De Que É Feito A Vida Das Familias
De Que É Feito A Vida Das Familias
De Que É Feito A Vida Das Familias
Carla Crespo
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cada família como reuniões e encontros familiares, aniversários ou férias) e interacções padrão
(rituais que se inscrevem no quotidiano das famílias como a hora de jantar, a hora de deitar, entre
outros).1
O tema dos rituais tem, nas últimas décadas, seduzido investigadores e terapeutas na área
da família. Tal deve-se, em parte, a este tema estar intimamente ligado ao “tempo familiar”. Cada
vez mais, nas coordenadas socioculturais e histórias presentes, este “tempo familiar” se vai
tornando escasso. Por isso, é também mais valorizado e considerado um bem precioso e
necessário. De facto, no mundo de ritmo acelerado que as famílias vivem actualmente, é
significativo que continuem a “roubar tempo ao tempo” para estarem juntos em família e que
levem a cabo actividades e eventos que envolvem preparação, investimento e empenho. Os
rituais estão presentes em, pelo menos, três níveis ou “tempos familiares”. A um nível mais
imediato e específico, os rituais organizam o “tempo quotidiano” da familia. A um nível mais lato e
extenso, o do “tempo do ciclo de vida”, os rituais anunciam e facilitam o movimento familiar no
tempo através das transições familiares: as mudanças nos indivíduos e nas relações, sobretudo
as mudanças mais significativas, requerem rituais de passagem. Por último, a um nível ainda mais
abrangente, do “tempo inter-geracional”, os rituais familiares atravessam gerações e são pontes
entre os tempos passado, presente e futuro (Imber-Black & Rogers, 1993; Fiese, 2006).
O objectivo deste capítulo é precisamente compreender a ligação entre os rituais familiares
e o desenvolvimento da família ao longo do tempo. Apresenta-se, primeiro, uma introdução ao
tema dos rituais familiares, na qual se procura responder a duas questões: “Por que é que os
rituais familiares são importantes para as famílias?” e “ Por que é que os rituais familiares são
importantes para os profissionais que querem compreender as famílias?”. Depois, adoptando o
ciclo de vida como conceito organizador, percorrem-se as diferentes etapas do ciclo de vida da
família e, para cada uma delas, exploram-se que rituais preparam a transição para esta fase, qual
a ligação entre os rituais e as tarefas desenvolvimentais da família e dos seus elementos
individuais e quais os principais temas que a literatura e a investigação têm identificado. Por
último, conclui-se com uma breve reflexão sobre as implicações práticas do conhecimento, no
momento actual, sobre este tópico.
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Quando se fala em rituais familiares, há um conceito vizinho que não se pode ignorar, o conceito de rotinas
familiares. As rotinas são interacções que seguem um determinado padrão, se repetem ao longo do tempo
e se reconhecem pela sua continuidade. Os rituais vão mais além ds rotinas, envolvem representações e
crenças relativas à identidade familiar. Em suma, o que os distingue é que nos rituais há significados
pessoais subjectivos e interiorizados associados às interacções comportamentais que ocorrem na família
(Fiese, Tomcho, Douglas, Josephs, Poltrock, & Baker, 2002). Rotinas e rituais entretecem-se no quotidiano
das famílias e são ambos elementos importantes para o seu funcionamento. O alvo conceptual régio deste
capítulo é o universo dos rituais familiares; referências às rotinas familiares são feitas pontualmente quando
relevante.
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Rituais que as Famílias Constróem: Os Dois Lados da Questão
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(partes fechadas) e surpresas (partes abertas) reflectindo o desenvolvimento da família e o
dinamismo das redes de relações entre seus elementos (cf. van der Hart, 1983).
É este um dos motivos pelos quais os rituais familiares são, muitas vezes, palco de
emoções e sentimentos contraditórios e ambivalentes (cf. Roberts, 1988). A confrontação do
presente com o passado pode ser integrada de uma forma mais ou menos positiva de acordo com
um elevado número de factores provenientes do indivíduo em relação com a família. Em
determinados casos, a vivência dos rituais familiares na infância pode ter sido tão perturbadora ou
indiferente que os indivíduos escolhem conscientemente modificar o modo como estes se vão
organizar na família que eles próprios constroem. Outro motivo para a existência de emoções e
sentimentos contraditórios reside nas expectativas comunitárias e sociais: no contexto da
sociedade ocidental do momento, e mais especificamente nos meios urbanos, é esperado que se
comemorem os aniversários, os aniversários de casamento, que no Natal a família esteja reunida,
etc. Esta generalização de expectativas em torno destes rituais vividos em família (e mais ou
menos alargados a outros elementos) faz com que a vivência dos mesmos seja sempre
comparada com o “esperado”. O “esperado” é normalmente objecto de uma idealização colectiva
e, como tal, difícil de atingir2. Neste sentido sentido, os rituais são alvo de um grande investimento
e por vezes, a avaliação que se faz da família e do papel dos pais (os principais “fazedores de
rituais”) está muito ligada à avaliação subjectiva que se faz destes eventos.
Nos rituais familiares que marcam as transições do ciclo vital existem também sentimentos
ambivalentes precisamente porque as transições trazem consigo perdas e ganhos; a esperança
numa nova fase é sempre acompanhada do luto necessário da anterior. Num casamento, há a
“perda” da filha ou do filho aliada à sensação de fecho de uma etapa da vida e há, por outro lado,
a inclusão de um novo membro no núcleo familiar (nora ou genro); aliada à esperança de uma
vida em comum para o casal, está o receio das dificuldades do percurso conjugal (Roberts, 1988).
Numa finalização de curso, a alegria pelo atingir de um patamar que é bem sucedido existe lado a
lado com o medo do desconhecido na etapa seguinte. Num funeral, há a dor pela perda do
familiar e, simultaneamente, a união reforçada sentida pela família neste momento; ou subsistem
sentimentos ambivalentes em relação ao familiar falecido e às transformações familiares que se
configuram a partir desta perda na família-sistema. Os rituais familiares permitem conter a
ambivalência inerente as estes pontos nodais de transição, proporcionando um contexto (mais ou
menos) estruturado para a sua vivência.
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Aqui, é pertinente analisar a experiência do “lado de fora”, isto é, observar como as datas festivas
associadas à família são vividas por aqueles que vivem em contextos diferentes do que é, normalmente,
considerado família, como é o caso das crianças em instituições de acolhimento. Os Natais e os
aniversários, bem como o dia da Mãe ou o dia do Pai são vividos com sentimentos de grande ambivalência.
A comparação com as outras crianças, o assinalar (na escola, nos mass media, na comunidade que os
envolve) de datas especiais acompanhas de fórmulas de como devem ser vividas reaviva temas de vida
recorrentes como a ausência e a diferença.
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Em síntese, os rituais familiares são transversais à existência das famílias. Encontramo-los
em diferentes camadas da vida familiar, desde uma refeição em conjunto até a um casamento, o
primeiro, um momento mais privado e informal da vida familiar e o segundo, um evento mais
estruturado e único em que a família se reúne com a comunidade mais lata para um propósito
específico, marcar uma transição do ciclo de vida. Encontramo-los em diferentes famílias, desde
aquelas que vivem os rituais de um modo mais investido até àquelas que os vivem com maior
indiferença. Os rituais familiares não são um só (mais um) constructo académico abstracto mas,
como referem Fiese et al. (2002), estão vivos e fazem realmente sentido para as famílias
contemporâneas. A prova está em falar com as famílias sobre este tema resulta numa conversa
natural e fluida cujo produto é um discurso elaborado e rico em histórias.
Por que é que os rituais familiares são importantes para os investigadores, terapeutas e
outros profissionais que procuram compreender as famílias?
Imagine-se cientista social de outra galáxia se propõe observar as famílias do planeta.
Numa primeira fase de observação, “à distância”, repara que há ocasiões especiais em que os
membros da família se juntam, por vezes, incluindo outros elementos da família alargada ou da
comunidade à sua volta; nestas ocasiões, há comidas especiais e, por vezes, troca de prendas; os
elementos da família comportam-se de uma forma diferente do habitual, como se houvesse uma
espécie de guião e todos soubessem qual o seu papel e o que vai acontecer na cena seguinte; em
alguns casos, um dos elementos é o centro das atenções de todos; noutros, são determinados
símbolos que constituem o foco do interesse familiar; embora isto, normalmente, aconteça em
dias diferentes para cada família, há certos dias comuns a certos países e há mesmo algumas
raras ocasiões em que todas as famílias do planeta se comportam de forma semelhante. Este é o
plano das similaridades: há elementos comuns no modo como as famílias estabelecem rituais.
Numa segunda fase, o cientista extra-terrestre olha mais de perto e verifica, afinal, que as
similaridades são aparentes: numa certa família, um aniversário de casamento é celebrado com
muitos convidados, noutra, o casal planeia sair de casa para estar a sós nesta data especial;
numa família, todos rezam antes do jantar, noutra, esperam uns pelos outros para iniciar a
refeição e ainda noutra, cada um começa a jantar à medida que vai chegando e se dispõe a fazê-
lo; nuns casamentos, atiram-se flores, às vezes arroz, noutros, fazem-se discursos e ainda
noutros, partem-se os copos dos noivos. As conversas das famílias são também diferentes nestas
ocasiões e cada uma parece ter o seu código próprio de interpretação: há frases, piadas e outras
interacções que todos percebem na família mas que alguém de fora não pode compreender. Este
é o plano das diferenças: cada família é única e os rituais que escolhe viver são “actos criativos”
(Cheal, 1988, p. 642) que reflectem a sua história.
O cientista que reconhece estes dois “olhares” pode optar por estudar as regularidades dos
rituais familiares ou a idiossincrasia que os tornam exclusivos de cada família. A investigação tem-
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se centrado mais nas primeiras e a terapia, sobretudo, a terapia familiar, nas segundas, sendo
que a produção de teoria nestes dois contextos reflecte, naturalmente, estas escolhas. Hoje em
dia, esta diferenciação tende a esbater-se: os terapeutas familiares reflectem agora também sobre
as regularidades e propõem padrões de análise e compreensão das famílias (Imber-Black,
Roberts & Whiting, 1988) e os investigadores procuram, cada vez mais, comparar amostras
diferentes e complementar a análise de dados quantitativos com análise de observações e
narrativas, que permitem chegar “mais perto” de cada família (Fiese, 2006a).
A singularidade das famílias pode ser captada nos rituais familiares através dos símbolos
inerentes às acções e ao discurso. O modo como os membros da família interagem entre si e se
comportam durante os rituais familiares não se pode dissociar da história daquele grupo de
pessoas que já vivenciaram outros momentos semelhantes. Relativamente às acções, alguns
exemplos são: os lugares da mesa e a proximidade podem reflectir alianças e coligações; as
funções atribuídas a cada um dos membros não são, normalmente, casuais; há também objectos
simbólicos que são utilizados em determinadas ocasiões e que todos os participantes conhecem
(o presépio velho e partido que tende a manter-se ao longo do tempo, um enfeite de Natal que
todos os anos se coloca no cimo da árvore, os brincos da avó usados pela neta no dia do
casamento, o prato típico preparado por cada família à sua “moda”, etc.). Nos rituais, a nível
verbal, há um discurso denso (Nydegger & Mitteness, 1988) que, por oposição ao discurso trivial e
vazio que é compreendido por toda a gente, é exclusivo dos “insiders” de um determinado grupo
como é o caso da família. Ao longo das suas vidas em conjunto, os membros da família
desenvolveram os seus atalhos simbólicos e, para além disso, certos termos do quotidiano foram
adquirindo novos significados se colocados num determinado contexto, aspectos que tornam o
discurso familiar altamente elaborado (Nydegger & Miteness, 1988). A prova deste enraizamento
dos símbolos na família é a distinção entre membros e “outsiders” : os primeiros sabem o que
realmente se está a passar a vários níveis, os segundos só acedem a uma parte da vivência dos
rituais que consideram por vezes, estranhos, incompreensíveis ou até desadequados. Por isso, os
rituais familiares podem funcionar como “janelas” ricas e acessíveis para a identidade da família e
para o seu mundo privado (Wolin & Bennett, 1984). Nas palavras de Larissa (29 anos): “os
rituais são o bilhete de identidade de todos nós, é o que somos, de onde vimos, o que fazemos, o
que acreditamos, é aquilo que nós pensamos que é a maneira de passarmos aos nossos filhos. É
por isso que eu acho tanta piada às tertúlias a seguir ao almoço, a gente aprende tanto, são
histórias sempre interessantes.” Nos eventos rituais, responde-se (ainda que indirectamente) à
questão fundamental: “Quem é que somos enquanto família?”
Há rituais familiares que envolvem participação de membros exteriores e da comunidade
mais lata (por exemplo, a celebração de um casamento, a celebração religiosa da Páscoa ou do
Natal, etc.) e esses permitem a interacção entre a família e o mundo à sua volta. A família revê e
cria constantemente as suas relações com outros sistemas e integra estas experiências no seu
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paradigma (cf. Reiss, 1981). Mas nesta relação com o exterior, a própria família revê e reconstrói
a sua relação consigo própria, há transformações que ocorrem simultaneamente ao nível da
identidade. Também, do mesmo modo, nos rituais familiares mais privados (por exemplo, a hora
de jantar ou actividades especiais do fim de semana), em que só participa a família nuclear,
entram em jogo estas duas dimensões: a família está virada para si própria e para a relação entre
os seus membros (identidade) mas é nesse contexto que também se comentam histórias do
mundo exterior, se integram algumas experiências que os seus membros tiveram fora da família e
se ensaiam novas formas de relacionamento com outros sistemas (paradigma). Os rituais
constituem (um dos) dispositivos sintéticos numa intersecção de dialécticas: a dialéctica
paradigma/identidade cruza-se com a dialéctica estabilidade/ mudança. Aqui, reside, em parte, o
seu valor heurístico no estudo das famílias.
Barbara Fiese, a autora que em conjunto com a sua equipa, se tem destacado na
investigação sobre rituais familiares, sintetizou, assim, a importância do estudo das rotinas e
rituais familiares (Fiese, 2006a; Fiese et al., 2002):
- O estudo das rotinas e rituais familiares foca o processo familiar como um todo. Um dos desafios
do estudo das famílias tem sido encontrar formas de estudar a família como um todo, indo além
do estudo das percepções individuais sobre a família ou das relações diádicas. Como sistema que
é, a família não pode ser estudada através de inferências provenientes do estudo das suas partes
pois há propriedades que emergem só no todo. O estudo dos rituais permite aceder aos
significados da família como unidade colectiva, como sistema que se auto-regula e cria as suas
regras e crenças partilhadas.
- As rotinas e rituais estão alicerçadas na ecologia mais vasta da família (Brofenbrenner & Evans,
2000, in Fiese et al., 2002). É relativamente fácil reconhecer que existem variações culturais nas
rotinas e rituais da família, não só entre países mas também entre comunidades. Dentro das
próprias comunidades, há cada vez mais variações tendo em conta que a mobilidade geográfica e
o crescente número de casamentos bi-culturais levou cada vez mais à construção de paisagens
heterogéneas na cidade, no bairro ou até na mesma rua. Os rituais permitem compreender como
é que a cultura interfere nos processos de regulação das famílias e como é que esta se posiciona
na rede de sistemas mais vasta em que se insere,
- As rotinas e rituais familiares realçam a intersecção entre factores individuais e familiares. Numa
óptica transaccional (Fiese, 2006a), é importante analisar dois processos complementares: em
primeiro lugar, como é que o indivíduo percebe o seu lugar na família e como é que a vida familiar
afecta a sua adaptação e ajustamento individual; em segundo, como é que família regula o seu
funcionamento em resposta às características do indivíduo.
Até agora, foram referidas potencialidades do estudo dos rituais. Mas, tal como sugere o
provérbio, “a prova final do pudim é o seu sabor”. Será que os rituais já deram provas da sua
utilidade? Sabemos, actualmente que a terapia e a investigação têm usado esta ferramenta e
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obtido resultados positivos. No setting clínico, os terapeutas têm recorrido aos rituais familiares
como instrumentos de avaliação da família (ou das dinâmicas familiares de um dos seus membros
em consulta individual) e também como instrumento de intervenção. Para além do trabalho
realizado a partir dos rituais familiares que os indivíduos espontaneamente (re)criam, os
terapeutas recorrem também à co-construção de rituais no espaço de consulta, os denominados
rituais terapêuticos (Imber-Black et al., 1988). Há uma multiplicidade de objectivos que podem
levar à elaboração destes rituais, sendo o assinalar de transiçõeds não normativas (divórcio,
adopção, união de casais homossexuais, etc.) um dos mais significativos. A investigação, por seu
lado, tem apurado associações positivos entre rituais familiares e resultados na saúde e bem-estar
de indivíduos e famílias, dos quais se apresentam alguns exemplos. A nível do subsistema filial,
os rituais familiares foram considerados factores protectores para as crianças de famílias com
alcoolismo (Bennett, Wolin, Reiss & Teitlebaum, 1987) e associados a dimensões positivas da
identidade (Fiese, 1992) e saúde mental de adolescentes (Compañ, Moreno, Ruiz & Pascual
(2002) e menor grau de conflito familiar (Dubas e Gerris (2002). A nível do susbistema parental.
sucesso nas tarefas parentais de pais solteiros (Olson & Haynes, 1993). Por último, também
vários estudos têm ligado os rituais à satisfação conjugal (Crespo, Davide, Costa & Fletcher, 2008;
Fiese, Hooker, Kotary & Schwagler, 1993; Fiese & Tomcho, 2001), demonstrando a sua
relevância para a subsistema conjugal.
Em síntese, os rituais são um dos mapas possíveis para conhecer e compreender a
realidade das famílias. Este mapa por estar incompleto, convida novos exploradores a dar o seu
contributo, nomeadamente, a clarificar como é que este conceito se pode continuar a transformar
em ferramenta que faça a diferença para as famílias.
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típica, nuclear e intacta que existe apenas no plano hipotético. Os guiões das famílias reais
podem-se aproximar mais ou menos deste mas são, com certeza, distintos porque idiossincráticos
e imprevisíveis. As famílias são infinitas (Keith & Whitaker, 1988) e as suas múltiplas formas
escapam a qualquer categorização teórica. Por outro lado, embora se reconheçam momentos-
chave no ciclo de vida, é importante relembrar que a família se desenvolve num processo
ininterrupto, ainda que, por vezes, invisível. É, também nestes momentos, de pequenos passos
insondáveis, que os rituais acompanham as famílias, organizando e dando sentido e significado
ao seu quotidiano. Assim, iremos, em seguida, acompanhar a família ao longo do ciclo de vida e
verificar como é que os rituais estão presentes neste percurso. Para além de olharmos a família
como um todo, iremos também reflectir como é que os indivíduos, nas suas diferentes fases
desenvolvimentais vivenciam os rituais familiares rituais, que papéis adoptam nestes eventos e
funções estes cumprem a cada etapa. As cinco paragens da viagem, baseadas na proposta de
Relvas (1966 posteriormente, revisitada por Alarcão (2000) são:
Primeira etapa – Formação do casal
Segunda etapa – Família com filhos pequenos
Terceira etapa – Família com filhos na escola
Quarta etapa – Família com filhos adolescentes
Quinta etapa – Família com filhos adultos (ninho vazio)
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têm de renunciar a hábitos antigos, integrar o cônjuge em certas ocasiões que, anteriormente,
viviam sozinhos e inclui-lo/a na maioria dos seus planos e projecções para o futuro.
Uma das questões mais importantes na articulação entre a individualidade e a
conjugalidade é, sem dúvida, a relativa às heranças das famílias de origem. A referência a este
tema é recorrente na literatura (Alarcão, 2000; Fiese, 2006a); Sampaio e Gameiro (1985, p.99)
afirmam mesmo que “o casamento é uma união de dois fantasmas, cada um com o seu cortejo de
crenças atrás”, crenças que têm a sua génese no processo de crescimento nas respectivas
famílias. A díade conjugal estabelece laços com estas famílias de origem, quer através das
relações de cada um, quer através da participação (em maior ou menor grau) no quotidiano da
nova família e vice-versa (Sampaio & Gameiro, 1985). A gestão das influências das famílias de
origem convida a pensar como é que um casal começa a sua vida ritual. É certo que cada nova
família cria os seus próprios rituais e rotinas mas estes contêm frequentemente vestígios dos
rituais e rotinas das gerações anteriores (Bennett, Wolin & McAvity, 1988).
O primeiro grande ritual do casal e que assinala a transição para o primeiro estádio da
família é o casamento. Este é talvez o mais ritualizado de todos os eventos do ciclo vital da família
(Fiese, 2006a); nesta ocasião, há papéis bem definidos (noiva, noivo, pais dos noivos, padrinhos,
meninos das alianças, jovem solteira que recebe o “ramo” da noiva, etc.) e há uma estrutura mais
ou menos formalizada como se todos soubessem o que esperar nos vários momentos da
celebração. É também uma celebração rica em símbolos que assinalam a transição: a “mãe
conduz o noivo” e o “pai entrega a noiva”, representando a transição das famílias de origem para
uma nova família; o atirar de pétalas e de arroz aos noivos simbolizando desejos de felicidade e
de fertilidade. Não só a vivência, como também a preparação deste evento implicam que o casal
tome determinado tipo de decisões: quem é convidado, quem é excluído, onde se realizará a
cerimónia e como, qual o peso da influência das respectivas famílias de origem nesta ocasião, etc.
A forma idiossincrática como o casal organiza este evento é, desde logo, reveladora das posturas
a adoptar no futuro como se fosse uma espécie de metáfora inicial que contém em si o gérmen do
desenvolvimento da vida da nova família. Mais especificamente, em termos da vivência dos
rituais, poder-se-á analisar se os noivos aceitam e continuam a realidade das suas famílias de
origem (preparando o casamento semelhante aos dos pais, de acordo com as expectativas da
família de origem), se a aceitam parcialmente (procurando dar um cunho próprio à celebração e
afastando-se, em alguns aspectos do que seria esperado pelas respectivas famílias de origem) ou
se intencionalmente a rejeitam (através da exclusão deliberada de alguns membros da família de
origem e da realização de uma celebração totalmente diferente em que não se reconheça
continuidade em relação às famílias de origem), como ilustra Maria, 28 anos:
“Foi um dia que marcou de facto a separação em relação às famílias de origem. Por um
lado, é o que o casamento implica, mas mesmo a forma como decidimos organizar o
casamento, houve manifestação de desacordo tanto dos meus pais como os pais do
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Francisco e nós mantivemo-nos de alguma forma inflexíveis, eu penso que tem a ver, de
uma forma inconsciente, se calhar, não sei, ok, isto é o nosso dia, a partir daqui é a nossa
família, é assim que vamos decidir e é assim que queremos que seja. Dentro das nossas
portas, entre aspas, é assim que vai ser, independentemente do que acharem. Eu acho que
esse dia especificamente marcou isso.”
Independentemente de o casal optar ou não por uma cerimónia ritual que assinale a
transição, o início de vida em comum impõe forçosamente decisões em relação aos rituais dos
dois elementos do casal, agora juntos na nova família. Estas decisões envolvem, por um lado,
escolher que eventos e momentos serão assinalados (estes poderão ser diferentes consoante as
famílias) e, por outro, como é que isso será feito. Há também dois planos de decisão: o primeiro é
relativo à dimensão mais nuclear da nova família, isto é, como é que os cônjuges irão organizar o
seu quotidiano, que rituais e rotinas estabelecerão na nova fase de vida em comum; o segundo é
relativo à dimensão mais alargada da nova família, ou seja, como é que os cônjuges irão articular
e gerir as relações com as respectivas famílias de origem. Esta dimensão inclui resoluções como
quando visitar e quando receber as famílias de origem de cada um, com quem passar o primeiro
Natal e estabelecer (ou não) um critério para os Natais seguintes, que tipo de comemoração de
aniversário realizar, entre outros. Sabemos que a relação com as famílias de origem vai muito
mais para além dos rituais familiares. No entanto, consideramos que é nestas alturas que a
matéria dessas relações se concretiza realmente e se traduz por decisões não adiáveis (não se
podem adiar o Natal, os aniversários e outras celebrações deste género; a “não-decisão” é, neste
plano, impossível); é também nestas ocasiões que o casal é compelido a gerir estas relações e a
decidir sobre elas em conjunto. Retomando a proposta de Wamboldt e Wolin (1989), é importante
que as expectativas que cada um dos elementos traz para a construção de uma nova família
(sobre como esta deve ser ou não ser) não entrem em rota de colisão. Por exemplo, Lind (2008)
numa investigação com casais biculturais em Portugal verificou que, entre outros, havia dois
factores protectores da relação de casal: o investimento nos rituais familiares e o acordo dos
cônjuges em relação aos mesmos.
É nesta fase de ancoragem da vida do casal que se identificam as principais zonas de
conflito e que também se ensaiam formas de resolução do mesmo (Leonard & Roberts, 1988).
Numa relação de intimidade, os elementos do casal não evitam, adiam ou negam os conflitos mas
são capazes de os integrar, o que contribui para o crescimento individual e relacional (Costa,
2005). Um dos “temas quentes” (Fiese, 2006a) na vida dos recém-casados é a religião. O estudo
de Fiese e Tomcho (2001) verificaram que casais que partilhavam ideias semelhantes sobre o
significado e a importância de celebrações religiosas estavam, em média, mais satisfeitos na sua
relação de casal. As duas citações seguintes ilustram esta questão, mostrando o constraste entre
duas mulheres, uma, mais jovem que se debate com as questões religiosas em casal no início da
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vida a dois e outra que reflecte a similaridade do casal enraizada ao longo de vários anos de
casamento.
As festas religiosas são tão importante para mim e para a minha família que até
nos habituarmos à ideia vai ser um momento de tensão para mim e para o enquanto
casal, e para o Manuel, porque é assim: a esta distância, eu até consigo lidar bem
com a situação, sei que ao chegar ao momento não vai ser fácil porque gostava que
estivesse lá e que participasse com a minha família nessas situações. E depois
porque toda a minha família participa nessas situações (...) eu sei que não lhe posso
pedir isso mas há sempre os tios e os primos que perguntam, “vai chamar o Manuel”.
Acho que vão ser momentos complicados e delicados. (…) Portanto, já nos
chateámos por causa destas coisas, os nossos maiores problemas têm a ver com a
religião. Mas vamos conseguir resolver, eu sei que é muito fácil, parte de mim, é
aceitar e dizer às pessoas que me perguntarem por ele que ele não quis ir, pronto.
Carolina, 29 anos
Vamos sempre à missa juntos. Quando estou na igreja com ele, para mim, é uma
gratidão. A nós, aproxima-nos. A gente vai sempre juntos, rezamos juntos,
comungamos juntos, uma das coisas que o Martinho faz, um ritual, quando vamos
comungar, ele vai sempre assim com as mãos em cima de mim e eu gosto muito. Um
exemplo assim muito pequeno.
Elisa, 68 anos
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Os rituais de casal são, curiosamente, um tema ainda pouco estudado (cf. Bruess & Pearson, 1997 e
Crespo, 2007, para duas excepções). Na investigação com casais portugueses, apurámos que os casais
constróem, desde o período de namoro e ao longo do tempo, rituais de casal. São rituais de diferentes tipos
(celebração de datas especiais, do quotidiano e ocasionais) e cumprem funções como a união e a partilha e
expressão de afectos, entre outras. Rodrigo, 29 anos um dos participantes deste estudo, definiu estes
rituais como “ganchos” que identificam o casal e “tiques” que traduzem a singularidade da sua relação.
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As várias classificações do ciclo vital da família consideram que o nascimento do primeiro
filho é o acontecimento-chave que propicia a transição para uma nova fase da família (cf. Relvas,
1996). Como nos relembra Alarcão (2000), é a partir deste momento que emergem dois novos
sub-sistemas familiares (parental e filial); impõem-se reorganizações relacionais intra e inter-
familiares e inter-sistémicas. Esta autora salienta também que, com o nascimento do primeiro
filho, os casais sobem de geração, passando a experienciar o que anteriormente pertencia ao
universo dos seus pais; estes, para além de vivenciarem uma nova etapa como pais (pais de
filhos com filhos), também assumem um novo estatuto e papel enquanto avós. Este parece ser, de
facto, um momento altamente mobilizador na família. Em muitos casos, o nascimento do filho, o
seu antes (a experiência de gravidez) e o seu depois (os primeiros meses em que o bebé
requerem mais cuidados) proporcionam um retorno dos elementos do casal às suas famílias de
origem. As relações entre os vários elementos são revistas à luz de uma nova configuração da
realidade. Partilham-se histórias familiares que, por um lado, reforçam os laços entre os vários
elementos da família e, por outro, os preparam para os novos papéis. Como referem Keith e
Whitaker (1988), a “pele emocional” das famílias torna-se mais sensível: a possibilidade de
desenvolvimento da coesão e intimidade familiares vem acompanhada do risco de desilusões e
mágoas mais fundas que podem conduzir a fracturas relacionais.
Para o casal, a articulação entre conjugalidade e parentalidade parece ser o desafio
principal desta fase. Quando nasce o primeiro filho, as rotinas quotidianas da família alteram-se
totalmente. Os pais têm de se adaptar às necessidades do bebé e criar rotinas ligadas à
alimentação, ao banho, à hora de dormir, à mudança de fraldas (Fiese, 2006a). Pode ser
necessário um tempo de adaptação mais ou menos prolongado até que se estabeleça uma ordem
mais ou menos previsível do dia-a-dia familiar. Fiese e colaboradores (1993) compararam as
rotinas e rituais de 115 famílias. Verificaram que nas famílias em que o filho mais velho era ainda
pequeno, havia menor previsibilidade nas rotinas e menor afecto e simbolismo associado aos
rituais familiares do que em famílias cujo filho mais velho se encontrava já em idade pré-escolar.
Este dado é muito interessante pois evidencia diferenças significativas nas rotinas e nos rituais de
famílias com filhos pequenos e com filhos em idade pré-escolar, idades bastante próximas. A vida
ritual das famílias com filhos mais pequenos atravessa um período crítico: a enorme exigência dos
primeiros anos da criança, a inexperiência dos elementos do casal enquanto pais e todas as
mudanças associadas a este período de transição podem traduzir-se numa maior
indisponibilidade para uma vivência significativa dos rituais. Consequentemente, os benefícios
associados aos mesmos não acontecem tão intensamente nesta fase. Este estudo permitiu
também verificar a associação entre significado dos rituais e satisfação conjugal. Embora esta
associação fosse positiva para os dois grupos, havia uma difrença relacionada com o investmento
nos rituais familiares. Para as famílias com baixo investimento nos rituais, as mulheres do grupo
pré-escolar reportaram menor satisfação conjugal do que as mães do grupo dos bebés. Este dado
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parece indicar que rituais familiares são especialmente importantes para a percepção da relação
conjugal das mulheres após os primeiros anos de casamento. De acordo com Fiese et al. (1993),
para um casal com um filho em idade pré-escolar, os rituais familiares podem oferecer uma
oportunidade para a renovação de uma parceria que havia sido negligenciada durante o período
intensivo de prestação de cuidados aos filhos mais pequenos. Dados das entrevistas com estes
casais também contribuiram para ilustrar as diferenças entre os grupos das famílias da primeira
infância e pré-escolar. Os primeiros, quando questionados em relação à sua vida ritual,
descreviam frequentemente o assinalar do aniversário de casamento ou saídas a dois que
organizavam sem a criança. Os segundos descreviam muito mais os rituais relacionados com os
seus filhos como a organização de aniversários e saídas familiares em conjunto. São dados
bastante interessantes do ponto de vista da relação entre rituais familiares e identidade familiar.
Os autores (ibidem) constataram que os casais com filhos ainda bebés expressavam uma
identidade mais ligada à sua relação como casal, enquanto os casais com filhos em idade pré-
escolar expressavam uma identidade mais ligada às relações entre múltiplos membros da família,
incluindo já as crianças. Com efeito, à medida que a criança cresce, vai-se tornando um elemento
mais activo e interventivo na vida ritual da família. Como refere Fiese (2006a), as rotinas do
contexto familiar, para além de serem importantes para o desenvolvimento saudável das crianças
e complementarmente do sentido de competência dos pais, podem evoluir para rituais familiares
com importantes significados para os membros da família.
Em conclusão, é nesta fase, com o nascimento do primeiro filho, que os casais iniciam a
sua jornada adulta de “ritualizadores” no sentido proposto por Erikson (1977), ou seja, enquanto
responsáveis pelo conteúdo e forma dos rituais que decidem integrar nas vivências da geração
seguinte. E as crianças? As crianças vivem os rituais de forma diferente consoante a fase de
desenvolvimento em que se encontram. Inicialmente, os rituais são apreendidos de uma forma
automática com ênfase nos comportamentos (da criança e dos outros) sua repetição.
Progressivamente, a estes elementos vai-se aliando a compreensão dos significados e símbolos
que é cada vez mais complexa. Aos poucos, os rituais começam a cumprir, junto dos elementos
mais novos da família, as suas funções de motores do sentido de pertença e agentes de
socialização, fornecendo-lhes pistas sobre como se comportar e, inclusivamente, sentir em
determinadas situações (Fiese, 2006b). Um estudo inovador de Peleg-Popko e Dar (2003)
examinou os rituais criados por crianças judias em idade pré-escolar e apurou que estes as
ajudavam a gerar um sentido de controlo e a regular as suas emoções. Estas competências vão
sendo cada vez mais importantes, preparando a criança para o início da sua aventura nos
contextos exteriores à família, como é o caso da entrada para a escola.
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A entrada do primeiro filho na escola significa o encontro de dois sistemas: a família e a
escola (Alarcão, 2000). Este é um importante momento do processo centrífugo da família já
iniciado aquando do nascimento dos filhos (Alarcão, 2000): a família abre-se ao mundo exterior,
visita novos espaços, estabelece novas relações e também se expõe ao feedback dos elementos
do sistema escolar, nomeadamente, dos professores. De uma forma mais ou menos implícita, a
entrada dos filhos na escola é um “teste” à família, à sua capacidade enquanto contexto
socializador primário.
Esta macro-mudança gera uma série de micro-mudanças ao nível do contexto familiar: é
necessário renegociar horários, tarefas parentais (ajuda nos trabalhos de casa, levar e trazer a
criança da escola, decidir quem é o encarregado de educação, etc.), considerar novas despesas
no orçamento familiar, entre outros. O quotidiano familiar altera-se novamente. Algumas das
rotinas e rituais característicos das fases anteriores têm de ser repensados e outros são criados
de acordo com a nova organização do tempo familiar. A importância da vida ritual das famílias
para o desenvolvimento das crianças começa cada vez mais a ganhar reconhecimento. Num
estudo longitudinal, Fiese (2000, in Fiese 2006a) verificou que a existência de rotinas no
quotidiano das crianças, quando estas tinham 4 anos, predizia o seu sucesso académico avaliado
aos 9 anos de idade. Esta autora (2002, in Fiese 2006a) também verificou a questão da
estabilidade das rotinas e rituais ao longo do tempo e a sua relação com o sucesso académico
das crianças. Nas famílias que mantiveram altos níveis de investimento nos rituais familiares e
que valorizaram o seu significado afectivo ao longo dos cinco anos do estudo, encontravam-se as
crianças com resultados mais elevados em provas de realização académicas. Pelo contrário, nas
famílias que sempre apresentaram baixos níveis de investimento nos rituais ao longo do tempo
encontravam-se as crianças com os resultados mais baixos nas mesmas provas. Outro grupo de
famílias apresentava um decréscimo do investimento nos rituais ao longo do mesmo período de
tempo: as crianças destas famílias apresentavam resultados intermédios.
Também a literacia tem sido estudada sob o ponto de vista dos rituais: alturas como a hora
de jantar na família são consideradas excelentes oportunidades para tarefas ligadas ao ensino da
linguagem; a criação de rituais familiares em torno da leitura (por exemplo, leitura conjunta entre
pais e filhos) tem sido associada, de forma positiva, com o desenvolvimento da linguagem e o
sucesso escolar. Em suma, as rotinas e rituais familiares estabelecidos no contexto familiar
parecem ser facilitadores da adaptação da criança à escola, quer em termos da sua realização
escolar, quer em termos da sua integração relacional, dois aspectos distintos mas intimamente
ligados. O facto de a própria escola ser um contexto com rotinas (e, potencialmente, rituais)
específicas permite compreender como é que uma criança que interiorizou o sentido do tempo
“organizado” na família, possa facilmente transferir essa capacidade para este novo contexto. Os
pais são, sem dúvida, os responsáveis pela organização da vida ritual da família, não se podendo,
no entanto, negar o papel activo da criança (que, aos poucos, negoceia a hora de dormir, declara
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as suas preferências ao jantar, recorda e “reclama” hábitos passados) e a natureza transaccional
das relações familiares (Fiese, 2006a). O papel activo das crianças nos rituais familiares, embora
reconhecido, está ainda pouco estudado e consititui um dos desafios da investigação nesta área.
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prática de desporto e de outras actividades, crescentes exigências da escola), divide-se entre
vários espaços e tempos que se subtraem ao tempo familiar. Uma questão importante para os
pais, nesta fase, é saber como gerir a participação dos filhos nos rituais familiares. Contrariamente
à ideia que os adolescentes não passam ou não precisam de muito tempo com a família, há
dados da investigação que encontraram uma ligação positiva entre o tempo passado com a
família e ajustamento psicológico dos adolescentes (cf. Fiese, 2006a). Por exemplo, Eisenberg,
Olson, Neumark-Sztaine, Story e Bearinger (2004) verificaram que havia uma associação positiva
entre a frequência de refeições familiares e menor consumo de cigarros, álcool e marijuana em 4
746 adolescentes nos E.U.A. Fulkerson et al. (2006), também num estudo norte-americano de
larga escala encontraram associações positivas entre frequência de jantares familiares e
desenvolvimento positivo dos adolescentes (incluindo menos comportamentos de risco de
consumo de substâncias, problemas alimentares, problemas escolares, entre outros) As refeições
em família são oportunidades simultâneas de regulação emocional (Fiese, 2006b) e supervisão
parental. Quando à mesa de jantar se pergunta: “Como é que correu a escola hoje? Não estás a
comer bem, o que almoçaste? Não almoçaste, porquê? O que se passa?”, criam-se oportunidades
de diálogo, de “pôr em dia” o que aconteceu na vida de cada um, neste caso, do adolescente nos
contextos exteriores à família. O adolescente que, por exemplo, chega atrasado a casa para jantar
(pressupondo que há uma hora para jantar e que se espera que todos estejam presentes) sabe
que deve avisar ou explicar o porquê, o que promove responsabilização e, consequentemente,
autonomia.
Um outro estudo estudo (Compañ, Moreno, Ruiz e Pascual, 2002) comparou adolescentes
espanhóis que tinham sido referenciados para serviços de saúde mental com um grupo de
controlo e verificou que os primeiros reportaram partilhar menos refeições e celebrações familiares
com os seus pais. Fiese (1992), nos E.U.A. apurou que quando os adolescentes e os seus pais
partilhavam visões semelhantes sobre a importância do significado associado aos rituais
familiares, os adolescentes apresentavam um sentido do self mais forte e menores níveis de
ansiedade. Estes e outros estudos levam Fiese (2006a) a considerar que embora o tempo que os
adolescentes dedicam a rotinas e rituais familiares possa diminuir à medida que crescem, o
significado simbólico e afectivo em relação aos mesmos pode continuar. Com efeito, é desejável
que assim seja: a partilha de significados com o grupo familiar e o sentido de pertença ao mesmo
são aspectos essenciais para o desenvolvimento psicológico do adolescente (Fiese, 2006a). Um
estudo sobre o bem-estar e sentido de pertença de 1774 adolescentes da Nova Zelândia entre os
10 e os 15 anos (Youth Connectedness Project) apurou que quando questionados sobre o que
mais queriam/precisavam, 26.5% desejavam passar mais tempo em família. Noah, um
participante de 15 anos, escreveu que no que gostaria que mudasse na sua família era: “Fazer
mais coisas juntos. Todos estarem em casa mais vezes. Trabalharmos juntos como uma família.
Fazer coisas pelos outros e pela comunidade enquanto família. Ir comer fora mais vezes. Ir de
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férias juntos mais vezes.” (trad.). Este estudo verificou ainda que que quando as famílias destes
adolescentes investiam mais em rituais familiares (avaliados pelos pais ou principais cuidadores),
os adolescentes avaliavam a família de modo mais positivo, reportando maior coesão e menor
conflito familiares.
Por seu lado, os pais das famílias de adolescentes são, normalmente, ritualizadores
activos. Pode acontecer também que, em algum momento desta fase, sejam chamados a ter um
papel ainda importante devido ao envelhecimento da geração anterior: o papel de guardiães dos
rituais familiares (Leach & Braithwaite, 1996) verificaram que estas pessoas (na sua maioria
mulheres) se encontravam entre os 40 e os 59 anos de idade. Para algumas pessoas, a
passagem do testemunho pode acontecer já nesta fase, assumindo o papel de guardiães, mais
responsáveis por gerir os eventos e as relações familiares. Esta passagem pode ser vivenciada
como uma escolha, como uma obrigação ou como resultado da perda de um progenitor de um dos
cônjuges; as razões subjacentes a esta passagem e o modo como é experienciada indicarão se
será ou não uma fonte de stress individual e familiar. Centremo-nos de novo nas refeições
familiares, esses momentos que simbolizam afectos e dedicação entre os membros da família e
envolvem tradições que são passadas de geração em geração, de forma directa (mãe para filha)
ou cruzada (sogra para nora). As famílias de hoje em dia são compostas por pessoas cada vez
mais ocupadas e nem sempre há temnpo suficiente para preparar refeições. Num estudo de
Moisio (2004) o facto de não conseguirem preparar uma “refeição como deve ser” causava
frustração a um grupo de mães. Clair, Hocking, Bunrayong, Vittayakorn e Rattakorn (2005)
analisaram o papel das mães nas refeições de Natal na Nova Zelândia e verificaram como é que a
sua identidade se construía também em torno do seu papel na prpearação e organização destas
refeições especiais. Também neste estudo se verificou que estes eventos são, por vezes, vividos
sob o signo da ambivalência: enquanto algumas participantes temiam a chegada do Natal devido
às expectativas que todos tinham em relação à sua prestação e ao trabalho que iria envolver, a
maioria apreciava esse papel.
O facto de os guardiães dos rituais familiares serem, na sua maioria, guardiãs, remete-nos
para as questões de género. Será que os rituais são, afinal um conceito feminino? Num estudo
com casais portugueses, Crespo et al. (2008) verificaram que, para as mulheres, quanto maior a
sua percepção de investimento nos rituais, maior era a sua satisfação na relação de casal.
Curiosamente, quando os maridos reportavam maior investimento nos rituais, as mulheres
sentiam-se menos satisfeitas em termos relacionais. Entrevistas subsequentes clarificaram o que
parecia um resultado paradoxal: embora as mulheres apreciem ajuda nas tarefas domésticas (e
os casais mais novos reflictam isso no dia-a-dia praticando uma divisão mais equitativa das
tarefas domésticas), mulheres nos primeiros anos de casamento e mulheres com mais de 20 anos
de casamento foram unânimes em reconhecer que preferiam ter o papel principal no que toca aos
rituais familiares. Por um lado, a tradição que emana desses rituais assim o pedia e, por outro, o
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reconhecimento, a valorização e até o poder que esse papel trazia eram os motivos que as
mulheres participantes apresentavam para o querer manter.
Quanto aos adolescentes, estes começam a delinear que tipo de ritualizadores serão no
futuro. Friedman e Weissbrod (2004) apuraram que o modo como o adolescente observava os
rituais no pai (no caso dos rapazes) ou na mãe, no caso das raparigas predizia o seu desejo de
quererem eles próprios iniciarem (ou não) rituais no futuro.
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Nas palavras de Anita, 63 anos: “Quando fizemos 25 anos de casados fizemos uma festa muito
bonita, dando muito valor ao aspecto religioso e a nossa mensagem que distribuímos a todos foi
esta: temos tanta coisa que vale a pena eternizar.”
Em termos dos rituais familiares, os adultos desta fase são peças essenciais para a
transmissão de rituais ao longo das várias gerações familiares. É precisamente o que Erikson
(1977) denominou de generatividade em relação aos rituais, a passagem destes para os membros
mais novos da família que, assim, asseguram a continuidade temporal deste grupo. De acordo
com Fiese (2006a), o nascimento dos netos pode reactivar o papel dos elementos do casal
enquanto ritualizadores, introduzindo na família rituais que eles próprios criaram durante os anos
de crescimento dos filhos. À medida que se desenvolve o processo de envelhecimento, pode
haver um decréscimo da actividade em termos de ritual; embora continuando a ser membros de
referência na estrutura familiar, é frequente deixarem de ser líderes e passarem esta função, de
forma mais ou menos implícita, para os membros da geração seguinte. Como refere Fiese
(2006a), sabe-se ainda muito pouco sobre os significados e vivências dos rituais na geração mais
velha.
Conclusão
Chegados ao fim da expedição pelos rituais ao longo ciclo de vida da família, é, agora, o
momento de síntese e reflexão que nos transporte quer para o mundo real, quer para futuros
contextos de reflexão.
No geral, como parece fácil adivinhar, a investigação mostra que famílias que fazem
esforços por se reunir à hora de jantar, por passar férias em conjunto, por se reunirem em
ocasiões especiais, etc., são famílias coesas, que apoiam se valorizam enquanto grupo e a cada
um dos seus membros. Ou seja, os rituais familiares são sinónimo de bem-estar familiar, como se
fossem uma manifestação, na prática, de um pré-existente bom funcionamento da família. Porém,
a investigação sobre os rituais tem permitido ir mais longe e analisar como é que os rituais
fomentam a coesão, a força e o sentido de pertença das famílias. Assim, sabe-se, hoje, que a
rota de influências, coerente com a visão sistémica da família, é bidireccional: famílias que são
mais coesas e satisfeitas investem mais nos seus rituais familiares e famílias que promovem
rituais singificativos tornam-se também mais coesas e satisfeitas. Mas não só. Não só os rituais
apresentam um efeito positivo a nível da família enquanto um todo, como também o fazem a nível
individual . Os seus elementos da família, em diferentes idades e fases de desenvolvimento
também beneficiam desta dimensão da vida familiar, como é o caso das crianças e dos
adolescentes. À primeira vista, poderia parecer que, para as crianças, que ainda não “percebem”
ou têm um papel activo nos eventos familiares especiais, os rituais não seriam tão importantes ou
que teriam só impacto no que toca à coesão familiar. Mas, verifica-se que os benefícios dos rituais
para as crianças ultrapassam as fronteiras da família: crianças em famílias onde há maior
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investimento nos rituais obtêm melhores resultados escolares e adaptam-se melhor ao contexto
global da escola. Também à primeira vista se poderia pensar, fazaendo eco das ideias mais
comuns sobre a adolescência, que os adolescentes “fogem” do tempo em família, tentando
participar cada vez menos nos rituais familiares, quer os da família nuclear, quer os da família
alargada. Mas verifica-se que, de facto, também os adolescentes beneficiam do investimento da
família nestes eventos especiais. Os rituais familiares contribuem para a construção da sua
identidade, para a sua adaptação à escola, e para o seu bem-estar psicológico em geral.
Naturalmente os rituais têm de se adaptar ao crescimento da família e dos seus membros e
ganhar novos contornos de acordo com a fase desenvolvimental que todos atravessam a cada
passo. Mas esta adaptação é requerida principalmentente ao nível da forma e não do conteúdo. É
no conteúdo que reside o significado, o componente principal dos rituais familiares que todos,
inclusive o adolescente, desejam que permaneça no tempo. Assim, a adolescência não implica
exclusão ou extinção dos rituais; os próprios adolescentes e quando questionados, reivindicam a
estabilidade de smbolos e de significados no grupo familiar. Tal como famílias mais coesas e
felizes organizam rituais mais significativos, também indivíduos mais seguros em termos
relacionais, com experiências mais positivas nas suas famílias de origem são mais capazes de
gerir bem o papel de ritualizadores na sua própria família.
Em conclusão, há duas ideias chave que importa conjugar. A primeira é que os rituais são
relevantes para as famílias como um todo e para os seus elementos a nível individual. A segunda
é que os rituais são um conceito prático que “vive” no plano real das famílias. Nesta conjugação
reside o potencial de generatividade deste conceito. Os rituais familiares são relevantes para a
intervenção com famílias a vários níveis. Primeiro, embora as famílias adivinhem a sua
importância e persistam na elaboração dos seus rituais, é importante divulgar o que a investigação
apurou sobre a importância destes eventos. Os mass media podem ter uma função relevante
neste processo, que permitirá reforçar o que intuitivamente as famílias já sabem; se estes
momentos familiares forem cada vez mais valorizados, menos facilmente as famílias “sacrificarão”
horas de jantar, férias em conjunto, actividades de fim de semana especiais à generalizada falta
de tempo. Ao nível mais abrangente dos outros contextos de vida, também é importante que se
criem condições para que as famílias continuem a investir nos seus rituais, o que no mundo que
segue a ritmo “fast forward” pode ser um desafio. Por exemplo, é necessário que os adolescentes
tenham tempo para jantar, para reunir com a família em eventos especiais e que as tarefas
escolares e extra-curriculares permitam essa disponibilidade. Em termos laborais, é importante
que exista flexibilidade para que os indivíudos e, especialmente, os pais possam conjugar as suas
actividades com tempos familiares. Ao nível social mais abrangente, é necessário continuar a
investir em legislação que apoie as famílias, quer em termos gerais, quer em aspectos mais
específicos como é o caso da cultura de origem. Numa sociedade cada vez mais coloridad em
termos culturais, deve haver espaço para que as famílias possam continuar as tradições que
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fazem parte da sua história e que querem preservar no tempo. Por último, a referência à
intervenção convida a uma nota de reflexão. Há tantas configurações de rituais familiares como há
famílias: tentar interferir e/ou normalizar o que as famílias decidem fazer nestes eventos (assim
como quando e com que frequência) seria tão ingénuo e prejudicial como ignorar a sua
importância. Fomentar, promover e criar condições são as palavras essenciais: as famílias, à sua
maneira, farão o resto.
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