WBA0430_v1.

DIREITO EMPRESARIAL E DIREITO APLICADO

AO COMÉRCIO
Proposta de Resolução
Autoria: Renato Traldi Dias

Leitura crítica: Adriano César da Silva Álvares

De início, é importante mencionar que, como a própria Lei n. 11.101/2005 – a

Lei de Recuperação e Falência (LRF) – e o enunciado de Desafio Profissional
deixam claro, os meios de recuperação judicial que podem ser utilizados não
se limitam aos listados no art. 50 da LRF; e, portanto, contanto que o meio
proposto seja lógico – contribuindo, de fato, para a recuperação da empresa,
por meio de sua reestruturação e angariamento de recursos –, respeite todas
as disposições legais pertinentes, e se atenha aos dados apresentados para o
caso, ele será válido.

Posto isto, descreve-se, em seguida, algumas possibilidades:

• Conforme descrito no caso, algumas das fábricas que a AutoConstruc

Ltda. possui são pouco eficientes; portanto, parece interessante a venda
destas e dos bens relativos a elas que não puderem ser aproveitados
nas demais fábricas (de acordo com a hipótese do art. 50, inciso XI,
LRF).

• Segundo a descrição do caso, os sócios da AutoConstruc Ltda. já têm

interesse em alterar o seu modelo societário; portanto, pode ser
proposta a transformação da sociedade limitada em sociedade anônima
(hipótese do art. 50, inciso II, LRF), para que se permita a emissão de
valores mobiliários (exemplo do art. 50, inciso XV, LRF) para fins de
acúmulo de recursos, como por meio dos debêntures. Vale notar,
contudo, que é necessária a realização de análise tributária para se
averiguar se isto não ocasionará a incidência de carga tributária mais
elevada e se deverá haver reestruturação, como no sentido de se criar
um conselho fiscal, se ele já não existir (exigência do art. 161, Lei n.
6.404/1976).

• A diferença verificada pela consultora ConREmp em termos de

qualidade de administração dos dois setores da AutoConstruc –
automobilístico e de maquinário de construção civil – aponta para uma
necessidade de mudança na administração (possibilidade prevista no
art. 50, inciso IV, LRF). Mas, se os administradores estão fazendo um
bom trabalho com relação ao setor automobilístico, talvez seja o caso de
se separar estas duas atividades em duas sociedades distintas, por
meio da cisão da AutoConstruc (meio de recuperação descrito no art.
50, inciso II, LRF). Assim, os administradores atuais poderão continuar a
 gerir a sociedade que lide com a fabricação de automóveis, e novos
administradores serão contratados para atuar na sociedade encarregada
da produção de maquinário voltado para a construção civil. E ainda vale
ressaltar que é possível a proposta de administração compartilhada
deste último com os credores (art. 50, inciso XIV, LRF) ou até que se
permita que os credores elejam e tenham poder de veto com relação a
estes novos administradores (art. 50, inciso V, LRF).

• O enunciado do caso lista, entre os problemas que levaram a

AutoConstruc à sua atual condição lastimável, a existência de uma série
de clientes inadimplentes. Portanto, ainda que não esteja previsto como
meio de recuperação judicial de empresa no art. 50, LRF, é possível que
se proponha a contratação de escritório especializado em cobrança para
que este recupere estes diversos créditos, especialmente se já
houveram várias tentativas de cobrança pela via extrajudicial e se forem
muito numerosos – o que dificultaria a cobrança pela própria
AutoConstruc ao invés do uso daqueles profissionais especializados
como seus intermediários.

• No caso, foi descrita também a aquisição – questionável, dada a

situação da empresa – de um edifício cuja destinação futura seria de
algum uso como escritório da AutoConstruc. Como este estabelecimento
ainda não está sendo utilizado e se localiza em um grande centro
comercial, parece viável o seu trespasse ou arrendamento (opção que
aparece no art. 50, inciso VII, LRF), especialmente em razão de que, ao
que parece, a sua aquisição não ter sido uma boa decisão em termos de
administração e de finanças da AutoConstruc.

• Tendo a AutoConstruc, segundo o enunciado, múltiplas fábricas

produtivas espalhadas pelo Brasil, também se verifica a possibilidade de
conferência de usufruto de algumas destas por parte dos credores
(conforme exemplificado no art. 50, inciso XIII, LRF), até que sejam
sanadas as dívidas.

• Dada a menção ao caso especial dos empregados com função de

gerência, muito provavelmente considerados legalmente hipersuficientes
(conforme a definição do art. 444 e seu parágrafo único da CLT), é
possível a negociação com cada um deles para que aceitem uma
redução salarial (hipótese do art. 50, inciso VIII, LRF), em razão de
terem salários muito elevados e a AutoConstruc encontrar-se em
situação crítica.

Por fim, vale mencionar que todos estes meios de recuperação podem ser
utilizados conjuntamente, se necessário para a satisfação dos débitos da
AutoConstruc, e que a busca de redução salarial de empregados tende a ser
controversa, especialmente quando existem tantas outras opções para se
recuperar a empresa, e mesmo considerando-se o valor elevado dos salários
mencionados. E, ademais, nada impede que sejam utilizados meios de
recuperação judicial outros, como o de simples aumento de capital social,
previsto no art. 50, inciso VI; porém, conforme as instruções do desafio, tentou-
se ater somente aos meios que têm justificativa específica nos fatos contidos
na descrição do caso.