Livro PDF - Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável - A5

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Felipe Schwahofer Landuci

Organizador

Rio de Janeiro
2021
Plano estratégico para o desenvolvimento sustentável da
aquicultura costeira fluminense (2021-2031)
Copyright © 2021, Felipe Schwahofer Landuci

Todos os direitos são reservados no Brasil

Impressão e Acabamento:
Pod Editora
Rua Imperatriz Leopoldina, 8 – sala 1110 – Pça Tiradentes
Centro – 20060-030 – Rio de Janeiro
Tel. 21 2236-0844 • [email protected]
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Projeto gráfico:
Pod Editora

Foto da capa:
Carolina Dominschek; Fausto Silvestri;
Felipe Landuci; Luiz Salgado

Revisão:
Pod Editora

Fotografia e Ilustrações
OS AUTORES responsabilizam-se in- Acervo dos autores
teiramente pela originalidade e in-
tegridade todo do conteúdo desta
OBRA, bem como isentam a EDI-
TORA de qualquer obrigação judi-
cial decorrente de violação de direi-
tos autorais ou direitos de imagem Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada ou reproduzida
nela contida e declaram, sob as pe- em qualquer meio ou forma, seja mecânico, fotocópia, gravação
nas da Lei, serem de suas única e etc. — nem apropriada ou estocada em banco de dados sem a ex-
exclusivas autorias. pressa autorização dos autores.
Em memória de:

Paulo Roberto Fonseca Gonçalves Vianna


Apresentação
Além de sua histórica importância como empresa de pesquisa e exten-
são pesqueira e aquícola no Estado do Rio de Janeiro, a FIPERJ também se
dedica a atividades de planejamento e divulgação de informações, conforme
previsto na Política Estadual de Desenvolvimento Rural Sustentável, Agroe-
cologia e de Produção Orgânica no Estado do Rio de Janeiro, que estabelece
princípios, objetivos, diretrizes e instrumentos destinados a fomentar a pro-
dução agropecuária sustentável de base agroecológica de origem rural, urbana
e periurbana. Esta política de desenvolvimento fundamenta-se na mudança
nos padrões das relações sociais de produção, de consumo, de realização e de
reprodução, para a conciliação entre meio ambiente e desenvolvimento, con-
ceito este apoiado no Plano Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável
e Solidário.
Neste sentido, na abordagem da aquicultura costeira, atividade que
envolve a criação de organismos aquáticos marinhos e/ou estuarinos, sejam
eles crustáceos, moluscos, algas ou peixes, e que nos últimos anos despontam
com grande destaque e potencial no estado, a FIPERJ vem concentrando es-
forços na proposição de diretrizes baseadas no conceito de boa governança,
sempre através de uma abordagem ecossistêmica da aquicultura proporcio-
nando mecanismos claros para que produtores e autoridades governamentais
se engajem uns com os outros para o gerenciamento eficaz e sustentável, abra-
çando os objetivos ambientais, socioeconômicos e de governança do setor.
Porém a inexistência - até o momento - de instrumentos como órgãos
colegiados consultivos e deliberativos com objetivo de formular e propor po-
líticas públicas e também uma câmara setorial exclusiva da aquicultura cos-
teira, comprometem um processo de construção participativo. Contudo,
ainda assim, as opiniões e percepções dos principais atores da cadeia produtiva
- ou seja, os produtores - aqui apresentadas na forma de um diagnóstico, tor-
naram possível neste documento identificar, apoiar e propor ações para os
temas mais urgentes nos quais atrapalham o desenvolvimento da atividade,
favorecendo a cooperação e as sinergias em nível regional.
Assim, a elaboração deste Plano Estratégico para o Desenvolvimento
Sustentável da Aquicultura Costeira Fluminense tem como objetivo nortear
o setor ao longo da próxima década com a definição de metas de curto, médio
e longo prazo. Este Plano Estratégico foi elaborado com base nas melhores
recomendações existentes sobre o assunto, em particular no documento da
Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação –
FAO/ONU: Planejamento da aquicultura – formulação e implementação de
políticas para o desenvolvimento sustentável. Sua preparação empregou uma
abordagem participativa e ecossistêmica que considerou os principais aspectos
sociais, econômicos e ambientais relacionados com a aquicultura costeira flu-
minense.
Espera-se, com este documento, disponibilizar uma ferramenta para
reunir todos os atores envolvidos com a aquicultura costeira fluminense em
razão de um objetivo único, por meio da união de esforços e da participação
ativa, visando um novo ciclo de desenvolvimento harmonioso e sustentável
desta atividade. Se faz necessário destacar que ainda que aqui sejam definidos
apontamentos futuros, estes podem e devem ser constantemente revistos es-
pecialmente em conjunto com outros atores sociais e tomadores de decisão de
maneira a adequá-los e proporcionar sua plena eficácia e eficiência, equidade,
prestação de contas e previsibilidade do estado de direito.

A Diretoria Executiva
Autoria
Felipe Schwahofer Landuci; Paulo Márcio Santos Costa; Fausto
Silvestri; Luiz Henrique Souza Salgado; Luis Bernabé Castillo; Marina
Fernandes Bez; Sandro Ricardo da Costa; Aline Thomasi da Silva; An-
dré Luiz de Araújo; Paulo Roberto Fonseca Vianna; Flávia Aline de An-
drade Calixto; Ligia Coletti Bernardochi; Pedro Vieira Esteves; Gui-
lherme Burigo Zanette; Leticia Hitomi Nagami; Murilo Oliveira Thu-
ller; Paula Dugarte Ritter.
Agradecemos às seguintes pessoas e instituições que contribuíram direta ou
indiretamente na elaboração desta obra.

Produtores e colaboradores
Eduardo Rodrigues da Silva Marcos V. Bucard
Tibor Szabó Paulo Henrique Cordeiro Sodré
Lourival Ramos Filho (Lôro) Evanildo Azevedo Sena
Joceli do Nascimento Antônio Carlos Pereira Dias (Pingo)
Nuno de Azambuja Seabra Manoel Azevedo dos Santos
André Daher Jeferson de Carvalho Januário
Ronaldo de Souza Viana Raul Antônio Marques Wagner
Angélica de Melo Portugal Lucas Gonçalves Rodrigues
Humberto Gomes da Silva Carlos Magno Carvalho de Manhães
Fábio Rocha da Silva Willian Nicolau Neto
Clésio de Jesus Maia Renata Reis
Osmar de Araújo Santos Beatriz Castelar
Henrique Geromel de Góes Carolina Dominschek
Valdeci do Nascimento Manuel Valenzuela
Carlos Kazuo Jasbick Tonaki

Instituições
Secretaria de Aquicultura e Pesca - SAP Universidade do Estado do Rio de Janeiro -
Ministério da Agricultura Pecuária e UERJ
Abastecimento - MAPA Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto Estadual do Ambiente - INEA Universidade Federal Rio de Janeiro - UFRJ
Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
Ilha Grande - IED-BIG Prefeituras em ordem alfabética:
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Paraty, Angra dos Reis, Arraial do Cabo,
Pequenas Empresas - SEBRAE/RJ Campos dos Goytacazes, Itaguaí,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Mangaratiba, Niterói, Rio de Janeiro
- UFRRJ
Sumário

Apresentação.................................................................................... 7
Autoria .............................................................................................. 9
Capítulo 1 Panorama da Aquicultura mundial ......................... 13
1.1 Aquicultura costeira e maricultura ................................. 16
1.2 Rio de Janeiro e a aquicultura no estado ....................... 17
1.3 A FIPERJ e seu papel institucional .................................. 25
Capítulo 2 Planejamento Estratégico da Aquicultura Costeira .. 27
2.1 Estratégia ........................................................................ 28
2.2 Diagnóstico ..................................................................... 30
2.3 A atividade, seus aspectos e desafios ............................ 35
2.4 Licenças e processos regulatórios .................................. 37
2.5 Sistematização e hierarquia ........................................... 57
2.6 Indicadores / mecanismo de implementação ................ 58
Capítulo 3 Metas ...................................................................... 61
3.1 Eixo 1 - Produção ............................................................ 61
3.2 Eixo 2 – Pesquisa ............................................................ 71
3.3 Eixo 3 - Extensão............................................................. 76
Capítulo 4 Considerações Finais .............................................. 83
Referências ..................................................................................... 90

11
12
Capítulo 1 Panorama da Aquicultura mundial
Um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
foi introduzido pelas Nações Unidas e seus 189 membros como um comple-
mento aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), destinados a
enfrentar desafios globais complexos. Essas metas são bastante amplas em al-
cance e ambição e abrangem: a erradicação da pobreza e da fome; a melhoria
da saúde e da nutrição; a redução da desigualdade; a construção de sociedades
pacíficas, justas e inclusivas; a proteção dos direitos humanos; a promoção da
igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas; e a proteção
duradoura do planeta e de seus recursos naturais (FAO, 2017a). Esses objeti-
vos também buscam criar condições para um crescimento econômico susten-
tável, inclusivo e sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente
para todos, levando em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capa-
cidades nacionais. Os ODS abrangem uma nova visão de desenvolvimento
para o mundo como um todo, e se esforçam para compensar as lacunas atri-
buídas aos ODM (Mainali et al., 2018).
Como declarado nos ODM da Agenda para o Desenvolvimento Sus-
tentável da ONU 2030, há uma preocupação global focada na erradicação da
desnutrição, na mitigação da pobreza e na consecução da segurança alimentar
e da saúde planetária. Os ODS procuram aumentar a resistência às mudanças
climáticas, às condições climáticas e aos desastres naturais, à volatilidade do
mercado e à instabilidade política, e reduzir a pressão das atividades econô-
micas humanas sobre o ambiente natural, enfatizando a necessidade não ape-
nas de proteção do habitat e do ecossistema, mas também de maior eficiência
no uso dos recursos e de produção e consumo sustentáveis - disseminando
assim a responsabilidade de proporcionar sustentabilidade entre todos os
agentes econômicos.
A segurança alimentar é uma preocupação global devido às alarmantes
13
taxas de crescimento populacional, bem como aos sistemas de produção de
alimentos que esgotam os recursos naturais e causam a degradação ambiental.
O setor pesqueiro, uma indústria que inclui a pesca de captura selva-
gem e a aquicultura, é vital para garantir a segurança alimentar global. A pro-
dução mundial de pescado atingiu 179 milhões de toneladas em 2018, com
um valor total de primeira venda estimado em 401 bilhões de dólares; só a
aquicultura responde por 52,6% desse total (excluindo usos não-alimentares
como farinha e óleo de peixe) (FAO, 2020). Quase todos os ODSs, e muitas
metas associadas (mais de 34), são relevantes para o desenvolvimento da aqui-
cultura (FAO, 2017a).
O consumo mundial de pescado aumentou entre 1961 a 2017 a uma
taxa média anual de 3,1%, uma taxa quase duas vezes superior a do cresci-
mento anual da população mundial (1,6%) para o mesmo período, e superior
a de todos os outros alimentos com proteínas animais (carne, laticínios, leite,
etc.), que aumentou em 2,1% ao ano. Já o consumo de peixe per capita cres-
ceu de 9,0 kg (peso vivo equivalente) em 1961 para 20,5 kg em 2018, em
cerca de 1,5% ao ano (FAO, 2020).
Estima-se que a produção global de peixe – pesca e aquicultura - tenha
atingido cerca de 179 milhões de toneladas em 2018, com um valor total de
primeira venda estimado em USD 401 bilhões, dos quais 82 milhões de to-
neladas, avaliadas em USD 250 bilhões, vieram da produção aquícola. A aqui-
cultura foi responsável por 46% da produção total mundial e 52% quando
considerado só para consumo humano. Também se estima que atualmente
20,53 milhões de pessoas estão empregadas no setor (FAO, 2020).
Na América do sul, a produção aquícola estimada é de 2,67 milhões
de toneladas. No continente o maior produtor é o Chile (1,26 milhões de
toneladas, 47% do total) embora tenham destaque o Brasil com 0,605 mi-
lhões de toneladas (22,6% do total) e o Equador com 0,539 milhões de tone-
ladas (20,1% do total) (FAO, 2020).
14
No Brasil as principais espécies cultivadas são a tilápia do Nilo (Oreo-
chromis niloticus), o tambaqui (Colossoma macropomum) e o camarão de perna
branca do Pacífico (Litopenaeus vannamei). Outras espécies também têm
grande importância socioeconômica local (Valenti et al., 2021). Já o potencial
para a produção marinha permanece largamente inexplorado (Kapetsky et al.,
2013).
Enquanto todos os estados costeiros do Brasil produzem moluscos
através da aquicultura, a produção está concentrada na região sul do país. Es-
tatísticas oficiais (IBGE, 2020) informaram a produção de 15.200 toneladas
de moluscos em 2019, sendo a região sul responsável por mais de 95% desse
total. O mexilhão marrom (Perna perna) é a principal espécie cultivada, com
um volume anual de quase 13.000 toneladas. A ostras do Pacífico (Crassostrea
gigas) vem em segundo lugar, com quase 2000 t. Há também uma pequena,
mas crescente produção de vieiras (Nodipecten nodosus), principalmente nos
estados do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Santa Catarina (SC) (Valenti
et al., 2021).
Apesar das iniciativas de Pesquisa & Desenvolvimento, a produção co-
mercial de peixes marinhos está atualmente restrita a pequenas pisciculturas
em tanques rede em SP, RJ, e Espírito Santo (ES). Estima-se que a produção
anual de bijupirá (Rachycentron canadum) nesta região tenha aumentado de
25 toneladas em 2015 para 100 toneladas em 2019, e uma vez resolvidas al-
gumas deficiências, um enorme potencial pode ser realizado (Valenti et al.,
2021).
Estudos indicaram a viabilidade técnica dos sistemas de cultivo de ma-
croalgas ao longo da costa brasileira, embora essa atividade ainda esteja em
seus estágios iniciais de desenvolvimento, com apenas algumas poucas empre-
sas de escala comercial em operação (Valenti et al., 2021). As principais espé-
cies nativas cultivadas são membros dos gêneros Gracilaria, Porphyra e
Hypnea na região nordeste do Brasil; a espécie exótica Kappaphyccus alvarezzi
é restrita às costas do RJ, SP (da Baía de Sepetiba a Ilhabela), e SC.
15
1.1 Aquicultura costeira e maricultura
A aquicultura costeira e a maricultura desempenham um papel impor-
tante na subsistência, no emprego e no desenvolvimento econômico local en-
tre as comunidades costeiras de muitos países em desenvolvimento. Ao redor
do mundo ambas as atividades produziram coletivamente 30,8 milhões de
toneladas (US$ 106,5 bilhões) de animais aquáticos em 2018. Os moluscos
sem casca, (17,3 milhões de toneladas) representavam 56,2% do total, e os
peixes (7,3 milhões de toneladas) e crustáceos (5,7 milhões de toneladas), em
conjunto, foram responsáveis por 42,5% (FAO, 2020).
A aquicultura costeira desempenha um papel importante no desenvol-
vimento econômico das comunidades costeiras em muitos países em desen-
volvimento (FAO, 2020). Os principais produtores de produtos da aquicul-
tura costeira na América Latina são o Chile (1266 mil toneladas, excluindo
algas; com 6.435 km de costa) e o Peru (89,8 mil toneladas; com 2.414 km
de costa) (FAO, 2020, Kluger et al., 2019).
A produção peruana de vieiras Argopecten purpuratus cresceu drastica-
mente na última década, favorecida por condições ambientais e socioeconô-
micas benéficas que resultam em custos de produção mais baixos do que os
do Chile. Um único local naquele país (Baía de Sechura) é responsável por
50% de toda a produção latino-americana (Kluger et al., 2019). As produções
aquícolas de salmão do Atlântico, salmão coho e truta arco-íris no Chile se
transformaram em modernas indústrias multimilionárias, ficando atrás ape-
nas da Noruega na produção aquícola global total, e em terceiro lugar na co-
lheita de moluscos bivalves (FAO, 2020)
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) adota tanto a aquicultura costeira como a maricultura como um único
conjunto de atividades e a principal razão disto é a forma em que diversos
países estruturam seus dados informados. Neste sentido, optamos em adotar
a mesma classificação, porém explicamos abaixo as características de cada uma
delas.
16
Se considera como aquicultura costeira as atividades conduzidas em
estruturas totais ou parcialmente artificiais em áreas próximas ao mar, tais
como lagoas costeiras e lagoas fechadas. Embora os tanques costeiros para
aquicultura, modernos ou tradicionais, sejam encontrados em quase todas as
regiões do mundo, eles estão muito mais concentrados no sul, sudeste e leste
da Ásia e América Latina sobretudo para a criação de crustáceos, peixes, mo-
luscos e, em menor grau, algas marinhas. No Brasil, dada a sua importância,
o grande exemplo são os sistemas de cultivo de camarão, especialmente os
extensivos.
Já a maricultura, ou aquicultura marinha, é o conjunto de atividades
realizadas no mar. Para algumas espécies, dependendo da origem de sua forma
jovem, o ciclo de produção é inteiramente no mar, contudo, para outras em
que dependem de outros ambientes nas fases de alevinagem e ou berçário,
mesmo em água doce, a maricultura representa a fase de crescimento do ciclo
de produção.

1.2 Rio de Janeiro e a aquicultura no estado


O Estado do Rio de Janeiro situa-se na região sudeste do Brasil, fa-
zendo fronteira com os Estados de São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo,
além do Oceano Atlântico. Ocupa uma área de 43780,172 Km². Apesar de
ser, em termos de território, o terceiro menor estado, concentra 8,4% da po-
pulação do país, sendo o estado com a maior densidade demográfica do Bra-
sil(IBGE, 2018a). Em relação ao seu litoral, é o terceiro mais extenso do país,
com aproximadamente 1.160 km, assumindo o contorno costeiro do territó-
rio continental, abrangendo 33 municípios e 40, 1% do território fluminense,
no qual vivem cerca de 80% da população de todo o estado (INEA, 2015).
Em termos político-administrativos, o estado é formado por oito grandes re-
giões: Serrana, Centro-Sul Fluminense, Médio Paraíba, Costa Verde, Metro-
politana, Baixadas Litorâneas, Norte Fluminense e Noroeste Fluminense.

17
Figura 1. Regiões Administrativas e empreendimento por tipo de cultivo, da
aquicultura costeira no estado do Rio de Janeiro

Fonte: Felipe Landuci

Seu produto interno bruto (PIB) é o segundo maior do país com um


valor de 671.362 milhões de reais. A principal atividade econômica do Estado
do Rio de Janeiro está ligada ao setor terciário e essencialmente à prestação de
serviços, já a menor participação produtiva é a agropecuária. Em termos ge-
rais, a produção agropecuária no estado teve um valor de 2,9 bilhões de reais
(CEPERJ, 2017).
O Estado do Rio de Janeiro apresenta grande potencial para o desen-
volvimento da aquicultura a nível comercial, tanto continental quanto mari-
nha, em função de uma série de características dentre as quais se pode ressal-
tar: condições climáticas favoráveis, riqueza de recursos hídricos, grande
quantidade de áreas com características de topografia de solo apropriadas para
a construção de viveiros de peixes, vasta costa litorânea e grande mercado con-
sumidor.
18
Em 2019 o Estado do Rio de Janeiro ocupou apenas o 20º lugar entre
os entes federativos no ranking de produção de organismos aquáticos com um
volume estimado de 4.700 toneladas, um aumento de 2,3% nos últimos 2
anos, embora seja o 4º maior exportador com um volume de 494, 18 tonela-
das - 7,41% do total nacional –(PEIXEBR, 2020), o que sugere uma possibi-
lidade concreta de crescimento baseado na possibilidade de atingir com mais
facilidade novos mercados. Se tratando de espécies, no estado, o maior volume
produzido é da tilápia nilótica (O. niloticus) seguido pelos moluscos bivalves
- vieiras (Nodipecten nodosus), ostras (Crasssotrea gigas) e mexilhões (Perna
perna) - e a truta arco-íris – Oncorhynchus mykiss (IBGE, 2018b).
O início do desenvolvimento da aquicultura costeira no estado, data
das primeiras iniciativas de maricultura que ocorreram nos anos 70, quando
foram instaladas jangadas simples de madeira para o cultivo de mexilhões (P.
perna) e ostras (C.gigas) (Manzoni and Schmitt, 2006, Poli, 2004) na região
da Baixadas Litorâneas. Em meados dos anos 80, o setor privado investiu na
criação de moluscos bivalves na área da Costa Verde e, posteriormente, as
fazendas marinhas foram estimuladas pelos governos municipais a incluir gru-
pos interessados, especialmente os ilhéus (residentes da Ilha Grande) que fo-
ram conscientizados e incentivados a se engajar na atividade.
Nos anos 90, sob a agenda do RIO 92, na região Metropolitana, os
residentes costeiros apoiados e encorajados pela Iniciativa Local para o De-
senvolvimento Urbano (LIFE) do Programa das Nações Unidas para o De-
senvolvimento (PNUD), foram estimulados a substituir os métodos simples
de extração de mexilhão que eram praticados desde os anos 70, na localidade
de Jurujuba, pela aquicultura, tornando-se produtores formalizados de mexi-
lhões (Ritter, 2013). A partir dos anos 2000, as iniciativas comunitárias rela-
cionadas às associações de pescadores, com o apoio das autoridades públicas
e privadas, promoveram a maricultura nas regiões da Costa Verde e Baixadas
Litorâneas, ambas estimuladas a fim de oferecer uma alternativa às atividades
19
pesqueiras em declínio. Atualmente, o setor está mudando com a inclusão de
planos para a implementação de um grande empreendimento de aquicultura,
com aporte de capital estrangeiro. Mais recentemente a partir de 2015, inici-
ativas de produção de camarões marinhos começaram a surgir, se consoli-
dando especialmente na região do Norte Fluminense, onde entre os sistemas
de cultivo extensivo e intensivo a produção é superior a 30 toneladas mensais
e se espalhando pelo interior do estado, onde há a intensificação da produção
com a utilização de sistemas de baixa renovação de água.
1.2.1 Costa Verde
A região da Costa Verde, abrange quatro municípios (Itaguaí, Manga-
ratiba, Angra dos Reis e Paraty) e possui características ambientais geográficas
e oceanográficas muito adequadas para o desenvolvimento da maricultura. De
fato, desde 1994, a maricultura já tem sido praticada nela. Possui uma zona
costeira marcada por um litoral muito irregular e acidentado, com a presença
constante de costas rochosas e áreas protegidas(Creed et al., 2007). As ativi-
dades de pesca e turismo são intensamente exploradas, e as contribuições des-
tes setores são essenciais para as economias locais, que coexistem com ativida-
des industriais e portuárias ligadas a setores estratégicos para o desenvolvi-
mento nacional, como a indústria petrolífera (CEPERJ, 2015). Na região, a
maricultura de moluscos bivalves, peixes, algas e camarões é feita nos municí-
pios de Angra dos Reis, Paraty e Mangaratiba.

20
Figura 2. Fazenda Marinha Maricultura Costa Verde, na região da Costa
Verde

Fonte: Felipe Landuci

1.2.2 Baixadas Litorâneas


A região das Baixadas Litorâneas abrange planícies costeiras, com
praias arenosas, dunas, áreas inundadas e lagoas costeiras, mas também, áreas
de colinas baixas, colinas continentais acima de 500 m e ilhas costeiras. Em-
bora a economia seja estimulada pelo turismo e pelas atividades urbanas, prin-
cipalmente no setor de serviços, indústria, agricultura e pesca, também estão
presentes (Pinto et al., 2011). A porção leste desta região inclui o fenômeno
de afloramento, que favorece uma alta biodiversidade marinha e uma abun-
dância de recursos pesqueiros(Coelho-Souza et al., 2012). Na região a mari-
cultura de moluscos bivalves é feita nos municípios de Arraial do Cabo e Ar-
mação dos Búzios.

21
Figura 3. Fazenda Marinha da Associação de Pescadores de Arraial do Cabo
nas Baixadas Litorâneas

Fonte: Carlos Eduardo Freitas Guimarães Filho.

1.2.3 Metropolitana
A região metropolitana do Rio de Janeiro, a área mais populosa do
estado, se espalha por 22 cidades ao redor da Baía de Guanabara, o segundo
maior centro industrial do Brasil. Impactos de múltiplas atividades humanas
como poluição, disputas sobre espaço e recursos com outros setores produti-
vos, como a pesca industrial e recreativa, indústria petrolífera, bem como a
pesca excessiva, resultam em pressão sobre as comunidades dependentes da
costa e também impactam a pesca em pequena escala (Loto et al., 2018).
Nesta região, a maricultura se faz presente no município de Niterói,
concentrada no bairro de Jurujuba, onde a atividade se dá sem planejamento
organizacional e institucional, assim as estruturas de cultivo encontram-se em
desacordo com a legislação.
Os problemas sociais do bairro e do entorno, dificultam as ações das
associações de maricultores que buscam “organizar” o espaço marinho. Dessa
forma, essas entidades não têm controle sobre as estruturas que são colocadas
na água, muitas vezes, extrapolando a área previamente delimitada e destinada
22
à maricultura. Além do descontrole sobre o número de espinhéis, não existe
qualquer regra de distanciamento entre eles, tampouco uma uniformidade das
boias e materiais de cultivo. Essa dificuldade de controle sobre a maricultura
em Jurujuba tem como principal consequência a falta de qualquer documento
que regularize, de alguma forma, a atividade na região, assim como a produ-
ção dela advinda. Podemos afirmar que existem duas áreas estabelecidas de
cultivo, uma instalada na localidade denominada “Ponta da Ilha” e a outra na
área frontal à praia da Várzea.
Três associações de maricultores atuam sobre essas duas “áreas aquíco-
las”, a Associação Livre dos Maricultores de Jurujuba - ALMARJ, a Associação
Livre de Aquacultores e Pescadores Amigos do Mar e a Associação das Mu-
lheres dos Povos D’água, entretanto não há uma divisão específica, já que é
possível encontrar associados das três entidades atuando nas duas áreas de cul-
tivo. Existem, ainda, maricultores que não estão afiliados a nenhuma das três
entidades e tampouco são moradores do local, mas atuam na atividade da
maricultura em Jurujuba.
Figura 4. Fazenda marinha de Jurujuba

Fonte: Marina Bez


23
1.2.4 Norte Fluminense
De acordo com as últimas estimativas do IBGE para 2014, a popula-
ção do Norte Fluminense é de 895 mil habitantes e representa 5,4% do Es-
tado do Rio de Janeiro (FIRJAN, 2015). Os municípios mais populosos na
regional são: Campos dos Goytacazes e Macaé que, juntos, abarcam mais de
75% da região (711 mil habitantes). Nas últimas décadas, a produção de pe-
tróleo e gás natural assumiu importante papel na economia da região, tor-
nando-a uma das principais atividades econômicas.
O Norte Fluminense é marcado por uma planície de larga extensão, sua
parte costeira é composta por terrenos arenosos de terraços marinhos, cordões are-
nosos e campos de dunas onde situa-se uma complexa malha de rios e canais ar-
tificiais incluindo a Lagoa Feia, segunda maior lagoa de água doce do país, o que
a torna favorável para a construção de viveiros de carcinicultura (Vargas et al.,
2009). A temperatura constante e os reduzidos valores de terras, também são atra-
tivos para estas instalações. Na região, o interesse na atividade é crescente, a car-
cinicultura é desenvolvida nos sistemas semi-intensivo e intensivos, especialmente
nos municípios de Quissamã e Campos dos Goytacazes.

Figura 5 .Tanque escavado para carcinicultura na região Norte Fluminense

Fonte Luiz Salgado

24
1.3 A FIPERJ e seu papel institucional
Fundada em 1987, a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio
de Janeiro – FIPERJ – é a organização pública da esfera estadual responsável
pela execução de pesquisa, extensão e fomento à pesca e à aquicultura flumi-
nense. A FIPERJ tem a missão de promover o desenvolvimento sustentável
da aquicultura e pesca fluminense, ao gerar e difundir informações e tecnolo-
gias, articulando e consolidando políticas públicas para o setor em benefício
da sociedade.
Em 2012, foi realizado concurso público para a FIPERJ e cerca de 80
profissionais (extensionistas, analistas de recursos pesqueiros, pesquisadores
em diversas áreas e técnicos de laboratório) passaram a integrar o quadro de
servidores. No biênio 2012 - 2014 ainda foram inauguradas várias unidades
regionais e a nova Sede. Isso aumentou consideravelmente a capacidade de
atuação da organização. Esta nova estrutura tem possibilitado uma significa-
tiva transformação organizacional e uma multiplicidade de ações de Assistên-
cia Técnica e de Pesquisa, as quais têm contribuído para aumentar a visibili-
dade da FIPERJ e beneficiado diretamente os pescadores e aquicultores flu-
minenses (Ritter and Mello, 2018).

25
26
Capítulo 2 Planejamento Estratégico da Aquicultura
Costeira
Com o rápido crescimento da aquicultura, o planejamento de seu de-
senvolvimento tem se tornado cada vez mais importante, especialmente para
sua própria sustentabilidade, dependendo assim da adoção de um planeja-
mento estratégico orientado por uma demanda identificada de mercado e
uma capacidade de atender esta demanda (Suplicy, 2018, Brugère et al.,
2010).
Há muitas nações em desenvolvimento com grandes aspirações para
um forte desenvolvimento da aquicultura objetivando alimentar suas popula-
ções em rápido crescimento. Reconhecidamente, para isto, é necessária von-
tade política para promover políticas apropriadas, estratégias e investimentos
privados e públicos, e cooperação com um claro foco no aumento da produ-
ção sustentável.
Um planejamento adequado estimulará e orientará a evolução do se-
tor, fornecendo incentivos e seguranças, atraindo investimentos e impulsio-
nando o desenvolvimento. Este planejamento deve integrar a dimensão social,
ambiental e econômica, já reconhecidas como os três pilares da sustentabili-
dade e indispensáveis não só para atingir como para assegurar os objetivos
conquistados pela estratégia de desenvolvimento ajudando a garantir a sus-
tentabilidade econômica, ambiental e social do setor a longo prazo, e sua con-
tribuição final para o crescimento econômico e a redução da pobreza.
Esta estratégia precisa considerar a aquicultura costeira fluminense de
uma forma abrangente, integrada e de maneira estruturada, em uma aborda-
gem ecossistêmica de planejamento e de gestão praticável e implementável
para promover um desenvolvimento harmonioso e coerente (FAO, 2010).
Também precisa compreender em detalhes a dinâmica e as características

27
intrínsecas da aquicultura costeira fluminense, o que requer uma capacidade
multidisciplinar e coletiva para interpretar corretamente as propriedades eco-
nômicas, sociais e ecológicas, bem como as relações e retroalimentações entre
estas propriedades.
Este documento tem como objetivo apontar uma orientação prática
aos tomadores de decisão sobre a formulação de políticas e processos, pro-
pondo passos práticos para melhorar essas questões, incluindo: o reconheci-
mento de oportunidades e necessidades de mudança; assegurando a coorde-
nação e comunicação entre as partes interessadas; reconhecendo a importân-
cia de uma abordagem participativa; aprendendo com lições de outros lugares;
e aceitando que conflitos podem surgir e levar a escolhas difíceis.
Ele destaca os meios para implementar políticas de aquicultura, ob-
serva os benefícios de uma abordagem ecossistêmica e propõe uma gama de
instrumentos que, se implementados em vários níveis, ajudarão a progredir
em direção às metas de desenvolvimento sustentável do setor. Entretanto, a
implementação bem-sucedida das políticas de aquicultura depende da supe-
ração de desafios relacionados à fraca capacidade humana, das instituições e
de sistemas de monitoramento, assim como recursos financeiros inadequados.
Portanto, o documento também sugere os meios para fazê-lo.
Também é necessário incorporar as abordagens e instrumentos esco-
lhidos nos princípios da boa governança(FAO, 2017b). Juntos, esses elemen-
tos-chave garantirão a solidez e a eficácia das políticas de desenvolvimento da
aquicultura e a contribuição positiva do setor.

2.1 Estratégia
2.1.1 Proposta do planejamento, objetivos e forma de construção do plano
A aquicultura pode desempenhar um papel crucial no fornecimento
de opções alternativas de renda para as comunidades costeiras, e o planeja-
mento adequado deste setor deve assegurar a participação destas partes
28
interessadas no processo de tomada de decisões para evitar sua exclusão dos
benefícios diretos gerados pela cadeia produtiva (Krause et al., 2015)
Até o momento, o Rio de Janeiro não possui nenhuma estrutura for-
mal e organizada que possa unir representantes dos setores organizados da
cadeia produtiva - consumidor, produtor e indústria - estabelecendo uma par-
ceria com instituições governamentais, que se reúnem para analisar, discutir
e propor soluções, como acontece no Estado de Santa Catarina(Suplicy,
2018).
De fato, quando os formuladores de políticas públicas brasileiras con-
sideram a praticidade dos programas nacionais de maricultura, eles têm bus-
cado no Estado de Santa Catarina lições e insights. A produção de moluscos
bivalves em Santa Catarina é realizada por mais de 600 produtores e é valori-
zada em cerca de US$ 20 milhões (Safford et al., 2019). Apesar de ser uma
indústria bastante recente no Brasil e ter começado em meados dos anos 90,
a aquicultura de moluscos bivalves têm seguido uma tendência de crescimento
de 13 para mais de 22.000 t/ano desde 2000. Por lá, as ferramentas de plane-
jamento e gestão melhoraram a governança da atividade, em um cenário -
como também no Estado do Rio de Janeiro - em que a falta de regulamenta-
ção e desenvolvimento planejado também impôs obstáculos múltiplos
(Suplicy, 2018)
Figura 6. A importância do planejamento para a sustentabilidade da ativi-
dade. a; Fazenda Marinha Paraíso das Ostras, Florianópolis, SC; linhas de
cultivo de mexilhão em Nitéroi, RJ

Fonte: a- Guilherme Zanette; b - Marina Bez

29
A ausência de tal instrumento dificulta um processo de construção
participativa como preconizado na elaboração de um planejamento estraté-
gico. Visto que a atividade da aquicultura costeira no estado é dinâmica e em
constante transformação, medidas de apoio são urgentes e não podem esperar
a execução de tais fóruns para seu desenvolvimento, correndo assim o risco de
não atingir seu pleno potencial, ou perecer pelo caminho.
Assim, de forma a contornar essa situação os técnicos da FIPERJ en-
volvidos na elaboração deste plano, optaram por realizar um diagnóstico das
atividades de maricultura e carcinicultura, identificando seus potenciais, gar-
galos, necessidades e apontando os direcionamentos a serem tomados de
acordo com suas observações embasadas nas opiniões e percepções dos prin-
cipais atores da cadeia produtiva - ou seja, os produtores - tornando possível
- pelo menos por enquanto - identificar, apoiar e propor um plano estratégico
para os temas mais urgentes favorecendo a cooperação e as sinergias em nível
regional.
Para isso, foram realizados os diagnósticos das atividades de maricul-
tura e carcinicultura.

2.2 Diagnóstico
Inicialmente, os produtores foram identificados e mapeados através
das bases de dados dos escritórios regionais da FIPERJ e outros tomadores de
decisão diretamente envolvidos na atividade. Posteriormente, os produtores
foram convidados a participar de uma pesquisa para este estudo. Foi prepa-
rado um Termo de Consentimento, informando os objetivos, método de pes-
quisa e assegurando a confidencialidade da identidade dos entrevistados.
Quando nos foi permitido, as entrevistas foram gravadas em áudio. A coleta
e análise de dados da maricultura foram realizadas durante o segundo semestre
de 2018 e o primeiro semestre de 2019, nas regiões da Costa Verde e Baixadas
Litorâneas. Embora a cultura do mexilhão em pequena escala - baseada na
colheita - exista na região Metropolitana (Ritter, 2013), não há registros ofi-
ciais sobre quem e quantos são, ou a que volume de sua produção
30
correspondem, tampouco qualquer tipo de regularização. Somente com a
identificação dos maricultores e de suas respectivas estruturas será possível
traçar algum tipo de plano de ordenamento para a atividade da maricultura
em Jurujuba. Portanto, não registramos esta região neste estudo, mas reco-
nhecemos sua importância no planejamento estratégico geral da atividade es-
pecialmente quanto a nível de poluição e as consequências crônicas nos pro-
dutos cultivados (Gutiérrez et al., 2019).
Já as entrevistas com os carcinicultores foram realizadas no período do
segundo semestre de 2020 e por conta das dificuldades impostas pela restrição
de trânsito em razão da pandemia de COVID 19 algumas destas foram reali-
zadas remotamente.
As entrevistas abrangeram temas como a caracterização socioeconô-
mica; a atividade, seus aspectos e desafios; as práticas de monitoramento; li-
cenças e processos regulatórios; produção e mercado; acesso a direitos e servi-
ços.

Figura 7. Aplicação dos questionários perante os maricultores

Fonte: Sandro Costa

31
O volume de produção, o valor de produção, o volume de produção
potencial e seu valor também foram estimados, baseado nos volumes e valores
de venda informados, na quantidade e tamanho/área das estruturas já existen-
tes, nas densidades de estocagem e sobrevivências médias de cada um dos or-
ganismos cultivados e seus respectivos sistemas de cultivo no caso da carcini-
cultura.
No total foram identificados 25 maricultores e 7 carcinicultores, dos
quais 20 e 5, respectivamente, concordaram em responder as entrevistas, ge-
rando um índice de resposta de 78%.
2.2.1 Maricultura e Carcinicultura
No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro tem desenvolvido e consolidado
a maricultura nas últimas três décadas como uma atividade produtiva e eco-
nômica, de alta relevância local e regional. Inicialmente, devido ao seu papel
social e inclusivo, especialmente para a população tradicional dependente da
pesca, a maricultura foi apoiada e fomentada por políticas locais e apresentada
como uma fonte alternativa de renda (Moschen, 2007). Atualmente, os in-
vestimentos públicos e privados têm se intensificado e novos desafios e preo-
cupações têm surgido. Recentemente a criação de camarões em cativeiro vem
ganhando rápido destaque. Nos últimos 5 anos diversos empreendimentos de
carcinicultura vêm surgindo, com uma tendência de intensificação das pro-
duções em sistemas fechados longe da costa.
A cadeia produtiva primária é a dos moluscos bivalves: a vieira nativa
- N. nodosus, o mexilhão marrom - P. perna e a ostra-do-pacífico - C. gigas -
(Abelin et al., 2016). O estado também experimentou um aumento na pro-
dução do peixe marinho bijupirá- Rachycentron canadum, encorajado por um
estudo piloto que mostrou bons resultados no crescimento (Sampaio et al.,
2011) e lidera a produção nacional de algas - Kappaphycus alvarezii -(Hayashi
et al., 2017, Reis et al., 2017). As fazendas de carcinicultura produzem prin-
cipalmente o camarão branco do pacífico (Litopenaeus vannamei).

32
A alta demanda por frutos do mar de alta qualidade e subprodutos da
aquicultura, combinados com a baixa oferta na região, elevaram os preços dos
produtos cultivados (Palmer, 2015), que já atingiram valores superiores a US$
15 kg-1.
Figura 8. Produtos da aquicultura costeira. a- vieira; B mexilhão; c- ostra do
pacifíco; d- Kappaphycus alvarezii; e - bijupirá; f - camarão branco do pací-
fico

Fonte: a, b, c - Vieiras da Ilha; d - Renata Reis; e - Maricultura Costa Verde; c -


Fazenda Select

2.2.2 Perfil socioeconômico


Os maricultores fluminenses são em sua maioria homens (94%), com
idade média de 49 anos (mínimo de 29 e máximo de 68). Quanto ao nível de
educação, foram identificados dois grupos principais: a) aqueles com educa-
ção fundamental incompleta ou completa (40%) e b) aqueles com ensino téc-
nico ou superior completo (40%).
A maioria dos produtores (85%) declararam ser os proprietários da
empresa de maricultura, e destes, 55% declararam ter um ou mais sócios. Para
mais da metade (60%) desses maricultores a atividade é sua principal fonte de
renda. Para aqueles que exercem outras atividades, os mais representativos são
o comércio (21%), a pesca (17%) e o turismo (17%).
33
Normalmente, os maricultores (74%) contratam sazonalmente até três
trabalhadores, em um sistema de remuneração diária. Quanto ao nível de in-
vestimento financeiro, são identificados dois grupos distintos: aqueles que in-
vestiram entre R$ 10.000, 00 - 50.000, 00 (37%) e aqueles que investiram
mais de R$ 100.000, 00 (37%) na maricultura. A grande maioria (85%) é
filiada a uma associação ou agrupamento de tipos, participa ativamente das
assembleias e permanece assim por causa do fortalecimento coletivo.
Já os carcinicultores são na totalidade homens, com idade média de 40
anos (mínimo de 26 e máximo de 58). Quanto ao nível de educação, foram
identificados um grupo principal com ensino superior completo (3) e outros
grupos com ensino fundamental completo (1) e ensino médio completo (1).
Dentre os que possuem ensino superior, apenas 1 tem formação na área de
carcinicultura.
A maioria dos produtores entrevistados (60%) declararam terem um
ou mais sócios. A principal razão para o ingresso na atividade para 43% dos
carcinicultores foi a rentabilidade da atividade, para 29% a disponibilidade
de áreas adequadas e para outros 28% foram o potencial da região e a chance
de diversificação das suas atividades.
Todos os carcinicultores contratam periodicamente em média até dez
trabalhadores (no mínimo 3 e no máximo 28), em um sistema de remunera-
ção mensal, com um salário médio de R$ 1.484, 00. Quanto ao nível de in-
vestimento financeiro, são identificados dois grupos distintos: aqueles que in-
vestiram mais de um milhão de reais (60%) e os que investiram entre R$
250.000, 00 - 500.000, 00 (20%), os restantes (20%) optaram por não infor-
mar este dado. Nenhum carcinicultor é filiado a uma associação ou coopera-
tiva, embora a grande maioria (80%) declare interesse e esteja aguardando a
formalização de uma associação coordenada de dentro do estado.

34
2.3 A atividade, seus aspectos e desafios
No final de 2019, a maioria das mariculturas estavam produzindo
(68%). Em geral, as mariculturas têm um caráter comercial. A maioria delas
(77%) emprega técnicas de gestão e controla aspectos de produção. Além
disso, algumas delas (14%), compartilham suas instalações de produção para
atividades de educação e pesquisa em colaboração. Entre as que estão inativas,
a principal razão para estarem assim é a falta de sementes de moluscos para
iniciar um novo ciclo de produção ou como consequência de mortandades
recentes ocorridas na época de cultivo de 2018-2019 (90%).
Todas as fazendas têm um bote de apoio equipado com um motor de
popa, e a maioria utiliza balsas de apoio (87%). A maioria dos produtores
(67%) não ocupou totalmente suas áreas de produção licenciadas, mesmo as-
sim, a maioria (75%) gostaria de expandir seus negócios. Entretanto, apenas
uma pequena parte destes (38%) tem fundos à sua disposição. Destes, metade
estavam interessados em cultivar outros organismos aquáticos, sendo o biju-
pirá (54,5%) sua espécie preferida.
Os desafios enfrentados pelos produtores são aqueles relacionados à
falta de mecanização (22%); aquisição de sementes e formas jovens (20%); e
furtos (18%). Outros fatores identificados (40%) incluem força de trabalho
(10%) e desordens ambientais (10%). Em relação a outras atividades consi-
deradas conflitantes incluem operações de embarcações (32%), pesca artesa-
nal e industrial (31%) e turismo (25%). Também são obstáculos para os pro-
dutores problemas de lesões e saúde ocupacional, na sua maioria compostos
de desordens musculares e esqueléticas (40%).
Atualmente menos da metade (40%) das fazendas de carcinicultura
estão produzindo. Destas, 33% têm problemas relacionados à obtenção de
pós-larvas, e as outras 67% estão em fase de implementação, com produção
prevista somente para o próximo semestre. O total de áreas em produção,
destinados para criação de camarão no estado é de aproximadamente 208 hec-
tares.
35
Todos os produtores renovam água do cultivo diariamente, em torno
de 1-3% para 80% deles. A grande maioria dos empreendimentos (80%),
para a água de despesca, tem como destino a recirculação e também possuem
bacia de decantação, que em média representa 2% da área total de cultivo.
Todos os carcinicultores adotam medidas de biossegurança sendo as mais ci-
tadas a esterilização das unidades de cultivo (23%), o monitoramento da ma-
téria orgânica (23%) e o uso de probióticos (23%).
Todas as carciniculturas têm em sua estrutura de apoio acesso viário e
equipamentos de análise de qualidade de água. A grande maioria (80%) pos-
sui bombas para captação de água, máquinas agrícolas e grupo de geradores.
Mais da metade (60%) possui estufas agrícolas cobrindo os viveiros e menos
da metade (40%) possuem veículo automotor. Todos os equipamentos e con-
sumíveis são adquiridos fora do estado, sendo os mais citados Paraná, Per-
nambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo. Atualmente, 79% do total das
áreas licenciadas é efetivamente ocupada e todos os carcinicultores gostariam
de expandir seus negócios. Entretanto, apenas uma pequena parte destes
(20%) tem fundos à sua disposição. Já em relação a produção de outros orga-
nismos além do camarão, menos da metade (40%) expressaram desejo de as-
sim fazer.
Os maiores desafios citados pelos carcinicultores foram os relacionados
à obtenção de pós-larvas (24%) e à aquisição de materiais, equipamentos e
insumos (17%), além de furtos, dificuldade na regularização da atividade, o
alto custo da ração, falta de mão de obra e assistência técnica
2.3.1.1 Monitoramento
Todos os maricultores, mesmo que de forma não rotineira, tem ou
tiveram sua área de cultivo monitorada para parâmetros ambientais. Em geral,
o estado (75%) às vezes em conjunto com o terceiro setor assume a responsa-
bilidade principal pelo monitoramento, enquanto o setor privado responde
por apenas 25%.
36
Nas mariculturas, o monitoramento diz respeito basicamente e mais
frequentemente aos parâmetros ambientais, incluindo as variáveis tempera-
tura da água (97%); transparência (80%); salinidade (87%); e teor de oxigê-
nio dissolvido (73%). Em geral, os intervalos de amostragem são mensais
(53%) ou quinzenais (35%).
Já a qualidade dos produtos da maricultura é monitorada por um
grande número de produtores entrevistados (88%). O critério de escolha é o
perfil microbiológico do produto. Para estes produtores, os intervalos de
amostragem de rotina são geralmente mensais.
Os carcinicultores em geral são os próprios responsáveis pelo monito-
ramento de seus cultivos. O monitoramento é realizado por todos os carcini-
cultorese para a maioria deles (60%), de maneira diária. A totalidade dos car-
cinicultores monitora a temperatura, o pH e a salinidade. A grande maioria
(80%) monitora ainda a transparência, nitrito e oxigênio dissolvido.
A qualidade dos camarões cultivados é monitorada pela grande maio-
ria dos produtores (80%), que adotam o teste de off flavor como critério de
escolha.

2.4 Licenças e processos regulatórios


A regularização da maricultura depende de três licenças-chave: a) a Li-
cença de Aquicultura, que é um instrumento probatório que permite ao por-
tador exercer a aquicultura e concede vários direitos e acesso a serviços; b) a
Licença Ambiental, que é uma permissão estadual para o exercício da aqui-
cultura de acordo com sua magnitude ou potencial poluidor; e c) a cessão de
uso do espaço, um arrendamento do espaço aquático cedido pelo Governo
Federal para fins de aquicultura.
O processo de arrendamento pode conceder a propriedade de um ar-
rendamento de área aquática por 20 anos e inclui o acesso a políticas públicas
para o setor, como o acesso a linhas de crédito específicas para a atividade.

37
A maioria dos produtores (75%) possui uma Licença de Aquicultor,
documento emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA). Os demais declararam ter iniciado o processo de licenciamento, mas
ainda não possuem uma licença expedida. Todos os entrevistados possuem a
licença ambiental do empreendimento que é emitida pelo Instituto Estadual
do Meio Ambiente (INEA) órgão ambiental estadual, vinculado à Secretaria
Estadual de Meio Ambiente. Grande parte das licenças ambientais emitidas é
direcionada para a criação de moluscos bivalves (75%), seguida da criação de
peixes (17%) e cultivo de algas marinhas (8%). No que diz respeito à cessão
de uso do espaço, apenas 15% dos produtores tinham uma, enquanto 65%
tinham em andamento um processo para obtê-la e 20% ainda não tinham
uma ou não sabiam como responder. Entre os produtores, o tempo médio
decorrido desde o início do processo administrativo até o presente é de 8 anos,
embora alguns processos tenham ultrapassado 20 anos.
A burocracia e a demora na obtenção de licenças e cessões foram cita-
das como os principais obstáculos para se tornar cumpridor (66%). Entre-
tanto, o desconhecimento dos procedimentos legais (19%), a ausência de um
ponto focal do órgão emissor e os custos (15%) também representam obstá-
culos.
O licenciamento da carcinicultura no Estado do Rio de Janeiro, atu-
almente envolve a: obtenção do Registro de Aquicultor como já explicado
acima; da Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos, que assegura o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água, bem como o efetivo exer-
cício dos direitos de acesso aos recursos hídricos, que pode ser no âmbito es-
tadual para águas interiores de domínio estadual, ou federal para as águas de-
nominadas como de patrimônio da União; e também da Licença Ambiental
da atividade de acordo com seu porte e impacto, de competência dos muni-
cípios.
No estado, todos os carcinicultores possuem a licença de aquicultor, a
38
outorga de água, o Cadastro Ambiental Rural e a Licença Ambiental. Para
80% dos carcinicultores a outorga de água foi concedida pelo INEA, sendo
que os outros 20% aguardam a solicitação feita junto à Agência Nacional de
Águas. O licenciamento ambiental para 80% dos carcinicultores foi obtido
diretamente através das secretarias de meio ambiente municipais, sendo o
INEA responsável pelos outros 20%. As licenças ambientais concedidas per-
mitem a criação dos seguintes organismos: camarão marinho / estuarino, ca-
marão de água doce, moluscos e peixes, sendo a grande maioria para os dois
primeiros citados (82%).
2.4.1.1 Produção e mercado
Os produtos mais importantes da maricultura, por ordem, são: mo-
luscos bivalves (81%), algas (9,5%) e peixes (9,5%).
Com relação a vieira (N. nodosus), principal espécie cultivada no litoral
fluminense, os sistemas de cultivo de superfície (67%) e submerso (33%) são
as duas modalidades praticadas pelos produtores. Em termos de produção, a
maior parte produzida é obtida através de sistemas submersos (73%). Nesses
sistemas de produção, a mortalidade média estimada pelos produtores é de
34% e 12%, respectivamente.
O número total de vieiras estocadas para a estação 2018/2019 foi de
336.000 unidades. A fonte de todas as sementes de vieira empregadas é o la-
boratório local de produção de sementes de moluscos – Instituto de Ecode-
senvolvimento da Baía da Ilha Grande (IEDBIG), de grande importância es-
tratégica para a cadeia produtiva.
O intervalo entre a semeadura e a colheita é maior ou igual a 18 meses
para 47% dos entrevistados. O tamanho médio da casca para venda é de 7,5
- 8,5 cm para 81% dos produtores.
Os principais compradores são: intermediários (42%); consumidores
finais (58%) especialmente restaurantes especializados em frutos do mar, tu-
ristas e hotéis. O preço médio global por dúzia foi de R$ 44,00 ± 10, mas
39
variou de acordo com o comprador, em média R$ 33,00 ± 6 para intermedi-
ários e R$ 62,00 ± 4,5 para consumidores finais. A forma mais comum de
apresentação do produto é fresco com casca. Outras formas citadas incluem
formas processadas, incluindo congeladas, descascadas e cozidas, o que em
média acrescenta um valor 54% maior.

Figura 9. Em sentido horário: sementes de vieira; estrutura de cultivo; balsa


de manejo, exemplares já em tamanho comercial

Fonte: a e b - Vieiras da Ilha; c - Carolina Dominschek; d - Paulo Marcio Costa

A criação de mexilhões (P. perna) se baseia principalmente na colheita


de sementes naturalmente fixadas no equipamento de cultivo da vieira (82%)
e em segundo lugar na coleta de sementes de bancos naturais (18%). O inter-
valo de tempo entre a semeadura e a colheita é de 8-10 meses, mas há relatos

40
de períodos de até 5 meses, que muitas vezes dependem do tamanho da se-
mente no início e do tamanho final nas vendas. A produção é destinada a
turistas (33%), consumidores finais e restaurantes (56%), e intermediários
(11%). A forma mais comum de venda é fresca com concha, com um preço
médio de R$ 23 ± 7 kg-1.

Figura 10. Em sentido horário: sementes de mexilhão; confecção das cordas


de mexilhão; estrutura de cultivo; exemplares já em tamanho comercial

Fonte: a - Vieiras da Ilha; b e c - Escritório Regional das Baixadas Litorâneas; d -


Carolina Dominschek

Em geral, a produção de ostras do Pacífico (C. gigas) está crescendo de


forma complementar, onde adultos ou sementes adquiridas do Estado de
Santa Catarina são cultivadas em lanternas japonesas por até 8 meses e depois
vendidas em forma fresca. Os turistas são os principais consumidores, respon-
dendo por (50%), enquanto os consumidores finais e restaurantes (40%) e
41
intermediários (10%) representam a outra metade. O produto em sua forma
natural é vendido por um preço médio de R$ 47,00 ± 10 dúzia-1.

Figura 11. Em sentido horário: a - sementes de ostras; b - estruturas de cul-


tivo; c- manejo para limpeza; d - exemplar já em tamanho comercial

Fonte: a, b e c - Escritório Regional das Baixadas Litorâneas; d - Vieiras da Ilha

A alga marinha K. alvarezii é cultivada em jangadas flutuantes. As ce-


pas atualmente empregadas são clones de estoque introduzidos nos anos 90,
provenientes da Venezuela que, por sua vez, foram importados originalmente
das Filipinas (Castelar et al., 2009). Segundo os produtores, o tempo médio
relatado entre a semeadura e a colheita varia entre 10 e 45 dias. As algas são
vendidas na forma desidratada, principalmente para a indústria (66%), a um
valor de R$ 2,3 Kg-1. Neste caso, uma vez que a quantidade de algas secas
vendidas durante um ano era desconhecida, foi feita uma estimativa com base
no número de estruturas em produção durante o período do estudo.

42
Figura 12. Em sentido horário: clones de Kappaphycus; balsa de cultivo; ma-
nejo para colheita; alga seca no sol até peso constante

Fonte: a e b - Fausto Silvestri; c - Renata Reis; d -Ling et al. (2013)

A piscicultura marinha se baseia exclusivamente no cultivo de bijupirá


(R.canadum) em tanques-rede circulares de polietileno de alta densidade
(HDPE), ancorados perto da costa.
Os juvenis são adquiridos de laboratórios comerciais no Estado de São
Paulo e mais recentemente produzidos em uma incubadora local de pequena
escala criada por um acordo entre a Prefeitura de Angra dos Reis e o governo
federal. Os juvenis em fase de engorda são alimentados com ração comercial
até um tamanho médio de 400g, após o qual são alimentados com peixe fresco
do excedente da pesca com redes de cerco com sardinha (Landuci et al.,
2019).
O período de crescimento pode durar de 12 a 18 meses, de acordo
com a demanda do mercado. O peixe produzido é vendido em forma fresca,
43
eviscerado e resfriado. Os principais consumidores são intermediários (67%)
e consumidores finais, turistas e restaurantes (33%), que pagam um preço
médio de R$ 47 ± 10,5 kg-1.

Figura 13. Em sentido horário: juvenis de bijupirá; estrutura de um tanque-


rede; alimentação baseada na sardinha; exemplar já em tamanho comercial

Fonte: Felipe Landuci

O camarão branco do pacífico (L. vannamei) é a principal espécie cul-


tivada pelos carcinicultores fluminenses. Os sistemas de cultivo mais utiliza-
dos são o semi-intensivo (43%), o intensivo / superintensivo (43%) e o ex-
tensivo (14%), embora em termos de produção, a maior parte produzida é
seja neste último. Nesses sistemas de produção, a sobrevivência média esti-
mada pelos produtores é de 65%, 50% e 60% respectivamente.
A origem de todas as pós-larvas adquiridas são dois laboratórios fora
do estado, ambos localizados no Rio Grande do Norte. O preço praticado

44
para um milhão de pós-larvas é de R$ 10,00, contudo o maior custo associado
está ligado ao transporte aéreo e rodoviário até a porteira das fazendas, que
em média é de R$5.850,00 ± 4.782,00, dependendo da localização e das con-
dições de acesso.
Em geral as carciniculturas adotam um sistema de cultivo bifásico,
composto de uma etapa berçário e uma de engorda. Cada fazenda produz
anualmente 3 ciclos de cultivo, os quais duram em média 111 dias. Na en-
gorda, os viveiros mais utilizados são do tipo escavado revestido (50%), esca-
vado sem revestimento (33%) ou suspenso (17%). A faixa de peso médio de
venda, para a maioria dos carcinicultores (77%) é de 10-12g, seguido por 12-
14g (22%) e maior que 14g (11%).
Os principais compradores são os intermediários (88%) e os consumi-
dores finais (12%). O preço médio global por kg foi de R$ 26,00 mas variou
de acordo com o comprador, em média R$ 22,00 ± 3 para intermediários e
R$ 32,00 ± 4 para consumidores finais. A forma mais comum de comerciali-
zação do produto é fresco com casca.
Geralmente os intermediários, independentemente do produto culti-
vado, vendem diretamente para restaurantes nas cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro que são respectivamente o primeiro e segundo mercados mais ricos
do país. Nas mariculturasa venda direta aos turistas ou consumidores finais
geralmente ocorre nos locais dos cultivos, onde os compradores têm acesso
por barcos particulares e a venda depende das boas condições climáticas. Nas
carciniculturas a venda direta ocorre diretamente na porteira das fazendas.

45
Figura 14. Em sentido horário: Formas jovens de camarão; sistema de cultivo
extensivo; sistema de cultivo intensivo; exemplar já em tamanho comercial

Fonte: a - Manuel Valenzuela; b, c e d - Luiz Salgado

Tabela 1. Informação sobre os produtos da aquicultura costeira e o seu mer-


cado consumidor

Tempo de
Produto cultivo Destino Forma Preço (R$)
(meses)

consumidor
atravessador consumidor final atravessador
final

vieira(dz) 18 41% 59% fresca 33 62

mexilhão(kg) 5 -10 11% 89% fresca 23

ostra(dz) 1 -6 10% 90% fresca 45 60

alga (kg) 0.3 -1.5 100% seca 2,3

bijupirá (kg) 12 -18 66% 34% s/vísceras 54,5

camarão (kg) 1,5 - 6 88% 12% fresco 22 32

46
Os dados relacionados aos volumes de produção, a capacidade produ-
tiva atual, o valor atual da cadeia produtiva e o valor potencial da cadeia pro-
dutiva, são apresentados na figura 15.

Figura 15. Produção atual, capacidade produtiva, valor atual e valor poten-
cial da cadeia produtiva da maricultura

Aqui se destaca que a capacidade de produção instalada de ostra - 152


toneladas com um valor de R$ 7.124.00, 00 -, foi estimada levando em conta
as estruturas de cultivo existentes utilizadas na criação de vieiras. Entretanto,
é essencial afirmar que o valor estimado só é válido neste cenário, ou seja, a
capacidade de produção de ostras só seria possível se estas estruturas fossem
utilizadas exclusivamente para este fim, e assim produção de vieiras não seria
possível.

47
Figura 16. Produção atual, capacidade produtiva, valor atual e valor poten-
cial da cadeia produtiva da carcinicultura

Até agora, os produtos da aquicultura têm sido bem aceitos e o mer-


cado brasileiro é capaz de absorver a oferta atual, entretanto, alguns maricul-
tores (13%) relataram dificuldades na venda de seus produtos, especialmente
os produtores de K. alvarezzi (50%) por razões atribuídas a uma taxa de câm-
bio desfavorável, à falta de instalações locais de processamento ou à sazonali-
dade da demanda. Já a ampla maioria dos carcinicultores, afirmam não en-
contrar problemas para comercializar sua produção.
2.4.1.2 Assistência técnica, acesso ao crédito e qualificação profissional
Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER) aos produtores é um
serviço geralmente prestado por entidades do setor público e mais da metade
dos maricultores (64%) recebem. Já na carcinicultura a grande maioria (80%)
dos produtores vem recebendo. De fato, independentemente de acompanha-
mento técnico no momento deste estudo, em algum momento todos os pro-
dutores, independente da atividade, foram atendidos. As principais questões
48
sobre as quais os produtores declararam necessitar de assistência técnica, estão
em ordem de importância: produção (38%); conformidade legal (24%); trei-
namento (24%); marketing (10%); e monitoramento ambiental (5%).
A Nota Fiscal de Produtor Rural (NFR) é uma fatura rural que garante
os direitos de todos os envolvidos no processo de compra e venda de produtos
rurais. 61% dos maricultores estão aptos para a inscrição da NFR junto a
Receita Estadual. Destes, a grande maioria (81%) obteve permissão para emi-
tir a NFR com a ajuda dos órgãos de extensão rural.
Apenas uma pequena parcela (21%) dos maricultores recorreu à con-
tratação de crédito financeiro para operar seus negócios, dos quais 75% o fi-
zeram através de instituições financeiras públicas, através do programa de cré-
dito federal. Número muito próximo ao de carcinicultores que declararam ter
tomado empréstimo (20%), que assim fizeram por meio de bancos públicos.
A grande maioria (94%) dos maricultores participa ou já participou de quais-
quer tipos de reuniões profissionais e comerciais, incluindo treinamentos,
workshops e seminários. Já, dos carcinicultores, apenas 40% declararam ter
participado. Todos responderam que posteriormente aplicam os conhecimen-
tos adquiridos em seu dia a dia comercial. Universidades e institutos de pes-
quisa (48%), entidades privadas sem fins lucrativos (39%) e empresas pú-
blico-privadas (13%) são os principais provedores de conhecimento.
2.4.1.3 Discussão
Com base nos padrões observados em nossa pesquisa, é claro que nos
últimos anos, a atividade no Rio de Janeiro tem atraído investidores. Na ma-
ricultura estes vêm de outras regiões, com maior qualificação educacional,
uma clara diferença em relação aos participantes das etapas iniciais onde o
caráter inclusivo e assistencialista predominava.
A predominância de homens na produção aquícola costeira do Rio de
Janeiro é digna de nota. Na aquicultura, as mulheres frequentemente realizam
a maior parte do trabalho de engorda, colheita e processamento. Embora
49
possam se tornar gerentes de pequenas empresas domésticas, como tanques
de peixes, e assim melhorar a renda e a nutrição de suas famílias, tendem a ter
controle limitado, de modo que raramente participam da produção além da
satisfação de suas necessidades domésticas(Brugere and Williams, 2017).
Embora a pesca e a aquicultura não sejam uma única atividade e en-
globem uma grande diversidade em relação às regiões e mesmo dentro dos
países, existem fortes evidências de que quando o trabalho das mulheres se
torna visível e valorizado, quando elas são capazes de falar, ser ouvidas, fazer
e influenciar escolhas, as mudanças começam a ocorrer (Gopal et al., 2020)
Um baixo nível de educação formal foi relatado anteriormente entre
os maricultores da baía da Ilha Grande (Moschen, 2007). Atualmente, 40%
deles concluíram o ensino superior. Esta tendência é semelhante ao padrão do
litoral norte do Estado de São Paulo, uma região de fronteira com caracterís-
ticas geográficas muito semelhantes às da Baía da Ilha Grande (BIG), onde os
produtores são mais instruídos (Silvestri et al., 2011).
Já na carcinicultura, a maioria dos investidores são naturais de áreas
próximas ao local do cultivo e têm ensino superior, embora este normalmente
não seja na área das ciências agrárias. O percentual significativo do regime
societário observado é explicado pela necessidade de um alto investimento
para o início da operação da atividade. A organização social dos carciniculto-
res é nula, porém todos querem se associar. Neste sentido, já há a pretensão
de criação de uma associação de produtores, em curto prazo, para suprir esta
necessidade.
Os problemas de lesões e saúde ocupacional são grandes obstáculos
para a maricultura. Estes são resultado de uma atividade extenuante e de uma
infraestrutura insuficiente. Para resolver isto, a mecanização de tarefas deve
ser apoiada visando o desenvolvimento social da atividade, especialmente
tendo em mente o processo de envelhecimento dos envolvidos diretamente
na atividade de produção no final da maricultura. No caso da criação de
50
mexilhões, a colheita mecanizada pode reduzir os custos médios de mão de
obra e a probabilidade de acidentes devido ao manuseio de mexilhões pelos
produtores (Suplicy, 2017)e isto precisa ser levado em conta para o futuro da
atividade.
Já a carcinicultura é uma atividade altamente mecanizada. Ainda as-
sim, a falta da oferta e disponibilidade desses equipamentos no estado, obriga
os produtores a adquiri-los de outras regiões, o que encarece o produto para
o produtor e diminui a arrecadação de impostos no estado. Além dos equipa-
mentos, toda a ração consumida na cadeia produtiva da carcinicultura é pro-
duzida em outros estados e transportada até o Rio e Janeiro, encarecendo este
importante insumo, que representa o maior custo da produção, e que também
é apontado como gargalo pelos produtores.
A dependência de formas jovens vindas de outro estado e o alto custo
do transporte aéreo e rodoviário, desde o estado do Rio Grande do Norte até
a fazenda, foram citados como o principal problema da cadeia produtiva.
Ainda sobre essa questão, está apoiada a única razão para a inatividade das
carciniculturas que não estão produzindo atualmente, além, claro, daquelas
que estão em implantação.
De fato, o estrangulamento do primeiro elo da cadeia produtiva, o
setor de insumos que têm papel fundamental na formação do preço final do
produto que será comercializado (Schulter and Vieira Filho, 2017), mostra
que para que a atividade possa atingir seu pleno potencial é urgente a adoção
de medidas que possam destravar essas dificuldades.
Já os maricultores que não ocupam plenamente suas áreas licenciadas
relatam como causa as limitações financeiras mencionadas acima, a falta de
sementes e as mortalidades maciças ocorridas nos últimos dois anos, tanto em
sementes que ainda não haviam completado seu ciclo de desenvolvimento no
laboratório, como de juvenis que já haviam sido colocados no mar.
Os eventos de mortalidade resultam de fatores combinados de maneira
51
diferente de um ecossistema para outro (Soletchnik et al., 2007) e práticas
culturais também poderiam favorecer a propagação de doenças (Dégremont
et al., 2015) destacando a importância do monitoramento ambiental e de um
programa de reprodução seletiva para compreender estes fatores e aumentar a
resistência.
Um número significativo de produtores realiza algum tipo de moni-
toramento ambiental. Grande parte deles dependem exclusivamente de inici-
ativas públicas, enfatizando a necessidade de planejamento e execução especí-
ficos deste aspecto essencial da produção. Apesar da legislação federal especí-
fica exigir um programa de monitoramento ambiental, para as áreas de cul-
tivo, destinado à determinação de parâmetros microbiológicos e de ficotoxi-
nas, o Estado do Rio de Janeiro ainda não implementou um.
Este fato gera vulnerabilidade e insegurança no setor produtivo em
relação à segurança alimentar (Souza et al., 2015)e exige uma ação do setor
público para a implementação de tal programa. Nesse sentido a execução do
Programa Nacional de Controle Higiênico-Sanitário de Moluscos Bivalves -
PNCMB, que tem como finalidade estabelecer os requisitos mínimos neces-
sários para a garantia da inocuidade e qualidade dos moluscos bivalves desti-
nados ao consumo humano, bem como monitorar e fiscalizar o atendimento
destes requisitos, abrangendo as etapas de retirada, trânsito, processamento e
transporte, de competência da Secretaria de Pesca e Aquicultura - SAP, órgão
de assistência direta e imediata, vinculado ao Ministério da Agricultura Pecu-
ária e Abastecimento - MAPA, é de extrema importância.
Já os carcinicultores não necessitam de apoio público para o monito-
ramento ambiental e da qualidade de seus produtos. Todos possuem equipa-
mentos próprios para suas análises, ainda que a maioria destes façam apenas
análises colorimétricas, sem um alto nível de precisão. Quanto a frequência,
cabe salientar que o fato de alguns deles declararem que realizam tal ação com
intervalos superiores a uma semana, desperta a atenção quanto a efetividade
das rotinas de monitoramento (40%).
52
Os processos regulatórios têm um papel fundamental na determinação
do pleno potencial do desenvolvimento da aquicultura costeira, em especial
no caso da maricultura. O ritmo lento dos processos de arrendamento de áreas
e licenças ambientais e operacionais e, além disso, os riscos inerentes à ativi-
dade, podem afastar potenciais investidores (Knapp&Rubino, 2016).
A obtenção de uma licença ambiental de maricultura no Estado do
Rio de Janeiro é um procedimento relativamente simples e tem o apoio da
agência ambiental estadual. A publicação da Norma Padrão de Operação 32
(INEA, 2015) que estabelece critérios e procedimentos adotados para o licen-
ciamento ambiental de empreendimentos de aquicultura marinha é um
avanço significativo, com critérios de corte claros e que, portanto, simplifica
o processo.
Se as licenças ambientais não têm sido um problema no estado, até
recentemente o mesmo não poderia ser dito sobre as políticas da cessão de uso
de águas da União(Landuci et al., 2020). De fato, embora grande avanços
tenham sido alcançados, na ocasião das entrevistas, os únicos outorgados es-
tavam localizados exclusivamente em BL, especificamente na RESEX - uma
área de domínio público e, portanto, dependente de um Real Arrendamento
do Uso do Território para a reserva que é concedida a uma comunidade local,
responsável pelos interesses de seus membros. A comunidade concedida
torna-se responsável pelo gerenciamento de uma porção do território em par-
ceria com o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) - onde o processo usual de atribuição é substituído pela decisão de
um comitê gestor.
As mudanças na forma de processamento dos pedidos agora em meio
digital e a simplificação dos processos, resultou em grande adesão de novos
ingressantes, e com a publicação do Decreto 10.576 de 14 de Dezembro de
2020 há a expectativa da tramitação de novos processos em tempo recorde.
Porém dado o dinamismo da atividade, já foram identificados maricultores
53
que ocupam áreas, alguns há mais de 10 anos, sem que exista um processo de
cessão em tramite na base de dados e outros em que há processo em tramite
que já não estão na atividade e nem tem interesse.
Assim é necessário que um banco de dados, com a localização geográ-
fica dos empreendimentos existentes correlacionados com os possíveis pedi-
dos de cessão de uso, seja compartilhado entre FIPERJ e SAP-MAPA.
Já as carciniculturas estão todas legalizadas. Em geral os licenciamen-
tos ambientais estão sendo realizados pelas secretarias municipais de meio am-
biente, contudo, quando determinado município não está habilitado para tal,
a competência é delegada ao INEA. Até o momento não há publicada ne-
nhuma norma padrão para operacionalizá-la e tal instrumento pode apoiar a
celeridade do andamento das análises. As outorgas de água são em grande
maioria emitidas pelo INEA, porém há uma única solicitação para a ANA e
esta ainda está em processo. Na realidade, com a delegação de responsabili-
dade por parte do governo federal para o estado (Vargas et al., 2009), a com-
petência de analisar e de emitir documentos de outorga de direito de uso dos
recursos hídricos dos canais da baixada campista foi repassada para o INEA,
o que vem agilizando a obtenção de tal concessão. Todos os documentos fo-
ram obtidos através da contratação de serviços particulares.
Em relação às vendas, dentre os produtores de moluscos que vendem
vieiras com menos de um ano de idade, apenas um está na Costa Verde, en-
quanto todos os outros estão localizados na região das Baixadas Litorâneas. O
tamanho mínimo de venda é de 7 cm e o máximo é de 9 cm de comprimento
da concha. Estas duas regiões têm características ambientais muito distintas,
principalmente devido à ocorrência de afloramentos em Arraial do Cabo.
Fatores ambientais podem ser uma das possíveis razões que poderiam
explicar a diferença no tempo necessário entre o crescimento das sementes e
o tamanho da comercialização dos moluscos entre as duas regiões. Entretanto,
ainda é necessário fazer estudos aprofundados para confirmar isto. As práticas
54
de cultivo e o tamanho das vieiras no momento da venda, entre outros fatores,
não podem ser desconsiderados e poderiam explicar o tempo reduzido da se-
mente ao mercado na região das Baixadas Litorâneas.
A rentabilidade obtida com o cultivo de vieiras (Marques et al., 2018)e
a concorrência do mercado com o produto cultivado em grande escala no
Estado de Santa Catarina, tornam o investimento na criação de mexilhões
praticamente inviável no Estado do Rio de Janeiro. Por outro lado, a região
das Baixadas Litorâneas apresenta um potencial substancial para o desenvol-
vimento desta espécie devido às suas condições oceanográficas favoráveis e à
proximidade de grandes centros urbanos, prometendo, portanto, mercados
consumidores promissores.
Na carcinicultura, chama a atenção as baixas sobrevivências relatadas
nos sistemas intensivos fluminenses, quando comparado a outros cultivos
com o mesmo sistema de produção. Sistemas intensivos de produção deman-
dam um maior conhecimento e controle de seus parâmetros produtivos, assim
é impreterível que os produtores estejam em constante aperfeiçoamento e que
a assistência técnica e a extensão rural possam, com relacionamento estreito,
propor soluções.
O grande número de produtores que recebem ATER na carcinicultura
(80%) demonstra um bom cenário, ainda que este precise ser melhorado e
mantido. Todavia, apenas 40% dos produtores afirmaram ter frequentado
algum tipo de curso de qualificação na área, o que revela a necessidade de
oferta desses cursos de maneira mais frequente.
A assistência técnica e a extensão rural da aquicultura e da pesca no
Brasil é prestada pelo serviço público de cada estado. Cabe às entidades fede-
rais e municipais promover e apoiar as atividades produtivas. Em geral, inde-
pendentemente da ação local, observa-se que o nível de eficácia das ações da
ATER voltadas para a aquicultura na região está condicionado principal-
mente à viabilidade dos planos e instrumentos de gestão estaduais e federais
(Silvestri, 2019).
55
Destaca-se o reconhecimento da importância do Serviço Brasileiro de
Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE), uma entidade privada de
serviço social. O SEBRAE foi a instituição mais citada quando o assunto era
treinamento na cadeia produtiva da maricultura. O SEBRAE promove um
seminário anual de maricultura, que se tornou um evento comercial essencial
para a troca de experiências entre os próprios produtores; entre produtores e
técnicos; entre técnicos de diferentes instituições e; oferece também uma
oportunidade para aqueles que desejam se juntar às fileiras, para encontrar os
interessados e participar das discussões sobre a maricultura.
Nesse sentido é importante incluir dentro desse instrumento, uma
agenda voltada para a carcinicultura, tratando o assunto dentro de um con-
ceito de aquicultura costeira.
A oferta de financiamento e linhas de crédito específicas para o setor
da aquicultura, acessíveis, com taxas e prazos atraentes, são essenciais para o
aumento da produção. Apesar da disponibilidade de uma linha de crédito
específica para a aquicultura, poucos produtores podem acessá-la devido às
condições e garantias exigidas pelos agentes bancários. Aspectos legais relaci-
onados ao licenciamento ambiental, certificações sanitárias, autorizações e
questões fundiárias restringem o acesso às políticas de crédito (Silvestri, 2019)
e no estado.
Os empréstimos, no caso das mariculturas são tomados para cobrir os
custos operacionais, especialmente a compra de sementes. No entanto, esta
modalidade sofre críticas devido ao prazo de pagamento, que geralmente
chega a termo antes da conclusão do ciclo de produção, uma peculiaridade
inata à atividade. Já na carcinicultura o dinheiro é destinado a custear o in-
vestimento do negócio. Todo crédito acessado é parte de programas do go-
verno federal. Entre aqueles que não tiveram acesso aos programas de crédito,
todos gostariam de acessá-lo, na maricultura em especial as principais razões
são o desconhecimento, a falta de apoio técnico para o desenvolvimento do
projeto e o excesso de burocracia envolvida no processo.
56
2.5 Sistematização e hierarquia
Ainda que planejado dentro do contexto dos três pilares da sustenta-
bilidade, este plano está estruturado em 3 eixos nos quais são executadas as
ações dentro da estrutura da Fiperj, a saber: produção, pesquisa e extensão.
De fato, os direcionamentos apontados integram as dimensões social, ambi-
ental e econômica indispensáveis para o desenvolvimento do setor, contudo
estas se entrelaçam em uma sinergia que os torna difíceis de serem separados
em alguns casos uma vez que possuem relações intrínsecas.
A estruturação das metas nos eixos produção, pesquisa e extensão tor-
nam sua assimilação, proposição e execução mais simples no contexto insti-
tucional. Tais metas também foram alinhadas com um conjunto de ODSs.
Como declarado nos SDGs da Agenda da ONU para o Desenvolvi-
mento Sustentável de 2030, existe uma preocupação global para erradicar a
desnutrição, mitigar a pobreza e alcançar a segurança alimentar e a saúde pla-
netária. Em particular, os ODS 1 e 8 estão relacionados à pobreza e ao cres-
cimento econômico, os ODS 2, 3, 5 e 12 tratam da erradicação da fome, da
promoção da saúde, da igualdade de gênero e do consumo e produção res-
ponsáveis, respectivamente (Sampantamit et al., 2020), o ODS 14 está rela-
cionado ao uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos e o 17 a
fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o
desenvolvimento sustentável.
Neste plano optamos por estabelecer um nível hierárquico, assumindo
que algumas das metas são dependentes de outras e por consequência, no
plano de execução estão subordinadas a estas. Dessa forma foi criado um or-
ganograma objetivando representar graficamente o plano de execução deste
documento e uma tabela que alinha as metas propostas com os ODSs relaci-
onados aos desafios da cadeia produtiva da aquicultura costeira.

57
2.6 Indicadores / mecanismo de implementação
Com base nos elementos apresentados no diagnóstico atual da cadeia
produtiva, fica evidente que urgem a adoção de mudanças que permitirão que
o Rio de Janeiro atenda às necessidades atuais da cadeia produtiva e tenha
garantido um desenvolvimento sustentável, balanceando os benefícios sociais,
econômicos e ambientais. Contudo é fundamental que todos os atores envol-
vidos com esta atividade somem esforços na implementação de um plano es-
tratégico de longo prazo.
Para tal, desde já, foi preciso definir uma visão de futuro que irá balizar
as ações práticas para o desenvolvimento deste setor, e também motivar for-
mas de superação das dificuldades humanas, institucionais e financeiras para
a sua implementação. Logo, o plano descreve as ações para a implementação
das metas propostas. Ele tem um prazo definido em metas de: curtíssimo (1
ano); curto (2 anos); médio (5 anos) e longo (10 anos) prazo, contendo pro-
gramas e atividades específicas e detalhando os meios para atingir os objetivos
propostos.
O documento define uma visão de futuro dependente do atendimento
de objetivos sociais, econômicos e ambientais organizados dentro dos eixos
produção, pesquisa e extensão, cada um destes com uma série de metas a se-
rem alcançadas coletivamente, através de atividades e instrumentos a serem
executadas pela Fiperj, e também com o apoio das instituições que atuam no
campo da aquicultura costeira.
O Plano Estratégico identificou todos os atores responsáveis pelas ati-
vidades planejadas e propôs um cronograma de execução para inserir a aqui-
cultura costeira na agenda de desenvolvimento do estado. Ainda que algumas
destas ações fundamentalmente tenham em parceiros de outras instituições,
peças-chaves de sua execução, neste plano, para nenhuma destas é delegada
responsabilidade.
As instituições citadas, estão discriminadas pelo reconhecimento do
58
seu papel junto a tal objetivo, estando junta a elas a sua implementação, con-
dicionada à disponibilidade orçamentária e financeira de cada órgão e à ade-
quação, em alguns casos, à normas que regulamentam a atividade.
Ainda aqui assumimos que a sinergia e complementaridade das ações
são fundamentais para uma implementação bem-sucedida da estratégia pro-
posta, na qual cada instituição citada poderá identificar de forma clara e exata
por quê, quando e como poderá contribuir para o alcance do objetivo cole-
tivo.

59
60
Capítulo 3 Metas
Figura 17 . Organograma hierárquico de metas e suas relações com os di-
versos eixos

3.1 Eixo 1 - Produção


3.1.1 Assegurar o Desenvolvimento Participativo e a gestão compartilhada da
aquicultura costeira
Implantar a Câmara Técnica da Aquicultura Costeira, conselho de ca-
ráter consultivo que terá por finalidade gerir o apoio e o fomento à aquicul-
tura costeira no Estado do Rio de Janeiro. A Comissão se reunirá ordinaria-
mente a cada trimestre e será composta por um Grupo Técnico, integrado
por representantes das Instituições Públicas relacionadas ao setor, e um Grupo
das Entidades Representativas da cadeia produtiva da Aquicultura Costeira
no estado.
Essa comissão terá por finalidade propor diretrizes, discutir e buscar
soluções que possibilitem o desenvolvimento da maricultura no litoral
61
fluminense. A câmara técnica deverá ser mediada pela FIPERJ envolvendo
reuniões periódicas com todos os seus representantes com normas e critérios
a serem definidos.
Esta meta será considerada cumprida se em até um (1) ano, a comissão
da Câmara Técnica da Aquicultura Costeira estiver implantada.
3.1.2 Estabelecer critérios para a Regulamentação e Regularização
Alinhar instituições, autarquias e entes das administrações direta e indi-
reta regulamentações, e concessões da
aquicultura
Promover o estreitamento entre as entidades envolvidas na regulariza-
ção das mariculturas, criando uma via rápida de acesso interinstitucional para
trazer celeridade aos processos. A interação das instituições poderá ser feita
através da Câmara Técnica de Aquicultura Costeira, onde será deliberada a
demanda entre as instituições envolvidas em cada processo, observando a le-
gislação vigente e os prazos mínimos praticados em cada etapa e para cada
instituição. Estima-se que a execução seja de médio a longo prazo ou depen-
dente das instituições envolvidas. Esta meta será considerada cumprida se em
até 2 anos, algum processo de regularização for demandado para a Câmara
Técnica de Aquicultura Costeira com a devida interação entre os órgãos en-
volvidos.
Auxiliar na recepção e readequação dos processos de requerimento de
áreas aquícolas em ambientes costeiros
A Fiperj, através de seus escritórios regionais, receberá ou formulará os
projetos técnicos de requisição de áreas para fins de aquicultura, nos moldes
do previsto na Instrução Normativa Interministerial 06 de 2004 ou das que
vierem a lhe suceder. Na avaliação do projeto, os pontos vértices dos polígo-
nos da área solicitada pelo requerente serão inseridos no programa e a ade-
quabilidade e legalidade da área serão avaliadas pelos técnicos da Fiperj. Uma
vez atestada a viabilidade da proposta, o formulário do requerente será
62
submetido em meio digital através do portal. A meta será considerada como
cumprida se em 2 anos, ao menos um projeto tenha sido formulado ou rea-
dequado pela equipe técnica da Fiperj.
3.1.2.3 Auxiliar na regularização dos cultivos ao longo da zona costeira
Auxiliar na obtenção das licenças ambientais e de cessão de uso das
águas da união dos cultivos já instalados, nos quais há questões em aberto a
respeito de sua regularização. Para isso, através da base de dados existente, os
produtores serão identificados, contatados e incentivados a se regularizar com
auxílio da Fiperj. A meta será considerada como cumprida se em 2 anos, ao
menos um projeto respectivo a uma área irregular, seja formulado e encami-
nhado para autoridades competentes.
3.1.2.4 Atuar na revisão da legislação vigente da maricultura
Dentro da Câmara Técnica, revisar a legislação vigente a fim de propor
mudanças que permitam: 1) agilizar o licenciamento das áreas aquícolas; 2)
possibilitar a criação de ostras nativas em áreas de manguezal, a exemplo do
que ocorre em outros estados; 3) criar ferramentas que possibilitem aos órgãos
ambientais fiscalizar o uso e a ocupação de áreas licenciadas para a maricultura
evitando que sejam requeridas com o objetivo de privatização de praias. Esta
meta será considerada cumprida se em até 5 anos, alguma legislação vigente
que versa sobre a aquicultura costeira no Estado do Rio de Janeiro e apresente
incompatibilidade ou incongruência, for discutida.
3.1.2.5 Criar Norma Padrão Operacional da carcinicultura no Estado do Rio
de Janeiro
Criar uma norma padrão operacional (NOP) nos moldes da NOP
INEA 32/2005 que versa sobre a maricultura, criando diretrizes específicas
para o licenciamento ambiental da atividade no Rio de Janeiro. A NOP será
baseada nas atuais legislações referentes à atividade rural, respeitando o Ca-
dastro Ambiental Rural (CAR), as resoluções INEA 31 e 32 de 2011, sobre
porte e potencial poluidor, a lei de Outorga de Direito de Uso dos Recursos
63
Hídricos, o respeito às áreas de reserva legal e Áreas de Proteção Permanente
(APP), a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente - CONAMA
n°312/2002 que dispõe sobre o licenciamento ambiental dos empreendimen-
tos de carcinicultura na zona costeira, o novo Código Florestal (Lei n°
12.656/2012) e as alterações feitas pela Lei n° 12.757/2012 no que tange o
Capítulo III- A - Do uso ecologicamente sustentável dos apicuns e salgados,
na Lei Nº 8327 DE 04/12/2017 do Estado de Sergipe e na Lei Nº 11.180
DE 16/07/2018 do Estado da Paraíba. A meta será considerada como cum-
prida se em até 5 anos, a NOP da carcinicultura estiver em discussão.
3.1.3 Realizar o ordenamento espacial da atividade
Realizar o ordenamento e o reordenamento espacial das áreas de cul-
tivos marinhos já instaladas em desconformidade com as normas vigentes so-
bre distâncias de praias, costões ou quaisquer outros questionamentos que
porventura venham a inviabilizar sua operação, através de estudos específicos
de modelagem, seguindo aspectos ambientais, econômicos e sociais. Para isso
serão utilizadas diferentes bases de dados técnico científicas, trabalhos acadê-
micos e levantamentos cartográficos que proporcionem o planejamento estra-
tégico da aquicultura em consonância com o zoneamento costeira. Os resul-
tados do ordenamento serão amplamente discutidos e validados pela Câmara
Técnica. Esta meta será considerada cumprida se em até 2 anos, algum pro-
cesso de cessão de uso de águas da união para fins de aquicultura, for refeito,
ou submetido um novo processo para as solicitações anteriormente canceladas
pelos motivos acima citados.
3.1.4 Fomentar a produção de formas jovens
Apoiar as estruturas de produção de forma jovens instaladas no Rio de
Janeiro
Prestar apoio institucional às estruturas produtoras de formas jovens
de moluscos, peixes e algas que se encontram em operação, bem como

64
incentivar e apoiar a instalação de novos laboratórios oriundos da sociedade
civil/iniciativa privada. Garantir a participação direta e ativa de técnicos da
FIPERJ na rotina destes laboratórios contribuindo para a solução de proble-
mas, no desenvolvimento de pesquisas aplicadas e para o desenvolvimento de
novos produtos na aquicultura. Emergencialmente formalizar uma parceria
com Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG)
para que os técnicos de FIPERJ tenham acesso a sua estrutura e laboratórios,
possibilitando a realização de estudos conjuntos em reprodução e larvicultura,
tornando possível a produção de formas jovens durante todo o ano. Esta meta
será considerada cumprida se em até 2 anos, ao menos um termo de coopera-
ção técnica estiver formalizado.
3.1.4.2 Avaliar o assentamento remoto de sementes de moluscos bivalves
Avaliar a viabilidade técnica e econômica da fixação de sementes de
moluscos bivalves in loco, através da tecnologia de assentamento remoto. Con-
tando com a participação direta dos maricultores, a tecnologia buscará otimi-
zar a produção de sementes, um dos principais entraves da malacocultura flu-
minense. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, estiver ins-
talada uma unidade experimental.
3.1.4.3 Implementar um banco criogênico de gametas
Implantar um banco de gametas criopreservados possibilitando a con-
servação de material genético de diferentes organismos marinhos. Esta tecno-
logia permitirá realizar reproduções ao longo do ano independente da estação
reprodutiva, reduzir custos com a manutenção de plantéis de reprodutores,
apoiar programas de conservação de espécies vulneráveis, de repovoamento,
ecotoxicologia aquática e melhoramento genético. Esta meta será considerada
cumprida se em até 5 anos, o banco de gametas estiver criado.

65
3.1.5 Incentivar a diversificação da aquicultura costeira
3.1.5.1 Ampliar a formalização de parcerias público privadas
Formalizar parcerias com laboratórios de produção de formas jovens,
já instalados, ou que venham a se instalar no estado, para o desenvolvimento
de projetos conjuntos que tenham por objetivo diversificar o número de es-
pécies produzidas no litoral fluminense. Esta meta será considerada cumprida
se em até 5 anos, ao menos um termo de cooperação técnica estiver formali-
zado.
3.1.6 Promover o acesso a materiais, equipamentos e petrechos
3.1.6.1 Incentivar a instalação de empresas fornecedoras de produtos e serviços
aquícolas
Incentivar a instalação de empresas fornecedoras de produtos e servi-
ços aquícolas no Estado do Rio de Janeiro através de propostas de incentivos
fiscais e programas de inovação tecnológica. Esta meta será considerada cum-
prida se em até 10 anos, ao menos uma proposta de incentivo fiscal estiver
em discussão.
3.1.7 Fomentar a criação de novas tecnologias aplicadas à aquicultura
Auxiliar a criação de novas tecnologias aplicáveis ao setor de aquicul-
tura costeira, junto às financiadoras. Esta meta será considerada cumprida se
até 2 anos, ao menos um projeto estiver em desenvolvimento.
3.1.8 Avaliar a utilização de estruturas alternativas de cultivo, com baixo
custo
Desenvolver e testar a eficiência e eficácia de estruturas de cultivo al-
ternativas e de baixo custo, avaliando a viabilidade técnica e econômica de sua
utilização. Esta meta será considerada cumprida se em até 2 anos, uma estru-
tura for desenvolvida e ao menos um relatório técnico tiver sido elaborado.

66
3.1.9 Estimular a adoção da mecanização nos cultivos
Estimular e buscar fomentar a adoção da mecanização dos cultivos
costeiros no Rio de Janeiro. Esta meta será considerada cumprida se até 5anos,
ao menos um relatório técnico tiver sido elaborado
3.1.10 Promover a valoração e divulgação dos produtos da aquicultura costeira
Ampliar os processos de Indicação Geográfica e Denominação de Ori-
gem
Desenvolver o processo de Indicação Geográfica e Denominação de
Origem (IG/DO) dos produtos gerados na maricultura, proporcionando ras-
treabilidade e visibilidade, através da elaboração do Regulamento de Produ-
ção de Vieiras da Denominação de Origem e o Regulamento de Utilização da
Denominação de Origem a ser protocolado no Instituto Nacional da Propri-
edade Industrial - INPI, sendo necessário para isso o estreitamento da parceria
com SEBRAE e órgãos de consultoria em implantação da IG junto ao INPI.
Utilizar a experiência na obtenção do “selo” pelos maricultores da Costa
Verde para instaurar os processos necessários para a obtenção do selo pelos
maricultores das Baixadas Litorâneas, incentivando a obtenção de certificação
dos produtos da maricultura da RESEX de Arraial do Cabo, como por exem-
plo: “produção sustentável realizada por comunidade tradicional”. Esta meta
será considerada cumprida se em até 5 anos, for elaborado o Regulamento de
Produção e o Regulamento de Utilização do selo de Denominação de Ori-
gem, incluindo toda metodologia e logo marcas, e protocolado o processo no
INPI.
3.1.10.2 Construir canais de vendas eletrônicos de produtos da aquicultura cos-
teira fluminense
Criar perfis em mídias sociais para a divulgação dos produtos da aqui-
cultura costeira no Rio de Janeiro, além de um endereço eletrônico que fun-
cionará como uma central de cotações e pedidos, cabendo então ao produtor
os aceitar ou declinar. Dessa maneira, busca-se a simplificação do contato
67
entre comprador e fornecedor, dando destino a produção sem a necessidade
da venda direta ao atravessador, permitindo acessar novos mercados. Esta
meta será considerada cumprida se em até 2 anos, se estiver em operação o
endereço eletrônico ou perfil digital.
3.1.10.3 Estruturar a cadeia de beneficiamento dos moluscos bivalves e promo-
ver a obtenção de selos de inspeção sanitária
Rastrear as possibilidades de instalação de unidades de depuração e
beneficiamento de moluscos bivalves com selos de inspeção sanitária. A partir
dos entraves encontrados, traçar um plano de ação que busque solucioná-los,
visando agregar valor aos produtos da maricultura, fomentar seu comércio
formal e expandir as opções de comercialização. Incentivar e apoiar os produ-
tores nesta estruturação, além de auxiliá-los na articulação junto ao MAPA.
Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos um processo
de obtenção de selo de inspeção sanitária estiver concluído.
3.1.10.4 Incentivar o consumo dos produtos da aquicultura costeira
Analisar o mercado e o perfil dos consumidores dos produtos da aqui-
cultura costeira no Rio de Janeiro e no Brasil por meio de um questionário
online, divulgado através de mídias digitais e sociais. A partir desta análise,
identificar os principais gargalos e avaliar estratégias que busquem solucioná-
los, como propostas de políticas públicas e de desenvolvimento de produtos
que atendam a demanda do mercado interno. Em parceria com as colônias e
prefeituras, promover a sensibilização da comunidade em relação à atividade
e seus produtos por meio de campanhas que podem ser divulgadas em pro-
gramas locais de rádio, TV e em mídias sociais. Esta meta será considerada
cumprida se em até 5 anos, ao menos uma campanha de promoção tenha sido
realizada
3.1.10.5 Impulsionar a comercialização dos produtos cultivados
Estabelecer parceria direta com mercados públicos municipais e
CEASA, buscando o uso coletivo destes espaços por produtores e pela própria
68
Fiperj, que poderá oferecer orientação e capacitação relacionadas às boas prá-
ticas de manipulação e beneficiamento do pescado. Esta meta será conside-
rada cumprida se em até 2 anos, ao menos um relatório técnico for produzido.
3.1.10.6 Estabelecer calendários regionais de eventos gastronômicos
Em conjunto com os maricultores de cada região e em parceria com
as colônias, prefeituras, SEBRAE e entes da administração direta estadual, es-
tabelecer um calendário de eventos gastronômicos - feiras e festivais - onde
seja incentivado a utilização de produtos da maricultura no cardápio. Solicitar
também a utilização de espaços públicos para realização de eventos que tra-
gam visibilidade ao setor. Esta meta será considerada cumprida se em até 5
anos, ao menos um calendário de eventos regional estiver proposto ou em
discussão.
3.1.11 Facilitar a oferta de financiamentos e linhas de crédito específicas
3.1.11.1 Revisar as linhas de crédito existentes
Iniciar a discussão sobre as características específicas das linhas de cré-
dito existentes, que dificultam o acesso para os requerentes. Esta meta será
considerada cumprida se até 5 anos, ao menos um projeto de financiamento
estiver em rediscussão.
3.1.11.2 Promover oferta de linha de crédito específica
Propor a criação de linhas de crédito, com recurso estadual, específicas
para aquicultores que sejam pouco burocráticas, e que ofereçam prazos flexí-
veis e taxas atrativas à exemplo dos programas “Prosperar” e “Rio Rural”. Esta
meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos uma linha de
crédito específica para aquicultura for criada.

69
3.1.12 Fortalecer um Programa de monitoramento ambiental e sanitário da
aquicultura costeira
3.1.12.1 Implementar e estruturar um amplo projeto de monitoramento ambi-
ental das áreas de cultivo
Manter e ampliar as parcerias para viabilizar o monitoramento ambi-
ental das áreas de cultivo, priorizando análises físico-químicas da água, a pre-
sença de contaminantes químicos e microbiológicos, de ficotoxinas, algas no-
civas e agentes patogênicos para os produtos da maricultura. Esta meta será
considerada cumprida se em até 5 anos, um plano de monitoramento ambi-
ental e sanitário das áreas de cultivo estiver em execução.
3.1.12.2 Apoiar a implementação do PNCMB
Visando à implementação do PNCMB, auxiliar tecnicamente a for-
mação de um comitê técnico junto aos entes da administração direta estadual,
em especial a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento (SE-
APPA) e posteriormente elaborar um plano de ação. A FIPERJ poderá auxi-
liar no cadastramento prévio de maricultores e marisqueiros seguindo a reco-
mendação do programa e posteriormente auxiliar a Defesa Agropecuária a
desenhar seu plano de amostragem. Mediante disponibilidade dos instrumen-
tos necessários, realizar a coleta de amostras para análises laboratoriais e por
meio do seu corpo técnico executá-las. Esta meta será considerada cumprida
se em até 2 anos, o comitê técnico for criado.
Monitorar marinhas em
áreas de produção de moluscos bivalves
Através do monitoramento ambiental das fazendas marinhas, em in-
tervalos regulares de 15 dias ou em situação anômala de mortalidade, realizar
análises taxonômicas e quantitativas do fitoplâncton, verificar a ocorrência de
floração de algas nocivas e possíveis ficotoxinas nos ambientes de cultivo, e
correlacioná-las às características físico-químicas da água para formular um
modelo preditivo de sinistro. Esta meta será considerada cumprida se em até

70
5 anos, ao menos um relatório técnico sobre as diferentes espécies de micro-
algas associadas à presença de toxinas no ambiente de cultivo tiver sido publi-
cado.
Avaliar os possíveis impactos ambientais das fazendas costeiras multi-
tróficas durante um ciclo de cultivo e subsidiar informações que auxi-
liem na sustentabilidade da atividade em longo prazo
Monitorar os possíveis impactos ambientais de uma fazenda marinha
ao longo de um período de 18 meses. Registrar as características hidrodinâ-
micas e o desempenho zootécnico do cultivo, seus efeitos na coluna d'água,
na deposição de resíduos, as características geoquímicas e ecológicas do sedi-
mento. Formular um modelo preditivo de dispersão e deposição, de forma a
estimar a capacidade de suporte do ambiente, fornecendo assim uma ferra-
menta de apoio à tomada de decisão dos gestores. A meta será considerada
cumprida se em até 5 anos, ao menos um estudo de impacto ambiental estiver
publicado.

3.2 Eixo 2 – Pesquisa


3.2.1 Gerar produção técnica
3.2.1.1 Elaborar o boletim estatístico da maricultura e da carcinicultura flumi-
nense
Elaborar um relatório técnico anual a ser diagramado em formato de
livreto contendo informações sintetizadas e atualizadas da aquicultura costeira
fluminense, incluindo dados de produção, pesquisa e extensão. O produto
final será disponibilizado no website da FIPERJ em formato “acesso livre"
para o público em geral. A meta será considerada cumprida se em até 2 anos,
ao menos um boletim estiver finalizado e disponível.
3.2.2 Apoiar as atividades de pesquisa
3.2.2.1 Captar recursos financeiros para o desenvolvimento de linhas de pes-
quisa em aquicultura costeira.
Buscar apoio emergencial proveniente do Governo do estado e de
71
grandes empreendimentos para o desenvolvimento de linhas de pesquisa em
aquicultura costeira na Fiperj, por meio de repasse direto entre as instituições.
Requisitar a abertura de editais da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
do Rio de Janeiro -FAPERJ com destinação específica para o desenvolvimento
de linhas de pesquisa em aquicultura costeira na Fiperj. Nestes editais deverão
ser contempladas as reformas e a manutenção de estruturas da FIPERJ volta-
das à pesquisa e produção de formas jovens, unidades demonstrativas, bem
como financiar projetos de pesquisa em aquicultura. Galgar recursos junto às
indústrias e portos que causam impactos diretos, ou indiretos, em áreas onde
existe atividade de maricultura, especialmente na região das baías da Guana-
bara, de Sepetiba e da Ilha Grande. Tais recursos deverão financiar a monta-
gem de um moderno laboratório para produção de formas jovens e mudas de
algas, para manutenção de estruturas de pesquisa da FIPERJ como a Estação
Experimental de Aquicultura Almirante Paulo Moreira (EEAAPM) e para um
amplo projeto de monitoramento ambiental capitaneado pela FIPERJ em
parceria com universidades e instituições de pesquisa. Avaliar a criação de um
imposto estadual sobre a arrecadação das empresas, e de taxa compensatória
ambiental destinada ao Fundo de Desenvolvimento da Pesca e Aquicultura
(FUNDEPA). Revisar, em parceria com o órgão licenciador, as condicionan-
tes das licenças ambientais das empresas que realizam atividades potencial-
mente poluidoras, instaladas em áreas onde se desenvolve a aquicultura cos-
teira. Esta meta será considerada cumprida se em até 2 anos, depois de trata-
tivas institucionais, ao menos um edital específico para aquicultura costeira
for lançado ou se algum recurso privado for captado.
3.2.3 Implantar novos e recuperar os centros de pesquisas já existentes
Implantar um centro de pesquisas na Baía da Ilha Grande voltado para
estudos sobre malacocultura, piscicultura marinha e algicultura. O centro de
pesquisas permitirá o desenvolvimento de pesquisas direcionadas à

72
maricultura na Baía da Ilha Grande com foco no desenvolvimento sustentá-
vel, capacitação técnica e inovação tecnológica. Executar a recuperação estru-
tural da estação de pesquisa de Guaratiba, através de recursos da SEAPPA
e/ou de convênios e agências de fomento buscando transformá-la em uma
central de análises, além de ponto focal para o desenvolvimento de pesquisas
exclusivas para a solução dos problemas produtivos. Implantar o Laboratório
de Aquicultura Marinha em Macaé, através de cooperações interinstitucionais
que promovam o desenvolvimento da carcinicultura marinha fluminense.
Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos uma das
estruturas estiver em funcionamento pleno.
3.2.3.1 Desenvolver linhas de pesquisa em biotecnologia e inovação tecnológica
Estabelecer parcerias entre a FIPERJ e instituições de pesquisa como
universidades, institutos federais e centros de pesquisas visando fomentar o
desenvolvimento de pesquisas, a criação de grupos temáticos e a inovação em
áreas estratégicas identificadas como entraves da cadeia produtiva, como por
exemplo: técnicas de cultivo e manejo, fisiologia e biologia reprodutiva, pro-
dução de formas jovens, genética, interação com o meio ambiente, sanidade,
dentre outras. Fomentar através de recursos financeiros, bolsas de pesquisas,
programas de mobilidade de técnicos e pesquisadores, cooperações técnicas e
demais instrumentos que promovam o avanço científico, tecnológico, e as
pesquisas voltadas para diversificação de tecnologias de cultivo. Objetiva-se
gerar processos e produtos mais sustentáveis, tornando o Estado do Rio de
Janeiro um centro de excelência em biotecnologia aplicada à aquicultura. Esta
meta será considerada cumprida se em até 2 anos, ao menos 3 grupos de pes-
quisa estiverem formados.
3.2.3.2 Assegurar recursos para desenvolvimento da aquicultura costeira
Destinar uma percentagem específica dos recursos do Fundo de De-
senvolvimento da Pesca e Aquicultura, previsto no Projeto de Lei nº 83/2011,
ou de novos fundos que venham a ser criados e tenham relações diretas com
73
o objeto deste instrumento, para projetos de aquicultura costeira, constantes
no Planejamento Estratégico da atividade, validados e aprovados pela câmara
técnica. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, o FUNDEPA
estiver em execução.
3.2.4 Realizar o planejamento espacial da atividade na zona costeira
Identificar as áreas propícias para o desenvolvimento sustentável das
atividades de maricultura e carcinicultura na região costeira do Estado do Rio
de Janeiro, através de um modelo multicritério, analisado por Análise Hierár-
quica Padrão (AHP). Os modelos utilizarão camadas de informação de ao
menos 27 critérios diferentes que serão avaliadas quanto à adequabilidade
para a atividade e receberão pesos definidos por especialistas, tomadores de
decisão e atores sociais. Uma vez identificadas, as áreas serão calculadas e será
estimado um potencial produtivo em diversos cenários. Estes mapas ficarão
disponíveis nos ER´s e em publicações para o conhecimento de possíveis in-
teressados. A meta será considerada cumprida se em até 2 anos, ao menos dois
mapas estejam disponíveis.
3.2.5 Avaliar os impactos ambientais das atividades de aquicultura costeira
Investigar os impactos ambientais no cultivo de peixes nativos em la-
goas costeiras
No intuito de avaliar o possível impacto ambiental causado por uma
piscicultura em lagoas naturais com vistas a subsidiar a mudança de legislação
(Resolução CONEMA nº 49/2013), serão analisadas amostras de água e se-
dimento segundo as instruções da NOP-INEA nº04. Para tal, será realizado
um cultivo experimental de peixes nativos estuarinos em cercados fixos no
sistema lagunar. Numa segunda etapa, será prevista a participação de comu-
nidades pesqueiras a fim de promover a atividade como alternativa e incenti-
var a diminuição da pressão de pesca sobre os estoques naturais. A meta será
considerada cumprida se em até 5 anos, for concedida autorização para

74
exploração de lagos de domínio da União às instituições públicas para reali-
zação de pesquisas (Decreto Nº 2.869, de 09/12/1998) e assinado o Termo
de Cooperação Técnica entre o Laboratório Rede Universidade Federal Flu-
minense (UFF) de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (RE-
MADS-UFF) da UFF e a Fiperj.
3.2.6 Formular um modelo de geração e dispersão de coliformes
Gerar um modelo de dispersão de coliformes na Baía da Ilha Grande,
que possa ser utilizado como ferramenta de gestão ambiental das mariculturas.
Em um primeiro passo, serão identificados, quantificados e espacializados os
agentes poluidores locais e suas relações com sazonalidade e variações popu-
lacionais. Em seguida, será simulada a dispersão de poluentes e a modelagem
hidrodinâmica com a devida calibração e, por fim, será realizada a aferição in
situ do modelo, através de sobreposição do modelo aos cultivos e os devidos
valores quantitativos. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos,
ao menos um mapa de dispersão estiver elaborado.
3.2.7 Promover a diversificação, a elaboração de novos produtos e o
melhoramento genético dos organismos cultiváveis
3.2.7.1 Prospectar o cultivo de espécies ornamentais marinhas
Identificar espécies nativas de equinodermos, molusco, crustáceos e
peixes com potencial ornamental e auxiliar na obtenção de protocolos de re-
produção em cativeiro. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos,
ao menos um projeto de reprodução em cativeiro de alguma espécie nativa
estiver finalizado.
3.2.7.2 Prospectar o cultivo de espécies marinhas/ estuarinas de interesse co-
mercial e baixo custo de produção
Identificar e avaliar espécies nativas de algas, equinodermos, moluscos,
crustáceos e peixes com potencial para a utilização em sistemas de aquicultura
multi-trófica, baixo custo de produção e bom valor de mercado. Esta meta

75
será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos duas espécies diferentes
tenham sido avaliadas.
3.2.7.3 Avaliar a utilização de ingredientes marinhos/ estuarinos com atividade
bioativa no desenvolvimento de novos produtos para aquicultura
Avaliar a utilização de novos produtos bioativos extraídos de organis-
mos aquáticos estuarinos/ marinhos na formulação de produtos para uso hu-
mano e zootécnico. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos um
novo produto tenha sido identificado.
3.2.7.4 Criar um programa de melhoramento genético das espécies utilizadas
na aquicultura costeira fluminense
Estimular através de projetos de pesquisas, programas de melhora-
mento genético dos plantéis existentes na aquicultura costeira fluminense.
Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos um projeto
for executado.
3.2.8 Identificar e caracterizar os arranjos produtivos locais ligados à
maricultura
Identificar e caracterizar os arranjos produtivos locais ligados à mari-
cultura no Estado do Rio de Janeiro, por meio de questionário fechado e en-
trevistas semiestruturadas. Para validação da caracterização dos APLs serão re-
alizadas oficinas de discussões. Para tanto, será utilizado o arcabouço teórico-
metodológico e analítico da RedeSist. A meta será considerada cumprida se
em até um ano, o diagnóstico e a caracterização estiverem executados.

3.3 Eixo 3 - Extensão


3.3.1 Potencializar a difusão tecnológica
3.3.1.1 Desenvolver e difundir conteúdo técnico
Promover a socialização de conhecimento técnico em aquicultura atra-
vés da publicação e divulgação de documentos (circulares, boletins, manuais,
informes, livros e outros tipos de publicações), vídeos e conferências, seja
76
através do website ou das redes sociais da Fiperj. Esta meta será considerada
cumprida se em até 1 ano, estiver em operação uma plataforma digital de
conteúdo técnico científico.
3.3.1.2 Promover o Seminário Estadual de Maricultura
Apoiar a continuidade do evento, mediante a efetivação de parcerias
interinstitucionais com os setores público e privado. Esta meta será conside-
rada cumprida se em até 2 anos, ao menos um evento for executado.
3.3.2 Apoiar as atividades de extensão
3.3.2.1 Garantir recursos financeiros junto ao Governo do Estado para as ativi-
dades de assistência técnica e extensão aquícola
Assegurar recursos contínuos e permanentes para a prestação de assis-
tência técnica de técnicos da FIPERJ junto aos produtores. Tais recursos serão
destinados para o custeio das atividades de extensão e para o investimento nas
estruturas dos escritórios regionais, veículos, embarcações e equipamentos da
Fiperj. Esta meta será considerada cumprida se em até 1 ano, for executada
dotação orçamentária específica.
3.3.3 Programa de capacitação em aquicultura costeira
3.3.3.1 Oferecer qualificação profissional na área de aquicultura
Desenvolver um programa de capacitação direcionado ao público em
geral que permita o desenvolvimento produtivo e tecnológico da aquicultura
no litoral fluminense. Para isso, será utilizado o corpo técnico da FIPERJ na
execução de cursos nas modalidades presencial e EaD em formatos de curta
duração (dias de campo, FIC e cursos avançados) e pós-graduação Lato
sensu/stricto sensu. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, for
instaurado um programa de capacitação.
3.3.3.2 Promover capacitação continuada para produtores
Articular parcerias institucionais (Ex. Colônias, prefeituras, Sebrae,
IFF, Universidades.) e estabelecer ciclos de formação aos
77
maricultores/carcinicultores em áreas de interesse (Ex. Técnicas de cultivo,
finanças, gestão, turismo de base comunitária, etc.). Esta meta será conside-
rada cumprida se até 2 anos, ao menos um ciclo de formação em cada regional
for executado.
3.3.3.3 Incentivar a capacitação de servidores da Fiperj
Apoiar a formação continuada de técnicos e pesquisadores através de
programas de pós-graduação no Brasil e no exterior, de intercâmbios ou pela
participação em projetos bilaterais. Esta meta será considerada cumprida se
em até 2 anos ao menos 5% do corpo técnico de FIPERJ estiver envolvido
diretamente em qualquer tipo de qualificação técnica, aperfeiçoamento ou
capacitação.
3.3.3.4 Buscar a criação de Unidades Demonstrativas
Criar unidades demonstrativas para o desenvolvimento de projetos de
pesquisa e novas tecnologias, o aprimoramento profissional dos técnicos da
FIPERJ e instituições parceiras, bem como para a realização de cursos de for-
mação e treinamento para aquicultores e pessoas que desejam ingressar na
atividade. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos
uma unidade demonstrativa estiver em operação.
3.3.4 Fortalecer o associativismo, a igualdade de gênero e as relações
intersetoriais
3.3.4.1 Apoiar e fortalecer a organização dos produtores.
Através do serviço de extensão, apoiar o associativismo e a cooperação
entre os produtores visando o fortalecimento do setor produtivo e a represen-
tatividade dos aquicultores fluminenses nos conselhos e demais espaços inter-
setoriais. Esta meta será considerada cumprida se em até 1 ano, os técnicos da
FIPERJ prestarem assistência técnica continuada a grupos informais ou asso-
ciações de produtores, mobilizando a participação efetiva dos aquicultores
junto a estes espaços.

78
3.3.4.2 Auxiliar a estruturação do turismo de base comunitária – TBC
Capacitar os técnicos da Fiperj, formar maricultores, construir um
modelo de TBC para a atividade por meio de Oficinas, utilizando uma me-
todologia participativa, em parceria com as associações, colônias, prefeituras,
ICMBio, INEA e outros tomadores de decisão competentes. Esta meta será
considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos um modelo de TBC for
estruturado.
3.3.4.3 Criar um programa de promoção de equidade de gênero
Capacitar o corpo técnico para ter um olhar mais sensível às necessi-
dades das mulheres que estão inseridas na cadeia da aquicultura costeira, .
Fortalecer iniciativas e propostas de promoção de equidade de gênero na ati-
vidade da aquicultura investindo nas habilidades de negociação e lideranças
das mulheres para auxiliar na consolidação da sua autoestima e autoconfiança
para participação nos processos de decisão. Fornecer apoio social e comunitá-
rio para participação das mulheres em atividades e processos decisórios. Au-
xiliar na identificação de novas oportunidades de geração de renda e na busca
de financiamento para sua execução. Buscar parcerias e projetos que apoiem
o trabalho das mulheres proporcionando o conhecimento de novas tecnolo-
gias de baixo custo para o desenvolvimento da aquicultura costeira. Esta meta
será considerada como cumprida se em até 5 anos, ao menos um projeto di-
recionado a equidade de gênero e ao empoderamento feminino for executado.
3.3.5 Garantir o acesso a políticas públicas
Através do serviço de assistência técnica e extensão pesqueira e aquí-
cola (ATEPA) da Fiperj, o governo do estado proporcionará aos aquicultores
do litoral fluminense o acesso às políticas públicas direcionadas ao setor, seja
por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
– PRONAF, Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, Programa Nacio-
nal de Alimentação Escolar – PNAE e Programa de Subvenção Econômica ao

79
Preço do Óleo Diesel para Embarcações Pesqueiras Nacionais). Esta meta será
considerada cumprida se em 1 ano, as demandas de emissão da Declaração de
Aptidão PRONAF (DAP) e de elaboração de projetos de crédito forem aten-
didas.
3.3.6 Realizar o monitoramento setorial da produção aquícola
Manter o contato periódico e permanente de extensionistas da FIPERJ
com produtores, associações e secretarias municipais para a coleta de infor-
mações sobre a produção atualizada da aquicultura costeira no Estado do Rio
de Janeiro, bem como com os participantes dos diversos setores que compõem
a cadeia produtiva da aquicultura. Esta meta será considerada cumprida se em
1 ano, um relatório anual de produção for concluído.
3.3.6.1 Executar um censo de produtores de macroalgas no litoral sul flumi-
nense
Cadastrar e identificar novos ingressantes na atividade de algicultura,
elaborar questionário técnico e identificar os volumes atuais de produção de
macroalgas na Baía da Ilha Grande, bem como os potenciais compradores.
Esta meta será considerada cumprida se em 1 ano, um relatório for concluído.
3.3.7 Assegurar a participação da FIPERJ no desenvolvimento territorial
Garantir meios para a representação de técnicos da FIPERJ em
conselhos, fóruns, comitês, colegiados e câmaras técnicas relacionadas
direta ou indiretamente com a temática da aquicultura costeira, visando
promover o desenvolvimento territorial sustentável do setor aquícola
em harmonia com as demais atividades econômicas. Esta meta será con-
siderada cumprida se em até 1 ano, houver a participação da FIPERJ
em plenárias de todas as regiões onde haja atividade de aquicultura cos-
teira.

80
Tabela 2 - Metas do planejamento estratégico e suas relações com os obje-
tivos de desenvolvimento sustentável da agenda ONU 2030

Eixo Descrição ODS´s1


meta

1.1 Câmara técnica 2 3 5 8 12 14 17

1.2 Regularização Regulamentação 2 12 14 17

1.3 Ordenamento Espacial 2 12 14 17

1.4 Fomentar produção jovem 2 12 14

1.5 Incentivar Diversificação 2 12 14

1.6 Material e equipamento 3 5 8 14

1.7 Promover, divulgar e agregar valor 2 5 12 14

1.8 Facilitar financiamento 2 5 8

1.9 Monitoramento ambiental e sanitário 2 3 12 14

2.1 Produção técnica 2 3 5 8 12 14 17

2.2 Apoiar atividades de pesquisa 2 3 5 8 12 14 17

2.3 Planejamento Espacial 2 12 14 17

2.4 Avaliar impactos 2 12 14

2.5 Diversificação 2 12 14

2.6 APL 5 8 12 14 17

1
ODS´s: 2) Erradicação da Pobreza; 3)Saúde e bem estar; 5)Igualdade de gê-
nero; 8)Trabalho decente e crescimento econômico; 12) Consumo e produção
responsáveis; 14) Vida na água; 17) Parcerias e meio de implementação.
81
Eixo Descrição ODS´s1
meta

3.1 Difusão Tecnológica 2 3 5 8 12 14 17

3.2 Apoiar atividades de extensão 2 3 5 8 12 14 17

3.3 Capacitação 2 3 5 8 12

3.4 Fortalecer associativismo, igualdade de gênero e re- 3 5 8 17


lações

3.5 Acesso a políticas públicas 2 3 5 8 12 14 17

3.6 Monitoramento produção 2 14 17

3.7 Participação no desenvolvimento territorial 2 5 14

82
Capítulo 4 Considerações Finais
Resta claro que as situações evidenciadas nos diagnósticos e apontadas
como metas dentro desta proposta necessitam de atenção e precisam ser abor-
dadas dentro dos princípios da boa governança na aquicultura: efetividade e
eficiência, equidade confiabilidade e credibilidade da lei.
Estes direcionamentos devem ser interpretados e aplicados em sua to-
talidade, de uma maneira consistente com as leis nacionais e regulamentação
e, quando aplicáveis, aos acordos internacionais.
Os objetivos das diretrizes aqui propostas são os de auxiliar os formu-
ladores de políticas públicas e outras partes interessadas no estabelecimento e
implementação da boa governança na aquicultura, produzindo um plano de
práticas que possa ser adaptado sempre numa abordagem ecossistêmica da
aquicultura proporcionando mecanismos claros para que produtores e auto-
ridades governamentais se engajem uns com os outros para o gerenciamento
eficaz e sustentável das operações de aquicultura, abraçando os objetivos am-
bientais, socioeconômicos e de governança do setor.
Aqui foram identificadas várias indicações de ineficiência e ineficácia
na governança: regulamentações que desencorajam investimentos e competi-
tividade; regulamentos conflitantes; múltiplos níveis administrativos para
aprovar uma licença ou executar um programa de política própria; longos
atrasos, e taxas ou etapas "caras" para obter uma licença; decisões tomadas no
desconhecimento de diferentes contextos; falta de capacidade e recursos para
monitorar e aplicar as regulamentações e programas vigentes.
Em relação ao princípio da equidade, ainda que os diversos interesses
sejam mediados em torno de uma orientação consensual favorável, para a ati-
vidade chegar a um amplo acordo de procedimentos, é notável que a capaci-
dade de resposta das instituições ligadas ao setor - em especial da própria FI-
PERJ - é restringida especialmente pela reduzida capacidade de execução de
ações em decorrência dos seus investimentos limitados.
83
Já sobre a confiabilidade, ainda que não existam questionamentos so-
bre as tomadas de decisão, estas não são abertas especialmente pela falta de
um instrumento participativo, como já exposto, porém há uma delimitação
clara das responsabilidades administrativas. Os produtores se mostram sem-
pre disponíveis em compartilhar informações, contudo as indústrias nas quais
ocupam o mesmo espaço das atividades de aquicultura costeira ainda não têm
como comportamento padrão disponibilizar informações ambientais para as
comunidades locais e jurisdições, sendo necessário um longo processo para a
sua obtenção.
Em relação a previsibilidade do estado do direito, não há até o mo-
mento nenhum indicativo contrário quanto a sua satisfação. A aplicação das
leis e regulamentos é justa e consistente, assim como os processos de tomada
de decisões são claros e transparentes.
Assim como no caso da legislação e dos regulamentos relevantes para
a aquicultura, a administração da aquicultura é muitas vezes aninhada em vá-
rios departamentos governamentais. A sobreposição administrativa é inevitá-
vel para a aquicultura devido à sua complexidade e diversidade, envolvendo
muitos setores (por exemplo, água, terra, agricultura, florestas, pesca, trans-
porte, saúde e turismo), no entanto é incômoda e ineficiente, de modo que
dependendo da estrutura do governo, a governança da atividade é diretamente
afetada.
O sucesso na implementação deste Plano Estratégico depende do en-
volvimento e do compromisso dos diversos atores envolvidos com aquicultura
costeira fluminense. Além da superação de diversos desafios relacionados à
capacidade humana e institucional, será preciso um constante monitora-
mento dos avanços nas metas propostas e a alocação de recursos financeiros
adequados para atingir os objetivos propostos, sem os quais certamente resul-
tarão em eficiência limitada.
É fundamental e necessário destacar que ainda que aqui sejam
84
propostos apontamentos futuros, estes podem e devem ser constantemente
revistos, especialmente em conjunto com outros atores sociais e tomadores de
decisão, de maneira a adequá-los preconizando sua plena eficácia, eficiência,
equidade, prestação de contas e previsibilidade do estado de direito.
Ainda que este plano estipule metas em que a FIPERJ se torna execu-
tora, aqui se destaca a necessidade de coordenação da integração horizontal e
vertical com outros departamentos que envolvem aspectos da aquicultura; a
revisão contínua da legislação e regulamentos de aquicultura; e a coordenação
de processos consultivos e participativos com partes interessadas, especial-
mente nas áreas em que a FIPERJ não é executora ou responsável legal pelas
ações estipuladas.
Idealmente, sempre que possível, as decisões devem ser tomadas pela
autoridade competente de nível mais baixo, em conformidade com o princí-
pio de subsidiariedade. Quando interesses mais amplos estiverem em jogo,
poderá ser necessário tomar decisões de nível mais alto.
Também é necessário, para a elaboração de políticas eficazes, que as
estatísticas sejam precisas e confiáveis permitindo à autoridade competente
elaborar estratégias e avaliar seus prováveis impactos com mais precisão. Por-
tanto, dados e pesquisas são fundamentais para a sustentabilidade da ativi-
dade, aumentando a relevância de leis e regulamentos, estruturas de políticas
e planejamentos, e em especial a capacidade de resposta do setor em face ao
dinamismo da atividade.
Como exemplo cita-se a recente pandemia mundial causada no ano de
2020 pelo vírus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavírus, que vem produzindo
repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala glo-
bal, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, cul-
turais e históricos sem precedentes na história recente das epidemias (Fio-
Cruz). Nas atividades de maricultura e carcinicultura geraram-se reflexos que
causaram situações anteriormente nunca vividas, como por exemplo a queda
85
em torno de 96% das vendas, especialmente em razão do fechamento dos
restaurantes, principais consumidores destes produtos e também na disponi-
bilidade de pós larvas de camarão para início de um novo ciclo, uma vez que
estas são adquiridas de outros estados e necessitam de transporte, em especial,
por via área, serviços suspensos em razão das restrições impostas ao setor de
aviação.
Em Arraial do Cabo, a maior fazenda marinha com mais de 10 anos
de existência foi uma das atingidas pela pandemia. A maricultura já vinha
sofrendo com a irregularidade no fornecimento de formas jovens e com furtos
na área de cultivo. Em 2019, passou por uma suspensão na comercialização
de seus produtos após um derramamento de óleo cuja responsabilidade foi
assumida pela empresa Petrobrás. Tais percalços somados às restrições causa-
das pela pandemia levaram ao encerramento das atividades na fazenda mari-
nha.
Desfechos como este apontam não só para a urgência de um plano de
desenvolvimento como também para a importância da identificação e o mo-
nitoramento de respostas entre o planejamento, a estratégia adotada e os re-
sultados durante o processo de desenvolvimento da aquicultura. Estes são te-
mas extremamente atuais e altamente considerados nas agendas políticas em
países de todo o mundo, dado o grande interesse na contribuição potencial
da aquicultura para geração de alimentos, renda e benefícios para a sociedade.
Algumas das metas propostas podem parecer, a princípio, complicadas
para a execução por parte dos aquicultores. Porém, é importante considerar
que estas metas objetivam aumentar a competitividade e atratibilidade dos
produtos cultivados, incluindo reforçar e conferir aos produtos cultivados na
costa fluminense, uma reputação de alimento seguro e sadio, o que gera be-
nefícios diretos para os produtores e consumidores. De certo, episódios de
doença por contaminação alimentar relacionados ao consumo de produtos
cultivados podem afetar a confiabilidade de toda a produção fluminense e
86
causar sérios prejuízos financeiros de longa duração para toda a cadeia produ-
tiva.
A busca pela competitividade em um mercado globalizado exige um
esforço e visão futura do setor, que somente poderá ser atingida através da
execução de um maior controle higiênico-sanitário e da adoção de técnicas de
cultivo mais produtivas.
Certamente, nesse processo novos custos serão gerados em virtude da
necessidade de diversas ações por parte dos produtores, porém, esses custos
adicionais se fazem necessários para o fortalecimento de toda a cadeia e o au-
mento da confiabilidade. Além disso, estes custos estão embutidos no custo
total de produção e passíveis de inclusão no preço final dos produtos que tem
como alvo mercados ávidos pela qualidade e confiabilidade, e que aceitam
pagar um pouco mais para tal.
Com a recente publicação do Decreto 10.544 de 2020, o governo fe-
deral brasileiro aprovou o X Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM)
(Brasil, 2020)que visa definir diretrizes e prioridades para o setor no período
de 2020 a 2023, em consonância com a "Década do Oceano", conforme re-
comendação da ONU. Assim, o PSRM procura focar nos seguintes aspectos:
a contribuição para a implementação das características da Agenda 2030 (re-
lacionadas aos oceanos e às zonas costeiras), bem como os compromissos re-
lacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; promoção da pes-
quisa científica e desenvolvimento tecnológico; monitoramento ambiental
dos oceanos, biodiversidade marinha, atmosfera e clima adjacente; treina-
mento contínuo dos recursos humanos em Ciências do Mar; a busca da ado-
ção das melhores práticas; o fortalecimento da mentalidade marítima e da
cultura oceânica na população brasileira; a contribuição para a saúde geral dos
oceanos com redução da poluição e mitigação dos impactos dela decorrentes;
e, por último, a importância do desenvolvimento e da consolidação de uma
economia azul.
87
Dentro de seus objetivos diretamente ligados ao desenvolvimento da
aquicultura marinha, são mencionados os seguintes tópicos: promoção do de-
senvolvimento sustentável da aquicultura como fonte de alimento, emprego,
renda e lazer (garantindo o uso sustentável dos recursos pesqueiros, assim
como a otimização dos benefícios econômicos resultantes, em harmonia com
a preservação e conservação do meio ambiente e da biodiversidade); expandir,
consolidar e integrar sistemas de monitoramento das estatísticas da aquicul-
tura marinha; promover estudos e pesquisas para ampliar o conhecimento e
avaliação dos recursos vivos (visando o desenvolvimento do uso sustentável
da biotecnologia e do potencial energético desses recursos); contribuir para a
implementação das metas do SDG no país 14 (Vida na Água) da Agenda
2030; e contribuir para o desenvolvimento e consolidação de uma economia
azul no país com bases sustentáveis.
Embora o PSRM procure contribuir especialmente para a ODS14,
inevitavelmente outras ODS's também terão seus próprios objetivos ligados à
aquicultura marinha. No Rio de Janeiro, é o caso da SDG 5 que exige a igual-
dade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas. A FAO
enfatiza que a equidade de gênero é crucial para a sustentabilidade da ativi-
dade da pesca em pequena escala e colocar as mulheres na cadeia produtiva é
o primeiro passo para entender seu papel, experiências, desafios e oportuni-
dades (Gopal et al., 2020). A falta de reconhecimento adequado do papel da
mulher no setor dificulta o processo de desenvolvimento sustentável, resul-
tando no aumento da pobreza e da insegurança alimentar.
É sabido que as mulheres tendem a ter papéis limitados na aquicultura.
Quando a produção se intensifica, a carga de trabalho sobre elas aumenta, o
que resulta em uma diminuição de sua produtividade e bem-estar (Brugere
and Williams, 2017). Portanto, é necessário para o desenvolvimento susten-
tável da atividade estimular políticas de igualdade em nível regional, qualifi-
cando e apoiando as mulheres, bem como engajá-las politicamente,
88
estimulando sua participação nos processos de tomada de decisão em nível
local e nacional, colocando-as em papéis-chave, como produtoras apoiadas
por novas tecnologias, especialmente a mecanização.
O potencial de desenvolvimento da aquicultura costeira fluminense e
os resultados baseados na sustentabilidade e seus aspectos sociais, ambientais
e econômicos, justificam a necessidade do apoio governamental para alavan-
car o setor, com investimentos e subsídios que alcancem o pequeno produtor
e as empresas. O argumento principal para este suporte é o de que, como o
setor ainda se encontra em estágio moroso de desenvolvimento, possui grande
potencial econômico e social, e uma boa capacidade de autofinanciamento no
médio e longo prazo, um apoio governamental através de investimentos es-
tratégicos e fortalecimento institucional dos órgãos prestadores de serviços à
maricultura permitirá o alcance de uma economia de escala e o ganho de com-
petitividade internacional, a partir da qual a assistência governamental poderá
ser gradativamente reduzida.

89
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