Análise de Variáveis Meteorológicas
Análise de Variáveis Meteorológicas
Análise de Variáveis Meteorológicas
Revista Brasileira de
Geografia Física
ISSN:1984-2295
Homepage: www.ufpe.br/rbgfe
RESUMO
Observa-se uma intensa relação entre o clima e a agricultura, principalmente no que se refere à: temperatura, precipitação,
UR e insolação, no qual, além de permitirem o bom desenvolvimento, podem trazer prejuízos ao cultivo. Diante disso, o
objetivo do trabalho é identificar áreas propícias à produção de banana e caju no Estado do Ceará. Sendo possível através
da elaboração de mapas do Estado pelo programa Surfer®, para cada estação do ano em todas variáveis citadas
anteriormente, com base nos dados do INMET de 1961 a 2010. No entanto, esses dados foram comparados com as
exigências de cada cultura e após essa etapa, foram classificadas em aptas, marginais ou inaptas. Obtendo que, para a
cultura da bananeira a precipitação é desfavorável em todas as estações, exceto no inverno. Em relação a umidade, todas
as estações do ano se mostram ideal na região Norte, e as demais regiões são consideradas desfavoráveis. Já no que se
refere a temperatura e a insolação para ambas as culturas, todas as estações se mostram favoráveis ao cultivo. Em se
tratando do caju, a precipitação é desfavorável em todas as estações, exceto no outono; e por fim, a umidade varia entre
ideal e tolerável nas estações da primavera, verão, inverno em todo o Estado, no outono varia entre ideal a não indicada,
principalmente próximo à Região Metropolitana de Fortaleza. Além disso, foram analisadas as correlações existentes
entre a produção e a precipitação, através do software SPSS, obtendo uma relação funcional e positiva, com r=0,82 para
a banana e r=0,70 para o caju.
Palavras-chave: variabilidade climática, fruticultura, produtividade.
tropicais em qualquer época do ano, segundo Embora essas culturas sejas amplamente
Vasconcelos (2010) como também é o caso da cultivadas na região Nordeste, ainda não se tem
cultura do caju. estudos de zoneamento agrícola em alguns dos
Se tratando da cultura do caju (Anacardium Estados produtores de caju, segundo Pereira et al.
occidentale L.), este é considerado uma planta (2007). Além disso, são poucas as informações
nativa do Brasil e é amplamente praticada no para a cultura da banana, não sendo possível assim
Nordeste brasileiro, sendo considerado um produto identificar áreas propícias à produção do fruto.
de exportação que enriquece a economia da região Diante disso, sendo de extrema
(Severino, 2008). importância essas culturas para o Estado do Ceará,
A região Nordeste, com uma área plantada o presente trabalho teve como objetivo realizar um
de caju superior a 650 mil hectares, responde por zoneamento climático que permita identificar o
mais de 95% da produção nacional, sendo os potencial produtivo da região para a bananeira e o
Estados do Ceará, Piauí, Rio Grande do Norte e cajueiro no Estado, com base em indicadores de
Bahia os principais produtores (Oliveira et al., clima estabelecidos de acordo com as exigências de
2003). cada cultura.
Segundo os últimos dados de pesquisa de
produtividade do IBGE (2015), o Estado do Ceará Material e métodos
ocupa o primeiro lugar no ranking dos maiores Área de Estudo
produtores com 53.112 ton, sendo também O presente estudo abrangeu o Estado do
considerado o maior beneficiador, e Ceará, que é uma das 27 unidades federativas do
principalmente, exportador, tanto de amêndoa, Brasil e segundo o Instituto de Pesquisa e
como do líquido da castanha (LCC). Esta cultura Estratégia Econômica do Ceará – IPECE (2013)
tem ocupado a maior parte da mão-de-obra agrícola está situado na região Nordeste do País, tendo por
no período de outubro a dezembro, quando ocorre limites a norte e nordeste o Oceano Atlântico, a
a colheita do fruto (Aguiar et al., 2001). leste estão os Estados do Rio Grande do Norte e
Além da sua importância alimentar, por ser Paraíba, ao sul estão os Estado de Pernambuco e
rico em vitamina C, cálcio, fósforo e ferro, o Piauí a oeste, como mostra a Figura 1. O Ceará tem
cultivo do caju também cumpre um papel social de área total 148.825,6 Km² ou 9,37% da área do
muito importante no Brasil, devido ao número de Nordeste e 1,7% da superfície do Brasil. Se localiza
empregos diretos gerados, dos quais 35 mil no entre os paralelos de 2,5° S e 10° S e os meridianos
campo e 15 mil na indústria, além de 250 mil de 34° W e 42° W onde estão inseridas sete
empregos indiretos nos dois segmentos. No mesorregiões: Centro Sul, Norte, Metropolitana de
Semiárido nordestino, esse cenário alcança uma Fortaleza, Jaguaribe, Noroeste, Sertões e Sul.
maior importância, devido aos empregos do campo Possui ao todo 184 municípios e 8.904,540
serem gerados na entressafra das culturas habitantes (IBGE, 2015).
tradicionais como milho, feijão e algodão, com isso
reduzindo o êxodo rural (Oliveira et al., 2003).
A capital e maior cidade é Fortaleza, sede Próximo ao litoral, a influência dos ventos
da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). alísios propicia um clima subúmido, onde surge
Outras cidades importantes fora da RMF são: vegetação mais densa, com forte presença de
Juazeiro do Norte e Crato na Região Metropolitana carnaubais, os quais caracterizam trechos de mata
do Cariri, Sobral na Região Noroeste, Itapipoca na dos cocais (IPCE, 2013).
região Norte, Iguatu na região Centro-sul e
Quixadá no Sertão. Dados
O Estado está no domínio da Caatinga, Para análise foram elaboradas as Tabelas 1
com período chuvoso restrito a cerca de quatro e 2 a partir de pesquisas em fontes científicas,
meses do ano e alta biodiversidade adaptada. A indicando os fatores climáticos desejáveis para o
sazonalidade característica desse bioma se reflete crescimento e desenvolvimento satisfatório de cada
em uma fauna e flora adaptadas às condições cultura, estabelecidos com base nas exigências no
semiáridas. As regiões mais áridas se situam na que se refere a temperatura, precipitação, insolação
Depressão Sertaneja, a oeste e sudeste. e UR, nos quais foram utilizados na elaboração do
trabalho.
Faixas de Aptidão
Fatores Climáticos
Ideal Tolerável Não indicado
Insolação (horas/ano) - - -
Faixas de Aptidão
Fatores Climáticos
Ideal Tolerável Não indicado
Precipitação (mm/mês) 100 – 160 160 - 180 < 100 > 180
TabelaINMET
Fonte: 3. Estações meteorológicas
(Adaptado utilizadas no estudo.
pelos autores)
Com os dados das médias das variáveis Para Moore (2007) a correlação mensura a
meteorológicas de todas as estações, foi utilizado o direção e o grau da relação linear entre duas
programa Surfer® versão 7.0, utilizando o método variáveis quantitativas distintas. O coeficiente de
de Kriging, para gerar os mapas dos elementos correlação de Pearson (r) é uma medida de
climáticos representativos do Estado do Ceará, associação linear entre variáveis. Sua fórmula é:
posteriormente foram identificadas áreas aptas, ou
não para os cultivos, diante das variáveis
climáticas.
Os dados relacionados à produtividade dos
cultivos foram obtidos no site do IBGE para o (1)
período de 1990 a 2012. Porém, os dados da cultura
da banana tiveram que ser transformados para Em que n = número de variáveis observadas;
toneladas, pois entre os anos de 1990 a 2000 os
valores eram fornecidos em mil frutos. ∑(Y.X) = somatório dos resultados das
multiplicações dos valores da variável X pela
Correlações respectiva Y
Os dados de produção agrícola de cada ∑X.∑Y = soma dos valores da variável X
cultivo foram correlacionados com os dados de multiplicado pela soma dos valores da variável Y;
temperatura, para analisar o grau de influência do ∑X² = somatório dos quadrados dos valores de
clima sobre a agricultura local. cada variável X;
As correlações lineares entre dados de (∑X)² = quadrado do somatório dos valores da
precipitação e dados de produção agrícola para as variável X;
culturas foram feitas através do software SPSS ∑Y² = somatório dos quadrados dos valores de
versão 11.0, utilizando o método de regressão cada variável Y;
linear simples e Stepwise. (∑Y)² = quadrado do somatório dos valores da
O método de regressão é normalmente variável Y.
usado para analisar a relação entre variáveis
independentes, tentando-se obter uma relação que Teste de significância de T-Student - Após
possa ser utilizada nas estimativas ou previsões de encontrar os valores dos coeficientes de correlação
uma variável particular (Charba, 1975, 1979). esses valores passaram pelo teste de significância
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a) b)
c) d)
Figura 2. Distribuição espacial da precipitação (mm) por estação no Estado do Ceará. a) Primavera; b) Verão;
c) Outono; e d) Inverno.
Por isso que a pouca precipitação e a alta motivo é por apresentar precipitações superiores a
taxa evaporativa como é o caso do Estado do Ceará, 100 mm/mês e inferiores a 180 mm/mês, no qual
exigem que alguns cultivos nessa região sejam esse valor é considerado tolerável para obtenção de
irrigados, pois em algumas épocas a quantidade de colheitas economicamente rentáveis.
chuva é insuficiente para atender às necessidades Já analisando para a cultura do caju, com
hídricas, especialmente da bananeira, que necessita base na Tabela 1 e nos mapas acima, foi possível
de, pelo menos, 1200 mm anuais ou, em média, 100 verificar que durante a estação da primavera
mm por mês. A exemplo de Petrolina-PE, onde a (Figura 2a), verão (Figura 2b) e inverno (Figura
pouca precipitação e a alta taxa evaporativa, que 2d), verifica-se um volume baixo de precipitação,
pode atingir 3000 mm ano-1, no qual, exigem que se destacando com menor índice o período da
alguns cultivos nessa região sejam irrigados, pois a primavera com uma máxima de 40 mm se
quantidade de chuva (538,7mm) é insuficiente para distribuindo principalmente na região Sul,
atender às necessidades hídricas, especialmente da abrangendo o Centro-sul, parte dos Sertões
bananeira, segundo estudos realizados pela (Borges Inhamus e Central e no Norte do Estado, em
et al., 2009). seguida o inverno com 180 mm com concentração
Pode-se verificar a importância da das chuvas apenas no Norte do Estado e o verão
irrigação, em trabalhos realizados por Alves apresentando o maior índice de 350 mm no Norte e
(1997), que ao confrontar dados das faixas de Litoral Oeste, com índices menores em todo o
aptidão agroclimática para a bananicultura no Estado apresentando assim uma melhor
Brasil com as microregiões produtoras, verificaram distribuição se comparados às estações anteriores.
que a maioria das microrregiões produtoras Contudo, observa-se que para a cultura do
apresenta déficit hídrico. Em consequência disso, caju nenhuma dessas estações são favoráveis para
as áreas que apresentam maior preferência para sua produção, pois, todas não enquadram como
implantação da bananicultura no Brasil estão sendo indicada (<500 mm/ano). Para solucionar essa
consideradas reduzidas quando se analisa a problemática Aguiar et al. (2000) recomendam o
disponibilidade de água. Tal resultado também foi uso da irrigação para o cultivo do cajueiro, mesmo
confirmado pela Sudene (1979) ao concluir que na sendo uma planta de regime de sequeiro, para
região Nordeste, em áreas com precipitações locais que apresentem períodos secos distintos no
abaixo de 1.000 mm anuais e com períodos de ano, devido apresentarem vantagens como o
chuvas que variam de três a cinco meses, a aumento na produtividade, maior período de
produção de banana só seria viável com o uso da produção e melhora na qualidade dos frutos e
irrigação. pseudofrutos.
Apesar disso, CIIAGRO (2009) afirma que Já para a estação do Outono (Figura 2d) a
dados climáticos indicam ser a bananeira, de modo região do Estado mais propicia ao cultivo do caju,
geral, bastante resistente a períodos de seca, desde se enquadrando na faixa tolerável (600 – 800
que as precipitações na estação vegetativa sejam mm/ano), é a região Norte principalmente na RMF
suficientes para a formação dos cachos e podendo onde tem-se o maior índice de precipitação no
variar muito com a cultivar. período.
Já as épocas de verão (Figura 2b) e outono
(Figura 2c) as áreas do Ceará não são propícias ao Temperatura
desenvolvimento da cultura, por apresentar A temperatura é um fator essencial no
precipitações muito altas, quando comparado ao cultivo da bananeira, por interferir diretamente nos
tolerável pela cultura, podendo ocasionar processos respiratórios e fotossintéticos da planta.
encharcamento no cultivo sendo requerido segundo Podendo também influenciar na ocorrência de
Soto Ballestero (1992) um eficiente sistema de várias pragas e doenças que atacam a cultura, cujo
drenagem para evacuar a água excedente durante desenvolvimento varia em função da temperatura.
os períodos de maior pluviosidade. No entanto, quando a planta é exposta a
Já na estação do inverno o quadro é temperaturas inferiores a 15 °C, suas atividades de
diferente, como mostra a Figura 2d, saindo da crescimento são paralisadas e em casos extremos
estação chuvosa, para uma estação com valores podem ocasionar um distúrbio fisiológico. Por
ideias para o desenvolvimento da cultura. Observa- outro lado, quando a temperatura é superior a 35
se isso, no norte do Estado, mais especificamente °C, há inibições no desenvolvimento da planta,
no norte do Litoral leste/Jaguaribe, no nordeste do devido, principalmente, à desidratação dos tecidos,
Sertão Central, na RMF, na Serra de Baturité e por fazendo com que se tronem rígidas e sujeitas ao
fim no sudeste do Litoral Oeste, que nessa época fendilhamento (Cordeiro et al., 2003a; Borges et
são as únicas macrorregiões que se apresentam al., 2009).
propícias a ter um bom desempenho produtivo. O
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a) b)
c) d)
Figura 3. Distribuição espacial da temperatura (°C) por estação no Estado do Ceará. a) Primavera; b) Verão;
c) Outono; e d) Inverno.
No que se refere à temperatura, as Figuras máximas de 35 °C, pode-se dizer que, nessa época
3a a 3d mostram a distribuição espacial das é possível o cultivo em todo o Estado, sem haver
temperaturas nas estações de Primavera, Verão, prejuízos, mas para isso, é necessário suprir as altas
Outono e Inverno no Estado do Ceará, temperaturas com um adequado suprimento de
respectivamente. Como pode-se observar, de água e nutrientes.
acordo com a temperatura, o Ceará apresenta As temperaturas mais amenas no Norte do
condições favoráveis ao cultivo da bananeira Estado podem estar relacionadas aos efeitos do
durante todo o ano, apresentando valores toleráveis litoral, da Serra de Baturité e da chapada do
entre 15 a 35 °C. Já para uma colheita garantida, no Araripe, que trazem nebulosidade e umidade das
que depender da temperatura é recomendado áreas com vegetação e marítimas.
valores entre 26 a 28 °C, ou seja, valores ideais para Pode-se dizer que a temperatura influencia
um cultivo, nos quais estão localizados diretamente na produtividade de alguns produtos,
principalmente na região norte e o sudoeste do agrícolas, os quais dependem de uma temperatura
Estado, abrangendo principalmente as favorável para o perfeito desenvolvimento do
macrorregiões de Baturité, a RMF, o sudeste do tecido, como podemos confirmar com os resultados
Litoral Oeste e o nordeste do Sertão Central. O encontrados por Meneses (2006), no qual verificou
mesmo resultado foi encontrado por Borges que a temperatura da superfície dos oceanos
(2009), que os bananais toleram temperaturas tropicais influenciou a ocorrência de veranicos no
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a) b)
c) d)
Figura 4. Distribuição espacial da insolação por estação no Estado do Ceará. a) Primavera; b) Verão; c) Outono;
e d) Inverno.
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A Banana por ser considerada uma planta desenvolvimento do cajueiro entre as cidades
de dia longo, ou seja, se desenvolvendo melhor em de Fortaleza – CE e Santo Antônio de Leverger
alta taxa de insolação, com 12 horas de sol intenso - MT. Um dos fatores principais na duração da
por dia, pode ser cultivada em qualquer época do insolação é a latitude, como as duas cidades
ano sem haver prejuízos, pois segundo Cordeiro et estão em latitudes distintas observou-se uma
al. (2003b) a insolação parece não influir
diferença em determinados dias de até duas
diretamente no seu crescimento e frutificação.
No entanto, o efeito da luz sobre o ciclo horas na duração do dia entre os solstícios de
vegetativo da bananeira é bastante notório. Foi inverno e verão. Apesar da diferença na
bem evidente em cultivos de banana duração de alguns dias, concluiu-se que a
Cavendish, quando bem expostos à luz podem maturação dos frutos e pseudofrutos do
ser colhidos aos 8,5 meses, já sob pouca cajueiro não foi influenciada pelo fotoperíodo.
luminosidade o ciclo pode chegar a 14 meses Umidade
(Cordeiro et al., 2003a). Em se tratando de Umidade Relativa do Ar,
Pode-se ainda notar o efeito benéfico da para o Estado do Ceará, o valore mínimo de
insolação sobre o ciclo vegetativo da bananeira em umidade relativa é de 46% na primavera e a
algumas publicações com plantio adensado, por máxima foi encontrada na estação do outono
exemplo em locais com elevada insolação, o (março – Junho) com mais de 90% de umidade,
período para que o cacho atinja ponto de corte varia como mostra as Figuras 5a a 5d.
entre 80 e 90 dias, já em caso contrário, sob pouca A bananeira é considerada típica das
insolação, o período oscila entre 85 e 112 dias, regiões tropicais úmidas, apresentando um melhor
segundo Borges (2009), interferindo diretamente incremento em locais com médias anuais de
na comercialização da banana. Por outro lado, em umidade relativa superiores a 80%. Esse limite é
trabalho realizado por Champion (1976) verifica- decorrente da origem da espécie, de regiões
se um aumento da atividade fotossintética quando tropicais úmidas. Esta característica pode
na faixa luminosa é entre 2.000 e 10.000 lux (horas uniformizar a coloração dos frutos, acelerar a
de luz por ano), sendo mais lenta na faixa de 10.000 emissão das folhas, prolongar sua longevidade e
a 30.000 lux. Complementando o autor anterior favorecer a emissão da inflorescência. Entretanto,
Moreira (1987) afirma que os valores inferiores a quando integrada a temperaturas elevadas e às
1.000 lux são insuficientes para o desenvolvimento chuvas, como é o caso do Estado em análise, a uma
da planta e valores muitos elevados podem maior tendência de favorecer a ocorrência de
acarretar queima das folhas, principalmente doenças fúngicas, principalmente a Sigatoka.
quando estas estão na fase de cartucho. De acordo com as Figuras 5a a 5d, os
Para Turner (1995) a quantidade de horas maiores valores de umidade relativa do ar ocorrem
de luz solar considerado como ideal deve ser maior nas estações chuvosas, ou seja, verão e outono. Os
que 2000 horas/ano e não menor que 1000 menores valores de umidade para todas as estações,
horas/ano. O que poderia dificultar o cultivo da ou seja, inferiores a 80% se mostram sempre na
mesma na Norte do Estado do Ceará, abrangendo região dos Sertões, mas especificamente no Sertão
principalmente as macrorregiões de Baturité, a dos Inhamuns. Diferente da região Norte do
RMF, o Sudeste do Litoral Oeste por apresentar Estado, que durante todo ano apresenta valores
insolações baixas, devido a alta presença de nuvens superiores a 80%. Sobre as estações propícias para
local oriundas da serra de Baturité, do litoral e da o cultivo, na primavera, somente a região norte é
Chapada do Araripe. Já no verão, a insolação adequada ao desenvolvimento da bananeira, no que
amena é causada pelo aumento da nebulosidade na se refere à umidade; No verão, além da região
estação chuvosa em grande parte do Ceará. Norte do Estado, a região Noroeste recebe um
Assim como a banana, a insolação não pouco de umidade oriunda no litoral do Estado; Já
é um fator limitante para a cultura do caju, no outono além da região Norte e do Noroeste, a
desenvolvendo-se bem tanto em dias curtos parte central sul e do centro sul e o norte do Sudeste
como em dias longos, pode-se comprovar tal e do Jaguaribe apresentam características ideias ao
fato em trabalho realizado por Matos (2014), cultivo.
que ao analisar o efeito da temperatura e da Levando-se em consideração essa variável
insolação sobre o crescimento e para o cultivo do cajueiro, observa-se que na
desenvolvimento do caju, fez um comparativo primavera (Figura 5a) a maior parte do Estado
da interferência da insolação no oferece condições toleráveis de UR (46 – 65%) ao
seu cultivo, compreendendo dentro dessa faixa,
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a) b)
c) d)
Figura 5. Distribuição espacial da umidade (%) por estação no Estado do Ceará. a) Primavera; b) Verão; c)
Outono; e d) Inverno.
de floração e frutificação, amplia as chances de
De acordo com estudos realizados por aparecimento de doenças fúngicas, entre as quais a
Aguiar e Costa (2002), quando a umidade relativa antracnose, o oídio e o mofo-preto. No Semiárido,
do ar varia entre 70% e 80%, durante o período a umidade relativa do ar pode chegar, a 50% e o
chuvoso, é a condição mais apropriada à cultura do cajueiro se desenvolve satisfatoriamente. Isso
cajueiro. Quando a UR ultrapassa 85%, no período acontece devido ao solo apresentar uma boa
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a) b)
Figura 6. a) Correlação entre produtividade da Banana (Ton./ano) e a Precipitação (mm/ano) para o Estado do
Ceará. b) Correlação entre produtividade do Caju (Ton./ano) e a Precipitação (mm/ano) para o Estado do Ceará.
4. Para a banana e o caju, a temperatura e a Amorim Neto, M.S.; Beltrão, N.E.M.; Silva, L.C.;
insolação em todo o ano se mostram favoráveis ao Araújo, A.E.; Gomes, D.C. 1999. Zoneamento
cultivo das mesmas; e época de plantio para mamoneira no estado da
5. Entretanto, conclui-se a produção de Bahia. Campina Grande: EMBRAPA- CNPA,
banana e caju no Ceara, é viável no que se refere as 9p. (Circular técnica, 103).
condições climáticas ideais para os cultivos, apesar Amorim Neto, M. 2001. Zoneamento
das precipitações serem muitos baixas, o que pode agroecológico e época de semeadura para a
dificultar a implantação da fruticultura, se não mamoneira na Região Nordeste do Brasil.
forem implantados equipamentos de irrigação, Revista Brasileira de Agrometeorologia 9, .551-
sendo este de grande importância para colheitas 556.
satisfatórias; Araújo, A.E. 2000. Zoneamento e definição da
6. Foram encontradas correlações positivas época de plantio para mamoneira no estado da
entre a produtividade das culturas da banana e do Paraíba. Areia: UFPB, CCA. 31p. (Trabalho de
caju e a precipitação média anual, a qual influencia graduação).
no período de implantação e do desenvolvimento Bergamaschi, H. 2004. Distribuição hídrica no
da cultura, por exemplo. período crítico do milho e produção de grãos.
Pesq. agropec. bras. 39, 831-839.
Agradecimentos Blain, G. 2009. Considerações estatísticas relativas
Os autores agradecem a Universidade do à oito séries de precipitação pluvial da
Federal do Cariri pelo incentivo à pesquisa Secretaria de Agricultura e Abastecimento do
acadêmica. Estado de São Paulo, Revista Brasileira de
Meteorologia 24,12-23.
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