3 - Transformação-SERGIO GUERRA
3 - Transformação-SERGIO GUERRA
3 - Transformação-SERGIO GUERRA
1
Nesse sentido, consulte-se a obra DUGUIT. Les transformations du droit public, (que reproduz
a obra publicada em 1913 por Max Leclerc e H. Bourrelier pela Ed. Colin).
público substituiu a de soberania e mudou a concepção de lei, do ato
administrativo, da justiça administrativa e de responsabilidade estatal.2
2
Em suas palavras: “Toutes les volontés sont des volontés individuelles: toutes se valent; il n´y
a pas de hiérarchie des volontés. Toutes les volontés se valent si l´on ne considère que le sujet.
Leur valer ne peut être déterminée que par le but qu´elles poursuivent. La volonté du
gouvernant n´a aucune force comme telle; elle n´a de valeur et de force que dans la mesure où
elle poursuit l´organisation et le fonctionnement d´un service public. Ainsi la notion de service
public vient remplacer celle de souvenraineté. L´État n´est plus une puissance souveraine qui
commande ; il est un groupe d´individus détenant une force qu´ils doivent employer à créer et à
gérer les services publics. La notion de service public devient la notion fondamentale du droit
public moderrne. Les faits vont le démontrer”. DUGUIT. Les transformations..., p. XXIX.
3
Expressão utilizada por Sérgio Buarque de Holanda para se referir aos movimentos
“aparentemente reformadores” ocorridos no Brasil, conduzidos pelos grupos dominantes. Na
obra clássica HOLANDA. Raízes do Brasil, p. 160. Cumpre ressaltar que a modernidade
acolheu, até mesmo, governos despóticos. Conforme advertência de Anthony Giddens “o
‘despotismo’ parecia ser principalmente característico de estados pré-modernos. Na esteira da
ascensão do fascismo, do Holocausto, do stalinismo e de outros episódios da história do século
XX, podemos ver que a possibilidade de totalitarismos é contida dentro dos parâmetros da
modernidade ao invés de ser por eles excluída”. GIDDENS. As consequências da
modernidade, p. 17.
4
RODRÍGUEZ RODRÍGUEZ. Las vicisitudes del derecho administrativo..., p. 97.
5
MEDAUAR. O direito administrativo em evolução, p. 120.
6
MADARIAGA GUTIÉRREZ. Seguridad juridica y administración publica en el siglo XXI, p.11.
7
A transformação do direito administrativo atrelado às novas tecnologias, é objeto do estudo de
HERNÁNDEZ-MENDIBLE. El derecho administrativo en la sociedade de la información
2
As experiências do cotidiano refletem o papel da tradição — em
constante mutação — e, como também ocorre no plano global, devem ser
consideradas no contexto do deslocamento e da reapropriação de
especialidades sob o impacto da invasão dos sistemas abstratos. A tecnologia,
no significado geral da “técnica”, desempenha aqui o papel principal, tanto na
forma de tecnologia material quanto da especializada expertise social.8
3
atualidade, a característica de mera executora da lei e alheia às decisões que
deve aplicar.15
15
Daí a importância da procedimentalização do direito administrativo, conforme elucidativa
manifestação doutrinária de GONZÁLES PÉREZ. Acto administrativo y pretensión procesal. In:
FERNÁNDEZ RUIZ (Coord.). Perspectivas del derecho administrativo en el siglo XXI, p. 7 et
seq.
16
MEDAUAR. O direito administrativo..., p. 137.
17
Sabino Cassese aponta, ainda, a difícil combinação do “novo” direito administrativo com o
“velho” direito constitucional: “Como podem combinar-se o princípio constitucional da
responsabilidade ministerial com a independência das autoridades independentes?”
CASSESE. La globalización..., p. 189.
18
GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Justicia y seguridad jurídica..., op. cit., p. 25.
19
PALMA FERNÁNDEZ, José Luis. La seguridad jurídica..., op. cit., p. 14.
20
Id. Ibid., p. 14 e 49.
21
Id. Ibid., p. 29.
4
administrativas e, em igual ou maior escala, traz imprevisibilidade decorrente
das decisões do Executivo e conseqüente insegurança jurídica.
Para agravar esse fato, é cada vez mais comum que as escolhas
administrativas, materializadas por meio de atos executivos alcancem não
apenas seu destinatário imediato. Diante de uma patente ambivalência –
inerente à sociedade contemporânea –, em determinadas situações, os
benefícios advindos da escolha estatal – implementada para buscar a
regularidade e correção de falhas de um subsistema – acabam sendo
irrazoáveis e desproporcionais aos problemas e às desvantagens que
acarretarão para outros subsistemas ou para direitos e garantias individuais22.
As escolhas administrativas acabam produzindo efeitos de natureza
multilateral, multipolar, levando Bauman23 a afirmar que “cada resolução de
problema gera novos problemas”.
22
Nesse mesmo sentido: RIBEIRO, Ricardo Lodi. A segurança jurídica do contribuinte na
sociedade de risco..., op. cit., p.59.
23
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência..., op. cit., p. 227.
24
Diogo de Figueiredo Moreira Neto adverte que o recurso a outras fontes normativas decorre,
também, da “pletórica produção legislativa dos Estados, que vem assumindo proporções
avassaladoras e inquietantes, abalando a certeza e segurança jurídica das sociedades
complexas que emergiram com a Era da Informação”. MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo.
Direito regulatório..., op. cit., p.124. Grifo nosso.
25
A expressão é de Diogo de Figueiredo Moreira Neto. Regulática é a aceitação de espaços de
autonomia de vontade coletiva, geralmente recobertos, nas sociedades organizadas, pelas
entidades intermédias. É a substituição de um direito fundamentalmente imperativo por um
direito também consensual, que prescinde da necessidade de definições políticas e de
emprego imediato de coerção. Id. A globalização e o direito administrativo. In: Uma avaliação
das tendências contemporâneas do direito administrativo. Diogo de Figueiredo Moreira Neto
(Coord.). Rio de Janeiro: Renovar: 2003. p. 561.
26
GUERRA, Sérgio. Discricionariedade e reflexividade: uma nova teoria sobre as escolhas
administrativas. Belo Horizonte: Fórum, 2008.
5
muitos conceitos abertos e indeterminados, ausência de clareza e eventuais
ambiguidades do texto –, somados (i) à silenciosa restrição de acesso à
elaboração da norma construída no âmbito do Executivo “em gabinetes
fechados e sem publicidade alguma, libertos de qualquer fiscalização ou
controle da sociedade ou, mesmo, dos segmentos sociais interessados na
matéria”27; (ii) a ausência de fixação, nas leis setoriais, em bases claras e bem
definidas, do que é matéria de natureza política (e, portanto, de competência
da administração pública direta) e do que é matéria de natureza técnica (de
competência dos reguladores independentes); (iii) e a possibilidade de o
regulador editar normas com tal grau de tecnicismo que impeça a compreensão
por setores não especializados28; também no âmbito das entidades reguladoras
estatais haverá grande chance de imprevisibilidade de decisões, arbítrio e,
conseqüentemente, aumento da insegurança jurídica na regulação.
27
BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio. “Poder” regulamentar ante o princípio da legalidade.
Revista Trimestral de Direito Público, São Paulo, v. 4, p. 71-78, 1993. p. 74.
28
A advertência é feita por PALMA FERNÁNDEZ, José Luis. La seguridad jurídica..., op. cit.,
p.47.
29
Bauman adverte que o relacionamento do indivíduo com a natureza e a sociedade é
efetivamente mediado pelas competências especializadas e a tecnologia que as serve. Os
técnicos são aqueles que possuem essa competência e administram suas técnicas que
comandam as atividades vitais. A técnica, produzida e controlada pelo especialista, constituiu o
verdadeiro ambiente da vida individual. Nesse ambiente surgem em grande parte a
ambivalência e a insegurança e, com elas, grande parte dos perigos percebidos”. BAUMAN,
Zygmunt. Modernidade e ambivalência..., op. cit., p. 225. Grifo nosso.
30
SILVA, Almiro do Couto e. O princípio da segurança jurídica (proteção à confiança) no direito
público brasileiro e o direito da administração pública de anular seus próprios atos
administrativos: o prazo decadencial do art. 54 da lei do processo administrativo da União (Lei
nº 9.784/99). Revista Brasileira de Direito Público – RBDP, Belo Horizonte, ano 2, n. 6., p. 1-59,
jul./set. 2004, p. 12.
6
A idéia de segurança jurídica – aponta Luis Roberto Barroso31 –
enfrenta, nessa senda, uma crise de identidade neste início de século e
milênio, uma quadra histórica identificada como rótulo ambíguo de pós-
modernidade. Vive-se a era da velocidade da transformação com as novas
gerações de computadores, os novos instrumentos de conexão em rede
universal, as novas fronteiras nos medicamentos e na genética32.
31
BARROSO, Luís Roberto. Temas de direito constitucional. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar,
2002. p. 51.
32
Idem, ibid. p. 51. Sobre a era da informação, economia, sociedade e cultura, ver o capítulo I
do primeiro volume da trilogia de CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede..., op. cit. p. 67 ss.
33
STIGLER, George J. A teoria da regulação econômica. In: Regulação econômica e
democracia: o debate norte-americano. Paulo Mattos (Coord.). São Paulo: Editora 34, 2004. p.
23.
34
Esse ponto é indicado por Ricardo Lobo Torres, com arrimo em Isensee, como sendo o
“dilema constitucional”. Ou se mantém a atuação da Administração Pública sob a reserva da lei
ou se aceita a necessidade supralegal jusfundamental e intervém sem o título “legítimo” da
legalidade. TORRES, Ricardo Lobo. Tratado..., op. cit. p. 179. Grifo nosso.
7
Além dos aspectos acima destacados, o tema que envolve a
segurança jurídica na regulação estatal de atividades econômicas carece de
um maior enfrentamento doutrinário acerca das condições para sua possível
releitura diante de atos jurídicos perfeitos prospectivamente injustos. Trata-se,
no caso em questão, de contratos firmados entre o Poder Concedente e o setor
privado para a prestação de serviços públicos, por delegação do Estado, ou
mesmo a intervenção estatal em atividades privadas sensíveis (a exemplo da
saúde suplementar e vigilância sanitária) em um ambiente de permanente
mutação de questões técnicas, riscos globalizados, situações imponderáveis e
das variações socioeconômicas no país.
35
SILVA, Almiro do Couto. O princípio da segurança jurídica..., op. cit., p. 10.
36
Dentre os inúmeros trabalhos sobre a questão, mencione-se a obra coletiva que aborda
esses temas: Constituição e segurança jurídica. Direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa
julgada: estudos em homenagem a José Paulo Sepúlveda Pertence. Cármen Lúcia Antunes
Rocha (Org.). 2.ed. rev. e ampl. Belo Horizonte: Fórum, 2005.
37
Na expressão de GIDDENS, Anthony. A vida..., op. cit., p. 94.
38
Essa correlação entre segurança jurídica e justiça é assim aduzida por Peres Luño: “En
cuanto valor jurídico la seguridad mantiene un constante relación de engarce no siempre
adecuadamente entendida, con la justicia. Dicha relación ha sido planteada, la más de las
veces, en términos de una antítesis inevitable cuyas polaridades vienen determinadas por: una
justicia concebida como exigencia de adaptación del Derecho a las necesidades de la vida
social; y una seguridad jurídica encarnada por los rasgos formales, permanentes y de obligado
8
Bermejo Vera39 comenta ser curioso que, para que a segurança
jurídica alcançasse seu autêntico significado e valor, foi necessário que o
Direito se convertesse em uma fonte de insegurança40. Esse pensamento é
compartilhado por Ricardo Lobo Torres41 ao advertir que a segurança jurídica,
enquanto valor absolutamente abstrato na atual sociedade de riscos, deixa de
ser a segurança “legislada” dos direitos individuais para se expandir no sentido
da segurança social e da segurança dos direitos difusos. Nesse contexto,
flexibilizam-se a segurança e a legalidade, perdendo aquela conotação fechada
que tinha no início do Estado de Direito. E ressalva: “claro que a flexibilização traz
alguma insegurança, causando desconforto aos autores de índole positivista”42.
9
1. SEGURANÇA (OU INSEGURANÇA) QUE SE EXPERIMENTA NA ATUAL
AMBIVALÊNCIA E SUBSIDIARIEDADE DA SOCIEDADE DE RISCOS
45
A expressão cunhada por Diogo de Figueiredo Moreira Neto (cadeia de subsidiariedades)
bem reflete essa questão. Aparece em seu artigo Cidadania e advocacia no estado
democrático de direito, publicado na Revista de Direito da Procuradoria Geral do Estado do Rio
de Janeiro, v. 50, p. 118, 1997.
46
TORRES, Silvia Faber. Princípio da subsidiariedade no direito público contemporâneo. Rio
de Janeiro: Renovar, 2001. p.12. Sobre o tema, ver, ainda: FERNÁNDEZ FARRERES,
Germán. Reflexiones sobre el valor jurídico de la doctrina de la subsidiariedad en el derecho
administrativo español. In: Uma avaliação das tendências contemporâneas do direito
administrativo. Diogo de Figueiredo Moreira Neto (Org.). Rio de Janeiro: Renovar, 2003, e
RIVERO YSERN, Enrique. El principio de subsidiariedad. In: Uma avaliação das tendências
contemporâneas do direito administrativo. Diogo de Figueiredo Moreira Neto (Org.). Rio de
Janeiro: Renovar, 2003.
47
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Cidadania..., op. cit., p. 118.
10
grupos sociais, e, ainda, pelo Estado, deverá ser reservada àquele que estiver
em plano mais próximo do indivíduo48.
48
Veja a advertência de FARIA, José Eduardo. Direito na economia globalizada..., op. cit., p.
35-36.
49
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado..., op. cit., p. 176.
50
Id. Ibid.
51
A exemplo de BECK, Ulrich. Risk society: towards a new modernity. London: Sage, 1993 e
SUNSTEIN, Cass R. Risk and reasons: safety, law and the environment. Cambridge:
Cambridge Press, 2002.
52
Nesse sentido, ver BECK, Ulrich. A reinvenção da política..., op. cit., p. 11.
53
Id. Ibid., p. 16.
54
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado..., op. cit., p. 177. Prossegue o autor: “Da ambivalência e
do caráter paradoxal da sociedade de risco decorre a modificação do próprio conceito de
segurança, em crescente contraste com o de insegurança.” Id. Ibid., p. 178. Grifo nosso.
55
A inclusão da sociedade de riscos como nova categoria da sociedade atual mereceu críticas
de autores, em que se destaca DE GIORGI, Raffaele. Direito, democracia e risco..., op. cit., p.
196-197.
56
BECK, Ulrich. A reinvenção da política..., op. cit., p. 17.
57
Id. Ibid., p. 23.
11
avanço tecnológico – que gerou um “risco fabricado”58, “fruto da decisão
humana”59 – ocorrido durante o século passado levou o homem a sofrer os
efeitos de sua própria ação.
58
GIDDENS, Anthony. Mundo em descontrole..., op. cit., p. 24.
59
LUHMANN, Niklas. Sociologia del rischio. Trad. Giancarlo Corsi. Milano: Bruno Mondadori,
1996. p. 31-32.
60
BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e ambivalência..., op. cit., p. 113. Como dito, para
Bauman, cada resolução de problema gera novo problema. Id. Ibid., p. 227.
61
Id. O mal-estar da pós-modernidade. Trad. Mauro Gama e Cláudia Martinelli Gama. Rio de
Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1998. p. 36 (título original: Posmodernity and its discontents).
62
FARIA, José Eduardo. O direito na economia globalizada..., op. cit., p. 37.
63
Id. Ibid., p. 39: “De que modo conceitos e categorias construídas em torno do princípio da
soberania, como monismo jurídico, norma fundamental, poder constituinte originário, hierarquia
das leis, direito subjetivo e segurança do direito, podem captar todo o dinamismo e
interdependência presente no funcionamento de uma economia globalizada?”. Grifo nosso.
12
cada membro da sociedade. A segurança jurídica representa, dessa forma, a
idéia de um conjunto de condições que possa tornar possível à sociedade o
prévio conhecimento das conseqüências de seus atos à luz das normas
preestabelecidas pelo sistema jurídico.
64
Cf. GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Justicia y seguridad..., op. cit., p. 33.
65
SIMON, William H. A prática da justiça. São Paulo: Martins Fontes, 2001. p. 67.
66
GONZÁLES PÉREZ, Jesús. El principio general de la buena fe en el derecho administrativo.
3.ed. Madrid: Civitas, 1999. p. 53.
67
SILVA, José Afonso da. Curso..., op. cit., p. 412.
68
No mesmo sentido Celso Antônio Bandeira de Mello denota que o “princípio da segurança
jurídica é, provavelmente, o maior de todos os princípios fundamentais do Direito, já que se
encontra em sua base, em seu ponto de partida”. BANDEIRA DE MELLO, Celso Antônio.
Reforma da previdência. Rio de Janeiro: CONAMP, 2004. p. 67.
13
legalidade, consoante sempre ressaltado nos melhores estamentos da filosofia
do Direito69.
69
Cf. CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. Da declaração de inconstitucionalidade e seus efeitos
em face das Leis n° 9.868 e 9.882/99. In: O controle de constitucionalidade e a lei n° 9.868/99.
Daniel Sarmento (Coord.). Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2002. p. 98.
70
Na advertência de BECK, Ulrich. A reinvenção da política..., op. cit., p. 24.
71
GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica..., op. cit., p. 47.
72
BAUMAN, Zigmunt. Comunidade: a busca por segurança no mundo atual. Trad. Plínio
Dentzien. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2003. p. 69.
73
LAUBADÈRE, André de. Direito público económico..., op. cit., p. 114.
74
Cf. CASTRO, Carlos Roberto Siqueira. A constituição aberta..., op. cit., p. 51.
14
3. CARÁTER AXIOLÓGICO DA SEGURANÇA JURÍDICA NO CONTEXTO
REGULATÓRIO ESTATAL BRASILEIRO
75
PERES LUÑO, Antonio-Enrique. La seguridad juridica..., op. cit., p. 13.
76
Id. Ibid.
77
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito regulatório..., op. cit., p. 101.
15
não comprometerão outros valores que mereçam ser salvaguardados ou, pelo
menos, que o farão em nível proporcionalmente tolerável em relação a esses
valores fundamentais.
78
BAPTISTA, Patrícia Ferreira. Segurança jurídica..., op. cit., p. 50.
79
TORRES, Ricardo Lobo. Tratado..., op. cit., p. 52.
80
PERES LUÑO, Antonio-Enrique. La seguridad juridica..., op. cit., p. 37-38.
81
Id. Ibid., p. 96.
82
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira da. Em busca..., op. cit., p.207.
83
BAPTISTA, Patrícia Ferreira. Segurança jurídica..., op. cit., p. 50.
84
BERMEJO VERA, José. El declive de la seguridad jurídica..., op. cit., p. 43.
85
SILVA, Almiro do Couto e. O princípio da segurança jurídica..., op. cit., p. 17.
16
dificulta sua compreensão – parte de uma heterogeneidade entre justiça – valor
– e segurança jurídica – dado fático que deriva da positividade do direito, ou de
determinadas condições de fato sociológicas ou políticas.
86
BAPTISTA, Patrícia Ferreira. Segurança jurídica e proteção da confiança legítima..., op. cit.,
p. 18.
87
Id. Ibid., p. 21-22: “Não se perca de vista, porém, que o ideal de um direito seguro não pode
ser mais do que isso: um ideal. É necessário e desejável aumentar a segurança do direito –
i.e., a estabilidade, a acessibilidade e a previsibilidade das normas e das decisões -, mas não
se conseguirá jamais eliminar todas as imprecisões e indefinições. Afinal, trata-se de normas
que são feitas e aplicadas por seres humanos”.
88
Nos Estados Unidos da América, há regras claras acerca desses mecanismos. Sobre o
Administrative Procedure Act (APA), que regula os procedimentos normativos das Agências
Reguladoras norte-americanas, ver: SUNSTEIN, Cass. R. O constitucionalismo após o the new
deal..., op. cit., p. 163 e, entre nós, BRUNA, Sérgio Varella. Agências reguladoras..., op. cit.
17
“dependente de critério político”89 com as reais necessidades cotidianas da
sociedade pluriclasse, pode-se ter, como importante antídoto contra os riscos
do arbítrio/tecnocracia, a procedimentalização. Vale dizer, o procedimento,
como “novo conceito central do direito administrativo”,90 permite maior participação
dos administrados, valorizando a “relação jurídico-administrativa”91 com o poder
público, notadamente diante de casos difíceis submetidos à escolha
regulatória.
89
SEABRA FAGUNDES, Miguel. O contrôle..., op. cit., p, 150.
90
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira da. Em busca..., op. cit., p.301 ss.
91
Nos moldes identificados por BAPTISTA, Patrícia Ferreira. Segurança jurídica..., op. cit., p.
128-129.
92
MARQUES NETO, Floriano de Azevedo. A nova regulação estatal..., op. cit., p. 96.
93
SILVA, Vasco Manuel Pascoal Dias Pereira da. Em busca..., op. cit., p.461.
94
Id. Ibid., p. 99.
95
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito regulatório..., op. cit., p.102.
96
MOREIRA NETO, Diogo de Figueiredo. Direito regulatório..., op. cit., p.102.
97
BAPTISTA, Patrícia Ferreira. Segurança jurídica..., op. cit., p. 328.
18
Alguns cenários em que a previsibilidade técnica vincula a escolha
administrativa são apresentados por Paulo Otero. O conteúdo vinculante é
determinado por meio do recurso a ciências exatas ou não, dotadas de origem
empírica e que expressam o fruto de uma avaliação do tipo científica visando a
determinados fins.
98
OTERO, Paulo. Legalidade e administração pública..., op. cit., p 764 ss.
99
ARAGÃO, Alexandre Santos de. Teoria das autolimitações administrativas: atos próprios,
confiança legítima e contradição entre órgãos administrativos. Revista de Direito do Estado, n.
4 (out./dez. 2006), Rio de Janeiro: Renovar, 2006. p. 231-244.
100
Patrícia Baptista adverte que: “Como hoje largas áreas da atividade da Administração estão
à margem da lei, resta ao administrador um amplo espaço para desempenhar funções
normativas. Ocorre que é justamente nesse campo da atividade administrativa da
Administração, apelidada na common law de rule-making, que a inserção da participação tem
maior relevo, para conferir legitimidade à regulação efetuada”. BAPTISTA, Patrícia.
Transformações..., op. cit., p.160-161.
19
Outro mecanismo adotado nesse campo de questões no referido país
é denominado de adjudication, isto é, a catalogação dos precedentes
regulatórios. Por esse sistema, busca-se impedir que situações concretas,
marcadas por questões técnicas idênticas ou semelhantes, sejam decidas de
forma diversa ou adotadas de acordo com a conveniência ocasional ou
passageira das autoridades regulatórias101. As vantagens na padronização dos
mecanismos de edição de normas regulatórias podem ser resumidas no
aumento da eficácia da ação administrativa, na diminuição da pressão dos
interesses privados organizados sobre a escolha administrativa e na
potencialização dos valores de certeza, igualdade e segurança.
101
Cabral de Moncada, ao discorrer sobre a liberdade dos reguladores em optar pela
adjudication ou rulemaking na execução da lei, conclui pela tendência de aplicação da
rulemaking. Isso porque esta “permite ultrapassar as desvantagens da indeterminação e
insegurança conseqüentes a uma criação só casuística do direito, típica da adjudication”.
CABRAL DE MONCADA, Luís S. Estudos de direito público. Coimbra: Coimbra Editora, 2001.
p. 131.
102
García de Enterría cita o caso dos Estados Unidos da América, em que foram idealizados
vários instrumentos para consolidação das normas regulatórias e da jurisprudência. As edições
são periódicas e exercem uma enorme autoridade. GARCÍA DE ENTERRÍA, Eduardo. Justicia
y seguridad..., op. cit., p. 61 ss. PALMA FERNÁNDEZ se refere ao sunset legislation
estadunidense, que permite que determinadas normas sejam válidas somente entre 5 a 10
anos, salvo se expressa e formalmente prolongadas no tempo. PALMA FERNÁNDEZ, José
Luis. La seguridad jurídica..., op. cit., p. 26. Esse mecanismo seria extremamente útil no Brasil,
pois, é comum que disposições de normas muito antigas sejam “sacadas” para questionar a
atuação dos particulares no exercício das atividades econômicas.
20
da sociedade nos processos, na ponderação e na valoração tecnicamente
motivada.
CONCLUSÃO
21
Nessa senda, apresenta-se com humildade uma metodologia que
possa ser suficiente para privilegiar a segurança jurídica a ser observada pelas
entidades estatais na elaboração de normas que sustentam suas escolhas.
Nessa trilha, constatou-se ser indisputável que há uma colisão direta entre, de
um lado, a necessidade de se estabelecer e respeitar a segurança jurídica, e a
liberdade como um dos pilares do Estado Democrático de Direito, com a
necessidade de se repensar a segurança jurídica formalista para que esse
engessamento não se volte contra fundamentos axiológicos materializados nos
direitos e nas garantias fundamentais.
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