Aula 04

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WBA0430_v1.

Direito empresarial e direito


aplicado ao comércio
Recuperação empresarial e de
crédito
Bloco 1

Renato Traldi Dias


Meios de recuperação judicial

- Art. 50, LFR, traz rol exemplificativo de meios utilizados para recuperação
judicial, sendo:
I – concessão de prazos e condições especiais para pagamento das
obrigações vencidas (já devidas) ou vincendas (que serão devidas);
II – cisão, incorporação, fusão ou transformação de sociedade, constituição
de subsidiária integral, ou cessão de quotas ou ações, respeitados os direitos
dos sócios, nos termos da legislação vigente;
Meios de recuperação judicial

III – alteração do controle societário – o que não necessariamente alterará a


configuração de votos;
IV – substituição de administradores ou modificação de órgãos
administrativos;
V – concessão aos credores de direito de eleição em separado de
administradores e de poder de veto em relação às matérias que o plano
especificar;
VI – aumento de capital social – ou seja, há cobrança de maior investimento
dos sócios na sua sociedade;
Meios de recuperação judicial

VII – arrendamento ou trespasse (transferência onerosa) de


estabelecimento, inclusive à sociedade constituída pelos próprios
empregados;
VIII – redução salarial, compensação de horários e redução da jornada,
mediante acordo ou convenção coletiva – opção controversa que,
evidentemente, deve, sempre que possível, ser evitada, dada a função social
da recuperação judicial;
Meios de recuperação judicial

IX – dação em pagamento (credor aceita receber prestação diversa da


devida, que pode até ter valor menor) ou novação de dívida (cria-se nova
dívida, que substitui a anterior), com ou sem garantia;
X – constituição de sociedade de credores;
XI – venda parcial dos bens (atenção para o art. 50, § 1º, que diz que se o
bem for objeto de garantia deve haver aprovação expressa do credor titular
da respectiva garantia);
Meios de recuperação judicial

XII – equalização de encargos financeiros relativos a débitos de qualquer


natureza, tendo como termo inicial a data da distribuição do pedido de
recuperação judicial, aplicando-se inclusive aos contratos de crédito rural,
sem prejuízo do disposto em legislação específica – basicamente, aqui, o
legislador quis dizer que é útil a padronização das dívidas, para que todas
tenham seus prazos contados da data de distribuição do pedido de
recuperação judicial;
Meios de recuperação judicial

XIII – usufruto da empresa (no caso, direcionamento dos frutos da empresa à


satisfação dos créditos);
XIV – administração compartilhada – via de regra, é preferível à transferência
completa desta gestão;
XV – emissão de valores mobiliários (exemplo: ações e debêntures), com
atenção para as normas constantes da Lei das Sociedades por Ações;
Meios de recuperação judicial

XVI – constituição de sociedade de propósito específico para adjudicar


(transferir propriedade de coisa do devedor a um credor), em pagamento
dos créditos, os ativos do devedor.
- Vale lembrar, novamente, que quaisquer outros meios podem ser
utilizados, inclusive os inteiramente derivados da criatividade dos próprios
envolvidos na elaboração e alteração do plano; bastando que não haja
conflito com nenhuma disposição legal.
Recuperação empresarial e de
crédito
Bloco 2

Renato Traldi Dias


Bens impenhoráveis

- A recuperação de crédito pela via judicial, na forma de ação de execução


por quantia certa, geralmente, envolverá a penhora de bens do devedor;
contudo, é importante saber que vários desses não podem ser afetados por
este instrumento.
- O artigo 833 do Código de Processo Civil lista rol exaustivo, ou seja, que não
admite hipóteses outras que não as listadas, dos bens que são considerados
como impenhoráveis.
Bens impenhoráveis

- Assim, são impenhoráveis:


I - bens inalienáveis – por lei ou contrato – e não sujeitos à execução por
determinação de terceiro;
II - móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do
executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades
comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado,
salvo se de elevado valor;
Bens impenhoráveis

IV – salvo se excederem 50 saláriosmínimos mensais (art. 833, §2º):


vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de
aposentadoria, pensões, pecúlios, montepios, quantias recebidas por
liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua
família, ganhos de trabalhador autônomo e honorários de profissional
liberal;
V - livros, máquinas, ferramentas, utensílios, instrumentos ou outros bens
móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado;
Bens impenhoráveis

VI - o seguro de vida;
VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se a obra em
si for penhorada;
VIII - a pequena propriedade rural (art. 4º, II, Lei n. 8.629/93), desde que
trabalhada pela família;
IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória, ou seja, não meramente facultativa, em educação, saúde ou
assistência social;
Bens impenhoráveis

X - a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40


salários mínimos, evidentemente, só pode haver penhora da parte que
ultrapassar este valor;
XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político,
nos termos da lei;
XII - os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime
de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra.
Recuperação empresarial e de
crédito
Bloco 3

Renato Traldi Dias


Princípios da Lei de Falência e Recuperação

- Segundo Scalzilli et al. (2018), podem ser extraídos da Lei de Falência e


Recuperação os princípios da:
a) Preservação da empresa:
- Empresa deve ser preservada em razão de sua função
socioeconômica.
- Até o instituto da falência tem preocupação com isso, pois a
recuperação judicial pode ser pleiteada como defesa.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

b) Separação da sorte da empresa e do empresário:


- Existem várias medidas que permitem a substituição de
administradores e até da própria sociedade empresária, para que se
preserve a empresa (que é a atividade).
- Assim, embora se preze pela estabilidade conferida pela
manutenção do empresário na empresa, esses devem ser separados se
necessário.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

c) Retirada da empresa inviável do mercado:


- Referente à falência.
- É limite a ideia de preservação da empresa, estabelecendo que não
se trata de preservação a todo custo.
- A empresa amplamente endividada que não seria capaz de cumprir
com suas obrigações, prejudica a economia e a sociedade, não podendo
mais cumprir aquela função socioeconômica.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

d) Tratamento paritário dos credores:


- De forma geral, determina que créditos de mesma natureza devem
ser tratados de modo uniforme.
- Não há necessidade, portanto, de que haja completa equivalência de
tratamento de créditos de natureza diferenciada.
- Créditos, como os trabalhistas e tributários, são considerados de
maior interesse público.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

e) Interesse e participação ativa dos credores:


- Sendo os credores os principais afetados pela situação do devedor,
merecem ter participação ativa.
- Também merecem participar, já que as circunstâncias relativas a
seus créditos são alteradas e podem ser reduzidos ou pagos de forma
diversa.
- A ideia de não se afetar negativamente pessoas, sem sua
participação, é tão importante que permanece até na via extrajudicial.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

f) Proteção ao trabalhador:
- A LFR concede diversos benefícios aos créditos trabalhistas, como o
direito a voto em assembléia mesmo em caso de crédito retardatário e o
limite de prazo para pagamento desses créditos no plano.
- O empregado encontra-se em posição de desvantagem, estando à
mercê das decisões do administrador, que pode até estar agindo de forma
prejudicial à empresa e, assim, merece proteção.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

g) Preservação e maximização dos ativos do falido:


- Na falência, tenta-se evitar a deterioração de ativos em razão de
demoras no processo.
- Na falência, permite-se que o administrador judicial celebre
contratos que permitem gerar renda pela exploração de bens da massa
falida.
- Essencialmente, tenta-se fazer o melhor uso dos bens existentes,
mesmo após a falência da sociedade empresária.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

h) Celeridade, eficiência e economia processual:


- São princípios gerais contidos no Código de Processo Civil, mas que
se aplicam de forma mais incisiva na falência e recuperação.
- Verifica-se a economia processual no uso do plano especial de
recuperação.
- A LFR oferece celeridade com seus prazos curtos e eficiência ao
disponibilizar rol exemplificativo de meios de recuperação na própria lei.
Princípios da Lei de Falência e Recuperação

i) Favorecimento das empresas de menor porte:


- Ao oferecer a via do plano especial de recuperação judicial,
facilitada, para microempresas e empresas de pequeno porte obterem
recuperação judicial, a LFR favorece essas empresas.
- Por sua estrutura mais compacta, sem setor de contabilidade,
jurídico, entre outros, essas empresas sofrem mais com trâmites demorados
de processo e ao lidar com número excessivo de documentos.
Teoria em Prática
Bloco 4
Renato Traldi Dias
Reflita sobre a seguinte situação

Você é um dos administradores de uma sociedade empresária que, devido a uma crise
que impactou severamente o setor em que atua, encontra-se em situação de
inadimplência com relação a diversos credores. Ainda, a atuação de outro
administrador apresenta, segundo sua análise, indícios de fraude cometida por ele
contra alguns credores, que, com razão, não se mostram muito cooperativos. Você
reconhece a necessidade de buscar recuperação empresarial e, antes mesmo de
procurar advogado para dar início a possível processo judicial, decide preparar a
documentação por uma questão de eficiência. Sendo assim, qual via será a melhor
para a recuperação? Que preparações podem ser feitas de sua parte? Pode ser feito
algo com relação ao administrador potencialmente criminoso em meio à própria
recuperação judicial?
Norte para a resolução...

- Considerando-se que os credores não se mostram cooperativos, a melhor via


parece ser a da recuperação judicial. Se a sociedade empresária for microempresa
ou empresa de pequeno porte, poderá optar pelo uso do plano especial de
recuperação judicial que permite a concessão de recuperação dispensando a
aprovação em assembléia-geral de credores (art. 72).
- Em ambos os casos, os documentos a serem preparados para a petição inicial são
os do art. 51, LFR, pois a diferença reside no plano.
- Quanto ao administrador suspeito, pode ser proposto, no plano de recuperação,
sua substituição (especialmente se os credores também apontarem problemas com
relação a ele), se houverem indícios suficientes do cometimento de fraude (art. 64,
II, LFR).
Dica do Professor
Bloco 5
Renato Traldi Dias
Dica do professor

Direito comparado entre Brasil e Portugal na recuperação judicial. Vídeo da


OAB-RJ, de junho de 2019, disponível no Youtube.
- Comparação da recuperação judicial brasileira com o sistema português
chamado de revitalização.
- Diversos palestrantes, com convidado de Portugal.
- Parte que trata do sistema português é menos técnica, pois parte-se da
presunção de que mesmo os advogados brasileiros não sabem como
funciona.
Referências
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n.
8.629, de 25 de fevereiro de 1993. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8629.htm. Acesso em: 08 abr. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n.
11.101, de 9 de fevereiro de 2005. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11101.htm. Acesso em: 08
abr. 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei n.
13.105, de 16 de março de 2015. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm. Acesso em: 08
abr. 2020.
Referências

SCALZILLI, João Pedro et al. Recuperação de empresas e falência: teoria e prática


na Lei 11.101/2005. 3. ed. São Paulo: Almedina, 2018.
Bons estudos!

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