Livro PDF - Plano Estratégico para o Desenvolvimento Sustentável - A5
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Organizador
Rio de Janeiro
2021
Plano estratégico para o desenvolvimento sustentável da
aquicultura costeira fluminense (2021-2031)
Copyright © 2021, Felipe Schwahofer Landuci
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Em memória de:
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Autoria
Felipe Schwahofer Landuci; Paulo Márcio Santos Costa; Fausto
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Fernandes Bez; Sandro Ricardo da Costa; Aline Thomasi da Silva; An-
dré Luiz de Araújo; Paulo Roberto Fonseca Vianna; Flávia Aline de An-
drade Calixto; Ligia Coletti Bernardochi; Pedro Vieira Esteves; Gui-
lherme Burigo Zanette; Leticia Hitomi Nagami; Murilo Oliveira Thu-
ller; Paula Dugarte Ritter.
Agradecemos às seguintes pessoas e instituições que contribuíram direta ou
indiretamente na elaboração desta obra.
Produtores e colaboradores
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Tibor Szabó Paulo Henrique Cordeiro Sodré
Lourival Ramos Filho (Lôro) Evanildo Azevedo Sena
Joceli do Nascimento Antônio Carlos Pereira Dias (Pingo)
Nuno de Azambuja Seabra Manoel Azevedo dos Santos
André Daher Jeferson de Carvalho Januário
Ronaldo de Souza Viana Raul Antônio Marques Wagner
Angélica de Melo Portugal Lucas Gonçalves Rodrigues
Humberto Gomes da Silva Carlos Magno Carvalho de Manhães
Fábio Rocha da Silva Willian Nicolau Neto
Clésio de Jesus Maia Renata Reis
Osmar de Araújo Santos Beatriz Castelar
Henrique Geromel de Góes Carolina Dominschek
Valdeci do Nascimento Manuel Valenzuela
Carlos Kazuo Jasbick Tonaki
Instituições
Secretaria de Aquicultura e Pesca - SAP Universidade do Estado do Rio de Janeiro -
Ministério da Agricultura Pecuária e UERJ
Abastecimento - MAPA Universidade Federal Fluminense - UFF
Instituto Estadual do Ambiente - INEA Universidade Federal Rio de Janeiro - UFRJ
Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Fundação Oswaldo Cruz - Fiocruz
Ilha Grande - IED-BIG Prefeituras em ordem alfabética:
Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Paraty, Angra dos Reis, Arraial do Cabo,
Pequenas Empresas - SEBRAE/RJ Campos dos Goytacazes, Itaguaí,
Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro Mangaratiba, Niterói, Rio de Janeiro
- UFRRJ
Sumário
Apresentação.................................................................................... 7
Autoria .............................................................................................. 9
Capítulo 1 Panorama da Aquicultura mundial ......................... 13
1.1 Aquicultura costeira e maricultura ................................. 16
1.2 Rio de Janeiro e a aquicultura no estado ....................... 17
1.3 A FIPERJ e seu papel institucional .................................. 25
Capítulo 2 Planejamento Estratégico da Aquicultura Costeira .. 27
2.1 Estratégia ........................................................................ 28
2.2 Diagnóstico ..................................................................... 30
2.3 A atividade, seus aspectos e desafios ............................ 35
2.4 Licenças e processos regulatórios .................................. 37
2.5 Sistematização e hierarquia ........................................... 57
2.6 Indicadores / mecanismo de implementação ................ 58
Capítulo 3 Metas ...................................................................... 61
3.1 Eixo 1 - Produção ............................................................ 61
3.2 Eixo 2 – Pesquisa ............................................................ 71
3.3 Eixo 3 - Extensão............................................................. 76
Capítulo 4 Considerações Finais .............................................. 83
Referências ..................................................................................... 90
11
12
Capítulo 1 Panorama da Aquicultura mundial
Um conjunto de Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
foi introduzido pelas Nações Unidas e seus 189 membros como um comple-
mento aos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), destinados a
enfrentar desafios globais complexos. Essas metas são bastante amplas em al-
cance e ambição e abrangem: a erradicação da pobreza e da fome; a melhoria
da saúde e da nutrição; a redução da desigualdade; a construção de sociedades
pacíficas, justas e inclusivas; a proteção dos direitos humanos; a promoção da
igualdade de gênero e o empoderamento das mulheres e meninas; e a proteção
duradoura do planeta e de seus recursos naturais (FAO, 2017a). Esses objeti-
vos também buscam criar condições para um crescimento econômico susten-
tável, inclusivo e sustentado, prosperidade compartilhada e trabalho decente
para todos, levando em conta os diferentes níveis de desenvolvimento e capa-
cidades nacionais. Os ODS abrangem uma nova visão de desenvolvimento
para o mundo como um todo, e se esforçam para compensar as lacunas atri-
buídas aos ODM (Mainali et al., 2018).
Como declarado nos ODM da Agenda para o Desenvolvimento Sus-
tentável da ONU 2030, há uma preocupação global focada na erradicação da
desnutrição, na mitigação da pobreza e na consecução da segurança alimentar
e da saúde planetária. Os ODS procuram aumentar a resistência às mudanças
climáticas, às condições climáticas e aos desastres naturais, à volatilidade do
mercado e à instabilidade política, e reduzir a pressão das atividades econô-
micas humanas sobre o ambiente natural, enfatizando a necessidade não ape-
nas de proteção do habitat e do ecossistema, mas também de maior eficiência
no uso dos recursos e de produção e consumo sustentáveis - disseminando
assim a responsabilidade de proporcionar sustentabilidade entre todos os
agentes econômicos.
A segurança alimentar é uma preocupação global devido às alarmantes
13
taxas de crescimento populacional, bem como aos sistemas de produção de
alimentos que esgotam os recursos naturais e causam a degradação ambiental.
O setor pesqueiro, uma indústria que inclui a pesca de captura selva-
gem e a aquicultura, é vital para garantir a segurança alimentar global. A pro-
dução mundial de pescado atingiu 179 milhões de toneladas em 2018, com
um valor total de primeira venda estimado em 401 bilhões de dólares; só a
aquicultura responde por 52,6% desse total (excluindo usos não-alimentares
como farinha e óleo de peixe) (FAO, 2020). Quase todos os ODSs, e muitas
metas associadas (mais de 34), são relevantes para o desenvolvimento da aqui-
cultura (FAO, 2017a).
O consumo mundial de pescado aumentou entre 1961 a 2017 a uma
taxa média anual de 3,1%, uma taxa quase duas vezes superior a do cresci-
mento anual da população mundial (1,6%) para o mesmo período, e superior
a de todos os outros alimentos com proteínas animais (carne, laticínios, leite,
etc.), que aumentou em 2,1% ao ano. Já o consumo de peixe per capita cres-
ceu de 9,0 kg (peso vivo equivalente) em 1961 para 20,5 kg em 2018, em
cerca de 1,5% ao ano (FAO, 2020).
Estima-se que a produção global de peixe – pesca e aquicultura - tenha
atingido cerca de 179 milhões de toneladas em 2018, com um valor total de
primeira venda estimado em USD 401 bilhões, dos quais 82 milhões de to-
neladas, avaliadas em USD 250 bilhões, vieram da produção aquícola. A aqui-
cultura foi responsável por 46% da produção total mundial e 52% quando
considerado só para consumo humano. Também se estima que atualmente
20,53 milhões de pessoas estão empregadas no setor (FAO, 2020).
Na América do sul, a produção aquícola estimada é de 2,67 milhões
de toneladas. No continente o maior produtor é o Chile (1,26 milhões de
toneladas, 47% do total) embora tenham destaque o Brasil com 0,605 mi-
lhões de toneladas (22,6% do total) e o Equador com 0,539 milhões de tone-
ladas (20,1% do total) (FAO, 2020).
14
No Brasil as principais espécies cultivadas são a tilápia do Nilo (Oreo-
chromis niloticus), o tambaqui (Colossoma macropomum) e o camarão de perna
branca do Pacífico (Litopenaeus vannamei). Outras espécies também têm
grande importância socioeconômica local (Valenti et al., 2021). Já o potencial
para a produção marinha permanece largamente inexplorado (Kapetsky et al.,
2013).
Enquanto todos os estados costeiros do Brasil produzem moluscos
através da aquicultura, a produção está concentrada na região sul do país. Es-
tatísticas oficiais (IBGE, 2020) informaram a produção de 15.200 toneladas
de moluscos em 2019, sendo a região sul responsável por mais de 95% desse
total. O mexilhão marrom (Perna perna) é a principal espécie cultivada, com
um volume anual de quase 13.000 toneladas. A ostras do Pacífico (Crassostrea
gigas) vem em segundo lugar, com quase 2000 t. Há também uma pequena,
mas crescente produção de vieiras (Nodipecten nodosus), principalmente nos
estados do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP) e Santa Catarina (SC) (Valenti
et al., 2021).
Apesar das iniciativas de Pesquisa & Desenvolvimento, a produção co-
mercial de peixes marinhos está atualmente restrita a pequenas pisciculturas
em tanques rede em SP, RJ, e Espírito Santo (ES). Estima-se que a produção
anual de bijupirá (Rachycentron canadum) nesta região tenha aumentado de
25 toneladas em 2015 para 100 toneladas em 2019, e uma vez resolvidas al-
gumas deficiências, um enorme potencial pode ser realizado (Valenti et al.,
2021).
Estudos indicaram a viabilidade técnica dos sistemas de cultivo de ma-
croalgas ao longo da costa brasileira, embora essa atividade ainda esteja em
seus estágios iniciais de desenvolvimento, com apenas algumas poucas empre-
sas de escala comercial em operação (Valenti et al., 2021). As principais espé-
cies nativas cultivadas são membros dos gêneros Gracilaria, Porphyra e
Hypnea na região nordeste do Brasil; a espécie exótica Kappaphyccus alvarezzi
é restrita às costas do RJ, SP (da Baía de Sepetiba a Ilhabela), e SC.
15
1.1 Aquicultura costeira e maricultura
A aquicultura costeira e a maricultura desempenham um papel impor-
tante na subsistência, no emprego e no desenvolvimento econômico local en-
tre as comunidades costeiras de muitos países em desenvolvimento. Ao redor
do mundo ambas as atividades produziram coletivamente 30,8 milhões de
toneladas (US$ 106,5 bilhões) de animais aquáticos em 2018. Os moluscos
sem casca, (17,3 milhões de toneladas) representavam 56,2% do total, e os
peixes (7,3 milhões de toneladas) e crustáceos (5,7 milhões de toneladas), em
conjunto, foram responsáveis por 42,5% (FAO, 2020).
A aquicultura costeira desempenha um papel importante no desenvol-
vimento econômico das comunidades costeiras em muitos países em desen-
volvimento (FAO, 2020). Os principais produtores de produtos da aquicul-
tura costeira na América Latina são o Chile (1266 mil toneladas, excluindo
algas; com 6.435 km de costa) e o Peru (89,8 mil toneladas; com 2.414 km
de costa) (FAO, 2020, Kluger et al., 2019).
A produção peruana de vieiras Argopecten purpuratus cresceu drastica-
mente na última década, favorecida por condições ambientais e socioeconô-
micas benéficas que resultam em custos de produção mais baixos do que os
do Chile. Um único local naquele país (Baía de Sechura) é responsável por
50% de toda a produção latino-americana (Kluger et al., 2019). As produções
aquícolas de salmão do Atlântico, salmão coho e truta arco-íris no Chile se
transformaram em modernas indústrias multimilionárias, ficando atrás ape-
nas da Noruega na produção aquícola global total, e em terceiro lugar na co-
lheita de moluscos bivalves (FAO, 2020)
A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) adota tanto a aquicultura costeira como a maricultura como um único
conjunto de atividades e a principal razão disto é a forma em que diversos
países estruturam seus dados informados. Neste sentido, optamos em adotar
a mesma classificação, porém explicamos abaixo as características de cada uma
delas.
16
Se considera como aquicultura costeira as atividades conduzidas em
estruturas totais ou parcialmente artificiais em áreas próximas ao mar, tais
como lagoas costeiras e lagoas fechadas. Embora os tanques costeiros para
aquicultura, modernos ou tradicionais, sejam encontrados em quase todas as
regiões do mundo, eles estão muito mais concentrados no sul, sudeste e leste
da Ásia e América Latina sobretudo para a criação de crustáceos, peixes, mo-
luscos e, em menor grau, algas marinhas. No Brasil, dada a sua importância,
o grande exemplo são os sistemas de cultivo de camarão, especialmente os
extensivos.
Já a maricultura, ou aquicultura marinha, é o conjunto de atividades
realizadas no mar. Para algumas espécies, dependendo da origem de sua forma
jovem, o ciclo de produção é inteiramente no mar, contudo, para outras em
que dependem de outros ambientes nas fases de alevinagem e ou berçário,
mesmo em água doce, a maricultura representa a fase de crescimento do ciclo
de produção.
17
Figura 1. Regiões Administrativas e empreendimento por tipo de cultivo, da
aquicultura costeira no estado do Rio de Janeiro
20
Figura 2. Fazenda Marinha Maricultura Costa Verde, na região da Costa
Verde
21
Figura 3. Fazenda Marinha da Associação de Pescadores de Arraial do Cabo
nas Baixadas Litorâneas
1.2.3 Metropolitana
A região metropolitana do Rio de Janeiro, a área mais populosa do
estado, se espalha por 22 cidades ao redor da Baía de Guanabara, o segundo
maior centro industrial do Brasil. Impactos de múltiplas atividades humanas
como poluição, disputas sobre espaço e recursos com outros setores produti-
vos, como a pesca industrial e recreativa, indústria petrolífera, bem como a
pesca excessiva, resultam em pressão sobre as comunidades dependentes da
costa e também impactam a pesca em pequena escala (Loto et al., 2018).
Nesta região, a maricultura se faz presente no município de Niterói,
concentrada no bairro de Jurujuba, onde a atividade se dá sem planejamento
organizacional e institucional, assim as estruturas de cultivo encontram-se em
desacordo com a legislação.
Os problemas sociais do bairro e do entorno, dificultam as ações das
associações de maricultores que buscam “organizar” o espaço marinho. Dessa
forma, essas entidades não têm controle sobre as estruturas que são colocadas
na água, muitas vezes, extrapolando a área previamente delimitada e destinada
22
à maricultura. Além do descontrole sobre o número de espinhéis, não existe
qualquer regra de distanciamento entre eles, tampouco uma uniformidade das
boias e materiais de cultivo. Essa dificuldade de controle sobre a maricultura
em Jurujuba tem como principal consequência a falta de qualquer documento
que regularize, de alguma forma, a atividade na região, assim como a produ-
ção dela advinda. Podemos afirmar que existem duas áreas estabelecidas de
cultivo, uma instalada na localidade denominada “Ponta da Ilha” e a outra na
área frontal à praia da Várzea.
Três associações de maricultores atuam sobre essas duas “áreas aquíco-
las”, a Associação Livre dos Maricultores de Jurujuba - ALMARJ, a Associação
Livre de Aquacultores e Pescadores Amigos do Mar e a Associação das Mu-
lheres dos Povos D’água, entretanto não há uma divisão específica, já que é
possível encontrar associados das três entidades atuando nas duas áreas de cul-
tivo. Existem, ainda, maricultores que não estão afiliados a nenhuma das três
entidades e tampouco são moradores do local, mas atuam na atividade da
maricultura em Jurujuba.
Figura 4. Fazenda marinha de Jurujuba
24
1.3 A FIPERJ e seu papel institucional
Fundada em 1987, a Fundação Instituto de Pesca do Estado do Rio
de Janeiro – FIPERJ – é a organização pública da esfera estadual responsável
pela execução de pesquisa, extensão e fomento à pesca e à aquicultura flumi-
nense. A FIPERJ tem a missão de promover o desenvolvimento sustentável
da aquicultura e pesca fluminense, ao gerar e difundir informações e tecnolo-
gias, articulando e consolidando políticas públicas para o setor em benefício
da sociedade.
Em 2012, foi realizado concurso público para a FIPERJ e cerca de 80
profissionais (extensionistas, analistas de recursos pesqueiros, pesquisadores
em diversas áreas e técnicos de laboratório) passaram a integrar o quadro de
servidores. No biênio 2012 - 2014 ainda foram inauguradas várias unidades
regionais e a nova Sede. Isso aumentou consideravelmente a capacidade de
atuação da organização. Esta nova estrutura tem possibilitado uma significa-
tiva transformação organizacional e uma multiplicidade de ações de Assistên-
cia Técnica e de Pesquisa, as quais têm contribuído para aumentar a visibili-
dade da FIPERJ e beneficiado diretamente os pescadores e aquicultores flu-
minenses (Ritter and Mello, 2018).
25
26
Capítulo 2 Planejamento Estratégico da Aquicultura
Costeira
Com o rápido crescimento da aquicultura, o planejamento de seu de-
senvolvimento tem se tornado cada vez mais importante, especialmente para
sua própria sustentabilidade, dependendo assim da adoção de um planeja-
mento estratégico orientado por uma demanda identificada de mercado e
uma capacidade de atender esta demanda (Suplicy, 2018, Brugère et al.,
2010).
Há muitas nações em desenvolvimento com grandes aspirações para
um forte desenvolvimento da aquicultura objetivando alimentar suas popula-
ções em rápido crescimento. Reconhecidamente, para isto, é necessária von-
tade política para promover políticas apropriadas, estratégias e investimentos
privados e públicos, e cooperação com um claro foco no aumento da produ-
ção sustentável.
Um planejamento adequado estimulará e orientará a evolução do se-
tor, fornecendo incentivos e seguranças, atraindo investimentos e impulsio-
nando o desenvolvimento. Este planejamento deve integrar a dimensão social,
ambiental e econômica, já reconhecidas como os três pilares da sustentabili-
dade e indispensáveis não só para atingir como para assegurar os objetivos
conquistados pela estratégia de desenvolvimento ajudando a garantir a sus-
tentabilidade econômica, ambiental e social do setor a longo prazo, e sua con-
tribuição final para o crescimento econômico e a redução da pobreza.
Esta estratégia precisa considerar a aquicultura costeira fluminense de
uma forma abrangente, integrada e de maneira estruturada, em uma aborda-
gem ecossistêmica de planejamento e de gestão praticável e implementável
para promover um desenvolvimento harmonioso e coerente (FAO, 2010).
Também precisa compreender em detalhes a dinâmica e as características
27
intrínsecas da aquicultura costeira fluminense, o que requer uma capacidade
multidisciplinar e coletiva para interpretar corretamente as propriedades eco-
nômicas, sociais e ecológicas, bem como as relações e retroalimentações entre
estas propriedades.
Este documento tem como objetivo apontar uma orientação prática
aos tomadores de decisão sobre a formulação de políticas e processos, pro-
pondo passos práticos para melhorar essas questões, incluindo: o reconheci-
mento de oportunidades e necessidades de mudança; assegurando a coorde-
nação e comunicação entre as partes interessadas; reconhecendo a importân-
cia de uma abordagem participativa; aprendendo com lições de outros lugares;
e aceitando que conflitos podem surgir e levar a escolhas difíceis.
Ele destaca os meios para implementar políticas de aquicultura, ob-
serva os benefícios de uma abordagem ecossistêmica e propõe uma gama de
instrumentos que, se implementados em vários níveis, ajudarão a progredir
em direção às metas de desenvolvimento sustentável do setor. Entretanto, a
implementação bem-sucedida das políticas de aquicultura depende da supe-
ração de desafios relacionados à fraca capacidade humana, das instituições e
de sistemas de monitoramento, assim como recursos financeiros inadequados.
Portanto, o documento também sugere os meios para fazê-lo.
Também é necessário incorporar as abordagens e instrumentos esco-
lhidos nos princípios da boa governança(FAO, 2017b). Juntos, esses elemen-
tos-chave garantirão a solidez e a eficácia das políticas de desenvolvimento da
aquicultura e a contribuição positiva do setor.
2.1 Estratégia
2.1.1 Proposta do planejamento, objetivos e forma de construção do plano
A aquicultura pode desempenhar um papel crucial no fornecimento
de opções alternativas de renda para as comunidades costeiras, e o planeja-
mento adequado deste setor deve assegurar a participação destas partes
28
interessadas no processo de tomada de decisões para evitar sua exclusão dos
benefícios diretos gerados pela cadeia produtiva (Krause et al., 2015)
Até o momento, o Rio de Janeiro não possui nenhuma estrutura for-
mal e organizada que possa unir representantes dos setores organizados da
cadeia produtiva - consumidor, produtor e indústria - estabelecendo uma par-
ceria com instituições governamentais, que se reúnem para analisar, discutir
e propor soluções, como acontece no Estado de Santa Catarina(Suplicy,
2018).
De fato, quando os formuladores de políticas públicas brasileiras con-
sideram a praticidade dos programas nacionais de maricultura, eles têm bus-
cado no Estado de Santa Catarina lições e insights. A produção de moluscos
bivalves em Santa Catarina é realizada por mais de 600 produtores e é valori-
zada em cerca de US$ 20 milhões (Safford et al., 2019). Apesar de ser uma
indústria bastante recente no Brasil e ter começado em meados dos anos 90,
a aquicultura de moluscos bivalves têm seguido uma tendência de crescimento
de 13 para mais de 22.000 t/ano desde 2000. Por lá, as ferramentas de plane-
jamento e gestão melhoraram a governança da atividade, em um cenário -
como também no Estado do Rio de Janeiro - em que a falta de regulamenta-
ção e desenvolvimento planejado também impôs obstáculos múltiplos
(Suplicy, 2018)
Figura 6. A importância do planejamento para a sustentabilidade da ativi-
dade. a; Fazenda Marinha Paraíso das Ostras, Florianópolis, SC; linhas de
cultivo de mexilhão em Nitéroi, RJ
29
A ausência de tal instrumento dificulta um processo de construção
participativa como preconizado na elaboração de um planejamento estraté-
gico. Visto que a atividade da aquicultura costeira no estado é dinâmica e em
constante transformação, medidas de apoio são urgentes e não podem esperar
a execução de tais fóruns para seu desenvolvimento, correndo assim o risco de
não atingir seu pleno potencial, ou perecer pelo caminho.
Assim, de forma a contornar essa situação os técnicos da FIPERJ en-
volvidos na elaboração deste plano, optaram por realizar um diagnóstico das
atividades de maricultura e carcinicultura, identificando seus potenciais, gar-
galos, necessidades e apontando os direcionamentos a serem tomados de
acordo com suas observações embasadas nas opiniões e percepções dos prin-
cipais atores da cadeia produtiva - ou seja, os produtores - tornando possível
- pelo menos por enquanto - identificar, apoiar e propor um plano estratégico
para os temas mais urgentes favorecendo a cooperação e as sinergias em nível
regional.
Para isso, foram realizados os diagnósticos das atividades de maricul-
tura e carcinicultura.
2.2 Diagnóstico
Inicialmente, os produtores foram identificados e mapeados através
das bases de dados dos escritórios regionais da FIPERJ e outros tomadores de
decisão diretamente envolvidos na atividade. Posteriormente, os produtores
foram convidados a participar de uma pesquisa para este estudo. Foi prepa-
rado um Termo de Consentimento, informando os objetivos, método de pes-
quisa e assegurando a confidencialidade da identidade dos entrevistados.
Quando nos foi permitido, as entrevistas foram gravadas em áudio. A coleta
e análise de dados da maricultura foram realizadas durante o segundo semestre
de 2018 e o primeiro semestre de 2019, nas regiões da Costa Verde e Baixadas
Litorâneas. Embora a cultura do mexilhão em pequena escala - baseada na
colheita - exista na região Metropolitana (Ritter, 2013), não há registros ofi-
ciais sobre quem e quantos são, ou a que volume de sua produção
30
correspondem, tampouco qualquer tipo de regularização. Somente com a
identificação dos maricultores e de suas respectivas estruturas será possível
traçar algum tipo de plano de ordenamento para a atividade da maricultura
em Jurujuba. Portanto, não registramos esta região neste estudo, mas reco-
nhecemos sua importância no planejamento estratégico geral da atividade es-
pecialmente quanto a nível de poluição e as consequências crônicas nos pro-
dutos cultivados (Gutiérrez et al., 2019).
Já as entrevistas com os carcinicultores foram realizadas no período do
segundo semestre de 2020 e por conta das dificuldades impostas pela restrição
de trânsito em razão da pandemia de COVID 19 algumas destas foram reali-
zadas remotamente.
As entrevistas abrangeram temas como a caracterização socioeconô-
mica; a atividade, seus aspectos e desafios; as práticas de monitoramento; li-
cenças e processos regulatórios; produção e mercado; acesso a direitos e servi-
ços.
31
O volume de produção, o valor de produção, o volume de produção
potencial e seu valor também foram estimados, baseado nos volumes e valores
de venda informados, na quantidade e tamanho/área das estruturas já existen-
tes, nas densidades de estocagem e sobrevivências médias de cada um dos or-
ganismos cultivados e seus respectivos sistemas de cultivo no caso da carcini-
cultura.
No total foram identificados 25 maricultores e 7 carcinicultores, dos
quais 20 e 5, respectivamente, concordaram em responder as entrevistas, ge-
rando um índice de resposta de 78%.
2.2.1 Maricultura e Carcinicultura
No Brasil, o Estado do Rio de Janeiro tem desenvolvido e consolidado
a maricultura nas últimas três décadas como uma atividade produtiva e eco-
nômica, de alta relevância local e regional. Inicialmente, devido ao seu papel
social e inclusivo, especialmente para a população tradicional dependente da
pesca, a maricultura foi apoiada e fomentada por políticas locais e apresentada
como uma fonte alternativa de renda (Moschen, 2007). Atualmente, os in-
vestimentos públicos e privados têm se intensificado e novos desafios e preo-
cupações têm surgido. Recentemente a criação de camarões em cativeiro vem
ganhando rápido destaque. Nos últimos 5 anos diversos empreendimentos de
carcinicultura vêm surgindo, com uma tendência de intensificação das pro-
duções em sistemas fechados longe da costa.
A cadeia produtiva primária é a dos moluscos bivalves: a vieira nativa
- N. nodosus, o mexilhão marrom - P. perna e a ostra-do-pacífico - C. gigas -
(Abelin et al., 2016). O estado também experimentou um aumento na pro-
dução do peixe marinho bijupirá- Rachycentron canadum, encorajado por um
estudo piloto que mostrou bons resultados no crescimento (Sampaio et al.,
2011) e lidera a produção nacional de algas - Kappaphycus alvarezii -(Hayashi
et al., 2017, Reis et al., 2017). As fazendas de carcinicultura produzem prin-
cipalmente o camarão branco do pacífico (Litopenaeus vannamei).
32
A alta demanda por frutos do mar de alta qualidade e subprodutos da
aquicultura, combinados com a baixa oferta na região, elevaram os preços dos
produtos cultivados (Palmer, 2015), que já atingiram valores superiores a US$
15 kg-1.
Figura 8. Produtos da aquicultura costeira. a- vieira; B mexilhão; c- ostra do
pacifíco; d- Kappaphycus alvarezii; e - bijupirá; f - camarão branco do pací-
fico
34
2.3 A atividade, seus aspectos e desafios
No final de 2019, a maioria das mariculturas estavam produzindo
(68%). Em geral, as mariculturas têm um caráter comercial. A maioria delas
(77%) emprega técnicas de gestão e controla aspectos de produção. Além
disso, algumas delas (14%), compartilham suas instalações de produção para
atividades de educação e pesquisa em colaboração. Entre as que estão inativas,
a principal razão para estarem assim é a falta de sementes de moluscos para
iniciar um novo ciclo de produção ou como consequência de mortandades
recentes ocorridas na época de cultivo de 2018-2019 (90%).
Todas as fazendas têm um bote de apoio equipado com um motor de
popa, e a maioria utiliza balsas de apoio (87%). A maioria dos produtores
(67%) não ocupou totalmente suas áreas de produção licenciadas, mesmo as-
sim, a maioria (75%) gostaria de expandir seus negócios. Entretanto, apenas
uma pequena parte destes (38%) tem fundos à sua disposição. Destes, metade
estavam interessados em cultivar outros organismos aquáticos, sendo o biju-
pirá (54,5%) sua espécie preferida.
Os desafios enfrentados pelos produtores são aqueles relacionados à
falta de mecanização (22%); aquisição de sementes e formas jovens (20%); e
furtos (18%). Outros fatores identificados (40%) incluem força de trabalho
(10%) e desordens ambientais (10%). Em relação a outras atividades consi-
deradas conflitantes incluem operações de embarcações (32%), pesca artesa-
nal e industrial (31%) e turismo (25%). Também são obstáculos para os pro-
dutores problemas de lesões e saúde ocupacional, na sua maioria compostos
de desordens musculares e esqueléticas (40%).
Atualmente menos da metade (40%) das fazendas de carcinicultura
estão produzindo. Destas, 33% têm problemas relacionados à obtenção de
pós-larvas, e as outras 67% estão em fase de implementação, com produção
prevista somente para o próximo semestre. O total de áreas em produção,
destinados para criação de camarão no estado é de aproximadamente 208 hec-
tares.
35
Todos os produtores renovam água do cultivo diariamente, em torno
de 1-3% para 80% deles. A grande maioria dos empreendimentos (80%),
para a água de despesca, tem como destino a recirculação e também possuem
bacia de decantação, que em média representa 2% da área total de cultivo.
Todos os carcinicultores adotam medidas de biossegurança sendo as mais ci-
tadas a esterilização das unidades de cultivo (23%), o monitoramento da ma-
téria orgânica (23%) e o uso de probióticos (23%).
Todas as carciniculturas têm em sua estrutura de apoio acesso viário e
equipamentos de análise de qualidade de água. A grande maioria (80%) pos-
sui bombas para captação de água, máquinas agrícolas e grupo de geradores.
Mais da metade (60%) possui estufas agrícolas cobrindo os viveiros e menos
da metade (40%) possuem veículo automotor. Todos os equipamentos e con-
sumíveis são adquiridos fora do estado, sendo os mais citados Paraná, Per-
nambuco, Rio Grande do Norte e São Paulo. Atualmente, 79% do total das
áreas licenciadas é efetivamente ocupada e todos os carcinicultores gostariam
de expandir seus negócios. Entretanto, apenas uma pequena parte destes
(20%) tem fundos à sua disposição. Já em relação a produção de outros orga-
nismos além do camarão, menos da metade (40%) expressaram desejo de as-
sim fazer.
Os maiores desafios citados pelos carcinicultores foram os relacionados
à obtenção de pós-larvas (24%) e à aquisição de materiais, equipamentos e
insumos (17%), além de furtos, dificuldade na regularização da atividade, o
alto custo da ração, falta de mão de obra e assistência técnica
2.3.1.1 Monitoramento
Todos os maricultores, mesmo que de forma não rotineira, tem ou
tiveram sua área de cultivo monitorada para parâmetros ambientais. Em geral,
o estado (75%) às vezes em conjunto com o terceiro setor assume a responsa-
bilidade principal pelo monitoramento, enquanto o setor privado responde
por apenas 25%.
36
Nas mariculturas, o monitoramento diz respeito basicamente e mais
frequentemente aos parâmetros ambientais, incluindo as variáveis tempera-
tura da água (97%); transparência (80%); salinidade (87%); e teor de oxigê-
nio dissolvido (73%). Em geral, os intervalos de amostragem são mensais
(53%) ou quinzenais (35%).
Já a qualidade dos produtos da maricultura é monitorada por um
grande número de produtores entrevistados (88%). O critério de escolha é o
perfil microbiológico do produto. Para estes produtores, os intervalos de
amostragem de rotina são geralmente mensais.
Os carcinicultores em geral são os próprios responsáveis pelo monito-
ramento de seus cultivos. O monitoramento é realizado por todos os carcini-
cultorese para a maioria deles (60%), de maneira diária. A totalidade dos car-
cinicultores monitora a temperatura, o pH e a salinidade. A grande maioria
(80%) monitora ainda a transparência, nitrito e oxigênio dissolvido.
A qualidade dos camarões cultivados é monitorada pela grande maio-
ria dos produtores (80%), que adotam o teste de off flavor como critério de
escolha.
37
A maioria dos produtores (75%) possui uma Licença de Aquicultor,
documento emitido pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
(MAPA). Os demais declararam ter iniciado o processo de licenciamento, mas
ainda não possuem uma licença expedida. Todos os entrevistados possuem a
licença ambiental do empreendimento que é emitida pelo Instituto Estadual
do Meio Ambiente (INEA) órgão ambiental estadual, vinculado à Secretaria
Estadual de Meio Ambiente. Grande parte das licenças ambientais emitidas é
direcionada para a criação de moluscos bivalves (75%), seguida da criação de
peixes (17%) e cultivo de algas marinhas (8%). No que diz respeito à cessão
de uso do espaço, apenas 15% dos produtores tinham uma, enquanto 65%
tinham em andamento um processo para obtê-la e 20% ainda não tinham
uma ou não sabiam como responder. Entre os produtores, o tempo médio
decorrido desde o início do processo administrativo até o presente é de 8 anos,
embora alguns processos tenham ultrapassado 20 anos.
A burocracia e a demora na obtenção de licenças e cessões foram cita-
das como os principais obstáculos para se tornar cumpridor (66%). Entre-
tanto, o desconhecimento dos procedimentos legais (19%), a ausência de um
ponto focal do órgão emissor e os custos (15%) também representam obstá-
culos.
O licenciamento da carcinicultura no Estado do Rio de Janeiro, atu-
almente envolve a: obtenção do Registro de Aquicultor como já explicado
acima; da Outorga de Direito de Uso de Recursos Hídricos, que assegura o
controle quantitativo e qualitativo dos usos da água, bem como o efetivo exer-
cício dos direitos de acesso aos recursos hídricos, que pode ser no âmbito es-
tadual para águas interiores de domínio estadual, ou federal para as águas de-
nominadas como de patrimônio da União; e também da Licença Ambiental
da atividade de acordo com seu porte e impacto, de competência dos muni-
cípios.
No estado, todos os carcinicultores possuem a licença de aquicultor, a
38
outorga de água, o Cadastro Ambiental Rural e a Licença Ambiental. Para
80% dos carcinicultores a outorga de água foi concedida pelo INEA, sendo
que os outros 20% aguardam a solicitação feita junto à Agência Nacional de
Águas. O licenciamento ambiental para 80% dos carcinicultores foi obtido
diretamente através das secretarias de meio ambiente municipais, sendo o
INEA responsável pelos outros 20%. As licenças ambientais concedidas per-
mitem a criação dos seguintes organismos: camarão marinho / estuarino, ca-
marão de água doce, moluscos e peixes, sendo a grande maioria para os dois
primeiros citados (82%).
2.4.1.1 Produção e mercado
Os produtos mais importantes da maricultura, por ordem, são: mo-
luscos bivalves (81%), algas (9,5%) e peixes (9,5%).
Com relação a vieira (N. nodosus), principal espécie cultivada no litoral
fluminense, os sistemas de cultivo de superfície (67%) e submerso (33%) são
as duas modalidades praticadas pelos produtores. Em termos de produção, a
maior parte produzida é obtida através de sistemas submersos (73%). Nesses
sistemas de produção, a mortalidade média estimada pelos produtores é de
34% e 12%, respectivamente.
O número total de vieiras estocadas para a estação 2018/2019 foi de
336.000 unidades. A fonte de todas as sementes de vieira empregadas é o la-
boratório local de produção de sementes de moluscos – Instituto de Ecode-
senvolvimento da Baía da Ilha Grande (IEDBIG), de grande importância es-
tratégica para a cadeia produtiva.
O intervalo entre a semeadura e a colheita é maior ou igual a 18 meses
para 47% dos entrevistados. O tamanho médio da casca para venda é de 7,5
- 8,5 cm para 81% dos produtores.
Os principais compradores são: intermediários (42%); consumidores
finais (58%) especialmente restaurantes especializados em frutos do mar, tu-
ristas e hotéis. O preço médio global por dúzia foi de R$ 44,00 ± 10, mas
39
variou de acordo com o comprador, em média R$ 33,00 ± 6 para intermedi-
ários e R$ 62,00 ± 4,5 para consumidores finais. A forma mais comum de
apresentação do produto é fresco com casca. Outras formas citadas incluem
formas processadas, incluindo congeladas, descascadas e cozidas, o que em
média acrescenta um valor 54% maior.
40
de períodos de até 5 meses, que muitas vezes dependem do tamanho da se-
mente no início e do tamanho final nas vendas. A produção é destinada a
turistas (33%), consumidores finais e restaurantes (56%), e intermediários
(11%). A forma mais comum de venda é fresca com concha, com um preço
médio de R$ 23 ± 7 kg-1.
42
Figura 12. Em sentido horário: clones de Kappaphycus; balsa de cultivo; ma-
nejo para colheita; alga seca no sol até peso constante
44
para um milhão de pós-larvas é de R$ 10,00, contudo o maior custo associado
está ligado ao transporte aéreo e rodoviário até a porteira das fazendas, que
em média é de R$5.850,00 ± 4.782,00, dependendo da localização e das con-
dições de acesso.
Em geral as carciniculturas adotam um sistema de cultivo bifásico,
composto de uma etapa berçário e uma de engorda. Cada fazenda produz
anualmente 3 ciclos de cultivo, os quais duram em média 111 dias. Na en-
gorda, os viveiros mais utilizados são do tipo escavado revestido (50%), esca-
vado sem revestimento (33%) ou suspenso (17%). A faixa de peso médio de
venda, para a maioria dos carcinicultores (77%) é de 10-12g, seguido por 12-
14g (22%) e maior que 14g (11%).
Os principais compradores são os intermediários (88%) e os consumi-
dores finais (12%). O preço médio global por kg foi de R$ 26,00 mas variou
de acordo com o comprador, em média R$ 22,00 ± 3 para intermediários e
R$ 32,00 ± 4 para consumidores finais. A forma mais comum de comerciali-
zação do produto é fresco com casca.
Geralmente os intermediários, independentemente do produto culti-
vado, vendem diretamente para restaurantes nas cidades de São Paulo e Rio
de Janeiro que são respectivamente o primeiro e segundo mercados mais ricos
do país. Nas mariculturasa venda direta aos turistas ou consumidores finais
geralmente ocorre nos locais dos cultivos, onde os compradores têm acesso
por barcos particulares e a venda depende das boas condições climáticas. Nas
carciniculturas a venda direta ocorre diretamente na porteira das fazendas.
45
Figura 14. Em sentido horário: Formas jovens de camarão; sistema de cultivo
extensivo; sistema de cultivo intensivo; exemplar já em tamanho comercial
Tempo de
Produto cultivo Destino Forma Preço (R$)
(meses)
consumidor
atravessador consumidor final atravessador
final
46
Os dados relacionados aos volumes de produção, a capacidade produ-
tiva atual, o valor atual da cadeia produtiva e o valor potencial da cadeia pro-
dutiva, são apresentados na figura 15.
Figura 15. Produção atual, capacidade produtiva, valor atual e valor poten-
cial da cadeia produtiva da maricultura
47
Figura 16. Produção atual, capacidade produtiva, valor atual e valor poten-
cial da cadeia produtiva da carcinicultura
57
2.6 Indicadores / mecanismo de implementação
Com base nos elementos apresentados no diagnóstico atual da cadeia
produtiva, fica evidente que urgem a adoção de mudanças que permitirão que
o Rio de Janeiro atenda às necessidades atuais da cadeia produtiva e tenha
garantido um desenvolvimento sustentável, balanceando os benefícios sociais,
econômicos e ambientais. Contudo é fundamental que todos os atores envol-
vidos com esta atividade somem esforços na implementação de um plano es-
tratégico de longo prazo.
Para tal, desde já, foi preciso definir uma visão de futuro que irá balizar
as ações práticas para o desenvolvimento deste setor, e também motivar for-
mas de superação das dificuldades humanas, institucionais e financeiras para
a sua implementação. Logo, o plano descreve as ações para a implementação
das metas propostas. Ele tem um prazo definido em metas de: curtíssimo (1
ano); curto (2 anos); médio (5 anos) e longo (10 anos) prazo, contendo pro-
gramas e atividades específicas e detalhando os meios para atingir os objetivos
propostos.
O documento define uma visão de futuro dependente do atendimento
de objetivos sociais, econômicos e ambientais organizados dentro dos eixos
produção, pesquisa e extensão, cada um destes com uma série de metas a se-
rem alcançadas coletivamente, através de atividades e instrumentos a serem
executadas pela Fiperj, e também com o apoio das instituições que atuam no
campo da aquicultura costeira.
O Plano Estratégico identificou todos os atores responsáveis pelas ati-
vidades planejadas e propôs um cronograma de execução para inserir a aqui-
cultura costeira na agenda de desenvolvimento do estado. Ainda que algumas
destas ações fundamentalmente tenham em parceiros de outras instituições,
peças-chaves de sua execução, neste plano, para nenhuma destas é delegada
responsabilidade.
As instituições citadas, estão discriminadas pelo reconhecimento do
58
seu papel junto a tal objetivo, estando junta a elas a sua implementação, con-
dicionada à disponibilidade orçamentária e financeira de cada órgão e à ade-
quação, em alguns casos, à normas que regulamentam a atividade.
Ainda aqui assumimos que a sinergia e complementaridade das ações
são fundamentais para uma implementação bem-sucedida da estratégia pro-
posta, na qual cada instituição citada poderá identificar de forma clara e exata
por quê, quando e como poderá contribuir para o alcance do objetivo cole-
tivo.
59
60
Capítulo 3 Metas
Figura 17 . Organograma hierárquico de metas e suas relações com os di-
versos eixos
64
incentivar e apoiar a instalação de novos laboratórios oriundos da sociedade
civil/iniciativa privada. Garantir a participação direta e ativa de técnicos da
FIPERJ na rotina destes laboratórios contribuindo para a solução de proble-
mas, no desenvolvimento de pesquisas aplicadas e para o desenvolvimento de
novos produtos na aquicultura. Emergencialmente formalizar uma parceria
com Instituto de Ecodesenvolvimento da Baía da Ilha Grande (IED-BIG)
para que os técnicos de FIPERJ tenham acesso a sua estrutura e laboratórios,
possibilitando a realização de estudos conjuntos em reprodução e larvicultura,
tornando possível a produção de formas jovens durante todo o ano. Esta meta
será considerada cumprida se em até 2 anos, ao menos um termo de coopera-
ção técnica estiver formalizado.
3.1.4.2 Avaliar o assentamento remoto de sementes de moluscos bivalves
Avaliar a viabilidade técnica e econômica da fixação de sementes de
moluscos bivalves in loco, através da tecnologia de assentamento remoto. Con-
tando com a participação direta dos maricultores, a tecnologia buscará otimi-
zar a produção de sementes, um dos principais entraves da malacocultura flu-
minense. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, estiver ins-
talada uma unidade experimental.
3.1.4.3 Implementar um banco criogênico de gametas
Implantar um banco de gametas criopreservados possibilitando a con-
servação de material genético de diferentes organismos marinhos. Esta tecno-
logia permitirá realizar reproduções ao longo do ano independente da estação
reprodutiva, reduzir custos com a manutenção de plantéis de reprodutores,
apoiar programas de conservação de espécies vulneráveis, de repovoamento,
ecotoxicologia aquática e melhoramento genético. Esta meta será considerada
cumprida se em até 5 anos, o banco de gametas estiver criado.
65
3.1.5 Incentivar a diversificação da aquicultura costeira
3.1.5.1 Ampliar a formalização de parcerias público privadas
Formalizar parcerias com laboratórios de produção de formas jovens,
já instalados, ou que venham a se instalar no estado, para o desenvolvimento
de projetos conjuntos que tenham por objetivo diversificar o número de es-
pécies produzidas no litoral fluminense. Esta meta será considerada cumprida
se em até 5 anos, ao menos um termo de cooperação técnica estiver formali-
zado.
3.1.6 Promover o acesso a materiais, equipamentos e petrechos
3.1.6.1 Incentivar a instalação de empresas fornecedoras de produtos e serviços
aquícolas
Incentivar a instalação de empresas fornecedoras de produtos e servi-
ços aquícolas no Estado do Rio de Janeiro através de propostas de incentivos
fiscais e programas de inovação tecnológica. Esta meta será considerada cum-
prida se em até 10 anos, ao menos uma proposta de incentivo fiscal estiver
em discussão.
3.1.7 Fomentar a criação de novas tecnologias aplicadas à aquicultura
Auxiliar a criação de novas tecnologias aplicáveis ao setor de aquicul-
tura costeira, junto às financiadoras. Esta meta será considerada cumprida se
até 2 anos, ao menos um projeto estiver em desenvolvimento.
3.1.8 Avaliar a utilização de estruturas alternativas de cultivo, com baixo
custo
Desenvolver e testar a eficiência e eficácia de estruturas de cultivo al-
ternativas e de baixo custo, avaliando a viabilidade técnica e econômica de sua
utilização. Esta meta será considerada cumprida se em até 2 anos, uma estru-
tura for desenvolvida e ao menos um relatório técnico tiver sido elaborado.
66
3.1.9 Estimular a adoção da mecanização nos cultivos
Estimular e buscar fomentar a adoção da mecanização dos cultivos
costeiros no Rio de Janeiro. Esta meta será considerada cumprida se até 5anos,
ao menos um relatório técnico tiver sido elaborado
3.1.10 Promover a valoração e divulgação dos produtos da aquicultura costeira
Ampliar os processos de Indicação Geográfica e Denominação de Ori-
gem
Desenvolver o processo de Indicação Geográfica e Denominação de
Origem (IG/DO) dos produtos gerados na maricultura, proporcionando ras-
treabilidade e visibilidade, através da elaboração do Regulamento de Produ-
ção de Vieiras da Denominação de Origem e o Regulamento de Utilização da
Denominação de Origem a ser protocolado no Instituto Nacional da Propri-
edade Industrial - INPI, sendo necessário para isso o estreitamento da parceria
com SEBRAE e órgãos de consultoria em implantação da IG junto ao INPI.
Utilizar a experiência na obtenção do “selo” pelos maricultores da Costa
Verde para instaurar os processos necessários para a obtenção do selo pelos
maricultores das Baixadas Litorâneas, incentivando a obtenção de certificação
dos produtos da maricultura da RESEX de Arraial do Cabo, como por exem-
plo: “produção sustentável realizada por comunidade tradicional”. Esta meta
será considerada cumprida se em até 5 anos, for elaborado o Regulamento de
Produção e o Regulamento de Utilização do selo de Denominação de Ori-
gem, incluindo toda metodologia e logo marcas, e protocolado o processo no
INPI.
3.1.10.2 Construir canais de vendas eletrônicos de produtos da aquicultura cos-
teira fluminense
Criar perfis em mídias sociais para a divulgação dos produtos da aqui-
cultura costeira no Rio de Janeiro, além de um endereço eletrônico que fun-
cionará como uma central de cotações e pedidos, cabendo então ao produtor
os aceitar ou declinar. Dessa maneira, busca-se a simplificação do contato
67
entre comprador e fornecedor, dando destino a produção sem a necessidade
da venda direta ao atravessador, permitindo acessar novos mercados. Esta
meta será considerada cumprida se em até 2 anos, se estiver em operação o
endereço eletrônico ou perfil digital.
3.1.10.3 Estruturar a cadeia de beneficiamento dos moluscos bivalves e promo-
ver a obtenção de selos de inspeção sanitária
Rastrear as possibilidades de instalação de unidades de depuração e
beneficiamento de moluscos bivalves com selos de inspeção sanitária. A partir
dos entraves encontrados, traçar um plano de ação que busque solucioná-los,
visando agregar valor aos produtos da maricultura, fomentar seu comércio
formal e expandir as opções de comercialização. Incentivar e apoiar os produ-
tores nesta estruturação, além de auxiliá-los na articulação junto ao MAPA.
Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos um processo
de obtenção de selo de inspeção sanitária estiver concluído.
3.1.10.4 Incentivar o consumo dos produtos da aquicultura costeira
Analisar o mercado e o perfil dos consumidores dos produtos da aqui-
cultura costeira no Rio de Janeiro e no Brasil por meio de um questionário
online, divulgado através de mídias digitais e sociais. A partir desta análise,
identificar os principais gargalos e avaliar estratégias que busquem solucioná-
los, como propostas de políticas públicas e de desenvolvimento de produtos
que atendam a demanda do mercado interno. Em parceria com as colônias e
prefeituras, promover a sensibilização da comunidade em relação à atividade
e seus produtos por meio de campanhas que podem ser divulgadas em pro-
gramas locais de rádio, TV e em mídias sociais. Esta meta será considerada
cumprida se em até 5 anos, ao menos uma campanha de promoção tenha sido
realizada
3.1.10.5 Impulsionar a comercialização dos produtos cultivados
Estabelecer parceria direta com mercados públicos municipais e
CEASA, buscando o uso coletivo destes espaços por produtores e pela própria
68
Fiperj, que poderá oferecer orientação e capacitação relacionadas às boas prá-
ticas de manipulação e beneficiamento do pescado. Esta meta será conside-
rada cumprida se em até 2 anos, ao menos um relatório técnico for produzido.
3.1.10.6 Estabelecer calendários regionais de eventos gastronômicos
Em conjunto com os maricultores de cada região e em parceria com
as colônias, prefeituras, SEBRAE e entes da administração direta estadual, es-
tabelecer um calendário de eventos gastronômicos - feiras e festivais - onde
seja incentivado a utilização de produtos da maricultura no cardápio. Solicitar
também a utilização de espaços públicos para realização de eventos que tra-
gam visibilidade ao setor. Esta meta será considerada cumprida se em até 5
anos, ao menos um calendário de eventos regional estiver proposto ou em
discussão.
3.1.11 Facilitar a oferta de financiamentos e linhas de crédito específicas
3.1.11.1 Revisar as linhas de crédito existentes
Iniciar a discussão sobre as características específicas das linhas de cré-
dito existentes, que dificultam o acesso para os requerentes. Esta meta será
considerada cumprida se até 5 anos, ao menos um projeto de financiamento
estiver em rediscussão.
3.1.11.2 Promover oferta de linha de crédito específica
Propor a criação de linhas de crédito, com recurso estadual, específicas
para aquicultores que sejam pouco burocráticas, e que ofereçam prazos flexí-
veis e taxas atrativas à exemplo dos programas “Prosperar” e “Rio Rural”. Esta
meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos uma linha de
crédito específica para aquicultura for criada.
69
3.1.12 Fortalecer um Programa de monitoramento ambiental e sanitário da
aquicultura costeira
3.1.12.1 Implementar e estruturar um amplo projeto de monitoramento ambi-
ental das áreas de cultivo
Manter e ampliar as parcerias para viabilizar o monitoramento ambi-
ental das áreas de cultivo, priorizando análises físico-químicas da água, a pre-
sença de contaminantes químicos e microbiológicos, de ficotoxinas, algas no-
civas e agentes patogênicos para os produtos da maricultura. Esta meta será
considerada cumprida se em até 5 anos, um plano de monitoramento ambi-
ental e sanitário das áreas de cultivo estiver em execução.
3.1.12.2 Apoiar a implementação do PNCMB
Visando à implementação do PNCMB, auxiliar tecnicamente a for-
mação de um comitê técnico junto aos entes da administração direta estadual,
em especial a Secretaria de Agricultura, Pecuária, Pesca e Abastecimento (SE-
APPA) e posteriormente elaborar um plano de ação. A FIPERJ poderá auxi-
liar no cadastramento prévio de maricultores e marisqueiros seguindo a reco-
mendação do programa e posteriormente auxiliar a Defesa Agropecuária a
desenhar seu plano de amostragem. Mediante disponibilidade dos instrumen-
tos necessários, realizar a coleta de amostras para análises laboratoriais e por
meio do seu corpo técnico executá-las. Esta meta será considerada cumprida
se em até 2 anos, o comitê técnico for criado.
Monitorar marinhas em
áreas de produção de moluscos bivalves
Através do monitoramento ambiental das fazendas marinhas, em in-
tervalos regulares de 15 dias ou em situação anômala de mortalidade, realizar
análises taxonômicas e quantitativas do fitoplâncton, verificar a ocorrência de
floração de algas nocivas e possíveis ficotoxinas nos ambientes de cultivo, e
correlacioná-las às características físico-químicas da água para formular um
modelo preditivo de sinistro. Esta meta será considerada cumprida se em até
70
5 anos, ao menos um relatório técnico sobre as diferentes espécies de micro-
algas associadas à presença de toxinas no ambiente de cultivo tiver sido publi-
cado.
Avaliar os possíveis impactos ambientais das fazendas costeiras multi-
tróficas durante um ciclo de cultivo e subsidiar informações que auxi-
liem na sustentabilidade da atividade em longo prazo
Monitorar os possíveis impactos ambientais de uma fazenda marinha
ao longo de um período de 18 meses. Registrar as características hidrodinâ-
micas e o desempenho zootécnico do cultivo, seus efeitos na coluna d'água,
na deposição de resíduos, as características geoquímicas e ecológicas do sedi-
mento. Formular um modelo preditivo de dispersão e deposição, de forma a
estimar a capacidade de suporte do ambiente, fornecendo assim uma ferra-
menta de apoio à tomada de decisão dos gestores. A meta será considerada
cumprida se em até 5 anos, ao menos um estudo de impacto ambiental estiver
publicado.
72
maricultura na Baía da Ilha Grande com foco no desenvolvimento sustentá-
vel, capacitação técnica e inovação tecnológica. Executar a recuperação estru-
tural da estação de pesquisa de Guaratiba, através de recursos da SEAPPA
e/ou de convênios e agências de fomento buscando transformá-la em uma
central de análises, além de ponto focal para o desenvolvimento de pesquisas
exclusivas para a solução dos problemas produtivos. Implantar o Laboratório
de Aquicultura Marinha em Macaé, através de cooperações interinstitucionais
que promovam o desenvolvimento da carcinicultura marinha fluminense.
Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos uma das
estruturas estiver em funcionamento pleno.
3.2.3.1 Desenvolver linhas de pesquisa em biotecnologia e inovação tecnológica
Estabelecer parcerias entre a FIPERJ e instituições de pesquisa como
universidades, institutos federais e centros de pesquisas visando fomentar o
desenvolvimento de pesquisas, a criação de grupos temáticos e a inovação em
áreas estratégicas identificadas como entraves da cadeia produtiva, como por
exemplo: técnicas de cultivo e manejo, fisiologia e biologia reprodutiva, pro-
dução de formas jovens, genética, interação com o meio ambiente, sanidade,
dentre outras. Fomentar através de recursos financeiros, bolsas de pesquisas,
programas de mobilidade de técnicos e pesquisadores, cooperações técnicas e
demais instrumentos que promovam o avanço científico, tecnológico, e as
pesquisas voltadas para diversificação de tecnologias de cultivo. Objetiva-se
gerar processos e produtos mais sustentáveis, tornando o Estado do Rio de
Janeiro um centro de excelência em biotecnologia aplicada à aquicultura. Esta
meta será considerada cumprida se em até 2 anos, ao menos 3 grupos de pes-
quisa estiverem formados.
3.2.3.2 Assegurar recursos para desenvolvimento da aquicultura costeira
Destinar uma percentagem específica dos recursos do Fundo de De-
senvolvimento da Pesca e Aquicultura, previsto no Projeto de Lei nº 83/2011,
ou de novos fundos que venham a ser criados e tenham relações diretas com
73
o objeto deste instrumento, para projetos de aquicultura costeira, constantes
no Planejamento Estratégico da atividade, validados e aprovados pela câmara
técnica. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, o FUNDEPA
estiver em execução.
3.2.4 Realizar o planejamento espacial da atividade na zona costeira
Identificar as áreas propícias para o desenvolvimento sustentável das
atividades de maricultura e carcinicultura na região costeira do Estado do Rio
de Janeiro, através de um modelo multicritério, analisado por Análise Hierár-
quica Padrão (AHP). Os modelos utilizarão camadas de informação de ao
menos 27 critérios diferentes que serão avaliadas quanto à adequabilidade
para a atividade e receberão pesos definidos por especialistas, tomadores de
decisão e atores sociais. Uma vez identificadas, as áreas serão calculadas e será
estimado um potencial produtivo em diversos cenários. Estes mapas ficarão
disponíveis nos ER´s e em publicações para o conhecimento de possíveis in-
teressados. A meta será considerada cumprida se em até 2 anos, ao menos dois
mapas estejam disponíveis.
3.2.5 Avaliar os impactos ambientais das atividades de aquicultura costeira
Investigar os impactos ambientais no cultivo de peixes nativos em la-
goas costeiras
No intuito de avaliar o possível impacto ambiental causado por uma
piscicultura em lagoas naturais com vistas a subsidiar a mudança de legislação
(Resolução CONEMA nº 49/2013), serão analisadas amostras de água e se-
dimento segundo as instruções da NOP-INEA nº04. Para tal, será realizado
um cultivo experimental de peixes nativos estuarinos em cercados fixos no
sistema lagunar. Numa segunda etapa, será prevista a participação de comu-
nidades pesqueiras a fim de promover a atividade como alternativa e incenti-
var a diminuição da pressão de pesca sobre os estoques naturais. A meta será
considerada cumprida se em até 5 anos, for concedida autorização para
74
exploração de lagos de domínio da União às instituições públicas para reali-
zação de pesquisas (Decreto Nº 2.869, de 09/12/1998) e assinado o Termo
de Cooperação Técnica entre o Laboratório Rede Universidade Federal Flu-
minense (UFF) de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (RE-
MADS-UFF) da UFF e a Fiperj.
3.2.6 Formular um modelo de geração e dispersão de coliformes
Gerar um modelo de dispersão de coliformes na Baía da Ilha Grande,
que possa ser utilizado como ferramenta de gestão ambiental das mariculturas.
Em um primeiro passo, serão identificados, quantificados e espacializados os
agentes poluidores locais e suas relações com sazonalidade e variações popu-
lacionais. Em seguida, será simulada a dispersão de poluentes e a modelagem
hidrodinâmica com a devida calibração e, por fim, será realizada a aferição in
situ do modelo, através de sobreposição do modelo aos cultivos e os devidos
valores quantitativos. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos,
ao menos um mapa de dispersão estiver elaborado.
3.2.7 Promover a diversificação, a elaboração de novos produtos e o
melhoramento genético dos organismos cultiváveis
3.2.7.1 Prospectar o cultivo de espécies ornamentais marinhas
Identificar espécies nativas de equinodermos, molusco, crustáceos e
peixes com potencial ornamental e auxiliar na obtenção de protocolos de re-
produção em cativeiro. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos,
ao menos um projeto de reprodução em cativeiro de alguma espécie nativa
estiver finalizado.
3.2.7.2 Prospectar o cultivo de espécies marinhas/ estuarinas de interesse co-
mercial e baixo custo de produção
Identificar e avaliar espécies nativas de algas, equinodermos, moluscos,
crustáceos e peixes com potencial para a utilização em sistemas de aquicultura
multi-trófica, baixo custo de produção e bom valor de mercado. Esta meta
75
será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos duas espécies diferentes
tenham sido avaliadas.
3.2.7.3 Avaliar a utilização de ingredientes marinhos/ estuarinos com atividade
bioativa no desenvolvimento de novos produtos para aquicultura
Avaliar a utilização de novos produtos bioativos extraídos de organis-
mos aquáticos estuarinos/ marinhos na formulação de produtos para uso hu-
mano e zootécnico. Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos um
novo produto tenha sido identificado.
3.2.7.4 Criar um programa de melhoramento genético das espécies utilizadas
na aquicultura costeira fluminense
Estimular através de projetos de pesquisas, programas de melhora-
mento genético dos plantéis existentes na aquicultura costeira fluminense.
Esta meta será considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos um projeto
for executado.
3.2.8 Identificar e caracterizar os arranjos produtivos locais ligados à
maricultura
Identificar e caracterizar os arranjos produtivos locais ligados à mari-
cultura no Estado do Rio de Janeiro, por meio de questionário fechado e en-
trevistas semiestruturadas. Para validação da caracterização dos APLs serão re-
alizadas oficinas de discussões. Para tanto, será utilizado o arcabouço teórico-
metodológico e analítico da RedeSist. A meta será considerada cumprida se
em até um ano, o diagnóstico e a caracterização estiverem executados.
78
3.3.4.2 Auxiliar a estruturação do turismo de base comunitária – TBC
Capacitar os técnicos da Fiperj, formar maricultores, construir um
modelo de TBC para a atividade por meio de Oficinas, utilizando uma me-
todologia participativa, em parceria com as associações, colônias, prefeituras,
ICMBio, INEA e outros tomadores de decisão competentes. Esta meta será
considerada cumprida se em até 5 anos, ao menos um modelo de TBC for
estruturado.
3.3.4.3 Criar um programa de promoção de equidade de gênero
Capacitar o corpo técnico para ter um olhar mais sensível às necessi-
dades das mulheres que estão inseridas na cadeia da aquicultura costeira, .
Fortalecer iniciativas e propostas de promoção de equidade de gênero na ati-
vidade da aquicultura investindo nas habilidades de negociação e lideranças
das mulheres para auxiliar na consolidação da sua autoestima e autoconfiança
para participação nos processos de decisão. Fornecer apoio social e comunitá-
rio para participação das mulheres em atividades e processos decisórios. Au-
xiliar na identificação de novas oportunidades de geração de renda e na busca
de financiamento para sua execução. Buscar parcerias e projetos que apoiem
o trabalho das mulheres proporcionando o conhecimento de novas tecnolo-
gias de baixo custo para o desenvolvimento da aquicultura costeira. Esta meta
será considerada como cumprida se em até 5 anos, ao menos um projeto di-
recionado a equidade de gênero e ao empoderamento feminino for executado.
3.3.5 Garantir o acesso a políticas públicas
Através do serviço de assistência técnica e extensão pesqueira e aquí-
cola (ATEPA) da Fiperj, o governo do estado proporcionará aos aquicultores
do litoral fluminense o acesso às políticas públicas direcionadas ao setor, seja
por meio do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar
– PRONAF, Programa de Aquisição de Alimentos – PAA, Programa Nacio-
nal de Alimentação Escolar – PNAE e Programa de Subvenção Econômica ao
79
Preço do Óleo Diesel para Embarcações Pesqueiras Nacionais). Esta meta será
considerada cumprida se em 1 ano, as demandas de emissão da Declaração de
Aptidão PRONAF (DAP) e de elaboração de projetos de crédito forem aten-
didas.
3.3.6 Realizar o monitoramento setorial da produção aquícola
Manter o contato periódico e permanente de extensionistas da FIPERJ
com produtores, associações e secretarias municipais para a coleta de infor-
mações sobre a produção atualizada da aquicultura costeira no Estado do Rio
de Janeiro, bem como com os participantes dos diversos setores que compõem
a cadeia produtiva da aquicultura. Esta meta será considerada cumprida se em
1 ano, um relatório anual de produção for concluído.
3.3.6.1 Executar um censo de produtores de macroalgas no litoral sul flumi-
nense
Cadastrar e identificar novos ingressantes na atividade de algicultura,
elaborar questionário técnico e identificar os volumes atuais de produção de
macroalgas na Baía da Ilha Grande, bem como os potenciais compradores.
Esta meta será considerada cumprida se em 1 ano, um relatório for concluído.
3.3.7 Assegurar a participação da FIPERJ no desenvolvimento territorial
Garantir meios para a representação de técnicos da FIPERJ em
conselhos, fóruns, comitês, colegiados e câmaras técnicas relacionadas
direta ou indiretamente com a temática da aquicultura costeira, visando
promover o desenvolvimento territorial sustentável do setor aquícola
em harmonia com as demais atividades econômicas. Esta meta será con-
siderada cumprida se em até 1 ano, houver a participação da FIPERJ
em plenárias de todas as regiões onde haja atividade de aquicultura cos-
teira.
80
Tabela 2 - Metas do planejamento estratégico e suas relações com os obje-
tivos de desenvolvimento sustentável da agenda ONU 2030
2.5 Diversificação 2 12 14
2.6 APL 5 8 12 14 17
1
ODS´s: 2) Erradicação da Pobreza; 3)Saúde e bem estar; 5)Igualdade de gê-
nero; 8)Trabalho decente e crescimento econômico; 12) Consumo e produção
responsáveis; 14) Vida na água; 17) Parcerias e meio de implementação.
81
Eixo Descrição ODS´s1
meta
3.3 Capacitação 2 3 5 8 12
82
Capítulo 4 Considerações Finais
Resta claro que as situações evidenciadas nos diagnósticos e apontadas
como metas dentro desta proposta necessitam de atenção e precisam ser abor-
dadas dentro dos princípios da boa governança na aquicultura: efetividade e
eficiência, equidade confiabilidade e credibilidade da lei.
Estes direcionamentos devem ser interpretados e aplicados em sua to-
talidade, de uma maneira consistente com as leis nacionais e regulamentação
e, quando aplicáveis, aos acordos internacionais.
Os objetivos das diretrizes aqui propostas são os de auxiliar os formu-
ladores de políticas públicas e outras partes interessadas no estabelecimento e
implementação da boa governança na aquicultura, produzindo um plano de
práticas que possa ser adaptado sempre numa abordagem ecossistêmica da
aquicultura proporcionando mecanismos claros para que produtores e auto-
ridades governamentais se engajem uns com os outros para o gerenciamento
eficaz e sustentável das operações de aquicultura, abraçando os objetivos am-
bientais, socioeconômicos e de governança do setor.
Aqui foram identificadas várias indicações de ineficiência e ineficácia
na governança: regulamentações que desencorajam investimentos e competi-
tividade; regulamentos conflitantes; múltiplos níveis administrativos para
aprovar uma licença ou executar um programa de política própria; longos
atrasos, e taxas ou etapas "caras" para obter uma licença; decisões tomadas no
desconhecimento de diferentes contextos; falta de capacidade e recursos para
monitorar e aplicar as regulamentações e programas vigentes.
Em relação ao princípio da equidade, ainda que os diversos interesses
sejam mediados em torno de uma orientação consensual favorável, para a ati-
vidade chegar a um amplo acordo de procedimentos, é notável que a capaci-
dade de resposta das instituições ligadas ao setor - em especial da própria FI-
PERJ - é restringida especialmente pela reduzida capacidade de execução de
ações em decorrência dos seus investimentos limitados.
83
Já sobre a confiabilidade, ainda que não existam questionamentos so-
bre as tomadas de decisão, estas não são abertas especialmente pela falta de
um instrumento participativo, como já exposto, porém há uma delimitação
clara das responsabilidades administrativas. Os produtores se mostram sem-
pre disponíveis em compartilhar informações, contudo as indústrias nas quais
ocupam o mesmo espaço das atividades de aquicultura costeira ainda não têm
como comportamento padrão disponibilizar informações ambientais para as
comunidades locais e jurisdições, sendo necessário um longo processo para a
sua obtenção.
Em relação a previsibilidade do estado do direito, não há até o mo-
mento nenhum indicativo contrário quanto a sua satisfação. A aplicação das
leis e regulamentos é justa e consistente, assim como os processos de tomada
de decisões são claros e transparentes.
Assim como no caso da legislação e dos regulamentos relevantes para
a aquicultura, a administração da aquicultura é muitas vezes aninhada em vá-
rios departamentos governamentais. A sobreposição administrativa é inevitá-
vel para a aquicultura devido à sua complexidade e diversidade, envolvendo
muitos setores (por exemplo, água, terra, agricultura, florestas, pesca, trans-
porte, saúde e turismo), no entanto é incômoda e ineficiente, de modo que
dependendo da estrutura do governo, a governança da atividade é diretamente
afetada.
O sucesso na implementação deste Plano Estratégico depende do en-
volvimento e do compromisso dos diversos atores envolvidos com aquicultura
costeira fluminense. Além da superação de diversos desafios relacionados à
capacidade humana e institucional, será preciso um constante monitora-
mento dos avanços nas metas propostas e a alocação de recursos financeiros
adequados para atingir os objetivos propostos, sem os quais certamente resul-
tarão em eficiência limitada.
É fundamental e necessário destacar que ainda que aqui sejam
84
propostos apontamentos futuros, estes podem e devem ser constantemente
revistos, especialmente em conjunto com outros atores sociais e tomadores de
decisão, de maneira a adequá-los preconizando sua plena eficácia, eficiência,
equidade, prestação de contas e previsibilidade do estado de direito.
Ainda que este plano estipule metas em que a FIPERJ se torna execu-
tora, aqui se destaca a necessidade de coordenação da integração horizontal e
vertical com outros departamentos que envolvem aspectos da aquicultura; a
revisão contínua da legislação e regulamentos de aquicultura; e a coordenação
de processos consultivos e participativos com partes interessadas, especial-
mente nas áreas em que a FIPERJ não é executora ou responsável legal pelas
ações estipuladas.
Idealmente, sempre que possível, as decisões devem ser tomadas pela
autoridade competente de nível mais baixo, em conformidade com o princí-
pio de subsidiariedade. Quando interesses mais amplos estiverem em jogo,
poderá ser necessário tomar decisões de nível mais alto.
Também é necessário, para a elaboração de políticas eficazes, que as
estatísticas sejam precisas e confiáveis permitindo à autoridade competente
elaborar estratégias e avaliar seus prováveis impactos com mais precisão. Por-
tanto, dados e pesquisas são fundamentais para a sustentabilidade da ativi-
dade, aumentando a relevância de leis e regulamentos, estruturas de políticas
e planejamentos, e em especial a capacidade de resposta do setor em face ao
dinamismo da atividade.
Como exemplo cita-se a recente pandemia mundial causada no ano de
2020 pelo vírus SARS-CoV-2 ou Novo Coronavírus, que vem produzindo
repercussões não apenas de ordem biomédica e epidemiológica em escala glo-
bal, mas também repercussões e impactos sociais, econômicos, políticos, cul-
turais e históricos sem precedentes na história recente das epidemias (Fio-
Cruz). Nas atividades de maricultura e carcinicultura geraram-se reflexos que
causaram situações anteriormente nunca vividas, como por exemplo a queda
85
em torno de 96% das vendas, especialmente em razão do fechamento dos
restaurantes, principais consumidores destes produtos e também na disponi-
bilidade de pós larvas de camarão para início de um novo ciclo, uma vez que
estas são adquiridas de outros estados e necessitam de transporte, em especial,
por via área, serviços suspensos em razão das restrições impostas ao setor de
aviação.
Em Arraial do Cabo, a maior fazenda marinha com mais de 10 anos
de existência foi uma das atingidas pela pandemia. A maricultura já vinha
sofrendo com a irregularidade no fornecimento de formas jovens e com furtos
na área de cultivo. Em 2019, passou por uma suspensão na comercialização
de seus produtos após um derramamento de óleo cuja responsabilidade foi
assumida pela empresa Petrobrás. Tais percalços somados às restrições causa-
das pela pandemia levaram ao encerramento das atividades na fazenda mari-
nha.
Desfechos como este apontam não só para a urgência de um plano de
desenvolvimento como também para a importância da identificação e o mo-
nitoramento de respostas entre o planejamento, a estratégia adotada e os re-
sultados durante o processo de desenvolvimento da aquicultura. Estes são te-
mas extremamente atuais e altamente considerados nas agendas políticas em
países de todo o mundo, dado o grande interesse na contribuição potencial
da aquicultura para geração de alimentos, renda e benefícios para a sociedade.
Algumas das metas propostas podem parecer, a princípio, complicadas
para a execução por parte dos aquicultores. Porém, é importante considerar
que estas metas objetivam aumentar a competitividade e atratibilidade dos
produtos cultivados, incluindo reforçar e conferir aos produtos cultivados na
costa fluminense, uma reputação de alimento seguro e sadio, o que gera be-
nefícios diretos para os produtores e consumidores. De certo, episódios de
doença por contaminação alimentar relacionados ao consumo de produtos
cultivados podem afetar a confiabilidade de toda a produção fluminense e
86
causar sérios prejuízos financeiros de longa duração para toda a cadeia produ-
tiva.
A busca pela competitividade em um mercado globalizado exige um
esforço e visão futura do setor, que somente poderá ser atingida através da
execução de um maior controle higiênico-sanitário e da adoção de técnicas de
cultivo mais produtivas.
Certamente, nesse processo novos custos serão gerados em virtude da
necessidade de diversas ações por parte dos produtores, porém, esses custos
adicionais se fazem necessários para o fortalecimento de toda a cadeia e o au-
mento da confiabilidade. Além disso, estes custos estão embutidos no custo
total de produção e passíveis de inclusão no preço final dos produtos que tem
como alvo mercados ávidos pela qualidade e confiabilidade, e que aceitam
pagar um pouco mais para tal.
Com a recente publicação do Decreto 10.544 de 2020, o governo fe-
deral brasileiro aprovou o X Plano Setorial para os Recursos do Mar (PSRM)
(Brasil, 2020)que visa definir diretrizes e prioridades para o setor no período
de 2020 a 2023, em consonância com a "Década do Oceano", conforme re-
comendação da ONU. Assim, o PSRM procura focar nos seguintes aspectos:
a contribuição para a implementação das características da Agenda 2030 (re-
lacionadas aos oceanos e às zonas costeiras), bem como os compromissos re-
lacionados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável; promoção da pes-
quisa científica e desenvolvimento tecnológico; monitoramento ambiental
dos oceanos, biodiversidade marinha, atmosfera e clima adjacente; treina-
mento contínuo dos recursos humanos em Ciências do Mar; a busca da ado-
ção das melhores práticas; o fortalecimento da mentalidade marítima e da
cultura oceânica na população brasileira; a contribuição para a saúde geral dos
oceanos com redução da poluição e mitigação dos impactos dela decorrentes;
e, por último, a importância do desenvolvimento e da consolidação de uma
economia azul.
87
Dentro de seus objetivos diretamente ligados ao desenvolvimento da
aquicultura marinha, são mencionados os seguintes tópicos: promoção do de-
senvolvimento sustentável da aquicultura como fonte de alimento, emprego,
renda e lazer (garantindo o uso sustentável dos recursos pesqueiros, assim
como a otimização dos benefícios econômicos resultantes, em harmonia com
a preservação e conservação do meio ambiente e da biodiversidade); expandir,
consolidar e integrar sistemas de monitoramento das estatísticas da aquicul-
tura marinha; promover estudos e pesquisas para ampliar o conhecimento e
avaliação dos recursos vivos (visando o desenvolvimento do uso sustentável
da biotecnologia e do potencial energético desses recursos); contribuir para a
implementação das metas do SDG no país 14 (Vida na Água) da Agenda
2030; e contribuir para o desenvolvimento e consolidação de uma economia
azul no país com bases sustentáveis.
Embora o PSRM procure contribuir especialmente para a ODS14,
inevitavelmente outras ODS's também terão seus próprios objetivos ligados à
aquicultura marinha. No Rio de Janeiro, é o caso da SDG 5 que exige a igual-
dade de gênero e o empoderamento de todas as mulheres e meninas. A FAO
enfatiza que a equidade de gênero é crucial para a sustentabilidade da ativi-
dade da pesca em pequena escala e colocar as mulheres na cadeia produtiva é
o primeiro passo para entender seu papel, experiências, desafios e oportuni-
dades (Gopal et al., 2020). A falta de reconhecimento adequado do papel da
mulher no setor dificulta o processo de desenvolvimento sustentável, resul-
tando no aumento da pobreza e da insegurança alimentar.
É sabido que as mulheres tendem a ter papéis limitados na aquicultura.
Quando a produção se intensifica, a carga de trabalho sobre elas aumenta, o
que resulta em uma diminuição de sua produtividade e bem-estar (Brugere
and Williams, 2017). Portanto, é necessário para o desenvolvimento susten-
tável da atividade estimular políticas de igualdade em nível regional, qualifi-
cando e apoiando as mulheres, bem como engajá-las politicamente,
88
estimulando sua participação nos processos de tomada de decisão em nível
local e nacional, colocando-as em papéis-chave, como produtoras apoiadas
por novas tecnologias, especialmente a mecanização.
O potencial de desenvolvimento da aquicultura costeira fluminense e
os resultados baseados na sustentabilidade e seus aspectos sociais, ambientais
e econômicos, justificam a necessidade do apoio governamental para alavan-
car o setor, com investimentos e subsídios que alcancem o pequeno produtor
e as empresas. O argumento principal para este suporte é o de que, como o
setor ainda se encontra em estágio moroso de desenvolvimento, possui grande
potencial econômico e social, e uma boa capacidade de autofinanciamento no
médio e longo prazo, um apoio governamental através de investimentos es-
tratégicos e fortalecimento institucional dos órgãos prestadores de serviços à
maricultura permitirá o alcance de uma economia de escala e o ganho de com-
petitividade internacional, a partir da qual a assistência governamental poderá
ser gradativamente reduzida.
89
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