Marcelo - Livro 1 - Serie M.M.M - Leticia B Mendes
Marcelo - Livro 1 - Serie M.M.M - Leticia B Mendes
Marcelo - Livro 1 - Serie M.M.M - Leticia B Mendes
Nunca acreditei muito nessa coisa de amor à primeira vista, de amar até virar do avesso. Sempre
achei isso uma cilada, uma bobagem. Coisa de gente desocupada que não é feliz com a vida que
tem e decide jogar a responsabilidade em cima de outra pessoa.
Bom... essa sempre foi minha opinião até o dia que a conheci.
Ela era a mulher mais linda e perfeita que eu já vi em toda a minha vida. Fiquei igual um bobo de
boca aberta e olhos esbugalhados a observando e rezando para que ela me notasse e percebesse
que me queria tanto quanto eu a ela, mas isso não aconteceu. Na mesma hora percebi que ela seria a
mulher mais difícil de me aproximar de todas que já conheci. Eu sempre tive muita facilidade em
conquistar a mulher que eu quisesse. Acho que herdei isso de meu pai que sempre foi um pegador
de mão cheia, mas com ela não era assim. Ela era diferente. E o principal: não queria saber de
mim. Ia ser um grande desafio conquistá-la.
E quer saber de uma coisa? Desafio é meu esporte favorito!
1...
Primeiro dia de aula da faculdade. Uma grande droga! Toda aquela palhaçada de se apresentar e
todos ficarem olhando para sua cara tirando conclusões precipitadas. Eu não queria fazer
faculdade, eu queria lutar como meu pai, mas ele disse que sempre precisamos ter uma segunda
opção caso algo dê errado. Então decidi fazer faculdade de educação física, e quem sabe no futuro
eu possa virar treinador de alguém se eu não me der bem na luta. Meu pai ficou orgulhoso de mim,
mas minha mãe como sempre pediu que eu mudasse de idéia e seguisse outro rumo na minha vida.
Mas é isso que eu quero e ela vai ter que aceitar.
Eu nunca me importei em fazer novas amizades, e isso não seria um problema pra mim. Eu sempre
tive muita facilidade de conversar com as pessoas, principalmente com as do sexo feminino. Ao
chegar na sala procurei uma carteira no fundo. Alguns caras se sentaram ao meu lado e um tempo
depois já estávamos trocando idéia. A primeira aula foi mais falação de como serão as aulas e
sobre as regras e essas coisas. Nunca tive paciência pra regras e não foi à toa que fui expulso de
duas escolas quando criança. Na hora de ir embora, joguei a mochila nas costas e comecei a
responder algumas mensagens que eu tinha no celular. Continuei andando sem olhar para a frente
quando esbarrei em uma garota que quase caiu no chão se eu não a segurasse pela cintura, mas suas
coisas não tiveram a mesma sorte. Ela se soltou de mim então agachei para ajudar a recolher os
cadernos que caíram no chão.
-Me desculpa! Eu estava distraído! Eu...
Meu Deus!
Assim que coloquei os olhos nela, as palavras desapareceram da minha boca. Ela era
magnificamente perfeita. Seu cabelo era curto e castanho e combinavam com o tom de mel de seus
olhos. Suas bochechas eram rosadas e seus lábios carnudos e vermelhos diziam "me morda". Seu
nariz era pequeno e delicado como ela. Ela vestia uma calça preta com uma camiseta rasgada e um
tênis. Ela era gostosa pra caralho!
Eu continuei analisando seu rosto quando ela empurrou meu ombro eu voltei a mim.
-Você tem problema? – ela disse.
-O que? Claro que não!
-Então devolva as minhas coisas!
Olhei para baixo e vi que estava com seus cadernos ainda nas mãos. Ela arqueou uma sobrancelha
e esticou os braços esperando que eu os entregasse. Quando ela segurou os cadernos os puxei em
minha direção.
-Qual é o seu nome?
-Não te interessa!
-Você é sempre marrentinha assim?
-Com quem merece sim! Vai me devolver os cadernos ou não?
-Só quando disser seu nome!
-Vai me deixar em paz se eu disser?
-Claro!
-Consuela!
-Consuela? Igual à uma velha de 89 anos?
-Fazer o que? Minha mãe era muito apegada à família!
Ela puxou os cadernos da minha mão e saiu andando rápido com passos largos. Fui até ela e andei
ao seu lado.
-Você sabe o significado de deixar em paz?
-Eu sei que esse não é seu nome! Então vou te chamar de Cherry!
-O quê? Isso é ridículo! – ela bufou.
-Então Cherry será! Até mais marrentinha!
Dei uma piscadela e suas bochechas ficaram vermelhas. Ela revirou os olhos quando eu saí dando
risada. Fui até a minha moto e decidi dar uma volta pra clarear a mente. O rosto de Cherry não sai
da minha cabeça!
Merda! Tô ferrado!
2...
No dia seguinte não vi a Cherry. Procurei por todos os lados, mas não a encontrei. Perguntei para
os caras que conheci ontem se sabiam que curso ela fazia, mas eles disseram que não sabiam de
quem eu estava falando.
Na hora de ir embora algumas meninas ficaram me olhando e sorrindo e claro não perdi tempo e
peguei o número de cada uma. Não é nem um pouco difícil arrumar mulher. Eu sou forte e definido.
Tenho o cabelo loiro escuro e olhos verdes como os de meu pai. Então é só eu dar um sorriso que
em minutos elas caem aos meus pés. Algumas pessoas me chamam de convencido, mas na verdade
eu sou somente realista.
Cheguei em casa e meus pais estavam conversando na sala com Manu e Murilo. Meu pai teria que
viajar mais uma vez e claro minha mãe iria junto. Eles não se desgrudavam um segundo sequer. Ele
estava viajando com mais frequência por causa de suas lutas e ele era cada vez mais conhecido.
Uma das formas de conseguir uma garota era só usar a frase: "Meu pai é o Destruidor" e bingo!
Elas quase saíam nos tapas pra ver quem seria a primeira a sair comigo.
Minha mãe dava o seu discurso de sempre:
-Tomem cuidado! Qualquer coisa que acontecer é pra ligar pra gente! Marcelo! Não quero saber se
festas em casa! Se eu souber de alguma coisa tiro sua moto!
-Mãe, você não pode fazer isso!
Eu sempre era o culpado de tudo!
-Posso e vou! Duvida?
-Merda!
-Olha esse linguajar! Tá vendo Travis? Você só ensinou coisa errada a eles!
-Claro que não princesa! Ensinei eles a serem homens!
Meu pai falava com tanto orgulho que comecei a rir
-Sim, mas Manu é uma menina! – minha mãe resmungou.
-Não tem problema, assim ela se defende dos homens! Ela sabe que só vai namorar com trinta anos.
-Isso ai! Nada de namorados! - Murilo se intrometeu.
-Pai! De novo essa história? - Manu reclamou.
-Claro! Assim você não esquece dela! E se eu souber de qualquer filho da puta que tá se engraçado
pra cima de você, tá fudido!
-Travis!! -minha mãe chamou sua atenção.
-Ferrado! Tá ferrado! - ele se corrigiu.
-Isso é ridículo! - Manu falou chorosa.
-Marcelo você já sabe né? - meu pai perguntou.
-Se aproximou fica sem as bolas! – afirmei.
-Isso mesmo!
-Vamos Trav! Senão o táxi vai embora! Se comportem os três e cuidem da Manu!
-Eu não sou mais bebê mãe!
-Eu sei... mas cuidem mesmo assim! Amo vocês!
-Também amo! - nós três dissemos ao mesmo tempo.
Assim que eles saíram, ficou um silêncio na casa. A primeira a levantar foi Manu que foi direto
para seu quarto. Murilo foi para a cozinha e eu permaneci sentado na sala pensando em Cherry. Não
sei quanto tempo permaneci do mesmo jeito e Murilo já estava sentado ao meu lado.
-Iiiii irmão! Que cara é essa? - ele perguntou com a boca cheia de pão.
-Nada por que?
-Você tá com a mesma cara que o pai olha pra mãe!
-Claro que não!
-Quem é ela?
-Eu não sei. ...
-Como assim?
-Ela não quis falar seu nome. Fugiu de mim.
-Fugiu de você? Então ela tá ferrada!
-Por quê?
-Porque você vai infernizar a vida dela!
-Mano, nunca vi mina nenhuma igual a ela.
-E você vai ficar sentado esperando ela cair no seu colo?
-Ela fugiu de mim! Mentiu o nome e hoje não foi pra aula.
-Amanhã você encontra com ela! Quem sabe ela não esteja de bom humor?
-É.. pode ser.
-Irmão, eu nunca vi você assim! E olha que você já saiu com meio mundo! Não deixa ela escapar
não!
Murilo me deu um tapinha no ombro e subiu as escadas me deixando sem saber o que responder.
Pensei no que ele disse e decidi que ia mostrar a Cherry os motivos do porque ela deveria me dar
uma chance!
3...
Cheguei mais cedo na faculdade e pra minha felicidade vi Cherry guardando sua moto no
estacionamento. Ela era mais gostosa do que eu me lembrava. Ela vestia um short jeans com uma
camiseta e aquilo fez meu pau acordar na hora. O que mais me chamou atenção nela, é que ela se
vestia da forma que ela gostava e não ficava se emperequetando igual essas patricinhas que tem por
aí.
Joguei minha mochila nas costas e corri até ela. Cherry estava distraia e falei bem baixo em seu
ouvido
-Oi marretinha!
Assim que terminei de falar senti uma dor crescente subindo do meu pau até meu estômago. Me
curvei no chão tentando respirar.
-Ai Meu Deus! Me desculpa eu achei que fosse outra pessoa!
Eu mal conseguia respirar quanto mais responder. Continuei encolhido no chão esperando a dor
diminuir. Ela era forte pra cacete! Ela se ajoelhou na minha frente e falou bem perto do meu ouvido.
-Posso te ajudar de alguma forma?
-Pode!
-Como?
-Fazendo uma massagem onde você acertou!
-Vai à merda!
Ela se levantou depressa e jogou sua mochila no ombro direito. Olhou para mim no chão e passou
cima indo em direção à entrada da faculdade como se eu não estivesse agonizando de dor. Fiquei
mais um tempo ajoelhado até que eu conseguisse andar como uma pessoa normal. Me levantei
devagar e peguei minha mochila que estava no chão. Fui à passos lentos até a minha sala de aula,
mas o pior é que eu sorria igual um idiota.
Passei a aula toda lembrando de sua voz em meu ouvido. Porra! Eu estou mesmo ferrado!
-Cara! - Rogério me chamou.
Rogério era um dos caras que conheci no primeiro dia de aula. Ele era apresentável e vi algumas
garotas correndo atrás dele. Ele provavelmente se dava bem com frequência.
-Fala.
-Eu acho que sei quem é a mina que você perguntou outro dia.
-Ah é?
-Ela é irmã do cara mais barra pesada que já passou nessa faculdade. Ele arrumava treta com todos
os caras que ele não ia com a cara. As más línguas dizem que ele já matou um cara que zuou ela
mano! Se eu fosse você ficava bem longe!
-Você sabe o nome dela?
-Acho que é Louise!
-Como você descobriu essas coisas?
-A mina que peguei ontem é amiga dela!
-Ela é gata?
-Gostosa pra caralho! - demos risada.
-E onde ele está agora? O irmão dela? Ainda estuda aqui?
-Não, ele largou a faculdade e abriu um clube de luta! Jaqueline disse que foi uma vez e que o
bagulho é louco! Só vence quem sai vivo mano!
-Que porra!
-É cara! Melhor você ciscar pra cima de outra mano!
Assenti com a cabeça e voltei a olhar para o professor que falava sem parar. O resto da aula passei
pensando nas coisas que Rogério me contou, mas o que me deixou mais intrigado é que mesmo
sabendo o risco que eu poderia correr, eu precisava tê-la em meus braços ao menos uma vez!
...
Minha aula terminou antes do previsto e fui para o estacionamento olhando para a direção da moto
da Cherry e resolvi esperar ela sair. Um tempo depois avistei seu belo traseiro se aproximando.
-Essa moto aí é minha! – ela falou brava porque eu estava apoiado em sua moto.
-Eu sei! Eu estava te esperando! Mas você não vai me agredir de novo por causa disso ne?
-Não! - ela riu. Que risada era aquela? - Eu achei que fosse outra pessoa!
-Ainda bem! Não quero ser essa pessoa sem ferrando. - ela riu mais uma vez.
-O que você quer?
-Você devia rir com mais frequência! Você fica linda sorrindo!
-E você fica lindo debruçado no chão gemendo de dor.
-Ai! Essa doeu.
-Fala logo o que você quer.
-Queria saber se você quer ir lá em casa um dia!
-O quê??? O que você pensa que eu sou?
-Eu não falei nada demais! Só te chamei para ir em casa! Não fiz nenhuma proposta indecente!
-Fazer o que lá?
-O que você quiser.
-E por que eu iria querer ir lá?
-Porque eu sou sexy pra caralho e você decidiu que quer passar um tempo comigo?
-Ah! Nada humilde você!
-Nunca!
-Obrigada pelo convite, mas vou passar!
-Você sabe que eu ainda vou insistir mais!
-E eu negar mais ainda.
-Por que?
-Porque não estou interessada.
-Você é lésbica?
-Claro que não!
-Então acho que não quer ir por ter medo de me atacar!
-Você é sempre assim?
-Lindo? Charmoso? Gostoso?
-Não! - ela riu. - Metido?
-Eu não sou metido! Sou sincero!
-Ok! Se você diz!
-Bom, o convite está em pé! Qualquer coisa é só me ligar!
Tirei uma caneta da mochila e escrevi o número do meu celular em sua mão.
-Se eu fosse você, não lavava essa mão nunca mais!
-Ai Deus! Você é ridículo!
-Você não! Até mais Cherry!
-Ainda com isso?
-É que não gosto de Consuela!
Ela riu mais uma vez e abaixou a cabeça. Fui para minha moto e saí correndo de lá antes que eu a
sequestrasse e a trancasse no meu quarto até ela morrer de velhice.
Cherry não me ligou e eu sou um burro de não ter pego seu número. Fiquei contando os segundos
para que o dia seguinte chegasse. Cheguei em casa e decidi treinar um pouco. A vantagem de ter um
pai lutador, é que ele tem uma academia particular na própria garagem, então passei a tarde toda
treinando até me sentir exausto.
-Má! A mãe tá no telefone!
Manuela veio correndo com o celular nas mãos e Murilo atrás dela. Ela colocou no viva voz para
falar com todos nós.
-Oi meus bebês!
-Não somos bebês mãe! - reclamei.
-Vocês sempre vão ser meus bebês! Estão se comportando?
-Sim! - Murilo respondeu.
-Claro! - Manu falou.
-E quando não nos comportamos? - perguntei.
-Marcelo, você que eu faça uma lista agora?
-Não mãe!
-Ótimo! Jájá é a luta do pai de vocês! Rezem aí! Apesar que ele sempre vence.
-Ele sempre mãe! Fica tranquila! - Manu falou.
-Eu sei, mas ver ele levando socos no seu rosto bonito me dá um aperto no coração!
-Mas ele se defende também! - respondi.
-Eu sei. Enfim! Torçam por ele! Ele mandou um beijo! Se comportem e não dêem festa hein? Amo
vocês!
-Sim senhora! Também te amamos!- nós três dissemos juntos.
Manu desligou a ligação e ficamos os três sentados no chão.
-Como estão as aulas Manu? -perguntei.
-A mesma chatisse de sempre.
-Tem algum filho da puta atrás de você?
-Não Marcelo!
-Acho bom!
-É a mina lá irmão? -Murilo perguntou.
-Na mesma!
-Que menina? - Manu perguntou curiosa.
-Uma menina que não quer saber dele! Foge dele e mentiu até o nome! - Murilo respondeu!
-Obrigado irmão! – forcei um sorriso.
-Ai Meu Deus! - Manu riu. - E você vai deixar ela fazer isso?
-Eu chamei ela pra vir hoje aqui, mas ela não quis.
-Claro ne? Você acha que um convite desse significa o que? Sexo óbvio!
-Não foi isso!
-Mas pra ela deve ter sido! Você tem que conquistar ela! Não fazer um convite desses!
-Viu irmão? Você tem muito a aprender! – Murilo falou rindo.
-Nós temos né?
-Sim! - Murilo concordou.
-E que porra eu tenho que fazer?
-Ah, você pode começar a puxar assunto, sobre o curso dela, sobre as coisas que ela gosta de fazer
e evita chamar ela pra sair.
-E essa merda funciona?
-Mais do que você imagina! Vai por mim!
Manu se levantou, me deu beijo na bochecha e entrou em casa. Murilo ficou em silêncio igual a
mim.
-É irmão! A gente não sabe de nada! – Murilo concluiu.
-Não mesmo!
-Vou jogar irmão! Quer vir?
-Não mano! Vou treinar mais!
-Beleza!
Murilo sempre me chamou de irmão desde pequeno. Manu me chama por apelidos, mas Murilo
sempre se refere a nós como irmão e irmã. Não que não fôssemos, mas enfim, vocês entenderam.
Murilo entrou em casa e eu fiquei parado no mesmo lugar. Fiquei pensando se Cherry gostaria de
ser tratada como a Manu falou e decidi tentar. Pior que está não pode ficar né?
Certo?
A noite Manu foi dormir na casa de uma amiga e Murilo ficou trancado no quarto. Decidi pegar
minha moto e dar uma volta. Andei por todo o centro e passei em uma avenida onde tinha uma
ciclovia que as pessoas faziam corrida. Olhei para o lado e meu coração começou a disparar.
Cherry estava correndo com um shortinho que dava asas à imaginação. Ela estava com fones de
ouvido e uma regata branca bem larga. Eu queria descer da moto e correr atrás dela, mas se eu
fizesse isso ela me acharia um maluco.
Comecei a andar devagar praticamente ao seu lado com a moto e quando ela me viu revirou tanto
os olhos que achei que eles passariam pra trás da cabeça. Cherry aumentou o ritmo e eu continuei
indo atrás dela. Quando paramos no semáforo ela finalmente tirou o fone e falou comigo.
-Você está me perseguindo?
-De forma alguma!
-E por que está me acompanhando?
-Porque seu bumbumzinho me hipnotizou.
-Você é um grande imbecil! - ela colocou o fone de volta.
Os carros começaram a buzinar quando o farol abriu ela olhou para a frente continuou a correr. Fui
atrás dela com a moto e parei na frente dela.
-Você vai levar uma multa! - ela falou séria.
-Eu não me importo. Eu só quero conversar com você!
-Sobre o que?
-Eu não sei! Sobre a sua faculdade? Sobre o que você gosta de fazer nas horas vagas? Te conhecer
melhor.
-Por quê?
-Eu não faço a porra da idéia! - ela riu.
-Eu não sei!
-Mas eu sim! Sobe aí! Me dá essa chance! Eu não sou tão filho da puta assim o tempo todo! E se
você ainda achar isso de mim eu prometo que te deixo em paz! O que me diz?
4...
5...
No dia seguinte procurei pela moto de Cherry, mas não encontrei no estacionamento. Fui para a
aula contando os segundos para sair, mas na saída ela também não estava lá. Eu queria socar a
minha cara por não ter pedido seu número mais uma vez.
Na parte da tarde eu não fazia absolutamente nada de interessante. Eu treinava e jogava ou assistia
tv. O tédio e a mente em Cherry me fez sair e procurar um emprego. Passei na frente de um pub que
eu fui algumas vezes e vi que estavam precisando de ajudante no bar. Procurei por uma entrada e vi
uma porta lateral aberta. Bati na porta e entrei.
-Licença!
-Pode entrar!
Uma voz saiu de trás do balcão onde servem as bebidas. Fui até lá e um cara mais ou menos com
40 anos de idade levantou.
-Beleza? - ele me cumprimentou. - Veio por causa do aviso lá fora?
-Isso!
-Já trabalhou em um lugar desse alguma vez?
-Não!
-Já trabalhou?
-Não.
-Certo. Tem disponibilidade de horário?
-Tenho sim!
-Bebe?
-Socialmente.
-Fuma?
-Não!
-É maior de idade?
-Sim!
-Tem carro ou moto?
-Moto.
-Mora aqui perto?
-Moro sim.
-Conhece marcas de cerveja?
-Conheço.
-Estuda?
-Sim!
-Que horas?
-De manhã!
-A vaga é para o período da noite! Tem problema ter que sair de madrugada e mesmo assim ter que
ir pra aula de manhã?
-Problema nenhum!
-Bom, um dos meninos que trabalhava aqui pediu as contas e não estamos dando conta, então se
puder vir hoje às 18h fazemos um teste e se todos gostarem de você, você começa! Assim está bom
pra você?
-Perfeito!
-Eu sou Fernando seu possível novo chefe!
Fernando me explicou que eles trabalhavam com turnos e que temos direito a duas folgas por
semana, mas raramente de fim de semana que é onde bombava mais. Ele vai me pagar um salário
fixo e todas as gorjetas que me derem são minhas. Eu tenho que ficar no balcão servindo as bebidas
e fazendo os drinks e no fim do expediente devo ajudar a fazer a limpeza do pub e pronto. O salário
era bom e pra quem não faz nada seria uma ótima forma de juntar dinheiro sem depender dos meus
pais.
Saí de lá satisfeito e ansioso. Eu finalmente estou tomando um jeito na vida. Cheguei em casa e
liguei para a minha mãe.
-O que aconteceu Marcelo? - ela atendeu com a voz desesperada.
-Nada! Por que sempre pensa isso?
-Porque todas as vezes que você me liga alguma desgraça aconteceu.
-Que exagero!
-Fala logo!
-Eu acho que consegui um emprego!
Ela ficou muda.
-Mãe?
-Emprego? Mas por quê?
-Por que eu não tenho o que fazer em casa e acho que está na hora de eu ficar mais independente.
-Você usou drogas?
-Claro que não mãe!
-Isso é alguma pegadinha?
-Não é pegadinha! Não sei nem porque te liguei pra contar! Ao invés de ficar feliz por mim, fica
tirando com a minha cara! Que porra!
-Desculpa Má! É que estou surpresa! Só isso! E para de xingar!
-Que seja! Vou desligar mãe! Manda um beijo pro pai.
-Te amo viu?
-Eu também!
Desliguei a ligação e joguei o celular no sofá. Fiquei morrendo de raiva dela ficar caçoando de
mim. Olhei no relógio e ainda eram 14h30 então tinha tempo de extravasar a minha raiva.
Acordei atrasado e fui correndo para a faculdade. No estacionamento vi a moto de Cherry parada e
eu quis cabular aula só pra ficar com ela. A primeira aula já tinha começado, então achei melhor
esperar a segunda para poder entrar na sala. Fui na lanchonete comprar alguma coisa pra tomar e
quando finalmente me sentei em um lugar vazio vi Cherry indo para a lanchonete também. Ela
estava sozinha e ainda mais linda. Cherry vestia uma calça jeans justa que destacava suas curvas e
uma regata branca. Ela usava uma touca que a deixava com cara de menina levada. Eu queria correr
até ela, mas achei melhor ficar na minha. Dei um gole no meu suco e fiquei a observando. Ela saiu
da lanchonete com um chiclete nas mãos e olhou automaticamente pra mim. Dei um sorriso para ela
que se aproximou devagar.
-Eai? - ela permaneceu em pé.
-Tudo bem? Por que não está na aula marrentinha?
-Você já sabe meu nome, deveria parar com esses apelidos estranhos!
-E perder a chance de ver você brava?
-Que seja...
Cherry abriu a embalagem do chiclete e o colocou na boca. Seus lábios vermelhos moviam de
forma erótica e inconscientemente eu imaginei eles ao redor do meu colega que já estava
despertando. Tentei pensar em Renan pelado o amigo da minha mãe, mas não resolveu muita coisa.
-O que há de errado com você? Você está estranho!
-Hum.. nada!
Peguei minha mochila e joguei no colo tentando cobrir minha ereção.
-Ok... eu vou indo! - Cherry falou.
-Já? O que você vai fazer à tarde?
-Hum.. eu tenho um compromisso!
-Entendi!
-Olha, Marcelo né? - concordei - Eu não tenho nada contra você, mas não vai rolar nada entre a
gente. Você é muito legal e bonito, mas não vai rolar! Eu sinto muito!
-Uau!
-O quê?
-Esse foi o pé na bunda mais educado que já levei na minha vida!
-Desculpa! Eu...
-Tudo bem!
-O quê?
-Falei tudo bem!
-Sério? Você não vai causar e correr atrás de mim como um doente igual você fez da primeira vez?
-Não!
-Sério?
-Sério!
-Então nós podemos ser amigos!
-Não! Eu não posso ser seu amigo!
-Por que não?
Me levantei e fiquei bem próximo dela. Segurei em sua cintura e a puxei para mim. Cherry prendeu
a respiração e eu tive que me controlar muito pra não beijá-la naquele momento.
-Por quê? Porque amigos não podem se imaginar da forma que imagino nós dois! Amigos não
podem ter um desejo tão grande como tenho por você!
Encostei minha ereção em sua barriga fazendo com que Cherry fechasse os olhos.
-Você entendeu?
-Hu... Uhum.. – ela sussurrou.
Cherry abriu seus olhos de mel e olhou para a minha boca. Encostei minha testa na dela e não
consegui me segurar mais. Colei meus lábios nos dela e ela não tentou me impedir em momento
algum. Passei uma mão ao redor de sua nuca e a puxei ainda mais para mim com a outra mão que
permanecia em sua cintura. Cherry passou os braços ao redor do meu pescoço aprofundando ainda
mais o nosso beijo. Quando o beijo começou a esquentar, Cherry interrompeu e se afastou de mim.
-Olha... eu não posso!
-Você tem namorado é isso?
-Não! Não tenho! Eu só não posso! Você pode entender isso?
-Não sem você me explicar!
-Eu não posso explicar!
-Cherry, eu...
-Para de me chamar assim! Meu nome é Louise porra!
Fiquei em silêncio. Qualquer coisa que eu dissesse nesse momento só iria piorar tudo e dessa vez
eu finalmente fiquei com raiva dela. Peguei minha mochila e joguei no ombro. Passei por ela que
segurou meu braço.
-Aonde você vai? - virei de frente pra ela mais uma vez.
-Sair de perto de você!
-O que? Por quê? Porque eu não quero te beijar ou fazer o que quer que seja que você está
pensando?
-Não! Você não quer nada comigo e eu entendo! Eu não acredito em você, mas não vou te forçar a
nada, claro!
-E por isso você vai ficar de pirraça?
-Eu não estou fazendo pirraça nenhuma! Só não venha me dizer que não queria esse beijo tanto
quanto eu!
-É claro que eu queria! Mas eu não posso! Você não entende!
-Certo! E também não pode explicar!
-Eu...
-Não se preocupe Louise, vou facilitar isso pra você!
Virei de costas para ela e fui direto para o estacionamento. Eu não tinha cabeça pra assistir aula
alguma. Subi na minha moto e dei voltas até o horário de ir trabalhar.
7...
Dormi na casa da.. Aline? Luciana? Da loira! Não lembro o nome dela. Tenho uma grande
dificuldade pra decorar nomes. Fui direto da casa dela para a faculdade. Eu parecia um zumbi
porque não dormi nada e aquela mulher era incansável. Ela disse que iria me ver no pub, mas não
me lembro se expliquei a ela que não ficaríamos juntos de novo. O jeito era fazer como sempre
faço: ser educado e dizer que não sou o cara pra ela. Funciona quase todas as vezes.
Eu não consegui parar de pensar em Cherry de sutiã e eu confesso que pensei nela enquanto estava
com a loira. Fazer o que. Ela não sai da porra da minha cabeça. Ao estacionar minha moto evitei
olhar ao redor procurando a de Cherry, então peguei meu celular e fui conferir as minhas redes
sociais. Eu estava respondendo um comentário quando esbarrei em alguém. As coisas de Cherry
caíram todas no chão como da primeira vez que nos vimos.
-Desculpa! Estava distraído.
-Como sempre né?
Abaixei para recolher as coisas e lhe entreguei.
-Aqui está!
-Presta mais atenção da próxima vez!
-Que seja!
Eu evitei olhar seu rosto bonito e passei por ela indo em direção à sala onde seria a minha aula.
Fiquei um tempo sentado na sala vazia até que olhei a mensagem de Rogério dizendo que hoje não
teriam as aulas porque o professor estava doente. Peguei minha mochila e saí da sala xingando de
tanta raiva.
Decidi passar na lanchonete e comer alguma coisa, já que vem fazia horas que eu não ingeria nada.
Pedi um pão de queijo e um suco de caixinha e me sentei em uma das cadeiras e mesas vazias. Dei
a primeira mordida em meu pão de queijo e vi Cherry indo em direção à lanchonete e desviei o
olhar. Eu sentia seu olhar em mim, mas preferi ignorar. Eu ainda estava puto por ela ter dito que eu
não devia ficar com ela ontem no pub. Peguei meu celular e comecei a jogar quando Cherry se
sentou na cadeira ao meu lado. Olhei para ela e voltei o olhar para o celular.
-Então? – ela falou.
-Então o que?
-Como foi ontem com a loira?
-Como era pra ter sido com você! - respondi sem olhar para ela.
-Acho que não!
-E por que não?
-Porque comigo não seria uma bosta como tenho certeza que foi.
Nessa hora eu não aguentei e olhei para ela. Seus lábios vermelhos estavam contraídos com receio
da minha resposta.
-Você acha? Pois é aí que se engana! Foi uma das melhores fodas de ultimamente!
-Você precisa ser grosseiro o tempo todo?
-Eu não fui grosseiro Louise! Só respondi sua observação!
Ela me olhou surpresa por eu tê-la chamado pelo nome. Voltei meu olhar para o celular e vi pelo
canto do olho ela se levantar e sair de perto. Olhei para a mesa e vi que ela deixou a chave de sua
moto ali. Recolhi minhas coisas, peguei sua chave e fui atrás dela. A encontrei na portaria da
faculdade falando no celular. Ela estava de costas para mim e não viu quando eu me aproximei. Ela
falava alterada, mas tentava manter o tom de voz baixo.
-Eu sei! Eu já disse que ele não está interessado em mim! Ele nem está conversando comigo
direito!
Ela ficou um tempo em silêncio e voltou a falar.
-Não! Eu fiz o que me pediu não fiz? Que porra Nick! (..) Não! Eu não gosto dele. Ele é um grosso
idiota que só trabalha comigo e nada mais! (...) eu sei... (...) tá bom! Jaja estou em casa! (...) Beijo.
Eu fiquei empacado no lugar sem saber o que fazer. Cherry se virou e ficou pálida ao me ver ali.
-O...oi! Você está aí faz tempo?
Neguei com a cabeça e ela ficou nitidamente aliviada.
-Você deixou isso na mesa.
Entreguei a chave em sua mão.
-Ah! Obrigada! Não sei onde eu estava com a cabeça.
Assenti e ficamos em um silêncio constrangedor. Cherry sorriu sem graça e percebi que eu deveria
ir embora antes que dissesse o que não devia.
-A gente se vê mais tarde Louise.
-Por que você está me chamando desse jeito?
-Porque é o seu nome!
-Eu sei. .. é que... esquece!
Dei meia volta e Cherry segurou meu braço.
-Me desculpa por ontem!
-Pelo o que?
-Por ter dito que você deveria ir embora.
-Não tem problema! Agora que eu sei que sou grosso e idiota, não vou mais me aproximar de você!
-Marcelo não é nada disso! Eu posso explicar!
-Ah pode? Pensei que eu tivesse pedido isso há muito tempo!
-É que é complicado...
-Foda-se!
-O quê? ??
-Foda-se essa merda! Foda-se seu segredo! Cansei!
-Mas....
-Até mais tarde Louise!
Me afastei dela o mais rápido que pude. Corri pra casa e extravasei mais uma vez a minha raiva
treinando.
8...
(Louise)
Marcelo morava em minha mente. Era o típico cara dos sonhos: Lindo, alto, forte, gostoso, olhos
verdes, sorriso perfeito, galanteador e perseguidor. Desde o dia em que ele esbarrou em mim, não
consegui mais tirar ele da minha cabeça. Eu tive que me esforçar muito para recusar todos seus
convites para sair. Ele nem sonha o quanto eu queria que aquilo acontecesse.
Mas eu não posso.
Meu irmão Nicolas tem um clube de luta clandestino e sempre que eu começo a sair com alguém,
ele dá um jeito de jogar o cara no ringue para apanhar até quase morrer. Ele vivia disso. Muitas
pessoas eram sádicas e adoravam ir ao clube para ver alguém ser espancado e o pior de tudo é que
pagavam por isso.
Eu namorei um rapaz na época da escola. Sérgio se achava o típico cara fodão da escola e meu
irmão não foi com a cara dele. Disse que ele só poderia namorar comigo se passasse pelo ringue.
Sérgio achou a idéia sensacional e topou, mas quando começou a sua luta, ele levou um soco tão
grande em sua cabeça que fez ele cair para trás e bater a cabeça no chão. Ele começou a
convulsionar e antes que chegasse ao hospital não resistiu e morreu em meus braços. Meu irmão
ficou apavorado com medo de ser preso então "fugimos" para cá.
Eu não sabia exatamente como era o trabalho de Nick, mas aprendi da pior forma possível. Eu era
somente uma criança e aquilo me traumatizou para sempre. Por isso não tive mais nenhum
namorado desde então. Eu pedi, implorei que ele parasse com aquilo, e ele disse que se ele eu
estivesse incomodada era para procurar outro lugar para morar. Por isso trabalho no pub. Foi uma
forma que consegui de guardar dinheiro e fazer a faculdade ao mesmo tempo para poder ir embora
sem olhar para trás.
Até que Marcelo apareceu e me fez rever todos os meus planos.
Eu me via com Marcelo, eu via como ele era carinhoso mesmo falando suas grosserias. Eu queria
ficar com ele. Muito mesmo! Mas meu medo era de que Nick soubesse que Marcelo era filho do
Destruidor. Ele NUNCA deixaria isso passar em branco. Nick ia arrumar um jeito de colocá-lo no
ringue só para ter vantagem e ganhar dinheiro e isso eu não poderia permitir, então eu teria que me
afastar de Marcelo de uma vez por todas.
Para o bem dele.
9...
Fiquei com raiva por ela ter falado daquela forma de mim. Eu queria saber o que ela esconde, mas
ao mesmo tempo eu sei que deveria me afastar.
Mas eu não consigo.
Não consigo ficar longe dela. Mesmo com raiva, eu quero pegar ela e enfiar dentro da minha
mochila para que somente eu possa vê-la e tocá-la.
Gabriel não foi trabalhar, pois sua mãe tinha piorado então eu e Cherry cobrimos sua parte. A noite
foi uma loucura total. Por ser sexta feira o lugar ficou completamente lotado. Cherry e eu mal nos
falamos e nós dois quase não demos conta dos pedidos então Fernando teve que nos ajudar, mas no
fim do dia deu tudo certo. Terminamos de limpar tudo e arrumar quando já eram quatro horas da
manhã.
Ao chegar em casa eu simplesmente me joguei na cama e quando estava pegando no sono meu
celular começou a tocar. Era um número desconhecido então não atendi. A pessoa ligou mais uma
vez e outra. Atendi a ligação na fúria.
-O que é porra?
-Oi... sou eu. Louise!
Me sentei na hora preocupado.
-Oi! Está tudo bem? Aconteceu alguma coisa?
-É... desculpa ligar a essa hora, mas meu irmão saiu de casa e estou sem chave... ele não atende o
celular.. e você é a única pessoa que eu tenho pra ligar.. então...
-Onde eu te pego?
-Pode ser no mesmo lugar que me sequestrou pra tomarmos sorvete?
-Perfeito! Já estou indo!
-Ok! Obrigada!
-Sem problema!
Guardei o celular no bolso e corri para pegar a moto. Minutos depois eu já estava parando a moto e
ajudando Cherry a subir nela. Fizemos o caminho em silêncio e a levei direto para o meu quarto.
Separei uma camiseta e uma cueca e entreguei a ela.
-Aqui.. usa isso! Dormir de jeans não é muito agradável e você pode tomar banho se quiser!
-Obrigada! Um banho seria perfeito!
Indiquei onde era o banheiro e ela ficou um tempo lá dentro. Quando ela saiu do banheiro vestindo
minha camiseta eu quase gozei nas calças. Peguei uma toalha e fui tomar banho também. Gelado de
preferência. Saí do banheiro somente de cueca e Cherry tinha arrumado uma cama no chão.
-Que porra é essa? – perguntei bravo.
-O quê?
-Você não vai dormir no chão! Você vai ficar a cama comigo!
-Eu não quero atrapalhar!
-Você vai atrapalhar se ficar no chão! E se eu acordar pra mijar e pisar em você? Nem fudendo!
Você vai dormir na cama! Ela é grande o suficiente pra cinco pessoas!
-Tá bom, tá bom! - ela levantou as mãos em forma de rendição.
Cherry deitou na beirada cama e eu me deitei em seguida de lado e de frente para. Ela me olhou de
canto de olho e perguntou baixinho se virando de frente para mim.
-Você vai dormir pelado assim?
-Eu não estou pelado! Estou de cueca! Isso te incomoda?
-De forma alguma!
-Que bom! Porque é assim que eu durmo!
-Bem livre né?
-Eu costumava dormir pelado, mas já que você está aqui, não posso fazer isso.
-Que bom!
-Eu sei que você quer me ver pelado!
-Claro que não! Você se acha demais!
-É porque você não conheceu meu pai. Aquele cara se acha demais!
-É porque ele pode!
-Eu também posso!
-Sim, você pode!
-Doeu muito assumir isso?
-Sim! Acho que perdi uma batida do meu coração!
-Nossa, então você vai morrer quando me ver pelado só pra você.
-E quem disse que isso vai acontecer?
-Você!
-Eu? -ela riu.
-Sim! Seu jeito de me olhar, seu jeito de lamber os lábios, sua respiração, suas bochechas
vermelhas. Só não entendo porque foge tanto de mim.
-Eu não quero que você se envolva com a minha vida. Eu gosto muito de você! Mais do que você
imagina! Se eu desejo você? Pode ter certeza que sim, mas eu não posso e não vou te envolver
nessa sujeirada toda.
-E se eu não me importar com nada disse que você tem tanto medo? E se eu quiser enfrentar tudo
pra ficar com você?
-Não é assim que as coisas funcionam! E tudo complicado demais!
-Me explica.
-Eu não quero que você pense mal de mim. E se eu te contar tudo, você nunca mais vai querer me
olhar de novo!
-Você não me conhece Cherry. Se tem uma coisa que eu quero, eu consigo. Eu não me importo com
nada disso! Eu realmente não ligo! Contanto que eu esteja assim, conversando, rindo com você, e
quem sabe te comendo gostoso.
-Isso é jogo baixo.
-Jogo baixo é imaginar você usando a minha cueca por baixo da minha camiseta! Isso é jogo baixo!
-Posso falar uma coisa?
-Claro!
-Eu não estou usando a sua cueca! E nem nada! - ela terminou a frase num sussurro.
Cherry me olhava séria e meu pau já estava na testa.
-Porra!
Virei de barriga pra cima e cobri o rosto com as mãos. Eu precisava pensar em algo bem feio.
Renan de sunga fio dental de oncinha! Renan dançando hula hula! Renan beijando um homem!
Enquanto eu tentava pensar em alguma imagem feia, Cherry passou a perna por cima da minha
cintura e montou meu corpo apoiando as mãos em minha barriga. Destampei o rosto e vê-la em
cima de mim foi a visão mais bonita que eu já tive. Cherry passou as unhas de leve em minha
barriga me deixando ainda mais duro. Passei as minhas mãos em suas coxas sentindo sua pele
macia.
-Por que você é tão gostoso? - ela falou baixo.
-Por que você é tão gostosa?
-Posso pedir uma coisa?
-Tudo o que quiser!
-Não faça eu me arrepender de fazer isso!
Cherry colou seus lábios nos meus e segurei sua cintura afundando seu corpo no meu. Minha ereção
estava embaixo da sua parte mais sensível e ela arfou quando me movimentei embaixo dela. Eu me
sentei e levei ela comigo. Virei rápido e ela ficou embaixo do meu corpo e entrelaçou as pernas ao
redor de minha cintura. Me afastei dela e tirei a camiseta por cima de sua cabeça. Seus seios
empinados estavam arrepiados e não consegui me conter e chupei eles com muita vontade. Cherry
gemia e suspirava o tempo todo.
-Ai Meu Deus...
Sua pele era macia como pêssego, branca e cheirosa. Ela era ainda mais perfeita do que a minha
mente imaginou. Beijei seus barriga, seu umbigo, e mergulhei a língua em sua carne protuberânte.
Cherry segurou meus cabelos e me incitava a continuar o que eu estava fazendo. Senti seu corpo
pulsar e me afastei. Abri a primeira gaveta do criado mudo e tirei um preservativo de lá de dentro.
Fiquei em pé no chão e abaixei minha cueca. Cherry se sentou e pegou em meu pau e o levou na
boca em seguida. Finalmente ver seus lábios vermelhos ao redor do meu pau quase me fez gozar
imediatamente. Ela intensificou o movimento e tive que me segurar senão eu iria parecer uma
menino virgem. Cherry tirou o preservativo de minha mão, abriu a embalagem, o colocou entre seus
dentes e me chamou com o indicador. Ela segurou a base do meu membro e colocou a boca nele.
Assim que a camisinha estava encaixada na cabeça, ela tirou a boca, apertou a ponta do
preservativo e desenrolou ele mais um pouco. Sorriu para mim e colocou a boca mais uma vez
empurrando o preservativo para baixo o desenrolando quase por inteiro somente com a boca. Eu
me sentia pulsar de tanto tesão.
-Porra. Você é gostosa demais!
Cherry deitou na cama e ficou de pernas abertas me esperando. Coloquei a ponta do meu membro
na sua entrada e ela gemeu.
-Vai com calma, por que você é grande demais pra mim!
Fui entrando devagar para que ela acostumar com o meu tamanho. Cherry me mordia, lambia e
beijava. Sentir Cherry daquela forma estava me enlouquecendo. Eu não sei o poder que ela tinha
sobre mim, mas eu sabia que ela me quebraria em segundos.
Cherry me puxava para ela, me beijava e me apertava como se quisesse que aquele momento não
passasse mais. Eu também não queria que terminasse. Aumentei meus movimentos e chegamos ao
êxtase juntos. Cherry respirava com dificuldade e sorriu para mim. Beijei sua boca mais uma vez e
saí de dentro dela me deitando ao seu lado e beijando seu ombro nu.
-Acho que não vou me arrepender nunca de ter feito isso! – ela falou.
-Fico feliz em saber!
Demos risada e fomos para o chuveiro nos limpar. Lavei Cherry com muito cuidado, a sequei, vesti
e fizemos sexo até o dia clarear.
10...
Acordei Cherry para tomarmos café e irmos para a faculdade. Ela acordou assustada e disse que
não deveria estar ali.
-Meu irmão vai me matar e matar você também!
-Hey! Ele não vai matar ninguém!
-Você não conhece ele!
-Não mesmo! Até porque você me deixa no escuro!
-Ele não pode saber que passei a noite com você!
-Por quê?
-Porque estou falando que não!
-Tá bom! Vou dar um jeito.
-Como?
-Relaxa!
Um fui dar um beijo em sua boca, mas Cherry se afastou. Suspirei peguei sua roupa que estava em
cima da cadeira, joguei nela e saí do quarto. Agora eu sei como todas as mulheres se sentem ao
serem rejeitadas depois de uma noite de sexo. E achei uma droga!
Desci as escadas e procurei por Manu. Ela estava colocando o café na caneca quando a chamei.
-Manu! Preciso de um favor.
Ela levou um susto e quase derrubou o café no chão.
-Meu Deus! Pra que esse escândalo a essa hora?
-Preciso que você leve Cherry pra casa e diga que ela passou a noite com você!
-Por quê? Falar isso pra quem? Quem é Cherry?
-Cherry é a garota que conversamos outro dia.
-Ai Meu Deussss! Vocês se acertaram?
-Não exatamente. Tenho quase certeza que fui rejeitado a essa hora da madrugada!
-Nãooooooo!
-Fui beijá-la e ela recuou.
-Ela já tinha feito a limpeza matinal?
-Nao!
-Então foi isso!
-Ah...
Fiquei aliviado. Até demais.
-Você pode me ajudar?
-Claro! Você nunca trouxe garota alguma pra casa! Ela é mesmo especial né?
-Ela é sim!
-E linda também!
Manu desviou de mim e foi em direção de algo atrás de mim. Cherry estava parada na beira da
escada e sorriu para mim.
-Oii eu sou a Manu! Vem tomar café!
-Oi... é.. hum... eu preciso ir! Desculpa.
-Não. Eu vou te levar e vamos dizer a não sei quem que você passou a noite comigo! Que somos
amigas de faculdade e que vamos dormir muitas vezes juntas!
-Sério?
-Sério! Você é a primeira garota que o ogro trás pra casa! Então você merece um Oscar!
-Valeu Manu! - reclamei.
-Por nada Má!
Cherry deu risada e foi arrastada para a cozinha. Fui atrás delas e escutei Murilo atrás de mim.
-Caramba irmão! Ele é linda mesmo!
-Nem me fala!
-Ela finalmente parou de te rejeitar?
-Espero que sim!
Demos risada e Murilo foi se apresentar.
-Olá! Eu sou o Murilo! Muito prazer em conhecê-la! - Murilo beijou seu rosto.
-Louise!
Cherry sorria até demais para Murilo.
-Uau! Que família maravilhosa! - ela nos olhava deslumbrada.
-Fazer o que né? Com alguém igual a mim não precisa de mais ninguém! - Murilo falou fazendo
Cherry gargalhar.
-Eu nem acredito que estou entre o trio destruidor! - Cherry falou animada.
-Espera só meu pai chegar para você ver! Isso vira um caos!
-Deve ser maravilhoso ter todos juntos!
-Você não é assim com seus pais? -Manu perguntou.
-Não... eu não tenho pais. Moro só meu irmão e ele não é um amor de pessoa!
-Que droga! Mas você pode vir aqui sempre que precisar se sentir em uma família! Atenção é o que
não falta aqui!
-Obrigada! Mesmo! Eu nem sei o que é ter uma família!
-Agora vai saber!
Escutamos o barulho da porta e em seguida a voz da minha mãe.
-Cadê meus bebês??????
Olhei para Cherry e pedi desculpa.
-Por quê? - ela perguntou confusa.
-Ai Meu Deussss! Quem é essa belezinha aqui? Murilo por que você não me falou que estava
namorando?
-Por isso! -sussurrei.
-Eu não estou não! Ela é amiga do Marcelo!
-Oi! -Cherry falou envergonhada.
-Amiga? Só amiga? Marcelo nunca trouxe uma amiga sequer em casa!
-Eu fiquei sabendo! - Cherry falou rindo.
-Eai meninos, Manu? Correu tudo bem? - meu pai chegou e olhou para Cherry. - Por que você não
contou que estava namorando Murilo?
-Ai Meu Deus! - falei para mim mesmo.
-Eu sou amiga de Marcelo!
-Amiga! Entendi! - meu pai deu um tapinha no meu ombro e começou a rir. - Sua mãe e eu fomos
amigos uma vez! E nossa amizade terminou com ela ajoelhada na cozinha me chu...
-AI MEU DEUS TRAVIS!!!!! As crianças não precisam saber de tudo! - minha mãe o interrompeu e
deu um tapa em seu braço.
Todos nós começamos a gargalhar e meu pai ficou sem entender.
-O que? Ela não esse tipo de amiga?
Ficamos em silêncio e Cherry olhou para mim pedindo socorro. Manu salvou todos nós.
-Bom. .. vamos.... hum... Amiga!
-Cherry! - respondi!
-Louise. - Cherry respondeu me olhando feio.
-O que estamos perdendo? - meu pai falou malicioso.
-NADA! - Manu, Cherry, eu e Murilo falamos ao mesmo tempo.
-Por que isso não parece que é nada? -minha mãe perguntou desconfiada.
-Como foram as lutas pai? - resolvi mudar de assunto.
-Iguais! - ele deu de ombros.
-Ele arrasou Má! Você tinha que ver! Ninguém teve chance! - minha mãe falou toda orgulhosa.
-Foi normal! - Meu pai tornou a falar.
-Sério que o destruidor é humilde assim? - Cherry perguntou espantada.
-Não! Ele se acha! Mas nas lutas ele é assim mesmo! - Murilo respondeu.
-Entendi!
-Vamos Cherry/ Louise ou sei lá qual é o seu nome, senão vamos se atrasar para a aula.
Manu a puxou pelo braço e a carregou para fora de casa. Cherry gritou um "foi um prazer" e
desapareceu. Não tive tempo nem de me despedir. Assim que elas passaram pela porta minha mãe e
meu pai ficaram olhando pra mim esperando uma explicação.
-O quê? - perguntei incomodado.
-Amiga? - minha mãe perguntou.
-Sim. Amiga!
-Ela não quer saber dele! - Murilo falou.
-Como assim ela não quer saber de você? Você é lindo! - minha mãe falou chocada.
-Eu sei disso! - dei risada - mas ela diz que não pode e tem algo a ver com o irmão dela, mas não
sei o que é!
-Ela te falou com todas as palavras que não quer ficar com você?
-Não. Ela disse que não pode.
-Então ela quer!
-Acho que sim... a gente meio que ficou ontem a noite, mas...
-Esse é meu garoto! - meu pai falou animado.
-Para Travis! Não é assim! Ele gosta dela!
-Idaí? E por isso não posso ficar feliz por ele se dar bem?
-Ai Meu Deus! Você é inacreditável Travis! - minha mãe brigou com ele.
-Que foi? Eu hein! Filho, se você gosta mesmo dela o que eu acho que sim porque deixou ela
conhecer sua casa e sua família, então você não deve desistir dela. Tenta descobrir qual é o
problema e resolve ele. No fim vai valer a pena. Problemas sempre vão aparecer, mas vai de você
destruir cada um deles! - meu pai olhou para a minha mãe completamente apaixonado.
-Uau Travis! Isso foi lindo! - ela falou sorrindo.
-Foi meio bicha, mas foi lindo! - meu pai respondeu rindo.
-Será que eu vou ficar viadinho assim quando ela aceitar ficar comigo?
-Viadinho o caralho!
-Travis!!! Olha a boca!
-Vamos ver quem é viadinho na garagem!
-Não vai ver nada Travis! Nós temos que descansar porque depois de amanhã temos que viajar
mais uma vez!
-Porra! - minha mãe olhou para ele de cara feia e ele começou a rir. -Merda! Eu falei merda
princesa!
-Aham! Vou fingir que acredito!
Meu pai pegou as malas e os dois subiram as escadas e eu fiquei sentado no mesmo lugar. Tentei
pensar em coisas horríveis que poderiam envolver o irmão de Cherry, mas nenhum fez sentindo,
então hoje eu teria que convencer Cherry a me contar tudo!
11..
Cheguei na faculdade e não encontrei Cherry. Passei a aula toda inquieto e ansioso para vê-la.
Rogério me contou que ficou mais uma vez com a amiga de Cherry, mas que ele não soube mais
nada sobre a vida dela. A aula durou uma eternidade e quando o professor disse que a aula ia
terminar mais cedo, eu quase fui até ele e dei um abraço em agradecimento.
Joguei minha mochila nas costas e saí correndo da sala. Olhei ao redor e procurei por Cherry por
todos os lados, mas não a vi. Fui para o estacionamento, mas sua moto também não estava lá. Fui
pra casa puto da vida e liguei para Manu.
-Oi ogro!
-Me passa o endereço da Cherry.
-Eu não tenho.
-Como não porra? Você levou ela pra casa!
-Eu IA levar ela pra casa, mas ela pediu que eu a deixasse na faculdade.
-Ela não estava na faculdade hoje!
-Ah Má.. então não sei. Só fiz o que ela pediu.
-Tá bom! Beijo Manu!
-Beijo ogro!
Desliguei a ligação e procurei nas ligações recentes o número de Cherry em meu celular. Disquei e
chamou até cair na caixa postal. Liguei mais uma vez e finalmente ela atendeu.
-Por que você está me ligando?
-Eu estava preocupado com você! Não te vi na faculdade hoje!
-Eu tive que ir embora. Olha... preciso desligar e não me liga mais nesse número ok?
-Por que não?
-Porque eu estou falando! Tchau.
Cherry desligou a ligação e eu fiquei furioso. Eu tinha que descobrir o que estava acontecendo de
uma vez por todas, mas ainda não fazia idéia de como!
Fui mais cedo para o pub para esperar Cherry chegar, mas ela chegou atrasada e o bar já estava
com algumas pessoas. Gabriel não veio mais uma vez, e parece que sua mãe tinha piorado então ele
estava com ela no hospital. Quando Cherry chegou, ela veio até o balcão e me falou um simples e
seco "Oi" e foi para o vestiário. Tentei falar com ela alguma vezes, mas ela fugia ou mudava de
assunto. Depois que o último cliente saiu, eu fechei as portas e vi ali a oportunidade de perguntar
tudo o que eu queria. Fernando sempre ia embora cedo e deixava o fechamento do bar por nossa
conta.
-Cherry. . Você está bem? Deu problema hoje de manhã pra você?
-Claro que deu! O que você esperava?
-Eu esperava que você fosse com Manu dizer que ela era sua amiga e que você dormiu na casa
dela.
-E depois? Você acha que tudo ficaria bem?
-Como eu vou saber se você não me fala nada porra!?
-O que você quer que eu diga?
-A porra da verdade! Eu quero saber o que está acontecendo! Quero entender!
-Você que entender? Pois aqui está a sua verdade: meu irmão tem um clube de luta onde as pessoas
são espancadas apenas pela luxúria dos outros. Um lugar onde a pessoa sai praticamente morta! Um
lugar horroroso que gera dinheiro pra ele pelo sofrimento dos outros. Um lugar onde ele matou a
porra do meu namorado que achou ser capaz de lutar lá dentro! E quer saber a melhor parte? Meu
irmão sabe sobre você! Sabe sobre sua família! Sabe que você é o filho do Destruidor e não vai te
deixar em paz até arrumar um jeito de te colocar naquele ringue! Isso é o suficiente pra você?
-Cherry... - tentei me aproximar.
-Fica longe de mim ok? Isso vai ser o melhor antes que tudo vire um inferno!
-E se eu não quiser ficar longe? E se eu quiser enfrentar a porra que for pra ficar com você?
-Você não vai!
-Como não?
-Eu não vou deixar. Eu não vou ficar com você Marcelo!
-Eu sei que você quer!
-Não quero!
Cherry me deixou falando sozinho e foi para o vestiário. Fui atrás dela e antes que ela fechasse a
porta, impedi com o pé entrando e batendo a porta atrás de mim.
-Saí daqui!!!
-NÃO!
A puxei para mim e grudei seu corpo no meu. Colei meus lábios nos dela e ela enfiou os dedos em
meus cabelos e logo em seguida passou as mãos por baixo da minha camiseta a puxando para cima
para tirá-la. Fiz a mesma coisa com a dela e desabotoei sua calça descendo até seus pés. Cherry
abriu meu zíper e colocou a mão dentro da minha cueca segurando minha ereção.
-Ai meu deus...
Cherry gemeu ao me sentir pulsar em sua mão. A empurrei para a parede e passei a mão entre suas
pernas e senti sua umidade. Comecei a fazer movimentos circulares e introduzi um dedo nela e
Cherry fechou os olhos.
-Abre os olhos! Olha pra mim porra! Eu estou aqui!
Ela abriu seus olhos de mel e sorriu.
-Me fode! Logo!!!
Tirei o dedo de dentro dela e levei à minha boca. Peguei a carteira que estava no meu bolso e tirei
um preservativo de dentro dela. Abri a embalagem com os dentes e desenrolei o preservativo no
meu pau. Cherry me olhava faminta e apertava uma perna na outra.
-Vai logo porra! - ela gritou.
-Você que isso? Quer meu pau te virando do avesso?
Ela virou o rosto. Segurei em seu queixo e fiz ela me olhar.
-Vai à merda! - ela falou.
-Fala o que você quer.
-Vai logo!
-Fala o que você quer!!! Quer que eu te foda?
Cherry me olhou com raiva e me deu um tapa na cara. Sorri com isso e ela sorriu de volta.
-Me... - tapa - fode... - tapa -logo... -tapa- Porra!
Sorri mais uma vez pra ela e a virei com tudo a deixando com o rosto grudado na parede. Dei um
tapa em sua bunda gostosa que ficou vermelha na hora. Ela gritou e dei mais um tapa.
-Você gosta disso né marrentinha?
Dei mais um tapa e enfei um dedo nela.
-SIM! Me fode logo por favor!
Tirei o dedo de dentro dela e lambi. Seu sabor era espetacular. Coloquei meu membro na sua
abertura molhada e enfiei com tudo. Cherry gritou e eu tapei sua boca com a mão. Estoquei uma,
duas, três vezes. Suas costas estava colada em meu peito e o suor escorria entre a gente. Senti
Cherry se apertar ao meu redor e saí de dentro dela. Antes que ela começasse a reclamar, a virei
de frente para mim e a levantei pela cintura fazendo ela cruzar as pernas ao meu redor. Cherry
fechou os olhos.
-Abre os olhos Cherry. Olha pra mim.
Ela me olhou e grudou os lábios nos meus, mas eu interrompi o beijo.
-Fala que não me quer mais! Fala agora cherry!
-Eu não quero.
-Fala a verdade agora!
-Eu não posso!
-Pode sim marrentinha.
-Porra! Eu não consigo mais segurar Má.
Cherry e eu terminamos juntos. Ela apoiou a cabeça em meu ombro quando eu dava a última
estocada. Estávamos completamente exaustos e ofegantes. Saí de dentro de Cherry e a coloquei em
uma cadeira. Ela olhou para mim e sorriu. Sorri de volta e dei um beijo nela.
-Eu te odeio Marcelo!
-Eu também marretinha. Eu também..
Falei baixo enquanto pensava no que fazer a seguir.
Depois de nos arrumarmos, Cherry e eu ficamos em silêncio. Eu não sabia o que dizer e muito
menos o que fazer. Fui terminar de arrumar as coisas e Cherry saiu sem ao menos me dizer Tchau.
Naquele momento decidi não dizer mais nada e nem fazer mais nada. Cherry achava que a loucura
de seu irmão poderia me ferrar, mas o que me ferra era ficar longe dela. Se para ficar em paz com
ela eu precisasse lutar no clube de seu irmão, eu lutaria. Ela não sabe que sempre treino com meu
pai, e eu tenho certeza que deixaria todos aqueles filhos da puta no chão, mas eu só faria isso se
Cherry me mostrasse que também quer isso. Que ela me quer em sua vida independente de qualquer
coisa. Eu não teria como lutar por isso sozinho, então amanhã eu teria uma conversa definitiva com
ela de uma vez por todas.
Cheguei atrasado na faculdade e parei a minha moto na mesma hora que Cherry estacionou a dela.
Eu queria ir até ela beijá -la e agarrá-la, mas não fiz nada disso. Tirei meu capacete e olhei para
ela que assim que colocou seus olhos nos meus virou o rosto, pegou a mochila e saiu andando sem
olhar pra trás.
Aquilo me afetou como imaginei que não afetaria. Ela agia como se nada houvesse entre nós e
aquilo acabou comigo. Coloquei o capacete de volta, dei partida na moto e voltei para casa. Fui
direto para a garagem e comecei a bater, chutar e socar tudo o que tinha na frente.
-Hey! Calma aí cara! Você vai se machucar! - meu pai falou atrás de mim.
Eu ignorei o que ele disse e continuei a fazer a mesma coisa. Ele me puxou pelos ombros e tirou a
camiseta. Fiz a mesma coisa e começamos a lutar. Meu pai saía de todos os meus golpes.
-Calma! Você está atacando demais! Assim vai ficar exausto muito rápido!
Diminui meu ritmo e entramos em sincronia. Meu pai começou a falar comigo entre os golpes.
-O que aconteceu?
Fiquei em silêncio.
-Tem a ver com a sua amiga?
-Ela não é nada minha! -tentei acertar três socos em seu rosto, mas sem sucesso.
-Por que não me explica o que aconteceu e quem sabe eu possa te ajudar.
Coloquei minhas mãos nos joelhos tentando respirar fundo. Meu pai se sentou no chão e me chamou
para sentar também.
-Ela disse que não pode ficar comigo porque o irmão dela tem um clube de luta clandestino e que
descobriu que sou seu filho. Disse que ele chamou um namorado dela para o ringue e o cara morreu
lá dentro. Falou que as pessoas vão lá pra ver as pessoas sendo carregadas quase mortas depois de
uma luta e que ela não quer que isso aconteça comigo.
-Ela sabe que você treina desde criança?
-Não.
-Ela tem medo de você se machucar?
-Acho que sim.
-Isso é ridículo!
-Eu sei! Só que ontem ficamos no bar e ela simplesmente foi embora sem falar comigo e hoje de
manhã fingiu não me conhecer.
-Por quê?
-Porque ela não entende que não me importo com esse irmão filho da puta dela.
-Olha... acho que você deve conversar com ela de uma vez por todas. Não adianta só você querer
fazer isso dar certo.
- Eu disso pai... mas é que quando estamos juntos ela parece estar do mesmo jeito que eu sabe?
Como se não existisse problema algum... eu não sei explicar. To parecendo uma maricas.
-Não tá não filho. Você está apaixonado!
-O que??? Claro que não! Eu. .. - olhei para meu pai desesperado - Porra!
Passei a mão no rosto em choque. Meu pai bateu a mão no meu ombro e deu risada.
-Bem vindo ao clube onde as bucetas mandam na gente filho! Vem! Vamos continuar.
Meu pai me puxou e voltamos a lutar até eu não aguentar mais. Minha mãe veio nos chamar pra
almoçar, mas eu estava sem apetite. Continuamos a treinar até que tentei fazer um golpe diferente e
meu pai se defendeu e me acertou um soco no nariz que sangrou na hora.
-PORRA! Você tá bem Marcelo?
-Sim!
Meu pai jogou a camiseta dele em meu rosto e pressionou contra meu nariz. Comecei a rir do
desespero dele.
-Você vai parar de rir quando sua mãe ver isso!
-Ver o que? - ela falou atrás de nós.
-Nada!
Meu pai tentou me esconder atrás de seu tamanho todo, mas minha mãe é tão teimosa e se enfiou no
meio de nós dois.
-AI MEU DEUS! O que você fez com o meu bebê Travis? Por que não seguiu as regras?
Ela começou a esbofetear ele inteiro.
-Foi minha culpa mãe. Eu que quebrei a regra de atacar o rosto mãe.
-Você se bateu sozinho? - ela perguntou chocada.
-Sim! Fui acertar o rosto de pai, mas ele desviou e bati o nariz em seu ombro.
-Ai Meu Deus! Por que você desviou Travis?
-O quê você queria que eu fizesse? Deixasse ele me bater?
-Claro!
-Só em outra vida mulher!
Minha mãe fechou a cara e eu comecei a rir. Ela buscou uma bolsa de gelo e colocou em meu nariz.
Por sorte ele não estava quebrado. Agora eu entendo como os caras não conseguem se safar do
destruidor. E no fundo até senti dó de cada um que apanhou.
Fui mais cedo para o pub para conversar com Fernando em saber se teria problema eu trabalhar
com o rosto machucado daquele jeito. Ele disse que não estava tão feio assim, mas que dessa vez
ele deixaria passar. Depois que expliquei que eu sou filho do Destruidor, ele ficou todo contente e
disse que gostaria muito de conhecê-lo algum dia. Saí de seu escritório e fui para o balcão agilizar
algumas coisas e esperar Cherry chegar para ver como ela agiria depois da palhaçada que ela fez
de manhã. Ainda faltava meia hora para que ela chegasse, e o que me restou a fazer foi esperar.
Cherry chegou e fingiu que não me viu mais uma vez. Tive que me controlar muito pra não tirar
satisfação com ela. Fiquei fazendo meu trabalho quando Gabriel chegou.
-Eai cara? Como tá sua mãe?
-Tá melhor mano! Teve alta! Minha tia tá com ela enquanto estou no trabalho. O que aconteceu com
você? - ele apontou para o meu rosto.
-Ah.. eu tava treinando com o meu pai!
-Ficou feio hein? Ele é o Destruidor por acaso? – ele falou rindo.
-O próprio!
-Nem fudendo!!
-É sério cara! Mas evita espalhar por aí!
-Caralhoooo mano! Então você tem sorte de estar inteiro!
-Tenho mesmo!
Começamos a rir quando Cherry se aproximou e me afastei dela. Fui para o vestiário e ela veio
atrás.
-O que aconteceu com o seu rosto? - ela me olhou preocupada.
-Por que quer saber? Você se importa agora?
-Eu sempre me importei!
-Não sei quando! E quero que se foda também!
Fui passar por ela, mas ela segurou meu braço. Nossos corpos ficaram próximos e a única coisa
que eu queria era fode-la dentro daquele lugar como fiz no dia anterior.
-Por que você está com grosseria?
-Não estou com grosseria Louise. Eu sou assim!
-Agora vai me chamar pelo meu nome?
-Chamo do jeito que eu quiser!
-Ok... você que sabe!
Olhei para baixo e sua mão pequena ainda estava em meu braço.
-Você vai me soltar?
Ela recuou com a mão.
-Achei que poderíamos conversar.
-Ah.. você quer conversar? Que tal começar explicando por que você finge que não me conhece?
-Meu irmão estava no estacionamento.
-Idaí?
-Idaí? Você não ouviu nada do que te contei ontem?
-Ouvi. E não dou a mínima! Isso não é motivo pra não ficarmos juntos!
-Você não entende!
-É você quem não entende! Eu posso ir na porra do clube dele e acabar com cada filho da puta que
aparecer se isso fizer com que a gente fique junto!
-Não é assim simples!
-É assim sim! O problema é que você quer complicar!
-Má..
-Má o caralho! Eu estou aqui na sua frente e essa é a sua chance de dizer o que quer fazer!
-Eu não sei o que fazer porra!
Ela me olhou com lágrimas nos olhos. Segurei seu rosto em suas mãos e beijei seus lábios devagar.
-Eu estou completamente apaixonado por você marrentinha. Eu passo por cima do que precisar pra
gente ficar junto! A questão é se você também quer isso!
Cherry fechou os olhos e lágrimas escorreram em suas bochechas vermelhas. Ela olhou em meus
olhos e falou o que eu mais temia que ela dissesse:
-Me desculpa... mas eu não posso!
Senti uma coisa no meu peito que nunca senti antes. Era uma mistura de dor misturada com raiva.
Me afastei de Cherry e saí do vestiário antes que eu perdesse o controle. Fui para a sala de
Fernando e pedi para ir embora. Inventei que meu nariz doía e ele me dispensou. Expliquei para
Gabriel e ele disse que seguraria as pontas pra mim então voltei para o vestiário e vi que Cherry
estava no mesmo lugar. Ela me olhou com alívio, mas passei por ela e peguei minha mochila em
meu armário. Quando eu estava saindo ela falou:
-Aonde você vai?
Ainda de costas respondi:
-Ficar longe de você!
Joguei a mochila nas costas e saí de lá o quanto antes. Subi na moto e procurei pelo primeiro bar
aberto. Pelo menos hoje Cherry sairia da minha cabeça.
12...
(Louise)
Meu irmão continuou a me atormentar sobre Marcelo. Disse que não queria ele perto de mim, senão
daria um jeito de colocá-lo no ringue com seu lutador mais malvado. Eu não queria ver Marcelo
machucado. Não queria ver ele correr o risco de poder morrer lá dentro. Eu entendo que ele possa
ser um ótimo lutador, mas os lutadores de Nick, não seguem regras. Ele estão lá pra machucar e
torturar. As lutas lá dentro funcionam de forma completamente diferente do que as lutas que vemos
na TV. No clube, eles têm um tempo demarcado no relógio e dentro desse tempo é um "sobreviva
quem puder" e a luta só acaba quando alguém desmaia, morre ou só quando o tempo acaba. Eu
odeio essa vida de Nick, e preciso aguentar mais um pouco pra poder sumir de sua vida.
Quando Marcelo disse que estava apaixonado por mim, meu coração gritava "eu também" , mas eu
não poderia fazer isso com ele. Meu irmão jamais o deixaria em paz. Nunca seria somente uma luta.
Ele sempre ia arrumar um jeito de colocar Marcelo cada vez mais dentro daquele ringue pra nunca
mais sair.
Marcelo é homem mais perfeito que eu já vi e o jeito que ele tem de me olhar como se somente eu
importasse pra ele, fazia meus sentimentos crescerem cada vez mais. Marcelo sabia ser amável,
carinhoso, gentil. E sabia ser bruto, grosso e ogro. E vou contar um segredo: Marcelo ogro é a
coisa mais erótica e sensual que já presenciei em toda a minha vida.
Abrir mão dele não está sendo fácil, mas espero que no futuro tudo isso compense. Espero que
quando eu tiver condições de ir embora daqui, ele segure minha mão e vá comigo.
Estou louca por esse homem.
Marcelo saiu do bar furioso e decepcionado. Eu jamais queria causar isso a ele, mas era inevitável.
Eu queria correr atrás dele e pedir para que ele ficasse, mas isso só pioraria as coisas, e a última
coisa que quero é magoá-lo ainda mais. Eu fiquei dispersa a noite toda. A sorte é que o pub estava
vazio. Na hora de limpar tudo, falei que Gabriel podia ir embora que eu dava um jeito. A mãe dele
precisava dele agora. Ele me agradeceu demais e finalmente fiquei sozinha com meus pensamentos.
Depois que organizei tudo, fechei o pub e fui em direção à minha moto. Olhei para os lados e vi um
par de tênis caído atrás das latas de lixo. Cheguei mais perto e Marcelo estava caído, todo
ensanguentado e desacordado. Chacoalhei seu ombro, mas ele não respondeu. Comecei a entrar em
desespero. Eu não sabia pra quem ligar. Não sabia o que fazer. Peguei meu celular e chamei o
resgate que chegou minutos depois.
Marcelo permaneceu desacordado quando o colocaram na ambulância me deixando ainda mais
desesperada.
-Você é o que dele? - o enfermeiro perguntou.
-Hum. .. sou amiga dele. Trabalho com ele!
-Queira nos acompanhar.
Subi na ambulância rezando para que ele ficasse bem.
Marcelo estava sedado, mas estava bem. Os médicos disseram que provavelmente ele foi
assaltado, pois estava sem a mochila, carteira essas coisas, mas que estava bem e nada foi
quebrado. Ele.estava inconsciente pelo tanto de bebida que ingeriu e passaria a noite em
observação e teria alta na manhã seguinte. Como ele não teria alta imediatamente, peguei um taxi e
fui para a casa dele avisar o que tinha acontecido. A mãe de Marcelo atendeu a porta e ficou
desesperada mesmo depois que eu expliquei que ele estava bem. Travis apareceu e logo em
seguida Manu com Murilo. Travis enfiou todos nós no carro e fomos para o hospital. Só liberaram
duas pessoas para entrar no quarto então Camila e Travis entraram. Manu sentou do meu lado e
segurou minha mão.
-Ele vai ficar bem! - ela falou me consolando.
Ela secou uma lágrima que nem percebi que tinha escorrido.
-Eu terminei com ele hoje. - falei em prantos.
-Por quê? O que aconteceu? - Manu perguntou chocada.
Murilo se aproximou e se sentou ao meu lado me abraçando. Expliquei a história toda a eles que
ficaram chocados, mas disseram a mesma coisa que Marcelo: "Você vai deixar isso afastar vocês?"
Nesse momento comecei a questionar se eu deveria afastar mesmo Marcelo. Comecei a chorar mais
por lembrar da cara de decepção dele. Eu precisava dizer que o amava. Que eu queria ele ao meu
lado independente de qualquer coisa. Me levantei e fui em direção à porta do quarto. Bati na porta
e Camila abriu.
-Posso vê-lo?
Ela saiu do quarto e fechou a porta atrás dela.
-Ele está meio indisposto agora, então é melhor vocês se verem depois.
-Ele não quer me ver!
-Não é isso linda.. ele está meio dopado.
-Ok.
Me afastei dela e fui em direção da janela. O dia já clareava lá fora. Eu não queria ir pra casa. Eu
queria esperar ali até a hora que ele tivesse alta. Camila e Travis disseram para eu ir embora, mas
ir pra casa agora seria muito pior. Eles foram comunicados que não poderia ficar acompanhante e
depois de muito insistirem para eu ir embora e eu negar, foram pra casa descansar. Me ajeitei em
uma cadeira e depois de um tempo, peguei no sono.
Acordei assustada com uma movimentação no quarto à minha frente. Levantei correndo e entrei no
quarto de Marcelo mesmo sem permissão. Ele se debatia na cama e dois enfermeiros tentavam
segurá-lo sem sucesso. Ele era extremamente forte.
-Está tudo bem! Pode soltar ele! Solta!!!
Falei para os enfermeiros e me aproximei de Marcelo. Ele deitou quando me viu e suspirou. Os
enfermeiros saíram do quarto nos deixando a sós. Fui até ele e passei a mão em seus cabelos.
-Como está se sentindo? - perguntei baixinho.
-O que você está fazendo aqui?
-Estava lá fora esperando você acordar.
-Então acho que você já pode ir embora.
-O que? Não vou a lugar nenhum.
-Não quero te trazer problema Louise.
-Você não trás Marcelo! Nunca! Jamais! - Senti lágrimas queimarem meu rosto.
-Que foi? O que aconteceu Cherry?
Marcelo sentou na cama e me abraçou. Afundei o rosto em seu peito musculoso e desabei.
-Eu te amo! Eu te amo tanto! Me desculpa por ser covarde! Eu só não vou aguentar se alguma coisa
acontecer com você! Eu não quero você fora da minha vida! Eu quis você desde a primeira vez que
te vi! Eu tenho tanto medo de Nick fazer algum mal a você! Eu não consigo ficar sem você! Não
consigo! Me desculpe!
Marcelo me afastou de seu corpo e senti um frio instantâneo. Seus braços ao meu redor se tornou o
lugar mais seguro em que eu já havia estado em toda a minha vida. Marcelo tirou o cabelo que
estava em meu rosto e me fez olhar em seus olhos.
-Diz de novo.
-Eu te amo!
-Mais uma vez. - ele falou de olhos fechados.
-Eu te amo, te amo, te amo!
-Você não sabe como ouvir isso saindo de seus lábios carnudos me dá um tesão da porra!
Marcelo grudou seus lábios nos meus sem se importar com seus machucados. Me puxou para seu
colo e passei una perna de cada lado de seu corpo. Como ele vestia somente a camisola do
hospital, sua ereção estava evidente. Passei a mão por cima dela fazendo Marcelo gemer em minha
boca. Ele colocou as mãos por baixo da minha camiseta e massegeou meus mamilos por cima do
sutiã. Eu já estava encharcada somente com seu beijo. Quando eu fui puxar sua camisola pra cima,
escutamos a porta sendo aberta e logo em seguida um "aí meu deus".
Manuela começou a rir e saiu do quarto rapidamente. Marcelo reclamou quando tirei a mão dele.
Era possível ouvir Manuela tentando segurar alguém do lado de fora. Joguei o lençol por cima de
Marcelo, que não resolveu muito em esconder sua ereção. Mandei ele dobrar as pernas pra cima,
assim ninguém teria que dar de cara com aquilo assim que abrisse a porta. Escutei Manuela ainda
falando do lado de fora e abri a porta. Ela me olhou sorrindo e Camila me olhou desconfiada.
-Ele estava no banheiro. - falei sorrindo.
-E qual o problema de eu ver meu bebê pelado?
-O problema é que eu não sou um bebê mãe! Não vou deixar você ficar olhando minha rola!
-Ai que grosseria! Saiba que eu limpei muito essa rola aí!
Todos começamos a rir e Marcelo olhou pra mim.
-Bom.. eu vou indo! Preciso dormir um pouco! Daqui a pouco ele vai ter alta e pode ir pra casa!
-Por que você não espera mais um pouco Cherry? Assim você vai pra nossa casa! Tenho certeza
que Marcelo ficaria muito feliz! - Travis falou diretamente pra mim.
-Sim! Ele ficaria muitooooo feliz! - Manu falou rindo.
-E bota feliz nisso!- Murilo riu e apontou para as pernas de Marcelo que estavam esticadas quase
mostrando seu negócio acordado.
A mãe de Marcelo cobrou o rosto com as mãos e eu fiz a mesma coisa!
-Nós não queríamos atrapalhar! - ela falou envergonhada.
-Não atrapalhou nada Camila!
-Atrapalhou sim! - Marcelo reclamou.
-Esse é meu garoto! - Travis falou orgulhoso.
-Isso é um hospital Travis! - Camila falou dando bronca em Travis.
-Idaí? Uma vez eu te fiz gozar no avião e você não reclamou!
-No avião? Jura? - Manu perguntou curiosa.
-Travis, será que você poderia fazer a gentileza de não ficar falando da nossa intimidade para as
crianças?
-Só estou dizendo que o lugar não se importa se..
Camila tapou a boca de Travis com a mão e todos nós demos risada. Eles eram o casal mais
perfeito que eu já vi. Uma enfermeira entrou no quarto e deu a maior bronca na gente por estarmos
em cinco visitantes sendo que só poderiam ficar dois. Eu, Manu e Murilo saímos do quarto e fomos
nos sentar na sala de espera. Assim que eu sentei, Murilo se sentou de um lado e Manu do outro. Os
dois ficavam me olhando com expectativa.
-O que foi? - perguntei rindo.
-Quer dizer que vocês se acertaram? - Manu perguntou animada.
-Não sei... acho que sim. Não falamos exatamente sobre isso! - comecei a rir e tapei o rosto com as
mãos.
-Eu acho que aquilo é uma reconciliação! - Murilo falou rindo.
-É... deve ser... mas estou tão apavorada que vocês não fazem idéia!
-Você acha que seu irmão vai tentar fazer algum mal à ele? - Murilo perguntou sério.
-Eu tenho certeza! E vai dar um jeito de colocar vocês na história! Eu não posso deixar isso
acontecer! Acho que foi um erro eu ter me acertado com Marcelo. Nick vai fazer da vida de vocês
um inferno! Eu não quero isso!
-Hey... fica calma! Vamos dar um jeito tá bom? Só não termine com ele de novo! Pode acontecer
pior que isso a ele. -Manu apontou para a porta do quarto.
-Eu só não quero ver algo de ruim acontecer com vocês, e nem viver com mais esse peso na minha
consciência. Dói demais.
-Fica tranquila que nada vai acontecer! Nós vamos dar um jeito! Você é da família agora!
-Eu nunca tive uma família de verdade!
Fiquei emocionada com a demonstração de carinho. Manu e Murilo me abraçaram e comecei a
chorar. Não de tristeza, mas sim de alegria por ser tão bem cuidada por pessoas que conheci a uma
semana. Eu estava com as mãos no rosto e senti alguém segurando meu joelho. Marcelo estava
agachado na minha frente e secou minha lágrima.
-Vai ficar tudo nem marrentinha! Nós vamos dar um jeito tá bem?
-Tá bom!
-Agora você pode tirar suas mãos pegajosas de cima dela Murilo!
-Nem fudendo! Tô bem aqui! - Murilo respondeu.
Manu estava com a cabeça apoiada em meu ombro esquerdo e Murilo no direito, mas os dois
estavam abraçados à minha cintura. Marcelo ficou bravo por Murilo estar daquela forma comigo e
começou a afastar os dois de mim.
-Calma cara! Só estávamos sendo solidários! - Murilo respondeu com um sorriso enorme na cara.
-Não precisa mais! Obrigado. - Marcelo respondeu me puxando para que eu levantasse.
Ele passou o braço ao redor do meu ombro e escutamos Travis falando atrás de nós :
-Esse é o meu garoto!
Todos começamos a rir e nessa hora percebi que foi a melhor escolha da minha vida ter me
acertado com Marcelo.
13...
Chegamos em casa e levei Cherry direto para o quarto. Ela dormiu o caminho todo em meu colo.
Ela estava completamente exausta de ter passado a madrugada toda no hospital. Ajudei ela tirar sua
calça jeans e a cobri com o edredon. Tirei a minha roupa ficando só de cueca e deitei ao seu lado
acariciando seus cabelos. Ela me abraçou e apoiou a cabeça em meu peito e aquela sensação era a
melhor do mundo. Algum tempo depois ela adormeceu e virou para o outro lado abraçando o
travesseiro. Escutei um barulho de mensagem e procurei por sua mochila. Fui até ela e procurei
pelo celular que estava no bolso de fora. Tirei ele de dentro e era um mensagem de Nick. Não
aguentei de curiosidade e abri a mensagem. Fiquei morrendo ódio assim que li:
"Espero que você esteja ciente que está colocando seu namoradinho e a família de ouro dele
dentro do meu ringue e me dando muito dinheiro"
Como um irmão era capaz de fazer isso com a irmã mais nova? Como ele conseguia ser tão mau
caráter e passar por cima do bem estar dela por causa de dinheiro? Olhei para ela toda frágil e
pequena dormindo em minha cama. Apaguei a mensagem e fui até Cherry. Deitei encostado nela que
acordou e me olhou preocupada.
-Você está bem Má? Precisa de algum coisa?
Neguei com cabeça e ela ficou aliviada.
-Preciso de você Cherry! Faz amor comigo!
Assim que terminei a última palavra ela grudou seus lábios nos meus e entrelaçou os dedos em
meus cabelos. A puxei ainda mais para mim e ela se sentou em cima de mim. Tirei sua camiseta,
seu sutiã e segurei seus seios nas minhas mãos. Cherry mordia o lábio me deixando ainda mais
louco. Ela se sentou em minhas pernas e começou a beijar meu pescoço, meu peito, minha barriga.
Segurou o elástico da minha cueca e a puxou para baixo deixando minha ereção livre. Ela pegou
meu membro com as mãos e começou a me estimular. Cherry abaixou e com seus lábios carnudos
deu um beijo em minha extremidade já molhada de pré ejaculação. Ela lambeu todo o líquido que
tinha ali e sorriu pra mim. Com uma das mãos ela começou a massagear as minhas bolas e colocou
meu membro em sua boca. No início ela fazia movimentos leves, mas com o tempo ela foi
aumentando o ritmo e o enfiou até sua garganta. Em.momento algum ela tirava os olhos de mim.
Cherry repetiu o movimento algumas vezes e tive que afastá-la, senão eu gozaria em sua boca. Ela
sorriu mais uma vez e veio para cima de mim. Empurrei sua calcinha para o lado e senti sua
excitação. Apontei para o criado mudo onde ficavam as camisinha e ela simplesmente negou com a
cabeça, segurou meu membro para com uma mão e com a outra ela empurrou a calcinha para o
lado. Cherry foi se sentando devagar em minha ereção e mordeu os lábios. Quando eu estava todo
dentro dela, tive que pensar em Renan pelado diversas vez pra não gozar com a imagem a minha
frente.
-Você é apertada demais!
-Você que é grande demais! - ela sussurrou enquanto começava a se mover.
-Eu quero te rasgar no meio! Caralho! - coloquei a mão no rosto.
Cherry pegou minha mão direita e levou meu dedo do meio à sua boca e chupou ele inteiro e depois
o levou à sua carne protuberânte. Comecei a fazer movimentos circulares e Cherry foi aumentando
o ritmo. Ela me cavalgava com um sorriso e mordendo os lábios enquanto se apoiava com as mãos
em meu peito. Ela jogou a cabeça para trás e me engoliu ainda mais. Ela diminuiu o ritmo e falou
baixo pra mim:
-Chegou a hora de você me fuder Marcelo!
Passei um braço ao redor de sua cintura e me sentei girando o corpo e deitando em cima dela. Abri
ainda mais suas pernas e estoquei com força do jeito que ela gosta. Ela tapou a boca para esconder
seus gritos de prazer então eu estoquei com mais rapidez e força e senti ela se apertando ao meu
redor. Grudei minha boca na dela e aumentei ainda mais o ritmo.
-Goza no meu pau Cherry... goza!
Ela mordeu meu lábio e soltou um gemido que me faria gozar mais uma vez. Eu me esparramei nela
e fui diminuindo os movimentos aos poucos conforme suas contrações iam diminuindo. Ela me
olhou e sorriu. Dei mais um beijo nela e saí devagar de dentro dela. Ela virou de lado pra mim
sussurrou:
-É normal eu te querer mais uma vez?
Comecei a rir.
-Sim.. é sim...
-Bom! Por que eu quero sentir você em mim de novo! Quero sentir você me beijar, me acariciar,
meter em mim e me levar à loucura mais uma vez...
Cherry não tirava os olhos dos meus enquanto dizia aquelas coisas. Meu colega começou a
endurecer mais uma vez. Cherry me beijou e colocou dois dedos seus em minha boca me fazendo
chupa-los. Ela os levou para o meio de suas pernas e começou a se acariciar. Meu membro já tinha
acordado com força máxima.
-Eu quero sentir você em todas as partes possíveis Má... sabe?
Concordei com a cabeça.
Ela se acariciava ainda mais e gemeu baixinho. Levantei e abri suas pernas e fiz o que ela estava
fazendo. Peguei sua mão que antes estava entre suas pernas e lambi seus dedos úmidos. Os olhos de
Cherry ficavam completamente negros quando eu fazia isso. Me agachei e enfiei meu membro até
seu limite. Cherry arfou e sorriu em seguida. Segurei suas mãos em cima de sua cabeça e meti com
força. Ela gritou e mordeu o lábio para se conter.
-Eu vou fuder cada pedacinho de você marretinha! Sua boca, sua boceta, sua bunda. Cada parte do
seu corpo vai ser só minha e do meu pau! Entendeu?
-Mal posso esperar por isso!
Ela me olhou em desafio e aquilo me fez gozar imediatamente. Ela gozou em seguida e me deu um
tapa na cara.
-Não era pra ter terminado ainda!
-Eu posso te fuder mais marretinha!
-Quero só ver!
Cherry me empurrou fazendo eu sair de dentro dela. Ela saiu da cama e foi direto para o banheiro e
na porta ela ainda falou:
-Quero ver se consegue me fuder mais uma vez!
Levantei louco da vida e constatei que Cherry seria a minha perdição!
Acordei com alguém batendo na porta. Manu entrou com uma bandeja cheia de coisas gostosas.
Cherry dormia profundamente ao meu lado. Começamos a cochichar quando Manu colocou a
bandeja em cima do criado mudo.
-Acho que você deveria acordá-la para que ela coma alguma coisa!
-Ela está muito cansada!
-Imagino! - Manu falou rindo.
-O qu?
-Meu quarto é do lado do seu Má!
-Idaí?
-Idaí que seu quarto não tem aquelas espumas que abafam o som sabe?
-Porra!
-Pois é!
-Eu tentei não fazer barulho.
-Certo!
Seguramos a risada e Manu me chamou para ir ao quarto dela. Assim que sentamos em sua cama
ela começou a falar.
-Ela gosta muito de você Má. Ela passou a noite toda sentada na cadeira da sala de espera. Ela
chorou muito com medo de que algo acontecesse com você. Isso tudo está sendo muito difícil pra
ela. Tenta ter paciência. Ela só está tentando poupar quem ela gosta.
-Eu sei Manu. .. mas porra! É muito difícil não poder beijar e tocar ela a hora que eu quiser!
-Pra ela também sabia? Acho que nunca vi duas pessoas se apaixonarem tão rápido como vocês
dois! Vocês nasceram um pro outro.
-Eu sou louco por ela! Puta que pariu Manu!
-Ela também é.
-Você acha que o irmão dela vai fazer alguma coisa contra nós?
-Com certeza! Mas você vai enfrentar o que vier.
-Eu vou! Não vou deixar nada de ruim acontecer com ela e com vocês!
-Eu sei! Te amo Má! Pode contar comigo ok?
-Também te acho chatonilda!
-Agora vai lá alimentar a Cherry porque ontem você tirou toda a energia dela!
-Foi ela que fez aquilo tudo!
-Aham! Ela te estuprou!
-Claro que não! Mas ela é pior que eu Manu! Meu pau tá até esfolado!
-Eu sei Má! Eu ouvi todo o momento de vocês! – Manu falou rindo.
-Foi mal!
-Tudo bem! Graças a Deus inventaram os fones de ouvido!
-Amém!
Demos risada e dei um beijo em sua testa. Voltei para o meu quarto e Cherry ainda dormia na
mesma posição. Mexi em seu braço e ela acordou e me olhou sorrindo.
-Se você não tivesse me esfolado ontem eu te comeria agora!
-Eu não fiz nada!
Ela riu e afundei meu rosto em seu pescoço. Ela fez cafuné em meus cabelos e riu quando cheirei
seu pescoço. Fiz Cherry comer bastante e pedi que ela ficasse comigo o dia todo para que fôssemos
trabalhar juntos. Ela pensou por um tempo e por fim disse tudo bem.
Passamos o resto da tarde vendo TV, namorando, gozando e rindo. Eu sempre fui contra
relacionamentos, mas se eu soubesse que era assim, teria aberto mão da promiscuidade faz tempo.
Olhei para cherry mais uma vez e constatei que nada seria melhor do que aquilo.
14...
Duas semanas se passaram e tudo estava perfeito. Cherry dormia em minha casa quase todos os
dias e comecei a pensar muito em alugar algum lugar para que ela fosse morar comigo de uma vez
por todas. Meu pai encontrou minha moto estacionada na frente de um bar, onde provavelmente eu
enchi a cara aquele dia. E eu estava pensando em vendê-la para termos uma estabilidade por um
tempo, mesmo com o nosso salário.
Nick estava em silêncio e isso apavorava Cherry. Ela disse que provavelmente ele estava tramando
alguma coisa, mas pedi para que ela não pensasse nisso e que tudo que acontecesse, eu iria
resolver.
Depois que saí da faculdade, não encontrei Cherry me esperando no estacionamento como ela fazia
todos os dias. Liguei em seu celular e caiu na caixa postal. Fiquei quase uma hora esperando por
ela que não apareceu então comecei a ficar desesperado. Fui para casa e ela não estava lá também.
Hoje era seu dia de folga no pub e eu queria me socar a cara por não ter pego o endereço de
Cherry. Passei a noite procurando por ela que não apareceu. Murilo e Manu me ajudaram a
procurá-la pela cidade, mas sem sucesso. Ela simplesmente havia evaporado. Decidi ir mais cedo
para o bar com a esperança dela aparecer por lá, mas ela não veio. Quando estava quase fechando
o bar, um homem todo tatuado entrou com mais dois caras. Eles olharam ao redor e se sentaram nas
cadeiras vagas. O tatuado veio até mim no balcão. Eu não lembrava se o conhecia de algum lugar,
mas assim que ele abriu a boca um mau pressentimento correu em minhas veias.
-Quer dizer então que você é o filho do Destruidor!
Ao abrir a boca cheguei a conclusão de que aquele era Nick, e que com certeza ele estava com
cherry. Meu corpo começou a tremer de raiva.
-Cadê Louise?
-Calma cara! Vamos chegar lá!
-O que você quer?
-Eu quero você no meu ringue! Hoje! Ou a pobre Louise vai ser muito prejudicada.
-Você não teria coragem!
-Teria sim amigo! Você vale muita grana! E só pra te explicar melhor, eles dois estão na fila para
tê-la!
A raiva circulou meu corpo. Agarrei seu gola e falei com o rosto grudado no dele.
-Não se atreva a por as mãos nela seu filho da puta!
Ele soltou minha mão e limpou o rosto.
-Isso vai depender de você! Aqui está o endereço! As lutas vão começar daqui a uma hora! Melhor
não se atrasar! A fila está imensa!
Ele cochichou a última parte me entregando um cartão. Nick deu risada e saiu do bar com seus
guarda costas. Eu queria ir até ele e quebrá-lo todinho, mas eu tinha que tirar Cherry dessa antes de
qualquer coisa! Liguei para Murilo e expliquei o que estava acontecendo. Ele disse que avisaria
meu pai e que eles dariam um jeito de acabar com Nick de uma vez por todas.
Pedi à Gabriel para ir embora e ele disse que eu poderia ir tranquilo. Peguei a moto e corri feito
um louco até o endereço que Nick me passou. O clube era em uma rua bem isolada, mas no meio de
várias casas. Fui até o número indicado no cartão e somente uma porta preta era o acesso para
aquele lugar. Na porta estava pichado: LIVE OR DIE.
Acionei o GPS do meu celular e passei pela porta em busca da minha Cherry.
Passei pela porta e fiquei chocado com o tamanho daquele lugar. Era como se fosse um galpão
imenso com um ringue bem no meio e arquibancadas ao redor. Já estava rolando uma luta e as
pessoas gritavam coisas absurdas. Olhei ao redor procurando por Cherry, mas quem eu vi primeiro
foi um dos caras que foram no pub com Nick. Assim que ele me viu, falou alguma coisa por um
fone de ouvido e veio em minha direção. Disse que Nick me aguardava no escritório. Seguimos por
um corredor escuro e no final dele havia uma porta e dentro dela, Nick estava atrás de uma mesa,
com os pés apoiados na madeira e com um sorriso na cara. Seu gapanga me empurrou para dentro e
fechou a porta atrás de mim. Olhei ao redor e avistei Cherry sentada em um sofá no canto da sala.
Fui correndo até ela que permaneceu olhando para o chão. Levantei seu rosto pelo queixo e a fiz
olhar para mim.
-Está tudo bem? Alguém te machucou?
Ela negou com a cabeça e meu coração apertou por não saber se essa resposta era pra primeira ou
para a segunda pergunta. Nick veio até mim edeu tapinhas em meu ombro.
-Vocês têm cinco minutos para conversar antes da sua luta! Você sabe o que está em jogo!
Nick saiu da sala e assim que fechou a porta, Cherry começou a chorar. A envolvi em meus braços
enquanto ela soluçava.
-Você tem que ir embora Má! Você não pode lutar! Ele nunca vai te deixar em paz!
-Eu não vou à lugar nenhum sem você marrentinha! Eu posso lutar com quantos cara forem preciso,
mas eu não vou permitir que nenhum filho da puta coloque as mãos em você!
-Você não entende! Isso nunca vai ter fim!
-Vai sim! Meu pai vai dar um jeito nisso!
-Ele vai enfiar seu pai aqui dentro Marcelo! Você não entende!!
-Entendo sim e eu pedindo que confie em mim!
Cherry olhou em meus olhos e colou seus lábios nos meus.
-Por favor... desiste dessa loucura. .. - ela falou entre os beijos.
-Nunca vou desistir de você Cherry! Você é minha e vai ser pra sempre.
-Eu não quero ficar sem você!
-Você não vai! Vai dar tudo certo! Confie em mim!
-Eu confio!
-Bom!
Dei mais um beijo nela quando Nick abriu a porta e veio até nós. Abracei Cherry que lutava contra
as lágrimas.
-O que foi irmã? Está com medo do seu namoradinho perder?
-Vai à merda Nick! – cherry falou ríspida.
-Isso vai depender se seu namorado vai me dar muito ou pouco dinheiro.
Cherry apertou ainda mais meu braço, e a minha vontade de quebrar a cara de Nick toda ficou
imensa. Os capangas de Nick entraram na sala e me separaram de Cherry. Nick puxou Cherry pelo
braço e a entregou a outro cara que entrou na sala. Nick veio até mim sorrindo.
-Chegou a hora da sua luta. Não faça Louise sofre mais com isso!
-Se eu ganhar ela fica livre?
-Isso eu ainda vou pensar. Talvez hoje sim porque sou homem de palavra, mas não sei por quanto
tempo! Sabe por quê? Você é filho do destruidor e não faz idéia do tanto de grana que eu já
consegui só com o seu nome!
-Se isso tudo é por grana, eu te dou dinheiro.
-Claro que é por grana! Você achou que eu ia perder a chance ao saber que minha irmãzinha estava
apaixonada pelo filho do Destruidor? Nunca! E tem outra coisa, você deveria agradecer de estar
vivo ainda, eu não deixo Louise namorar. Ela é minha irmã mais nova e tenho ciúmes!
-Você quer jogar ela na mão de um monte de cara!
-Ah, mas isso são ossos do ofício! Somente profissional!
-Você é um filho da puta!
-Pior que sou mesmo! Mas fazer o que? Não tive sorte de ser um filhinho de papai lutador como
você!
-Quanto você quer pra deixar, Louise e minha família em paz?
-Você seria capaz de pagar por isso?
-Com certeza! Quanto você quer pra sumir daqui de uma vez por todas e esquecer que um dia nos
conhecemos?
-Não acho que você tenha o que eu quero!
-Quanto porra??
-Um milhão de reais e uma luta sua contra o seu pai!
-Você é louco?
-Louco é você de achar que vai sair bem nessa história!
-Se eu fizer o que você quer, você vai embora no mesmo dia?!
-Ninguém nunca mais vai saber de mim!
-Se você aparecer mais uma vez eu te mato!
-Isso se você sobreviver à sua luta! E vai logo porque estou perdendo a porra da minha paciência
com você!
Nick bateu na porta e seus capangas entraram e me carregaram para outro corredor onde era a
entrada do ringue. Olhei ao redor à procura de Cherry, mas não a vi. Um dos "seguranças" do lugar
disse que meu nome seria chamado e que era para eu entrar no ringue. Tirei a minha camiseta, as
coisas do meu bolso e coloquei tudo no canto do corredor. O nome do meu adversário foi chamado
e em seguida o meu. Luzes apontavam em meu rosto como nas lutas de meu pai. Entrei no ringue e
procurei ao redor por algum rosto conhecido. Olhei discretamente e avistei meu pai e Murilo no
meio da multidão. Meu pai usava moletom e boné, mas se alguém o olhasse com calma saberia
quem era ele. Olhei para Nick para que eles soubessem quem ele era. Murilo assentiu com a cabeça
me deixando mais aliviado.
A luta começou e contatei que meu adversário não sabia lutar. Ele era muito advgressivo, mas não
tinha golpes firmes como um bom lutador. Nunca fiquei tão feliz por ter treinado com meu pai por
todos esses anos. O cara vinha pra cima de mim com tudo, mas eu consegui desviar de quase todos
seus golpes. Ele lutava sujo e era exatamente como Cherry falou. Sem regras. Um tempo depois eu
já estava exausto e o cara ainda mais. Olhei no cronômetro que foi ligado no início da luta e
faltavam apenas 5 minutos de luta. Dei tudo de mim. Eu jamais deixaria homem algum encostar em
Cherry! Eu morreria tentando impedir que algo assim acontecesse! Acertei vários socos em seu
rosto e finalmente o cara caiu no chão e o tempo parou.
Eu venci!
As pessoas gritavam enlouquecidas e eu só procurava por Cherry. Avistei meu pai indo atrás de
Nick e fui correndo pelos corredores para fazer o mesmo trajeto, mas os seguranças não
permitiram. Gritei, xinguei e no fim me carregaram para uma sala vazia e me trancaram lá dentro.
Disseram que eu só sairia de lá com ordens de Nick. O desespero tomou conta de mim. Eu não
sabia onde Cherry estava. Não sabia o que poderia acontecer com meu pai e muito menos com
Murilo.
A sala onde eu estava não tinha janelas, não tinha nada para se sentar. Era somente o chão e as
paredes pretas e com acústica isolada como estúdios em que bandas tocam. A porta não tinha
maçaneta do lado de dentro. Eu estava literalmente enclausurado e incapacitado de fazer qualquer
coisa. Me sentei no chão rezando para que isso tudo terminasse logo e para que todos ficassem
bem.
15...
(Travis)
Eu não conseguia entender como um cara conseguia ser tão filho da puta! Ele era capaz de jogar sua
própria irmã para homens abusarem dela. Ele era um completo psicopata. Quando vi ele andando
para um corredor escuro, não pensei duas vezes antes de ir atrás dele. Aproveitei a deixa que tive
quando os seguranças tentavam conter a multidão enlouquecida pela vitória de Marcelo. Assim que
Nick entrou em uma sala fui atrás e abri a porta com tudo antes que ele pedisse ajuda. O prensei na
parede segurando as suas mãos e o desgraçado começou a rir.
-Ora ora ora... não pensei que viesse hoje! Se soubesse que sua ilustre visita viria, teria preparado
uma recepção melhor.
-O que você quer pra deixar minha família e Cherry em paz?
-Cherry? Vocês deram até um nome novo a ela?
-Responde a porra da pergunta!
-Eu já falei pro seu filhinho! Um milhão e uma luta de vocês dois e eu sumo! Ele topou!
-E quem garante que você vai cumprir com a minha condição??
-Eu sou um homem de palavra! Ahh... e mais um detalhe. Você tem que vencer do pirralho!
-Ele luta muito bem!
-Mas você luta mais!
-Tem que ser uma luta justa!
-Aqui não existe essa coisa de justa!
-Quinhentos mil, duas lutas minha, sem Marcelo.
-Um milhão e uma luta de vocês dois! Vai ser um espetáculo! Até deixo para o melhor vencer!
-Ele te dou a luta, e quando você anunciar que o clube vai sair da cidade de dou o dinheiro!
-Você me dá a luta, metade da grana e depois de anunciar você dá o resto! Eu sumo e entrego a
"Cherry"!
-Amanhã!
-Fechado!
-Agora traga os dois aqui! Não é pra nenhum dos seus seguranças entrar aqui!
-Seu pedido é uma ordem!
O filho da puta tirou o celular do bolso, digitou uma mensagem e sorriu pra mim. Um tempo depois
bateram na porta. Marcelo entrou sendo empurrado com Cherry em seguida. Assim que Marcelo me
viu e viu Cherry, ficou nitidamente aliviado.
-Os dois vão comigo! - falei indo em direção à porta.
-Ela fica! Vou cuidar dela! Palavra de escoteiro!
-Ela vai comigo!
-Ela fica ou desfazemos o trato agora!
-Se você tocar em um fio de cabelo dela, você é uma cara morto!
-Calma cara! Sou do bem!
-Amanhã resolvemos isso de una vez por todas!
-Aguardo vocês aqui!
Nick falou e puxou Cherry para seus braços. Ela chorava e olhava para nós desesperada. Eu tinha
que acabar com a raça desse filho da puta! Marcelo não queria sair da sala e tive que puxá-lo de lá.
Ao sairmos do prédio, Murilo nos esperava do lado de fora com o carro. Entramos no carro e
Marcelo começou a chorar.
-Filho! Se acalma! Nós vamos conseguir dar um jeito nisso! Olha pra mim!
Marcelo me olhou secou as lágrimas.
-Eu vou dar um jeito nisso! Só que agora você precisa ser forte! Tem que estar bem pra amanhã!
-Tá bom!
-Vai dar tudo certo irmão! - Murilo falou tentando tranquilizar Marcelo.
Marcelo ficou mais calmo e peguei meu celular e liguei para a pessoa que me ajudou muito há uns
anos atrás.
-Caveira? Sou eu! Tenho um serviço pra você!
16...
Meu pai ligou para um cara que se chama Caveira que já ajudou ele minha mãe no passado. Murilo
e ele disseram que tudo ficaria bem e era o que eu esperava mesmo. Ver Cherry daquele jeito nos
braços daquele filho da puta, me fazia querer voltar lá pra acabar com a vida dele.
Meu pai explicou a conversa que eles tiveram e disse que eu teria que lutar com ele. Ele falou para
que eu batesse nele com toda a raiva e amor por Cherry. Teríamos que dar um fim convincente à
luta, senão Nick desconfiaria. Eu não queria fazer nada disso. Queria ficar em paz.
Não consegui dormir absolutamente nada durante o resto da madrugada.. A imagem de Cherry
chorando não saía da cabeça. Eu queria pega-la no colo e cuidar dela até ficar velhinho. Levantei
quando ouvi Manu saindo de seu quarto. Abri a porta do meu e ela levou um susto.
-Meu Deus! O que aconteceu com o seu rosto?
Expliquei tudo o que aconteceu e ela ficou completamente chocada. Disse que ficaria tudo bem e
que me pai daria um jeito. "Ele sempre dá" ela disse. Desci com ela para comer alguma coisa e
minha mãe começou a chorar quando me viu.
-Mãe. .. eu tô bem!
-Travis você tem que acabar com esse cara! - ela falou choramingando.
Eu a abracei para que ela se acalmasse.
-Eu vou! - ele respondeu.
-Liga pro Caveira!
-Já liguei princesa! Ele já está sabendo de tudo! Pedi pro meu advogado puxar a ficha dele também.
Vamos encontrar um jeito de ferrar com ele!
-Por que esse filho da puta tá fazendo isso? Não consigo entender! - minha mãe perguntou.
-Eu não sei mãe... não sei...
Manu e Murilo a abraçaram também. Meu pai se aproximou e passou o braço ao redor da gente.
Ficamos um tempo daquela forma quando o celular do meu pai tocou. Ele se afastou da gente e foi
atender. Ficamos um tempo em silêncio na cozinha quando meu pai voltou.
-Era o advogado. Ele pediu para eu ir no escritório dele.
-Eu vou com você!
-Eu também! - Murilo disse.
-Nós queremos ir também! -Manu falou.
-Não! Vocês vão ficar aqui! Manu não é pra ir pra faculdade! Entendeu?
-Tá bom!
-Cami... chama Renan pra ficar aqui com vocês! Não é pra vocês saírem de casa até a gente voltar!
-Tá bom Trav!
-Vamos meninos! O tempo está sendo precioso agora!
Fomos para o carro de meu pai. Ele estava sério e disse que dependendo do que o advogado
descobriu, teríamos Nick em nossas mãos.
O advogado disse que a ficha de Nick era imensa. Ele tinha inúmeras acusações e processos. Na
sua ficha criminal tinha furtos, roubos, assédio sexual, estelionato e agressão. Eu não fazia idéia de
como ele ainda estava solto. Acho que Cherry não sabia de metade disso. Meu pai pegou duas
cópias da ficha e pediu que um fosse enviada para seu email também. Ele precisava de todos as
provas possíveis.
Voltamos para casa e meu pai entrou em contato com Caveira mais uma vez. Ele disse que já estava
vendo o que seria feito e que entraria em contato quando tivesse uma resposta. Liguei para Gabriel
e disse que não poderia ir trabalhar pois estava com Cherry doente. Ele disse que eu poderia ficar
tranquilo que avisaria Fernando e se precisasse chamava alguém para ajudá-lo no pub.
Renan não pôde ir pra nossa casa, pois estava fora da cidade, mas as duas estavam bem quando
chegamos. Explicamos e mostramos a ficha criminal de Nick e minha mãe ficou chocada. Ela dizia
"coitada da Cherry" e "uma menina tão bonita vivendo com um monstro desse". Eu preferi nem
pensar em como ela estaria agora é no que poderia estar acontecendo. A única coisa que eu poderia
fazer era rezar e aguardar a hora de nos encontrarmos com Nick mais uma vez.
17...
A hora de irmos ao clube chegou. Caveira nos esperava na porta de casa e deixou alguns de seus
capangas vigiando a casa para garantir a segurança de minha mãe e de Manu. Minha mãe disse que
ele tinha sido um grande amigo no passado e que cuidou muito bem dela quando eles precisaram.
Meu pai pediu que Murilo levasse o dinheiro e que ficasse perto dos caras de caveira enquanto
teríamos a luta. Meu pai teria que dar metade da grana à Nick antes da luta e depois que ele
anunciasse a mudança de cidade do clube. Os capangas de caveira, ficariam espalhados pelo clube.
Eram mais ou menos uns nove caras. Meu pai disse que era para eu seguir com o plano e que era
para eu bater nele até o tempo acabar. Ele teria que revidar algumas vezes, mas disse que pegaria
leve. Caveira nos deixou na porta do clube e foi dar uma volta de carro. Meu pai entrou com uma
maleta com metade do dinheiro dentro como o combinado. Batemos na porta e quem nos recebeu
foi o próprio Nick. Ele sorriu para a gente e pediu que o acompanhasse até seu escritório. Cherry
estava lá dentro e correu até mim ao me ver. Eu a abracei, beijei e disse mil vezes o quanto a
amava.
-O amor é lindo não é mesmo? - Nick falou rindo.
-Não faça isso Marcelo! Por favor! Desista dessa idéia maluca!- Cherry falou em meu ouvido.
-Nunca marretinha!
Nick se sentou em sua cadeira e colocou os pés em cima da mesa e olhou para o meu pai sorrindo.
-Trouxe o que pedi?
-Tá aqui! - meu pai levantou a maleta.
-Me dá!
Dessa vez quem riu foi meu pai.
-Claro, mas tenho uma condição antes!
-Qual? - Nick falou nervoso.
-Ela vai ser liberada agora!
-Você está drogado ou algo assim? – Nick começou a ficar bravo.
-Não! Estou dizendo como as coisas vão funcionar a partir de agora!
-Eu que mando aqui!
-Não mais! Agora quem está mandando sou eu! Eu te dou o dinheiro, você libera ela, nós lutamos,
você anuncia o fim do clube, te dou o testo do dinheiro e você some! Simples!
-E se eu não fizer o que está falando?
-Aí meu advogado vai trazer a polícia até aqui e eles irão amar puxar sua ficha criminal.
-Não tem nada para eles verem!
-Bom... acho que tem sim!
Meu pai tirou o papel do bolso e jogou em cima de Nick que ficou pálido ao ler.
-Onde você conseguiu isso?
-Não é da sua conta Nick! Ou devo dizer Thiago?
Nick encarou meu pai com o rosto fervendo de raiva.
-Você acha que vai se safar dessa seu filho da puta? Ninguém me trai! Ninguém!
Nick foi com tudo para cima de meu pai que o interrompeu com um soco no nariz. Nick caiu no
chão e sacou uma arma do bolso e apontou para o meu pai.
-Marcelo, tire Cherry daqui agora!
Puxei Cherry pelo braço e a escondi atrás de mim. Nick viu meu movimento, apontou para nós e
apertou o gatilho. Meu pai deu um chute na sua arma e pisou em sua mão no chão onde foi possível
ouvir o barulho dos ossos quebrando. Meu pai tirou o celular do bolso e deu o único sinal
combinado.
-Agora!
Segundos depois alguns capangas de caveira invadiram o escritório. Era possível ouvir tiros
depois do corredor. Meu pai se afastou de Nick que foi arrastado por caveira até a parede. Meu pai
chutava e socava Nick como se ele fosse um saco de pancadas. Cherry me puxou para o canto da
sala onde era mais seguro. Comecei a sentir um ardor na barriga e minha visão começou a ficar em
câmera lenta.
-Cherry. ..
-Oi amor!
Ela ainda estava trás de mim. Eu ainda a estava ainda protegendo com o corpo, mas comecei a
sentir meu corpo ficando fraco.
-Cherry... não estou me sentindo bem..
Ela me virou de frente para ela e arregalou os olhos ao olhar para baixo. Olhei para onde ela
estava olhando e vi minha camiseta branca com um círculo enorme de sangue.
-Você está ferido Marcelo! TRAVIS!!! TRAVIS!!! Marcelo está ferido!
Cherry me ajudou a sentar no chão. Eu sentia suor escorrendo em minha testa. Vi meu pai correndo
em câmera lenta em minha direção. Por que ele corria tão esquisito? Olhei para Cherry e disse que
a amava. Ela começou a chorar e dizia para eu ficar com ela. Não conseguia entender porque ela
dizia aquilo. Olhei ao redor e começaram a apagar as luzes. Por que estavam apagando as luzes?
Tentei perguntar a Cherry, mas o cansaço estava muito grande. Fechei os olhos só um pouquinho e
finalmente peguei no sono para conseguir descansar.
18...
(Travis)
Quando Cherry me chamou gritando que Marcelo estava ferido eu entrei em pânico. Ele estava
branco e suando e sua camiseta estava com sangue na região da barriga. Liguei para Murilo e pedi
que ele viesse com o carro o mais rápido possível. Peguei Marcelo no colo e dei uma única ordem
à caveira.
-Acabe com ele! - apontei para Nick e para a maleta de dinheiro que estava ao seu lado.
Caveira já sabia o que fazer.
-O senhor que manda! - caveira respondeu.
Olhei para Cherry que observava Nick caído no chão todo arrebentado. Ela olhou para Caveira e
assentiu concordando com o que eu tinha dito. Ela era uma garota muito forte e guerreira como
minha Cami. Passei com Marcelo no colo e o carreguei até o carro. No caminho vários seguranças
de Nick estavam mortos. Murilo abriu a porta de trás do carro e Cherry me ajudou a ajeitar
Marcelo no banco traseiro. Ela se sentou e apoiou a cabeça dele em seu colo. Ela pressionava o
furo da bala e fazia carinho em seus cabelos. Murilo saiu cantando pneus com o carro e não
diminuiu a velocidade até encontrar um hospital. Liguei para o meu advogado que nos encontraria
no hospital para sabermos o que dizer lá.
Olhei para trás e vi que Cherry beijava e conversava com Marcelo mesmo ele estando
desacordado. Apesar da situação eu sorri. Eles foram feitos um para o outro.
19...
(Louise)
Marcelo entrou na sala de emergência e fizeram a gente ficar esperando do lado de fora. Travis
conversava com seu advogado que nos instruiu a dizer que fomos assaltados. Era só todos
confirmarmos a mesma história e tudo ficaria bem. Manu e Camila chegaram uns trinta minutos
depois e olharam para a minha roupa suja de sangue. Elas me abraçaram como nunca fui abraçada
antes.
-Me perdoem! Eu juro que tentei afastar Marcelo de mim! Eu juro! - falei chorando.
-Fiquei tranquila! Nós sabemos que ele não te deixaria em paz nunca!
-Eu sinto muito. Se eu pudesse ter impedido Nick...
-Filha... não se culpe! Nada disso é culpa sua!
Ao ouvir Camila me chamando de filha me fez chorar ainda mais. Eu tinha praticamente destruído a
família deles e mesmo assim eles me tratavam com carinho. Um tempo depois Travis se sentou ao
meu lado. Ele me olhava culpado e preocupado.
-Eu só tenho agradecer por tudo o que vocês fizeram por mim! - eu disse a ele.
-Eu sinto muito pelo seu irmão... não queria que as cosas tivessem chego naquela proporção.
-Não se desculpe. Aquela era a única maneira de fazer Nick parar.
-Mas ele era seu irmão... eu não poderia..
-Você tomou a decisão mais difícil que eu não poderia ter tomado. E se eu disser que não estou
triste pelo fim dele você vai me achar uma mostra?
-De forma alguma!
-Ainda bem...
Travis passou a mão em meu ombro.
-Eu sinto muito por causar isso tudo a vocês e a Marcelo. Eu tentei afastá-lo disso tudo. Eu juro!
-Eu sei! Mas ele não te deixaria em paz! Ele daria um jeito de ter você! Era só uma questão de
tempo. Ele te ama muito. Acho que te amou desde que colocou os olhos em você! Ele falava de
você o tempo todo e os olhos dele brilhavam ao dizer seu nome. Não se culpe por nada disso! Ele
não gostaria!
-Obrigada! Nem sei o que dizer!
-Não precisa agradecer! Afinal você é da família agora!
Meus olhos encheram de lágrimas. Travis me abraçou e eu comecei a rir.
-O que foi? - Travis perguntou divertido.
-Eu abracei o Destruidor! As minhas amigas iam morrer de inveja!
Ele começou a rir e fiquei pasma de como ele era bonito sorrindo. Camila veio até nós e puxou a
orelha de Travis.
-Pare de sorrir Travis, as enfermeiras já estão te olhando.
-Todas querem abraçar o Destruidor! - Travis falou se achando.
-Não um Travis sem pinto!
Ele colocou a mão entre as pernas e Camila sorriu vitoriosa. Ela se sentou ao lado dele e ficamos
em silêncio esperando notícias de Marcelo.
Uma hora de meia depois uma enfermeira veio nos informar que Marcelo teve que fazer uma
cirurgia para retirada da bala. Ela disse que a bala atingiu o intestino, mas que seu caso estava
controlado. Ele ainda estava em cirurgia, e que depois que terminasse tudo, iria direto para a UTI.
Marcelo estava estável, mas ainda corria risco de pegar uma infecção. Manu e Camila foram para
casa buscar roupas para que pudéssemos ficar no hospital porque o ar condicionado era muito forte
e já estávamos morrendo de frio. Travis ficou ao meu lado e decidi perguntar o que não saía da
minha cabeça.
-O que acontece agora? Com Nick?
-Pedi à caveira para enterrar ele em algum cemitério. Ele tem alguns contatos e dessa forma você
poderia ter um lugar onde visitá-lo.
-Entendi. Obrigada por isso!
-Não precisa agradecer! Apesar de tudo ele era seu irmão.
-Nick era adotado. Crescemos juntos, mas ele era adotado. Acho que ele não conseguia aceitar o
fato de que sua mãe biológica o abandonou. Então ele nunca contou pra ninguém e nem eu. Na
verdade eu nem lembrava disso a maior parte do tempo.
-Por isso ele era revoltado!
-Deve ser. Ele nunca foi fácil de lidar!
Travis abriu a boca para responder, mas a mesma enfermeira de antes veio até nós.
-A cirurgia acabou! Deu tudo certo! Ele está estável e já vai para a UTI Vocês podem dar uma
olhadinha nele no caminho!
-Obrigada!
Travis e eu a seguimos e logo trouxeram a maca de Marcelo. Ele estava desacordado. Seus braços
fortes estavam com um acesso venoso em cada um. De um lado ele tomava soro e do outro uma
bolsa de sangue. Ele parecia abatido e frágil. Sua pele estava branca e não corada como sempre
foi. Passaram pela porta da UTI e não era mais possível vê-lo. A enfermeira disse que o médico
responsável conversaria conosco pela manhã. Explicou que ele tinha várias cirurgias de
emergência para realizar então não era justo que ficássemos esperando a madrugada toda.
Informou também que qualquer novidade o hospital entraria em contato.
Travis tentou me convencer a ir pra casa, mas eu não tinha mais pra onde ir. Marcelo era minha
casa agora. Ele foi embora depois de muita insistência minha e me ajeitei na cadeira da sala de
espera. Eu ficaria ali até poder ver Marcelo e saber que ele estava bem
Na parte da manhã o médico responsável pela UTI me chamou para conversar. Dr Marcus explicou
que o caso de Marcelo ainda era grave, mas que ele estava estável. Disse que se ele permanecesse
dessa forma, irão acordá-lo para ver como ele iria reagir. Como minha visita não foi liberada,
liguei para Camila, expliquei o que o médico disse e avisei que não haveria visita hoje. Ela pediu
que fosse para sua casa descansar. Depois de muita insistência decidi aceitar o convite. Eu
precisava de um banho quente e dormir um pouco. Marcelo precisaria de mim bem quando ele
acordasse e eu faria tudo o fosse necessário para lhe oferecer todo conforto necessário.
Ao chegar na casa de Marcelo, Camila e Manu me receberam com abraços. Manu me levou para o
quarto de Marcelo e separou uma camiseta e uma bermuda dele para que eu vestisse. Falou que eu
era de casa e que se precisasse de alguma coisa era só pedir. Fiquei um tempo sentada na cama de
Marcelo olhando ao redor. Seu quarto tinha as paredes num tom de azul marinho e exalava
masculinidade por todos os lados. Seu perfume estava impregnado em cada móvel e roupa. Nossas
fotos coladas na parede escura mostravam os nossos momentos de leveza e felicidade. A última
foto que colamos lá, tinha sido tirada quatro dias antes de tudo isso acontecer. Marcelo sorria na
foto enquanto eu beijava sua bochecha. Aquele era o Marcelo que eu queria ver. Feliz, sorridente,
leve e não o corpo pálido como estava naquela cama de hospital. Lágrimas começaram a escorrer
em meu rosto. Um sentimento de culpa me inundava por todos os lados. Se eu tivesse sido mais
persistente e não caído em suas investidas, ele estaria bem, feliz com qualquer outra garota e longe
daquele hospital frio e triste.
Fui para o banheiro e liguei o chuveiro. Fiquei esperando o vapor se espalhar e tirei minha roupa.
Ri ao lembrar de Marcelo reclamando que aquilo era um chuveiro e não algo para arrancar a pele
do corpo. Ele detestava meus banhos quentes. Coloquei a cabeça embaixo do jato quente e senti um
alívio momentâneo. Meus músculos estavam rígidos de tensão. Meu corpo tremia mesmo embaixo
da água quente. As memórias de horas atrás voltavam como furacão em minha mente. Eu ainda não
conseguia entender como Nick foi capaz de fazer tudo aquilo. De como ele conseguia lidar com
tanta crueldade e conseguir colocar a cabeça no travesseiro a noite e dormir tranquilamente. Não
conseguia entender quando ele se tornou naquele monstro. Quando ele achou que machucar os
outros valia a pena. Nossa vida sempre foi difícil, mas não justifica ele ter se tornado essa pessoa
cruel e horrível. Eu tive diversas chances de ser uma pessoa do crime, mas optei por estudar e
guardar dinheiro para sobreviver e fugir de Nick. Uma pena que ele não tenha pensado o mesmo.
Quando meus dedos já estavam e enrugados desliguei o chuveiro. Sequei um pouco meu cabelo
com a toalha e depois meu corpo. Vesti a roupa de Marcelo que Manu me entregou e fui para o
quarto mais uma vez. Deitei na cama e puxei seu travesseiro para mim. Seu cheiro entrou em
minhas narinas e choro compulsivo foi inevitável. Chorei por ter causado mal a Marcelo. Chorei
por ter invadido a vida de uma família perfeita. Chorei por ter envolvido pessoas inocentes na
minha vida complicada. Chorei por não ter conseguido mudar a vida de Nick. Chorei por Marcelo
estar em uma cama de hospital. Chorei por ter sido covarde e não ter protegido Marcelo de Nick.
Chorei por não saber o que seria da minha vida a partir daquele momento. Chorei de alívio por não
ter que ter mais medo de Nick, e chorei de pesar por saber que Nick era a única família que eu
tinha, e que não existia mais. Chorei como se a dor e a decepção fossem me deixar naquele instante.
Chorei até pegar no sono sem tirar Marcelo da minha cabeça.
Algumas horas depois acordei assustada sem saber onde eu estava. Olhei ao redor e procurei por
Marcelo que não estava lá. Aos poucos minha consciência foi retomando e lembrei de tudo o que
tinha acontecido. A tristeza apertou meu peito ao perceber que nada daquilo tinha sido apenas um
sonho. Olhei no relógio e já eram mais de sete horas da noite. Abri a porta do quarto e passei na
frente do quarto de Manu. Ela estava sentada na beira da cama olhando o celular. Ao me ver ela
veio correndo ela minha direção.
-Como está se sentindo? - ela perguntou.
-Menos cansada!? Mais culpada?!
-Sinto muito por tudo Cherry! Mas ele vai ficar bem! Você não tem culpa de nada! Mesmo você
expulsando ele da sua vida, ele daria um jeito de entrar!
-Eu...
-O Marcelo faz o que quer!
-Eu que o diga!
Demos risada.
-Vamos jantar! Você não comeu nada ainda!
-Eu não tenho fome...
-Mas precisa comer! Marcelo vai te matar se souber que ficou quase o dia todo sem comer.
-Você acha que ele vai ficar bem Manu?
-Eu tenho certeza! Ele não vai deixar você se livrar dele tão rápido!
Manu deu risada e aquilo me fez sorrir. Marcelo não me deixaria mesmo ficar sem ele. E pra falar a
verdade eu também não queria ficar sem ele.
Fomos comer e Manu me convenceu a ir no hospital somente na manhã seguinte. Me deu um
discurso que eu deveria descansar e me alimentar, que para cuidar de Marcelo e que eu precisava
estar bem estar saudável e fiz o que ela pediu. Manu era teimosa e insistente como Marcelo. Acho
que no fundo a família toda era assim.
Me aconcheguei na cama de Marcelo mais uma vez, inalei seu perfume e peguei no sono mais
rápido do que eu imaginava.
20...
(Louise)
Eu e a família de Marcelo fomos bem cedo para o hospital à procura de notícias. Fizeram-nos ficar
esperando mais de uma hora até que o médico de plantão viesse conversar conosco.
-Bom dia! Eu sou o Dr Michel e estou responsável pela UTI hoje. O quadro do Marcelo não está
bom. Seu organismo estava reagindo bem até que em um dos exames foi constatada uma infecção.
Entramos com antibióticos fortes para combater essa infecção. No momento uma infecção não
favorece o quadro dele, então o manteremos em coma induzido por mais alguns dias até que seu
corpo comece a reagir mais uma vez.
-E se ele não reagir? - Camila perguntou preocupada.
-Se não reagir, teremos que trocar o antibiótico até encontrar algum que combata a infecção.
-Em quantos dias o organismo dele deve reagir? - perguntei.
-Em pelo menos dois dias o antibiótico deve fazer efeito. Se dentro desse prazo a infecção se
mantiver controlada, é um bom sinal, mas se os exames mostrarem que a infecção está se
desenvolvendo, pode ser necessário fazer uma cirurgia de urgência para encontrarmos o foco da
infecção. Por ele ter sido baleado na região do intestino, mesmo fazendo a limpeza da cavidade
abdominal dele, ainda restam bactérias, pois o intestino é uma região "suja". Então no momento o
que nos resta é aguardar.
-Podemos vê-lo? - perguntei.
-No momento não. Como ele está com um quadro infeccioso, a imunidade dele está baixa, portanto
devemos evitar qualquer contato com bactérias daqui de fora.
-Quando ele vai ser retidado do coma? - Murilo perguntou aflito.
-Assim que seu organismo responder positivamente!
-Tem alguma coisa que podemos fazer? - Travis perguntou.
-No momento só aguardar! E se algum de vocês têm alguma religião, tenha fé! Seu quadro está bem
delicado!
-Tá bom... -Camila falou chorando.
-Mais alguma dúvida? - Dr Michel perguntou.
-Não Dr! Muito obrigada! - Manu respondeu.
-Com licença.
O Dr Michel voltou para dentro na UTI nos deixando aos prantos do lado de fora. Olhei ao redor e
todos estávamos em silêncio. Não havia nada a ser dito. Me sentei em uma cadeira e decidi não ir
embora com eles. Camila e Murilo insistiram para que eu fosse junto com eles, mas eu não queria
sair de perto de Marcelo mais. Ele estava bem ontem e hoje tivemos essa péssima noticia, então eu
permaneceria ali até que me dessem alguma noticia boa. Mesmo estando do lado de fora de seu
quarto, eu sentia sua presença e ficaria ali o tempo que meu corpo agüentasse. Manu queria ficar
comigo, mas insisti que não havia necessidade e expliquei que qualquer novidade eu ligaria
imediatamente. Depois de muita insistência eles se foram e eu fiquei ali naquela recepção vazia
contando os segundos para que os médicos viessem me avisar que eu poderia vê-lo.
Alguns minutos depois Murilo apareceu na recepção onde eu aguardava.
-O que foi? Aconteceu alguma coisa? - perguntei preocupada.
-Não! Só não conseguiria ficar em casa sabe?
-Sim...
-Ele vai ficar bem... -Murilo cochichou se sentando ao meu lado.
-Vai sim! Está fazendo isso tudo só pra rir da gente depois. - falei brincando.
Murilo riu comigo e ficamos em silêncio mais uma vez.
-Sinto muito pelo seu irmão. - ele falou de repente.
-Eu sei... eu também... ainda não consigo acreditar no que ele foi capaz de fazer.
-Nem eu... ele deveria te proteger!
-Sim... mas ele nunca fez isso. Acho que ele nunca aceitou o fato de ter sido largado por seus pais.
Eu sentia muita pena dele e ainda sinto porque no fundo ele nunca conseguiu ser feliz.
-Infelizmente não...
Olhei para Murilo e sorri. Conversar com ele era sempre bom. Murilo olhou para mim de uma
forma diferente e começou a falar.
-Vou te falar uma coisa, mas quero que saiba que não sou um filho da puta. Só quero que saiba
minha opinião e que não estou sendo fura olho e nem nada.
Fiquei em silêncio sem saber o que dizer. Meu coração disparou de ansiedade. Franzi as
sobrancelhas e Murilo deu um sorriso tímido.
-Se Marcelo não tivesse te encontrado e eu tivesse tido a chance de te conhecer primeiro, eu
também não a deixaria ir embora nunca!
-Murilo.... eu. ..
-Calma que não estou dando embora cima de você e nem nada do gênero, só estou dizendo que ele
teve sorte de te encontrar. Tudo bem que ele tá com um buraco na barriga agora, mas eu faria o
mesmo se tivesse encontrado alguém como você.
-Eu não sei o que dizer... - eu ri de nervosismo.
-Não precisa dizer nada. Só queria falar isso para você ver que você é importante na vida de
alguém. O que Nick demonstrava pra você não era amor. Amor é o que Marcelo tem por você. É um
amor tão forte e puro como espero encontrar um dia.
-Obrigada! Isso que você disse me fez sentir muito melhor. De verdade! Você vai encontrar um
amor assim!
-Não precisa agradecer! E todos nós sabemos que se você tivesse me encontrado primeiro não teria
olhos para outro! – comecei a rir - Vou sim! E se não encontrar sequestro você! Pra mim tá ótimo!
Comecei a rir de sua brincadeira.
-Se Marcelo ouvir você dizer isso ele vai pra cima de você! - falei ainda rindo.
-Eu sei! Por que você acha que falei só quando ele estava em coma?
Comecei a rir ainda mais. Murilo se levantou e deu risada.
-Preciso ir. Qualquer coisa que precisar é só me ligar tá bom?
-Tá bom!
Ele me deu um beijo na bochecha e seguiu pelo corredor vazio. Fiquei um tempo pensando sobre o
ele havia dito sobre Nick e cheguei a conclusão que ele estava certo. Nick nunca soube me amar.
Na verdade, Nick nunca soube o que era o amor. Ele nunca se permitiu a amar ou ser amado apesar
de que eu sempre demonstrei meu amor a ele independente de todas as circunstancias. Dei um
suspiro de alívio por sentir um peso saindo de meus ombros, peguei um livro da bolsa e comecei a
ler enquanto aguardava qualquer notícia.
21...
(Louise)
Quatro dias se passaram e o quadro de saúde Marcelo só piorou. A infecção se tornou resistente ao
antibiótico, então os médicos entraram com outro antibiótico ainda mais forte. Foram realizados
inúmeros exames e constaram que Marcelo adquiriu a tão conhecida infecção hospitalar.
Como a cirurgia de Marcelo havia corrido bem e a recuperação dessa parte estava boa, decidiram
tirá-lo do coma induzido para ver como seu organismo iria reagir contra essa infecção. A esperança
dos médicos era que ao estar acordado, o corpo de Marcelo combatesse melhor a infecção. Não
havia nada a ser feito somente esperar mais uma vez. Não foi necessário realizar outra cirurgia,
então isso era um ponto muito positivo para sua recuperação.
Os médicos decidiram acordá-lo no momento em que eu estava na sala de espera. Disseram que era
necessário algum familiar do paciente estar presente no procedimento, então eu tive que assistir
tudo.
Me fizerem vestir um avental, calçar luvas e colocar uma espécie de touquinha nos pés e só depois
disso tudo permitiram minha entrada no quarto de Marcelo. Assim que coloquei meus olhos em
Marcelo a vontade de chorar foi imensa. Ele estava ainda mais pálido do que a última vez que o vi.
Sua barba estava maior e seus cabelos bagunçados. Ele ainda tinha um soro conectado em cada
braço. Poderia ser coisa da minha cabeça, mas ele aparentava ter perdido bastante peso nesses
últimos dias. Meu coração apertou ao analisar o tubo em sua boca. Ele estava preso com
esparadrapo em seu rosto e seus olhos também estavam fechados com o mesmo. Ao lado da cama
havia um recipiente com líquido amarelo, que eu deduzi ser urina por estar conectado a um tubo
que desaparecia por baixo dos lençóis. Olhei no monitor e seus batimentos cardíacos estava, fortes
e isso me confortou. Eu sempre encostava o ouvido em seu peito para ouvir seus batimentos e na
maioria das vezes, eu dormia ao som deles.
A enfermeira pediu que eu ficasse do canto da sala para não atrapalhar, mas o que eu mais queria
fazer era pular em cima de Marcelo e pedir para que ele ficasse bem logo, mas como não podia
fazer nada disso, apenas aguardei onde disseram que eu deveria ficar.
Dr Michel entrou com uma medicação em seu soro e explicou que era para cortar o efeito do
sedativo que fora aplicado na madrugada. Olhei o ambiente ao redor e um calafrio percorreu meu
corpo. Aquele lugar era isento de qualquer forma de carinho. As paredes eram brancas e todo o
resto também. Na janela havia una cortina grossa que impedia que a luz do dia entrasse. Não
haviam cadeiras ou qualquer outra coisa para que alguém se sentasse. Era somente a cama
hospitalar no meio do quarto e rodeada por aparelhos e equipamentos médicos. Eram tantos fios e
tomadas que me questionei como era possível alguém saber para quê servia cada um deles.
Minutos se passaram até que o monitor cardíaco começou a apitar. Todos ficaram eram volta de
Marcelo que começou a se mexer. Ele balançou as pernas e levou a mão diretamente para seu rosto.
Ele segurou o tubo de sua boca e começou a puxar com força. Os enfermeiros tentaram segurar suas
mãos, mas ele começou a debater e por ser bastante forte, foi difícil de contê-lo.
-Marcelo! Olhe para mim! Marcelo! Olha pra mim! – Dr Michel chamou sua atenção.
Marcelo virou seus olhos verdes para o Dr Michel e se acalmou um pouco.
-Nós iremos tirar isso da sua boca ok? Mas preciso que mantenha a calma e faça o que dissermos
ok?
Marcelo ignorou o que o Dr Michel falou e voltou a se debater na cama. Chamaram mais enfermos
e foram necessários quatro deles para conseguir segurar Marcelo imóvel na cama. Ele olhava para
as pessoas nitidamente nervoso então resolvi me aproximar um pouco para que ele me visse ali
assim ele veria que estava tudo bem e ficaria mais calmo. Ele estava em pânico por estar entre
tantos rostos desconhecidos, e deduzi que se ele visse o meu, ficaria mais calmo. Marcelo passava
os olhos por todas as pessoas ao redor e quando me aproximei, seus olhos encontraram os meus e
ele parou de resistir. Marcelo soltou seu corpo na cama e não tentou mais se mexer. Ele olhou em
meus olhos e vi uma lágrima escorrer em seu rosto bonito.
-Faça o que o Dr Michel está pedindo Má! Vai ficar tudo bem. Eu juro! Eu estou aqui ta bom?
Marcelo piscou e assentiu com a cabeça ainda sem se mexer. Dr Michel sorriu para mim e começou
a explicar a Marcelo o que iria ser feito.
-Nós iremos tirar esse tubo de você agora. Vai ser incômodo, então preciso que você relaxe o
corpo e a garganta o máximo possível. Se você contrair algum músculo, ao puxar o tubo poderá
machucar a sua garganta e as suas cordas vocais. Então tente relaxar o máximo possível!
Marcelo olhou para mim procurando apoio. Sorri para ele que piscou em resposta para mim.
-Senhorita, acredito que ele ficaria mais confortável com você aqui perto. Então se quiser segurar
em sua mão, acho que ajudaria bastante. - Dr Michel falou.
Dei a volta na cama e fui ao seu encontro.
-Vai dar certo! Eu estou aqui tá bom?
Marcelo assentiu e virou o rosto para cima. Segurei sua mão e ele a apertou em resposta. A
enfermeira pegou uma seringa vazia e conectou em uma mangueirinha que saia do tubo e puxou o ar
de lá dentro.
-Quando a pessoa é entubada, inflamos um balãozinho lá dentro para que o tubo não saia do lugar,
então para ser retirado é preciso desinsuflá-lo. -Dr Michel explicou.
Assenti com a cabeça ao entender sua explicação. O Dr Michel se aproximou de Marcelo e pediu
que ele relaxasse. Apertei sua mão em conforto e o tubo foi tirado de sua garganta. Marcelo teve
ânsia de vômito, mas ficou bem logo em seguida. Ele engolia com dificuldade e um dos enfermeiros
colocou uma ampola de água em sua boca.
-Engula devagar, pois pode arder.
Marcelo assentiu em engoliu com cautela.
-Você poderá sentir um ardor e um incômodo por algumas horas, mas vai amenizando com o tempo.
Logo iremos entrar com dieta pastosa e líquidos para ver como seu corpo vai reagir com
alimentação oral.
Marcelo abriu a boca para dizer alguma coisa, mas não conseguiu. Não saiu uma palavra de sua
boca. Ele me olhou assustado, mas Dr Michel logo explicou.
-Você ficou seis dias entubado, então é normal ter dificuldades para falar. Sua voz irá voltar aos
poucos, mas não force demais, pois pode lhe prejudicar.
Marcelo assentiu e olhou para mim.
-Como não é horário de visitas, vou te dar cinco minutos com ele. Não posso permitir mais do que
isso!
-Obrigada Doutor.
-Disponha.
Dr Michel saiu do quarto e nos deixou a sós. Marcelo estava inquieto, acho que ele queria
perguntar mil coisas ao mesmo tempo.
-Depois nós vamos conversar com calma tá bom? Depois tiro todas as suas dúvidas, mas agora
você precisa descansar.
-O... que...
Marcelo tentou falar, mas fez cara de dor assim que assim poucas palavras saíram de sua boca.
-Shiiii.. está tudo bem. Todos estão bem. Eu estou bem. Nick.... morreu... então não irá mais nos
causar mal algum.
Marcelo apertou minha mão e eu sorri para ele.
-Está tudo bem. Minha vida vai ser melhor sem Nick.
Marcelo assentiu e permaneceu me olhando. Dei um beijo em sua testa e afaguei seus cabelos.
-Fiquei morrendo de medo de te perder. Meus deus... todos os funcionários do hospital me
conhecem já! Eu esperei para ver você todos esses dias, mas não liberaram nenhuma visita. Foi
angustiante não poder ver você, não poder estar com você.
-Eu... eu... - A voz rouca de Marcelo aqueceu meu coração
-Eu te amo também. Mas agora preciso ir. Assim que liberarem mais uma visita eu vou estar do
lado de fora te esperando.
Dei um beijo na testa de Marcelo que segurou minha mão e me puxou para ele. Encostei meus
lábios no dele e esse simples toquei foi o suficiente para me deixar aliviada.
-Até amanhã! Melhora logo! O mundo não tem graça sem você!
Dei mais um beijo em sua boca e saí do quarto sem olhar pra trás para não desistir de deixá-lo
sozinho naquele lugar frio e triste. Liguei para Camila e avisei tudo o que aconteceu. Em pouco
tempo a família destruidora já estava reunida na recepção da UTI ouvindo tudo o que eu tinha a
dizer.
22...
Quando a Louise saiu do quarto, o Dr Michel veio explicar todo o meu quadro clínico. Ele me
explicou que meu corpo não estava combatendo a infecção, e que todo cuidado era necessário. Eu
ainda permaneceria na UTI por tempo indeterminado e sem visitas, pois minha imunidade estava
baixa e qualquer contato com pessoas de fora só poderia piorar meu quadro hospitalar.
Dr Michel liberou uma dieta de suco e sopa, que consegui comer tranquilamente. Ele explicou que
eu permaneceria com sonda urinária até ter alta para o quarto, então preferi nem pensar sobre a
hora de tirar aquela coisa do meu pau. No fim daquele dia, vieram duas enfermeiras
aproximadamente da minha idade em meu quarto. Elas usavam o mesmo avental e luvas que Cherry
usava quando esteve aqui. Uma delas estava com uma bacia de metal com água e algumas
compressas. Olhei desconfiado e consegui perguntar o que era aquilo tudo. A minha voz saía com
dificuldade e eu sentia um grande incômodo, mas ele foi aliviando com o tempo.
-O que é isso? - minha voz saiu bem rouca e baixa.
-Nós vamos te dar banho. - uma delas respondeu como se fosse a coisa mais normal do mundo.
-Nem...fudendo...
-Senhor, esse é o horário do banho.
-Não. Não quero.
-Mas precisa senhor.
-Não vou deixar vocês ficarem me ensaboando como um inválido!
Consegui concluir a frase sem sentir tanta dor na garganta. Elas seguraram a risada e se olharam.
-É preciso senhor. O senhor está com um quadro de infecção, e toda higiene será necessária para
que não piore seu quadro.
-Eu entendo, mas não quero menininhas da minha idade lavando meu pau. Isso não está certo! –
mesmo a minha voz saindo bem baixa, elas conseguiam entender cada palavra que eu dizia.
-Senhor, nós estamos acostumadas e estudamos para isso!
-Não estou duvidando disso! Só não quero ninguém olhando meu pau com essa mangueira enfiada
nele!
Elas se entreolharam mais uma vez e suspirei ao perceber que elas já haviam feito isso em todos os
dias em que estive em coma. A que ainda não havia dito absolutamente nada saiu do quarto.
Acredito que tenha ido chamar o médico responsável.
-Senhor, eu entendo que fique incomodado, mas é necessário. O senhor precisa de todos os
cuidados para que se cure mais rápido. Eu estudei para isso e estou acostumada com esse tipo de
coisa. Não há motivos para que fique constrangido. Eu te garanto!
Fiquei em silêncio olhando para ela. Ela aparentava ter no máximo 19 anos e usava uma roupa
verde que era do hospital e seu cabelo estava amarrado. Ela me olhava esperando que eu
respondesse e suspirei assentindo.
-Mas só você! Duas de vocês é demais pra mim.
Falei encarando o teto. Aquilo era humilhante demais. Ela concordou e saiu do quarto para avisar a
outra menina que não precisaria de ajuda. Quando ela voltou começou a me explicar como seria
aquele procedimento.
-Eu vou passar a compressa em você, aí você me diz se a temperatura da água está boa. Meu nome
é Juliana e pode me chamar a qualquer momento!
Concordei com a cabeça. Juliana pegou uma das compressas e mergulhou na bacia cheia de água e
espremeu para tirar o excesso de água. Ela passou em minha perna para que eu pudesse testar a
temperatura da água.
-Assim está bom?
Concordei mais uma vez. Ela assentiu e tirou o lençol de cima de mim. Me ajudou a sentar e
desamarrou a camisola em minhas costas. Juliana me deitou mais uma vez e começou a passar a
compressa úmida em meus braços e axilas. Passou pelo meu pescoço e peito e em volta do curativo
em minha barriga. Ela me olhava com cuidado, mas pude perceber suas bochechas coradas.
Juliana passava a compressa úmida em meu abdômen ao redor do curativo, e confesso que vê-la um
pouquinho constrangida me deixou aliviado. Era um sinal de que eu ainda era bonito.
-Posso perguntar uma coisa? - falei envergonhado.
-Claro!
-Se você for colocar a mão. ... no meu... negócio.. e ele ficar.... hum... duro... você vai me achar um
tarado ou algo do gênero?
Juliana começou a rir e sua reação me deixou aliviado.
-Não se preocupe. É normal isso acontecer ao ser manipulado. Pode ficar tranquilo! É uma coisa
normal de acontecer.
Fiquei mais aliviado ainda é assenti com a cabeça. Juliana começou a limpar minhas partes íntimas
e tive que me controlar muito para não surtar naquele momento. Aquela era a pior humilhação que
alguém poderia passar em toda a vida.
Um tempo depois, o banho terminou ou seja, a tortura. Ela me vestiu mais uma vez com aquela
camisola horrorosa e me vestiu uma fralda. A porra de uma fralda!
-Isso é mesmo necessário?
-É sim senhor. Como pode ver, aqui não tem banheiro, e como o senhor não pode se levantar, é
necessário o uso da fralda, mas não preocupe que isso é normal também.
-Tudo que é bizarro é normal pra você?
Juliana riu e não respondeu. Ela terminou de me arrumar na cama de uma forma que eu ficasse
confortável.
-Assim que o senhor for para o quarto, vai se sentir melhor e mais à vontade!
-Posso receber visitas no quarto?
-Pode sim! E ter um acompanhante também!
-Que bom!
-Se dependesse da sua namorada ela ficaria aqui de acompanhante, mas não pode.
-Como assim?
-Ela fica o dia todo na sala de espera. Todos os dias. Desde a parte da manhã até anoitecer. Você
tem muita sorte de tê-la!
Olhei para Juliana e sorri ao saber daquilo.
-Obrigada!
-Disponha!
Ela saiu do quarto me deixando naquele silêncio ensurdecedor. Os únicos sons que eu tinha para me
distrair eram dos batimentos cardíacos que apitavam no monitor. Eu olhei ao redor e jamais
imaginei que passaria por algo desse tipo, que ficaria tão dependente das pessoas ao ponto de usar
fraldas. Balancei a cabeça tentando tirar aquilo da minha cabeça. Eu estava vivo e Cherry também.
Era isso que importava para mim nesse momento. Mentalizei o sorriso de Cherry e pouco tempo
depois consegui dormir. Afinal de contas, era a única coisa que me restava a fazer naquele lugar.
23...
(Louise)
No período em que Marcelo esteve internado, eu ficava na casa de sua família e voltei a trabalhar
no pub, pois precisava do dinheiro. Retirei todo o dinheiro que eu tinha guardado para comprar a
minha casa e dei entrada em uma casa no bairro mais simples da cidade. O banco me concedeu o
financiamento do restante do valor, que eu pagaria mensal até conseguir vender a casa de Nick e
pagar a dívida do banco. Eu não tive coragem de voltar para aquela casa, mas Manu e Murilo
foram comigo para que eu pudesse organizar tudo para realizar a venda da casa e a mudança. A
casa de Nick não possuía praticamente móveis. Somente nossas camas, meu guarda roupa, um sofá,
o fogão e geladeira. Como eu praticamente não ficava em casa, não comprei nada para decorar a
casa. Todo o dinheiro que eu recebia, eu dava prioridade em gastar comigo e guardar o máximo que
eu conseguisse. Eu me sentia muito mal por não ajudar Nick, mas ele nunca se importou com isso.
Ele ganhava muito dinheiro com seu clube clandestino e não exigia nenhuma ajuda minha.
Enquanto Manu e Murilo empacotavam minhas coisas, fui para o quarto de Nick para ver o que
poderia ser guardado. As roupas dele estavam empilhadas em um cadeira no canto do quarto. A
cama tinha uma roupa de cama imunda como todo o resto. Nick lacrou a janela de seu quarto, pois
não queria que entrasse nenhuma luz do dia, deixando o quarto completamente sem iluminação e
circulação de ar. Peguei um saco de lixo grande e coloquei todas as roupas de Nick lá dentro. Elas
estavam todas sujas, amassadas e rasgadas, então nada daquilo serviria para doar pra ninguém.
Tirei a roupa de cama e coloquei no mesmo saco de lixo. Levantei o colchão mofado e o coloquei
em pé na parede encardida e vazia. Quando olhei embaixo da cama avistei uma caixa de sapato
toda pintada de preto então me sentei no chão e a puxei para mim tirando a poeira de cima dela e a
abri com cuidado. Dentro dela haviam diversas fotos nossas quando crianças, de quando ainda
éramos duas pessoas normais. Haviam também algumas figurinhas e bilhetinhos que trocávamos
quando brincávamos de ficar mudos. Nossa brincadeira consistia em um ficar dentro do quarto e o
outro do lado de fora, nenhum dos dois falava absolutamente nada e passávamos bilhetes por baixo
da porta e conversávamos por horas daquela forma. Era a nossa brincadeira favorita. Sorri e fiquei
triste ao mesmo tempo ao pensar que todas essas lembranças não fariam mais parte de minha vida.
Nick seria um passado que jamais deveria ser lembrado. Nossas fotos de criança estavam todas
amassadas e a maioria rasgada. Nessa hora me senti muito mal por não ter feito mais por NIck.
Talvez se eu tivesse me esforçado em mostrar a Nick que eu amava e que ele poderia ser uma
pessoa melhor, ele estaria aqui e completamente diferente. Talvez teríamos tido uma vida diferente
e nessa vida eu não conheceria Marcelo e sua família destruidor.
Manu entrou no quarto e me viu olhando a pequena caixinha em meu colo. Ela se sentou ao meu
lado e quando viu a foto que estava em minha mão, ela sorriu.
-Vocês eram lindos!
-Sim... pena que Nick se transformou em um monstro.
-Você não teve culpa sabia? Ele seria essa pessoa de qualquer jeito.
-Eu sei, mas as vezes penso que eu poderia ter feito mais por ele.
-Não se culpe Louise. NIck escolheu essa vida pra ele.Nada do que você fizesse teria mudado o
que aconteceu.
Assenti com a cabeça e levantei do chão. Fui até o saco de lixo e joguei a caixinha dentro dele.
Nick ficaria pra trás de qualquer jeito.
Manu e Murilo me ajudaram a comprar móveis para a casa nova e me presentearam com todos os
eletrodomésticos que existiam no mundo. Eles disseram que eu era da família e que ajudariam a
comprar as coisas eu querendo ou não. Depois de muita discussão tive que aceitar, pois não
existem pessoas mais teimosas que os destruidores.
Marcelo permaneceu na UTI por mais sete dias. O antibiótico finalmente começou a combater a
infecção, e seria administrado por mais sete dias. Então Dr Michel deu alta a Marcelo para o
quarto onde ficaria até terminar a administração do antibiótico. Eu não pude visitá-lo, na UTI e
estava muito ansiosa para vê-lo o quanto antes. Eu decidi chamar Marcelo para morar comigo, mas
antes conversei com toda sua família destruidora. Eles adoraram a idéia e disseram que Marcelo
iria morar comigo mesmo que eu não o convidasse. Eu dei risada quando todos concordaram com
isso, pois tive certeza que ele realmente faria isso.
Cheguei ao hospital bem cedo e por sorte Marcelo tinha acabado de ser transferido para o quarto.
Meu estômago revirava de expectativa e saudade. Me indicaram onde era seu quarto e fui quase
correndo até ele. Quando entrei meu coração disparou ao olhar Marcelo deitado naquela cama. Ele
aparentava muito mais magro do que a última vez que o vi. Ele estava de olhos fechados e
aparentemente relaxado. Ele vestia aquela camisola do hospital e um de seus braços tinha um
acesso venoso. Me aproximei devagar para não assustá-lo e colei meus lábios nos dele. Quando fui
me afastar, Marcelo levou sua mão livre até a minha cabeça e me levou de volta para seus lábios.
Somente nessa hora eu pude perceber o quanto eu estava com saudade de seus beijos, de seus
lábios quentes, dele inteiro. Me afastei e olhei seus olhos verdes que me encaravam com
intensidade.
-Senti tanto sua falta! - sussurrei.
-Eu também Cherry. .. eu também!
-Estou tão feliz que esteja bem!
Senti um nó na garganta ao dizer aquilo. Eu evitei pensar em Marcelo ruim todo esse tempo, mas
estando tão perto e vendo seu estado me deixou com o coração partido e aliviada ao mesmo tempo.
Tentei segurar o choro, mas não foi possível dessa vez. Abracei Marcelo do jeito que pude e chorei
em seu abraço. Ele passava a mão livre em meus cabelos e dizia bem baixinho que tudo ficaria
bem.
Aos poucos fui me acalmando e olhei seus olhos lindos mais uma vez.
-Você sente dor?
-Não! Eu estou bem Cherry!
-Você Jura?
-Claro marrentinha!
Senti um peso sair de meus ombros, porque era impossível não me sentir culpada por tudo o que
aconteceu.
-Hey.. para de pensar marrentinha! Consigo ouvir suas engrenagens daqui!
-Como você está se sentindo? - perguntei mais uma vez.
-Estou bem Cherry! Eu juro!
-Tá bom!
-Mas tenho que te contar uma coisa!
Meu coração acelerou na mesma hora. Sempre que Marcelo falava daquela forma, só saía besteira.
-Umas enfermeiras colocaram a mão no meu colega! Eu juro que disse que não queria, mas elas
disseram que era necessário! Mas eu juro marrentinha que eu não gostei e nem fiquei duro! Pode
perguntar pra elas se quiser!
Olhei incrédula para Marcelo. Ele realmente pensou que eu ficaria brava por isso ou estava de
brincadeira com a minha cara? Comecei a rir sem conseguir parar. Ele me olhava confuso e eu ria
ainda mais.
-Qual a graça? - ele perguntou ofendido.
-Você é uma graça Marcelo!
Ele continuou sem entender, mas ficou em silêncio.
-Eu tenho um presente pra você! – falei ainda rindo.
-O que? Você vai fazer streaptease pra mim?
-Aqui não né?
Tirei a caixinha de dentro da minha bolsa e entreguei a ele. Marcelo levantou uma sobrancelha e
sorriu.
-Você está me pedindo em casamento marrentinha?
-Abre logo Marcelo!
Ele abriu a caixinha e olhou para mim completamente confuso.
-Não entendi. - ele resmungou.
-Essa é a sua chave! -ele franziu a sobrancelha- Da nossa casa! Eu quero que more comigo
Marcelo! E não aceito não como resposta!
Marcelo ficou sério talvez esperando que eu dissesse que era uma brincadeira, mas eu não fiz isso.
Eu estava falando a coisa mais séria de toda a minha vida.
-Eu sei que não é um palácio como a sua casa, mas aos poucos vamos arrumando do nosso jeito.
Marcelo me chamou para mais perto e finalmente sorriu.
-Cherry, você não faz idéia de como sonhei com isso! E mesmo que você não me convidasse, eu
iria mesmo assim!
Comecei a rir e fiquei emocionada por saber que ele queria a mesma coisa que eu. Eu o abracei
mais uma vez e senti que finalmente minha vida estava tomando o rumo certo.
24...
Os seis dias restantes que tive que permanecer internado foram mais suportáveis porque Cherry
estava comigo. Ela passava o dia todo comigo e na hora de ir trabalhar minha família se revezava
para passar a noite. Eu insisti que não era necessário, mas era como falar com as paredes.
Nos dois primeiros dias em que eu estava no quarto, um fisioterapeuta me ajudava a levantar e
fazer uma pequena caminhada nos corredores. Eu sentia dor na barriga quando me esforçava, mas o
Dr Michel me explicou que era normal por conta do trauma que eu sofri. Aos poucos eu já
conseguia me levantar sozinho e fazer minha caminhada sem ajuda de ninguém. Em uma das noites
em que Murilo passou comigo, eu pedi a ele que fosse ao banco sacar parte do dinheiro da minha
poupança para que ele quitasse o valor restante da casa de Cherry. Ela havia comentado que fez um
financiamento então eu queria ajudar com a minha parte. Murilo adorou a idéia e disse que faria
isso o quanto antes.
Nos dois dias restantes eu já tomava banho sozinho, andava pelos corredores sozinho e finalmente
vestia um pijama de homem. Aquele negócio de ficar mostrando a bunda em uma camisola para
todos os lados não era comigo. Dr Michel fez um pedido de um novo ultrassom para ver se estava
tudo bem, e disse que dependendo do resultado, e assim que a última dose do antibiótico for
administrada, ele me daria alta. Eu estava contando os segundos para sair daquele lugar.
Fui encaminhado para fazer o ultrassom e o resultado saiu na hora. Dr Michel acompanhou o exame
e disse que estava tudo bem. Ao voltarmos para o quarto, ele assinou os papéis de alta. Eu queria
sair correndo de lá quando ele disse que eu finalmente iria pra casa. Cherry chegou bem na hora.
-Oi! Está tudo bem? Bom dia dr Michel! -Cherry nos cumprimentou.
-Está sim! Marcelo vai ter alta hoje!
-Aiii que alegria!
Cherry segurou minha mão e me deu um beijo na testa. Puxou uma cadeira que havia do lado da
minha cama e se sentou.
-Vou explicar o que você pode e não pode fazer! Você precisa seguir todas essas recomendações
para se curar por completo!
-Tá bom!
-Você deverá fazer caminhadas leves e não ultrapassar trinta minutos diários. A cada dia você vai
aumentando cinco minutos. Não é para fazer esforço algum e muito menos força. Academia nem
pensar por pelo menos mais dois meses. Trabalho você pode voltar daqui há duas semanas e
mesmo assim pegar leve. Deve evitar ficar muito tempo em pé e se esforçando. Alimentação você
vai manter leve e sem muita gordura. Aos poucos iremos liberar a dieta normal. Se você seguir
tudo certinho em breve estará novo em folha.
-Posso perguntar uma coisa doutor?
-Claro!
Olhei para Cherry que começou a balançar a cabeça em negativa para que eu não perguntasse o que
estava em minha mente, mas eu perguntaria mesmo assim.
-Posso fazer sexo?
-Pode, mas com cautela. Se ela puder comandar por pelo menos um mês seria o ideal.
Dr Michel olhou para Cherry que afundou o rosto no colchão da cama. Ela permaneceu dessa forma
até Dr Michel sair do quarto.
-Mais alguma dúvida ?
-Não doutor.
-Todas suas recomendações estão anotadas e suas medicações também. Aqui estão as datas dos
seus retornos ao meu consultório.
-Obrigado.
-Qualquer problema, dor ou dúvida é só me procurar!
-Obrigado Doutor.
-Até logo! Tchau Louise!
Cherry só levantou a mão em sinal de Tchau e permaneceu com a cara enfiada no lençol até escutar
a porta sendo fechada. Ela levantou a cabeça e me fuzilou com os olhos.
-Pra que me fazer passar essa vergonha desnecessária Marcelo?
-Eu só fiz uma pergunta marrentinha. Não precisa fazer drama!
-Vai à merda!
Comecei e rir e ela levantou e começou a arrumar minhas coisas para irmos embora.
-Nós vamos para a nossa casa né? -perguntei animado.
-Eu não sei... não seria melhor você ficar na sua casa até estar melhor?
-Você mudou de idéia?
-Claro que não! Só estou dizendo que na sua casa você não vai ficar sozinho e vai ter os cuidados
necessários.
-Eu quero ir pra nossa casa!
-Lá não tem muita coisa ainda. - ela falou envergonhada.
-Cherry, eu não me importo! Eu quero ir pra e fazer o que você falou! Nós iremos arrumar aos
poucos do nosso jeito!
-Tá bom!
-Tá bom?
-É! Tá bom! Vou avisar seus pais que estamos indo pra lá!
Eu estava sentado na beira da cama e puxei Cherry ao meu encontro. Beijei seu rosto e falei em seu
ouvido:
-Você vai ficar no comando marrentinha?
Ela deu risada e me olhou com os olhos famintos. Aquela foi a resposta que eu precisava.
Na hora de ir para a nossa casa, Cherry chamou um táxi para mim e iria na frente com sua moto. Eu
insisti muito que eu poderia ir com ela e quase saí de olho roxo. Ela me deu um sermão por logos
minutos e entrei no carro antes que meus ouvidos começassem a doer. Pedi ao taxista que a seguisse
e pouco tempo depois já estávamos em casa. A casa era localizada num bairro mais afastado, mas
era muito bom também. Assim que abri abria porta do táxi para descer, seguraram meu braço para
impedir um queda. Olhei para cima e dei risada ao ver meu pai me segurando.
-Vocês são rápidos hein? - perguntei brincando.
-Sua mãe falou tanto que queria vir agora então decidi vir pelo bem da minha sanidade!
-Eu ouvi isso Travis! -minha mãe falou atrás dele.
-Claro que ouviu! Você tem ouvido de tuberculoso!
Minha mãe empurrou meu pai e veio até mim. Ela me abraçou e estava ligeiramente emocionada.
-Como você está se sentindo meu bebê?
-Mãe, eu não sou mais um bebê!
-Acho que é sim! Até usou fraldas! - ela falou rindo.
Eu fiquei furioso por ela achar graça de algo tão sério, mas ela estava tão bem humorada que
deixei passar dessa vez. Olhei ao redor procurando por Cherry e a vi segurando segurando a porta
da casa para que pudéssemos entrar. Caminhei devagar até onde ela estava e sorri passando pela
porta. Olhei ao redor e para parte da minha família atrás de mim e finalmente senti que aquele seria
o nosso recomeço.
Cherry e eu fomos nós adaptando à nossa nova rotina. Ainda faltavam muitos detalhes para a casa,
mas com o tempo tudo ficaria do nosso jeito. Eu voltei para a faculdade e a trabalhar no pub como
o Dr Michel havia dito. Devagar e pegando leve. Gabriel ficou louco quando me viu.
-Puta que pariu cara! Achei que nunca mais ia te ver!
-Nem brinca com isso mano!
-Como você está? Já pode trabalhar cara?
-Estou bem! E já posso trabalhar pegando leve!
-Legal mano! Se precisar de alguma coisa é só me avisar!
-Valeu!
-E a sua mãe? Está melhor?
-Por enquanto está sim.
-Qualquer coisa pode contar comigo.
-Valeu mano!
Hoje era a folga de Cherry, e por sorte o pub não lotou como costumava acontecer em uma quinta
feira. A noite foi tranquila e eu não senti dor alguma, o que me deixou bastante aliviado. Na hora de
fechar o bar, Gabriel foi para um lado e eu para o outro. Naquela rua não passava táxi a essa hora,
então eu tive que andar dois quarteirões para pegar um que sempre estava em frente a um clube de
dança. Cherry e eu sempre fazíamos o mesmo caminho.
Eu estava cansado porque fiquei muito tempo em repouso e estava voltando a ativa aos poucos,
então eu caminhava devagar até meu destino. Cherry me ligou e eu disse que já estava indo pra
casa. Ela continuou a falar quando senti uma pancada forte na parte de trás da cabeça e com o
impacto eu fiquei tonto caindo no chão. Olhei ao redor para entender o que havia acontecido e levei
um chute na barriga.
-Isso é pra você aprender a não se meter no negócio dos outros seu filho da puta!
Tentei reconhecer quem era, mas a pessoa estava encapuzada. O homem estava sozinho e com um
pedaço de madeira nas mãos. Eu tentei me levantar, mas ele me bateu mais uma vez me fazendo cair
no chão de vez. Minha barriga ardia e quando fui olhar levei diversos socos nela. A dor era
destruidora. Eu sentia como se alguém estivesse enfiando uma faça em minha barriga. Tentei manter
o controle e não pensar na dor quando finalmente consegui falar alguma coisa.
-Eu não sei quem é você!
-Não sabe, mas eu sei quem você é! Você acabou com meu negócio e vai pagar caro por isso!
-Eu não sei do que você está falando!
-Eu era sócio de Nick e você acabou com meu negócio!
O homem voltou a me bater e a única coisa que eu pude fazer foi proteger minha barriga de seus
ataques. Quando ele ia bater novamente em minha cabeça, um carro passou na rua e o assustou. O
agressor olhou pra mim, jogou a madeira no chão e saiu correndo. Eu tentava entender o que havia
acontecido, mas senti meu corpo úmido e quando olhei onde minha mão estava protegendo levei um
susto. Minha camiseta estava encharcada de sangue. Eu deitei a cabeça no asfalto tentando
controlar a dor que tirava minha sanidade e de longe eu escutei.
"MARCELOOOOOOOOOOO"
Olhei ao redor e vi meu celular aceso caído longe de mim então me arrastei até ele e a única coisa
que consegui dizer antes de perder a consciência foi "Chame uma ambulância..."
25...
(Louise)
Ao escutar o homem dizendo que era sócio de Nick o desespero tomou conta de mim, mas graças a
uma força sobrenatural que entrou em mim, me fez ligar para Travis na mesma hora do telefone.
Dois toques depois ele atendeu.
-O que aconteceu? - Travis perguntou nitidamente alterado.
-Alguém atacou Marcelo saindo do pub. Eu estava falando com ele no telefone e escutei ele sendo
agredido. O agressor disse ser sócio de Nick! Ele vai matar Marcelo Travis!!!!!!
-Fica calma! Estou indo para o pub. Ligue para a emergência!
-Eu estou indo também!
-Não! Você vai ficar aí!
-Mas...
-Nada de mais! Você vai ficar aí! Ele ainda está na linha?
-Sim.
-Chama ele.. tenta escutar qualquer coisa e me avisa!
Travis interrompeu a ligação e fiz o que ele pediu.
-Marceloooooooo!
Eu o chamei e segundos depois escutei mais gemidos. Meu coração apertou e finalmente escutei sua
voz.
"Chame uma ambulância..."
Eu estava sem saber o que fazer. Manu me mandou mensagem e passou o endereço do hospital que
Marcelo estava sendo levado. Peguei minha bolsa e subi na moto sem olhar pra trás. Eu nunca
dirigi tão rápido em toda minha vida. Ao chegar ao hospital avistei a família de Marcelo na
recepção. Assim que eles me viram todos começaram a fazer milhões de perguntas.
-Eu não sei o que aconteceu! Eu estava falando com ele no telefone! Ele tinha acabado de sair do
pub e ouvi um barulho, acho que foi do celular caindo, mas a ligação não foi interrompida. Foi
possível ouvir barulhos e gemidos e alguém dizendo que Marcelo atrapalhou os negócios e que ele
era sócio de Nick!
Travis prestava atenção em tudo o que eu dizia e se afastou fazendo uma ligação. Ficamos em
silncio quando Camila me abraçou e comecei a chorar em seus braços.
-Isso nunca vai ter fim? -falei em desespero
-Vai sim querida! Travis vai resolver isso!
-Como ele está?
-Ainda estamos aguardando notícias.
Assenti e continuei em prantos por um tempo. Eu não conseguia aceitar o fato de que mesmo morto
Nick continuava nos fazendo mal. Olhei ao redor e vi aquela família abatida, triste e desesperada
por algo que nenhum deles tinha culpa. Nenhuma deles merecia passar por isso.
Me afastei deles e fui para fora do hospital. Eu precisava respirar um ar puro urgente. Andei em
silêncio e me sentei em um murinho que havia dividindo o estacionamento da calçada e fiquei
olhando ao redor. Avistei Travis falando alterado ao telefone. Eu deduzi que estava falando com o
outro rapaz que nos ajudou no dia do clube. Meu coração apertou de desespero. Eu não poderia
mais causar tanto mal a una família. Tudo o que estava acontecendo era culpa minha e quem deveria
pagar por tudo o que aconteceu sou eu e não Marcelo e sua família.
Um nó se formou em minha garganta. Meu coração se despedaçou só de imaginar a minha vida
longe deles. Longe de Marcelo. Eu nunca fui tão bem cuidada, amada, respeitada em toda a minha
vida. Todos eles me receberam de braços abertos sem ao menos se importar com a minha história.
Me colocaram naquela família como se eu realmente fosse parte dela. E pra falar a verdade eu fui.
Eu finalmente tive uma família a quem chamar de minha. Uma família para me levantar quando eu
caí. Uma família que fez muito por mim. E a única forma de mostrar a minha gratidão a todos eles,
seria ir embora da vida deles. Seria me entregar para o sócio de Nick e fazer a minha família ficar
longe de perigo.
Essa seria a única maneira de mostrar o quanto eu os amo e quanto sou grata por ter feito parte da
vida de cada um deles. Marcelo merecia ser feliz, mesmo que não fosse comigo. E não seria. Eu
tinha que partir.
26...
(Travis)
Assim que Cherry explicou o que aconteceu, eu liguei imediatamente para caveira. Ele disse que no
dia do clube não ficou ninguém com vida dentro e fora daquele lugar, então deduzimos que seu
sócio estava fora aquele dia. O ódio corria em minhas veias. Eu queria encontrar o filho da puta
que fez aquilo com meu filho e fazê-lo morrer em minhas mãos pedindo misericórdia.
Entrei em contato com meu advogado e ele disse que daria um jeito de conseguir as imagens das
câmeras de segurança da rua. Caveira me garantiu que em dois dias me traria o filho da puta e mais
alguém que estivesse envolvido. Desliguei o celular e avistei Cherry sozinha e chorando. Eu já
imaginava o que passava em sua cabeça e eu não permitiria que ela colocasse em prática. Caminhei
até ela que se assustou quando me sentei ao seu lado.
-Me desculpe Travis. .. eu..
-Nem precisa terminar a sua frase Louise! Eu sei exatamente o que está pensando e saiba que é uma
tremenda de uma besteira!
Ela me olhou sem expressão e secou as lágrimas escorridas em seu rosto.
-Eu só não quero mais causar isso a vocês! Vocês estariam bem sem mim entende? Eu não quero
mais ser a causadora de sofrimento pra vocês! Agora foi Marcelo, mas é depois? Vai ser Manu?
Murilo? Ou até mesmo você? Isso não é justo! Eu não vou conseguir mais por a minha cabeça no
travesseiro e fingir que nada disso é culpa minha!
-Nada disso é culpa sua!
-Claro que é! Se eu tivesse cortado Marcelo de uma vez por todas, nada disso estaria acontecendo!
-Você não conseguiria cortar Marcelo Louise! Nem mesmo com a permissão dele.
-Eu... eu não consigo mais lidar com isso! Me desculpe Travis, mas não consigo!
-Eu te entendo. Eu já passei por isso com Camila.
Cherry me olhou confusa.
-Minha ex-namorada era tão psicótica que mandou um homem em casa para estuprar Camila e
matar, mas a sorte foi que eu cheguei antes de tudo se concretizar. Camila foi espancada e por conta
disso, ela perdeu um bebê que nem sabíamos que existia. A dor que senti naquele momento foi de
querer acabar com a minha vida. A culpa de saber que tudo aquilo aconteceu por culpa minha, por
eu ter me envolvido com Camila.
Cherry me olhava horrorizada em silêncio.
-Eu também quis sair correndo achando que estaria fazendo bem a ela, mas na verdade eu só estava
pensando em como eu não conseguia lidar com aquele fardo. A culpa acaba com a sanidade de cada
um. Mas sabe como consegui lidar com a culpa?
-Não. ..
-Eu dediquei a minha vida a Camila! Dediquei cada segundo do meu dia para cuidar da
recuperação dela, para fazê-la se sentir bem e confortável. Fazê-la ver que meu amor era maior que
tudo aquilo e que passaríamos por cima de mais aquele empecilho. Isso que me deu força pra
passar por cima da culpa, do arrependimento, do medo.
Louise chorava em silêncio e eu sabia exatamente o que ela estava sentindo.
-Eu não quero mais causar nada disso a vocês! Vocês são perfeitos pra passar por isso! Não é justo
que eu cause tudo isso!
-O que não é justo, é você deixar Marcelo quando ele mais precisa de você!
-Ele vai ficar bem!
-Não. Não vai! Ele vai se culpar e vai perceber que tudo o que ele passou foi em vão. Que o amor
que você dizia ter não existe!
-Isso é mentira! Eu o amo mais que tudo!
-O ama, mas quer ir embora?
-É para o bem dele Travis!
-Não é não é você sabe disso! -ela me olhava com olhos suplicantes, mas eu não tinha como tirar
essa angústia dela.
-Eu não sei o que fazer...
-Eu te peço uma única coisa! - falei
-O que ?
-Não vá embora agora que ele precisa de você! Espere tudo isso passar e você verá que é uma
besteira ir embora!
-Esperar o quê? Mais alguém se machucar?
-Não! Caveira me deu o prazo de dois dias pra encontrar todos os envolvidos no clube do seu
irmão e esse é o prazo que te peço. Dois dias. Se depois disso nada se resolver você pode pegar
suas coisas e ir embora, mas aí você deve sumir de nossas vidas pra sempre! Fui claro ?
-Si...sim..
-Temos um acordo?
-Sim!
-Ótimo! Eu gosto muito de você Louise, mas eu gosto mais do meu filho!
Eu me levantei e a deixei sozinha mais uma vez. Eu aprendi que chances nós devemos dar apenas
uma. Quando passa disso,é burrice.
Voltei para a recepção do hospital à procura de notícias, mas ninguém ainda havia falado nada,
então a única coisa que me restava era esperar junto à minha família.
27...
(Camila)
Assim que o celular de Travis tocou eu soube que algo ruim havia acontecido. Ele ficou
nitidamente nervoso e levantou trocando de roupa, mesmo sem saber o havia acontecido, eu fiz a
mesma coisa. Depois que ele me explicou o que tinha acontecido, acordei Manu e Murilo que
ficaram em pânico com a notícia. Travis saiu de casa e pediu que aguardássemos qualquer notícia.
Eu não sabia o que fazer e a angústia tomou conta de nós. Quando Travis ligou e disse que Marcelo
estava sendo encaminhado para o hospital, Manu enviou uma mensagem avisando Louise e fomos
para o endereço que Travis nos passou.
Como sempre o hospital não forneceu informação alguma e estávamos todos no escuro. Quando
Louise chegou ao hospital, o desespero estava estampado em seu rosto. Eu sabia exatamente o que
ela estava sentindo, mas o pânico em mim me fez perguntar mil coisas ao mesmo tempo. Assim que
Travis ouviu o que ela tinha pra dizer, ele saiu de perto fazendo suas ligações. Eu tentei consolar
Louise, mas ela se fechou dentro dela e se afastou de todos nós. A sua reação apertou meu coração.
Eu sabia que naquele momento ela pretendia ir embora, mas eu não tive forças para pedir que ela
ficasse.
O tempo passou deixando eu, Manu e Murilo plantados naquela recepção sem notícia alguma.
Travis voltou, mas ele estava sem Louise. Ele fez uma cara de quem tentou e se sentou ao nosso
lado. Travis mais do que ninguém sabia o que Louise estava passando naquele momento e tenho
certeza que ele fez o que pode para fazê-la se sentir melhor.
Mais um tempo passou e Louise apareceu na recepção completamente exausta. Seu semblante
estava cansado e seu rosto inchado de tanto chorar. Era possível ver a batalha interna que ela
estava tendo naquele momento e aasim olhou para cada um de nós voltou a chorar desesperada. A
cena era de partir o coração. Travis permaneceu neutro enquanto Manu e Murilo não sabiam o que
fazer. Eu me levantei e fui até ela lhe dando um abraço de conforto. Eu sei que não resolvia muito,
mas um abraço nas horas de angústia ajudavam bastante.
Nos sentamos e na mesma hora um médico veio nos chamar.
-Familiar de Marcelo Taton?!
Todos nós nos levantamos ao mesmo tempo indo em direção ao médico que não ficou nem um
pouco abalado com nosso desespero.
-Bom, os pontos dele foram abertos com as pancadas, pois isso ele teve aquele sangramento.
Fizemos diversos exames e foi constatado que a sua cirurgia permanece intacta, então o mais grave
foram os pontos abertos. Ele perdeu a consciência por causa das pancadas e do sangramento, mas
já se encontra estável. Os pontos foram refeitos e ele terá que tomar antibiótico para evitar uma
possível infecção. Ele não teve nenhum traumatismo grave, o que ajuda que ele se recupere bem.
-Podemos vê-lo? - Travis perguntou.
-Só pode entrar um acompanhante na ala em que ele em está, e de preferência homem. Normas do
hospital. É só conversar na recepção e ver o que ela pode fazer por vocês.
-Ele vai permanecer internado?
-Vamos deixá-lo em observação por algumas horas e depois ele será liberado. Ele está tomando
analgésicos, por isso se encontra dormindo no momento.
-Alguma recomendação?
-Repouso absoluto e daqui um mês ele poderá retornar aos poucos com as atividades que ele estava
fazendo. Aconselho procurar o médico que está cuidando de seu caso para passar melhor as
recomendações.
-Obrigado Doutor!
-Disponha!
Travis e Murilo foram à recepção tentar convencer a moça deixá-los entrar ao mesmo tempo. Manu
me abraçou e olhei ao redor procurando por Louise que estava sentada sozinha nas cadeiras da sala
de espera. Manu e eu caminhamos até ela que permaneceu em silêncio. Nos sentamos ao seu lado e
seguramos suas mãos. Louise estava fria e seu corpo tremia levemente.
-Ele vai ficar bem! - falei baixo.
-Até quando? Até sofrer outro ataque?
-Nada mais vai acontecer... Travis vai resolver isso e....
-E se não resolver Camila? E se a sua família continuar correndo risco por minha causa?
-A culpa não é sua querida! E nós vamos dar um jeito tá?
Manu olhava Louise sem piscar. Ela também havia entendido onde sua conversa iria chegar.
-Espero que não esteja pensando em ir embora! - Manu falou ofendida.
Louise olhou para Manu e seu rosto se retorceu só de pensar na possibilidade.
-Que escolha eu tenho Manu? Eu seria a pessoa mais filha da puta por continuar colocando vocês
em risco!
-Você tem a escolha de não ser uma covarde e deixar Marcelo passar por tudo isso sozinho!
Louise abaixou o rosto e o cobriu com as mãos. Manuela bufou e se levantou indo para fora do
hospital. Procurei por Travis e o vi entrando com Murilo para ir ficar com Marcelo. Aquele era um
momento extremamente delicado onde todos estavam com os nervos à flor da pele. Ninguém tinha
paciência pra nada agora. Chamei Louise e a fiz olhar para mim.
-Eu entendo tudo o que está sentindo agora. Entendo a culpa que você sente, mesmo sem ter que
senti-la e entendo que ache que ir embora seria a melhor opção. Mas peço que pense direito antes
de tomar qualquer decisão. Marcelo precisa de você agora, e você ir embora, só irá lhe causar
mais mal. Mas se ir embora é o que você realmente deseja, então aconselho que faça isso de uma
só vez! Ele não merece ser largado quando quase perdeu a vida pra salvar a sua. Mas se mesmo
assim achar que é o certo pra você, peço que esqueça que um dia fizemos parte da sua vida, porque
iremos fazer o mesmo com você!
Eu me levantei e fui atrás de Manuela do lado de fora do hospital sem olhar pra trás.
28...
Eu acordei e vi meu pai e Murilo me olhando aflitos, mas assim que mostrei o dedo do meio para
eles, eles ficavam nitidamente mais calmos.
-Que susto hein irmão? - Murilo falou passando a mão em minha cabeça.
-Só pra não perder o costume!
Meu pai balançou a cabeça e deu risada.
-Você teve sorte Marcelo! - ele falou sério.
-Você já sabe quem é o cara?
-Não, mas em breve vou saber. Caveira me deu um prazo de dois dias para encontrar todos os
envolvidos no clube de Nick.
-E você acha que ele vai encontrar?
-Tenho certeza!
Concordei com a cabeça e olhei para Murilo que me olhava estranho, mas tentava disfarçar.
-O que? O que foi? Aconteceu alguma coisa com Cherry? - perguntei ficando nervoso.
-Não filho, ela está bem... só não está sabendo lidar com um isso mais uma vez.
Meu pai é Murilo desviaram o olhar evitando olhar nos meus olhos.
-Ela foi embora. - Eu afirmei com toda certeza.
Constatei a relidade. Cherry sempre se culpou por tudo que Nick fez, mesmo ela sabendo que não
era culpa dela.
-Ela foi embora???? -perguntei bravo por falta de resposta dos dois.
-Eu acho que não... ainda não.... filho, você precisa se acalmar.
-Eu quero vê-la.
-Eu falei pra ela, pra sua mãe e Manu irem embora.
-E ela foi?
-Foi.
Passei a mão em meu rosto me sentindo desesperado. Cherry iria embora sem ao menos me dizer
adeus? Senti um aperto no coração de angústia. Ela não seria capaz de fazer isso comigo. Seria?
Tentei me levantar, mas meu pai me segurou na maca.
-Para com isso! Você não pode fazer esforço Marcelo!
-Eu quero falar com ela! Ela vai ter que dizer na minha cara que vai embora!
-Por que você não espera pra falar com ela quando for pra casa irmão?
-Eu quero agora! Liga pra ela agora!
Meu pai fungou e saiu do quarto tirando o celular do bolso. Murilo ficou me olhando sem saber o
que dizer.
-Você acha que ela teria coragem de ir embora?
-Eu não sei irmão...
-Isso é um sim! -meu corpo tremia por dentro só de pensar na possibilidade.
-Irmão, está sendo muito difícil pra ela! Você faria o mesmo!
-Eu só faria se eu tivesse certeza que ela estaria 100% segura!
-Eu sei irmão... ela...
-Não quero desculpas. Quero ver ela ter coragem de falar na minha cara que vai embora. E se ela
tiver coragem de fazer isso Murilo, pode ter certeza que Louise morreu pra mim!
Murilo assentiu e ficou em silêncio. Não havia nada a ser dito naquele momento. Só de saber que
ela cogitou a idéia de ir embora, quebrou meu coração no meio. Mas além da mágoa, eu estava
muito bravo por ela pensar que essa atitude infantil, covarde e egoísta resolveria nossos
problemas. Fechei os olhos para me acalmar e quando abri uma enfermeira estava aplicando um
remédio em meu soro.
-Isso é pra dor e pra você relaxar um pouco.
-Eu não quero isso!!!! Eu quero ficar acordado!
-Só descanse senhor!
Vi ela se afastando e minha visão foi ficando turva. Tentei pedir a Murilo que não me deixasse
dormir, mas adormeci antes de terminar a frase.
29...
(Louise)
Travis e Murilo conseguiram entrar para ver Marcelo enquanto nós mulheres ficamos do lado de
fora sem ter o que fazer. Ao saber que Marcelo estava estável, me deu um alívio impressionante.
Tudo o que Camila, Manu e Travis me disseram não saía da minha cabeça de forma alguma. Eu sei
que eles estão certos e que Marcelo precisa de mim, mas lidar com a culpa não está sendo fácil.
Travis veio nos informar que Marcelo teria alta as dez da manhã e que não haviam motivos para
ficarmos esperando na recepção. Camila e Manu foram embora sem se despedir e eu fiquei
completamente perdida sobre o que fazer. Ainda era de madrugada quando decidi ir pra casa. Subi
na minha moto e fiquei tão perdida em pensamentos que nem me importei com o longo percurso.
Ao chegar em casa fui direito para o quarto. Nossa cama estava bagunçada, pois eu estava deitada
esperando Marcelo chegar quando tudo aconteceu. Peguei seu travesseiro e senti seu perfume. Me
deitei e fiquei pensando quando isso teria um fim. Quando vamos ser livres desse fardo que Nick
nos deu? Quando vamos parar de correr riscos? Quando vamos ser livres?
São tantas perguntas sem resposta que aumentam ainda mais a minha angústia. Não saber o que
poderá acontecer no dia seguinte me deixava apavorada. Eu não tinha ninguém a recorrer, ninguém
para pedir ajuda, ninguém para me ajudar a investigar toda a vida de Nick para saber quantas
pessoas mais estão envolvidas nessa sujeirada toda. Eu me sentia como um cego em tiroteio. Não
havia nada que eu pudesse fazer para resolver isso, somente confiar em Travis e em Caveira. Eu
não tinha ninguém. Somente Marcelo e nessa hora eu percebi que Marcelo era o suficiente para
mim.
Me sentei na cama e percebi que aquela era a vida que eu queria. Minha vida com Marcelo e nada
mais. Eu tentei afastá-lo para protege-lo, mas de nada adiantou. Ele acabou ferido mesmo assim.
Isso está fora do meu alcance, mas este com ele e cuidar dele era minha obrigação. Eu não poderia
deixá-lo sozinho num momento como esse. Marcelo quase perdeu sua vida para me salvar e eu faria
o mesmo por ele sem piscar os olhos. Fui para o guarda roupa e separei uma bermuda e duas
camisetas de Marcelo. Peguei seu chinelo e enfiei tudo dentro de una mochila. Peguei minha bolsa e
saí de casa indo em direção à minha moto. Eu ficaria naquele hospital até conseguir ver Marcelo.
Uma vez eu falei que ele era minha vida e eu cuidaria dela até meu último suspiro.
Dei partida na moto e fui em direção ao hospital bolando mil jeitos para que eu pudesse vê-lo o
quanto antes.
Assim que coloquei o pé na recepção do hospital vi Travis sentado em uma das cadeiras. Ele olhou
pra mim e veio em minha direção.
-Aconteceu alguma coisa?
-Ele está muito agitado. Pensa que você foi embora e quer te ver de qualquer jeito.
-Eu posso entrar?
-A enfermeira disse que não pode por ser ala masculina. Expliquei que ele estava agitado, então ela
deu um relaxante muscular para que ele se acalmasse.
Suspirei e me sentei na primeira cadeira disponível. Eu sentia que carregava o mundo em minhas
costas e sem previsão para tirar. Travis se sentou ao meu lado e suspirou. Ele também estava
exausto com isso tudo.
-Tudo vai se resolver. Tenho certeza! – ele falou depois de um tempo.
-Obrigada!
Travis me olhou confuso.
-Por tudo! Por me ajudar tanto.
-Você é da família Louise. Família é isso!
Ele deu um tapinha em meu ombro e sumiu corredor adentro me deixando perdida em pensamentos
mais uma vez.
30...
Meu pai e Murilo passaram a madrugada toda e a parte da manhã comigo até a hora em que tive
alta. Assim que passamos na recepção Cherry veio em nossa direção e me abraçou, mas eu não
abracei de volta. Ela me olhou sem graça e sorriu.
-Como você está se sentindo?
-Bem!
-Vamos pra casa? - ela perguntou esperançosa.
-Não. .. eu vou pra casa dos meus pais e quando eu me sentir melhor vou para a nossa.
Ela me olhou intensamente e olhou para meu pai que disfarçou estar mexendo no celular.
-Por quê?
-Por que eu quero! Vamos pai?
-Claro!
Passei por ela e fui em direção ao estacionamento. Meu pai veio atrás de mim e Murilo ficou pra
trás, provavelmente conversando com ela. Eu sei que era injusto agir dessa forma com ela, mas eu
não conseguia agir diferente. Só de saber que ela cogitou a idéia de ir embora como se todos os
problemas fossem se resolver, me deixou além de triste, com muita raiva. Eu nunca imaginei que
Cherry fosse tão egoísta e pretendesse me deixar enquanto eu estava completamente debilitado.
Entrei no carro do meu pai e vi Cherry indo para sua moto que estava estacionada perto de nós. Ela
me olhou com tristeza nos olhos, mas não disse nada. Colocou o capacete e partiu em direção ao
outro lado. Murilo entrou no carro e me olhou de cara feia.
-Você foi um idiota irmão!
-Eu?
-Sim! Não havia motivos pra você tratar ela daquela maneira.
Meu pai deu partida no carro, mas não opinou sobre o assunto.
-E ela pensar em ir embora enquanto estou todo fudido por ter salvo a vida dela é uma coisa
aceitável?
-Não irmão! Não é! Mas ela não foi embora! Ela passou por cima do medo dela e ficou.
-Mas pensou em ir... e isso me deixa puto da vida!
-Eu sei irmão, eu também ficaria, mas não está sendo fácil pra ela também!
-Vai lá cuidar dela Murilo! O que você acha da idéia? -falei furioso.
-Eu acho que você é um idiota e se você bobear eu vou mesmo!
Eu virei com tudo pra trás e meu pai segurou meu ombro.
-Já chega!!! Não quero esse tipo de conversa entre vocês! - meu pai falou bravo.
Murilo e eu ficamos em silêncio o percurso todo. O que ele falou não saía da minha cabeça, mas a
decepção falava mais alto que a razão em minha cabeça. Assim que meu pai estacionou, Manu e
minha mãe vieram correndo ao carro, enquanto Murilo entrou em casa sem olhar pra trás.
-O que aconteceu? Cadê Cherry? - minha mãe perguntou.
-Ela foi pra casa! – respondi.
Dei um beijo nela e em Manu e fui direto para o meu quarto. Eu não queria ouvir perguntas sobre
Cherry e sobre o que aconteceu. Eu só queria descansar e por minha cabeça no lugar. Entrei no meu
quarto e fui direto tomar banho. Tirei minha roupa e olhei o sangue seco em minha barriga e roupas.
Parecia que esse pesadelo nunca ia ter fim.
Liguei o chuveiro e entrei embaixo do jato quente esperando que todo o mal estar fosse passar, que
a mágoa fosse embora junto com a água avermelhada que escorria no chão. Fiquei embaixo da água
tempo razoável para que eu me sentisse melhor. Me sequei com dificuldade, pois meu corpo estava
completamente dolorido por causa das pancadas. Vesti uma cueca e fui direto para a cama. Os
remédios que me deram no hospital me deixaram tonto e sonolento, então a única coisa que eu
queria fazer era dormir. Me ajeitei na cama enorme e vazia e senti falta do calor de Cherry. Nos
sempre dormíamos abraçados e nessa hora me questionei se estava fazendo a coisa certa.
Afastei meus pensamentos e me forcei a dormir e parar de pensar em Cherry uma vez na minha
vida.
31...
(Louise)
Marcelo estava nitidamente chateado comigo, pois nem quis ir embora para a nossa casa. Imaginei
que Travis tinha falado alguma coisa, mas Murilo me confirmou que Marcelo deduziu sozinho o que
eu queria fazer. Murilo pediu que eu ficasse calma e desse um tempo para que Marcelo pudesse
pensar em tudo com calma. Todos esses problemas estavam acabando com o nosso relacionamento,
e eu tinha medo de não conseguir reverter, então eu assim que cheguei em casa, tomei banho, me
troquei e decidi que iria ver Marcelo e por os pingos nos is. Eu sei que errei ao pensar em ir
embora, mas ele me tratar da maneira que tratou passou dos limites.
Cheguei em sua casa e Manu quem me recebeu. Ela não estava tão animada como sempre esteve
comigo, então achei melhor nem provocar. Ela me disse que Marcelo estava dormindo e que eu
poderia ir até seu quarto. Fiz o que ela falou e subi as escadas indo em direção ao quarto de
Marcelo. Como a porta estava fechada, eu abri devagar para não fazer barulho e entrei devagar.
Marcelo ressonava em sua cama e me partiu o coração ao lembrar tudo o que ele passou nos
últimos tempos. Mesmo Nick não estando mais vivo, continuou nos trazendo dor e problemas. Eu
só estava rezando para que esse ultimo incidente tenha sido o último.
Tirei meu tênis, minha calça jeans e deitei devagar ao lado de Marcelo. Ele estava sem camisa e
pude perceber os hematomas que estavam espalhados em seu abdômen. Seu curativo estava com um
pouco de sangue, como ficou da primeira vez. Marcelo dormia de lado e estava com seu quadril
coberto com o lençol, mas eu já sabia que ele vestia apenas sua cueca. Marcelo raramente dormia
vestido como uma pessoa normal. Até mesmo no frio ele dormia só de cueca. Seu corpo não estava
mais tão musculoso como quando eu o conheci, mas Marcelo ainda era forte e definido. Seu corpo
tem um porte grande que puxou seu pai, já que Camila era pequena. Apesar que qualquer pessoa se
torna pequena ao lado deles. Olhei para o rosto de Marcelo e era possível ver suas olheiras bem
fundas. Sua barba estava grande, mas sem exagero e seu cabelo estava mais cumprido que o
normal. Passei os dedos em seus cabelos e senti a maciez deles. Marcelo tinha os cabelos loiros e
levemente ondulados, exatamente como os de Travis. Passei a mão devagar em seu rosto e o gesto
acordou Marcelo que me encarou com seus olhos verdes penetrantes.
-Desculpa... eu não queria te acordar. - falei sussurrando.
Marcelo não disse nada e continuou a me olhar intensamente. Passei a mão mais uma vez em seu
rosto e desci para seu braço livre. Marcelo me olhava como nunca olhou antes. Em seu olhar havia
ressentimento, carinho, desejo, erotismo, mágoa. Ele me dizia mil coisas apenas com o olhar.
Marcelo lambeu os lábios e fiquei chocada em como ele conseguia ser sexy mesmo sem se mexer.
Passei o polegar em seus lábios sentindo sua temperatura quente em meu dedo. Fiz novamente o
mesmo movimento e Marcelo beijou meu dedo em resposta. Levei meu dedo à minha boca e beijei
onde ele havia beijado. As pupilas de Marcelo dilataram consideravelmente. Ele lambeu seus
lábios mais uma vez e percebi sua respiração ficando mais forte. Levei meu dedo aos seus lábios
novamente e Marcelo abriu seus lábios quentes e sugou meu dedo com sua língua úmida fazendo-
me sentir uma reviravolta em meu ventre. Afastei minha mão de seu rosto e encostei meus lábios
nos dele. Parecia que eu não o beijava há uma eternidade. Marcelo lambeu meus lábios e
entrelaçou seus dedos em meu cabelo, dando uma puxada devagar para trás. Um gemido saiu de
minha garganta sem que eu conseguisse segurar. Marcelo me puxou para ele me beijando
finalmente. A sensação de sua língua na minha era impossível de explicar. Me afastei de Marcelo e
o fiz deitar de barriga para cima me sentando em suas coxas em seguida. O corpo de Marcelo era
espetacular. Abaixei meu rosto em direção aos seus hematomas e beijei cada um deles devagar.
Marcelo contraía sua barriga em resposta me deixando ainda mais excitada. Continuei a beijar sua
barriga quando Marcelo agarrou meus cabelos e me puxou em direção ao seu rosto. Minha boca
ficou próxima da dele, mas ele não me beijou. Ele continuou a me olhar de forma intensa e puxou
meu cabelo ainda mais me fazendo sentir mais vontade de tê-lo naquele momento. Olhei em seus
olhos e Marcelo falou tão baixo, que se o ambiente não estivesse em um completo silêncio, eu não
teria escutado.
-Você não vai embora.
Tentei negar com a cabeça, mas ele a segurou no lugar puxando ainda mais meus cabelos.
-Você não vai a lugar nenhum ouviu? - Marcelo falou mais alto dessa vez.
Tentei concordar com a cabeça, mas ele me impediu.
-Diga!
-Eu não vou a lugar nenhum.
-De novo!
-Eu não vou a lugar nenhum!
-Bom!
Marcelo diminuiu o aperto e lambeu meus lábios. Quando fui retribuir ele me afastou. Olhei
confusa pra ele que finalmente sorriu.
-Quero ver seus lábios vermelhos ao redor do meu pau.
Sorri em resposta fazendo Marcelo ficar sério mais uma vez. Ele já sabia que eu pretendia fazer
isso, mas ele fazia questão de mandar. Tirei sua mão de meus cabelos e voltei a me sentar em suas
coxas. Beijei sua barriga e fui descendo até chegar ao elástico de sua cueca. Sua ereção já era
notável na minha frente. Passei a mão por cima dela e Marcelo gemeu fechando os olhos. Segurei o
elástico da sua cueca e puxei para baixo liberando sua ereção. Marcelo era bonito em todos os
lugares. Segurei sua ereção e dei um beijo em sua cabeça já úmida. Lambi devagar e Marcelo
agarrou meus cabelos mais uma vez.
-Me engole Cherry!
Abri mais a minha boca e Marcelo afundou minha cabeça em direção ao seu membro. Fui engolindo
ele com calma e senti seu latejar em minha garganta. Marcelo me soltou e eu me afastei tomando
fôlego.
-Caralho...
Marcelo praguejava com os olhos fechados. Repeti mais uma vez o movimento e fui um pouco mais
fundo. Marcelo agarrou o lençol e me empurrou para longe dele. Lambi meus lábios e sorri. Ele
balançou a cabeça e deitou sorrindo também. Me aproximei de sua pelve e segurei sua ereção para
cima, afastei minha calcinha e encaixei seu membro em minha abertura molhada. Marcelo levantou
a cabeça e segurou meu quadril com as duas mãos. Ele tentou fazer eu me movimentar rápido, mas
eu o impedi. Marcelo não podia fazer esforço algum e muito menos ter algum impacto em seu
corpo. Afastei suas mãos do meu corpo e fui descendo até que Marcelo estivesse completamente
dentro de mim. Fiquei um tempo parada o observando até que comecei a me mover devagar
rebolando para que eu pudesse sentir toda a circunferência de Marcelo. Continuei a me mexer e aos
poucos a pulsação de Marcelo se fez presente e dessa vez eu não o interrompi. Marcelo gozou ao
mesmo tempo que eu. Tapei minha boca para evitar qualquer barulho enquanto Marcelo cobria seu
rosto com o braço. Assim que nosso corpo foi relaxando, saí de cima de Marcelo e me deitei ao
seu lado. Ficamos nos olhando por um bom tempo. Marcelo não disse mais nenhuma palavra. Ele
me olhava sério e isso me deixava angustiada, mas ele precisava desse tempo, então decidi ajudar
Marcelo ir até o banheiro para tomarmos banho. Eu tinha certeza que Marcelo não havia comido
nada, então o obriguei a ir até a cozinha comigo para que ele comesse um lanche. Depois de muita
insitencia, Marcelo comeu, tomou os remédios e voltamos para a cama para descansar. Eu não saí
do lado de Marcelo um segundo sequer.
32...
De manhã Cherry e eu descemos para tomar café e meu pai estava sentado na sofá da sala
conversando ao celular. Cherry e eu fomos para a cozinha e um tempo depois meu pai nos chamou e
pediu que nos sentássemos até todos estarem presentes. Ele chamou um por um e quando estávamos
todos na sala ele começou a falar.
-Caveira encontrou dois sócios de Nick. Acredito que um deles foi quem te agrediu. Você
conseguiria reconhecer algum deles Marcelo?
-Eu não sei... ele estava com capuz, mas posso tentar reconhecer pela voz.
-Eu também! Eu o escutei durante a ligação! - Cherry falou.
-Ótimo! Caveira está com os dois e pediu que eu fosse até lá.
Minha mãe agarrou a mão de Manu que olhava assustada para o meu pai. Murilo estava em
silêncio, mas era possível ver que também estava nervoso com a situação.
-Você não lembra de nenhum sócio dele Louise?
-Não! Nick sempre me apresentou seus amigos de bebida, mas nunca me disse que tinha sócios.
-Entendi. Bom, o jeito é fazer esses caras contarem se tem mais alguém envolvido no clube.
-E como você vai fazer isso Travis? - minha mãe perguntou angustiada.
-Vou dar um jeito. Marcelo você vem comigo e o resto espera aqui!
-Eu também vou! - Cherry se impôs.
Meu pai olhou diretamente pra ela e respondeu friamente.
-Você não vai e não tem discussão!
-Eu posso reconhecer se um deles era amigo de Nick!
-Você não vai!!! Fui claro??
Cherry olhava meu pai com raiva e eu não conseguia entender o porquê deles estarem se tratando
dessa maneira. Manu abaixou a cabeça e ficamos todos em silêncio.
-Vamos Marcelo, não temos todo o tempo do mundo!
Meu pai pegou a chave do carro e saiu da casa sem olhar pra trás. Me despedi de todos e fui atrás
dele. Quando eu chegasse conversaria com Cherry sobre tudo o que estava acontecendo. Entrei no
carro e meu pai ficou em silêncio em quase todo o percurso. Ele estava nitidamente nervoso e
ansioso. Não consegui mais segurar a curiosidade e perguntei o que estava acontecendo.
-Por que tratou Cherry daquela maneira?
-Tratei normal Marcelo!
-Não tratou não! O que aconteceu que eu não estou sabendo?
-Você já sabe! Ela queria ir embora.
-E?
-Mais nada!
-Você está mentindo! Eu preciso saber de tudo!
-Quer saber tudo?
-Quero!
-Eu pedi a ela um prazo de dois dias até encontrar os culpados, e se passando esse prazo, caveira
não os encontrasse, ela poderia ir embora pra nunca mais voltar.
Fiquei em silêncio depois de ouvir a resposta. Cherry realmente ia embora então? Aquilo me
deixou com muita raiva, por que a mágoa ainda estava lá.
-Ela aceitou? A proposta?
-Sim.
Aquela foi a resposta que mais doeu. Quer dizer então que hoje foi uma despedida pra ela? Que
assim que tudo se resolver, ela simplesmente vai embora sem se importar com nada? Aquela
certeza era pior que tudo o que passei ultimamente.
-Ela estava com medo. - meu pai falou tentando me confortar.
-E eu não?
-Ela te ama.
-Não o suficiente!
Virei o rosto para a janela e fiquei olhando as casas passando depressa. Quantas pessoas estariam
sofrendo por algo parecido naquele exato momento? Quantas pessoas estavam sendo covardes e
fugindo de seus problemas? Eu não sabia distinguir o que eu sentia agora. Se era raiva ou
decepção. Mas eu só sabia de uma coisa: quando eu voltasse pra casa, eu faria essa decisão ser
tomada com mais facilidade pra ela. Se pra ela foi fácil decidir algo assim, então também vai ser
fácil quando for colocado em prática.
Chegamos ao galpão que Caveira passou o endereço. Meu pai já estava familiarizado o suficiente
com os métodos de Caveira trabalhar, e era algo que eu não me intrometia. Assim que entramos no
galpão escuro, Caveira veio até nós.
-Eai patrão? Patrãozinho! - Caveira nos cumprimentou.
-Onde eles estão? – meu pai perguntou.
-Na porta do fundo.
Caveira apontou para uma porta de madeira e caminhanos até ela. Meu pai a abriu com tudo e
entrou em seguida. Entrei atrás dele e avistei dois homens machucados amarrados em suas
cadeiras.. Me aproximei deles e os mesmos olharam em minha direção. O da esquerda ficou
nitidamente nervoso ao me ver, me fazendo desconfiar dele. Os comparsas de Caveira se afastaram
ficando perto da porta aguardando alguma ordem. Meu pai se aproximou dos dois e deu um soco
em cada um.
-Quem foi o filho da puta que tentou matar meu filho?
Eles ficaram em silêncio olhando para o chão. Meu pai acertou mais um soco no rosto de cada um
causando um sangramento do nariz deles.
-Digam em voz alta: Eu sou sócio do Nick!
Mais uma vez eles ficaram em silêncio.
-FALEM PORRA!!!!
-Eu. .. eu.. sou sócio do Nick!
O da direita falou e a voz não parecia nada com a que eu ouvi aquele dia.
-Agora você! - meu pai apontou para o homem da esquerda.
-Eu sou sócio do Nick! - ele falou baixo.
-Mais alto!!! - meu pai exigiu.
-Eu sou sócio do Nick!
O homem falou mais alto e sua voz entrou em meus ouvidos exatamente da forma que ouvi quando
estava caído no chão. O homem olhou para mim desesperado, e se eu não estivesse sentindo ainda
toda aquela dor, eu poderia sentir pena dele. Não precisei dizer nada para que meu pai entendesse
quem era o culpado. Meu pai acertou três socos em seu rosto fazendo sua cadeira cambalear para
trás. Senti meu estômago revirando com a cena e saí correndo de dentro daquela sala. Assim que
coloquei o pé pra fora só galpão vomitei tudo o que tinha pra vomitar. Eu ainda não entendia como
era possível tudo aquilo acontecer. Me sentei na calçada e não tive coragem de voltar pra dentro
mais uma vez então fiquei esperando meu pai ali mesmo.
Um bom tempo depois meu pai saiu do galpão sem dizer nada. Destrancou o carro e entrei em
silêncio. Ele não queria falar sobre isso e muito menos eu. Fizemos o caminho para casa sem trocar
uma palavra sequer. Sua camiseta estava suja de sangue estava aquilo me deixava ainda mais
nervoso. Eu soltei meu cinto, tirei minha jaqueta, em seguida minha camiseta e lhe entreguei. Meu
pai me olhou confuso e apontei para a camiseta dele. Ele olhou pra baixo e suspirou ao ver as
manchas em sua camiseta. Ele parou no acostamento e vestiu minha camiseta e eu vesti minha
jaqueta de volta. Meu pai olhou para mim e assentiu com a cabeça como se estivesse agradecendo.
Ao chegarmos em casa, nós dois fomos direto para o banho. O pessoal ficou perguntando o que
havia acontecido, e meu pai se limitou em dizer que deu tudo certo. Eu não sabia o que meu pai
havia feito lá dentro e nem quis saber na verdade. Aquele seria o nosso segredo. Minha mãe
informou que Cherry havia ido para o pub e que depois iria direto pra casa. Eu nem tinha percebido
que passamos praticamente o dia todo naquele galpão. Eu apenas assenti e fiquei pensando em qual
seria a atitude certa a tomar.
33...
Assim que saí do banho e desci pra comer alguma coisa, meu pai conversava com a minha mãe,
Manu e Murilo sobre o que aconteceu hoje. Tenho certeza que ele não entrou em detalhes, mas pela
cata da minha mãe, ela sabia do que ele era capaz de fazer pela família. Estavam todos sérios
quando entrei na cozinha. Minha mãe olhou pra mim e sorriu.
-Como está se sentindo?
-Bem mãe.
Todos me olhavam com piedade e isso me deixava puto da vida.
-O que foi? Todos já sabem que Cherry ia ou vai embora?
Eles ficaram em silêncio. Murilo se afastou indo para a sala.
-Por que vocês não falam o que têm pra dizer? - a raiva ia subindo pelas minhas veias.
-Olha irmão, todo mundo aqui entende tudo o que você está passando, mas abaixa a bola! - Murilo
falou se alterando.
-Abaixa a bola por quê? Vocês acham que eu não sei que estão cochichando pelos cantos e que
ninguém tem coragem de dizer o que está pensando?
-Olha irmão, sei que você está nervoso, mas você tem que parar de descontar na Cherry mano! Sim,
ela errou de pensar em ir embora, mas ela não foi!
-É você sabe por que?
-Por que ela quer ficar com você!
-Não! Por que o pai pediu que ela esperasse a porra de dois dias pra resolver o problema e
descobrir quem fez aquilo comigo. Só por isso ela ficou "irmão"! - falei ironicamente.
Todos olharam para o meu pai que abaixou a cabeça.
-Mais alguém quer dizer alguma coisa?
-Ela é uma covarde! - Manu falou alterada.
-Ela é sim, mas eu não vou ser de por um fim nisso!
Saí da cozinha e peguei o documento e chaves do carro do meu pai em cima da mesa. Assim que
passei pela porta da sala, ouvi minha mãe me chamar, mas meu pai pediu que ela me deixasse ir.
Entrei no carro e dei partida indo para a nossa casa.
Assim que eu coloquei os pés lá dentro, eu queria quebrar tudo. Eu não conseguia me conformar
que ela pensou em me deixar naquela situação. Peguei uma mala e comecei a guardar todas as
minhas roupas dentro. Eu não conseguiria lidar com a piedade dela de ficar por mais dois dias por
causa de um pedido do meu pai. Se ir embora era o que ela queria, então eu facilitaria pra ela.
Eu queria ir embora sem ao menos avisar, mas decidi que ia esperar ela chegar e olhar nos olhos
dela para que ela sentisse como aquilo doía.
Perto do horário dela chegar, eu já tinha arrumado todas as minhas coisas. Não havia nem um pêlo
meu que ficaria pra trás. Eu estava sentado na beira da cama quando Cherry chegou. Ela veio direto
para o quarto e se assustou quando me viu lá.
-Oi amor! Você está bem?
-Deu tudo certo! Eles não vão mais ser um problema.
Ela suspirou de alívio se ajoelhando na minha frente e nessa hora ela viu as malas ao lado da cama.
Cherry franziu a sobrancelha e me olhou confusa.
-Que malas são essas?
-Minhas.
-Suas? Por qu? Nós vamos precisar sair da cidade?
-Não. Eu estou indo embora.
-Embora? Pra onde?
-Pra minha casa.
-Por quê? O que aconteceu?
Cherry se levantou e estava trêmula. Ela me olhava assustada e confusa ao mesmo tempo.
-Eu vou embora como você queria fazer.
-O quê? - sua voz saiu num sussurro.
-Eu já sei que você não foi embora porque meu pai te pediu dois dias. Então estou tornando isso
mais fácil pra você! Vou embora antes mesmo de acabar os dois dias! Não é ótimo?
-Do que você está falando? Eu pensei que estava tudo resolvido... eu...
-Eu também. Mas descobri que não.
-Não fala assim Marcelo!
-Por que não Louise? Só você tem direito de fazer o que quer? Só você tem direto de decidir por
nós dois? Pelo o que me lembre você não me consultou antes de cogitar a idéia de ir embora!
-Eu.. eu estava com medo... eu...
-E eu estava quase morrendo por sua causa! Eu arrisquei a minha vida pra te salvar porque eu
pensei que você valesse a pena, mas me enganei.
-Não fala assim. Por favor... - Sua voz saiu em um fio. Ela se sentou na cama e eu me levantei.
-Por que você ficou? - ela me olhou incrédula. -Por que porra???
Eu estava completamente fora de controle. Só de imaginar minha vida sem Cherry a raiva me
consumia. Comecei a chutar minhas malas e jogar tudo que havia ao meu alcance no chão. Eu
queria quebrar aquele lugar todo até não restar uma lembrança boa nossa.
-Por que eu te amo seu imbecil!!!!! - Cherry respondeu alterada como eu.
-Você me ama? Me ama e ia me deixar quando eu mais precisava de você?? Você acha que isso é
amar??
-Amar é pensar na felicidade do outro mesmo que custe a sua!
Eu ri daquela frase formada e ela me olhou furiosa.
-Qual a graça Marcelo?
-A graça é você achar que sua frase justifica tudo!
-Nada justifica o que eu ia fazer! Mas eu ia fazer mesmo assim! Ia por a minha felicidade no chão
somente para saber que você e sua família ficariam bem! Eu ia me entregar para o sócio de Nick
para que ele te deixasse em paz! Eu não pensei nem um pouco em como seria pra mim e somente se
você estaria a salvo! Então me desculpe se isso não significa amar pra você!
Cherry chorava, mas tentava segurar. Ela sempre foi durona e quando ela chora é porque chegou ao
seu limite.
-E como você acha que eu ia me sentir ao saber que você me deixou na merda e que se entregou pra
um bandido? Como você acha que eu ia ficar????
-Vivo Marcelo! Você estaria vivo e isso seria o suficiente pra mim independente do que
acontecesse comigo!
Suas palavras me deixaram sem resposta. Cherry secou as lágrimas e passou as mãos nos cabelos.
Eu pensei que ela estava fugindo porque não aguentaria lutar por nós, e não que ela se sacrificaria
por mim como fiz por ela. Olhei para ela mais uma vez que começou a soluçar.
Eu não sabia o que fazer ou dizer. Eu estava com tanta raiva por ela ter pensado em ir embora, que
não me coloquei no lugar dela um minuto sequer. Fui até ela e a abracei. Cherry passou os braços
ao redor do meu pescoço e chorou anda mais. Passei a mão em seu cabelo e aos poucos ela foi se
acalmando. Ao sentí-la em meus braços fui ficando mais calmo também. Eu perdia o controle de me
imaginar sem ela. Minha vida seria um nada sem Cherry.
Ficamos um tempo abraçados sem dizer uma única palavra. Nós dois estávamos tristes, magoados e
sem saber o que seria o certo a se fazer.
34...
Na manhã seguinte deixei Cherry dormindo e fui para casa conversar com todos a respeito da
maneira que estavam tratando Cherry. Cheguei na hora do café da manhã e todos me olharam em
silêncio.
-Bom, eu vim dizer que resolvi meus problemas com Cherry. Ela não vai embora e eu não vou
terminar com ela, então peço a gentileza que todos continuem a tratando bem.
-Pffff - Manu bufou.
-O que foi Manuela? Se tiver alguma coisa a dizer esse é o momento!
Eu não estava ali pra aguentar brincadeiras. Nós passamos por problemas graves e esse era o
momento de resolver tudo de uma vez para todos nós podermos seguir em frente.
-Nada! Só acho que se ela quis fugir com algo tão sério acontecendo, imagine com alguma besteira.
-Alguém aqui além de Murilo conversou de verdade com ela para saber seus motivos?
Todos negaram com a cabeça.
-Cherry ia embora, pois iria se entregar para o sócio de Nick para que ele nos deixasse em paz.
Esse foi o motivo que a fez pensar em ir embora.
Os rostos chocados à minha frente mostraram que ninguém sabia daquilo. Até mesmo eu não sabia e
a julguei antes mesmo de tentar entender.
-Exatamente! Eu errei da mesma forma que todos vocês. Eu fiz a minha parte e espero que vocês
façam a de vocês!
Minha família ficou em silêncio sem nem se mover. Todos ali sabiam que tinham cometido um
grande erro e eu esperava de verdade que tudo voltasse ao normal.
-Alguma novidade do Caveira pai?
-Não. Ele resolveu o problema ontem!
-Ótimo! Vou me trocar e vou pra faculdade. Eu preciso conversar lá pra não perder um ano por
causa das minhas faltas.
Meu pai assentiu e fui para o meu quarto me trocar. Separei todos os meus atestados médicos e fui
para a faculdade resolver outro problema. Só que bem mais fácil dessa vez.
Cherry e eu quase perdemos o ano da faculdade por causa das faltas que tivemos em praticamente
todas as provas, então conversei com o diretor e depois de muita insistência e explicações e por
termos sido bons alunos, ele permitiu que fizéssemos todas as provas novamente e que se não
tivéssemos notas boas, teríamos que refazer todas as matérias sem reclamar. A notícia me deixou
puto e aliviado ao mesmo tempo. Seria extremamente puxado para os dois, mas daríamos um jeito
de fazer funcionar.
Meu pai retomou a rotina de lutas e voltou a viajar com a minha mãe para suas lutas fora da cidade.
Murilo e eu voltamos a conversar normalmente e ele até me contou que estava com uma garota, mas
não entrou muito em detalhes. Disse que só contaria se os dois começassem a namorar e que ainda
estavam se conhecendo.
Manu não entrava em detalhes sobre sua vida amorosa, e eu nem queria saber de nada. Por mim ela
seria virgem até morrer de velhice. Se pelo menos ela fosse feia, nenhum cara iria correr atrás
dela. Mas enfim, prefiro me fazer de cego nesse caso.
Caveira nos confirmou que não existia mais laço nenhum de Nick com mais ninguém e que todas as
pessoas que frequentavam o clube desapareceram misteriosamente. Acho que ninguém queria
mostrar que fazia parte de algo tão sujo.
Os dias foram passando e todos voltaram a tratar Cherry como sempre trataram. Meu pai voltou a
chamá-la de Cherry e Manu parou de ficar de cara feia. Ela realmente era considerada da família e
isso me deixava muito feliz.
Tive retorno com o meu médico e contei o aconteceu (da minha forma sem mencionar Nick) e ele
disse que tive muita sorte por não ter me prejudicado ainda mais. O Dr Michel me liberou para
exercícios leves e sem muita força, como caminhada e corrida, mas nada além disso. Quando
Cherry estava de folga eu fazia a limpeza da casa e por incrível que pareça eu me dei bem nisso.
Claro que eu não contava a ninguém que eu era também dono de casa porque isso iria afetar a
minha masculinidade, mas eu fazia o que fosse para poupar Cherry das partes mais pesadas.
Um dia eu conversei com Cherry sobre nos casar, e ela disse que achava aquelas festas grandes
uma bela de uma besteira. Que era uma forma de jogar dinheiro na lata do lixo e que ela preferia
gastar dinheiro com uma viagem ou algum passeio radical. Então foi o que eu decidi fazer. A levei
para uma viagem em um hotel fazenda e planejei fazer daquela viagem completamente inesquecível.
O hotel era simplesmente fantástico. Era bem isolado da cidade, haviam diversas atividades e o
principal: PAZ e SILÊNCIO. Lá também haviam piscinas, e as atividades radicais que Cherry tanto
queria. Como por exemplo tirolesa, escaladas, trilhas, E por incrível que pareça havia a porcaria
de uma montanha russa naquele lugar. Cherry queria que eu fosse com ela de qualquer jeito e eu
falei que iria no dia seguinte. Mas eu decidi falar isso todos os dias até chegar a hora de ir embora.
Assim eu não teria que subir naquele liquidificador matador de gente.
Cherry amou o lugar, mas ela mal podia esperar pela surpresa que eu havia reservado a ela. No
primeiro dia de viagem Cherry fez a escalada, foi na tirolesa e queria que eu fosse com ela de
qualquer jeito. Falei que estava meio indisposto e que no dia seguinte eu iria. Ela ficou
desconfiada, mas não reclamou pela primeira vez na história. No segundo dia ela pediu mais uma
vez que eu fosse com ela nas atividades, mas disse que deixaria para o dia seguinte. No terceiro dia
fingi que estava com dor e ela não insistiu. No quarto dia não havia mais nenhuma desculpa que eu
pudesse dar sem que ela desconfiasse que eu era um maricas, então tive que aceitar ir no
liquidificador da morte. Não sei como fui parar sentando naquele banco assassino, mas quando me
dei conta eu já estava preso naquilo e não poderia sair. O carrinho da montanha russa começou a
andar devagar e Cherry sorria o tempo todo pra mim. E quanto mais ela sorria, mais eu queria
socar a cara dela por achar aquilo engraçado. Tentei sorrir de volta, mas o pânico tomou conta de
mim quando chegamos ao topo do liquidificador. Agarrei a mão de Cherry e rezei umas três Aves
Marias quando o negócio começou a andar. Eu acho que perdi a consciência durante o trajeto, pois
não lembro de absolutamente nada.
Quando o caminho da morte finalmente chegou ao fim, eu saí correndo daquele banco e me joguei
no chão sentindo a terra firme em meu corpo. Minha roupa estava ensopada de suor e eu
desacreditei do quanto eu tive medo daquele negócio. Cherry segurava a barriga de tanto que ria e
as pessoas ao redor olhavam pra mim e riam junto.
-Qual a porra da graça?
-Você... você... desmaiou... você... falou que preferia levar três tiros ao invés de andar naquilo de
novo Marcelo!
Cherry mal conseguia falar de tanto que ela ria. Fiquei pensando no que ela falou e realmente acho
que perdi a consciência, pois não lembro de nada. Me levantei do chão e fui em direção ao nosso
chalé. Eu precisava de um banho urgente para esquecer essa experiência horrível da minha vida.
Cherry veio atrás de mim ainda rindo e aquilo estava tirando a minha paciência.
-Se você continuar rindo dessa porra vamos fazer as malas e vamos embora agora! Eu avisei que
não queria ir! O mínimo que você poderia fazer agora é ter respeito porra!
Cherry parou de rir assim que disse a última palavra. Eu estava bravo demais com a atitude dela,
então assim que entrei no chalé, fui direto para o banho me acalmar. Eu tranquei a porta para que
ela não entrasse, mas ela não tentou mesmo assim. Eu havia planejado uma noite muito especial e
não queria que um brinquedo assassino estragasse tudo. Fiquei no banheiro até estar totalmente
calmo e fingi que nada aconteceu.
35...
(Louise)
Marcelo ficou muito bravo porque eu ri dele na montanha russa. Ele ficou desmaiado o trajeto todo
e seria impossível não rir de algo como aquilo. Quando Marcelo saiu do carrinho ele suava, estava
pálido e tremia como se fosse ter um piripaque a qualquer momento. E eu desconfio que nem
mesmo ele sabia que tinha tanto medo de altura. Eu tentei controlar o riso, mas foi algo mais forte
do que eu. Ao chegarmos no chalé, Marcelo se trancou no banheiro e achei melhor não incomodar.
Ele ficou muito bravo comigo e quando ele fica dessa forma é melhor deixá-lo se acalmar sozinho.
Fiquei na cama esperando ele sair do banheiro para que eu pudesse tomar banho. Uma hora depois
ele finalmente saiu do banheiro e já estava normal, então achei melhor nem tocar no assunto.
-Hoje eu quero que você se arrume bem bonita. Vamos ter um jantar especial já que amanhã é nosso
último dia aqui.
-Quer dizer que eu me arrumo feia?
-Claro que não Cherry!
-Então é o que Marcelo? Que eu não me arrumo o suficiente?
-Eu não disse isso! Eu quis dizer...
-Que eu preciso me arrumar melhor. - o interrompi.
-Claro que não marrentinha!
-Vai à merda Marcelo!
Entrei no banheiro e tranquei a porta. Se ele quis dizer que eu não me arrumava direito, hoje ele ia
ter uma surpresa!
Durante o tempo que estive no banheiro Marcelo saiu do chalé para dar uma volta, então aproveitei
e peguei tudo o que eu precisava para me arrumar.
Perto da hora do jantar, Marcelo bateu na porta do banheiro perguntando se eu estava viva. Eu
disse que sim e que já estaria pronta. Eu coloquei um vestido branco de seda bem soltinho que tinha
o comprimento de um palmo acima dos joelhos. Ele era de alcinha e delineava bastante meu corpo.
Calcei um par de sandálias sem salto cheio de pedrarias para contrastar com o vestido e um brinco
grande com uma pedrinha embaixo. Na maquiagem, passei delineador e esfumei os olhos com
sombra marrom e na boca passei um batom nude para não ficar parecendo uma palhaça. No meu
cabelo decidi fazer escova e prendi uma das laterais com grampo, deixando meu rosto livre. Olhei
meu reflexo no espelho e fiquei satisfeita com o que eu vi. Marcelo nunca me viu arrumada dessa
forma porque nós nunca tivemos um encontro de verdade como todo casal deveria fazer pelo menos
uma vez. Todos os nossos encontros foram na cama dele, nos hospitais por ai..
Marcelo bateu mais vez na porta e eu finalmente a abri. Ele estava de costas para mim e quando
virou ficou paralisado no mesmo lugar. Marcelo me olhava de cima a baixo me deixando
completamente constrangida.
-O quê? Está muito exagerado? - perguntei insegura.
-O quê?? Exagerado? Nunca! Você está! Uau! Perfeita marrentinha! Puta que pariu!
-Obrigada! Você também está!
Marcelo sorriu e se aproximou. Ele vestia uma bermuda preta com uma camisa branca de botões
abertos em cima. Mesmo mais magro do que quando eu o conheci, ele ainda era forte e musculoso e
continuava sendo irreisitivel pata mim. Marcelo estendeu a mão e eu coloquei a minha na dele e
fomos em direção à porta. O restaurante ficava próximo ao nosso chalé, mas antes tínhamos que
passar pela área da piscina para chegar nele. Assim que nos aproximamos eu pude ver que a área
da piscina estava toda enfeitada e a piscina estava cheia de pétalas vermelhas boiando.
-Ai Meu Deus! Alguém vai se casar Marcelo! A gente pode ver só um pedacinho antes do jantar?
-Claro marrentinha!
Marcelo e eu nos aproximamos das cadeiras que estavam postas na grama e ele me levou para a
primeira fileira.
-Aqui podemos ver melhor!
-Será que a gente pode ficar aqui? - cochichei.
-Pode sim! Todos foram convidados!
-Ai que lindo! - falei olhando ao redor.
O lugar estava lindo. Haviam luzes natalinas espalhadas dando um ar extremamente romântico. O
resto da decoração era branca e com pétalas vermelhas. Ficamos um tempo sentados quando mais
pessoas começaram a chegar. Eu estava empolgadíssima para ver a noiva.
-Você sabe quem vai casar? - perguntei a Marcelo.
-Não. Mas a gente deve ter visto eles por aí!
-Verdade!
Uma música baixa começou a tocar e meu coração disparou de expectativa. Não seria eu que ia
casar, mas acredito que todos aqui estavam ansiosos também. Olhei para o altar e o homem que
acredito ser o padre estava se ajeitando para iniciar a cerimônia. Marcelo sorriu pra mim e disse
que ia ver se precisavam de alguma coisa. Assenti e fiquei maravilhada com todos ao redor
vestidos de branco como naqueles casamentos que aconteciam na praia.
A música começou a ficar mais alta e todos se levantaram. Procurei por Marcelo, mas não o
encontrei e fiquei aflita por estar ali sozinha. Olhei para os lados procurando pela noiva, mas não
havia ninguém vindo. Olhei para o altar mais uma vez e minhas pernas bambearam ao ver Marcelo
parado ali na frente de todos com um microfone nas mãos.
36...
A cara da Cherry quando me viu com o microfone na mão foi impagável. Ela tentava esconder o
rosto com os cabelos, mas não deixou de sorrir um segundo sequer. Eu sabia que ela ia me xingar
muito por fazê-la ficar na frente de tanta gente, mas no fundo acredito e tenho esperança de que ela
vá gostar. O lugar que fizeram de improviso para o casamento estava mais bonito do que eu
imaginei. E principalmente por todos os hóspedes e funcionários do hotel estarem presentes. Fui
para o meu lugar no altar e comecei a falar no microfone.
-Minha marrentinha, eu sei que você vai querer me matar por isso, mas eu decidi fazer mesmo
assim. Eu sei que combinamos de não fazer casamento e nem mesmo qualquer festa, mas eu
precisava oficializar o nós temos. Eu te amo e quero que você seja minha fisicamente,
psicologicamente e no papel também. Você aceita se casar comigo diante a todos esses
desconhecidos que serão nossas testemunhas?
Todos começaram a rir e olharam para Cherry em expectativa. Ela olhou ao redor e para mim e
começou a rir concordando com a cabeça. A maioria das pessoas suspiraram aliviadas assim como
eu. Fui até ela e estendi a mão para que ela viesse comigo. Seus olhos brilhavam e seu sorriso bobo
me fez ter mais certeza de que ela era a mulher da minha vida. O padre fez todo aquele discurso e
nos deu a voz para fazermos os votos. Eu fui o primeiro.
-Minha marrentinha, eu me lembro ainda hoje da certeza que tive quando te olhei pela primeira vez.
Da certeza que me invadiu me mostrando que era você, era você quem eu tanto esperava e queria.
Era você que Deus havia separado para me amar, cuidar de mim e ser a mulher da minha vida,
mesmo com você fugindo de mim de todas as formas possiveis! - ouvi risos - Quando te olhei pela
primeira vez sabia que meus filhos teriam aquele mesmo olhar cheio de brilho, aquele sorriso torto
e a boca mais esperta que eu já tive a chance de conhecer. Quando te conheci não tive mais
dúvidas: você é a minha escolhida. A minha mulher, a minha razão de tudo. Obrigado por me ter me
dado a oportunidade de me apaixonar por você! E não vou dizer que por mim, você se apaixonaria
de qualquer forma!
Cherry riu junto aos convidados e secou as lágrimas que escorriam em seu rosto.
-Apesar de você ser tremendo filho da mãe metido, enxerido, nada humilde, você foi um presente
na minha vida. Um presente que eu nunca sonhei que teria. Um presente que apareceu quando eu
mais precisava sem ao menos saber disso. Você me faz ser a melhor pessoa que eu poderia ser. Me
fez ser corajosa, me fez enfrentar problemas que eu jamais imaginei que pudessem ser reais. Com
você eu pude ter a certeza de que eu achei meu grande amor, meu esposo, meu amigo, o pai dos
meus filhos. A gente vive um conto de fadas: porque você é o meu príncipe encantado. Eu te amo
tanto Marcelo, eu devo a minha vida a você! Literalmente! Eu te amo!
Cherry terminou seus votos num sussurro. Era possível ouvir as pessoas fungando ao nosso redor,
mas eu não tirei meus olhos um segundo sequer daquele rosto a minha frente. Daquela mulher que
me fez sentir todos os tipos de sentimentos de uma só vez. Que me fez amadurecer e ser digno para
alguém. Cherry me olhou sorrindo..
O padre nos entregou a aliança e eu coloquei em sua mão delicada dando um beijo em seguida.
Cherry fez a mesma coisa e o padre nos declarou finalmente marido e mulher. Segurei Cherry pela
cintura e a levantei para que ficasse na minha altura. Beijei a ponta de seu nariz e seus lábios. Ela
me abraçou e apertou seus lábios nos meus. As pessoas começaram a nos aplaudir e coloquei
Cherry devagar no chão.
-Você me paga muito caro por isso Marcelo!
-Se envolver tapas e sexo selvagem podemos resolver isso agora!
Todos começaram a rir e foi nessa hora que percebi que o microfone ainda estava ligado na minha
mão. Cherry me olhou com um ódio mortal e saiu andando me deixando para trás. As pessoas
presentes começaram a nos desejar felicidades e algumas me desejaram boa sorte. Achei melhor
não contar aquela parte para Cherry e fomos para o restaurante ter nosso primeiro jantar como
casados.
O jantar foi maravilhoso. O hotel arrumou tudo de uma forma que deixou Cherry completamente
maravilhada. As mesas estavam com a mesma decoração da piscina e ficou tudo perfeito. Cherry
sorria o tempo todo e fiquei muito satisfeito que tudo tenha corrido como o planejado sem nenhuma
surpresa desagradável.
Depois do jantar voltamos para o chalé e assim que fechei a porta, Cherry foi tirando seu vestido
ficando apenas com uma micro calcinha. Ela veio até mim e tirou minha camisa. A segurei e
levantei pela cintura e Cherry entrelaçou suas pernas ao redor da minha cintura.
-Eu quero você dentro de mim agora Marcelo.
Sorri ao ver seu desejo.
-Eu também quero me enterrar em você marrentinha. Mas antes vou fazer você implorar.
Ela me olhou com aqueles olhos de ódio mortal e bufou.
-Que porra é essa agora? - Cherry perguntou furiosa.
-A porra de termos a melhor transa que já tivemos.
Joguei Cherry na cama que me olhava curiosa. Engatinhei até ela e a fiz deitar no meio da cama. Fui
até a minha mala e peguei os presentes que eu havia comprado para a nossa lua de mel
improvisada. Entreguei para ela e pedi que escolhesse a ordem de uso.
-Como vou escolher sem saber o que é?
-São quatro coisas marretinha. É só dizer a ordem.
Ela separou os presentes na ordem que ela queria e eu os coloquei na mesa na mesma ordem e
entreguei o primeiro. Cherry me olhou faminta ao ver que dentro da caixa havia um par de algemas.
Pedi que ela ficasse meio sentada na cama e prendi suas mãos na cabeceira. Peguei a segunda caixa
e abri mostrando um masturbador masculino. Cherry estava séria e sua respiração ofegante. Fiquei
em pé próximo ao pé da cama e abaixei minha bermuda ficando só de cueca. Meu membro já
latejava só de vê-la daquela forma. Retirei o masturbador da embalagem e abaixei minha cueca.
Cherry tentava mexer as mãos, mas as algemas a impossibilitaram disso. Encaixei os masturbador
na minha ereção e comecei a fazer movimentos de vai e vem, porém devagar. Cherry lambia os
lábios e esfregava uma perna na outra à procura de alívio. Eu sorri para ela que fechou os olhos.
Tirei o masturbador e abri a terceira caixa de presente. Tirei uma venda de dentro e Cherry bufou
de frustração.
-Eu não quero isso! - ela falou resmungando.
-Você vai gostar marrentinha. Deixa eu tentar.
-Tá bom. - Cherry falou chorosa.
Coloquei a venda em seus olhos e abri o quarto presente. Tirei o vibrador de dentro da embalagem
e me sentei entre as pernas de Cherry. Beijei seus lábios, seus ombros, seus seios. Desci para a
barriga e para sua parte sensível. Cherry gemia e fungava me deixando louco. Liguei o vibrador e o
posicionei na sua carne protuberante causando um leve tremor em seus corpo. Cherry tentava fechar
as pernas, mas eu as mantia aberta. Eu intercalada entre lambidas e movimentos do vibrador.
Cherry implorou para que eu parasse e continuasse ao mesmo tempo.
-Fala o que você quer!
-Você Marcelo!
-Como?
-Dentro de mim!
-Como?
-Me comendo porra!
Cherry gritou e eu tirei o vibrador de sua pele. Ela gemeu de frustração e me ajeitei no meio de
suas pernas. Coloquei a cabeça do meu membro na sua entrada latejante.
-É isso que você quer?
-Sim!
-Não entendi!
-SIM!
-Sim o que?
-Por favor!
-Não ouvi marretinha!
-POR FAVOR!!!
Assim que ela terminou de falar eu entrei com tudo em Cherry. Seu corpo foi feito para o meu. Eles
se encaixavam perfeitamente como um quebra cabeças. Comecei a me movimentar com força e
Cherry gemia cada vez mais. Libertei seus braços da algema e Cherry prontamente me deu um tapa
na cara.
-Nunca mais me faça implorar!
Eu sorri com aquilo. Ela queria implorar muito mais. Ela queria que eu a fodesse de uma forma que
nunca fiz antes. Ela me olhava com raiva e desejo ao mesmo tempo. Eu saí quase inteiro de Cherry
e me afundei até onde eu consegui.
-Não entendi o que você quis dizer marrentinha.
Ela me deu outro tapa e mordeu os lábios. Eu estoquei com força sentindo ela se apertar ao meu
redor e nessa hora eu saí de dentro dela.
-Por que você fez isso porra?
-Porque você vai implorar quantas vezes eu quiser!
-Idiota!
-Peça!
-Nunca!
-Ah marrentinha... pede vai...
-Vai a merda!
Segurei minha ereção e comecei a me estimular. Cherry me empurrou na cama e sentou em mim com
urgência.
-Você é uma filho da puta Marcelo!
-Não sou não marrentinha...
Segurei em sua cintura e a girei ficando em cima dela e estoquei com força. Foram necessarias
mais algumas estocadas para que Cherry chegasse ao clímax e eu logo em seguida. Ficamos
completamente ofegantes, mas satisfeitos. Saí de Cherry e me joguei ao seu lado. Ela deitou sua
cabeça no meu peito e ficamos daquela forma até pegar no sono.
Aquela definitivamente foi a melhor noite da minha vida.
Epílogo...
...FIM...