Estudo de Caso
Estudo de Caso
Estudo de Caso
Discentes:
2
Índice de Abreviaturas
Comp – Comprimido
LM - Lesão Medular
3
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .............................................................................................................. 5
O QUE É A LESÃO VERTEBRO MEDULAR .............................................................. 7
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA COLUNA VERTEBRAL ........................................ 8
MECANISMO DA LESÃO E CLASSIFICAÇÃO ....................................................... 13
QUALIDADE DE VIDA E LESÃO MEDULAR ......................................................... 18
REABILITAÇÃO DA PESSOA COM LESÃO VERTEBRO MEDULAR ................. 19
DEFINIÇÃO DE TETRAPLEGIA ................................................................................ 21
COMPLICAÇÕES DA LESÃO MEDULAR ................................................................ 24
DOR NEUROPÁTICA .................................................................................................. 28
ANAMNESE .................................................................................................................. 29
IDENTIFICAÇÃO PESSOAL ....................................................................................... 29
DADOS GERAIS ........................................................................................................... 29
OBSERVAÇÃO FÍSICA SISTEMATIZADA .............................................................. 32
FARMACOLOGIA PRESCRITA ................................................................................. 33
CUIDADOS / DIAGNÓSTICO DE ENFERMAGEM .................................................. 37
AVALIAÇÃO ................................................................................................................ 41
CONCLUSÃO ................................................................................................................ 44
BIBLIOGRAFIA: ........................................................................................................... 45
ANEXOS ........................................................................................................................ 46
ANEXO I ........................................................................................................................ 47
ESCALA ASIA - INTERNATIONAL STANDARDS FOR NEUROLOGICAL
CLASSIFICATION OF SPINAL CORD INJURY (ISNCSCI) .................................... 47
ANEXO II ...................................................................................................................... 49
ESCALA DE BRADEN PARA AVALIAÇÃO DE ÚLCERAS DE PRESSÃO .......... 49
ANEXO III ..................................................................................................................... 51
ESCALA DE QUEDAS DE MORSE ............................................................................ 51
4
Introdução
O presente estudo de caso, surge no âmbito do 3º ano, 2 semestre da Licenciatura de
Enfermagem na Unidade Curricular Ensino Clínico II – Enfermagem em Cuidados
Continuados da Escola Superior de Saúde de Bragança. Foi-nos proposto a elaboração de
um estudo de caso sobre um utente da Unidade de Média Duração e Reabilitação
(UMDR), na Unidade de Cuidados Integrados da Santa Casa da Misericórdia de
Bragança.
O presente estudo de caso faz referência a um paciente do sexo masculino que deu entrada
na UMDR de Bragança, no dia 27/09/2023, pelas 13h40. Proveniente do Centro
Reabilitação do Norte (CRN), tem como diagnóstico principal lesão medular por fratura-
luxação C6-C7 (a 12.06.2023) com redução cirúrgica e fixação cervical anterior C4-D1
(16.06.2023), com tetraplegia incompleta (ASIA C) sequelar.
Além disso, o estudo de caso tem como finalidades: descrever a história clínica do
paciente, abordando seu histórico de saúde e eventos relevantes; detalhar a terapêutica
aplicada ao paciente, incluindo tratamentos e medicamentos; documentar os cuidados e
intervenções de enfermagem fornecidos, visando promover a recuperação e o bem-estar
do paciente.
5
A coluna vertebral desempenha um papel fundamental no suporte e proteção da medula
espinhal, que é a estrutura nervosa responsável por transmitir sinais entre o cérebro e o
resto do corpo. Quando a coluna vertebral é danificada, seja por fraturas, compressões ou
outros tipos de lesões, a medula espinhal pode ser impactada, levando a sintomas variados
que incluem fraqueza, perda de sensação, disfunção motora e, em casos mais graves,
paralisia.
6
O que é a Lesão Vertebro Medular
– Deslocação dos corpos vertebrais com perda do diâmetro normal do canal raquidiano;
As regiões da coluna vertebral mais vulneráveis são as vértebras C5 e C7, a T12 e L1,
devido à grande mobilidade da coluna nestes segmentos.
As lesões cervicais caraterizam-se por uma perda de funções muito importantes, pois para
além da tetraplegia este tipo de lesão acarreta alterações do padrão respiratório
(Kirshblum e O’Connor, 2000).
7
Anatomia e Fisiologia da Coluna Vertebral
A coluna vertebral (coluna espinhal ou espinha dorsal) é uma estrutura óssea curvilínea
composta por vértebras que se conectam através de discos intervertebrais cartilaginosos.
Faz parte do esqueleto axial, situando-se na região posterior do tronco, ao longo da sua
linha média, estendendo-se desde a base do crânio até a ponta do cóccix, sendo
atravessado pela medula espinhal. A coluna vertebral é dividida em cinco regiões
constituídas por 33 vértebras que se encontram interligadas por fortes articulações e
ligamentos. Deste modo, suporta e protege a medula espinal sendo essencial para a
mobilidade corporal.
A coluna vertebral é constituída por 26 ossos que se encontram divididos por 5 regiões:
região cervical (7 vértebras), torácica ou dorsal (12 vértebras), lombar (5 vértebras),
sagrada (constituída pelo osso sacro que é resultante da união das 5 vértebras sacrais) e
coccígea (composta pelo osso coccígeo ou cóccix, resultado da união de 4 a 5 vértebras
coccígeas).
(https://www.drgotfryd.com.br/anatomia-da-coluna-o-que-voce-precisa-saber/)
8
Anatomicamente, a medula espinal tem uma formação cilíndrica, alongada, de tecido
nervoso, que mede cerca de 42 – 45 cm de comprimento, em adultos. A coluna é capaz
de realizar seis movimentos: flexão (inclinação para frente), extensão (inclinação para
trás), flexão lateral (direita / esquerda), extensão lateral (retorno ao normal a partir da
flexão lateral) e rotação (torção). É importante salientar que os movimentos nas regiões
da coluna cervical (pescoço) e da coluna lombar (parte inferior das costas) são mais
amplos e flexíveis em comparação com as regiões torácicas e sacrais.
Uma coluna vertebral saudável exibe três curvaturas naturais: uma curva suave voltada
para trás na região cervical (lordose), uma curva convexa voltada para trás na região
dorsal (cifose) e, novamente, uma curva suave voltada para trás na região lombar
(lordose). Essas curvaturas naturais complementam-se e desempenham um papel crucial
ao permitir que os seres humanos mantenham uma posição ereta com menor gasto de
energia. Além disso, as curvas ajudam a distribuir as cargas sobre as várias estruturas
vertebrais, o que reduz a pressão e a probabilidade de desgaste dos discos intervertebrais,
bem como protege as vértebras contra fraturas.
Com exceção do sacro e cóccix, que são compostos geralmente de ossos fundidos, as
vértebras são unidas por articulações e separadas por discos (exceto entre C1 e C2). Entre
cada 2 vértebras existem 2 articulações posteriores, que limitam a rotação lateral e o
deslizamento anterior, e o disco intervertebral, que estabilizam a coluna anterior e
absorvem as cargas exercidas verticalmente sobre a coluna.
9
chamado anel fibroso, que confere estabilidade e uma estrutura central gelatinosa, o
núcleo pulposo, que é altamente elástica.
Corpo Vertebral – porção mais maciça da vértebra, que apresenta geralmente uma forma
cilíndrica, mais larga que alta, com superfícies achatadas que se orientam superior e
inferiormente, sendo rugosas para permitir a conexão com os discos intermediários de
fibrocartilagem. Protege a espinal‐medula através da sua porção posterior. Entre os
corpos vertebrais das vértebras localizam‐se os discos intervertebrais.
Pedículo – existe um de cada lado do arco, formando o pé do arco. Forma a parede lateral
do buraco vertebral.
Apófise Articular – contém facetas articulares pelas quais as vértebras articulam umas
com as outras. Fortalecem a coluna vertebral e permitem os movimentos.
10
Buraco Vertebral – espaço em cada vértebra pelo qual passa a espinal‐ medula. Os
buracos vertebrais adjacentes formam o canal vertebral.
As sete vértebras cervicais formam a coluna cervical no pescoço. Elas estão localizadas
entre o crânio e as vértebras torácicas, e têm os discos intervertebrais menores e mais
finos, sendo assim as com maior de toda a coluna vertebral.
As cinco vértebras lombares formam a coluna lombar (dorso inferior). Elas possuem os
maiores corpos vertebrais de toda a coluna vertebral, uma característica que facilita a
sustentação de peso. Os pedículos e as lâminas são espessos e fortes. Seus processos
espinhosos são curtos e resistentes para a fixação de fortes músculos lombares.
A medula espinhal termina como o cone medular ao nível das vértebras L1 / L2.
11
Na região sagrada as cinco vértebras estão fundidas no osso sacro, que é um osso
triangular discretamente curvado, localizado na base da cavidade pélvica, este osso
articula‐se acima com a quinta vértebra lombar e apresenta uma cavidade que é uma
continuação do canal vertebral. Aqui as apófises transversas fundem‐se, formando as asas
que juntam o sacro aos ossos pélvicos, sendo que os buracos intervertebrais dividem‐se
em dorsais e ventrais (buracos sagrados), laterais à linha média. A margem anterior do
corpo da primeira vértebra emerge (promontório sagrado), podendo ser palpado (ponto
de referência de separação da cavidade abdominal e pélvica) (Seeley, Stephens e Tate,
2001).
12
Mecanismo da lesão e classificação
O trauma é a principal origem das lesões na medula espinhal, ocorrendo com maior
frequência devido a impactos de alta velocidade. Com exceção de lesões causadas por
armas de fogo e objetos perfurantes, a maioria das lesões na medula resulta de forças
indiretas, que são geradas pela combinação dos movimentos da cabeça e do tronco.
Na fase aguda da lesão, até 8 horas após o trauma, poderão formar‐se petéquias
hemorrágicas na substância cinzenta que aglutinando‐se resultam em necrose central
hemorrágica. Podem ainda estender‐se para a substância branca, como consequência de
redução significativa da perfusão na área afetada, o que diminui a oxigenação,
desencadeando isquemia, necrose e edema da medula espinhal (Thelan, et al, 1996).
Nas quatro primeiras semanas, observa-se a migração de células inflamatórias para a área
da lesão, juntamente com a proliferação de células da glia. Isso leva à formação de tecido
cicatricial e à criação de quistos no interior da medula. Desta forma, esse processo
compromete a sobrevivência e o funcionamento das células neurais, podendo ser
13
agravado pela redução do fluxo sanguíneo na região lesionada da medula espinhal. Isso
pode ocorrer devido a alterações no canal vertebral, hemorragia, edema e diminuição da
pressão sistémica, resultando em uma lesão adicional, conhecida como lesão secundária.
As Lesões na Medula Espinhal podem ser classificadas com base no grau de interrupção
do funcionamento normal da medula espinhal:
Cardoso (2000, p. 402), refere que “uma lesão transversal da medula espinhal poderá ser
completa, dando origem a uma paralisia total e anestesia de toda a área afetada, ou
incompleta, provocando uma parésia mais ou menos acentuada e um deficit sensorial mais
ou menos evidente”.
Tanto nas lesões completas, como nas incompletas, podemos encontrar situações em que
não há lesão transversal total da medula. Nas lesões incompletas, a característica
14
distintiva é a preservação de alguma sensibilidade ou até mesmo atividade abaixo do nível
da lesão. Pode não ter ocorrido uma secção completa da medula, mas podem estar
presentes fenómenos como contusões ou edemas, que comprometem a sensibilidade e a
função motora.
15
Síndrome de Brown Sequard
É uma lesão onde ocorre hemisecção da medula espinhal (lesão de um dos lados).
Ocorrem com muito mais frequência as lesões parciais em relação às lesões verdadeiras.
Caracteriza-se por uma paralisia motora do lado da lesão, e perda ou diminuição da
sensibilidade térmica, e dolorosa do lado oposto, tendo um prognóstico melhor que o das
outras lesões incompletas. A maioria dos pacientes com Síndrome de Brown-Séquard
recupera o controle dos esfíncteres, muitos retomam a capacidade de andar e quase todos
apresentam uma considerável recuperação motora nas mãos, embora possam ter uma
diminuição na força muscular, com algum grau de preservação nas partes distais dos
braços. Em alguns casos, a intervenção cirúrgica pode ser necessária para aliviar a
compressão na origem da lesão.
A Síndrome Centro Medular é uma lesão que geralmente resulta de forças compressivas
associadas a lesões por hiperextensão, causando edema e hemorragia na parte central da
medula espinhal. Isso leva à destruição da substância cinzenta e dos feixes espino-
talâmico central e piramidal, resultando nas seguintes características principais:
16
• Danos sensitivos em graus variáveis, geralmente menos graves do que as
deficiências motoras.
• Preservação dos tratos sacrais, o que permite a manutenção das funções sexuais,
intestinais e urinárias em um estado normal.
Esta síndrome é muitas vezes resultado de lesões traumáticas e pode ter impactos
significativos na função motora e sensitiva, dependendo da extensão da lesão.
B – Incompleta – onde já existe função sensitiva abaixo do nível da lesão mas não função
motora;
17
Qualidade de vida e lesão medular
A qualidade de vida abrange uma variedade de elementos de avaliação, que podem ser
positivos ou negativos, e inclui: o bem estar espiritual, físico, mental, psicológico e
emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e, também, saúde,
educação, habitação saneamento básico e outras circunstâncias da vida.
18
Reabilitação da pessoa com lesão vertebro medular
19
• Apoio Psicológico: A adaptação a uma lesão medular pode ser emocionalmente
desafiadora. A terapia psicológica ou aconselhamento podem ser necessários para
ajudar o paciente a lidar com questões de saúde mental, como ansiedade,
depressão e estresse pós-traumático.
20
Definição de tetraplegia
Define-se tetraplegia como a redução ou perda da função motora e/ou sensitiva dos
segmentos cervicais, devido à lesão do tecido nervoso medular. Desta lesão pode resultar
a redução ou perda de função nos membros superiores, no tronco e nos órgãos
abdominais-pélvicos (ASIA, 2003).
A tetraplegia pode também ser definida como paralisia, a qual de acordo com a
Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem (CIPE), 2011, pode ser
considerada como um diagnóstico de enfermagem, sendo descrita como: processo do
sistema musculosquelético comprometido: condição anormal caraterizada pela perda da
função muscular, perda da sensibilidade ou ambas; perda da capacidade para mover o
corpo ou partes do corpo, acompanhada de perda de controlo intestinal e vesical e por
dificuldade respiratória, associada a agressão, lesão neurológica e muscular ou
traumatismo vertebro medular, doença ou envenenamento. (Conselho Internacional de
Enfermeiros, 2011, p.66).
21
1. Perda de Função Motora: A tetraplegia resulta em uma perda significativa ou
completa da função motora nos membros superiores (braços) e inferiores (pernas).
A extensão dessa perda depende do nível da lesão na medula espinhal.
22
É importante lembrar que cada pessoa com tetraplegia é única, e as características
específicas podem variar significativamente com base na lesão, na resposta à reabilitação
e na capacidade de adaptação. A assistência médica e o suporte social desempenham um
papel crucial em ajudar as pessoas com tetraplegia a levar uma vida plena e independente.
23
Complicações da Lesão Medular
Choque Medular
Choque neurogénico
Pacientes com lesão medular também podem experimentar uma queda na pressão arterial,
juntamente com bradicardia, o que caracteriza o chamado choque neurogénico. Nestes
pacientes, a lesão das vias eferentes do sistema nervoso simpático medular resulta em
vasodilatação dos vasos viscerais e das extremidades, juntamente com a perda do tónus
simpático cardíaco, o que impede a capacidade do paciente de aumentar a frequência
cardíaca. É importante reconhecer essa situação e distingui-la do choque hipovolémico,
no qual a pressão arterial está baixa e a frequência cardíaca está elevada. No caso do
choque neurogénico, a reposição de líquidos deve ser evitada para não sobrecarregar o
volume sanguíneo
24
imobilidade. A presença de TVP pode ser avaliada pela mensuração da circunferência da
panturrilha. A profilaxia é realizada através da terapia com anticoagulantes, uso de meias
elásticas e a execução de exercícios fisioterapêuticos que promovam a amplitude de
movimentos. O tratamento envolve também o posicionamento adequado do paciente no
leito, com ligeira elevação e movimentação passiva.
Disrreflexia autonómica
Bexiga neurogénica
Após uma lesão grave na medula espinhal, a bexiga frequentemente entra num estado
inicial de contração, e pacientes não tratados podem desenvolver retenção urinária aguda.
É importante que o volume de urina na bexiga nunca exceda 500 ml. Diferentes padrões
miccionais patológicos frequentemente persistem na fase crónica, dependendo do nível
da lesão neurológica e do grau de recuperação funcional. Esses problemas podem incluir
incontinência, infecções urinárias, formação de cálculos renais e danos renais
secundários. Um dos fatores de risco mais significativos para o desenvolvimento de
lesões renais é a falta de coordenação entre os músculos da parede da bexiga, conhecida
como dissinergia detrusor-esfíncter.
25
Intestino neurogénico
Espasticidade
O tónus muscular, que se refere à tensão involuntária basal de um músculo, pode variar
entre normal, diminuído ou aumentado. A diminuição do tónus muscular ocorre em
situações de paralisia devido a lesões no neurónio motor inferior.
Por outro lado, o aumento do tónus muscular está associado às fases aguda e crónica após
uma lesão no neurónio motor superior e é conhecido como espasticidade, que se manifesta
como um aumento do tónus muscular espástico. A espasticidade precisa ser distinguida
de outros tipos de hipertonia muscular, particularmente da rigidez, que é característica de
condições como a doença de Parkinson. A espasticidade, por sua vez, é um aspecto
complexo e multifacetado de uma condição conhecida como síndrome do neurónio motor
superior.
26
úlceras. O tipo de leito, colchão, almofadas e cadeira também podem influenciar na
ocorrência de úlceras de pressão.
Pneumonias
A pneumonia continua a ser uma causa significativa de morte em pessoas com tetraplegia.
Pacientes com tetraplegia ou paraplegia alta enfrentam um risco aumentado de infeções
devido à paralisia do diafragma e/ou dos músculos intercostais, o que compromete a
capacidade de eliminar secreções respiratórias. A presença de traqueostomia ou intubação
endotraqueal aumenta ainda mais o risco de infeção.
Alterações psicológicas
A transição da incapacidade súbita para a necessidade de levar uma vida mais organizada
pode levar a um longo período de adaptação. É importante reconhecer que esse processo
de ajuste pode se estender por até dois ou três anos e o não reconhecimento dessa realidade
pode prejudicar o processo de reabilitação do paciente.
27
Dor neuropática
DOR é, segundo a definição da International Association for the Study of Pain (IASP),
uma experiência sensorial e emocional desagradável associada, ou semelhante à
associada, a danos reais ou potenciais nos tecidos.
A dor constitui um dos principais motivos para a procura de cuidados de saúde por parte
da população em geral. Além de causar sofrimento e diminuir a qualidade de vida, a dor
desencadeia alterações fisiopatológicas que podem contribuir para o surgimento de
condições médicas adicionais e desencadear modificações tanto físicas quanto
psicológicas, perpetuando o quadro doloroso.
De acordo com a IASP (2014), a dor neuropática é definida como “uma dor iniciada ou
causada por lesão primária ou disfunção do sistema nervoso somatossensorial”, sendo
normalmente manifestada por dor intensa e persistente, podendo ser espontânea,
associada a sensações de queimação e alfinetadas, hiperalgesia e/ou alodinia.
28
Anamnese
Identificação pessoal
Nome: J.B
Idade: 58 anos
Género: Masculino
Estado civil: Divorciado
Dados Gerais
Motivo de admissão O utente deu entrada na Unidade de Cuidados Continuados
Integrados de Média Duração e Reabilitação no dia
27/09/2023 para reabilitação neuromotora e funcional de
sequelas de lesão medular por fratura-luxação C6-C7,
(tetraplegia).
29
Alergias Medicamentosas Sem Informação
Hábitos tabágicos Não
Hábitos alcoólicos Sim
Hábitos de consumo de drogas Não
Dieta: Mole
30
• Tramadol 100 mg/ml Solução oral Fr 10 ml,
25 MG, às 7 h;
• Morfina 20 mg/ml Solução oral Fr 20 ml, 3
MG, ORAL, SOS;
• Trazodona 100mg -1 comprimido ao deitar;
31
Observação física sistematizada
Dependente em grau elevado nas AVD´s, exceto na alimentação, que necessita de ajuda
parcial.
Segundo o utente, sem alteração na deglutição. Oferecida dieta mole e água sem
espessante, sem intercorrências.
Utente com bexiga neurogénica. Apresenta sonda vesical, sem indicação da data de
colocação, com drenagem contínua de urina clara.
Incontinente fecal.
32
Farmacologia prescrita
33
- Rash cutâneo, prurido,
cefaleias, confusão mental,
apatia e tonturas.
Lactulose Oral, Modificadores da - Tratamento de sintomas de - diarreia e distúrbios do
15ml Motilidade obstipação; equilíbrio eletrolítico;
Gastrintestinal - Tratamento de doença - Com o aumento da dose,
hepática específica verifica-se uma diminuição
(encefalopatia porto-sistémica) do valor do pH no cólon;
- Flatulência;
Macrogol + Oral, 1 Modificadores da Indicado para o tratamento da - Reações alérgicas.
Bicarbonato de saqueta Motilidade obstipação intestinal. - distensão abdominal e
sódio + Cloreto Gastrintestinal Para o tratamento da obstipação dor, borborigmos e náusea.
de potássio + crónica.
Cloreto de sódio
34
cardia, arritmia, híper/hipo
tensão e síncope;
- Redução reflexo da tosse,
parestesias, prurido,
laringospasmo, rigidez.
Pantoprazol Oral, Antiácidos e anti Tratamento de doenças - Perda de peso
40mg ulcerosos relacionadas com o ácido do involuntária;
(inibidores da estômago e intestino; - Vómitos repetidos;
bomba de protões) - Tratamento de sintomas (azia, - Disfagia;
regurgitação ácida, dor ao - Vómitos com sangue;
engolir) - Palidez, sensação de
- Refluxo gastroesofágico fraqueza (anemia)
causada por refluxo de ácido a - Sangue nas fezes;
partir do estômago. - Diarreia grave e/ou
- Tratamento de manutenção de persistente;
esofagite de refluxo - Obstipação; boca seca;
- Prevenção de úlceras gástricas dor e desconforto
e duodenais induzidas por abdominal;
medicamentos anti- - Distúrbios do sono;
inflamatórios não esteroides.
Sertralina Oral, Psicofármacos Tratamento de: -Náusea.
50mg Antidepressivos - Episódios depressivos major. -Reação alérgica ou
tricíclicos e afins - Prevenção de recorrência de alergia, que podem incluir
episódios depressivos major. sintomas como uma
- Perturbação de pânico, com ou erupção cutânea com
sem agorafobia. comichão, dificuldade em
- Perturbação Obsessiva- respirar, pieira, edema das
Compulsiva (POC) em adultos pálpebras, cara ou lábios;
e doentes pediátricos com 6-17 - O doente pode revelar:
anos de idade. agitação, confusão,
- Perturbação de ansiedade diarreia, temperatura e
social. tensão altas, transpiração
35
- Perturbação de Stress Pós- excessiva e batimentos
Traumático (PTSD). cardíacos acelerados.
Tiamina Oral, Associações de - Profilaxia de avitaminoses do Estão descritos casos de
100mg Vitaminas do complexo B e vitamina C. erupção cutânea, ligeira e
complexo B e C transitória, na sequência da
administração de
Mononitrato de Tiamina
Tramadol Oral, Analgésicos Prevenção e tratamento da dor - Crises epiléticas;
50mg Estupefacientes moderada ou grave, de caráter -Náuseas, tonturas,
agudo, subagudo ou crónico: vómitos;
- Dor do pós-operatório; - Obstipação;
- Dor do trabalho de parto; - Sudação;
- Dor do enfarte agudo do - Secura da boca;
miocárdio; - Cefaleias;
- Dor traumática; - Sonolência;
- Dor oncológica. - Ânsia de vomitar;
-Irritações gastrointestinais
(sensação
De pressão no estômago;
-Reações cutâneas
(prurido,
exantema, urticária).
36
Cuidados / Diagnóstico de enfermagem
Grau de
Foco dependência/ Intervenções Horário
Status
o Trocar fralda;
o Otimizar fralda;
Autocuidado: Uso Dependente o Vigiar eliminação intestinal; Sem horário
do Sanitário Total o Vigiar eliminação vesical.
o Executar algaliação;
o Remover sonda vesical;
Algaliação/ Incontinência o Trocar sonda vesical; Sem horário
cateterização vesical vesical o Vigiar permeabilidade de sonda
vesical;
o Registar débito urinário.
o Dar banho;
o Ensinar sobre estratégias
adaptativas para o autocuidado;
o Providenciar equipamento
adaptativo para o autocuidado; 9h
Autocuidado: Dependente o Treinar o autocuidado;
Higiene Total o Treinar o uso de equipamento
adaptativo para o autocuidado;
o Pentear cabelo;
o Lavar boca.
o Providenciar roupa;
o Vestir pessoa;
Autocuidado: o Ensinar sobre estratégias 9h
Vestuário Dependente adaptativas para o autocuidado;
Total o Incentivar ao autocuidado.
37
o Ensinar no autocuidado;
o Ensinar sobre estratégias 9h
adaptativas para o autocuidado; 12h
o Incentivar a pessoa a alimentar-se; 16h
Autocuidado: Dependente o Vigiar a refeição; 19h
Alimentar-se Parcial o Incentivar a ingestão de líquidos; 22h
o Inspecionar cavidade oral depois
da refeição.
o Providenciar equipamento
adaptativo para o posicionamento;
o Posicionar a pessoa; De 2 em 2 horas
Autocuidado: Dependente o Massajar a região corporal;
Posicionar-se Total o Deitar o utente.
o Transferir a pessoa; 9h
Autocuidado: o Instruir a pessoa sobre a técnica de 12h
Transferir-se Dependente transferência. 16h
Total 19h
21h
o Monitorizar SpO2;
o Monitorizar temperatura corporal;
o Monitorizar dor através da escala
da dor; 9h
Sinais Vitais o Monitorizar sinais vitais;
o Vigiar dor.
o Gerir analgesia; 7h
Dor Presente o Vigiar dor. 14h
21h
38
o Aplicar creme;
o Massajar região corporal;
o Vigiar pele;
o Providenciar equipamento para
Pele/Prevenção de Presente alívio da pressão; Sem horário
Feridas o Aliviar zona de pressão através da
almofada;
o Monitorizar risco de úlcera de
pressão através da escala de
Braden.
o Elevar os membros edemaciados;
Presente o Massajar os membros
Edemas edemaciados; Sem horário
o Vigiar edema.
o Vigiar a presença de fecalomas;
Moderada o Incentivar a ingestão de líquidos;
Obstipação o Promover a ingestão hídrica. Sem horário
o Aplicar creme;
o Avaliar risco de úlcera de pressão
Risco de úlcera por Elevado recorrendo à Escala de Braden; Sem horário
pressão o Vigiar sinais de úlcera de pressão;
o Alternação de decúbitos;
o Aplicar superfícies de apoio para
alívio da pressão.
o Avaliar risco de queda
o Aplicar dispositivo de
Risco de Queda Médio imobilização Sem horário
o Baixar cama
o Elevar grades da cama
39
o Incentivar execução de técnica de
Risco de rigidez exercício muscular e articular;
articular Elevado o Supervisionar exercícios Sem horário
musculares e articulares ativos;
o Avaliar movimento articular.
o Avaliar a capacidade para
Não comunicar; Sem horário
Comunicação comprometida o Incentivar a pessoa a comunicar.
o Executar a estimulação sensitiva;
o Avaliar sensibilidade;
Défice sensorial Melhorado o Incentivar a execução de exercício Sem horário
muscular e articular.
o Avaliar capacidade de deglutição;
Não o Gerir a dieta;
Deglutição comprometida o Posicionar a pessoa; Sem horário
o Supervisionar a deglutição.
o Executar a técnica de massagem;
Espasticidade Grau Moderado o Incentivar a execução de exercício
muscular e articular ativo- Sem horário
assistido;
o Executar técnica de relaxamento.
40
Avaliação
Utente com períodos de humor deprimido. Dependente em grau elevado nas AVD´s,
exceto na alimentação, que necessita de ajuda parcial, na preparação do parto e corte
dos alimentos.
Utente avaliado por terapia da fala, tem indicação para evoluir na dieta, realiza dieta
ligeira hipossalina fracionada+ água, sem sinais de disfagia/engasgamentos, apresenta
alguns períodos de recusa alimentar.
Na eliminação utente mantem SV funcionante, realgaliado a 30/09/2023, com SV
nº20 de longa duração, utente com baixos débitos urinários de urina concentrada e
cheiro fétido. Realizados ensinos e estimulada a hidratação que o utente desvaloriza.
Utente com perdas urinárias extra-algalia. Mantém incontinência fecal, transito
intestinal regularizado com a administração de emolientes diários.
Na mobilização utente realiza levante diário para cadeira de rodas no qual pouco
colabora, por vezes realiza ligeira carga nos membros inferiores, apresenta equilíbrio
deficitário em sedestação e aumento da espasticidade com necessidade de
reposicionamento frequente. No leito, o utente consegue lateralizar-se sem ajuda.
Pele e mucosas hidratas e ligeiramente descoradas. Apresenta integridade cutânea
mantida. UP grau I na região sagrada com boa evolução cicatricial, aplicados ácidos
gordos hiperoxigenados.
Sinais vitais avaliados diariamente, utente com padrão tensional para a hipotensão.
A 13/10/2023, o utente foi inoculado com a vacina da gripe sazonal e COVID-19,
sem intercorrências.
Recebe visitas regulares dos familiares.
Sem intercorrências desde a admissão.
Não evidencia estar consciencializado das suas limitações funcionais e da importância
do processo de reabilitação.
Considerando expetável que o utente mantenha a dependência de terceiros após a alta
da RNCCI, o que, associado à incapacidade da retaguarda familiar em acolher o utente
e assegurar a continuidade de cuidados e suporte nas AVD’s, a família foi informada
41
que a resposta adequada para o pós alta será a institucionalização em ERPI ou Família
de Acolhimento.
42
AVALIAÇÃO DO RISCO DE ÚLCERA DE PRESSÃO - ESCALA DE BRADEN
Percepção sensorial: 3.Ligeiramente limitada:
Humidade 4. Pele raramente húmida:
Atividade 2.Sentado
Mobilidade: 2. Muito limitada:
Nutrição: 3. Adequada:
Fricção e forças de 1. Problema
deslizamento:
Risco: Risco Elevado
Pontuação: 15
43
Conclusão
A lesão vertebro medular resulta de um trauma que atinge a coluna vertebral causando
danos estruturais e/ou neurológicos na mesma e na medula espinhal. O prognóstico de
recuperação depende da região afetada e da gravidade da lesão, sendo deste modo
classificada segundo ASIA de A a E entre lesão completa, incompleta e normal, quanto
ao nível de função sensitiva e motora preservadas.
Em suma, a vida dos indivíduos é afetada em variados aspetos sendo necessário apoio
familiar e da equipa multidisciplinar que acompanha o utente para lidar com as limitações
deste contexto para que seja preservada a sua autonomia e independência. É assim crucial
a reabilitação após esta mudança brusca no seu modo de vida, para o qual é importante
que adquira competências.
44
Bibliografia:
DeVivo, M. J. (2012). Epidemiology of traumatic spinal cord injury: trends and future
implications. Spinal Cord Medicine. Baltimore, Md: Lippincort Williams e Wilkins.
Vol. 1 (2002), p. 69-81.https://doi.org/10.1038/sc.2011.178
IASP. (2014). Spinal Cord Injury Pain: Assessment, Mechanisms, Press, 2002. 443
ISBN 0- 931092-43-4. Disponível em: http://www.iasp-pain.org
45
Anexos
46
Anexo I
47
Tabela 1 - Escala ASIA
48
Anexo II
Escala de Braden para avaliação de úlceras de pressão
49
Tabela 2 - Escala de Braden
Fonte: Orientação nº 17/2011. (2011). Escala de Braden: Versão Adulto e Pediátrica (Braden Q).
Direção-Geral de Saúde. Lisboa. Obtido em 3 de novembro de 2023, de
https://www.spp.pt/UserFiles/file/EVIDENCIAS%20EM%20PEDIATRIA/ORIENTACAO%2
0DGS_017.2011%20DE%20MAIO.2011.pdf
50
Anexo III
Escala de Quedas de Morse
51
Tabela 3- Escala de Morse
52