Crítica À Degenerescência Racial e Reforma Psiquiátrica de Juliano Moreira

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Crítica à degenerescência racial e reforma psiquiátrica de Juliano


Moreira1

YNAÊ LOPES DOS SANTOS2

Resumo: O presente capítulo tem como objetivo revisitar um aspecto pouco


trabalhado da trajetória de Juliano Moreira. Um dos mais importantes psiquiatras
do Brasil, responsável pela primeira grande reforma psiquiátrica do país era um
homem negro que refutava as teorias de degenerescência racial. O que esse
estudo pretende sublinhar é que as críticas ao racismo científico de Juliano
Moreira reverberaram em diferentes aspectos de sua vida profissional, inclusive
na reforma que ele implementou no Hospício Nacional dos Alienados

Não era comum que os corredores da Faculdade de Medicina da Bahia fossem


palco de discussões teóricas. Os embates científicos costumavam ser temas
abordados em sala de aula, e não experimentados no cotidiano dos alunos de
uma das mais respeitadas da Instituições de Ensino Superior do Brasil. Todavia,
numa tarde de 1899, os estudantes de medicina puderam se deleitar com a
discussão travada entre dois de seus professores, homens cujas vidas e obras
tiveram impacto na vida intelectual e política do Brasil.

Na ocasião, Juliano Moreira, um jovem médico negro baiano ministrava aulas de


Psiquiatria na Faculdade de Medicina da Bahia, além de atuar como professor e
clínico no Asylo São João de Deus, localizado na mesma cidade. Nesse Asylo,
Juliano Moreira recebia pessoas em diferentes condições de saúde mental, e
como pesquisador ávido que era, tentava garantir não só o diagnóstico mais

1
Parte dos argumentos deste estudo estão presentes no Artigo Race et Folie que está no prelo
2
Doutora em História Social pela USP. Professora de História da América da UFF. Especialista em história
da escravidão e das relações raciais nas Américas. Autora do livro: Juliano Moreira, um médico negro na
psiquiatria brasileira. Niterói, Editora EDUFF, 2020. E-mail: [email protected]

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preciso, como também o melhor tratamento. Pois bem, um dos pacientes que
ele recebeu naquele ano era um jovem diagnosticado como esquizofrênico. O
rapaz era filho de uma mulher negra nascida no Brasil com um imigrante italiano.

Ao compartilhar o caso com seu colega e ex-professor Raimundo Nina


Rodrigues, Juliano Moreira ouviu de um dos mais ilustres médicos brasileiros da
época, que a causa da doença mental do jovem era a mestiçagem da qual ele
era oriundo, mais especificamente do lado materno do rapaz, ou seja, da sua
ascendência negra (Oda, 2001). Importante pontuar que Nina Rodrigues era a
maior referência em Medicina Legal do país. Inspirado nas ideias do italiano
Cesare Lombroso, Nina Rodrigues se transformou em um expoente do racismo
científico, defendendo que a mestiçagem (mistura entre raças) era a principal
causa de degeneração da população brasileira, bem como a chave para
compreender a predisposição desses mesmos indivíduos mestiços para o crime
e também para doenças mentais.

Juliano Moreira discordou veementemente de seu colega, argumentando que o


exame feito por Nina Rodrigues havia sido superficial. Ainda que o embate tenha
se encerrado naquele mesmo dia, Juliano Moreira não se deu por vencido.
Meses depois, ele fez uma viagem para a Europa. Além do tratamento da
tuberculose que ele adquirira anos antes, Juliano Moreira também participou de
Encontros Científicos e achou tempo para fazer uma rápida visita à Itália. Munido
do nome e sobrenome do pai do rapaz que ele atendera em Salvador, Juliano
Moreira fez uma busca pela família paterna do jovem. Ao chegar no vilarejo, o
médico baiano constatou inúmeros casos de paranoia nesse tronco familiar de
seu paciente, justamente a parte da família que não havia passado por misturas
raciais. A empiria comprovava que o exame preciso de Juliano Moreira era um
argumento poderoso no questionamento do racismo científico que imperava no
discurso médico, sobretudo no olhar que era lançado sobre a miscigenação que
envolvia a população não-branca.

A discordância de Juliano Moreira e sua busca por evidências que


comprovassem suas hipóteses não são anedotas interessantes da vida médica
do final do século XIX. Ao questionar o exame de Nina Rodrigues, Juliano
Moreira estava enfrentando um dos dogmas do racismo científico da época: a
teoria da degenerescência racial. Juliano Moreira era um homem que interpelava

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a própria existência das raças humanas – questionamento este que se mostrará
correto na primeira década do século XX. Juliano Moreira não se contentou com
explicações que compartilhassem de um olhar racista e reducionista da
população negra brasileira.

Um ponto crucial e que muitas vezes não é tratado com a centralidade que
deveria, é que Juliano Moreira era um médico negro. Nascido em Salvador no
ano de 1872, era filho de Galdina do Amaral e de Manoel Moreira Júnior. Galdina
era uma mulher negra livre, que trabalhava como doméstica na casa do Barão
de Itapuã e que criou seu filho sozinha – Juliano só conheceu seu pai quando já
era um jovem adulto (Santos, 2020). O brilhantismo de Juliano Moreira sempre
se destacou e, com ajuda de seu padrinho (o próprio Barão de Itapuã, um médico
importante de Salvador), ele pode frequentar escolas particulares, ingressando
na Faculdade de Medicina da Bahia aos 14 anos. Seu lugar social excepcional
foi acompanhado por uma série de episódios de discriminação racial, como no
concurso que ele fez para professor da mesma faculdade em que estudara em
1896. Sendo assim, Juliano sabia muito bem dos interditos impostos pelo
racismo. E como cientista brilhante que era, ele sabia que tais interditos não
tinham nenhuma razão científica (Jacobina, 2019).

A reforma psiquiátrica de um médico negro

Poucos anos depois da querela com Nina Rodrigues, Juliano Moreira se mudou
definitivamente da Bahia para o Rio de Janeiro, então capital federal. Os motivos
para essa mudança não são claros em sua biografia. Ele tinha conquistado o
posto de Professor de uma das mais respeitadas (e racistas) instituições de
ensino superior do Brasil. Tal posto lhe permitia não só formar futuros médicos,
mas também atuar como psiquiatra no Asylo João de Deus e também
representar a ciência brasileira em congressos e encontros de área. Era preciso
um motivo muito forte para abrir mão de tudo isso, ainda mais um homem negro
que tinha plena consciência da excepcionalidade do lugar social que ocupava.
Mas o fato é que Juliano Moreira se mudou para o Rio de Janeiro e abriu um
consultório particular que funcionou por poucos meses no bairro de São
Cristóvão (Jacobina, 2019).

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No ano de 1903, por intermédio de seu amigo pessoal, Afrânio Peixoto, Juliano
Moreira foi convidado pelo Ministro J.J Seabra a dirigir o Hospício Nacional dos
Alienados, a instituição asilar mais importante do país. E o que ele fez a partir do
momento em que aceitou o cargo, foi protagonizar a primeira grande reforma
psiquiátrica do Brasil. Um homem negro, que não compactuava com o racismo
científico foi o responsável por transformar a forma por meio da qual os doentes
mentais eram internados.

A tarefa não seria fácil. Ainda no ano de 1902, o suicídio de um alienado nas
dependências do Hospício detonou outra forte crise. Não era a primeira vez que
um alienado tirava a própria vida na instituição. Entretanto, a forma como a morte
havia sido planejada por ele era a prova cabal da já conhecida falta de vigilância
e cuidado por parte de médicos e enfermeiros, fizeram com que o Hospício
ganhasse as piores manchetes dos jornais que circulavam na capital federal. A
imprensa estava há um bom tempo denunciado os maus-tratos daqueles que
eram internados no Hospício Nacional, chegando a sugerir que muitos saíam de
lá pior do que entravam.

Na realidade, os estudos que se debruçaram no exame do Hospício Nacional no


final do século XIX reforçam as denúncias da imprensa da época (Engel 2001).
Criado em 1852 na Praia Vermelha, O Hospício D. Pedro II foi administrado pela
Santa Casa de Misericórdia até a proclamação da República em 1889. Por meio
do Decreto nº 142-A de janeiro de 1890, o Hospício foi desvinculado da Santa
Casa de Misericórdia, tendo sua administração passada para o Ministério da
Justiça e Negócios Interiores, que rebatizou a instituição como Hospício Nacional
dos Alienados (Oliveira 2017).

A desvinculação era, em parte, uma vitória da classe médica. Todavia, havia um


problema imediato a ser sanado: a saída das irmãs de caridade representava
também a falta de pessoas minimamente preparadas para trabalhar com os
doentes mentais. No mesmo ano, foi criada a Escola Profissional de Enfermeiros
e Enfermeiras nas dependências do Hospício. Entretanto, esta escola só passou
a funcionar 15 anos depois. A falta de mão de obra qualificada para cuidar dos
alienados continuaria a ser um problema até que Juliano Moreira assumisse a
direção do Hospício.

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A saída da Santa Casa da administração do Hospício marcou um grande avanço
no processo de medicalização do tratamento dos doentes mentais. Para citar
uma inovação, ainda em 1890, como parte das mudanças trazidas pela
Proclamação da República, foram criadas as colônias para alienados da Ilha do
Governador. Tais colônias seguiam o modelo francês de open door, o que
ampliou ainda mais a atuação dos médicos no tratamento dos doentes mentais.
O número de pacientes nas instituições destinadas ao tratamento das doenças
nervosas também cresceu significativamente nos últimos anos do século XIX.
De acordo com Teixeira Brandão, durante os cinco primeiros anos da República,
o Hospício Nacional já tinha recebido praticamente a mesma quantidade de
internos de quando esteve sob o comando da Santa Casa no período imperial
(Portocarreiro, 2002).

Em parte, este aumento refletia a maior atuação da psiquiatria brasileira,


reforçando assim a importância do discurso médico na promulgação de políticas
públicas – um movimento que acompanhou toda a Primeira República (1889-
1930). Todavia, é fundamental pontuar que esse aumento de internos estava
intimamente ligado às ações da polícia e demais órgãos de segurança que,
imbuídos pelos pressupostos do racismo científico que defendiam a” inclinação
natural” da população negra e mestiça para alguns crimes e comportamentos
indevidos, enxergavam os indivíduos não-brancos como sujeitos de qualidade
inferior, mais afeitos a todos os tipos de doença, inclusive (e sobretudo), mental.

Numa perspectiva nacional, a nomeação e as ações de Juliano Moreira nos


primeiros anos como diretor do Hospício Nacional dos Alienados caminharam
pari passu com as políticas públicas colocadas em prática pelo presidente
Rodrigues Alves. A bonança econômica que marcou seu governo permitiu que
uma série de reformas fossem realizadas. Tais reformas estavam alicerçadas
nos princípios do sanitarismo e do higienismo. Tais doutrinas defendiam que a
doença era um fenômeno social que se fazia presente em diferentes dimensões
da vida humana. Justamente por isso, essa doença social deveria ser combatida
pelo Estado interventor, que garantisse a salubridade das cidades, por meio de
saneamento básico, iluminação nas ruas, e controle de pandemia.

Não por acaso, foi nesse contexto que Oswaldo Cruz foi nomeado diretor geral
de Saúde Pública, ficando conhecido pelas campanhas nacionais de vacinação

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obrigatória, cujo objetivo era erradicar a febre amarela e a varíola. A falta de uma
campanha educativa para a população em meio à obrigatoriedade da vacinação
desembocou numa série de revoltas, tendo sido a Revolta da Vacina (1904) no
Rio de Janeiro a mais conhecida. (Sevcenko, 1998). A forma autoritária por meio
da qual o Estado decidiu intervir na esfera privada da população brasileira – a
mesma população que esteva alijada da vida política por meio de uma
Constituição que impedia o voto dos analfabetos – foi abertamente e
violentamente questionada

Como a maior parte da classe médica do período, Juliano Moreira era um médico
que acreditava e defendia boa parte dos pressupostos do Higienismo e do
Sanitarismo. No entanto, sua forma de atuação era diferente. Juliano Moreira foi
um homem que conseguiu juntar rigor científico com bondade e generosidade.

Como pontuado por uma vasta bibliografia, a reforma psiquiátrica levada a cabo
por Juliano Moreira começa no instante que ele aceitou o convite para ser o novo
Diretor do Hospício dos Alienados. Seguindo os preceitos do alemão Emil
Kraepelin - que entendia a Assistência aos alienados de forma ampla, o que
significava pensar não só nos tratamentos ofertados aos alienados, mas na
própria condição jurídica dessas pessoas e na sua possível reinserção social -,
Juliano Moreira solicitou que o Congresso Nacional aprovasse com urgência o
decreto legislativo no. 1.132 de 22 de dezembro de 1903, aprovado pelo
presidente no ano seguinte. (Carvalhal, 1997). De forma geral, essa lei ampliou
o poder do Estado no controle aos doentes mentais tanto em estabelecimentos
privados quanto públicos, garantindo a imposição de restrições às liberdades
individuais dos doentes mentais. A partir de então, a figura do psiquiatra ganhou
autoridade e autonomia nos assuntos relativos à doença mental no Brasil
(Oliveira, 2017).

A reforma implementada por Juliano Moreira entre os anos de 1903 e 1905,


também transformou as instalações do Hospício: os pavilhões existentes foram
reformados (as grades de suas janelas foram retiradas), e novas instalações
foram construídas para que fosse possível setorizar os internos por sexo, idade
e também por tipo de doença. Além da retirada de grades do Hospício Nacional,
bem como da abolição das camisas de força, Juliano Moreira foi responsável por
colocar em funcionamento no ano de 1905, uma escola de enfermagem nas

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dependências do Hospício, o que garantiu o preparado adequado dos
profissionais que trabalhavam cotidianamente com os doentes mentais – tal
escola já havia sido aventada por diretores anteriores do Hospício, mas só virou
uma realidade efetiva 15 anos, com Gustavo Riedel.

Também em consonância com o modelo de tratamento alemão, Juliano Moreira


implementou a clinoterapia, mandando construir salas na quais o repouso e os
banhos prolongados pudessem ser realizados, e também defendeu a construção
de um laboratório dentro do Hospício, cuja construção também teve início nesse
período. Vale também pontuar uma mudança arquitetônica implementada por
Juliano Moreira, mas que teve uma enorme simbologia: o diretor do hospício
abriu mão de sua ampla sala no primeiro andar do prédio principal, para ocupar
um cômodo menor, no piso térreo. A ideia era estar sempre acessível para os
doentes mentais.

Outra parte importante da reforma de Juliano Moreira – que diz muito sobre o
olhar que ele tinha sobre as doenças mentais – foi a construção de pavilhões
destinados às oficinas. A ideia era que os internos realizassem serviços laborais
como forma de tratamento, mas também como meio de ajudar o funcionamento
das instituições e, em muitos casos, de possibilitar algum tipo de melhoria numa
futura reinserção social para além dos muros do hospício.

O que é crucial pontuar nesse importante momento da trajetória profissional de


Juliano Moreira e também do marco que ele implementou na psiquiatria brasileira
é o fato de Juliano Moreira não coadunar com as teses que defendiam a
degenerescência racial. Por mais que essa postura fique melhor evidenciada em
outros momentos de sua carreira – como a contenda que ele teve com Nina
Rodrigues em 1899 em Salvador -, a crítica a um dos pilares do racismo científico
esteve na base da reforma psiquiátrica que ele efetivou.

Se por um lado essa crítica não estava explícita na reforma, ela era o pilar de
sustentação do estudo que ele fez chamado “Notícias sobre a Evolução da
Assistência a Alienados no Brasil”, publicado pela primeira vez nos Arquivos
Brasileiros de Neuratria e Psiquiatria em 1905.

Neste estudo, Juliano Moreira apresentou uma análise histórica e sociológica


das doenças mentais no Brasil, desracializando uma série de máximas que eram

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defendidas por grande parte de seus colegas de profissão. Juliano Moreira
defendia que, por questões historicamente constituídas, a maior parte dos
internos nos hospícios eram homens e mulheres pobres, negros e mestiços na
sua grande maioria. E que boa parte das mazelas apresentadas por esses
internos tinham razões nas suas condições históricas, sociais e econômicas e
não em uma pretensa predestinação racial.

Uma das questões que Juliano Moreira se debruçou com vagar foi o alcoolismo.
Alcoólatras eram frequentemente encaminhados para o Hospício Nacional. E
muitas vezes eles eram homens e mulheres negros. Se para muitos médicos
daquela época, essa correlação tinha explicações biológicas, o que Juliano
Moreira apresentou em 1905 foi uma explicação sociológica de tal fenômeno.

Ao analisar a evolução da assistência aos alienados num artigo escrito em meio


ao processo de reforma do Hospício Nacional, Juliano Moreira pontuou logo no
início de seu exame que, no que dizia respeito aos milhares de africanos
escravizados trazidos pelo Tráfico Transatlântico

O álcool representou nesse bárbaro processo de colonização o maior


papel imaginável. Com ele procuraram aumentar a pacatez das
vitimas, mas si- multaneamente foram-se-lhes infiltrando nos neurônios
os elementos degenerativos que, reforçados através do tempo, dão a
razão de ser de muita tara atual atribuí- da à raça e à mestiçagem por
todos aqueles que não querem se dar ao trabalho de aprofundar as
origens dos fatos. (Moreira 1905, p.729)

Ao atrelar o alcoolismo às mazelas da escravidão e não da condição natural de


escravizados, Juliano Moreira se afastava de boa parte de seus colegas,
rechaçando o racismo científico. Esse estudo, que foi ganhando um aspecto
mais normativo à medida que Juliano Moreira analisava leis e decretos
expedidos pelo Estado sobre os alienados, serviu como base e também como
justificativa científica para as reformas que foram realizadas no Hospício
Nacional entre os anos de 1905 e 1907.

A primeira reforma psiquiátrica o Brasil foi feita por um médico negro que, crítico
às teorias de degenerescência racial, implementou uma nova percepção sobre
a alienação que, mesmo imbuída do sanitarismo da época, reconhecia a
humanidade dos ditos doentes mentais e se empenhava na possibilidade de cura

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deles. Como pontuado por uma parte da historiografia, ao rechaçar o racismo
científico, Juliano Moreira pode implementar um sistema que, de alguma forma,
permitia uma segunda chance para uma população que estava fadada ao lugar
da selvageria e da incivilidade (Engel, s/d. Santos, 2020). O lugar excepcional
de Juliano Moreira na história brasileira, a sua subjetividade como um médico
negro num país sabida e abertamente racista, foi fundamental para a elaboração
de uma reforma psiquiátrica que tentava apartar o racismo da manifestação das
doenças mentais (Oda, 2000). Uma ação inovadora, transformadora que,
importante repetir, foi feita por um homem negro.

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