Iniciação À Vida Cristã em Aparecida

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DOCUMENTO DE APARECIDA
29-Jun-2007

SEGUNDA PARTE
A VIDA DE JESUS CRISTO NOS DISCÍPULOS MISSIONÁRIOS

VI. O caminho de formação dos discípulos missionários


6.3 Iniciação à vida cristã e catequese permanente

6.3.1 Iniciação à vida cristã

286. São muitos os cristãos que não participam na Eucaristia dominical nem
recebem com regularidade os sacramentos, nem se inserem ativamente na
comunidade eclesial. Sem esquecer a importância da família na iniciação cristã,
esse fenômeno nos desafia profundamente a imaginar e organizar novas formas de
nos aproximar deles para ajudá-los a valorizar o sentido da vida sacramental, da
participação comunitária e do compromisso cidadão. Temos alta porcentagem de
católicos sem a consciência de sua missão de ser sal e fermento no mundo, com
identidade cristã fraca e vulnerável.

287. Isso constitui grande desafio que questiona a fundo a maneira como
estamos educando na fé e como estamos alimentando a experiência cristã; desafio
que devemos encarar com decisão, coragem e criatividade, visto que em muitas
partes a iniciação cristã tem sido pobre ou fragmentada. Ou educamos na fé,
colocando as pessoas realmente em contato com Jesus Cristo e convidando-as
para seguí-lo, ou não cumpriremos nossa missão evangelizadora. Impõe-se a
tarefa irrenunciável de oferecer modalidade de iniciação cristã, que além de
marcar o quê, também dê elementos para o quem, o como e o onde se realiza.
Dessa forma, assumiremos o desafio de uma nova evangelização, à qual temos
sido reiteradamente convocados.

288. A iniciação cristã, que inclui o querigma, é a maneira prática de colocar


alguém em contato com Jesus Cristo e iniciá-lo no discipulado. Dá-nos, também,
a oportunidade de fortalecer a unidade dos três sacramentos da iniciação, e
aprofundar o rico sentido deles. A iniciação cristã, propriamente falando, refere-se
à primeira iniciação nos mistérios da fé, seja na forma do catecumenato batismal
para os não batizados, seja na forma do catecumenato pós-batismal para os
batizados não suficientemente catequisados. Esse catecumenato está intimamente
unido aos sacramentos da iniciação: batismo, confirmação e eucaristia, celebrados
2

solenemente na Vigília Pascal. Teríamos que distingui-la, portanto, de outros


processos catequéticos e formativos que podem ter a iniciação cristã como base.

6.3.2 Propostas para a iniciação cristã

289. Sentimos a urgência de desenvolver em nossas comunidades um processo


de iniciação na vida cristã que comece pelo querigma e que, guiado pela Palavra
de Deus, conduza a um encontro pessoal, cada vez maior, com Jesus Cristo,
perfeito Deus e perfeito homem,1 experimentado como plenitude da humanidade e
que leve à conversão, ao seguimento em uma comunidade eclesial e a um
amadurecimento de fé na prática dos sacramentos, do serviço e da missão.

290. Recordamos que o caminho de formação do cristão, na tradição mais antiga


da Igreja, “teve sempre caráter de experiência, na qual era determinante o
encontro vivo e persuasivo com Cristo, anunciado por autênticas testemunhas”. 2
Trata-se de uma experiência que introduz o cristão numa profunda e feliz
celebração dos sacramentos, com toda a riqueza de seus sinais. Desse modo, a
vida vem se transformando progressivamente pelos santos mistérios que se
celebram, capacitando o cristão a transformar o mundo. Isso é o que se chama
“catequese mistagógica”.

291. Ser discípulo é dom destinado a crescer. A iniciação cristã dá a


possibilidade de uma aprendizagem gradual no conhecimento, no amor e no
seguimento de Cristo. Dessa forma, ela forja a identidade cristã com as
convicções fundamentais e acompanha a busca do sentido da vida. É necessário
assumir a dinâmica catequética da iniciação cristã. Uma comunidade que assume
a iniciação cristã renova sua vida comunitária e desperta seu caráter missionário.
Isso requer novas atitudes pastorais por parte dos bispos, presbíteros, diáconos,
pessoas consagradas e agentes de pastoral.

292. Como características do discípulo, indicadas pela iniciação cristã,


destacamos: que ele tenha como centro a pessoa de Jesus Cristo, nosso Salvador e
plenitude de nossa humanidade, fonte de toda maturidade humana e cristã; que
tenha espírito de oração, seja amante da Palavra, pratique a confissão frequente e
participe da Eucaristia; que se insira cordialmente na comunidade eclesial e
social, seja solidário no amor e fervoroso missionário.

1 Cf. Símbolo Quicumque: DS 76.


2 SC 64.
3

293. A paróquia precisa ser o lugar onde se assegure a iniciação cristã e terá
como tarefas irrenunciáveis: iniciar na vida cristã os adultos batizados e não
suficientemente evangelizados; educar na fé as crianças batizadas em um
processo que as leve a completar sua iniciação cristã; iniciar os não batizados que,
havendo escutado o querigma, querem abraçar a fé. Nessa tarefa, o estudo e a
assimilação do Ritual de Iniciação Cristã de Adultos é referência necessária e
apoio seguro.

294. Assumir essa iniciação cristã exige não só uma renovação de modalidade
catequética da paróquia. Propomos que o processo catequético de formação
adotado pela Igreja para a iniciação cristã seja assumido em todo o Continente
como a maneira ordinária e indispensável de introdução na vida cristã e como a
catequese básica e fundamental. Depois, virá a catequese permanente que
continua o processo de amadurecimento da fé; nela se deve incorporar o
discernimento vocacional e a iluminação para projetos pessoais de vida.

6.3.3 Catequese permanente

295. Quanto à situação atual da catequese, é evidente que tem havido grande
progresso. Tem crescido o tempo que se dedica à preparação para os sacramentos.
Tem-se tomado maior consciência de sua necessidade, tanto nas famílias como
entre os pastores. Compreende-se que ela é imprescindível em toda formação
cristã. Têm-se constituído ordinariamente comissões diocesanas e paroquiais de
catequese. É admirável o grande número de pessoas que se sentem chamadas a se
fazer catequistas, com grande entrega. A elas, esta Assembleia manifesta sincero
reconhecimento.

296. No entanto, apesar da boa vontade, a formação teológica e pedagógica dos


catequistas não costuma ser a desejável. Os materiais e subsídios são com
frequência muito variados e não se integram em uma pastoral de conjunto; e nem
sempre são portadores de métodos pedagógicos atualizados. Os serviços
catequéticos das paróquias frequentemente carecem de colaboração próxima das
famílias. Os párocos e demais responsáveis não assumem com maior empenho a
função que lhes corresponde como primeiros catequistas.

297. Os desafios que apresenta a situação da sociedade na América latina e no


Caribe requerem identidade católica mais pessoal e fundamentada. O
fortalecimento dessa identidade passa por uma catequese adequada que promova
adesão pessoal e comunitária a Cristo, sobretudo nos mais fracos na fé. 3 É tarefa
3 Cf. Bento XVI, Discurso no Encontro com os Bispos do Brasil, 11 de maio de 2007.
4

que cabe a toda a comunidade de discípulos, mas de maneira especial a nós que,
como bispos, fomos chamados a servir à Igreja, pastoreando-a, conduzindo-a ao
encontro com Jesus e ensinando-lhe a viver tudo o que Ele nos tem mandado (cf.
Mt 28,19-20).

298. A catequese não deve ser só ocasional, reduzida a momentos prévios aos
sacramentos ou à iniciação cristã, mas sim “itinerário catequético permanente”. 4
Por isso, compete a cada Igreja particular, com a ajuda das Conferências
Episcopais, estabelecer um processo catequético orgânico e progressivo que se
estenda por toda a vida, desde a infância até à terceira idade, levando em
consideração que o Diretório Geral de Catequese considera a catequese com
adultos como a forma fundamental da educação na fé. Para que em verdade o
povo conheça Cristo a fundo e o siga fielmente, deve ser conduzido especialmente
na leitura e meditação da Palavra de Deus, que é o primeiro fundamento de uma
catequese permanente.5

299. A catequese não pode se limitar a uma formação meramente doutrinal, mas
precisa ser uma verdadeira escola de formação integral. Portanto, é necessário
cultivar a amizade com Cristo na oração, o apreço pela celebração litúrgica, a
experiência comunitária, o compromisso apostólico mediante um permanente
serviço aos demais. Para isso, seriam úteis alguns subsídios catequéticos
elaborados a partir do Catecismo da Igreja Católica e do Compêndio da Doutrina
Social da Igreja, estabelecendo cursos e escolas de formação permanente aos
catequistas.

300. Deve-se dar catequese apropriada que acompanhe a fé já presente na


religiosidade popular. Maneira concreta pode ser a oferta de um processo de
iniciação cristã com visitas às famílias, onde não só se comuniquem a elas os
conteúdos da fé, mas que também as conduza à prática da oração familiar, à
leitura orante da Palavra de Deus e ao desenvolvimento das virtudes evangélicas,
que as consolidem cada vez mais como Igrejas domésticas. Para esse crescimento
na fé, também é conveniente aproveitar pedagogicamente o potencial educativo
presente na piedade popular mariana. Trata-se de um caminho educativo que,
cultivando o amor pessoal à Virgem, verdadeira “educadora na fé” 6 que nos leva a
nos assemelhar cada vez mais a Jesus Cristo, provoque a apropriação progressiva
de suas atitudes.

4 DI 3.
5 Ibid.
6 DP 290.

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