi avaliada usando o método de microdiluição em placas. Os
resultados mostraram que S. aureus foi relativamente sensível ao extrato de cebola e à
quercetina, enquanto E. coli se mostrou resistente até à concentração máxima testada e
C. albicans mostrou-se insensível tanto ao extrato de cebola quanto à quercetina (Santas
et al., 2010).
Tendo algumas das amostras tingidas com os extratos de folhas de eucalipto e de casca
de cebola sofrido um tratamento prévio com quitosano, procedeu-se também à avaliação
da atividade antimicrobiana da solução de quitosano (1,5% p/v) utilizada nesse
85
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Solução de quitosano 0,23 gL-1 0,23 gL-1 0,12 gL-1 0,12 gL-1 7,5 gL-1 7,5 gL-1
* Sem atividade antimicrobiana para as concentrações testadas
86
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Pela análise dos resultados apresentados nas Figuras 28 a 31 é possível concluir que, em
todos os casos, o aumento da temperatura de tingimento favoreceu o rendimento tintorial,
tal como se pode constatar pelas curvas de K/S e pela intensidade de cor (I) das várias
amostras tingidas. Pode assim concluir-se que, em todos os sistemas fibra/corante
testados, a amostra tingida a 100 °C foi aquela que apresentou o melhor rendimento
colorístico. Este comportamento pode ser atribuído à maior energia cinética das
moléculas de corante a temperaturas mais elevadas e, consequentemente, à maior
capacidade de migração que as mesmas apresentam nestas condições (Ali et al., 2009;
87
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 30 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas
K/S, Intensidade de cor e amostras tingidas às diferentes temperaturas testadas.
Figura 31 - Tingimento da poliamida com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas
K/S, Intensidade de cor e amostras tingidas às diferentes temperaturas testadas.
88
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
O facto de a temperatura mais baixa de tingimento testada (70 °C) se situar acima da
temperatura de transição vítrea da poliamida, quando saturada com água (≈ 40 °C)
(Broadbent, 2001), faz com que a mobilidade das cadeias poliméricas seja já acentuada
nessas condições, o que facilita a difusão do corante nas fibras, permitindo que o
equilíbrio seja alcançado em períodos de tempo mais curtos. No caso do algodão, cujo
mecanismo de tingimento pode ser explicado pelo modelo de matriz rígida porosa
(Burkinshaw, 2015) e não pelo modelo dos volumes livres, como acontece com a
poliamida, o aumento da temperatura contribui essencialmente para aumentar a energia
cinética das moléculas de corante e dessa forma aumentar a velocidade de tingimento,
fazendo com que o equilíbrio seja alcançado tão mais rapidamente quanto maior for a
temperatura utilizada.
Uma vez que as alterações estruturais produzidas nas fibras de poliamida à temperatura
de 70 °C permitem velocidades de tingimento bastante superiores às obtidas no
tingimento do algodão nas mesmas condições, o tempo necessário para que se atinja o
equilíbrio será bastante inferior ao necessário no caso do tingimento do algodão. Assim,
para temperaturas abaixo dos 100 ºC e para períodos de tempo relativamente curtos, o
rendimento tintorial obtido no tingimento da poliamida encontrar-se-á menos dependente
da temperatura do que o obtido no tingimento do algodão.
89
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
90
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
os melhores resultados foram obtidos a pH 4,5 para o tingimento com extrato de eucalipto
(Figura 32) e a pH 4,0 no tingimento com extrato de casca de cebola (Figura 34).
Figura 34 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas
K/S, Intensidade de cor e amostras tingidas aos diferentes valores de pH testados.
Figura 35 - Tingimento da poliamida com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas
K/S, Intensidade de cor e amostras tingidas aos diferentes valores de pH testados.
91
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
superfície da fibra (Ali et al., 2013). Alguns dos grupos hidroximetilo (-CH2OH)
presentes nas fibras de algodão são naturalmente oxidados, formando grupos
carboxílicos, razão pelo que as fibras celulósicas adquirem geralmente uma carga
ligeiramente negativa quando imersas em soluções aquosas. Se o pH da solução se situar
acima de 8, alguns dos grupos hidroxilo presentes nas cadeias laterais dos grupos
hidroximetilo também podem ionizar, aumentando significativamente a carga negativa
da fibra. Contendo os extratos de folhas de eucalipto e de casca de cebola, um elevado
número de grupos fenólicos, como ficou anteriormente comprovado, estes também
adquirem carga negativa em solução aquosa (Needles, 1986). A existência de um
potencial elétrico negativo na superfície das fibras celulósicas contribui assim para repelir
os aniões corantes dificultando a sua adsorção.
92
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
A análise das amostras tingidas nas diferentes condições testadas permite também
constatar que as tonalidades obtidas se alteram significativamente em função do pH da
solução de tingimento, situação que se confirma pela existência de cruzamentos nas
curvas de K/S das amostras tingidas e que se traduz em variações substanciais nas
respetivas coordenadas cromáticas, apresentadas nas Figuras 36 a 39.
Pela análise das coordenadas cromáticas das amostras tingidas é possível constatar que,
independentemente do sistema fibra/corante em questão, o tingimento em meio ácido
produziu tonalidades mais escuras, traduzidas na redução do valor da coordenada L*
(luminosidade), fruto de uma maior absorção de matéria corante por parte das fibras. Por
outro lado, as amostras tingidas em meio ácido, apresentam-se mais avermelhadas
(aumento da coordenada a*), quando comparadas com as amostras tingidas em pH
alcalino.
93
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
de pH. No tingimento da poliamida com extrato de casca de cebola, por sua vez, não se
registaram grandes diferenças de tonalidade no intervalo de pH ácido testado,
verificando-se, no entanto, que a amostra tingida a pH alcalino se apresentou menos
vermelha e menos amarela que as demais (Figura 39).
95
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 41 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas
K/S, Intensidade de cor e amostras tingidas com diferentes concentrações de NaCl.
96
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Pela análise dos resultados apresentados nas Figuras 40 e 41 é possível verificar que para
a mesma concentração de extrato aplicado, a adição de sal à solução de tingimento
permite aumentar a intensidade de cor das amostras de algodão tingidas,
independentemente de se tratar do extrato de folhas de eucalipto ou do extrato de casca
de cebola. É, no entanto, importante notar que a ação do sal é mais pronunciada para
concentrações até 10 gL-1, verificando-se que para concentrações superiores o incremento
na intensidade de cor é pouco significativo, em especial no caso do extrato de folhas de
eucalipto. A explicação para estes resultados reside no facto de a adição de sal à solução
de tingimento conduzir a uma neutralização parcial da carga elétrica negativa que as fibras
de algodão apresentam quando imersas em solução aquosa. Assim, a adsorção de iões
sódio provenientes da dissociação do NaCl reduz o potencial elétrico negativo da
superfície e consequentemente a repulsão dos aniões corante, o que permite aumentar o
rendimento tintorial nestas condições (Ali et al., 2009). Resultados semelhantes foram
reportados por Rattanaphani et al. (2007) para o tingimento de algodão com o corante
laca, obtido através do inseto Coccus laccae, no qual foi adicionado NaCl ao banho de
tingimento para promover a adsorção do corante aniónico às fibras de celulose.
97
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 43 - Tingimento do algodão com extrato de casca de cebola (10 gL-1) - Curvas
K/S, Intensidade de cor e amostras com e sem pré-tratamento com quitosano, tingidas
na presença e ausência de NaCl.
Estes resultados podem ser explicados pela reticulação ocorrida entre o polímero e a fibra,
da qual resultou a formação de grupos catiónicos na superfície do algodão (Bhuiyan et
al., 2014). O quitosano contém grupos amina, -NH2, que se encontram protonados
(-NH3+) em meio ácido. Acresce o facto de a pH inferior a 4, os grupos carboxílicos e os
grupos hidroxilo na celulose não se encontrarem ionizados. Assim, após o pré-tratamento
98
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Os índices de solidez à lavagem das fibras de poliamida foram bons, tanto para o
tingimento com o extrato de folhas de eucalipto como para o tingimento com o extrato de
99
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
casca de cebola, tendo-se obtido grau 4 para alteração de cor e grau 3-4 a 5 para o
manchamento dos testemunhos. Estes resultados estão em consonância com os reportados
por Lokhande e Dorugade, nos seus estudos sobre o tingimento da poliamida com extratos
aquosos de açafrão e casca de cebola (Lokhande & Dorugade, 1999).
Algodão pré-tratado
4-5 4 4-5 4-5 4 4-5 4-5 5 4-5
com quitosano
Algodão pré-tratado
4-5 4 4-5 4-5 4 4-5 4-5 5 4
com quitosano
A solidez à lavagem das amostras de algodão tingidas com os dois extratos foi, no entanto,
bastante melhor no caso das amostras submetidas ao pré-tratamento com quitosano. Estes
resultados estão de acordo com os trabalhos de Lim e Hudson e de Chatha et al. e podem
ser explicados pelo facto de a cationização da superfície das fibras celulósicas, resultante
da aplicação de quitosano, contribuir para promover uma mais forte ligação entre a
matéria corante e a fibra, devido à formação de ligações iónicas entre os grupos catiónicos
do quitosano e os grupos aniónicos do corante. Essas ligações são muito mais fortes do
que as ligações de hidrogénio e as forças de van der Waals que se estabelecem entre os
corantes aniónicos e o algodão não tratado (Lim & Hudson, 2004; Chatha et al., 2016),
tal como o comprovam as respetivas energias de ligação médias, 250 kJ mol-1 nas
interações iónicas, 20 kJ mol-1 nas ligações de hidrogénio e 2 kJ mol-1 nas ligações de van
der Walls (Burkinshaw, 2015). Esta poderá ser uma das razões pelas quais a solidez à
100
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
lavagem na poliamida é superior à obtida para o algodão, uma vez que também neste caso
ocorre a formação de ligações iónicas entre o corante e os grupos amina protonados
presentes na poliamida. Acresce ainda o facto de a poliamida apresentar uma estrutura
mais cristalina e compacta que as fibras de algodão, situação que dificulta a difusão do
corante nas fibras à temperatura a que se realiza o ensaio (60 °C). Desta forma a remoção
do corante das fibras torna-se mais difícil, o que aumenta os níveis de solidez à lavagem
obtidos.
A análise dos resultados permite também concluir que, de uma forma geral, a solidez à
lavagem das amostras tingidas com o extrato de folhas de eucalipto é superior à obtida
nas amostras tingidas com extrato de casca de cebola. Pelo facto de o extrato de eucalipto
apresentar na sua composição química um maior número de taninos e flavonoides,
conforme ficou demonstrado nas seções 4.2.2 e 4.2.3 e manifestando estes grande
capacidade para fixar o corante nas fibras, ao atuarem como mordentes
(Mongkholrattanasit et al., 2013), será expectável que os melhores resultados obtidos
neste caso se devam ao incremento na intensidade das forças de ligação corante-fibra que
resulta da presença destes compostos no extrato de folhas de eucalipto.
A solidez à fricção a seco e a húmido pode ser considerada boa a muito boa para a
generalidade das amostras tingidas com extrato de eucalipto, variando de grau 4 a 5 e
razoável a muito boa para as amostras tingidas com extrato de casca de cebola, variando
de grau 3-4 até 5.
No caso do algodão, a solidez à fricção das amostras pré-tratadas com quitosano foi
ligeiramente superior quando comparada com os resultados obtidos no caso das amostras
de algodão branqueadas. Resultados semelhantes foram reportados por Ali et al. para o
tingimento de algodão com casca de cebola após pré-tratamento com quitosano, cuja
solidez à fricção a húmido passou de grau 2, no caso do algodão tingido sem pré-
tratamento, para grau 5, para o algodão tingido após pré-tratamento com quitosano (Ali
et al., 2013). A melhoria dos níveis de solidez obtida neste caso pode ser atribuída às
fortes ligações iónicas que se estabelecem entre o corante e o quitosano ligado ao algodão
(Ratnapandian et al., 2013), de forma análoga à descrita em relação à solidez à lavagem.
101
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Os índices de solidez à fricção a seco e a húmido das amostras de poliamida tingidas com
os dois extratos podem ser considerados muito bons, variando de grau 4-5 a 5. Estes
resultados estão de acordo com os trabalhos de Arora et al. relacionados com o tingimento
da poliamida com corante natural extraído da planta Arnebia nobilis, nos quais obteve
índices de grau 4-5 a 5 tanto para a fricção a seco como para a fricção a húmido (Arora
et al., 2012). As fortes ligações que se estabelecem entre os corantes e as fibras de
poliamida poderão também aqui estar na origem dos bons resultados obtidos.
Pela análise dos resultados obtidos, pode verificar-se que a solidez à luz das amostras
tingidas com os dois extratos é fraca, em especial quando aplicados nas fibras de algodão,
atingindo-se neste caso percentagens de descoloração na ordem de 90% após 360 horas
de exposição. No caso das amostras de poliamida, a solidez à luz melhora, uma vez que
a degradação é neste caso menos intensa e mais lenta.
102
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
A solidez à luz poderá também ser afetada no caso de o corante se encontrar demasiado
à superfície da fibra e não uniformemente distribuído no seu interior. A análise
microscópica da superfície dos materiais tingidos permitiu verificar que as amostras de
algodão pré-tratadas com quitosano apresentam uma distribuição mais irregular e
superficial do corante, tal como se pode constatar pela análise da Figura 46, situação que
contrasta com a distribuição do corante na poliamida e no algodão branqueado. Este facto
pode justificar a redução da solidez à luz das amostras pré-tratadas com quitosano.
A análise dos resultados permite também concluir que a solidez à luz obtida na poliamida,
é bastante superior à obtida no algodão, independentemente do tipo de extrato utilizado
no tingimento. Esta situação pode ser explicada pelo limitado acesso da água e do
oxigénio ao interior das fibras de poliamida, fruto da sua maior hidrofobicidade e
104
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
cristalinidade, uma vez que a presença destes reagentes na fibra assume um papel
primordial no mecanismo de degradação dos corantes por exposição à radiação UV
(Broadbent, 2001).
Os resultados obtidos na avaliação da solidez dos tintos ao suor ácido e alcalino das
amostras de algodão e poliamida tingidas com extrato de folhas de eucalipto e de casca
de cebola encontram-se representados nas Tabelas 13 e 14 respectivamente.
Tabela 13 - Solidez dos tintos ao suor ácido e alcalino das amostras de algodão e
poliamida tingidas com extrato de folhas de eucalipto
Alteração de Manchamento dos testemunhos
Teste Amostra
cor WO PAC PES PA CO CA
Poliamida 4 4 5 5 4-5 5 5
Solidez ao
Algodão branqueado 4-5 4 4-5 4-5 4-5 4-5 4
suor ácido
Algodão pré-tratado com
4-5 4-5 4-5 4-5 4-5 4-5 4-5
quitosano
Tabela 14 - Solidez dos tintos ao suor ácido e alcalino das amostras de algodão e
poliamida tingidas com extrato de cascas de cebola
Alteração de Manchamento dos testemunhos
Teste Amostra
cor WO PAC PES PA CO CA
105
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Uma análise mais detalhada dos resultados permite ainda concluir que a solidez ao suor
ácido foi em geral melhor que a solidez ao suor alcalino, em especial no caso das amostras
de poliamida e de algodão branqueado sem pré-tratamento com quitosano, tingidas com
extrato de casca de cebola. Estes resultados estão de acordo com os resultados obtidos na
avaliação da influência do pH no rendimento tintorial, nos quais se constatou que as
amostras tingidas com o extrato de casca de cebola sofrem uma forte redução na
intensidade da cor quando tingidas a pH 8,0, sendo este o pH da solução utilizada na
avaliação da solidez ao suor alcalino. Assumindo as interações iónicas um papel
importante na ligação corante-fibra, será expectável que em meios alcalinos essas
ligações possam ser mais facilmente quebradas, conduzindo a uma redução dos níveis de
solidez obtidos. A significativa alteração de cor que algumas das amostras evidenciaram
em condições alcalinas, como ficou demonstrado nos resultados apresentados nas Figuras
38 e 39, pode também dever-se a alterações produzidas nos cromóforos dos corantes em
condições básicas (Giri Dev et al., 2009).
106
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
4.5.5.1 Avaliação dos índices UPF das amostras de algodão tingidas com extrato de
folhas de eucalipto
Figura 47 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão com (A) e sem (B) pré-
tratamento com quitosano (1,5% p/v), tingidas com extrato de folhas de eucalipto.
Figura 48 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos
pares de amostras tingidas com extrato de folhas de eucalipto de acordo com o teste de
Tukey para um nível de significância α = 0,05.
108
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
extrato (B2 e B3) a excelente para amostras tingidas com extratos de concentrações iguais
ou superiores a 30 gL-1 (B4 a B6).
Os resultados obtidos permitem ainda concluir que todas as amostras pré-tratadas com
quitosano e tingidas apresentaram índices UPF superiores aos das amostras sem pré-
tratamento tingidas com a mesma concentração de extrato, sendo as diferenças detectadas
consideradas estatisticamente significativas, como evidenciado pelo teste de Tukey, para
um nível de significância α = 0,05 (Fig. 48).
109
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 49 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de
algodão branqueado tingidas com extrato de folhas de eucalipto.
Figura 50 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de
algodão pré-tratado com quitosano tingidas com extrato de folhas de eucalipto.
110
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
4.5.5.2 Avaliação do índice UPF das amostras de algodão tingidas com extrato de
cascas de cebola
Figura 51 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão com (A) e sem (B) pré-
tratamento com quitosano (1,5% p/v), tingidas com extrato de casca de cebola.
111
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
tingidas com concentração de extrato de 10 gL-1 apresentam um índice UPF que pode ser
classificado como muito bom, enquanto as amostras tingidas com concentrações de
extrato iguais ou superiores a 20 gL-1 podem ser classificadas como tendo uma excelente
proteção contra a radiação UV.
Figura 52 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos
pares de amostras tingidas com extrato de casca de cebola de acordo com o teste de
Tukey para um nível de significância α = 0,05.
112
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
a excelente no caso das amostras tingidas com extratos de concentração igual ou superior
a 20 gL-1 (B3 a B6).
Uma vez que as diferenças entre os índices UPF das amostras branqueadas (A1) e das
amostras branqueadas pré-tratadas com quitosano (B1) não são estatisticamente
significativas, como o demonstram os resultados apresentados nas Figuras 48 e 52, a
explicação para os índices UPF mais elevados das amostras pré-tratadas com quitosano
poderá, também neste caso, estar relacionada com o aumento do rendimento tintorial
observado após a aplicação do quitosano, tal como ficou demonstrado na secção 4.4.4.
Como os extratos utilizados contém compostos com capacidade para absorver radiação
UV, nomeadamente flavonoides, como ficou comprovado nas secções 4.2.2 e 4.2.3, estes
ao serem absorvidos pelas fibras em maior quantidade contribuem para aumentar a
capacidade do tecido de algodão para reter parte da radiação UV incidente, incrementando
dessa forma o seu índice de proteção ultravioleta (Kim, 2006). Os dados apresentados nas
Figuras 53 e 54 comprovam que também neste caso existe uma forte correlação linear
entre a intensidade da cor das amostras tingidas e os respetivos índices UPF, o que
confirma a hipótese anteriormente colocada.
Pode-se assim afirmar que o tingimento de tecidos de algodão com os extratos de folhas
de eucalipto e de casca de cebola aumenta os respetivos índices UPF e que o pré-
tratamento com quitosano, ao aumentar a adsorção dos compostos presentes no extrato,
aumenta consequentemente a proteção UV por eles proporcionada. Ficou ainda provada
a existência de uma correlação linear entre a intensidade de cor dos materiais tingidos e
os respetivos índices UPF, independentemente do tipo de extrato utilizado. No entanto, o
pré-tratamento com quitosano por si só não afeta de forma significativa a proteção UV
dos materiais tratados.
113
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 53 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de
algodão branqueado tingidas com extrato de casca de cebola.
Figura 54 - Correlação entre o íncide UPF e a Intensidade de cor (I) das amostras de
algodão pré-tratadas com quitosano tingidas com extrato de casca de cebola.
114
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
4.5.5.3 Avaliação da eficácia relativa dos dois extratos no incremento do índice UPF
Figura 55 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão sem pré-tratamento com
quitosano, tingidas com extrato de (A) casca de cebola e (B) eucalipto.
115
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 56 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos
pares de amostras branqueadas, tingidas com extrato de A) casca de cebola e B) folhas
de eucalipto de acordo com o teste de Tukey para um nível de significância α = 0,05.
116
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Comparando agora os índices UPF médios das amostras de algodão pré-tratadas com
quitosano e tingidas com a mesma concentração de cada um dos extratos (Figura 58),
verifica-se que também neste caso o extrato de casca de cebola proporcionou às amostras
tingidas índices UPF mais elevados que os obtidos pela aplicação do extrato de folhas de
eucalipto. Contudo, neste caso as diferenças são menos pronunciadas, verificando-se
mesmo que não existem diferenças estatisticamente significativas no caso das amostras
tingidas com as concentrações de extrato de 10 e 50 gL-1 (Figura 59).
117
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 58 - Boxplot dos índices UPF das amostras de algodão pré-tratadas com
quitosano e tingidas com extrato de (A) cascas de cebola e (B) folhas de eucalipto.
Acresce o facto de o declive da curva Intensidade de cor vs UPF ser cerca de 3,4 vezes
superior no caso do extrato de folhas de eucalipto, como se pode comprovar pelos dados
apresentados nas Figuras 49 e 54. Pode-se assim referir que para um mesmo incremento
no valor da intensidade de cor, o incremento no índice UPF será cerca de 3,4 vezes
superior no caso do tingimento com o extrato de folhas de eucalipto.
118
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Figura 59 - Significância estatística das diferenças entre os índices UPF médios dos
pares de amostras pré-tratadas com quitosano e tingidas com extrato de A) cascas de
cebola e B) folhas de eucalipto, de acordo com o teste de Tukey, para um nível de
significância α = 0,05.
A conjugação destes dois factores faz com que o pré-tratamento com quitosano produza
uma alteração mais significativa no índice UPF das amostras tingidas com o extrato de
folhas de eucalipto, permitindo que amostras tingidas com este extrato e com intensidades
de cor significativamente inferiores aos das amostras tingidas com o extrato de cascas de
cebola, apresentem índices UPF próximos dos destas.
O facto de o declive da reta Intensidade de cor (I) vs UPF ser bastante superior no caso
do extrato de folhas de eucalipto, estará certamente relacionado com o maior número de
compostos com capacidade para absorver radiação UV-A e UV-B presentes neste extrato,
nomeadamente taninos e flavonoides que não se encontram presentes no extrato de casca
de cebola.
119
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
120
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
4.5.5.4 Avaliação do índice UPF das amostras de poliamida tingidas com os dois
extratos
Assim, ao contrário daquilo que acontece no caso do tingimento do algodão com os dois
extratos, no caso da poliamida incrementos na intensidade de cor das amostras tingidas
não se traduzem em aumentos dos respetivos índices UPF.
Uma vez que uma maior intensidade de cor das amostras tingidas reflete maior absorção
dos compostos presentes nos extratos e, tendo estes capacidade para absorver radiação
UV, seria expectável que os materiais tingidos nessas condições apresentassem índices
UPF mais elevados, o que como vimos não acontece. A explicação para isto poderá dever-
se ao facto de as fibras de poliamida se tornarem totalmente opacas à radiação UV após
tingimento com 5 gL-1 de qualquer um dos extratos avaliados. Neste caso, ocorrerá a
absorção de toda a radiação UV incidente nas fibras, apenas sendo transmitida através do
material aquela que passa pelos espaços interfibras e interfios. Como se compreende, o
121
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
bloqueio da radiação transmitida por esta via não poderá nunca ser obtido por maior
absorção de compostos provenientes dos extratos, uma vez que estes se ligam às fibras e
não podem atuar nos poros do material. No entanto, para que esta explicação seja válida,
é necessário que a porosidade do material seja muito reduzida, de forma a permitir níveis
de transmitância muito baixos. Com o objetivo de confirmar este pressuposto, fez-se uma
análise microscópica do tecido de poliamida, tendo-se confirmado a sua diminuta
porosidade (Figura 64). A aplicação de técnicas de análise de imagem, com recurso ao
software Leica Aplication Suite permitiu ainda quantificar as áreas correspondentes às
regiões abertas, visíveis com mais detalhe na Figura 62b), verificando-se que estas
correspondem a apenas 4,8% da área total do tecido.
122
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
No caso dos tecidos de algodão, o mesmo tipo de estudo permitiu concluir que a
porosidade era bastante mais elevada, como se pode constatar pela análise da Figura 65,
representando as áreas abertas cerca de 17,4% da área total do tecido. Obviamente, neste
123
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
caso, por muito eficaz que seja o tratamento anti-UV realizado, os resultados obtidos
ficarão sempre condicionados pela porosidade bastante mais elevada deste material,
passível de permitir a transmissão de maior quantidade de radiação através dos espaços
interfios e interfibras.
Para além das amostras tingidas foi também testado o controlo negativo que correspondia
a uma amostra de 100% poliamida branqueada, na qual se verificou o crescimento de
todos os microrganismos, como era esperado. Nas amostras sujeitas ao controlo de
esterilidade não foi observado qualquer crescimento de microrganismos, confirmando a
esterilidade das amostras.
124
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
-1
EUC-PA 50 gL (+) (+) (+)
-1
EUC-CO 30 gL (+) (-) (-)
-1
EUC-CO 50 gL (+) (-) (-)
-1
CEB-CO 50 gL (+) (-) (+)
-1
CEB-CO-QTS 30 gL (+) (-) (+)
125
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
126
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Para a C. albicans não houve qualquer efeito inibitório das amostras não tingidas pré-
tratadas com quitosano, o que permite concluir que o quitosano por si só, quando aplicado
ao algodão nas concentrações testadas, não é capaz de inibir o desenvolvimento deste
microrganismo. O extrato de eucalipto, por sua vez, é capaz de reduzir o número de
127
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
128
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
129
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Os resultados obtidos mostram que é possível tingir materiais celulósicos com extratos
naturais de folhas de eucalipto e de casca de cebola, obtendo níveis aceitáveis de solidez
e propriedades antimicrobianas e anti-UV. Os tecidos de poliamida, por sua vez, são
também facilmente tingidos com ambos os extratos, com níveis satisfatórios de solidez e
excelentes propriedades anti-UV, contudo, não apresentaram atividade antimicrobiana
para os microrganismos testados nesta investigação.
130
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Com base nos resultados obtidos nesta investigação, apresentam-se as seguintes sugestões
para trabalhos futuros:
131
Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
Referências Bibliográficas
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Corantes Naturais no Tingimento e Acabamento antimicrobiano e anti-UV de Fibras Têxteis
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