Caderno Formacao Pedagogia 22
Caderno Formacao Pedagogia 22
Caderno Formacao Pedagogia 22
formação
Formação de Professores
Bloco 03 - Gestão Escolar
volume 01
São Paulo
2013
© 2012, by Unesp - Universidade estadual Paulista
Pró-Reitoria de Graduação
Rua Quirino de Andrade, 215 - CEP 01049-010 - São Paulo - SP
Tel.(11) 5627-0245
www.unesp.br
Caderno
de
formação
:
formação
de
professores
:
Bloco
03
:
Gestão
Escolar
/
C122
[Sheila
Zambello
de
Pinho
(Coord.)].
–
São
Paulo
:
Cultura
Acadêmica
:
Universidade
Estadual
Paulista,
Pró-‐Reitoria
de
Graduação
:
Univesp,
2012
1256 90
p.
Na
capa:
v.
1.
Bloco
03
D25
–
Legislação
Escolar
–
v.
1.
Bloco
03
–
Prin-‐
cipios
Gerais
da
Administração
Escolar
Disponível
também
online
em:
www.acervodigital.unesp.br
ISBN
ISBN 978-85-7983-338-0
9 788579 833380
1. Administração
Escolar.
2.
Legislação
Educacional.
I.
Pinho,
Sheila
Zambello
de.
II.
Universidade
Estadual
Paulista.
Pró-‐Reitoria
de
Graduação.
CDD
371.2
Ficha
catalográfica
elaborada
pela
Coordenadoria
Geral
de
Bibliotecas
da
Unesp
2
Governo do Estado de São Paulo
Governador
Geraldo Alckmin
3
Pedagogia Unesp/Univesp
Sheila Zambello de Pinho
Coordenadora Geral e Pró-Reitora de Graduação
Edson do Carmo Inforsato
Coordenador Pedagógico
Klaus Schlünzen Junior
Coordenador de Mídias
Lourdes Marcelino Machado
Coordenadora de Capacitação
Conselho do curso de pedagogia
Edson do Carmo Inforsato
Presidente
Celestino Alves da Silva Junior
Lourdes Marcelino Machado
Gilberto Luiz de Azevedo Borges
Alonso Bezerra de Carvalho
Sonia Maria Coelho
Gustavo Isaac Killner
Rosângela de Fátima Corrêa Fileni
Ilíada Pires da Silva
Secretaria
Roseli Aparecida da Silva Bortoloto
Aline Gama Gomes
Rebeca Naves Reis
Tecnologia e Infraestrutura
Pierre Archag Iskenderian
Coordenador de Grupo
André Luís Rodrigues Ferreira
Guilherme de Andrade Lemeszenski
Marcos Roberto Greiner
Pedro Cássio Bissetti
Renê Gomes Beato
Administração
Sueli Maiellaro Fernandes
Jessica Papp
4 João Menezes Mussolini
Prezados Alunos
Entramos no terceiro ano do primeiro Curso de Pedagogia na modalidade semi presencial
oferecido pela Unesp em parceria com a Univesp. Em mais de meio caminho percorrido, podemos nutrir
esperanças de completá-lo com êxito. Os dados de que dispomos sobre suas realizações são animadores:
as atividades, tanto as presenciais quanto as virtuais, estão sendo cumpridas com rigor e com qualidade.
Nossos materiais didáticos mantêm-se em um nível de excelência correspondente ao prestigio da
Unesp e tem sido avaliados como ótimos guias para as atividades que, sem dúvida, são enriquecidas e
complementadas com a experiência e a competência dos nossos formadores.
A Pro-Reitoria de Graduação tem desenvolvido sua atuação sempre no sentido de garantir a boa
formação aos nossos alunos, compromissada com um processo de ensino-aprendizagem que torne os
profissionais competentes no conhecimento e profundamente éticos nas suas realizações. Isto se aplica
tanto aos cursos presenciais quanto aos cursos cujas partes são feitos a distância, todos são da Unesp e
é com o seu selo de qualidade que temos compromisso.
Portanto desejamos a todos que aproveitem esse material para que ele contribua como mais uma
etapa importante da sua formação.
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Carta ao Aluno
Na sociedade complexa em que vivemos, a formação profissional não se acomoda em fatias
fixas do tempo, ela é permanente e extensiva ao longo da vida. A educação formal tenta, na melhor
das intenções e possibilidades, dar referências aos aprendizes para que eles assimilem um acervo
de conhecimentos e de atitudes tendo em vista fazê –los competentes e compromissados durante
a sua vida profissional. Ela intenta torná –los resolutos, atuantes socialmente e motivados a se
preocuparem com a gestão de suas próprias trajetórias profissionais. Essas intenções projetadas
raramente se concretizam na plenitude, entre outras coisas pela nossa própria incompletude como
seres em permanentes buscas e de inquietações incontornáveis em programas formativos. Além
disso, a rigidez das concepções educativas, imperantes nas instituições. e dos respectivos sistemas
de formação dificultam a consecução desses propósitos. Ou seja, por um lado, há o ímpeto humano
razoavelmente resistente à formação e, por outro, uma arquitetura formativa estanque, separadora
de conteúdos e difusora de uma mentalidade de que primeiro se absorve conhecimentos para depois
colocá – los em prática. No que se refere ao aprendizado da gestão, seja em que domínio for, esse
mesmo sistema a projeta como algo também separado do objeto a ser gerido.
Esperamos que todos os cadernos do bloco III, sobre a Gestão Escolar, possam cumprir os
propósitos firmados por nossa equipe e, assim, concluir esta etapa formativa de vocês com a mesma
qualidade verificada no desenvolvimento dos outros dois blocos anteriores.
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Sumário
Bloco 03 - Gestão Escolar - Vol. 01
Legislação Educacional
Visão Geral da Disciplina.................................................................................................09
Agendas e Atividades.......................................................................................................65
Participação e escola.........................................................................................................158
Gustavo Luis Gutierrez
Agendas e Atividades.......................................................................................................213
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LEGISLAÇÃO
EDUCACIONAL
Professor autor:
Bloco 3 Disciplina 25
LEGISLAÇÃO
EDUCACIONAL
Ao organizarmos o texto que você tem em mãos, procuramos fazê-lo de modo a tornar
o estudo da legislação educacional vigente no Brasil menos enfadonho.
Para facilitar a compreensão de conteúdo árduo, optamos por dividir o texto em peque-
nas unidades, ao todo vinte e uma, e em sete atividades.
A prática de muitos anos ministrando tal conteúdo nos cursos de graduação na mo-
dalidade licenciatura nos convenceu da dificuldade que normalmente o estudante encontra
diante do emaranhado de Emendas Constitucionais, Leis, Decretos, Portarias, Resoluções,
Deliberações, Pareceres, entre outros textos de natureza legal.
Pelo menos, nos esforçamos no exíguo espaço de texto que nos foi dedicado. Exíguo
diante da quantidade da documentação legislativa.
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Educação e dos Conselhos Estaduais e Municipais de Educação. Importante frisar que são
instâncias normativas, deliberativas, mas não legislativas: a aprovação de leis cabe ao poder
legislativo.
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Visão G
Optamos por apresentar ao final de cada tema atividades na forma de perguntas.
Você receberá um caderno com toda a legislação, com a LDB atualizada até o ano de
2012. Ao todo foram vinte e seis alterações, iniciadas no ano de 1997, com a nova redação
que recebeu o artigo 33 que trata do ensino religioso.
Segue-se a relação das leis que alteraram a LDB, bem como as Emendas Constitucio-
nais, com impacto na educação, já mencionadas.1
Emenda Constitucional nº 53
Dá nova redação aos arts. 7º, 23, 30, 206, 208, 211 e 212 da Constituição Federal ao art.
60 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Emenda Constitucional nº 59
Acrescenta § 3º ao art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, para re-
duzir anualmente a partir do exercício de 2009, o percentual da Desvinculação das Receitas
da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e desenvolvimento do ensino
de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do art.
208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a
abrangência de programas suplementares para todas as etapas da educação básica e dá nova
redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º do art. 212 e ao caput do art. 214, com inserção neste
dispositivo de inciso VI.
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Leis
• Lei 9.475, de 22 de julho de 1997 – Dá nova redação ao art. 33 da LDB.
• Lei 10.287, de 20.09.2001 – Inclui no artigo 12 da LDB, o inciso VIII (notificação ao
Conselho Tutelar).
• Lei 10.639, de 9.01.2003 – Acrescenta o art. 26-A – torna obrigatório o ensino sobre His-
tória e Cultura Afro-Brasileira. Inclui o art. 79-B – inclui no calendário escolar o dia
20 de novembro como o Dia Nacional da Consciência Negra. Vetou o § 3º do art. 26-A
(obrigatoriedade de pelo menos 10% de temática com conteúdo sobre História e Cultura
Afro-Brasileira).
• Lei 10.709, de 31.07.2003 – Acrescenta incisos aos arts. 10 e 11 da LDB - Estabelece a
obrigatoriedade de Estados e Municípios transportarem os estudantes. O art. 4º foi vetado.
• Lei 10.793, de 1º.12.2003 – Altera a redação do art. 26, § 3º e do art. 92 da LDB.- vetado
o inciso V. (trata do ensino escolar de educação física).
• Lei 11.114, de 16.05.2005 – Altera os arts. 6º, 30, 32 e 87 da LDB – vetado o inciso II do
art. 30 (torna obrigatório o ensino fundamental aos seis anos de idade.)
• Lei 11.274, de 06.02.2006 – Altera a redação dos arts. 29. 30, 32 e 87 da LDB – dispõe
sobre a duração de 9 (nove) anos para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a
partir dos 6 (seis) anos de idade.
• Lei 11.301, de 10.05.2006 – altera o art. 67 da LDB – Trata da definição das funções de
magistério.
• Lei 11.331, de 25.07.2006 – Acrescenta parágrafo ao art. 44 da LDB – processo seletivo
aos cursos superiores.
• Lei 11.525, de 25.09.2007 – Acrescenta § 5º ao art. 32 da LDB – trata do direito das crian-
ças e adolescentes no currículo do ensino fundamental.
• Lei 11.632, de 27.12.2007 – Altera o inciso I do caput do art. 44 da LDB –trata dos cursos
sequenciais.
• Lei 11.645, de 10.03.2008 – Inclui no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade
da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e indígena.”
• Lei 11.684, de 02.06.2008 – Altera o art. 36 da LDB – Inclui Filosofia e Sociologia com
disciplinas obrigatórias em todas as séries do Ensino Médio.
• Lei 11.700, de 13.06.2008 – Acrescenta o inciso X ao caput do art. 4º da LDB – assegura
vaga na educação infantil ou no ensino fundamental a partir dos 4(quatro) anos de idade
próxima de sua residência.
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• Lei 11.741, de 16.07.2008 – Altera a redação dos arts. 37, 39, 41 e 42 da LDB – Redimen-
siona, institucionaliza e integra as ações de educação profissional técnica de nível médio,
da educação de jovens e adultos e da educação profissional tecnológica.
• Lei 11.769, de 18.08.2008 – Dispõe sobre a obrigatoriedade do ensino de Música na edu-
cação básica.
• Lei 11.788, de 25.09.2008 – trata do estágio de estudantes.
• Lei 12.013, de 06.08.2009 – Altera o artigo 12 da LDB – Obriga o envio de informações
escolares aos pais, conviventes ou não com seus filhos.
• Lei 12.014, de 6.08.2009 – Altera o artigo 61 da LDB – Discrimina as categorias de traba-
lhadores que devem ser considerados profissionais da educação.
• Lei 12.020, de 27.08.2009 – Dá nova redação ao inciso II do caput do art. 20 da LDB –
Altera o rol de instituições comunitárias.
• Lei 12.056, de 13.10.2009 – Acrescenta parágrafos ao art. 62 da LDB – Trata da formação
inicial e continuada como oferta obrigatória pelas diferentes entes federativos (União,
Estados, Distrito Federal e Municípios).
• Lei 12.061, de 27.10.2009 – Altera o inciso II do art. 4º e o inciso VI do art. 10 da LDB –
Assegura o acesso a todos os interessados no ensino médio.
• Lei 12.287, de 13.07.2010 – Dá nova redação ao § 2º do art. 26 da LDB (ensino de Arte).
• Lei 12.416, de 09.06.2011 – Dispõe sobre a oferta de ensino superior aos povos indígenas,
para isso acrescenta ao art. 79, o § 3º.
• Lei 12.472, de 1º.09.2011 – Acrescenta o § 6º ao art. 32 da LDB. Inclui os símbolos nacio-
nais como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
• Lei 12.603, de 03.04.2012 – Altera o inciso I do § 4º do artigo 80 da LDB para beneficiar
a Educação a Distância (EAD), com a redução de custos em meios de comunicação, que
sejam explorados mediante concessão ou permissão do Poder Público.
• Lei 12.610, de 10.04.2012 – Institui a Política Nacional de Proteção e Defesa Civil e altera
o artigo 26 da LDB, com a inclusão de um 7º parágrafo, com a seguinte redação: “Os cur-
rículos do Ensino Fundamental e Médio devem incluir os princípios de proteção e defesa
civil e educação ambiental, de forma integrada aos conteúdos obrigatórios.”
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II – Emendas Constitucionais afetas ao campo da educação.
III – O texto atualizado e na íntegra da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
– Lei Federal nº 9.394, de 20.12.1996.
IV Todas as leis na íntegra até o ano de 2011 que alteraram a LDB.
• BALL, S. J.; MAINARDES, J. (Orgs.) Políticas educacionais – questões e dilemas. São Paulo: Cortez,
2011.
• BARBOSA, Andreza. Os salários dos professores brasileiros: implicações para o trabalho docente. Bra-
sília: Liber Livro, 2011.
• BRANDÃO, C. da F. LDB passo a passo. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96.
São Paulo: AVERCAMP, 2003. (Comentada e interpretada artigo por artigo.).
• BRANDÃO, C. da F. PNE passo a passo – Lei 10.172/2001. Discussão dos objetivos e metas do Plano
Nacional de Educação. São Paulo: AVERCAMP, 2006.
• BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da Educação Nacional.
Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 dez. 1996.
• BRASIL. Plano Nacional de Educação em Direitos humanos. Brasília: Secretaria Especial dos Direitos
Humanos/MEC, 2003.
• BRASIL. Melhores práticas em escolas de ensino médio no Brasil. Brasília: INEP, 2010.
• BRZEZINSKI, Iria (Org.). LDB dez anos depois - reinterpretação sob diversos olhares. São Paulo: Cor-
tez, 2008.
• CARNEIRO, Moacir Alves. LDB fácil – leitura crítico-compreensiva artigo a artigo. 17. ed. Atualizada e
ampliada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2010.
• CASTRO, J. M.; REGATTIERI, Marilza. (Orgs.). Ensino médio e educação profissional – desafios da
integração. Brasília, DF: UNESCO, 2009.
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• CURY, C. R. J. LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/96. 10. ed. Rio de Janeiro:
DP&A, 2006.
• CURY, C. R. J. O ensino médio no Brasil. Cadernos de Pesquisa, São Paulo, v.38, n.134, maio/agosto 2008.
• DAVIES, Nicholas. Legislação educacional federal básica. São Paulo: Cortez, 2004.
• DUTRA, C. E. G. Guia de referência da LDB/96 – com atualizações. São Paulo: AVERCAMP, 2003.
• OLIVEIRA, Romualdo Portela de; SANTANA, Wagner (Orgs.). Educação e federalismo no Brasil:
combater as desigualdades, garantir a diversidade. Brasília, DF: Unesco, 2010.
• PALMA FILHO, J. C. Educação nos textos legais. São Paulo: Páginas e Letras/UNESP – Cadernos de
Formação – Projeto Institucional “Pedagogia Cidadã”, 2005.
• PALMA FILHO, J. C. Educação Pública: tendências e desafios. São Paulo: CERED, 1990.
• PALMA FILHO, J. C. Política educacional brasileira: educação brasileira numa década de incerteza
(1990-2000): avanços e retrocessos. São Paulo: Cte Editora, 2005.
• PARO, V. H. Implicações do Caráter Político da Educação para a Administração da Escola Pública. In:
SILVA, Maria Vieira; CORBALÁN, M. A. (Orgs.). Dimensões Políticas da educação contemporânea.
Campinas, SP: Alínea, 2009.
• RAMALHO, Betânia Leite; NÚÑEZ, Isauro Belgtrán. Aprendendo com o ENEM – Reflexões para
melhor se pensar o ensino e a aprendizagem das ciências naturais e da matemática. Brasília: Liber Livro,
2011.
• RESCIA, A, P. O. et al. (Orgs.). Dez anos de LDB. Contribuições para a discussão das políticas públicas
em educação no Brasil. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, 2006.
• SANTOS, Pablo Silva Machado Bispo dos. Guia prático da política educacional no Brasil: ações,
planos, programas e impactos. São Paulo: CENGAGE Learning, 2012.
16
• SAVIANI, D. A nova lei da educação – LDB – trajetórias, limites e perspectivas. 12. ed. Campinas, SP:
Autores Associados, 2011.
• SAVIANI, D. Da nova LDB ao Novo Plano Nacional de Educação: Por uma outra política educacional.
4. ed. Revista. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
• SAVIANI. D. A nova lei da educação. LDB – trajetória – limites e perspectivas. Campinas, SP: Autores
Associados, 1997.
• SILVA, C. S. B. da; MACHADO, L. M. (Orgs.) Nova LDB – trajetória para a cidadania? São Paulo: Arte
& Ciência, 1998.
• SILVA, Maria Vieira; MARQUES, Mara Rúbia Alves. (Orgs.). LDB: balanços e perspectivas para a edu-
cação brasileira. Campinas, SP: Alínea, 2008.
• VITAR, A. et al (Orgs.). Gestão de inovações no ensino médio. Argentina, Brasil, Espanha. Brasília,
DF: Liber Livro, 2006.
REVISTAS ESPECIALIZADAS
• Educação & Sociedade – Revista de Ciências da Educação. Organizada e editada pelo CEDES (Centro
de Estudos Educação e Sociedade).
BOM ESTUDO!
17
18
LEGISLAÇÃO
EDUCACIONAL
A ORGANIZAÇÃO LEGAL DA
Legislação Educacional
EDUCAÇÃO BÁSICA
Parte I
INTRODUÇÃO
Muitas vezes, o estudante se pergunta: qual a razão do estudo da legislação educacio-
nal? Ou ainda, que relação existe entre a política educacional, o projeto político pedagógico
da escola e a legislação educacional?
De modo geral, a legislação decorre da política educacional, por sua vez, o projeto
político pedagógico, que nada mais é do que o planejamento da ação educacional no âmbito
da escola, relaciona-se com a legislação e a política educacional.
Como assinala Vieira e Albuquerque (2002, p. 27): “[...] a legislação, todavia, não é tudo.
Como já disse, há muito tempo, o mestre Anísio Teixeira: há no Brasil uma tendência a se atri-
buir um valor mágico-simbólico à legislação.” Como assinala também Gomes (1998, p. 11): ”[...]
as leis constituem fonte de esperança, mas não operam milagres [...] haveria uma espécie de
acatamento automático, sem maiores cuidados de implantação, acompanhamento e avaliação.”
19
Genericamente, pode-se afirmar que a legislação refere-se ao conjunto de leis que se
destina a regular matéria geral ou específica. Assim é que temos: legislação esportiva, legis-
lação penal, legislação social e, também, legislação educacional.
20
Ao repartir as competências no sistema federativo, o legislador constituinte levou em
consideração o interesse de cada ente federativo.
Legislação Educacional
exclusiva, que não se confunde com a competência privativa, uma vez que esta pode ser
delegada e aquela outra não. Um exemplo de competência privativa da União pode ser visto
no artigo 22, XXIV da Constituição Federal (CF) (Legislar sobre Diretrizes e Bases da Edu-
cação Nacional).
A Constituição Federal é a principal fonte de onde emanam normas gerais para a estru-
turação do sistema educacional, compreendido em seus três níveis: União, Estados e Municí-
pios. Para tanto, há no texto constitucional um capítulo especial (art. 205 a 214), inserido no
Título VIII (Da Ordem Social). Há, ainda, matéria educacional esparsa em outros dispositi-
vos constitucionais, como é o caso, por exemplo, do art. 6º (Direitos Sociais) e o que dispõe
o art. 22, XXIV (Competência privativa da União sobre Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDBEN, BRASIL, 2012a).
21
Cabe ao Conselho Nacional de Educação, entre outras atribuições, interpretar o que
dispõe, em 92 artigos, a LDBEN. Os atos normativos do CNE são produzidos na forma de
Resoluções e Pareceres que, necessariamente, devem ser apreciados pelo Ministro da Edu-
cação, quando serão homologados ou não. Trata-se de um órgão colegiado, integrado por
24 Conselheiros distribuídos em duas Câmaras: a) Câmara de Ensino Superior (CES) e b)
Câmara de Educação Básica (CEB). O titular da Secretaria de Ensino Superior do MEC e
o titular da Secretaria de Educação Básica, também do MEC, são membros natos, ou seja,
obrigatoriamente ocupam duas vagas, entre as 24 existentes. Determinadas matérias termi-
nam nas Câmaras, outras são submetidas ao Conselho Pleno (CP), integrado pela totalidade
dos conselheiros.
No caso do Conselho Estadual do Estado de São Paulo, os atos normativos são deli-
berações, pareceres e indicações, e nem todos necessitam de homologação do Secretário da
Educação. Cabe, ainda, a esse conselho, entre outras atribuições, aprovar convênios propos-
tos pela Secretaria da Educação, bem como, apreciar a aplicação dos recursos decorrentes do
Salário Educação. Também, no caso do CEE/SP, são vinte e quatro conselheiros distribuídos
em duas Câmaras: 1) Educação Básica e 2) Ensino Superior. O conselho conta, ainda, com
Comissões Permanentes, como é o caso da Comissão sobre Legislação e Normas (CLN) e da
Comissão de Planejamento (CP). Comissões especiais, também, podem ser criadas a critério
do Conselho Pleno.
O mandato de cada conselheiro é de três anos, não havendo restrições quanto ao nú-
mero de reconduções. Os membros são nomeados pelo Governador do Estado. Pode haver
indicações por parte de entidades da sociedade civil que, entretanto, poderão ou não ser
levadas em consideração pelo chefe do poder executivo. A lei que rege o funcionamento do
Conselho Estadual de Educação de São Paulo é a de nº 10.403, de 06 de julho de 1971, alte-
rada em 1999, pela lei nº 10.238/99.
Como se vê, trata-se de legislação antiga, na sua maior parte, superada pela Constitui-
ção Federal (05.10.1988) e também pela própria LDBEN.
22
do legislativo. Como já decorreram mais de quarenta anos desde a criação do conselho esta-
dual, muitas das atribuições desse conselho já não estão sendo mais observadas.
Por fim, cabe assinalar que o Estatuto da Criança e do 1. Claro que, em razão do espaço desti-
Adolescente1, também, contém matéria de interesse educacio- nado a este caderno, não será possível
nal e, por isso, precisa ser conhecido pelos profissionais que abordá-los em profundidade.
Legislação Educacional
atuam no campo educacional.
Art. 208
A redação anterior era bem mais restritiva e não mencionava a garantia de equalização
de oportunidades educacionais e nem se preocupava com o estabelecimento de padrão mí-
nimo de qualidade do ensino e, ainda, restringia a ação supletiva da União apenas ao ensino
obrigatório, ou seja, ao ensino fundamental.
Entretanto, cabe assinalar que, ainda, não foi regulamentado o que venha a ser padrão
mínimo de qualidade, nos termos do que dispõe o inciso VII da Constituição Federal “§
2º Os Municípios atuarão prioritariamente no ensino fundamental e na educação infantil”
(BRASIL, 2012a, grifo nosso).
Observe-se que o ensino fundamental deve ser compartilhado tanto pelos Estados,
Distrito Federal e Municípios. De acordo com o que dispõe a Constituição Federal no art.
211 (§1º e § 2º), Art. 76 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a EC nº 14 deu
nova redação ao caput e introduziu sete novos parágrafos. Em linhas gerais, a nova redação
possibilitou a criação do Fundo Nacional para o Desenvolvimento do Ensino Fundamental
e Valorização do Magistério, conhecido pela sigla FUNDEF, mais tarde, substituído pelo
FUNDEB. Entretanto, as alterações perderam validade por ocasião da edição da EC nº 53,
analisada a seguir.
24
A mesa deu nova redação aos artigos 208, 211, 212, 214 e artigo 76 das Disposições
Constitucionais Transitórias.
Em relação ao artigo 208 (BRASIL, 2012d), foram dadas novas redações aos Incisos
I e VII:
I – educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete)
Legislação Educacional
anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a
ela não tiveram acesso na idade própria;
VII – atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica,
por meio de programas suplementares de material didático escolar, trans-
porte, alimentação e assistência à saúde.
O contido no Inciso I será de implantação progressiva até o ano 2. Cf. artigo 6º da EC nº 59.
2
de 2016, e contará com apoio técnico e financeiro da União .
Outra alteração foi a do § 4º do artigo 211 da CF (BRASIL, 2012d) que ficou com a
seguinte redação:
Art. 211.
§ 4º Na organização de seus sistemas de ensino, a União, os Estados, o
Distrito Federal e os Municípios definirão formas de colaboração, de modo
a assegurar a universalização do ensino obrigatório.
25
Também o artigo 214 foi objeto de nova redação dada pela EC nº 59 (BRASIL, 2012e):
Art. 214. A lei estabelecerá o plano nacional de educação, de duração de-
cenal, com o objetivo de articular o sistema nacional de educação em re-
gime de colaboração e definir diretrizes, objetivos, metas e estratégias de
implementação para assegurar a manutenção e desenvolvimento do ensino
em seus diversos níveis, etapas e modalidades por meio de ações integra-
das dos poderes públicos das diferentes esferas federativas que conduzam
a: [...]
VI – estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em educa-
ção como proporção do produto interno bruto.
Há vários aspectos a serem considerados como inovadores nessa nova redação dada ao
artigo em apreço, o qual:
26
Assim, a partir de 2011, o Ministério da Educação passou a contar com mais recursos
para investir na educação. Todavia, é importante considerar que, a partir de 2016, passa a ser
plenamente obrigatória a educação de crianças de 4 a 5 anos na pré-escola, todas as crianças
e pré-adolescentes no ensino fundamental e todos os jovens de 15 a 17 anos no ensino médio.
Legislação Educacional
ACORDO COM A LEGISLAÇÃO
3. Claro que, em razão do es-
Nesse sentido, serão abordados os seguintes assuntos3: paço destinado a este cader-
no, não será possível abordá
I – Os sistemas de ensino e seu financiamento -los em profundidade.
27
preveja ações conjuntas dos diferentes entes federativos (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios), com a finalidade de criar um Sistema Nacional de Educação articulado, tema
amplamente debatido por ocasião da Conferência Nacional de Educação (CONAE) realizada
no ano de 2010.
O sistema federal de ensino tem suas atribuições estabelecidas pelo artigo 9º da LDB
(BRASIL, 2012b), entre outras, destacam-se:
Em 2007, a União mantinha 106 instituições de ensino superior, atendendo 155 mil es-
tudantes em cursos presenciais. Quanto à educação básica, haviam 300 escolas e um total de
217.738 estudantes matriculados (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUISAS
EDUCACIONAIS, 2009 apud PILETTI; ROSSATO, 2010).
Dados do Censo do Ensino Superior, do ano de 2009, indicavam que 2069 IES eram de
natureza privada contra 245 IES públicas. Quanto ao tipo de instituição, 186 eram universi-
dades (8%); 127 centros universitários (9,5%); 1966 faculdades (85%) e 35 CEFETs (1,5%).
Em 2009, o ensino a distância respondia por 14,1% da matrícula, sendo que, em 2001, res-
pondia por apenas 0,2% da matrícula no ensino superior.
28
Nos termos do artigo 17 (BRASIL, 2012b), os sistemas de ensino dos Estados e do
Distrito Federal são integrados por:
Legislação Educacional
III. instituições de ensino fundamental e médio, criadas e mantidas pela
iniciativa privada;
Parte II
5 - FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO
As responsabilidades do Poder Público no campo da educação básica
Em grande parte, a nova orientação, seguida a partir dos anos 1990, decorre do que foi
estabelecido pela Constituição Federal de 1988 que, no § 1º do artigo 208, institui a figura
jurídica do direito público subjetivo à educação obrigatória.
A LDB (BRASIL, 2012b) destina um capítulo inteiro aos artigos 68 e 77. Importante
assinalar que os artigos 70 e 71 disciplinam melhor o que pode e o que não pode ser consi-
derado como gastos com educação. Já o artigo 69 elenca os procedimentos que deverão ser
adotados para o repasse dos recursos para o setor educacional.
30
diversas etapas e modalidades, com a formação mínima determinada pela
legislação federal de diretrizes e bases da educação nacional.
Legislação Educacional
não educacional acabassem sendo remetidas à conta da educação, se levarmos em conta a
expansão da matrícula nos diferentes níveis e modalidades da educação básica, constata-
remos com facilidade que é necessário aumentar a participação da educação na divisão do
7
PIB (Produto Interno Bruto) . Durante os últimos vinte anos, o percentual do PIB aplicado
no campo educacional oscilou entre 4,5% e 5,5%, sendo insuficiente
para a oferta de educação de qualidade para todos e, principalmente, 7. O PIB é a soma de toda a
riqueza produzida no país du-
para melhorar a condição salarial e as condições de trabalho para os rante um ano.
profissionais da educação.
Dados do Censo Escolar da Educação Básica apontavam, para o ano de 2009, um total
de 52.987.483 alunos matriculados (INSTITUTO NACIONAL DE ESTUDOS E PESQUI-
SAS EDUCACIONAIS, 2009), assim distribuídos:
Creche: 1.896.363
Pré-Escola: 4.866.268
Ao concluirmos os breves comentários que fizemos 9. Anísio Teixeira, no artigo “Bases Prelimi-
nares para o plano de educação referente ao
em relação ao financiamento público da educação básica Fundo Nacional de Ensino Primário” (1962) e
e à guisa de sintetizar o que foi dito, devemos considerar no livro Educação é um direito (1968), apre-
que, a partir da Constituição Federal de 1988 e do texto senta um modelo para o financiamento do
ensino primário vigente à época, que previa a
da LDB, com os vários acréscimos que sofreu ao longo
constituição de um fundo de recursos financei-
dos quinze anos desde a sua promulgação, muitas foram ros. De acordo com Amaral (2012): “Pode-se
a mudanças introduzidas pelas Emendas Constitucionais, afirmar que os estudos de Teixeira constituem
a gênese do Fundo de Manutenção e Desen-
com destaque para a EC nº 14, EC nº 53 e EC nº 59, bem
volvimento do Ensino Fundamental e de Valo-
como para as leis federais que criaram o FUNDEF e o rização do Magistério – (Fundef).”
9
FUNDEB .
32
se referencia nas necessidades, nos contextos e nos desafios do de-
senvolvimento de uma região, de um país, de uma localidade;
Legislação Educacional
meio de sua institucionalidade e de processos participativos e demo-
cráticos que independem da vontade política do gestor ou da gestora
em exercício. (CARREIRA; PINTO, 2007, p. 24).
Parte III
33
Por sua vez, Apple (1982, p. XX), ao estudar a questão do currículo sob a ótica da ide-
ologia, ressalta que “[...] a estruturação do conhecimento e do símbolo em nossas instituições
educacionais está intimamente relacionada aos princípios de controle social e cultural numa
dada sociedade.” De acordo com Palma Filho (1989), o elemento central da análise feita por
Apple diz respeito ao modo como as escolas, enquanto instituições sociais de preservação
e distribuição cultural, produzem e reproduzem formas de consciência que permitem a ma-
nutenção do controle social sem que os grupos sociais dominantes tenham que recorrer a
mecanismos declarados de dominação.
Para identificar esses mecanismos, Apple propõe examinar a relação entre a domi-
nação econômica e a dominação cultural. Desse modo, considera que o currículo escolar
resulta de uma seleção de elementos retirados do campo cultural e que, portanto, enquanto
parte do cultural, o currículo escolar relaciona-se de modo diferenciado com a esfera econô-
mica. De outra parte, essa relação revela diferentes enfoques ideológicos, considerando-se
a ideologia, nesse contexto, como uma concepção de mundo, no qual o ser humano é parte
integrante e indissociável (PALMA FILHO, 2005, p. 5).
Luiz Antonio Cunha (2011, p. 585), no artigo “Contribuições para a análise das interfe-
rências mercadológicas nos currículos escolares”, assinala a interferência de forças externas
ao currículo de natureza mercadológica, destacando duas vertentes das pressões dos mer-
cados; a de natureza ideológica e a econômica. O autor atribui essas interferências “a débil
autonomia do campo educacional.”
34
toriamente no horário regular das aulas, mas é de caráter opcional e apenas nas escolas
públicas. O § 2º estabelece que o ensino fundamental será ministrado na língua portuguesa,
respeitando no caso das comunidades indígenas o ensino na língua materna e processos
próprios de aprendizagem.
Legislação Educacional
consideração o que estabelecem as Diretrizes Curriculares, recentemente, aprovadas pelo
Conselho Nacional de Educação. No caso, aliás, são duas resoluções (Resolução nº 4, de
13.07.2010 – Define Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica; Reso-
lução nº 7, de 14.12.2010 – Fixa Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamen-
tal de 9 (nove) anos).
Importante notar que a LDB não se refere à disciplina, mas sim, ao estudo.
O § 2º, com a redação dada pela lei federal nº 12.287/2010 (BRASIL, 2012g, grifo
nosso), ficou com a seguinte redação: “O ensino da arte, especialmente em suas expressões
regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educa-
ção básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos”. No caso de arte,
portanto, chama de componente curricular e não de disciplina.
O § 3º que passou por duas alterações, ficou com a seguinte redação dada pela lei fe-
deral nº 10.793, de 1º.12.2003 (BRASIL, 2012h):
35
II. maior de trinta anos de idade;
III. que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em situação
similar, estiver obrigado à prática de educação física;
IV. amparado pelo Decreto-Lei 1.044, de 21 de outubro de 1969;
V. VETADO;
VI. que tenha prole.
O item V foi vetado por se tratar de dispensa para aqueles que estejam cursando cursos
de Pós-Graduação, uma vez que a matéria refere-se apenas a quem esteja cursando a educa-
ção básica.
O § 5º (BRASIL, 2012b) prevê que, na parte diversificada do currículo, “[...] será in-
cluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estran-
geira moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades
da instituição.”
Ainda faz parte, obrigatoriamente, mas não de modo exclusivo, do currículo da educa-
ção básica, o conteúdo de música, integrado ao ensino de arte (§ 6º).
O artigo 26-A, na redação dada pela lei federal nº 11.645 de 2008 (BRASIL, 2012i, §§
1º, 2º), estabelece a obrigatoriedade de incluir nos conteúdos dos componentes curriculares
de educação artística, e de literatura e história brasileiras, o estudo da história da África e
dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena
brasileira, e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contri-
buições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil.
O artigo 27 (BRASIL, 2012b) estabelece quatro diretrizes que deverão ser observadas na
organização das matrizes curriculares, tanto no ensino fundamental quanto no ensino médio:
36
A LDB, também, estabelece condições especiais para o currículo escolar para a po-
pulação rural. Para tanto, prescreve adaptações necessárias, especialmente no que diz res-
peito aos conteúdos curriculares e às metodologias de ensino, que deverão observar as reais
necessidades e os interesses dos alunos, incluindo um calendário escolar adequado às fases
do ciclo agrícola e às condições climáticas, bem como fazendo adequações às condições de
trabalho na zona rural (BRASIL, 2012b, art. 28).
Legislação Educacional
Especificamente em relação ao ensino fundamental, dois parágrafos (5ºe 6º) no arti-
go 32 da LDB foram inclusos. O primeiro deles, foi incluso pela lei federal 11.525 de 2007
(BRASIL, 2012j), a qual estabelece a obrigatoriedade de estudos relacionados com o direito
das crianças e dos adolescentes, adotando como orientação o que dispõe a Lei 8.069, de 13
de julho de 1990, que trata do Estatuto da criança e do adolescente. Neste caso, deverão ser
providenciadas, pelos sistemas de ensino, a produção e a distribuição de material didático
adequado. O § 6º (BRASIL, 2012b) inclui, no currículo do ensino fundamental, “[...] o estudo
sobre os símbolos nacionais, como tema transversal.”
O artigo 33 inclui no currículo, em caráter obrigatório para escola, mas facultativo para
o estudante, o ensino religioso, de acordo com a redação dada pela lei federal nº 9.476 de
22 de julho de 1997 (BRASIL, 2012k). Nos termos dessa lei, os conteúdos e as normas para
admissão de professores deverão ser fixados pelos sistemas de ensino.
8 - ENSINO MÉDIO11
Além das normas curriculares gerais que deverão 11. O estudante encontra dois vídeos que
tratam da questão do ensino médio, com os
ser observadas por toda educação básica, algumas são es-
seguintes temas: 1) A crise do ensino médio:
pecíficas do ensino médio. Justamente, estas serão apre- o problema do currículo; 2) A crise do ensino
sentadas a seguir. médio e a saída pela profissionalização.
37
III. Inclusão obrigatória das disciplinas de Filosofia e Sociologia em todas as
séries do ensino médio (redação dada pela Lei nº 11.684, de 2008).
9 - EDUCAÇÃO INFANTIL
De acordo com a LDB (BRASIL, 2012b, arts. 21, 29), a educação infantil constitui-
se na primeira etapa da educação básica e tem como finalidade o desenvolvimento integral
da criança até seis anos de idade, em seus aspectos físicos, psicológico, intelectual e social,
complementando a ação da família e da comunidade.
Nos termos do artigo 30, a educação infantil será oferecida em creches ou instituições
equivalentes, para crianças de até três anos de idade, e em pré-escolas, para crianças de qua-
tro a seis anos de idade.
Importante assinalar que, como dever do Estado, a educação infantil surge pela pri-
meira vez contemplada na Constituição Federal de 1988. Na LDB, aparece como responsabi-
lidade dos municípios e, atualmente, encontra-se integrada, na sua maior parte, aos sistemas
municipais de ensino.
Com o advento da lei federal nº 11.330/06, que cria o ensino fundamental de nove anos,
combinado com § 3º do artigo 87 da LDB, o Distrito Federal, cada Estado, Município e, su-
pletivamente, a União devem matricular todos os educandos a partir dos seis anos de idade
no ensino fundamental.
Desse modo, a educação infantil passa a receber as crianças na faixa etária de zero a
cinco anos de idade.
Há, ainda, na LDB (BRASIL, 2012b), outros 12. Art. 31 “Na educação infantil a avaliação far-se-á
mediante acompanhamento e registro do seu desen-
artigos que tratam do atendimento de crianças na volvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo
educação infantil: artigo 4º, X (incluído pela lei fe- para acesso ao ensino fundamental.”
deral nº 11.700, de 2008); artigo 11, V; artigo 18, I, II; 13. Art. 62 “A formação de docente para atuar na
artigo; artigo 31 (trata dos procedimentos de avalia- educação básica far-se-á em nível superior, em cur-
12 so de licenciatura, de graduação plena, em universi-
ção na educação infantil) 62 e 63, I (ambos tratam
dades e institutos superiores de educação, admitida,
do lócus de formação docente para atuar na educação como formação mínima para o exercício do magisté-
13
infantil . rio na educação infantil e nas quatro primeiras séries
do ensino fundamental, a oferecida em nível médio,
na modalidade normal.
38
Também em documentos internacionais, o Brasil assumiu o compromisso de buscar
ampliar o atendimento de crianças de zero a seis anos de idade, na educação infantil.
Legislação Educacional
Declaração Mundial de Educação para Todos.
O Plano Nacional de Educação (PNE), 14. Art. 211, A União, Estados, Distrito Federal e Municípios
devem organizar seus sistemas de ensino em regime de cola-
que teve vigência até o ano de 2010, estabele-
boração. § 1º A União exerce função supletiva e redistributiva,
ceu metas para a educação infantil. Ao todo fo- em todos os níveis, mediante assistência técnica e financei-
ram estabelecidas vinte metas para as creches e ra. Art. 212, § 2º Os municípios atuarão prioritariamente no
Ensino Fundamental e na Educação Infantil (Redação dada
mais dezesseis para o segmento da pré-escola.
pela Emenda Constitucional nº 14/96). Art. 30 Compete aos
Todavia, apenas 35% do que foi estabelecido Municípios [...] manter, com a cooperação técnica e financeira
no PNE para a educação infantil foi alcançado da União e do Estado, programas de educação pré-escolar e
(CARNEIRO, 2010, p. 223). de Ensino Fundamental.
No Projeto de Lei 8.061, que tramita no Congresso Nacional e cuida de um novo plano
nacional de educação que já devia ter entrado em vigor em 2011, com vigência até o ano de
2020, também, há metas para a educação infantil. Nesse sentido, prevê universalizar, até o
ano de 2016, o atendimento escolar da população de 4 e 5 anos, e ampliar, até 2020, a oferta
de educação infantil de forma a atender a 50% da população de até 3 anos de idade. A meta
em questão se desdobra em nove estratégias.
De acordo com o Censo Escolar para o ano de 2010 (INEP), a matrícula na educação
infantil contabilizava 6.762.631 atendimentos. Destes, a grande maioria estava sob a respon-
sabilidade das municipalidades.
39
No Estado de São Paulo, o governo estadual destinou, no período 2011-2014, o montan-
te de 1 bilhão de reais para financiar construção e equipamento de creches a serem geridas
pelos municípios.
As crianças que completam 6 anos após o dia 31 de março devem ser
matriculadas na Educação Infantil (§ 3º).
40
As vagas em creches e educação pré-escolar devem ser oferecidas
em locais próximos das residências das crianças (§ 5º).
A jornada diária em tempo parcial deverá ser de quatro horas, quan-
do em tempo integral, não deve ultrapassar sete horas (§ 6º).
A proposta pedagógica a ser elaborada pela escola deve respeitar os seguintes princí-
Legislação Educacional
pios (art. 6º):
Concluindo esta rápida abordagem que fizemos da legislação, relacionada com a edu-
cação infantil, sugerimos aos estudantes que retomem para consulta o que foi tratado nas
disciplinas D12, D13 e D14, quando a temática da educação infantil foi discorrida com maior
detalhamento do que nos foi possível apresentar no espaço deste Caderno de Formação. Du-
rante a leitura, é importante que você se atenha aos aspectos legais.
41
Parte IV
Cabe, aqui, completar o estudo com outros elementos que integram a estrutura e orga-
nização do ensino fundamental, enquanto etapa da educação básica que dá continuidade à
educação infantil e se completa com o ensino médio. Este, por sua vez, concebido como uma
etapa que aprofunda a formação dada na educação infantil e no ensino fundamental.
Desde o texto inicial da LDB (1996), o ensino fundamental passou por alterações feitas
por quatro outras leis: Lei nº 9.475, de 1997; Lei nº 11.274, de 2006; Lei nº 11.525, de 2007;
Lei 12.472, de 2011.
A primeira alteração (1997) modificou o artigo 33, que dispõe sobre a oferta de ensino
religioso nas escolas públicas. Este tipo de ensino, com a mudança, passou a ser custeado
pelos cofres públicos, como constava no texto promulgado em 20 de dezembro de 1996. Foi
uma alteração defendida pela CNBB (Confederação Nacional dos Bispos do Brasil) e que
acabou acolhida pelo legislador a partir de proposta do Poder Executivo.
A inclusão de ensino religioso, mesmo que em caráter facultativo por parte do estudan-
te, de certa forma enodoa o caráter laico do Estado brasileiro, pois não há que se confundir
liberdade religiosa com a obrigatoriedade de oferta desse ensino por parte das escolas públi-
cas de ensino fundamental.
A segunda alteração se deu no ano de 2006 e veio no bojo da Lei nº 11.274, modificando
o art. 32 e estabelecendo a obrigatoriedade do ensino fundamental ser ministrado em nove
anos e não mais oito, como constava no texto original. Desse modo, esse ensino inicia-se aos
seis anos de idade. Já a educação pré-escolar restringe-se a dois anos. Essa alteração foi e
ainda é criticada pelos especialistas e educadores que defendem que a educação infantil se
estenda até os seis anos de idade, respeitando, assim, o desenvolvimento psíquico da criança.
O fato é que alguns estados da federação, valendo-se do que dispõe o artigo 8º, § 2º
da LDB (liberdade para organizar o sistema de ensino), já vinham permitindo a matrícula
no ensino fundamental aos seis anos. Carneiro (2010, p. 231) menciona os estados de Minas
42
Gerais e Goiás, e também inúmeros municípios. No estado de São Paulo, havendo vaga e
sem prejuízo dos matriculados aos sete anos, o Conselho Estadual de Educação autorizava a
matrícula aos seis anos de idade no ensino fundamental.
A terceira mudança resultou de dispositivo (§ 5ª) incluído pela Lei nº 11.525, de 2007,
que obriga a escola a reservar espaço no currículo escolar para o estudo dos conteúdos rela-
Legislação Educacional
cionados com os direitos das crianças e dos adolescentes, tendo como base o que consta do
Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8.069, de 1990).
A quarta mudança veio com a Lei nº 12.472, de 2011, 16. Conteúdos que devem ser contemplados
no Projeto Político Pedagógico da escola e
que criou um sexto parágrafo, incluindo como tema trans- tratados de forma interdisciplinar, pois tratam
16
versal , no currículo do ensino fundamental, o estudo so- de questões complexas que não cabem no
bre os símbolos nacionais. âmbito de uma única disciplina curricular.
43
muitas críticas de professores, por entenderem que esse regime de estudos facilita a promo-
ção, sem que haja aprendizado real por parte do estudante.
Paro (2003), em estudo que realizou sobre a questão da reprovação escolar, salientou
o quanto esta se constitui em um mecanismo que encobre as deficiências no funcionamento
das escolas e do próprio sistema educacional como um todo. A reprovação acaba por respon-
sabilizar apenas o aluno.
Como assinala o autor (2003, p. 62): “A reprovação não se manifesta, pois, apenas nos
números de retidos e ‘desistentes’ que a escola produz, mas também no modo de agir e pen-
sar que perpassa as atividades escolares
44
Os professores apontam como principais entraves: 1) falta de espaço para que ocorra a
recuperação paralela no contraturno, pois tanto na região metropolitana da Grande São Pau-
lo, quanto em algumas regiões do interior do Estado, há escolas com todas as salas ocupadas;
2) mobilidade do corpo docente, acrescida da falta de professores em alguns componentes
curriculares, bem como um elevado grau de absenteísmo docente.
Legislação Educacional
Apesar das dificuldades apontadas, Vasconcelos (2008, p. 80) aponta efeitos positivos,
mesmo no regime de progressão continuada em dois ciclos de longa duração, tais como: 1)
queda vertiginosa dos índices de evasão e 2) desaparecimento da figura do aluno multirepe-
tente, “[...] que não logrando êxito após várias tentativas e consequentes reprovações acaba-
vam por evadir-se da escola (muitas vezes com o apoio e decisão da própria família)”.
45
A concepção de ensino médio adotada pela LDB difere frontalmente do disposto na
Lei 4.024/61 (1ª LDB) e também do estabelecido pela Reforma do Ensino de 1º e 2º graus
(Lei 5.692, de 11.8.1971).
Como não deu certo, em 1982, o Governo Federal alterou a legislação vigente e, na
prática, restabeleceu o contido na Lei 4.024/61.
A LDB atual estabelece uma nova relação entre ensino médio, enquanto educação ge-
ral e a preparação para os exercícios de profissões técnicas.
A leitura do artigo 35 (BRASIL, 2012b) indica claramente que o ensino médio, com
a duração mínima de três anos, representa a etapa final da educação básica, à medida que
tem como finalidades: consolidar e aprofundar os conhecimentos adquiridos no ensino fun-
damental, possibilitando ao aluno prosseguir com seus estudos; fornecer preparação básica
para o trabalho e o exercício da cidadania pelo educando; aprimorar o educando como pessoa
humana e, nesse sentido, incluir em sua educação a formação ética, o desenvolvimento da
autonomia intelectual e do pensamento crítico, bem como a compreensão dos fundamen-
tos científico-tecnológicos nos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática no
ensino de cada disciplina (importante assinalar que o legislador trata o conteúdo curricular
como disciplina).
Há, também, destaque para o protagonismo dos estudantes, quando assinala que o en-
sino médio adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa deles.
A Lei Federal nº 11.741, de 2008 (BRASIL, 2012m, art. 36-A), introduziu novos artigos:
o 36-A, o 36-B, o 36-C e o 36-D. Todos tratam da Educação Profissional Técnica de Nível
Médio – ensino médio – que deve fornecer formação geral ao educando, preparando-o para
o exercício de profissões técnicas. Nesse sentido, a preparação para o trabalho e, facultativa-
46
mente, a habilitação profissional poderão ser desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de
ensino médio ou em cooperação com instituições especializadas em educação profissional.
O artigo 36-B (BRASIL, 2012m) indica as formas em que poderão ser organizados os
cursos que conduzirão à formação técnica de nível médio:
Legislação Educacional
II. subsequente, em cursos destinados a quem tenha concluído o ensino médio.
Ainda, de acordo com o Parágrafo único do artigo 36-B, a educação profissional téc-
nica de nível médio deverá observar as diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo
Conselho Nacional de Educação, bem como as normas complementares dos respectivos sis-
temas de ensino e as exigências de cada estabelecimento de ensino, nos termos do projeto
pedagógico da instituição de ensino.
O artigo 36-D (BRASIL, 2012m) assegura validade nacional para os diplomas de cur-
sos de educação técnica de nível médio, desde que registrados e habilitados ao prossegui-
mento de estudos em nível superior.
O parágrafo único do artigo 36-D permite a organização dos cursos em etapas com
terminalidade definida e, neste caso, a etapa concluída com aproveitamento ensejará, por
parte do estudante, a obtenção de certificado de qualificação profissional.
Ainda de acordo com o parecer, o ensino médio passa a ter no mínimo 3 mil horas
de estudos, dois quais 20% da carga horária total de-
verão ser destinadas às disciplinas eletivas, a serem 18. A Secretaria de Educação do Estado de São
livremente escolhidas pelos estudantes e a atividade Paulo iniciou no ano de 2011 a experiência de regi-
18 me de tempo integral no ensino médio.
docente deve ser em tempo integral na escola .
Parte V
48
O tratamento dado pelo legislador àque- 20. Art. 99 – Aos maiores de dezesseis anos será permitida a
obtenção de certificado de conclusão do curso ginasial, me-
les que não concluíram, ou sequer tiveram
diante a prestação de exames de madureza em dois anos, no
oportunidades para iniciar os estudos, previs- mínimo, e em três anos, no máximo, após estudos realiza-
tos na educação básica na idade certa, evoluiu dos em observância do regime escolar. Parágrafo único. Nas
mesmas condições permitir-se-á a obtenção do certificado de
significativamente desde a LDB de 1961. Esta
conclusão de curso colegial aos maiores de dezenove anos
previa apenas a realização de exames, os cha- (Lei 4.024, de 20.12.1961).
Legislação Educacional
20
mados exames de madureza .
Neste caso, é da competência dos sistemas de ensino garantir educação de forma gra-
tuita a todos jovens e adultos que, na idade regular, não puderam concluir os estudos no
ensino fundamental ou médio.
O currículo dos cursos e exames deverá ser organizado, de acordo com o conteúdo es-
tabelecido para a base nacional comum do currículo. A responsabilidade pela oferta de cur-
sos e exames é dos sistemas de ensino, podendo os mantenedores ser públicos ou privados.
49
14 - EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA
Entre os vários aspectos inovadores da LDB atual sobressai o tratamento dado à edu-
cação profissional e tecnológica. Em quatro artigos o tema é tratado em profundidade e de
forma atualizada, levando em consideração a realidade do país.
Decorridos doze anos da promulgação, o capítulo III foi radicalmente alterado pela Lei
Federal nº 11.741, de 2008 (BRASIL, 2012m), ficando o artigo 39 (BRASIL, 2012b) com a
seguinte redação: “A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da
educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimen-
sões do trabalho, da ciência e da tecnologia”.
O parágrafo único foi revogado e foram introduzidos três novos parágrafos. O § 1ª trata
da organização dos cursos em eixos tecnológicos, o que possibilita a construção de diferen-
tes itinerários formativos, sempre de acordo com as normas do respectivo sistema e nível de
ensino. O § 2º indica as modalidades de cursos, aliás, de três tipos: I – formação inicial e
continuada ou qualificação profissional; II – de educação profissional técnica de nível médio;
e III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação. O § 3º estabelece
que os cursos de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação deverão
ser organizados nos termos do que estabelecem as diretrizes curriculares nacionais estabele-
cidas pelo Conselho Nacional de Educação.
O artigo 40 indica que a educação profissional deverá ser organizada de forma articu-
lada com o ensino regular ou por diferentes estratégias de educação continuada em institui-
ções especializadas ou no próprio ambiente de trabalho. Este artigo foi regulamentado pelo
Decreto Federal nº 5.154, de 23 de julho de 2004, que, por sua vez, revogou o Decreto Federal
nº 2.208, de 17 de abril de 1997, editado no Governo Fernando Henrique Cardoso.
50
Finalmente, o artigo 42 permite que as instituições de educação profissional e tecnoló-
gica possam oferecer cursos especiais abertos à comunidade, condicionados à matrícula e à
capacidade em acompanhar os estudos e, necessariamente, ao nível de escolaridade.
Parte VI
Legislação Educacional
15 - EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Em sentido estrito, a educação inclusiva é entendida como aquela que trata de crianças
e jovens com necessidades especiais. Em sentido amplo, inclui a educação de todos aqueles
que, por qualquer razão, estiveram excluídos do processo educacional formal.
16 – EDUCAÇÃO ESPECIAL
A LDB de 1996 dedicou um capítulo inteiro para tratar da educação de crianças e jo-
vens com necessidades especiais. Refiro-me ao Capítulo V que abrange do artigo 58 ao 60.
51
Para que se tenha ideia da precariedade do atendimento, no mesmo ano do censo, a
matrícula era de apenas 700.624, das quais, 375.488 eram feitas em escolas especializadas,
embora no mesmo período tenha havido um crescimento de 640% das matrículas em escolas
comuns e 28% em escolas especializadas.
No Estado de São Paulo, ainda de acordo com os dados do Censo Escolar (2006) para
uma população de 37.035.456 habitantes, estima-se uma população com deficiência na faixa
de 0 a 17 anos da ordem de 413.438, das quais, apenas, 131.975 estavam tendo algum tipo de
atendimento especial, sendo 69.418 em Classes Especiais e 62.587 em Classes Comuns.
Também a LDB atual e o Plano Nacional de Educação, este tornado lei no ano de 2001,
estabelecem normas e metas para esse tipo de atendimento educacional. Como vimos na
LDB, a matéria é tratada no Capítulo V (arts. 58 a 60) do Título V (Dos Níveis e das Moda-
lidades de Educação e Ensino).
O parágrafo 1º do artigo 58 estabelece (BRASIL, 2012b) que “[...] haverá, quando ne-
cessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da
clientela de educação especial”. Aqui também cabe reparo, ou seja, crianças e adolescentes
não são clientes das escolas, mas sim, seres humanos que têm constitucionalmente assegu-
rado o direito de serem atendidos com qualidade nas escolas, sejam públicas ou particulares.
52
O parágrafo 3º assegura desde a educação infantil (zero a cinco anos) o atendimento de
crianças com necessidades especiais.
Legislação Educacional
para atender às necessidades especiais dos educandos;
II. terminalidade específica para aqueles que não puderem atingir o nível
exigido para a conclusão do ensino fundamental, em virtude de suas
deficiências e aceleração para concluir em menos tempo o programa
escolar para os superdotados;
IV. educação especial para o trabalho, visando à sua efetiva integração na vida
em sociedade, inclusive a condições adequadas para os que não revelarem
capacidade de inserção no trabalho competitivo, mediante articulação
com os órgãos oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma
habilidade superior nas áreas artísticas, intelectual ou psicomotora;
O Projeto de Lei apresentado pelo Poder Executivo Federal para o decênio 2011-2020
também cuida da Educação Especial. Para tanto, fixou a meta 4 (ABREU; CORDIOLLI,
2012): Universalizar para a população de 4 a 17 anos o atendimento escolar aos estudantes
com deficiência, transtornos globais de desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação
na rede regular de ensino. A meta se desdobra em seis estratégias:
53
1. Contabilizar, para fins de repasse do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento
da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação –
FUNDEB, as matrículas dos estudantes da educação regular da rede pública
que recebem atendimento educacional especializado complementar, sem
prejuízo do cômputo dessas matrículas na educação básica regular.
Importante, ainda, assinalar que a estraté- 21. “Admitir-se-á, a partir de 1º de janeiro de 2010, para
gia nº 1 já é contemplada desde o ano de 2010, por efeito da distribuição dos recursos do Fundeb, o cômputo
21 das matrículas dos alunos da educação regular da rede
força do decreto nº 6.571/08 (BRASIL, 2012o) . pública que recebem atendimento educacional especia-
lizado, sem prejuízo do cômputo dessas matrículas na
educação básica regular” (BRASIL, 2012o).
54
A matéria de educação especial também está normati- 22. Resoluções e Pareceres do Conse-
lho Nacional de Educação poderão ser
zada pelo Conselho Nacional de Educação (Resolução CNE/
22 consultados, acessando o sítio do MEC/
CB nº 4/09) . CNE: www.mec.gov.br.
Parte VII
Legislação Educacional
18 – EDUCAÇÃO ESCOLAR INDÍGENA
Trata-se de uma modalidade de educação inclusiva que, pela primeira vez, a partir da
LDB de 1996, passou a merecer consideração especial. É parte das lutas desenvolvidas pelas
comunidades indígenas que reivindicavam o reconhecimento da diversidade sociocultural na
educação escolar indígena. Para tanto, esta deveria se pautar pelos princípios do bilinguismo/
multilinguismo e da interculturalidade.
O caminho foi aberto pela Constituição Federal de 1988, quando sepultou a visão
integracionista que vinha desde os jesuítas. Ao romper com o paradigma integracionista e
tutelar, a Constituição abriu caminho para que a legislação complementar permitisse que
experiências educacionais alternativas substituíssem a antiga política integracionista.
Nesse sentido, uma das primeiras inovações foi a contemplada no decreto presidencial
nº 26/91 (BRASIL, 2012p), retirando da alçada exclusiva da FUNAI a responsabilidade pela
educação indígena e transferindo-a para o MEC, fato que propiciou o processo de estaduali-
zação e municipalização da educação indígena.
Além da LDB de 1996, também o Plano Nacional de Educação, de 2001, traçou metas
para a educação indígena. No âmbito do Conselho Nacional de Educação, o Parecer CNE/
CEB nº 14/99 estabeleceu as Diretrizes Nacionais da Educação Indígena, aprovadas pela
Resolução CNE/CEB nº 3 de 1999.
Ainda no âmbito legal, o decreto federal nº 6.861, de maio de 2009, definiu a organiza-
ção da educação escolar indígena em territórios etnoeducacionais.
55
19 – EDUCAÇÃO QUILOMBOLA
A legislação educacional pouco trata da educação de crianças e jovens residentes nos
antigos quilombos, por isso não há menção na LDB, nem no Plano Nacional de Educação de
2001. Entretanto, consideramos importante alguns breves comentários.
O projeto de lei que trata do Plano Nacional de Educação 2011-2020, no parágrafo 1º,
do artigo 8º, estabelece (ABREU; CORDIOLLI, 2012, p. 21):
Os entes federados deverão estabelecer em seus respectivos planos de edu-
cação metas que considerem as necessidades específicas das populações
do campo e de áreas remanescentes de quilombos, garantindo equidade
educacional.
A maior parte das escolas localiza-se longe das residências dos estudantes, são de in-
fraestrutura precária, geralmente, construídas de palha ou de pau-a-pique.
Conforme o Censo Escolar de 2010, havia 210.845 alunos matriculados em 1.912 esco-
las localizadas em áreas remanescentes de quilombos. Desses alunos, 68% estavam concen-
trados no Nordeste. A maioria dos professores não tem formação adequada em termos peda-
gógicos e o número deles é insuficiente. Em muitos casos, há um único professor para classe
multisseriada. Poucas comunidades possuem escolas com o ensino fundamental completo.
20 – EDUCAÇÃO NO CAMPO
A Constituição Federal de 1988, como vimos, ampliou os direitos sociais, incluindo os
da população campesina. Segue-se legislação que cria políticas educacionais que têm como
princípio ampliar os direitos educacionais na linha da educação para todos.
A partir dessa concepção, a LDB, nos artigos 23, 26 e 28, estabelece novas modalida-
des de organização do trabalho escolar, com a finalidade de adequar a legislação às diferen-
tes realidades em que a educação escolar está inserida.
56
Na oferta da educação básica para a população rural, os sistemas de ensino
proverão as adaptações necessárias à sua adequação, às peculiaridades da
vida rural e de cada região, especificamente:
Legislação Educacional
II. organização escolar própria, incluindo a adequação do calendário
escolar às fases do ciclo agrícola e às condições climáticas;
57
Parte VIII
O artigo 61 (BRASIL, 2012b), totalmente modificado pela redação dada pela Lei nº
12.014, de 2009, estabelece que o profissional da educação é aquele que se encontra em efe-
tivo exercício. Portanto, não basta ser licenciado ou portador de curso técnico, ou superior
em área pedagógica. Faz ainda distinção entre o exercício da docência e o exercício das
atividades de apoio escolar (administração, planejamento, supervisão, inspeção e orientação
educacional, mestrado e doutorado). Nesses casos, o requisito é o de portador do diploma de
pedagogia, com habilitação nos campos mencionados.
Importante notar que a redação dada a esse artigo (inciso II) restabelece, em contradição
com as diretrizes curriculares do curso de pedagogia, a figura das habilitações profissionais.
Sobre o parágrafo único, em seu item I, pode-se afirmar que a redação é confusa e, por
isso, não tem significado.
58
por treinamento em serviço”. Em razão da péssima redação, este dispositivo tem se presta-
do à interpretação equivocada. De início, esclareça-se que não é até, mas sim após o final
da década. Logo, a partir do ano de 2007, para o exercício da atividade docente, deverá ser
exigida a formação em nível superior ou em treinamento em serviço. Esta, também, é uma
expressão inadequada, já que treinamento não significa formação, mas sim, adestramento.
Legislação Educacional
O artigo em questão foi objeto de regulamentação, por meio de dois decretos, o de nº
3.276, de 6 de dezembro de 1999, que estabelecia a exclusividade da formação em Curso Nor-
mal Superior, retirando, portanto, do Curso de Pedagogia a possibilidade de formar docentes
para o exercício na educação infantil e nos quatro primeiros anos/séries do ensino fundamental.
Importante salientar, ainda, que seja no curso de pedagogia, seja no curso normal su-
perior, o decreto em seu artigo 2º (BRASIL, 2012q) fixa os requisitos que os cursos deverão
atender:
À redação original do artigo 62 foram acrescentados três parágrafos pela lei federal nº
12.056, de 2009 (BRASIL, 2012r).
59
O § 3º indica que os cursos de formação inicial darão preferência à formação presen-
cial e, subsidiariamente, poderão fazer uso dos recursos da EAD.
O artigo 63 (BRASIL, 2012b) trata dos institutos superiores de educação. Estes pode-
rão manter cursos de formação inicial, inclusive o curso normal superior; programas de for-
mação pedagógica aos possuidores de diplomas de educação superior que desejem também
23
se habilitarem para o magistério na educação básica ; e progra- 23. A Resolução CNE nº 02/97 nor-
mas de educação continuada para os profissionais da educação matizou o modo como esses cursos
poderão ser estruturados.
dos diversos níveis da educação básica.
O artigo 64 (BRASIL, 2012b) indica como deverá ser a formação dos profissionais da
educação para as atividades de planejamento, administração, orientação educacional, ins-
peção e supervisão para a educação básica. Estabelece que esta deve ser feita em cursos de
24
pedagogia ou em nível de pós-graduação .
24. O Conselho Estadual de Educação normatizou
como deverá ser organizado o curso de especiali-
O artigo 67 (BRASIL, 2012b), com as mudan-
zação para formação do gestor escolar. Os mesmos
ças advindas da lei federal nº 11.301, de 2006, esti- deverão ser autorizados pelo CEE, para que tenham
pula que validade no sistema estadual de educação.
IV. progressão funcional baseada 25. Regulamentado pela Lei Federal nº 11.738,
que além do piso salarial também determina que
na titulação ou habilitação, e na a jornada semanal de trabalho do docente não
avaliação do desempenho; ultrapasse 2/3 em sala de aula (§ 4º).
60
Saiba Mais
Legislação Educacional
Referências
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percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente sobre os recursos destinados à manutenção e des-
envolvimento do ensino de que trata o art. 212 da Constituição Federal, dá nova redação aos incisos I e VII do
art. 208, de forma a prever a obrigatoriedade do ensino de quatro a dezessete anos e ampliar a abrangência dos
programas suplementares para todas as etapas da educação básica, e dá nova redação ao § 4º do art. 211 e ao § 3º
do art. 212 e ao caput do art. 214, com a inserção neste dispositivo de inciso VI. Emenda Constitucional n. 59 de
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experiência. Revista Eletrônica – Cadernos da FAEL. Vol. 1, n.3, dez. 2008.
PILETTI, Nelson; ROSSATO, Geovanio. Educação básica: Da organização legal ao cotidiano escolar. São
Paulo: Editora Ática, 2010. 224p.
SILVA, José Afonso. Curso de direito constitucional positivo. 23. ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 476.
TANNER, D.; TANNER, L. Curriculum development. New York: Macmillam, 1975.
VASCONCELOS, M. L. M. Carvalho. Progressão continuada: por que a revisão dos ciclos? Revista Lusófona
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VIEIRA, Sofia Lerche; ALBUQUERQUE, Maria Gláucia Menezes. Política e planejamento educacional. 2.
ed. rev. e ampl. Fortaleza: Edições Demócrito Rocha, 2001.
64
Bloco 3 Disciplina 25
Legislação Educacional
até mesmo de esperanças válidas para todos os sujeitos
interessados. (CURY, 1998, p. 73).
Caros estudantes!
Saiba
Iniciamos, hoje, a primeira Mais do Bloco 03 – Gestão Escolar em nosso Curso
disciplina
de Pedagogia Semipresencial da UNESP/UNIVESP. Trata-se da disciplina D25 – Le-
gislação Educacional.
A educação no Brasil, em seus diferentes níveis (básica e superior) é legislada.
Como o estudante facilmente perceberá, há um vasto conjunto de leis, decretos, re-
soluções, deliberações, portarias, entre outros dispositivos de natureza legal. Como
o Brasil é um país com organização federativa, os diferentes membros que compõem
a federação, legislam em matéria educacional.
Desse modo, o principal objetivo da disciplina Legislação Educacional é familiarizar o estu-
dante, em particular, e o leitor, em geral, com os principais aspectos dessa ampla legislação.
Tomamos como ponto de partida o texto constitucional para, em seguida, anali-
sarmos em detalhe a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, com foco na
educação básica (educação infantil, ensino fundamental e ensino médio).
Trabalharemos fundamentados pelo texto 01 – A Organização Legal da Educação
Básica. Este texto será dividido em partes a serem estudadas durante os períodos
virtuais e presenciais. Além desse texto principal, contaremos também com o apoio
de um caderno, no qual se encontram as Leis que alteraram a LDB, bem como as
Emendas Constitucionais e Artigos da Constituição, relacionados à Educação.
Dividam as partes do texto 01 e as distribuam entre os grupos, para que façam uma
breve apresentação dos principais pontos trabalhados em cada segmento, ao início
das aulas presenciais.
Importante ressaltar que a avaliação final da disciplina será composta pela elabora-
ção de um Plano de Intervenção Pedagógico (PIP), voltado à escola em que atuam,
e pela prova presencial.
O desenvolvimento desse Plano deverá ser feito a partir da análise diagnóstica, in
loco, de um dos subtemas do texto 01 – A Organização Legal da Educação. Essa
proposta de intervenção será desenvolvida, então, ao longo da disciplina e sua pu-
blicação final deverá ser feita até o dia 21 de fevereiro de 2013 – dia da prova final.
65
Durante a primeira semana, vocês poderão entregar suas atividades, sem descon-
tos em nota, até domingo, dia 03 de fevereiro de 2013, às 23h55. As atividades entre-
gues, fora do prazo estabelecido, entrarão no período de recuperação de prazos que
S
termina no dia 20 de fevereiro de 2013, às 23h55, e terão suas notas avaliadas com
descontos (consultem o Manual do Aluno). Após esse prazo, as atividades entregues
não serão mais avaliadas. Por isto, aconselhamos que não deixem para postar suas
atividades de última hora.
Atenção: As atividades presenciais deverão ser publicadas até o final da aula. Sa
Vejam abaixo as atividades programadas para a semana:
S
1ª Aula Presencial – 28/01/2013 – 2ª feira
Atividade 01 – Iniciar as leituras – Visão Geral da Disciplina e Parte I do texto 01 – A
organização Legal da Educação Básica.
66
Qualquer problema,Saiba
por favor,
Mais
entrem em contato com seu Orientador de Disciplina.
Boa semana!
Referência
CURY, Carlos Roberto Jamil. Lei de Diretrizes e Bases e perspectivas da educação nacional. Rev. Bras. Educ.
Legislação Educacional
[online], Rio de Janeiro, n.08, p. 72-85, 1998. ISSN 1413-2478.
Saiba Mais
Saiba Mais
1ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
1ª Aula Presencial – 28/01/2013 – 2ª feira
Introdução
Conforme a leitura for avançando, discutam os pontos principais com seus colegas
e anotem as eventuais dúvidas, para discussão coletiva posterior.
67
Se for preciso, interrompam, momentaneamente, as leituras e discussões, para
assistir à entrevista de abertura da Disciplina.
Nessa entrevista, ele explicará a dinâmica da disciplina, bem como o seu objetivo,
e abordará os principais temas que serão trabalhados.
Publiquem suas respostas no Portfólio de Grupo, até o final da aula, com o título
D25_Atividade 03. Compartilhem com formadores.
68
Saiba Mais
Saiba Mais
Obs. – Essa publicação poderá ser aprimorada posteriormente, para futuras consultas.
Legislação Educacional
Pedagógico (PIP)
Na D25 – Legislação Educacional, a avaliação final será composta pela prova pre-
sencial, mais a elaboração de um trabalho de caráter interventivo, direcionado à es-
cola em que atuam – o Plano de Intervenção Pedagógico (PIP).
5. Financiamento da educação
8. Ensino médio
9. Educação infantil
69
19. Educação quilombola
Escolham, então, um ou alguns desses subtemas, para uma investigação mais de-
talhada. As informações sobre como cada um desses subtemas está sendo trabalha-
do em sua escola podem ser observadas, por meio de alguns documentos, como por
exemplo, no Projeto Político Pedagógico. Em algumas escolas, outros documentos
também podem ser analisados para a identificação das áreas de maior fragilidade e
necessidade de intervenção, como o Plano de Ação Participativa (PAP) e ainda os
Termos de Visita do Supervisor. Também são fontes para um bom diagnóstico as
avaliações externas, como o SAEB (realizada pelo MEC/INEP) e o SARESP (realiza-
da pela Secretaria Estadual de Educação) que muitos Municípios vêm realizando em
seu sistema de ensino.
70
Na Internet existem bons exemplos de Planos de Intervenção Pedagógica que po-
derão servir de modelo. Vocês podem observar alguns navegando pelos sites:
www.educacao.es.gov.br
www.educacao.mg.gov.br
Legislação Educacional
Acessem, também, na Ferramenta Material de Apoio, o arquivo da Atividade 04 –
Construindo um Plano de Intervenção Pedagógico, e observem um breve exemplo
de como construir um PIP.
5. Financiamento da Educação
71
5. Consultem a Constituição do Estado de São Paulo e a Lei Orgânica do Mu-
nicípio em que vocês moram e verifiquem se o percentual aplicado na edu-
cação foi maior do que o estabelecido na Constituição Federal, que é no
mínimo de 25%.
72
O vídeo apresenta o tema que está na ordem do dia, ou seja, a composição e o
desenvolvimento metodológico do currículo no ensino médio. Atualmente, muito se
discute sobre o excessivo número de disciplinas no currículo do Ensino Médio. Re-
centemente, até o Ministro da Educação entrou na discussão. O fato é que a divul-
gação dos resultados obtidos pelas escolas na Prova Brasil (SAEB) provocou muita
Legislação Educacional
preocupação na administração pública, seja no âmbito federal, seja no âmbito dos
gestores estaduais. É importante refletir sobre os pontos de vistas apresentados pelo
entrevistador. Para discutir o tema foram convidados os especialistas Francisco Apa-
recido Cordão, do Conselho Nacional de Educação, e Guiomar Namo de Melo, do
Conselho Estadual de Educação de São Paulo. O vídeo mostra também a visita à es-
cola estadual Dr. Samuel de Castro Neves que, situada no município de Piracicaba,
foi a mais bem avaliada, conforme o IDESP (Índice de Desenvolvimento da Educação
do Estado de São Paulo), em 2011. Por meio do vídeo, vocês podem conhecer como
a escola lida com o currículo, bem como analisar as opiniões de professores e alunos
sobre a obrigatoriedade, e divisão das disciplinas. Além disto, o vídeo apresenta uma
discussão acerca da evasão e do abandono escolar no Ensino Médio.
Esse vídeo pode ser acessado também, por meio da Ferramenta Material de Apoio,
ou pelo Portal Acadêmico, link Vídeos.
8. Ensino Médio
9. Educação Infantil
73
Saiba Ma
Formação.
74
Destaquem, no texto, seus pontos principais e levantem questões a serem discuti-
das na próxima aula presencial.
Legislação Educacional
1. O que o legislador quis dizer com a afirmação: “Ensino Fundamental como
direito público subjetivo”?
75
Bloco 3 Disciplina 25
Caros estudantes!
Saiba Mais
Concluídos os estudos iniciados na primeira semana, trataremos dos temas relacio-
nados com: educação de jovens e adultos – EJA; Educação Profissional e Tecnológi-
ca; e temas que, atualmente, se agrupam em torno da Educação Inclusiva (Educação
Especial, Educação Indígena, Educação Quilombola e Educação no Campo). Desse
modo, refletiremos sobre práticas educacionais que, gradativamente, vão fazendo
parte do corpo de conhecimentos que integram a formação do educador.
Além das propostas de atividades programadas para a semana, vocês deverão
também dar continuidade ao Plano de Intervenção Pedagógica. Intensifiquem suas
pesquisas, pois, até o final da semana, vocês deverão finalizar o processo diagnósti-
co, para, na próxima, iniciarem a sistematização do PIP.
As atividades desenvolvidas serão distribuídas ao longo de encontros presenciais e
períodos virtuais. Durante esta segunda semana, vocês poderão entregar suas ativi-
dades, sem descontos em nota, até domingo, dia 10 de fevereiro de 2013, às 23h55.
As atividades entregues, fora do prazo estabelecido, entrarão no período de recupe- S
ração de prazos que termina no dia 20 de fevereiro de 2013, às 23h55, e terão suas
notas avaliadas com descontos (consultem o Manual do Aluno). Após esse prazo, as
atividades entregues não serão avaliadas. Por isto, aconselhamos que não deixem
para postar suas atividades de última hora.
Atenção: As atividades presenciais deverão ser publicadas até o final da aula.
Vejam abaixo as atividades programadas para a semana:
Sa
3ª Aula Presencial – 04/02/2013 – 2ª feira
Atividade 11 – Retomada de conceitos estudados nas Partes III e IV do texto 01.
Sai
Legislação Educacional
Saib
4ª Aula Presencial – 07/02/2013 – 5ª feira
Atividade 16 – Retomada de conceitos estudados nas Partes V e VI do texto 01 – A
organização Legal da Educação Básica.
Referência
VIEIRA, EVALDO. A política e as bases do direito educacional. Cad. CEDES [online], Campinas, SP, v.21, n.55,
p. 9-29, 2001. ISSN 0101-3262.
Atividade Avaliativa
77
Saiba Mais
Saiba Mais
2ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
3ª Aula Presencial – 04/02/2013 – 2ª feira
5. Vocês entendem que o fato de o ensino médio passar a ser obrigatório para
todos altera as finalidades desse nível de ensino? Justifiquem a resposta.
6. Vocês consideram que o ensino médio da forma como vem sendo oferecido
para os jovens atende às expectativas desse segmento da população? Jus-
tifiquem a resposta.
78
Assistam às 20h e/ou às 21h15, em sua TV digital, ao vídeo 02 – A crise do Ensino
Médio e a saída pela profissionalização, veiculado pela UNIVESP TV.
Legislação Educacional
algumas alterações na direção de propiciar a estruturação curricular que contemple
duas modalidades de formação profissional em nível médio: integrado e concomitan-
te, como comentamos quando analisamos os artigos 36 A e 36 B.
Diante do exposto, no vídeo, apresenta-se aos especialistas Lucia Helena Lodi Ri-
zzini (RETEC-SP), Almério Araújo (Centro Paula Souza) e Francisco Aparecido Cor-
dão (CNE) a seguinte questão: A educação profissional pode ser uma saída para o
Ensino Médio?
O vídeo apresenta, ainda, três escolas técnicas estaduais, bem como o perfil de
seus alunos e cursos, mostrando que grande parte dos estudantes deseja chegar ao
Ensino Superior.
Esse vídeo pode ser acessado também, por meio da Ferramenta Material de Apoio,
ou pelo Portal Acadêmico, link Vídeos.
Atividade avaliativa – Formar Grupos na Plataforma – Associar à
avaliação – Compartilhar com formadores
79
Critérios de avaliação:
• Critérios gerais de produção textual (vide Manual do Aluno).
• Cumprimento da proposta.
• Entrega no prazo determinado.
Prazo de entrega:
• até 10/02/2013 – sem desconto em nota.
• de 11/02 a 20/02/2013 – com desconto em nota.
80
Vocês consideram adequada a formação profissional no nível médio ou preferem
que a mesma seja feita apenas em nível superior? Justifiquem a resposta.
Legislação Educacional
Atividade 15 – Leitura da Parte VI do texto 01 – A organização Legal da
Educação Básica
Leiam a Parte VI do texto 01 – A organização legal da Educação Básica, disponível
na Ferramenta Leituras ou, diretamente, em seu Caderno de Formação.
Saiba Mais
4ª Aula Presencial – 07/02/2013 – 5ª feira
81
Atividade 17 – Leitura Parte VII do texto 01 – A organização Legal da Educação
Básica
Finalizadas as discussões, apreciem a apresentação do grupo responsável pela
Parte VII do texto 01 – A organização Legal da Educação Básica. Em seguida, iniciem
a leitura detalhada dessa parte do texto:
Iniciem suas reflexões referentes à parte VIII do texto 01, a qual aborda o tema “A
Política Nacional para a Formação dos Profissionais da Educação”, assistindo às 20h
e/ou às 21h15, em sua TV digital, às duas partes do vídeo 03:
Assim, o tema será debatido por três educadores: Bernadete Gatti, da Fundação
Carlos Chagas; Helena Freitas, da UNICAMP; e Francisco Aparecido Cordão, do
Conselho Nacional de Educação. O debate será em torno da questão: “O Curso de
Pedagogia é adequado para a formação de professores?” Se não, o que seria mais
adequado?
82
Para ampliar a reflexão, alguns marcos legais do assunto serão apresentados,
como a obrigatoriedade do diploma de licenciatura em nível superior para o exercí-
cio da profissão, como previsto no artigo 87 da LDB. E serão ainda mostradas duas
situação práticas: uma na Escola Estadual Romeu de Moraes e outra no curso de
formação do REDEFOR. Há, ainda, a possibilidade de acompanhar a rotina de um
Legislação Educacional
professor que dá aulas em quatro escolas diferentes, mostrando os obstáculos de
tempo e espaço para a formação docente. Saib
Esse vídeo pode ser acessado, também, por meio da Ferramenta Material de Apoio, Saiba
4. Vários municípios brasileiros alegam não poder arcar com as despesas de-
correntes da lei do piso salarial. Comentem.
83
Atividade 20 – Participar do Fórum 01 – Considerações acerca da Política
Nacional para a formação dos profissionais da educação
Vamos discutir os conteúdos da Parte VIII do texto 01 – A organização Legal da
Educação Básica, interagindo no Fórum 01 – Considerações acerca da Política Na-
cional para a formação dos profissionais da Educação.
Importante: Não está previsto período de recuperação de prazos para essa atividade.
Atividade avaliativa -
Valor: 10.00 Peso: 3
Tipo de atividade: Individual.
Objetivos:
• Refletir e discutir com os colegas sobre a Política Nacional para a formação dos
profissionais da Educação.
Critérios de avaliação:
• Critérios gerais de produção textual (vide Manual do Aluno).
• Critérios gerais para participação no Fórum (vide Manual do Aluno).
• Cumprimento da proposta.
• Interação com os colegas.
• Participação no prazo determinado.
Prazo para participação:
• até 20/02/2013 – sem desconto em nota.
84
Bloco 3 Disciplina 25
Legislação Educacional
indicaram a necessidade de construção de um novo modelo de
gestão educacional capaz de assegurar, para todos, uma edu-
cação básica de qualidade, vista como uma das condições es-
senciais do desenvolvimento humano. (FREITAS, 1998, p. 30).
Observem que, durante a terceira semana, não temos propostas de atividades ava- Saiba
liativas. Entretanto, se fizerem as postagens indicadas nas atividades 21 e 23, bem
como nas datas propostas, poderão contar com os comentários formativos de seus
Orientadores para o aprimoramento final de seu PIP. Saib
Atenção: As atividades presenciais deverão ser publicadas até o final da aula. Saiba
Saiba Ma
Observem abaixo as atividades programadas para a semana:
Saiba M
5ª Aula Presencial – 11/02/2013 – 2ª feira (Feriado)
5º Período Virtual – 12 e 13/02/2013 – 3ª (Feriado) e 4ª feira
Atividade 21 – Sistematizar o Plano de Intervenção Pedagógico Saiba
Saiba M
6ª Aula Presencial – 14/02/2013 – 5ª feira
Atividade 22 – Orientação de TCC
Referência
FREITAS, Dirce Nei Teixeira de. A gestão educacional na interseção das políticas federal e municipal. Rev. Fac.
Educ. [online], São Paulo, v.24, n.2, p. 29-50, 1998.
85
Saiba Mais
Saiba Mais Saiba Mais
3ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
Saiba Mais
5ª Aula Presencial – 11/02/2013 – 2ª feira (Feriado)
86
Bloco 3 Disciplina 25
Legislação Educacional
mas como participação da comunidade na vida da escola, au-
tonomia da escola, conselho escolar, eleições para escolha do
dirigente escolar, projeto político-pedagógico, dentre outros, es-
tão cada vez mais presentes no cotidiano de nossas escolas e
em muitos sistemas de ensino. (RESENDE; SILVA, 2008, p. 97).
Saiba Mais
Olá Caríssimos,
Chegamos à etapa final da D25, esperamos que os estudos realizados ao longo
da disciplina tenham contribuído para melhorar seu conhecimento sobre os funda-
mentos legais que embasam a construção da política educacional voltada para a
educação básica no Brasil.
Desse modo, vocês se encontram em condições de concluir o Plano de Intervenção
Pedagógica. Ao propor a construção do mesmo, procuramos tornar mais prático o
estudo da legislação educacional dentro de uma perspectiva metodológica de pes-
quisa ação, ou seja, de Reflexão-Ação-Reflexão.
Excetuando o Plano de Intervenção Pedagógico e a prova final, as atividades pro-
postas durante esta quarta semana não serão avaliativas, contribuindo assim, ape- Sai
nas, para seus estudos. Aproveitem esse período para tirar suas dúvidas e para
entregar as eventuais atividades atrasadas. Vocês deverão postá-las até quarta-feira,
dia 20 de fevereiro de 2013, às 23h55, data final do período de revisão e recuperação
de prazos. Fiquem atentos, pois as atividades entregues após esse prazo não serão
avaliadas.
Observem abaixo as atividades programadas para a semana:
Saib
7ª Aula Presencial – 18/02/2013 – 2ª feira (Revisão/Recuperação)
Atividade 25 – Discussão do Plano de Intervenção Pedagógico em grupos temáticos.
Atividade Avaliativa
87
Sa
S
Referência
RESENDE, Fernanda Mota de Paula; SILVA, Marcelo Soares Pereira da. “Gestão democrática e Cultura or-
ganizacional escolar”. In: SILVA, Maria Vieira; MARQUES, Mara Rúbia Alves. LDB balanços e perspectivas.
Campinas, SP: Alínea, 2008.
Atividade Avaliativa
88
Saiba Mais
Saiba Mais
4ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
7ª Aula Presencial – 18/02/2013 – 2ª feira (Revisão/Recuperação)
Legislação Educacional
temáticos
Reúnam-se aos colegas que desenvolveram Planos de Intervenção sobre a mesma
linha temática escolhida por vocês e façam uma breve apresentação de seus Planos.
Discutam, especialmente, as Metas e o Plano de Ação de cada um dos projetos,
tentando, na medida do possível, fazer contribuições significativas para o aprimora-
mento dos trabalhos dos colegas.
dúvidas.
89
Importante ressaltar que esse trabalho e a prova presencial compõem a avaliação
final da disciplina.
Atenção: Não está previsto período de recuperação de prazos para essa atividade.
Dessa forma, as postagens do PIP, realizadas após dia 21 de fevereiro de 2013, não
serão avaliadas.
Observação: Essa atividade poderá também ser convalidada como horas de es-
tágio. Para tanto, vocês deverão postar o Plano de Intervenção Pedagógico (PIP)
TAMBÉM no Portfólio Individual do Ambiente de Orientações de Estágio, com o título
Estagio_ Gestão_D25_Atividade28, até o dia 21 de fevereiro de 2013, às 23h55. (Ob-
servação: não acentuem a palavra *Estágio* quando nomearem seus arquivos). Este
trabalho, por ter um caráter interventivo, corresponderá ao cumprimento de 10 horas
de estágio em Gestão Educacional.
Atividade avaliativa - Associar à avaliação
Compartilhar com formadores
90
Saiba Mais
Saiba Mais
8ª Aula Presencial – 21/02/2013 – 5ª feira - Avaliação
Legislação Educacional
Esta prova é composta de questões dissertativas e deve representar para vocês um
momento de reflexão.
Boa prova!
Atividade avaliativa
Valor da nota: 10,00 Peso: 4
Tipo da atividade: Individual. Saiba Mais
Objetivos:
• Avaliação da aprendizagem em Legislação Educacional.
Critérios de avaliação:
• Produção textual (Manual do Aluno).
• Análise crítica dos conteúdos discutidos e compreensão dos aspectos mais re- Saiba Mais
levantes da D25 – Legislação Educacional
91
92
Princípios Gerais da
Administração Escolar
Professor autor:
Bloco 3 Disciplina 26
Outra maneira possível, mas ainda pouco difundida de se pensar a questão da escola,
propõe que se inicie a discussão por uma questão anterior: a distinção entre o público e o priva-
do no plano da vida da humanidade. Autores da relevância de Hanna Arendt, Norberto Bobbio
e Juergen Habermas, por exemplo, entre muitos outros que poderiam ser recrutados, mesmo
sem se referir diretamente à questão da escola apresentam contribuições extremamente signi-
ficativas para um outro plano de discussão. Pela leitura de autores consagrados ou, simples-
mente, pelas experiências do cotidiano, sabemos todos das diferenças e das implicações que
elas trazem sobre a esfera pública e a esfera privada. O público diz respeito ao bem comum e
à transparência das ações e dos significados; o privado diz respeito aos interesses localizados
e ao segredo dos negócios. Nestes termos, uma escola do setor público será substancialmente
diferente de uma escola do setor privado. Elas podem ter estruturas semelhantes, mas orien-
tam-se por valores diferentes.
94
A genericidade das tentativas de produção de conhecimento sobre administração esco-
lar talvez se expressasse melhor sob a rubrica das denominações Administração Educacional
e Administração da Educação, que com ela concorriam.
Não apenas os temários das investigações desenvolvidas passavam ao largo das rela-
ções internas das escolas, como também o caráter positivista da concepção de ciência em que
elas se pautavam contribuía para a pouca visibilidade da escola como instituição ou como
organização. Métodos quantitativos e registros estatísticos diluíam a percepção da escola
como entidade dinâmica, fonte de tensões, mas também de projetos de vida e de trabalho.
95
iplina
da Disc
er a l
Visão G
tes concepções de ciência privilegiem seus próprios referenciais, existe um consenso mínimo
sobre algumas condições a serem observadas sempre que se pretenda atribuir a condição de
“científico” a um determinado campo de conhecimento. Dentre essas condições, a principal
é, sem dúvida, a observação adequada dos fenômenos cujo sentido se pretende explicar. Sem
uma observação acurada e reiterada a descrição do obervado fica comprometida e a explicação
decorrente, prejudicada. Como chegar, então, a previsões consistentes?
O abandono dos caminhos até aqui percorridos na tentativa de se estabelecer uma ade-
quada relação teoria e prática no campo da administração escolar não significa que a relação,
como tal, deva ser abandonada. Nada se ganharia se as questões da área fossem reduzidas à
analise das práticas institucionais, sendo essa análise conduzida apenas à luz do bom senso
ou do próprio senso comum. A alternativa a ser formulada não é a de deixar a teoria de lado
– é a de criar a teoria de que necessitamos.
96
dável da pessoa humana e, como tal, subordinado à tutela do Estado. Na luta ideológica que
perpassa a sociedade, no entanto, a perspectiva é outra: a educação é uma mercadoria sujeita
às relações de compra e venda no mercado e, como tal, disponível apenas a quem dispuser
de recursos para adquiri-la. Para muitos, promover a venda de uma mercadoria é mais fácil
e, certamente, mais rentável do que assegurar a realização de um direito.
A proposta desta disciplina orienta-se, por isso, pela lógica do direito à educação e
procura contribuir para que as escolas se organizem em função desse direito. A disciplina se
estrutura com base em três núcleos temáticos, desenvolvidos, cada um deles, a partir de dois
textos de referência de diferentes autores. Dos textos de referência são derivadas as ativida-
des previstas para a disciplina.
97
iplina
da Disc
er a l
Visão G
• Texto 2 – “Participação e escola”, capítulo 1 do livro Por que é tão difícil partici-
par. O exercício da participação no campo educacional, de Gustavo Luis Gutierrez.
Os textos selecionados são ilustrativos das discussões possíveis em cada tema. Não
pretendem, evidentemente, exaurir essa discussão. Pretendem apenas sugerir aspectos rele-
vantes para a reflexão sobre os temas e sua significação.
Além das atividades especificamente previstas para a disciplina, são apresentadas ati-
vidades opcionais para estágio, também com base nos temas propostos. Para cada tema são
sugeridas duas atividades, devendo os alunos realizar pelo menos uma delas, à sua escolha,
ou ambas, se o desejarem.
98
As atividades propostas são as seguintes:
99
A administração da
escola pública. Equívocos
e implicações
1
1. Originalmente publicado em: SILVA JUNIOR, Celestino Alves da. A escola pública como local de trabalho. São Paulo: Cortez;
Autores Associados, 1990. Capítulo 2, p. 57-84. (Coleção educação contemporânea). ISBN 85-249-0276-0.
100
“As escolas não existem para serem administradas ou inspecionadas. Elas existem
para que as crianças aprendam” (SILVA JUNIOR, 1977, p. 18). Escrevi essas palavras há
cerca de doze anos, em minha dissertação de mestrado apresentada à Faculdade de Educação
da Universidade de São Paulo. Discutia naquela ocasião a necessidade de uma revisão crí-
tica da prática ainda incipiente da supervisão em nossos sistemas escolares. Ao longo desse
tempo a administração escolar, corpo teórico-conceitual e processo prático-institucional que
Confrontada à situação de São Paulo, a situação dos demais Estados brasileiros apre-
senta também suas peculiaridades. A principal delas é a de que nesses Estados a direção de
escola tem sido tratada prioritariamente como “questão política”. no sentido de que sempre
se considerou o diretor de escola como portador de um “cargo de confiança” da administra-
ção pública. Sob esse aspecto a discussão atual também se circunscreve ao plano político, já
que a proposta de eleição visa retirar a investidura do diretor de escola da órbita político-par-
tidária para situá-Ia no universo de decisão dos professores e da “comunidade escolar”. O
que se coloca no centro da discussão é a legitimidade do exercício do poder na escola e não,
necessariamente. a finalidade da escola como instituição social predominantemente voltada
à transmissão do saber. Nessa posição fica implícito o entendimento de que a administração
escolar não se constitui em um saber técnico especializado ou, pelo menos, o de que sua
existência c sua consistência não são suficientemente significativas para distinguir e creden-
ciar alguém por seu domínio. Em razão disso, o professor-diretor deveria ser detentor apenas
de um mandato e não de um cargo.
Como se pode observar, uma primeira grande indagação se coloca nessa discussão: a
administração escolar enquanto “saber estruturado com pretensão à objetividade” (VALE,
1985) teria já alcançado um satisfatório grau de desenvolvimento que lhe assegurasse, nos
termos de Scheffler, por exemplo, o caráter de ciência subjacente à prática profissional da ad-
ministração escolar? (SCHEFFLER, 1974) Admitindo-se para efeito de argumentação como
correta a posição que vem sendo observada em São Paulo, uma indagação complementar se-
ria: em que consiste esse saber estruturado sobre administração escolar? Uma nova indaga-
ção complementar e necessária seria: que concepção de ciência orientou e orienta o esforço
de construção desse saber?
Nagle aponta uma extensa relação de deficiências que, a seu ver, marcam esses estudos
e sugere diretrizes para sua reformulação. Das deficiências que apresenta, a mais significati-
102
va é, sem dúvida, a desconsideração da dimensão histórica das questões e dos problemas de
que os estudos se ocupam. Da mesma forma. “os estudiosos da Administração Escolar (...)
parece que se recusam a relacionar questões e problemas de seu campo com os movimentos
da sociedade”.
Nagle fala, quase que certamente, de estudos que se repetiram com razoável frequ-
ência nos anos setenta. Parece-me importante, a essa altura, uma referência a um texto de
1968, em que José Querino Ribeiro, um dos pioneiros desses estudos em São Paulo e no
Brasil, busca, em suas palavras, examinar “os fundamentos, os princípios e os objetivos da
Administração (‘tout court’) que, admitimos, podem também aplicar-se à empresa escolar’
(RIBEIRO, 1968, p. 28, grifo nosso).
Duas certezas parecem nortear esse e outros estudos, anteriores e posteriores, de Que-
rino Ribeiro: a) a validade do conceito de “empresa escolar” e b) a possibilidade de uma
administração que seja aplicável “à escola como a qualquer outro tipo de empresa”.
103
Na administração da grande empresa escolar (grifo do autor) o objetivo
direto é o trabalhador, a estrutura, o financiamento, tudo, é claro, a servi-
ço do educando, que, sem embargo, coloca-se como objeto indireto (grifo
nosso). Nesse sentido a empresa escolar é semelhante às demais: à hospi-
talar, à de transporte, e a que outras grandes empresas se possam lembrar.
Temos até aqui consignado um primeiro momento desta reflexão. Refere-se ele a uma
perspectiva de estudos sistemáticos de administração escolar que viessem a sustentar uma
política de profissionalização do exercício da administração escolar. Esses estudos, cuja sig-
nificação teórica e prática analisarei posteriormente, partiram de uma base institucional re-
lativamente poderosa e deram respaldo à consolidação de uma posição que já se manifestava
no interior do aparelho do Estado. Por ela, a direção de escola em São Paulo recebia trata-
mento de questão específica e seus praticantes deveriam, consequentemente, ser considera-
dos como profissionais especializados.
104
terminassem por lhes emprestar a sua própria qualificação. Foi com algum desconforto ini-
cial que os responsáveis pela elaboração teórica e o ensino da administração escolar viram
aproximar-se aqueles que, em tese, constituíam a materialização de seu trabalho. Como mui-
tas vezes ocorre, teoria e prática pareciam em dificuldades para conviver adequadamente em
um mesmo espaço institucional.
Mais uma vez as coisas se colocam diferentemente em São Paulo e nos demais Estados
da Federação brasileira. Favorecido, entre outros fatores, pela maior concentração de cursos
de pós-graduação, o debate em São Paulo logo adquire ressonância no plano acadêmico, com
o aparecimento de trabalhos e propostas de revisão crítica da literatura de administração
escolar existente. No plano da organização política do magistério, entretanto, a consciên-
cia da necessidade da aproximação em favor de objetivos e necessidades mais prementes e
comuns faz com que as diferentes entidades, em que o magistério público de São Paulo se
subdivide, estabeleçam um acordo tácito no qual a questão da direção de escolas não chega a
ocupar uma posição de relevância. Em seu lugar, discute-se mais intensa e interessadamente
a questão do Conselho de Escola, afinal consagrado pela legislação específica. A questão da
investidura do diretor permanece em compasso de espera, até porque a legislação existente
a disciplina de forma consistente e historicamente inquestionada.
Ao longo do Brasil, por outro lado, cresce a disputa e a animosidade entre “especialis-
tas” e professores. Estes, autoproclamados “proletariado” do sistema escolar, investem con-
tra a “burguesia” apontada do sistema: diretores, orientadores, supervisores, coordenadores
105
e assistentes pedagógicos. Não sem razão, argumenta-se com a “inchação burocrática”, com
a neurose do “controle”, com as marcas e deformações enfim, produzidas pelo autoritarismo
e que, numa visão ingênuo-reducionista, se apagariam com a eleição do diretor da escola
pela “comunidade”. Comentei anteriormente que “a crítica ingênua, segundo a qual apenas
o professor teria condições de interpretar e encaminhar satisfatoriamente as soluções das
questões educacionais funda-se, na verdade, num estranho postulado. A seu ver, o professor,
e apenas ele, teria passado incólume pelas determinações do contexto autoritário de toda
uma época” (SILVA JUNIOR, 1986).
O eloqüente autor-assessor não se detém nem mesmo diante de afirmações que, por
surpreendentes e diferentes da evidência disponível, demandariam um esforço de documen-
tação e comprovação. Falando da perspectiva da direção de escola como um exercício profis-
sional devidamente regulamentado, ele assim se manifesta:
Esse processo tem gerado, em nível nacional, calorosas discussões e, em
geral, não se tem chegado a um consenso a respeito. Ele responde essen-
cialmente à crescente burocratização do serviço prestado pela organização
escolar (ZABOT, 1984, p. 88, grifo nosso).
106
com a comunidade? Será sempre possível conciliar interesses exógenos
com a necessidade de grupos de que a escola participa? Como servir a dois
senhores, quando ambos são diferentes e convergentes? Dá sempre para
ser grato ao “padrinho” e aberto à comunidade? Como estranhar a mútua
rejeição se um administrador ignora e não leva em conta a prática acumu-
lada do docente? (CURY, 1985, p. 46).
Cury não se precipita apenas nas passagens que indiquei. No mesmo texto, de 1985, ele
registra sua euforia com as eleições de 1982:
Se houve uma figura perdedora, ao menos nas urnas, essa foi a do tecnocra-
ta, isto é, o “fazedor de pacotes”. Longe das necessidades sociais, distante
do cotidiano, perto do centro do poder, próximo de ambientes assépticos,
o tecnocrata fala o monólogo das ordens e espera respostas passivas e con-
formistas dos interessados. E se houve uma palavra vencedora, essa foi a
participação. Já anteriormente incorporada até nas exposições de motivos
e documentos oficiais, essa palavra vitoriosa sugere uma nova forma de
pensar a administração da coisa pública (CURY, 1985, p. 45, grifo nosso).
Escrevo em 1989, quatro anos após a publicação das observações de Cury. Longe da
condição de derrotados nas urnas, os tecnocratas – apenas, e, nem sempre, outros – conti-
107
nuam sua faina de “fazedores de pacotes”, enquanto a “palavra vitoriosa” da “participação”
continua aguardando sua oportunidade de “encarnar e habitar entre nós”. De qualquer forma,
é justo e necessário ressaltar que a defesa, por vezes apaixonada, da “decisão comunitária”
cumpre a importante tarefa de recolocar em evidência a discussão sobre o papel da escola
na sociedade brasileira e, ainda que tangencialmente, direciona essa discussão para seu foco
principal, a realização necessária do processo de ensino. Não existem evidências significati-
vas de que essa realização venha a ser favorecida pelo abandono da tradição paulista, mas é
relevante consignar o empenho na busca de formas que assegurem sua efetiva concretização.
Como se pode perceber, a discussão sobre o trabalho do diretor de escola não privile-
gia seu aspecto essencial: a finalidade pedagógica de sua ação. O vínculo necessário ensino/
administração é deixado de lado em ambos os polos do debate. No polo “teórico-técnico”,
a busca da identidade própria da administração escolar tende a aproximá-Ia muito mais
da “administração” do que do “escolar”, ou seja, o fato administrativo apresenta-se como
substantivo e o fato pedagógico apenas como contingente. Isso fica bastante evidenciado
nos textos de Querino Ribeiro e em toda corrente de pensamento que se Ihes segue. Como
decorrência, o desenvolvimento teórico procurado para a administração escolar é apenas a
continuada apropriação das teorias administrativas de base empresarial que se vão suceden-
do na literatura especializada. As condições concretas de existência da escola são deixadas
de lado. Apenas se supõe que elas poderão ser alteradas para melhor quando analisadas à luz
das “modernas teorias de administração” que fornecerão as “pistas” para a elaboração de
novos modelos e procedimentos.
108
Discuti há algum tempo (SILVA JUNIOR, 1984) a supervisão da educação enquanto
atividade especializada que se desenvolve no interior do trabalho pedagógico. Busquei na-
quele texto examinar algumas das principais dificuldades que se colocam para essa ativida-
de profissional, tendo em vista o grau ainda incipiente de sistematização teórica disponível
para sua fundamentação. A insuficiência dessa fundamentação se deve, como é sabido, não
apenas à reduzida significação dos estudos até aqui desenvolvidos, mas também, e, prin-
Não parece muito diferente o panorama dos estudos relativos à administração da edu-
cação, não obstante a óbvia distância em que eles se colocam quando confrontados aos de
supervisão da educação. É evidentemente maior e mais conhecida a tradição dos estudos
relativos à administração da educação, já porque eles cobrem um universo teórico mais
abrangente e estruturado, já também porque derivam das ricas vertentes dos estudos de ad-
ministração geral e empresarial, fartamente estimulados desde a chamada Revolução Indus-
trial. Creio, no entanto, que, tal como acontece com a supervisão, também a administração
da educação em suas linhas tradicionais de desenvolvimento teórico tem-se ocupado muito
mais do “administrativo” que do “educacional”. Ou seja, busca-se definir uma especializa-
ção profissional no interior de uma atividade já de si especializada, como é a educação, sem
que se registre a preocupação de identificar aquelas características próprias da especiali-
dade mais ampla que fatalmente carregam em si os limites e as determinações a partir dos
quais a especialidade mais restrita deverá se desenvolver. O especialista em administração
da educação é, em princípio, também um especialista em educação. “Também”, no caso, não
significa decorrência, mas concomitância necessária. Antes, a especialização em educação é
que se apresenta como uma precondição para o exercício de sua administração. Não se pode
administrar proficientemente uma atividade cuja natureza peculiar nos escapa. Parece-me,
pois, útil reiniciar nossa discussão por um comentário, ainda que resumido, sobre a questão
da especialização em educação.
A partir do mestre baiano abre-se uma pista para a recuperação do pensamento crítico
brasileiro sobre administração da educação. É possível, além de necessário, situar o que se
espera da administração analisando em primeiro lugar os fundamentos do fenômeno e do
processo a que ela deve servir, ou seja, a própria educação.
110
Ato educativo e processo administr ativo
O pedagogo alemão Schmied-Kowarzik chama a atenção para a necessidade de não
se perder de vista a distinção necessária e esclarecedora entre a Pedagogia, “ciência prática
da educação”, e a “práxis educacional” propriamente dita. Os especialistas que produzem
a “ciência prática da educação” só acidentalmente se identificam com os especialistas que
111
administrativa a ser elaborada. Em sentido estrito, a administração é sempre “da educação”,
que lhe determina o substrato teórico e a direção da prática.
Quando “ministra” sua aula, o professor “administra” essa aula, ou seja, estabelece as
condições em que a aula se processa. Em seu trabalho docente fundem-se o comportamento
administrativo e o comportamento técnico-didático. O domínio das condições é a garantia
da realização do ato de ensino. O “esforço humano orientado para a realização de fins”, mar-
ca essencial do processo administrativo, tem aí sua possibilidade máxima de viabilização.
Um único indivíduo responde pela ordenação dos meios em relação aos fins a que se propõe.
A aula é, ao mesmo tempo, instrumento e finalidade.
112
Como se percebe, é mais fácil identificar os limites da ação administrativa na educação
do que propriamente definir sua especificidade. Tal como já assinalei em relação à supervi-
são, a especificidade da administração da educação decorre da especificidade da educação.
É sobre essa, pois, que devemos concentrar uma vez mais nossa atenção.
Acredito ter indicado urna pista significativa nessa discussão quando escrevi que “edu-
Apesar de um tanto longa, creio ser útil a citação a seguir de um texto em que discuto
mais abrangentemente a questão da organização do trabalho na escola:
Não pleiteio, entretanto, que nenhum aspecto das teorias administrativas
elaboradas sob o modo capitalista de produção possa ser aplicado de modo
favorável à vida das escolas. Na verdade. é preciso ter claro os dois aspec-
tos principais da teoria e da prática da administração capitalista. De um
lado ela se volta às atividades de gerenciamento, isto é, ao controle das
relações de trabalho entre pessoas. De outro, ela se ocupa da racionaliza-
ção, da distribuição de tarefas especializadas que buscam o incremento da
produtividade.
114
Enquanto “gerência”, a administração da educação lida com as relações
entre educadores; busca articular as diferentes contribuições que se espe-
ra estejam em desenvolvimento no interior do trabalho pedagógico. En-
quanto “racionalização”, a administração da educação pretende elaborar
as formas mais eficientes e eficazes de realização dos empreendimentos a
que se volta. Nem a gerência nem a racionalidade são elementos antagôni-
115
Estariam os nossos administradores escolares em condições de discernir esses aspec-
tos preferenciais de seu trabalho? Estariam eles em condições também de apreender a his-
toricidade e as limitações das teorias administrativas normalmente preponderantes em seus
ambientes de trabalho e de formação profissional? Muito provavelmente as respostas a essas
questões devem ser negativas e sobre esse ponto, então, é necessário que concentremos nossa
reflexão.
Quem são nossos administradores escolares? Onde se formam, que contribuições (ou
deformações) trazem de sua experiência profissional anterior como professores? Como in-
terpretam a passagem da função de ensino para a função administrativa? E, principalmente,
como percebem a articulação entre as duas funções?
De qualquer modo, é preciso pensar que existe uma administração escolar instalada e
que essa administração é conduzida por profissionais autorizados a um exercício mínimo de
um processo decisório. Sobre o que e a partir de que decidem nossos administradores esco-
lares é a discussão que devemos encetar a seguir.
116
As decisões mais frequentes do diretor de escola são as que, de um ponto de vista
técnico, costumamos chamar de “decisões operativas”, ou seja, dizem respeito apenas ao
modo de execução de deliberações estabelecidas em instâncias mais altas do sistema. Como
comumente não se questiona o modo de funcionamento do sistema, os fundamentos das
decisões do diretor de escola costumam ser apenas a necessidade e a obrigatoriedade que
lhe são introjetadas de dar curso às determinações dos níveis mais altos. Nesses níveis mais
Há, no entanto, a possibilidade, apontada por Vale, de alterar de alguma forma essa
imposição do modelo burocrático que rege nossas organizações escolares. A possibilidade
decorre das características do próprio modelo e diz respeito à considerável distância que
separa o diretor de escola dos níveis mais altos da cúpula do sistema. Por outro lado, é ainda
Vale quem destaca, coloca-se a proximidade natural entre o diretor e os professores de sua
escola. São esses dois elementos, a distância da cúpula e a proximidade do ensino, que dão
ao diretor de escola a perspectiva de redirecionar o sentido habitual de seu trabalho, fazen-
do com que ele se volte às suas raízes originais. Desarticulando-se, em termos, dos órgãos
centrais e articulando-se com seu pessoal docente, pode o diretor propiciar condições para
que se elabore o projeto pedagógico de sua escola, aquele projeto que vai dar a marca de seu
trabalho pedagógico e identificar o sentido de seu compromisso educacional. Para isso, no
entanto, o diretor precisará não apenas de espaço institucional, mas, também, e principal-
mente, de uma clara compreensão de seu papel de dirigente.
O dirigente, dizia Gramsci numa das mais conhecidas passagens de sua obra, é aquele
que consegue reunir à sua condição de especialista a sua condição de político. Por isso se dis-
tingue do dominante. Por não se valer da coerção e por não decidir sem estar credenciado a
fazê-Io. Não sendo um simples delegado da força institucionalizada, o dirigente é ao mesmo
tempo partícipe e condutor do processo que dirige. O que o credencia é o saber especializado
que detém e o que o autoriza é a confiança de seus pares. Ao primeiro ele terá chegado pelo
estudo e pela experiência criticamente analisada. A segunda ele a terá alcançado pela clareza
e a constância de seu propósito de vida pessoal e profissional.
117
Existirá um tal diretor?, perguntará quase que certamente alguém acostumado a pen-
sar o diretor como o representante obrigatório e inevitável de um sistema de forças a que
serve. A pergunta é cabível à luz da experiência acumulada dos últimos anos, mas a resposta
pode ser positiva quando se consideram os progressos obtidos pelo debate educacional que
se acentua. A grande dificuldade ainda reside na estratificação de certas posições que, um
pouco por desinformação e outro tanto por calculismo, preferem mitificar o professor e “pro-
tegê-Io” dos “riscos” da aproximação com os educadores que exercem funções para além
dos limites da sala de aula. São as mesmas posições que sugerem que o diretor nunca foi
professor ou que não possa sê-lo cumulativamente.
Para nos situarmos melhor sobre as posições emergentes entre os profissionais da escola
pública, passo no capítulo seguinte à análise de algumas de suas percepções e representações.
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120
A ADMINISTRAÇÃO
EDUCACIONAL E A
ABORDAGEM SOCIOLÓGICA
João Barroso
Professor Catedrático da Universidade de Lisboa. Tem como área de
investigação e ensino Políticas de Educação e Formação e como grupo
de investigação Política e Administração Educacional.
121
A Administração Educacional como ciência, disciplina ou campo de estudo nasceu sob
o signo da ambiguidade, “comprimida” entre dois territórios de conhecimentos e práticas,
anteriormente constituídos, mas ainda em processo de afirmação: as” Ciências da Educa-
ção” e as “Ciências da Administração e Gestão”. O primeiro, reduzindo a importância das
questões administrativas e organizativas da escola a um campo de aplicação da Pedagogia
e da Didática Geral, devidamente “assistidas” pela Psicologia da Educação enquanto dis-
ciplina credibilizadora de uma “área de estudos” em busca de estatuto e reconhecimento
científico (ver a este propósito CORREIA, 1998). O segundo, reivindicando o monopólio dos
estudos administrativos e organizacionais e fazendo do sistema educativo e das escolas um
campo de aplicação das teorias da administração e organização, em afirmação crescente no
comércio e indústria desde o primeiros anos do século XX.
Esta “disputa” de territórios e de dependências era agravada pelo fato de, quer as Ciên-
cias da Educação, quer as Ciências da Administração e Gestão estarem, também elas, num
processo de afirmação “juvenil”, perante os que consideravam que a educação e a adminis-
tração não passavam de campos de práticas, dispensando, por isso, o saber teórico de que se
reclamavam aquelas disciplinas.
Por tudo isto, pode dizer-se que a Administração Educacional nasceu sob o signo da
inutilidade ou da redundância.
Inutilidade porque, à semelhança do que era dito das próprias “administração” e “edu-
cação”, a administração da educação, para ser bem exercida, necessitava unicamente do res-
peito das normas e das regras que fixavam os procedimentos e as rotinas a adotar. E quanto
ao resto, o “saber” de profissionais experimentados era suficiente para resolver, com bom
senso, os casos particulares que fossem surgindo.
122
Perante estas dificuldades, não admira que a Administração Educacional, enquanto
disciplina autônoma, só muito recentemente tenha dado os primeiros passos, como “dis-
ciplina acadêmica”, em instituições de ensino superior e como área de estudo científico. O
surgimento desta disciplina começa por ser um fenômeno estritamente norte-americano, na
primeira metade do século XX, que depois se estende progressivamente ao Canadá e Reino
Unido, principalmente a partir da década de 70 e, mais tarde ainda, nos anos 80 em outros
Não admira, portanto, que, neste contexto, a pressão para responder às exigências dos
políticos e solicitações dos práticos fosse bastante forte e se criassem condições para, em
muitos casos, a Administração Educacional cair num simples “gerencialismo”, centrado na
“correção” dos processos (racionalidade técnica), sem qualquer suporte na investigação ou
nos contributos teóricos de outras Ciências Sociais, em especial a Análise Organizacional e
a “Nova” Sociologia da Educação.
Esta situação explica que, na tentativa de contrariar este “vazio” teórico e este “desvio”
pragmático, e a partir do momento em que, por força das medidas políticas, a escola “como
organização” adquiria um interesse teórico próprio (pela sua “densidade” social), se come-
çasse a desenvolver uma “sociologia das organizações educativas” que discute (e disputa o
sentido) os discursos e práticas de uma Administração Educacional “rendida ao gerencia-
lismo”. Os contributos desta “sociologia das organizações” vão ser importantes para uma
redefinição da Administração Educacional, nos anos 90, mas não retêm o exclusivo dessa
influência.
Na verdade, ao contrário do que as críticas sociológicas poderiam fazer crer, nem todo
o campo da Administração Educacional estava rendido à miragem facilitadora do instru-
mentalismo reinante nas “ciências da gestão”, ou presa de um fixismo teórico positivista que
marcara os seus primeiros passos, na tentativa de constituição de uma “ciência” autônoma.
123
[A Administração Educacional] evoluiu de uma situação de dependência
em relação a ideias desenvolvidas em outros campos para se tornar numa
disciplina estabelecida com teorias próprias e alguns dados empíricos para
testar a sua validade na educação. Esta transição foi acompanhada por uma
animada discussão para saber, até que ponto, a educação deve ser vista,
simplesmente, como um outro campo de aplicação dos princípios gerais
da administração e gestão, ou como uma disciplina separada, com o seu
próprio corpo de conhecimentos.
Esta questão é hoje um problema central na afirmação desta disciplina e existe uma
controvérsia importante no meio acadêmico e nos investigadores que se reclamam desta área
que não se deve ignorar. Por isso, mais do que fazer uma “história” da disciplina baseada no
protagonismo que várias teorias da administração e da organização foram tendo, ao longo
do tempo, nos diferentes estudos desenvolvidos sobre a escola e sua administração, importa
conhecer o debate epistemológico que, desde os anos 50 tem sido animado por alguns auto-
res, de que se destacam Halpin, Griffits, Greenfields, Hodgkinson, Hoy e Miskel, Willower,
Bates e mais recentemente Evers e Lamomski, entre tantos outros.
São alguns dos elementos deste debate, que Hodgkinson (1996) diz estar na origem
de uma “emergente filosofia da Administração Educacional”, que irei apresentar resumi-
damente de seguida, pondo em destaque os elementos mais significativos da evolução de
paradigmas que marcaram o desenvolvimento desta disciplina, entre o positivismo reinante
até aos anos 70, a ruptura marcada pelas críticas de Greenfield, baseadas numa visão subjec-
tiva e humanista da Administração Educacional e a tentativa da sua recientificação, baseada
numa “teoria da administração prática” (materialismo pragmático) proposta por Evers e La-
momski.
124
O “New Movement” e o domínio do
par adigma positivista
Até os anos 50, pode dizer-se que os estudos sobre a administração da educação estive-
ram quase que exclusivamente confinados aos EUA e adoptaram como referência os princípios
de racionalidade, os objectivos de eficiência e as técnicas de gestão dominantes na “organiza-
ção científica do trabalho”. É de registrar, contudo, como assinala Hughes (1987), que a litera-
A situação altera-se com o intenso debate teórico e epistemológico gerado pela tentati-
va de construir uma teoria específica para a Administração Educacional (movimento conhe-
cido por New Movement), iniciado nos E.U.A. nos princípios dos anos 50 e pela controvérsia
desencadeada pelas críticas e propostas alternativas do canadiano Greenfield, a partir dos
meados dos anos 70.
Na linha das críticas já proferidas por Simon (1983, p. 38) aos conhecimentos difun-
didos pelas “teorias clássicas” de administração (Taylor, Urwick, Fayol, etc.) que conside-
rava sofrerem de “superficialidade, supersimplificação e falta de realismo”, os promotores
do “New Movement” punham em causa “a teoria feita pela prática dos administradores”
(THOMPSON, 1967, p. 25, 27), cuja literatura não passava de “uma mistura de senso co-
mum, categorias descritivas ligeiramente distantes do senso comum, e slogans e frases com
forte sentido apelativo, mas pouco mais”.
125
A primeira tarefa da teoria administrativa consiste em desenvolver um
conjunto de conceitos que permitam a descrição, em termos relevantes
para a teoria, de situações administrativas. Os conceitos, para serem cien-
tificamente úteis, devem ser operacionais: isto é, o seu sentido deve corres-
ponder a factos ou situações observáveis.
Apesar das perspectivas abertas pelo paradigma teórico que presidiu à reformulação dos
estudos sobre a Administração Educacional a partir dos anos 50, nos Estados Unidos, o “New
Movement” ficou aquém das expectativas inicialmente anunciadas pelos seus promotores.
Como nota Hughes (1987) “o ideal de uma ciência da administração educacional ba-
seada numa única grande teoria tornou-se menos atraente, a partir dos meados dos anos
60” (p. 17). Os próprios “fundadores” deste movimento reconhecem mais tarde que as suas
ambições eram exageradas. Griffiths, por exemplo, aconselha em 1966, que “a busca de uma
teoria abrangente (se é que alguém ainda a procura) deve 1. Um dos aspectos em que esse recuo
ser abandonada (...) Aprendemos que uma abordagem mais é notório diz respeito à suposta influência
modesta da teoria é mais gratificante” (citado por HUGHES. que a teoria da administração educacio-
nal teria na prática dos administradores.
1987, p. 17). Do mesmo modo, Halpin, alguns anos depois Em 1960, confrontado com a questão
de propagandear as ideais do “New Movement’, desiludiu-se “Pode a ciência guiar a mão dos adminis-
1
delas, ou como diz Greenfield (1985, p. 5245 ) “pelo menos, tradores?”, Halpin afirmava já que a res-
posta completa e definitiva só podia ser
perdeu muita da sua fé de que era possível pôr em prática o “Não!” (GREENFIELD, 1985, p. 5246).
núcleo essencial das ideias do Movimento.”
126
Os pressupostos e propostas do “New Movement” foram duramente criticados por
Greenfield (1975, 1985, 1990). Estas críticas e as propostas alternativas que foram apre-
sentadas constituem um marco decisivo no desenvolvimento das teorias da administração
educacional (CULBERSTON, 1980; HUGHES, 1987; RIBBINS, 1987), a que Evers, C. e
Lakomski, G. (1991) na sua bem documentada revisão sobre as controvérsias metodológicas
contemporâneas, no domínio da investigação em administração educacional, chamam mes-
As principais críticas de Greenfield dirigem-se à 2. As críticas que Greenfield dirigiu ao “New Mo-
influência que Herbert Simon exerceu nos promotores vemenr” (a partir de 1975) revelaram-se estimu-
lantes e deram lugar a um amplo debate, nomea-
do “New Movement, especialmente devido à sua con-
damente nas revistas “Educational Administration
cepção positivista da ciência administrativa. Esta con- Quaterly” (E.U.A.) e “Educational Administration”
cepção positivista valoriza exclusivamente os aspectos (Reino Unido) a partir dessa data (Hughes. 1987).
Gronn (1983) que fez um resumo das principais
“técnicos” da administração, separando os fatos dos
posições de Greenfield e dos seus opositores re-
valores, e reduz a ciência da administração a preocu- ferenciou 12 artigos e comunicações deste autor
par-se só com os meios e não com os fins. Como afirma e cerca de 46 publicações que deram uma certa
Greenfield, esta concepção positivista elimina do seu relevância às suas propostas.
campo de estudo
tudo o que tem a ver com a paixão humana, a condição dos fortes e dos
fracos, a convicção, a esperança, os desejos, a piedade, a fraternidade, o
altruísmo, a coragem, o vício e a Virtude (GREENFIELD, 1990, p. 120).
127
Como se vê, e em síntese, pode-se dizer que as críticas do Greenfild ao “New Move-
ment” são por um lado epistemológicas (e tem que ver com os princípios e os pressupostos
desttas teorias) e por outro lado éticas (pois dizem respeito aos valores e aos papel que ocu-
pam no trabalho dos administradores) e podem ser resumida neste comentário:
Uma teoria de administração educacional que separa os fatos dos valores,
a teoria da prática, a racionalidade do senso comum, e a educação da admi-
nistração, revela-se incapaz de guiar a mão dos administradores (BATES,
1985, p. 64, sintetizando as críticas de GREENFIELD)
128
Quarto, o mundo dos valores está dentro de nós, bem para dentro de nós.
Os valores são a mais remota realidade subjetiva. (...) Na medida em que
as organizações são pessoas que partilham uma mesma concepção de si
mesmas e tentam impô-las às outras, as nossas organizações estão plenas
de valores e são, também, inevitável e irremediavelmente subjetivas. (...)
Torna-se deste modo claro que é impossível ter em consideração os valo-
Para Evers e Lakomski (1996) a ruptura com a perspectiva científica tradicional, base-
ada no “empirismo lógico”, iniciada com as críticas de Greenfield, dá lugar a um período de
evolução da Administração Educacional marcado pelo subjectivismo e pela introdução de
uma perspectiva moral na administração.
Para estes dois autores o “subjetivismo” deriva do fato de se recusar aquilo que era
o núcleo central da estrutura da ciência da administração tradicional defendida pelo New
Movement:
produzir um conhecimento consistente a propósito do modo como os meios
produzem os fins; isto é, produzir um fundamentado modelo de causali-
dade com generalizações adequadas e relevantes de factos empíricos, para
cada situação (EVERS; LAKOMSKI, 1996, p. 7).
Ora como vimos, para Greenfield, não existe qualquer objetividade num modelo ou
teoria que se baseia em métodos hipotético dedutivos e testes empíricos. Além do mais, para
este autor, as ciências sociais são fundamentalmente distintas das ciências naturais e, como
tal as ciências sociais são irredutivelmente subjetivas (EVERS; LAKOMSKI, 1991, p. 76·97).
Esta subjetividade põe em questão um dos problemas centrais da relação entre as teo-
rias e a prática da administração e a sua capacidade de explicarem o sentido da atividade dos
práticos. Contudo, como Evers e Lakomski (1996, p. 12) sublinham, as atividades dos práti-
cos estão cheias de teorias, quer as conheçam quer as desconheçam, pelo que, se queremos
que os nossos conhecimentos nesta matéria avancem, a própria prática administrativa deve
tornar-se numa arena mais preocupada com a análise e controlo dos seus próprios processos.
129
Esta preocupação pela requalificação do “saber dos práticos” e pela denúncia do “saber
teórico” como sendo essencialmente manipulativo e usado como “tecnologia de controlo”,
constitui, aliás, um dos elementos centrais da “teoria crítica”, movimento filosófico que teve,
igualmente, neste período forte influência, dando lugar aquilo que Bates (1996, p. 196) cha-
ma de “administração para a emancipação”.
130
outros (genericamente designados por pós-positivistas), ao negarem a objetividade do empi-
rismo lógico e dos seus métodos hipotético-dedutivos, acabaram por negar a própria cienti-
ficidade da Administração Educacional.
O argumento radical utilizado por estes autores era que as “ciências sociais” são dis-
tintas das “ciências naturais” (donde estes métodos tinham sido “importados”) e que, naque-
Ou seja, dito por outras palavras, para estes autores radicava-se a ideia que “havia
mais conhecimento do que o conhecimento científico” (idem) o que está na base de novos
modelos de investigação, como a “investigação-ação”, do desenvolvimento das teorias cultu-
ralistas e críticas e das metodologias qualitativas.
Evers e Lakomski (1996, p. 240) estão de acordo com as críticas que foram feitas por
estas correntes à ciência tradicional da Administração Educacional (positivista):
Uma teoria do conhecimento baseada no empirismo lógico é demasiado li-
mitada para ser aplicada em qualquer abordagem sistemática da Adminis-
tração Educacional. Apesar do aparato estatístico das metodologias de in-
vestigação quantitativas ser capaz de extrair padrões a partir de “surveys”
e outras técnicas de recolha dados (no caso de esses “padrões” existirem
para serem encontrados), a complexidade dos fenómenos sociais reduz
drasticamente a possibilidade de produzir inferências consistentes, a partir
desses dados. As generalizações são difíceis de se fazerem. Além disso,
muito do conhecimento sobre as organizações é adquirido por processos
informais, não por processos associados com os testes hipotético-deduti-
vos das hipóteses, mas sim por processos mais semelhantes à socialização
e enculturação. A tradicional ciência comportamental, com a sua ênfase
na testabilidade, definições operacionais, e exclusão de valores, parece ser
mais um ataque ao conhecimento, do que um modo de o fazer avançar.
(Até mesmo os físicos não conseguem atender a todas as exigências do
empirismo lógico). Como metodologia aplicada aos fenômenos sociais, ela
perde informação, não tomando em consideração muito do que sabemos
131
ser importante a propósito da vida organizacional.
Contudo, se Evers e Lakomski (1996, p. 240) estão de acordo com o diagnóstico que
fazem os pós-positivistas, não estão de acordo com a “terapêutica”. Na verdade, contestam
aos críticos da ciência tradicional da Administração Educacional o pressuposto em que se
basearam para produzirem propostas alternativas, isto é, de que toda a ciência era positivista
e não havia alternativa ao positivismo que não passasse pela negação da possibilidade do
conhecimento científico:
Muito dos argumentos contra a ciência são, na realidade, argumentos con-
tra o positivismo que é uma mera teoria acerca da ciência e que nós tam-
bém consideramos errada.
Por isso, Evers e Lakomski propõem se desenvolver uma “nova ciência da administra-
ção” que seja capaz de incorporar os valores e a subjetividade humana, através de uma nova
visão do conhecimento e da sua justificação. Como afirmam estes autores, há mais evidên-
cias do que a “evidência empírica”. Há outros critérios para determinar a validade do conhe-
cimento e das teorias para além dos que se baseiam na sua adequação à realidade empírica.
Não cabe neste texto resumir ou sintetizar a complexidade e densidade teórica desta
nova abordagem do conhecimento em Administração Educacional, proposta por estes auto-
res, nem a aplicação que fazem ao conhecimento (e esclarecimento) de temas centrais desta
132
área de estudos, como sejam “a liderança”, “a aprendizagem organizacional”, “o processo
de tomada de decisão” “a formação dos administradores” e a própria “investigação sobre as
práticas” (ver especialmente, EVERS; LAKOMSKI, 2000).
A referência que é feita a estes autores e suas propostas (bem como à polêmica que
geraram) destina se a sublinhar unicamente a tentativa que elas consubstanciam de ultrapas-
Dimensões da
Sistema natural Invenção humana “Naturalistic coherentism”
comparação
Subjectivisrno: o
Realismo: o mundo mundo existe, mas Naturalismo o mundo natural
existe e é conhecido ele é construído de existe porque é a melhor e mais
como realidade que é. maneira diferente por coerente maneira de explicar os
Base filosófica
As organizações são pessoas diferentes. fenômenos As organizações são
entidades com uma As organizações são padrões reais das associações
vida própria invenções sociais. humanas.
133
Descobrir as leis Descobrir de que modo Descobrir empiricamente os
A função da universais que regem .as diferentes pessoas algoritmos adequados para
Ciência as condutas sociais e interpretam o mundo em captar e compreender as
humanas que vivem regularidades na vida social
As unidades A coletividade:
A ação humana individual A interação entre indivíduos e
básicas da sociedade ou
ou coletiva. grupos e o mundo natural.
realidade social organizações.
Identificar condições ou
Interpretação dos Explorar as redes de
relações que permitem
sentidos subjetivos que expressões adequadas aos
Método de à coletividade existir.
os indivíduos colocam na comportamentos dos indivíduos
compreensão Conceber o que são
ação. Descobrir as regras e dar conta das suas teorias de
essas condições e
subjetivas de tais ações. comportamento.
relações.
Um edifício racional Conjunto de significados
construído por que as pessoas usam
A rede mais coerente de
Teoria cientistas para explicar para dar sentido ao seu
asserções sobre o mundo.
o comportamento mundo e as ações que
humano. desenvolvem nele.
A busca de relações
Experimental ou quase significativas e
Busca das características não
Investigação experimental validação descoberta de suas
aleatórias do mundo.
da teoria consequências para a
ação.
Abstração da realidade,
Representação da Um conjunto diversificado
especialmente,
realidade com fins de técnicas que permitem
Metodologia através de modelos
comparativos. Análise dos estabelecer a existência de
matemáticos e de
discursos e dos sentidos. padrões.
análises quantitativas.
Ordenada. Governada
por um conjunto Conflitual. Governada
Padronizada. Governada por
uniforme de valores pelos valores das
Sociedade redes de causas descritas de
e tornada possível pessoas que tem acesso
diferentes maneiras.
unicamente em função ao poder.
desses valores.
Orientadas por metas. Dependente das
Independente das pessoas e dos seus fins.
Dependente dos indivíduos e
pessoas. Instrumentos Instrumentos de poder
dos seus fins coletivos, cuja
Organizações de ordem na sociedade que algumas pessoas
estabilidade é assegurada pela
servindo quer a controlam e que usam
memória e recordações.
sociedade quer os para atingir fins que
indivíduos. consideram positivos.
134
As organizações Atendendo à diversidade
deixam de das finalidades humanas,
Dissonância entre indivíduos
Patologias corresponder aos existe sempre conflito
e entre a organização e a
Organizacionais valores sociais e entre as pessoas que
sociedade.
às necessidades procuram atingir essas
individuais. finalidades.
Mudar as estruturas Identificar que valores
135
Estas transformações tiveram um natural impacto não só no modo como são pensadas
as organizações, mas também no modo como é feita a sua análise Reed e Hughes (1992)
propõem, a este propósito, uma descrição da evolução do “conceito de organização” e das
práticas de “análise organizacional”, desde os anos 60, dividida em três fases. De um modo
abreviado, podemos caracterizar estas fases do modo seguinte:
Numa primeira fase, que se inicia nos finais dos anos 1960, as abor-
dagens contingenciais das organizações (dominantes no início da dé-
cada) são progressivamente postas em causa. Passa-se, assim, duma
perspectiva em que o enfoque era posto na adaptabilidade do dese-
nho organizacional aos imperativos do ambiente externo, para uma
outra perspectiva, em que é posta a tónica na construção da realidade
organizacional através de processos internos de relações de poder e
de intervenções simbólicas. Neste sentido, como dizem estes auto-
res, “o desenho organizacional é percebido não como um resultado
de uma força impessoal e objetiva, mas sim como a construção e
manipulação de um artefato social” (REED; HUGHES, 1992, p. 3)
A situação a partir dos finais dos anos 80 é caracterizada, por estes
autores, como sendo marcada pela diversidade, pluralismo, incerteza e
fragmentação da análise organizacional. Para utilizar uma expressão
de March (1999, p. 42), verifica-se uma tendência para a “balcaniza-
136
ção dos estudos organizacionais”, moderada, contudo, pela tradição
de abertura a outros campos disciplinares e de continuidade de ideias
que têm marcado, desde o início, a investigação organizacional.
É o caso da “sociologia das organizações” (ou “teoria das organizações”, acepção mais
corrente nos países anglo-saxónicos) e da sua influencia na própria gestão.
Este movimento disciplinar em torno do estudo das organizações primeiro, numa pers-
pectiva comportamental, com o Movimento das Relações Humanas, e depois, numa pers-
pectiva sociológica, acabaram por ter uma influencia significativa no domínio da educação.
Como assinalam Evers e Lakomski (1996, p. 41):
o estudo científico das escolas como organizações formais está tradicio-
nalmente ligado a instrumentos e quadros teóricos derivados do estudo das
organizações em geral.
Por isso, irei apresentar de seguida uma breve síntese sobre a emergência e desenvol-
vimento dos estudos organizacionais, analisando a influência que tiveram numa abordagem
137
sociológica das organizações educativas e no crescente desenvolvimento dos “estudos da es-
cola”. Estes estudos constituem hoje uma importante área de interface entre a “Administração
Educacional” e outras ciências sociais (em particular a sociologia de organizações) o que os
tornam num analisador e campo de aplicação prática da multidisciplinaridade destes estudos.
Os estudos organizacionais
Os estudos organizacionais desenvolveram-se inicialmente no quadro da gestão do tra-
balho industrial e administrativo do primeiro terço do século XX e assumiram, desde o início,
um objetivo pragmático e instrumental de busca da eficiência das estruturas e dos processos do
5
trabalho nas organizações . Contudo, a crítica que é feita aos princípios da “racionalização do
trabalho”, iniciada nos ano 30, abre caminho para a introdução, nos estudos de gestão, de pers-
pectivas menos “mecanicistas” e mais “interacionistas”, com o reconhecimento da importância
do “fator humano” (Mayo), da “distinção entre organização formal e informal” (Roethlisberger
e Dickson) e da “organização como sistema social de interação complexa” (Barnard), por exem-
plo. Esta evolução faz com que as ciências da 5. Como escreve Catherine Ballé (1990, p. 121): “Nascida de
gestão se “envolvam”, do ponto de vista teórico um encontro entre as preocupações gestionárias dos respon-
e metodológico, com outras ciências sociais (em sáveis da indústria e da administração e as preocupações,
menos pragmáticas, dos especialistas em ciências humanas,
particular a psicossociologia e a sociologia) que
mais particularmente dos sociólogos, a análise organizacional
conhecem um extraordinário desenvolvimento transporta em si mesma a marca deste dualismo”.
a partir dos anos 50.
É neste contexto que se desenvolve uma área disciplinar específica que tem como ob-
jeto de estudo a organização no seu conjunto, já não vista, simplesmente, como estrutura ou
unidade de gestão, mas sim como sistema social.
Trata se de uma área disciplinar recente que se funda nas “análises sociológicas das
organizações” emergentes nos Estados Unidos, desde os anos 50, na sequencia dos trabalhos
de Merton e seus continuadores sobre os “disfuncionamentos burocráticos” e de Parsons so-
bre as estruturas das organizações formais e suas relações com o sistema social englobante.
138
A primeira tendência resulta (como assinala, entre outros, CHANLAT, 1989, no estudo
que fez da produção anglo saxónica contemporânea nesta matéria) da “crise do paradigma
estruturo-funcionalista” nos anos 70, que provocou um estilhaçar dos interesses e perspecti-
vas de investigação no domínio da análise sociológica das organizações com o aparecimento
de numerosas correntes de que ele destaca culturalista; crítica; ecológica, institucional.
Para Bernoux (1999, p. 47) estas novas abordagens so- 7. Para um balanço da produção portu-
guesa nesta área consultar Lima, 1996
ciológicas contemporâneas inserem se no que este autor desig-
7 e 1997 e Barroso, 2002.
na como uma “sociologia das lógicas de ação” :
139
[...] as lógicas de ação são uma maneira de definir o sentido que um ator
dá à sua ação. Os conflitos, a construção de regras, os compromissos, a
reconstrução das identidades e das culturas, os comportamentos de ajusta-
mento e não-ajustamento resultam da maneira como os atores interpretam
o seu lugar e o seu papel nas organizações, à luz dos seus percursos ante-
riores e da situação de ação em que se encontram.
Todo este movimento teórico recente no domínio da sociologia das organizações que
aqui enunciei, brevemente, não deixa de ter repercussões na própria gestão das organizações.
Por um lado, como notam Sainsaulieu e Segrestin (1986, p. 336) assiste-se desde o
princípio dos anos 80 a uma “revolução no modo como os dirigentes e os seus pensadores
falam da empresa”:
(...) todos falam no nascimento de uma empresa mais política e mais co-
letiva. isto é, capaz de basear o seu desenvolvimento na consideração dos
poderes e forças internas, através de um grande esforço de negociação e
de uma participação acrescida, em toda uma série de projetos e a todos os
níveis de responsabilidade
(...) A empresa aparece como um meio humano especifico, onde as regu-
lações sociais e culturais intervêm pesadamente nas suas performances
econômicas.
Por outro lado, embora a sociologia das organizações não tenha a vocação para forne-
cer soluções técnicas aos atores nem aos dirigentes das organizações (e neste aspecto distin-
gue se claramente das “ciências da gestão”), ela produz conhecimentos que os podem levar
a refletir sobre as suas práticas.
Assiste se por isso, hoje, a uma maior permeabilidade entre os dois campos de estudo
“organização” e “gestão” o que é particularmente visível no caso dos estudos sobre a escola,
como iremos ver a seguir.
140
dos, com a introdução de abordagens etnográficas que relativizem e contextualizem os dados
quantitativos de âmbito nacional, o que, em breve, conduz a substituir os objetivos de medir
os “efeitos de escola”, pelos de identificar e avaliar as “escolas eficazes” (ver a este propósito,
entre outros, BARROSO, 1997 e BOLÍVAR, 2000 e 2003).
Esta “sociologia da escola” que Derouet (1987), na sua já antiga, mas ainda atual sínte-
se, classifica de “sociologia pragmática da organização escolar”, estendeu-se a outros países,
nomeadamente à França, onde o seu desenvolvimento, embora tardio, foi claramente induzi-
do pelas mudanças das políticas educativas, principalmente a partir do início dos anos 80 do
século passado (descentralização, autonomia, projeto, etc.).
Contudo, para alguns autores, com particular destaque para Derouet, a evolução dos
estudos neste domínio tem posto em evidência o risco de uma “despolitização das relações
sociais”, na medida em que as abordagens microssociológicas (pela sua natureza e dimen-
são) tornam difícil ter em consideração a função da escola no processo social global de que
a educação faz parte.
Na mesma linha Yves Dutercq (2000, p. 161) na sua estimulante síntese publicada na
Revue Française de Pédagogie sobre a evolução da administração educacional, afirma:
141
[...] se, até aqui, a sociologia das organizações foi o modelo dominante da
análise do funcionamento do sistema educativo, hoje em dia, é mais do
lado da sociologia política e da ciência política que podemos encontrar pis-
tas próprias para construir uma ciência da administração válida. Ao tornar
se uma sociologia da ação organizada, a própria sociologia das organiza-
ções traçou o caminho: por um lado as organizações, públicas ou privadas,
só funcionam em função das decisões que são tomadas pelos seus atores,
cuja racionalidade é aleatória e que não são motivados, unicamente, por
questões de poder, mas também pela sua visão do mundo; por outro lado,
são as próprias organizações que dão sentido às escolhas feitas pelos indi-
víduos ressituando-as numa global idade que os ultrapassa.
Neste mesmo sentido, Licínio Lima alertava já, no seu trabalho pioneiro de análise
organizacional de uma escola secundária em Portugal (LIMA, 1992) para a necessidade de
encarar a escola como uma instância, simultaneamente hétero organizada (locus de reprodu-
ção) e auto organizada (locus de produção). Esta perspectiva justificaria uma natural reserva
quer em relação a visões deterministas de estudos centrados exclusivamente em análises
macropolíticas, quer em relação a visões atomizadoras de estudos centrados exclusivamente
em análises insularizadas da realidade organizacional. Por isso propõe que a sociologia das
organizações educativas se abra a outros campos disciplinares de modo a cobrir a diversi-
dade de objetos e problemáticas que resultam desta visão contextualizada das organizações
(LIMA, 1997, p. 54).
Conferindo uma “autonomia relativa” à organização escolar contempla se
a importância do Estado e das estruturas macro-sociais, mas contraria-se
o monopólio da sua intervenção e as explicações de tipo meramente repro-
dutivo. Contempla-se, também por isso, a importância dos contextos locais
e organizacionais, e sobretudo dos atores, refreando-se embora perspec-
tivas demasiado voluntaristas que sistematicamente fazem apelo às suas
capacidades estratégicas ilimitadas e omnipotentes.
Trata-se de procurar admitir, desde logo no plano teórico, as tensões esta-
belecidas entre o sistema, a administração e os poderes centrais, por um
lado, e a escola e os atores escolares organizacionalmente ancorados, por
outro, tensões tanto mais importantes quanto, nos terrenos da ação em
contexto escolar, nenhumas das partes exercer hegemonicamente o contro-
lo total sobre a outra.
142
Os estudos da escola
De um modo geral pode-se dizer que a escola sempre esteve presente (com maior ou
menor visibilidade) na diversidade de estudos realizados no âmbito das ciências da educação,
fossem eles sobre o currículo, os professores, os alunos ou sobre o sistema educativo em geral e
suas relações como outros sistemas sociais. Contudo, neste estudos, a escola não constituía um
Aquilo que faz a especificidade atual dos “estudos sobre a escola” é, portanto, o fato de
ela ser individualmente considerada como um objeto social, com uma identidade própria, cuja
estrutura, funções, processos e resultados não se limitam a serem deduzidos do sistema social
mais amplo em que se integram, nem a serem vistos como simples resultado de um somatório
de ações individuais e grupais que se desenrolam no interior das suas fronteiras físicas.
Contudo, como adverte Rui Canário (1996, p. 126), não basta o reconhecimento social
da escola, para que ela se torne num objeto científico. Como diz este autor, inspirando-se em
Popper (1989), só por uma espécie de “realismo ingênuo” se pode imaginar existir
uma adequação, ou uma correspondência direta entre o mundo da realida-
de objetiva e o mundo dos objetos teóricos e conceptuais. criados a partir
da percepção, mas dela se autonomizando.
Para que a escola se torne um objeto científico é preciso, por isso, que haja um processo
de transformação da representação do real, a partir de uma interrogação sistemática fundada
num corpo articulado de teorias e conceitos (CANÁRIO, 1996, p. 127):
É a partir deste modo de conceber a atividade investigativa, encarando-a
como um processo de transformação de objetos sociais em objetos cientí-
ficos, que é possível afirmar que a escola enquanto objeto de estudo não
corresponde a “uma escolha”, nem a “uma descoberta”, nem sequer a
“uma emergência”, mas sim a um processo de construção realizado pelo
investigador. É ainda esta distinção entre objeto social e objeto científico,
bem como a compreensão do processo que preside à passagem de um para
outro, que ajuda a clarificar, ou a equacionar, uma outra dimensão impor-
tante: a escola, enquanto objeto social, não corresponde a um objeto de
estudo, mas sim a múltiplos objetos de estudo, consoante a multiplicidade
de olhares teóricos de que for alvo.
143
Apesar da escola admitir, no seu estudo, diferentes olhares e referentes teóricos e pos-
suir, como nota Rui Canário” uma transversalidade que não permite encerrá-la no domínio
específico de uma disciplina científica. ou mesmo de uma área disciplinar das ciências da
educação” (CANÁRIO, 1996, p. 140), isso não significa que se possa falar de uma “mestiça-
gem” epistemológica que ignore a especificidade e a evolução do quadro teórico e metodo-
lógico das diferentes disciplinas, em particular das que privilegiam na sua atividade investi-
gativa, este tipo de estudos. É o caso da administração educacional e, mais recentemente, da
abordagem sociológica das organizações educativas (sociologia da escola).
Como se vê, estamos hoje no centro de uma recomposição do campo de estudo da ad-
ministração e das organizações educativas. Depois de uma coexistência e sobre posição dos
contributos dominantes da “teoria da organização” e da “teoria da gestão” nos estudos da
escola, eis que, por força da própria evolução destas teorias (e que resumidamente apresentei
aqui), mas também pela própria evolução da escola como objeto político (na sequência das
medidas de descentralização, reforço da autonomia e da gestão centrada na escola), se assiste
a um alargamento do campo de estudo a novas abordagens, em particular no que se refere à
adopção de uma perspectiva política.
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147
Democr atização da
Escola, Participação
Comunitária e Cidadania
Critica
1
Licínio C. Lima
Professor Catedrático da Universidade do Minho, tem como área
de investigação a Organização e Administração Escolar
148
necessariamente os conteúdos, se ensine também a pensar certo” (FREIRE, 1991, p. 24);
sem uma “real participação da comunidade de pais e de representantes de movimentos popu
lares na vida inteira das escolas” (ibid., p. 47-48); sem a participação e a voz dos educadores,
tradicionalmente manietados “em nome de sua pouca competência com ‘pacotes’ emprenha-
dos por nossa sabedoria” (ibid., p. 29); sem, simultaneamente, liberdade e autoridade docen-
tes democráticas, apoiadas na competência profissional dos professores (FREIRE, 1996b,
Se, ao contrário, conscientes das dimensões políticas, cívicas e éticas que marcam
indelevelmente as práticas pedagógicas, a interação na sala de aula, a gestão curricular e a
programação didática, os modelos de avaliação, a organização do trabalho pedagógico, os
modos de gestão escolar, etc., os atores escolares mais dificilmente deixarão de se assumir
como atores políticos-pedagógicos; e por essa via poderão mais facilmente abrir-se à refle-
xão, ao debate e à ação com outros atores (tradicionalmente representados como externos à
escola), com outros saberes e poderes, cruzando-se com novos parceiros institucionais, com
organizações comunitárias, movimentos sociais, etc. Sem necessidade de denegarem o seu
profissionalismo, de desprezarem os seus saberes pedagógicos especializados, ou de abrirem
149
mão de suas lógicas e interesses socioeducativos, o que, pelo contrário, os poderia conduzir a
lógicas meramente adaptativas ou de capitulação face a projetos políticos-educativos inacei-
táveis em termos democráticos; mas recusando entrincheirar-se em universos fechados, de
tipo técnico-profissional, corporativo ou burocrático, a partir dos quais não é possível abrir
a educação ao debate político com os não membros e os não especialistas, nem descentrar
a escola e reconduzi-la aos debates sobre a democracia e o domínio público. Ora sem correr
os riscos de se abrir à participação comunitária e ao exercício da cidadania crítica, tomando-
se cada vez mais pública, a escola dificilmente encontrará aliados a partir de projetos e de
posições não administrativamente subordinados, capazes de se envolverem na sua defesa, de
se coligarem com os atores escolares e de amplificarem as suas vozes.
Por tudo isto é claro, para Freire, que todos aqueles que intervêm na educação a partir
de uma perspectiva crítica ficam, em congruência, obrigados “a engendrar, a estimular, a
favorecer, na’ própria prática educativa, o exercício do direito à participação por parte de
quem esteja direta ou indiretamente ligado ao que fazer educativo” (Freire, 1996a: 305).
Trata-se de introduzir as regras do jogo democrático e o gosto pelas práticas democráticas e
participativas, na escola (FREIRE, 1997c, p. 89):
É preciso e até urgente que a escola vá se tornando um espaço acolhedor
e multiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir os outros,
não por puro favor mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do
acatamento às decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo o
direito de quem diverge de exprimir sua contrariedade. O gosto da per-
gunta, da crítica, do debate. O gosto do respeito à coisa pública que entre
nós vem sendo tratada como coisa privada, mas como coisa privada que
se despreza”.
150
A luta por uma escola pública e popu- 6. Que seja “eficaz, democrática e alegre com suas professoras e
lar6 implicará um processo de progressiva professores bem pagos. bem formados e permanentemente for-
mando-se” (FREIRE, 1997c, p. 49) e seguramente. “não aquela
abertura e inserção comunitárias, mesmo de em que só o professor ensina em que só o aluno aprende e o
apropriação criativa da escola pela comuni- diretor é o mandante todo-poderoso” (ibid, p. 100).
dade, por forma a transformá-la num “centro 7. Orientação expressa no primeiro documento publicado no Diá-
irradiador da cultura popular” e num “espa- rio Oficial do Município de São Paulo (1 de Fevereiro de 1989) du-
151
nação democrática e participativa da escola, única e autônoma, integrada numa adminis-
tração pública descentralizada (não uniforme nem hiper-regulamentadora), configura uma
“escola cidadã”, uma só escola que só sendo autônoma poderá vir a ser uma escola para
todos (GADOTTI, 1992, p. 54-57).
Pelo já exposto, não seria de esperar que também Freire 10. É muito oportuna, a este propósi-
incorresse naquele erro, face à sua compreensão do caráter in- to, a advertência de Almerindo- Afon-
so (1995: 82): “Também em Portugal,
dissolúvel de política e administração e ainda tendo em vista as a literatura gestionária, com origem
suas concepções de organização e participação como práticas dominantemente externa ao campo
da liberdade. E, na verdade, ele não só se recusa a prescindir educacional, tem vindo a penetrar no
universo das práticas e dos discursos
do recurso a conceitos de tipo organizacional e administrati- e a preencher os espaços vazios que
vo (mesmo a categorias já fortemente enviesadas em termos alguns de nós, mesmo sem o dese-
ideológicos), e à sua discussão e aprofundamento em termos jarmos, vamos deixando entregues à
linguagem das técnicas e à sedução
democráticos e de cidadania crítica, como se revela coerente (e
dos novos arautos que anunciam a
corajoso), fiel a um quadro de referência solidamente inscrito despolitização da escola e da educa-
em valores democráticos e éticos que conferem sentido próprio, ção. Nada melhor para reforçar a sa-
cralização das técnicas de gestão do
e genuíno, à sua defesa da descentralização, da autonomia e
que essa fuga a torná-las como objeto
da necessidade de democratizar a administração por forma a sociológico”.
construir a escola democrática:
Como, por exemplo. esperar de uma administração de manifesta opção
elitista, autoritária. que considere. na sua política educacional. a autonomia
das escolas? Em nome da chamada pós-modernidade liberal? Que con-
sidere a participação real dos e das que fazem a escola. dos zeladores e
cozinheiras às diretoras. passando pelos alunos. pelas famílias e até pelos
152
vizinhos da escola. na medida em que esta vá se tornando uma casa da
comunidade? Como esperar de uma administração autoritária. numa se-
cretaria qualquer que governe através de colegiados, experimentando os
sabores e os dissabores da aventura democrática?” (FREIRE, 1997c: 18).
E, no entanto, pode vir a descobrir-se quão difícil se torna a realização de tal projeto,
bem como a situação relativamente paradoxal vivida por aqueles que o lideram. Difícil por-
que a antiga política e a antiga administração se encontravam articuladas em áreas e aspectos
decisivos, não sendo fácil mudar estruturas organizacionais, remover ou tentar reconverter
altos funcionários de carreira, afastar o poder enquistado, e resistente, da burocracia; nem
é fácil substituir uma estrutura administrativa por outra, ou reformá-la, e muito menos ga-
rantir que a segunda não venha, bem cedo, a recuperar os padrões burocráticos da primeira,
weberianamente universais, não só em termos de racionalidade técnica mas, sobretudo, em
termos de concentração do poder a partir da ação administrativa e gestionária, por essa via
impedindo a participação:
As estruturas pesadas, de poder centralizado, em que soluções que precisam
de celeridade, se arrastam de setor a setor, à espera de um parecer aqui, de
outro acolá, se identificam e servem a administrações autoritárias, elitistas e,
sobretudo, tradicionais, de gosto colonial. Sem a transformação de estrutu-
ras assim que terminam por nos perfilar à sua maneira, não há como pensar
em participação popular ou comunitária” (FREIRE, 1996a, p. 310).
154
Pelo contrário, Freire entendeu que a participação comunitária, e a participação de
professores, alunos e pais, na escola pública, exige “estruturas leves, disponíveis à mudança,
descentralizadas, que viabilizem, com rapidez e eficiência, a ação governamental” (ibid.),
sem o que uma boa parte dos projetos políticos-pedagógicos será impossível de concretizar:
É claro que não é fácil. Há obstáculos de toda ordem retardando a ação
transformadora. O amontoado de papéis tomando o nosso tempo, os me-
Mas este projeto político é também paradoxal, numa lógica tradicional de conquista e
de posterior uso do poder, tanto mais quanto os novos governantes se mantenham firmemente
comprometidos com a prática dos valores da participação democrática, da descentralização e
da autonomia, que antes integravam emblematicamente suas propostas e projetos eleitorais. É
que logo compreenderão que conquistaram um poder que, para se afirmar como democrático
de acordo com suas premissas, terá de ser redistribuído e partilhado, em parte devolvido e
14
transferido , assim os deixando menos poderosos. Ficarão, então, mais dependentes do diá-
logo, da discussão e da negociação, por vezes forçados a dispender mais tempo e a consumir
maiores energias, sujeitos a decisões satisfatórias mas não consideradas ideais, obrigados a
compromissos face a projetos que con- 14. Conforme escreveu mais tarde, testemunhando a sua experiência na
sideram essenciais e a ações que en- Secretaria Municipal, “Era preciso [ ... ] democratizar o poder, reconhecer
15
tendem prioritárias e indispensáveis . o direito de voz aos alunos, às professoras, diminuir o poder pessoal das
diretoras, criar instâncias novas de poder como os Conselhos de Escola,
Tudo porque, afinal, as práticas demo-
deliberativos e não apenas consultivos e através dos quais, num primeiro
cráticas envolvem riscos, as mudanças momento, pais e mães ganhassem ingerência nos destinos da escola de
sociais não são simplesmente ditadas seus filhos; num segundo, esperamos, é a própria comunidade local que,
por um quadro absoluto e superior de tendo a escola como algo de seu, se faz igualmente presente na condução
da política educacional da escola” (Freire, I 996a: 309-310). Por esta razão
racionalidade, política e técnica, por- viria a concluir: “Devo ter sido o Secretário de Educação da cidade de São
que governar com outros é mais difícil Paulo que menos poder pessoal teve mas pude, por isso mesmo, trabalhar
que governar sobre outros, porque, em eficazmente e decidir com os outros” (ibid., p. 310).
suma, proceder a transformações de-
mocráticas e participativas a partir de 15. A este propósito concluía Freire em Julho de 1991: “A grande questão
decisões autoritárias, não partilhadas ao avaliarmos nossas ações é que não se faz o que se quer, mas o que
se pode. Uma das condições fundamentais é tornar possível o que parece
mas impostas, representa uma contra- impossível. A gente tem que lutar para tornar possível o que ainda não é
dição fatal para o governo democrático possível. Isto faz parte da tarefa histórica de redesenhar e reconstruir o
e o exercício da cidadania. mundo” (cf. SME, 1992a: 3).
155
As práticas iluministas e vanguardistas dos líderes democráticos e o centralismo das
elites democráticas, a favor de suas superiores concepções de democracia, tal como Paulo
Freire bem esclareceu, redundam em práticas antidemocráticas e autoritárias. É de fato im-
possível democratizar a escola autoritariamente, à força ou através de golpes legislativos;
descentralizar a administração escolar apenas a partir de decisões centralizadas, doar a au-
tonomia às escolas, ou condená-las a uma autonomia que os atores escolares desprezam ou se
recusam a assumir. A educação para e pela cidadania democrática não é algo que possa ser
Saiba M
restringido à escola, aos atores escolares, ou somente aos alunos, curricularizável e avaliável
ao estilo escolar mais convencional. Trata-se de “uma invenção social que exige um saber
político gestando-se na prática de por ela lutar a que se junta a prática de sobre ela refletir”
(FREIRE, 1994a, p. 146) e, portanto, é algo que não se adquire nem chega por acaso:
Saiba M
[...] é uma construção que, jamais terminada, demanda briga por ela. De-
manda engajamento, clareza política, coerência, decisão. Por isso mesmo é
que uma educação democrática não se pode realizar à parte de uma educa-
ção da cidadania e para ela” (Freire, 1997c: 119).
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157
Participação e Escola
1
Embora a palavra participação tenha um significado conhecido para todos nós, com-
preendê-la desde a perspectiva sociológica, política e pedagógica é bastante complexo. Em
termos bem gerais, e para iniciar a discussão, participar faz referência à possibilidade de um
indivíduo incorporar as práticas e características de um grupo mais amplo, de forma a vir a
ser reconhecido e aceito como parte ou membro dele.
A discussão sobre a questão da participação toma um impulso maior a partir dos anos
sessenta, no contexto das diversas propostas revolucionárias e de contracultura que caracte-
rizaram o período, enquanto princípio democrático que se contrapunha à generalização de:
a. formas burocráticas de organização e suas características de excesso de formalismo, re-
petição de rotinas, hierarquia rígida, irracionalidade e relacionamentos impessoais e frios;
b. centralização do poder e distanciamento dos órgãos de decisão política e administrativa,
que caracterizam o desenvolvimento da máquina pública e da profissionalização das ativi-
dades político-partidárias;
c. um processo de massificação das pessoas, que passam a ser vistas como simples consumi-
dores, ou no máximo um tipo específico de consumidor, alienados das suas características
individuais e de personalidade.
Nesse sentido, a participação deveria ser estendida, gradualmente, de forma a que todas as
pessoas atingidas por medidas sociais, políticas e administrativas sejam previamente informadas
a respeito, e tenham a possibilidade de manifestar-se no interior do processo decisório.
Existem várias formas distintas de classificar a natureza da participação. Uma delas,
por exemplo, propõe subdividi-la em participação econômica, política e social. A participa-
ção econômica refere-se, em geral, às formas organizadas de resistência e lutas da classe tra-
balhadora e que podem resultar em benefícios tais como participação nos lucros, ou formas
de co-gestão por intermédio da indicação de diretores etc. Enquanto participação política,
os exemplos mais comuns fazem referência ao exercício da cidadania como o direito de voto
158
universal. No caso da participação social, podemos apontar desde questões mais formais
como, por exemplo, o pagamento de impostos e os serviços individuais compulsórios às
Forças Armadas e ao Poder Judiciário, até o comprometimento direto de pessoas e grupos
populares organizados na tomada de decisões referentes ao seu interesse direto ou, ainda, a
participação na própria gestão dos processos.
Mas nem sempre foi assim. Frente à hegemonia de práticas políticas e culturais auto-
ritárias, como pode ser caracterizado o ambiente das sociedades do século XIX, a luta pelo
direito de voto, pelo direito das minorias e mulheres, contra o patriarcalismo, entre outros
exemplos, permite situar a proposta de participação em contextos amplos, nos quais a sua
instrumentalização, mesmo que não tenha sido impoluta e totalmente livre da subordinação
a interesses pessoais e de grupos específicos, incorporava um sentido de justiça e igualdade
que transcendia em importância ao contrapeso de aspectos pontuais. A realidade contem-
porânea, contudo, é distinta. Essas grandes lutas foram encaminhadas e reconhecidas, pelo
menos a partir de uma perspectiva jurídica e, o que talvez seja até mais importante, a idéia
da participação tem sido incorporada às diversas manifestações da vida em sociedade, das
práticas pedagógicas ao cotidiano das famílias. Mesmo numa época de forte retrocesso das
conquistas trabalhistas, como foram as últimas décadas, este retrocesso não parece ter se
159
transformado numa recuperação da idéia do autoritarismo e das suas práticas características,
nem no campo das idéias, nem tampouco na realidade cotidiana das pessoas, pelo menos
em larga escala. Ou seja, a participação como um elemento importante da civilidade parece
ainda ocupar seu espaço no campo da política, do ensino, das organizações produtivas e da
sociabilidade em geral.
Não se trata aqui de pretender retomar a evolução do século XX, provavelmente o mais
complexo e rico da história conhecida, com sua guerras mundiais, perseguições e extermí-
nios pelos mais variados motivos, e uma longa sucessão de revoluções, tentativas de revolu-
ções e contra-revoluções, cuja devida compreensão política deverá ser construída aos poucos
e por meio de um maior distanciamento. Neste contexto de pouco consenso, a idéia do incen-
tivo à participação das pessoas nas decisões que lhe dizem respeito mais diretamente sobre-
vive em um conjunto de demandas mais amplo, despertado e nem sempre atendido durante
o século passado. Pode-se inclusive afirmar que a obsessão pelo “politicamente correto” por
mais confusa que esta ideologia possa parecer, incorpora também o respeito à participação.
Em resumo, a idéia do direito à participação é uma questão atual e que está presente nos mais
diferentes espaços sociais.
a. O mais comum talvez seja o que pode ocorrer quando, dentro de um debate
entre grupos distintos, um grupo específico precisa enfrentar a possibilidade
de ver seus interesses derrotados pelos interesses do outro, ou de outros. Frente
a uma derrota inevitável, o apelo à participação e o discurso da necessidade
de consultar outros sujeitos em outros contextos e momentos é um excelente
argumento por meio do qual pode-se adiar o que há poucos instantes parecia
inadiável. É muito difícil argumentar contra a inclusão de outros segmentos no
debate, inclusive porque o defensor desse tipo de colocação sempre poderá ser
acusado de elitista, autoritário, preconceituoso, parcial, formalista, etc. A am-
pliação da participação, portanto, pode ser instrumentalizada, num contexto
específico, de forma a adiar uma decisão justa e majoritária;
161
Creio que esses exemplos são suficientes para mostrar que não existe relação prévia e
direta entre a participação e a ética, ou a eficiência. Não é uma questão mecânica. Decisões
corretas e eficientes podem surgir de procedimentos burocráticos, centralizados ou autori-
tários. Assim como propostas antiéticas ou absurdas podem ser legitimadas por amplos e
complexos processos participativos. O sujeito social possui raciocínio e vontade própria,
logo não é possível compreendê-la a partir de fórmulas gerais como fazem os colegas de exa-
tas e biológicas com seus objetos de estudo. Mas, levando-se em conta estas características e
atendendo à especificidade das relações, como tentaremos expor mais adiante, os processos
participativos podem levar a decisões não apenas éticas, mas também mais eficientes que
qualquer outro processo.
A luta pela participação, num sentido amplo, é uma luta eterna já que sempre é pos-
sível estender, aprofundar e aperfeiçoar as formas participativas. Nesse sentido, ela pode
facilmente tornar-se um objeto enganoso, já que a sua extensão pode não estar ocorrendo
na direção correta, seu aprofundamento pode ser apenas complicação e o que parecia estar
sendo aperfeiçoado na verdade está distanciando-se do ideal almejado. É preciso, portanto,
estar atento ao que já foi politicamente conquistado em termos de participação e ao que ainda
falta fazer. Não se questiona em nenhum lugar, pelo menos com seriedade, o voto universal
ou os direitos das mulheres e das minorias, para ficar apenas nestes exemplos. O que está
sendo discutido são formas de intervenção para atender a essas expectativas, mas não o
conceito em si. Há, portanto, uma dimensão da participação que é consenso nas sociedades
ocidentais, resultante das lutas do século XX. Para que esse consenso possa transformar-se
em mais e melhores intervenções, no campo social e econômico, parece fundamental que
as práticas participativas avancem em termos de qualidade interna, enquanto processos que,
além de refletir a opinião e vontade de todas as pessoas, constituam também elementos de
mobilização, ilustrando uma melhor forma de integração humana. Trata-se de construir um
círculo virtuoso em que o exemplo dos processos participativos reforce e legitime a necessi-
dade de ampliá-los a novos espaços.
162
tenções da defesa das práticas participativas. É necessário uma teoria, como as apresentadas,
por exemplo, por Francisco Ferrer ou Paulo Freire, para então contextualizar esta teoria em
uma realidade concreta determinada e articular sua prática com os recursos existentes, tanto
materiais como humanos, nos moldes de um projeto pedagógico que precisará ser repensado
e reavaliado no tempo, a partir da sua adequação aos objetivos propostos originalmente. As-
sim, a participação pode surgir de forma coerente com o processo educacional, devendo-se
163
ro defender apenas que, neste caso, convém sempre estar atento, inclusive porque os limites
entre as dimensões são, em geral, sutis ou nebulosos. Vou dar um exemplo para ilustrar o que
eu estou pensando. Vamos imaginar que, dentro de um projeto pedagógico determinado, seja
contemplado um esforço no sentido de estudar o cooperativismo por meio de sua história
e suas práticas específicas. Pois bem, uma coisa é estudar o cooperativismo relacionando-o
com a sua história e comparando-o com outras formas de organização da produção existen-
tes. Outra é que o cooperativismo seja apresentado como uma forma política, econômica e
moralmente superior, mediante uma satanização simplista de todo o resto, fazendo com que
a educação se transforme em doutrinação.
O ensino público, em todos os níveis, serve de exemplo para esta afirmação. Aqui,
respeitando diferenças históricas e regionais, vamos encontrar formas importantes de insti-
tucionalização da participação no processo de gestão, tal como eleições diretas ou indiretas
para os dirigentes e a atuação de conselhos representativos, com atribuições consultivas ou
até mesmo deliberativas. Creio que é fácil perceber, para quem teve algum contato um pouco
mais íntimo com a escola, como é diferente a concepção da participação enquanto subordi-
nada e integrada ao projeto pedagógico em relação à participação no âmbito da gestão esco-
lar ou universitária, na qual aqueles cinco exemplos de mau uso da participação, apontados
no item 1, às vezes podem parecer mais a regra do que a exceção. A instituição escolar não
pode deixar de ser também uma organização burocrática, um espaço onde as pessoas estão
sujeitas a procedimentos formais, onde a independência e autonomia é relativa, e onde muitas
vezes vamos assistir a conflitos tremendos entre os objetivos e necessidades da própria orga-
nização e os objetivos dos membros, individualmente ou articulados em grupos específicos.
164
3 Educação, Taylorismo e Burocr acia
Vamos começar por Taylor. Este autor desenvolve um trabalho voltado para o aumento
da produtividade, cujas primeiras aplicações se dão no campo da indústria, mas que se alas-
tram rapidamente pelos diferentes setores da atividade produtiva. A sua idéia fundamental,
em termos muito resumidos, é retirar o controle do processo de trabalho do trabalhador
que executa a tarefa, impondo um aumento de produtividade. Para tanto, ele propõem que
as diferentes tarefas sejam estudadas por especialistas, com o objetivo de subdividi-las em
rotinas simples e fáceis, que o trabalhador deve executar de forma mecânica e repetitiva. As
vantagens, na perspectiva do empresário, são várias. É mais fácil controlar o ritmo porque
as tarefas são simples, o trabalhador desconhece a totalidade do processo, podendo ser mais
facilmente capacitado para cada tarefa e substituído por outro, e pode-se também remune-
rar de forma diferenciada cada fase do processo conforme a complexidade exigida na sua
execução. Vamos imaginar, por exemplo, a montagem de um motor. Antes de Taylor, todo
o trabalho seria executado por trabalhadores remunerados em função do seu conhecimento
geral de mecânica. Ao taylorizar o processo, grande parte dos trabalhadores só desempenha
tarefas simples, por uma remuneração menor, enquanto o mecânico é responsável apenas
pelo ajuste final.
165
Enquanto o taylorismo está voltado, essencialmente, para a questão da produção, a
idéia de burocracia faz referência à organização do trabalho como um todo. A organização
burocrática, de uma forma geral, pode ser definida como qualquer estrutura na qual a dire-
ção das atividades fica a cargo de um conjunto diferenciado de pessoas, que se impõem por
meio de uma relação hierárquica e formal, que devem buscar a eficiência e agir em função de
critérios impessoais, e que são economicamente privilegiadas em relação aos demais mem-
bros da organização. A burocracia caracteriza-se por uma separação entre, de um lado, os
que executam as tarefas e, do outro, os que planejam, organizam, dirigem e controlam. É o
espaço do segredo, do controle e da vigilância, em que se exerce um processo generalizado
de dominação (seja consentida em função da percepção de uma constelação de interesses por
parte dos membros, ou por uma simples relação de mando/subordinação) em função da sua
capa¬cidade de impor punições e distribuir recompensas.
166
A instituição escolar, por um lado, não pode deixar de ser uma organização com ca-
racterísticas burocráticas e sofrer a influência das formas mais comuns de organização da
produção (como atesta, por exemplo, a existência de um sistema dual de ensino) e, por ou-
tro lado, tampouco pode deixar de preparar os educandos para o ingresso e a atuação em
organizações de natureza burocrática (podemos destacar, por exemplo, alguns aspectos da
ênfase na disciplina). A questão da participação na gestão escolar, em todos os níveis, deve
167
Das Instituições às
Organizações Escolares:
Políticas Comprometidas,
Cultur as Omitidas e
Memórias Esquecidas
1
Começando por minha própria memória: encontrei-me pela primeira vez com um texto
de Dermeval Saviani em 1973. Alguém, de quem até então, jamais ouvira falar, me informa-
va, e a todos que se interessassem, que o sistema educacional brasileiro simplesmente não
existia. Evidentemente, as autoridades responsáveis por esse sistema não ficaram nada sa-
tisfeitas com a notícia e trataram de contestá-la, pessoalmente, ou por meio de seus contatos
na imprensa. Ainda não existiam os grandes eventos acadêmicos de hoje, que reverberam,
ao mesmo tempo em que amortecem, proposições contundentes e comentários consistentes.
Saviani também informava sua concepção de filosofia da educação: uma reflexão radi-
cal, rigorosa e de conjunto sobre a realidade educacional. As duas proposições se comple-
tavam obrigatoriamente, ou seja: à luz de uma reflexão radical, rigorosa e de conjunto sobre
a realidade educacional brasileira não era possível afirmar-se a existência de um sistema
educacional brasileiro com todas as notas distintivas que esse conceito supõe e requer. Se
não tínhamos – e ainda não temos – um projeto de nação, como conceber e materializar um
sistema educacional consentâneo com esse projeto?
168
culos à sua superação se acentuaram. Em outro trabalho, relativo ao conjunto da obra de Sa-
viani, (SILVA JUNIOR, 2002) examino com mais detalhe essas questões. Para os propósitos
deste texto creio que seja útil relembrar dois aspectos preferenciais: o fato de que vivemos em
uma sociedade estruturada em classes e o fato de que a escola pública deve ser organizada
em favor do interesse da parcela majoritária da população.
A resposta à pergunta acima é meridianamente simples: porque a lei não faz a reali-
dade, embora se proponha a discipliná-la. Ainda que os teóricos da ciência do Direito relu-
tem às vezes em admiti-lo, leis jurídicas não são iguais a leis científicas. Determinam, não
explicam; sancionam, não solucionam; derivam de doutrinas, não de teorias. Apenas com
instrumentos legais, em que pese sua natural associação com o poder, não se constrói uma
nova realidade. Se quisermos um sistema único e orgânico para a educação nacional, tere-
mos que construí-lo com respaldo teórico e político e com ação organizada e continuada no
plano empírico. Ou seja, teremos que “ir à luta” e “colocar a mão na massa”.
Essas antigas expressões não são apenas metáforas saudosistas. Elas são direções con-
169
cretas do trabalho a ser realizado e indicam desde logo a necessidade de olhar para o interior
de nossas escolas públicas, de atentar para suas condições materiais, para as condições de
trabalho que oferecem e para as relações de trabalho a que subordinam seus professores, para
as condições de vida de seus alunos e de seus pais, para os materiais e equipamentos de que
dispõem essas escolas, para os recursos financeiros que chegam (ou que não chegam...) até
elas, etc., etc., etc. A maior parte de nossas escolas ainda vive a e na precariedade do meio
rural e nem o mais generoso sociólogo se disporia a classificá-las como uma “organização”.
Muito menos, como uma “instituição”...
Nas regiões urbanas a precariedade que acomete nossas escolas públicas é de outra or-
dem. Aqui, a própria ideia de escola, tal como a concebemos historicamente, está submetida
a um cerco que, por diferentes caminhos e razões, se propõe a esvaziá-la. Muito recentemen-
te (escrevo em novembro de 2007), em um grande evento acadêmico internacional, ouvimos
todos que estávamos presentes e atentos pela palavra de um provecto e respeitado educador,
que “as escolas não educam, as escolas escolarizam...” Seria fácil e talvez desejável retrucar
no ato que os conferencistas também não educam, conferenciam... e que as mesas-redondas
também não educam, “mesa-redondam” ou “arredondam” ideias, compromissos e convic-
ções... Parece chegada a hora de relembrar a nós mesmos, anônimos ou renomados educado-
res, outra das singelas lições de Saviani: “a escola existe para propiciar a aquisição dos ins-
trumentos que possibilitam o acesso ao saber elaborado...” Desqualificar a escola é dificultar
o acesso a esse saber, como aliás, todos os educadores deveriam saber...
Saber elaborado, saber historicamente construído, saber estruturado com vistas à ob-
jetividade são expressões correlatas que nos remetem à organização da cultura e à orga-
nização da escola para adentrá-la e disseminá-la. A irreverência pretensiosa de alguns e o
mercantilismo impensado de outros costumam conjugar-se à revelia da vontade de todos
para o ataque à escola pública pensada, projetada e organizada. Enquanto não se consegue
aniquilá-la, busca-se substituí-la por sua contrafação pós-moderna: simulacros de currícu-
los, fragmentos de informação, transitoriedade de pessoas e de projetos. Esta é a marca dos
“sistemas de ensino” atuais, peças das “griffes” escolares em disputa no grande mercado do
“franchising” educacional.
170
local. Esvaziada a ideia de escola, esvazia-se também de sentido a ideia de sistema escolar.
É a existência real de seus elementos que viabiliza e consubstancia a materialidade de um
sistema. Não poderia ser diferente no caso dos sistemas e das instituições escolares.
171
dade. Reduzidas à condição de organizações cujas estruturas podem ser alteradas sucessiva
e abusivamente por determinações legais que não passam pelo crivo das pessoas e dos gru-
pos que serão por elas afetadas, nossas escolas públicas se tornam “privadas”. Privadas da
condição institucional de promover o alcance do interesse coletivo.
Além das dificuldades que encontra para se manifestar no plano material, a identida-
de de nossas escolas públicas também encontra dificuldades para ser considerada no plano
acadêmico. A escola como instituição é, paradoxalmente, pouco estudada. Quando tomada
como objeto de estudo, a abordagem a pressupõe como uma organização. Os referenciais
teóricos para a análise são recrutados em campos genéricos, como a ciência política, ou um
pouco mais específicos, como a sociologia das organizações, a teoria das organizações ou a
psicologia social das organizações. Ou ainda a psicologia organizacional. Quando se asso-
ciam as ideias de escola e de organização, a primeira acaba subsumida à segunda.
172
trabalho pedagógico entre as formas de trabalho social e sobre a especificidade da relação
pedagógica entre a multiplicidade das relações sociais. Lamentavelmente, as chamadas dis-
ciplinas pedagógicas, a começar pela própria pedagogia, pouco têm a nos dizer sobre o local
e o modo de realização do trabalho pedagógico.
Pensada como uma organização que necessariamente deve se constituir como uma
Pedagogia pode ser ciência, mas é também tradição filosófica e utopia histórica. Estu-
dar pedagogicamente um objeto significa transportá-lo do território do é para o território do
deve ser. Ou seja, passá-lo da ciência que tenta explicar para a ética que obriga a justificar e
a concretizar.
173
Não é preciso um grande esforço de análise para concluir que o segundo sentido não
se aplica à política educacional brasileira das décadas finais do século vinte e deste início do
século vinte e um. Nossas políticas educacionais não se ocupam dos resultados da pesquisa
em educação no país e não refletem seus avanços, admitindo-se que eles possam existir.
Existindo ou não, eles não se constituem em fontes das decisões de políticas educacionais,
que são determinadas, simplesmente, pela ação de um certo número de pessoas ocupantes de
um certo número de posições de poder. Tais decisões não refletem o que a ciência apresenta
e nem o que a consciência idealiza. Refletem apenas os compromissos pessoais e grupais de
quem as impõe. Alimenta-se, assim, o paradoxo: a pesquisa em educação no Brasil até vai
bem; o que vai mal é a própria educação brasileira...
Em uma escala maior, os problemas de nossas políticas educacionais não diferem mui-
to dos problemas das escolas às quais elas se dirigem. Existem problemas no campo material,
derivados da inexistência das condições necessárias para que as propostas se convertam em
ações efetivas e existem problemas no campo acadêmico, derivados da inconsistência das
formas de abordagem de seu significado.
174
No Brasil, formuladores de políticas e estudiosos de seus resultados irmanam-se, qua-
se sempre sem o perceberem, em sua postura de distanciamento da realidade das escolas.
Os primeiros, prisioneiros de sua racionalidade técnica, pretendem sustentar as políticas no
plano da eficácia gerencial. Os segundos, convictos de sua virtuosidade acadêmica, preten-
dem “desconstruir” o sentido das políticas valendo-se quase que exclusivamente da análise
documental. Suas reiteradas análises conduzem a um resultado previsível e de há muito es-
Geertz faz suas observações no contexto da defesa inflamada da etnografia como mé-
todo de apreensão da realidade. A descrição densa é, para ele, condição indispensável à
produção de significados, o que supõe a observação participante e continuada como instru-
mento de coleta dos dados que vão alimentar a descrição. Lembro de Geertz porque escrevi
há pouco tempo que “do ponto de vista metodológico estamos precisando muito mais de
etnografias do que de estatísticas para atribuir significado às “boas” e às “más” escolas”
(SILVA JUNIOR, 2007, p. 110).
Uma etnografia da prática escolar já foi proposta em livro com esse mesmo nome por
Marli André (1995). A proposta parece cada vez mais atual e necessária, uma vez que a cul-
tura da escola, quando tomada como objeto de estudo, é analisada, quase sempre, pela via das
teorias da cultura organizacional, análise essa que se constitui em um desdobramento natural,
quase obrigatório do pressuposto de que a escola é apenas um caso de aplicação das teorias
gerais das organizações. A polêmica observação de Geertz, segundo a qual “a cultura é melhor
vista não como complexo de padrões de comportamento (...), mas como um conjunto de meca-
nismos de controle (...)”(GEERTZ, 1989, p. 32) não tem como ser levada à prova nesse tipo de
estudo, que se apoia em modelos organizacionais pré-estabelecidos como referência.
176
Aqui chegamos ao ponto: não é exatamente no interior da linguagem da educação que
a cultura da escola é discutida. É quase sempre no interior da linguagem administrativa que
a discussão ocorre e é na lógica do mercado educacional que ela se apoia e não na lógica do
direito à educação. Forquin pergunta : “então, o que significa a palavra “cultura” quando se
fala de transmissão cultural da educação?” E ele mesmo propõe uma resposta (FORQUIN,
1993, p. 12):
Sem utilizar o termo, Forquin fala de uma cultura pedagógica, própria da vida das
escolas e sem a qual uma organização jamais será alçada à condição de instituição escolar,
ao mesmo tempo suporte e obra da memória coletiva a seu respeito. O autor ainda adverte:
“a ênfase posta sobre a função de conservação e de transmissão cultural da educação não
deveria impedir-nos de prestar atenção ao fato de que toda educação, e em particular a edu-
cação de tipo escolar, supõe sempre na verdade uma seleção no interior da cultura e uma
re-elaboração dos conteúdos da cultura destinados a serem transmitidos às novas gerações”
(FORQUIN, 1993, p. 14). Poderíamos acrescentar: para ser pedagógica a cultura escolar terá
que ser necessariamente seletiva. Em cada instituição escolar haverá que se processar o que
Forquin chama de “uma versão autorizada da cultura”, aquele algo da cultura que aquela
escola, nos limites daquele sistema terá decidido selecionar e disseminar. A tarefa pedagógi-
ca por excelência antes de ser metodológica é valorativa. É preciso identificar no interior do
vasto mundo da cultura e das muitas significações que lhe correspondem os elementos que
“transcendem necessariamente as fronteiras entre os grupos humanos e os particularismos
mentais”, aquilo que “advém de uma memória comum e de um destino comum a toda huma-
nidade”. A condição humana é o horizonte e a fonte do processo pedagógico.
Estudar efetivamente a cultura de uma escola significa avaliar seus esforços em busca
da construção de sua identidade. Uma escola terá sua identidade construída na medida das
respostas que conseguir produzir para uma pergunta fundamental: como identificar o “valor
177
educativo” daqueles componentes da cultura que têm o poder de interpelar nosso pensamen-
to e de regular nossa existência? Em palavras mais simples e diretas: o que ensinar nessa
escola, reconhecendo que a cultura toda não “cabe” dentro dela?
Procurar respostas para as perguntas acima para com elas construir a identidade de
uma escola pressupõe que haja debatedores interessados e condições regulares para o deba-
te. Aqui a análise organizacional é indispensável e prioritária. É preciso saber dos tempos,
espaços e movimentos organizacionais que viabilizem a participação real e a representação
efetiva. É preciso saber das relações de trabalho que sustentem a permanência continuada
no local de trabalho. É preciso saber, enfim, da materialidade da tão proclamada gestão de-
mocrática, e do entendimento que têm sobre democracia os seus eloqüentes proclamadores.
Tão eloqüentes que chegam a atropelar a semântica e a etimologia, identificando gestão com
gestação, como, aliás, também pudemos observar no mesmo evento internacional aqui já
mencionado. Acredita-se na potencialidade de uma nova vida nas escolas, sem atentar para
as condições em que a vida é atualmente vivida em nossas escolas.
178
uma hipótese preconceituosa até hoje esgrimida nos embates sobre a precariedade dos estu-
dos pedagógicos no Brasil: eles não se desenvolveram de forma mais satisfatória no Brasil,
ou, pelo menos, em São Paulo, porque sua implantação na Usp seguiu trajetória diferente da
observada em outras áreas de conhecimento. Para essas, recrutaram-se na Europa, especial-
mente na França, luminares da Filosofia, da Antropologia, da Sociologia, da Física, da Geo-
grafia, etc., que viabilizaram o grande impulso inicial de que a nova universidade necessitava
A própria memória, diz Ecléa Bosi em passagem anterior, “dependeria desse longo e
amplo processo, pelo qual fica o que realmente significa” (BOSI, 1987, p. 26). É importante
para nossos propósitos aqui transcrever alguns excertos da autora sobre o tema da constru-
ção social da memória:
passa pelo Estado, pelos meios de comunicação de massa e pelos intelectuais dos diferentes
grupos que estão em competição” (OLIVEN, 2006, p. 26).
Uma conclusão se impõe: se nossas escolas públicas continuarem impedidas de cons- Saiba M
truir sua identidade, nosso pretendido sistema nacional de educação jamais irá se constituir
efetivamente. Uma comunidade de destino só pode se constituir quando as vivências do
cotidiano viabilizam o encontro entre as pessoas, suas lembranças e suas visões de futuro.
CANÁRIO, R. O professor entre a reforma e a inovação. In: SILVA JUNIOR, C. A.; BICUDO, M. A. V. (Orgs.).
Formação do educador e avaliação educacional. São Paulo: Edunesp, 1999.
SILVA JUNIOR, C. A. Ética, educação e cidadania. Alguns apontamentos. Simpósio do Laboratório de Gestão
Educacional, 6., 2007, Campinas,SP, Simpósio... Campinas: Unicamp, 2007.
SILVA JUNIOR, C. A. Dermeval Saviani e a educação brasileira. In: GARCIA, W. E. (Org.). Educadores bra-
sileiros do século XX. Brasília: Plano Editora, 2002. (Vol. I).
SILVA JUNIOR, C. A. A escola pública como local de trabalho. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1990.
180
Cultur a, Cultur a
Escolar, Cultur a de
Escola
O conceito de cultura escolar tem sido utilizado para pôr em evidencia a função da
escola como transmissora de uma cultura específica no quadro do processo de socialização
e integração nacional das crianças e dos jovens. No presente texto procuro ampliar esse
sentido relacionando a “cultura escolar”, por um lado, com a própria forma escolar de
educação e, por outro, com a cultura organizacional da escola. Será dada particular ênfase
a uma descrição da gênese e evolução da organização pedagógica do ensino coletivo para
mostrar a sua influência na produção de uma “cultura da homogeneidade” própria deste
modelo escolar. Adota-se, assim, uma perspectiva simultaneamente histórica e sociológica
com o fim de mostrar que a mudança em educação tem de ser, sobretudo, uma mudança
cultural o que significa, neste caso. ter em conta:
A Cultur a Escolar
Uma abordagem política e sociológica da escola não pode ignorar a sua dimensão cul-
tural, quer numa perspectiva global, no quadro da relação que ela estabelece com a sociedade
em geral quer numa dimensão mais especifica. em função das próprias formas culturais que
ela produz e transmite.
181
Torna-se por isso necessário analisar as diferentes dimensões da cultura escolar tendo
em conta, entre outros fatores, a diversidade de abordagens teóricas utilizadas na sua defini-
ção e a identificação das práticas que a materializam.
De um modo esquemático, podemos dizer que é possível identificar três tipos de abor-
dagens:
182
A noção de cultura escolar (...) comporta uma ambiguidade de princípio
trata se ela cultura que se adquire na escola, ou da cultura que só se pode
adquirir na escola? Dito de outro modo, por “cultura escolar” queremos
significar a parte da cultura global que é difundida pela escola às novas
gerações, ou, pelo contrário, uma cultura especificamente escolar, não só
no seu modo de difusão, mas também na sua origem, na sua gênese e na
Está subjacente a esta definição a ideia, muito divulgada na opinião pública, de que a
escola tem como finalidade transmitir os princípios de uma “cultura geral” duma geração
para outra, através de um processo de aculturação especifico que permite passar de uma cul-
tura familiar c de grupo, para uma cultura global e social. Neste sentido, a “cultura escolar”
não seria mais do que uma espécie de sub-cultura da sociedade em geral. A escola é reduzida
aqui ao papel de simples transmissora de uma “cultura” definida exteriormente, no quadro
de um aparente consenso nacional sobre as finalidades da educação e os meios de as realizar.
A sua função é de simples “mediadora” entre a sociedade (isto é, os poderes instituídos) e os
alunos, estando excluída, à partida, qualquer hipótese de ela produzir uma “cultura própria”
à margem, ou em oposição, da cultura social dominante.
Na verdade, a ideia que a escola não era simplesmente reprodutora, mas também pro-
dutora (já evidenciada entre outros por PETITAT, 1982, no seu livro “Production de l´ecole
- Production de Ia societé”), era algo impensável até ha bem pouco tempo.
183
Como seria possível que a escola ou a Universidade tivessem a audácia,
sob o olhar do público e a autoridade do “Grande Mestre’, de ensinarem o
falso, quando o verdadeiro lhes era servido no prato pela própria ciência?
Como poderiam ensinar o inútil quando a sociedade esperava que elas
produzissem classes de alunos solidamente preparados? Como poderiam
deformar os espíritos, quando a sua tarefa era exatamente o contrário, ou
seja dar às crianças e aos jovens que lhes são confiados, uma “formação
geral preparatória para o exercício das funções que os esperam na socie-
dade onde vão entrar’.
Ora é contra esta visão funcionalista da escola que, na História da Educação, como em
outras “Ciências da Educação”, se manifestam hoje pontos de vista diferentes. Na verdade,
adotando uma perspectiva mais estruturalista, muitos autores, põem em evidência o fato de
que a instituição educativa não se limita a reproduzir uma Cultura que lhe é exterior, mas
produz, ela própria uma cultura específica.
O próprio Chervel (1998, p. 193), como conclusão do seu trabalho sobre a história das
disciplinas em França, reconhece que “apesar de vinculada à sua tarefa de formação, de
educação e de instrução, a escola funciona como um sistema autorregulado e largamente
autônomo”. E, mais adiante, acrescenta (CHERVEL, 1988, p. 194):
É o próprio sistema educativo, esse imenso corpo de dezenas, e depois
de centenas de milhares de profissionais, que toma a seu cargo a concre-
tização dos grandes objetivos de que foi incumbido. Para isso, ele põe de
pé, métodos, exercícios, progressões, teorias, que, após confrontação com
outros concorrentes, acabam por sobreviver, através de um processo de
seleção natural, num oceano de tentativas individuais. Ora é precisamente
neste processo que os decisores políticos e a administração educativa apos-
tam. Longe de o contrariarem para imporem, arbitrariamente, as soluções
didáticas da sua preferência, a administração prefere favorecer todas (ou
quase todas) as iniciativas, porque sabem que é a economia intima do sis-
tema educativo que está em jogo. Enquanto os grandes objetivos não forem
postos em causa, o ministério, a administração, a inspeção abstêm se de
intervir.
A ideia de que os sistemas educativos não são (nem foram) sistemas inteiramente re-
gulados do exterior, também já tinha sido expressa por Maurice Halbwachs (1938) na sua In-
trodução à obra de Durkheim “L’évolution pedagogique” (DURKHEIM, 1938, Introduction):
184
Como todas as grandes funções sociais, o ensino tem um espírito, expresso
nos programas, nas matérias ensinadas, nos métodos, e um corpo, uma es-
trutura material, que, em parte, exprime esse espírito, mas que, por vezes,
reage a ele, colocando lhe a sua marca própria e impondo lhe, temporaria-
mente, os seus limites. Das escolas catedrais às universidades medievais,
destas aos colégios dos jesuítas, depois aos nossos liceus, houve, certa-
E esta “vida própria” é “este apoiar se sobre o passado” que explica, igualmente, que
as tentativas de mudança normativa da instituição escolar, determinadas pelo poder político
através de reformas, tenham tido tão pouco sucesso.
Cuban (1990) no seu estudo sobre as reformas que, nos EUA, desde o século XIX, têm ten-
tado melhorar o funcionamento do sistema educativo americano afirma (CUBAN, 1990, p, 75):
Não é de estranhar que muitas reformas que se propuseram alterar as es-
truturas fundamentais do processo de escolarização tivessem tido, se é que
chegaram a ter, tão pouco sucesso. É o caso, por exemplo, do ensino base-
ado no aluno, das escolas de “área aberta”, das escolas não graduadas, do
“team-teaching”, da ampla utilização da tecnologia audiovisual, do ensino
programado, dos horários móveis, e outras erráticas reformas. Algumas
destas reformas conseguiram alterar o vocabulário dos decisores políticos
e dos práticos. Algumas influenciaram de maneira significativa o conteúdo
de jornais e de agendas de conferências. Algumas chegaram mesmo a levar
à alteração de currículos. Mas raramente estas reformas se radicaram nas
salas de aula e nas escolas do país.
Na verdade, esta forma escolar de educação a que David Tyack e Larry Cuban (1995)
chamam de “gramática da escola”, constitui um elemento estruturante de uma cultura pró-
pria da escola (enquanto instituição educativa), construída na longa duração do processo his-
185
tórico que lhe deu origem e que se traduz em valores, imagens, símbolos, normas, estruturas,
rotinas, processos, por ela produzidos e por ela conservados.
É para ilustrar este fato que irei apresentar, de seguida, um exemplo retirado da minha
investigação sobre a história da organização pedagógica dos liceus em Portugal (Barroso,
1995), relativo à construção do modo de organização pedagógica intrínseco à forma escolar
de formação (a cultura da homogeneidade).
186
Este modo de ensino foi posto em causa com a adopção do “ensino simultâneo” (de
que um dos primeiros difusores, no ensino das primeiras letras, foi J.B.- La Salle, no século
XVIII), mas acabou por sobreviver até ao século XX, principalmente nas escolas de profes-
sor único, associado a práticas mais estruturadas introduzidas por outros modos.
A adoção do “modo simultâneo” (século XVIII) e do “modo mútuo” (século XIX) cor-
Num e noutro caso, a solução adoptada passou pela divisão do trabalho dos alunos,
pela especialização de funções docentes (com recurso a monitores ou a auxiliares do profes-
sor), pela seriação do espaço (ainda que no interior de uma mesma sala), do tempo (horários
detalhados), dos saberes (compartimentação das matérias), com a divisão em “classes” e
secções, no ensino simultâneo, ou de “monitorias”, no ensino mútuo.
Este princípio é claramente visível na defesa que Feliciano de Castilho faz, em 1854
das vantagens do “ensino simultâneo”, no quadro da “querela dos métodos” que marcou a
evolução da organização pedagógica da escola primária, no século XIX, em Portugal como
em outros países (CASTILHO, 1854, p. 54):
O ensino individual, isto é, um Mestre todo para um só discípulo, seria (a
não faltar aí o estímulo da emulação) o mais proveitoso modo de ensino;
mas como se aspiraria a ter tantas pessoas que ensinassem, quantas são as
que devem aprender?
Uma vez chegado aqui o raciocínio, apresenta-se naturalmente ao espírito
um desiderandum; qual é: fazer dos alunos todos de uma classe um só indi-
víduo moral e entregá-lo à imediata vigilância e doutrinação de um Mestre
idôneo, isto é, que saiba, possa e queira.
Era este o modelo da “escola graduada” (que em Portugal se chamou de “escola cen-
tral”) e que aparece, pela primeira vez, em Lisboa nos finais do século XIX.
A classe, que era inicialmente uma simples divisão de alunos, transforma se progres-
sivamente num “padrão” organizativo para departamentalizar o serviço dos professores e o
próprio espaço escolar. Simultaneamente, adquire o valor de “medida” na progressão dos
alunos (passar de “classe”) e na divisão temporal do percurso escolar (o termo “classe” vai
tornando-se sinônimo de “ano” de escolaridade).
Esta evolução que obedece a princípios claros de racionalização (do modo de ensino,
cujo paradigma continua a ser a relação face a face de um mestre com o seu discípulo) e de
eficiência (procurando ensinar ao maior número com o menor dispêndio de meios), faz com
que, desde cedo, a escola primária, enquanto organização, adquira um conjunto de caracte-
rísticas “burocráticas” (temporalmente “pré-burocráticas” se atendermos ao “ideal tipo” de
organização definido, mais tarde, por Weber), É o caso, por exemplo, da existência de uma
hierarquia de autoridade (entre o professor e os alunos, entre os diversos escalões de alunos-
monitores e os alunos menos adiantados, entre os professores das últimas e das primeiras
classes, entre o diretor e os professores), assente numa divisão funcional do trabalho (diretor,
professores de cada classe, alunos), prescrita através de regulamentos que possam ser postos
em prática, qualquer que seja a escola e qualquer que seja o professor.
188
No que se refere ao ensino liceal, esta “cultura da homogeneidade” não só está presente
na organização do tempo, dos espaços e dos alunos (como na escola primária), mas também
na homogeneização dos professores e das disciplinas, a partir da instauração do “regime de
classes” com a reforma de Jaime Moniz, em 1895 (ver BARROSO, 1995).
A “classe” liceal completa deste modo o sentido homogeneizador que esteve na base
da sua instauração no ensino primário (“classe de alunos”) para se tornar igualmente numa
“classe de professores e de saberes”.
Da Homogeneidade Virtual à
Heterogeneidade Real
O relato sucinto que fiz da gênese da organização pedagógica da escola pública, e do
papel que desempenhou a “classe” como forma de homogeneizar os alunos, tornou claro o
paradoxo que atualmente existe entre as estruturas que regulam o trabalho do professor e
dos alunos na escola e a necessidade de diversificar o ensino e as práticas pedagógicas, em
função da diversidade dos alunos. Ou, por outras palavras, o paradoxo que existe entre a “ho-
mogeneidade cultural” imposta pela escola e a heterogeneidade das “culturas” dos alunos.
ֹ É importante assinalar que grande parte das críticas que se fazem hoje ao ensino por
classes e à “escola graduada” é contemporânea da criação desta forma de organização peda-
gógica. Estas críticas são constantes em todos os movimentos pedagógicos alternativos que
189
foram aparecendo ao longo dos séculos XIX e XX e estão subjacentes a muitas das reformas
que a partir dos anos 1960 procuraram, sem êxito, responder à “crise da escola”.
Eis um exemplo dessas críticas originais proferida por E. White, numa conferência
pronunciada em Ohio (E. U A), em 1874, na Associação Nacional de Educação e que resume
muitas das críticas que ao longo dos tempos foram proferidas contra esta modalidade de
organização pedagógica:
Como pode ensinar-se aos alunos em classes de um sistema graduado sem
sacrificar as suas formas e necessidades individuais? Como submeter os re-
sultados da instrução escolar a exames sem estreitar ou canalizar tal ins-
trução? Como submeter um corpo de professores a uma supervisão eficaz
sem reduzi-los a simples operacionais? Como realizar a devida adaptação do
sistema à necessidade dos alunos que podem dedicar somente uma parte do
seu tempo aos deveres escolares? (Citado por FABER; SHEARRON, 1974).
Um dos movimentos pedagógicos que desde o início procurou uma alternativa para
esta forma de organização foi a “Educação Nova” Um bom exemplo dessa alternativa encon-
tra-se neste texto de Faria de Vasconcelos (1921, p. 162-163), um dos seus principais divul-
gadores em Portugal:
As classes ou cursos são rígidos, hirtos, os alunos encontram se uniforme-
mente distribuídos nos ramos correspondentes ao curso ou classe em que
entraram.
Dentro de um tal sistema ou organização não se tomam em conta o nível
intelectual dos alunos, os seus conhecimentos e as suas aptidões especiais.
Por maiores que sejam estes e aqueles, num ou noutro ramo, o aluno per-
manece inflexivelmente no curso em que entrou e tem que seguir com o
mesmo rigor implacável a fileira através dos cursos ou classes anualmente
sucessivos. (...)
No regime de classes rígidas, dada a heterogeneidade da população esco-
lar, o professor não pode individualizar o ensino, adaptá-los às necessida-
des intelectuais e pedagógicas dos alunos; as lições têm de ser feitas para
uma média ideal, nem delas se aproveitam os alunos atrasados (...), nem os
mais adiantados.
A citação ilustra com clareza prática o diagnóstico realizado pela generalidade dos
pedagogos do movimento da Educação Nova (em diferentes países) que mostravam a desa-
dequação da organização pedagógica tradicional para adaptar o ensino às características in-
dividuais das crianças e dos jovens, bem como o sentido das propostas alternativas que eram
190
ensaiadas (como por exemplo, os métodos Montessori ou Decroly, ou o método dos projetos
de John Dewey entre outros).
Mas, apesar das “inovações” propostas e das experiências iniciadas, a organização pe-
dagógica formal e legal generalizada com a criação dos sistemas escolares estatais manteve-se
constante. Por isso, não admira que, cerca de 50 anos depois (nos finais da década de 60), o
191
Mas para Hassenforde,. essas variantes (como “os métodos ativos”, a não-directivi-
dade”. “as classes Freinet”) “‘não põem em causa a própria classe e, sem isso, não há uma
verdadeira transformação pedagógica” (idem, p. 96).
No relatório que apresentou, em 1982 (p. 92), ao Ministro da Educação francês sobre a
reforma dos “collèges”, Louis Legrand elege o tema do “agrupamento dos alunos” e as ações
conexas para o pôr a funcionar, como uma das questões centrais da renovação pedagógica:
Não se muda um sistema educativo modificando somente as suas estrutu-
ras. Mas, sem modificação de estruturas não será possível atingir as finali-
dades e os objetivos. (...) A ruptura da compartimentação atual em divisões
fixas e níveis de classes é a condição necessária duma transformação da
vida escolar e da individualização do ensino. Mas não é, de modo algum,
uma condição suficiente.
Um dos estudos mais interessantes sobre os efeitos que esta organização pedagógica
em classes exerce sobre a “fabricação da excelência escolar” e sobre os processos de avalia-
ção, no ensino primário, deve se a Perrenoud (1985). Também aqui o autor procura explicar
por que razão um sistema de avaliação formal tão contestado pelos especialistas de doci-
mologia e que não faz a unanimidade dos pais, dos professores e da administração, subsiste
durante tanto tempo. Perrenoud mostra a íntima relação que existe entre o sistema de avalia-
ção formal em vigor e o sistema de divisão do currículo em programas anuais (definido no
século XIX), bem como o serviço que apesar da sua racionalidade limitada presta à medida
“objetiva” da excelência escolar” (p. 166).
Por tudo isto, não admira que Philippe Meirieu (1989) interrogando-se sobre a dicoto-
mia da classe enquanto “lugar de progresso” e “lugar de obstáculo” à inovação afirme:
Um dos obstáculos maiores à mudança nos estabelecimentos de ensino, é
a própria existência da classe ... Eu tenho a consciência que estou a colo-
car a barra demasiado alta. A classe representou, há cento e cinquenta ou
duzentos anos, quando foi construída (Foucault explica a sua gênese em
“Surveiller et punir”), um progresso considerável. Mas aquilo que foi um
progresso num determinado momento histórico, pode tornar se um freio e
um obstáculo noutro momento.
192
Em Portugal, as tentativas de alterar esta organização pedagógica baseada na divisão
dos alunos em classes anuais, com um sistema de classificação que através do mecanismo da
repetência procura manter a “homogeneidade” dos agrupamentos para que todos os alunos
possam ter, simultaneamente, o mesmo ensino, com o mesmo professor, num mesmo espaço,
também falharam.
Ou então, num passado mais recente, a opção por tentativas setoriais de quebrar esta
modalidade de agrupamento (de alunos, de professores, de programas e de tempos), como a
“área-escola”, ou o sistema de “progressão contínua”, com a proposta de supressão da sele-
ção no interior do 1°,2º e 3.º ciclos de escolaridade, ou a introdução de “currículos flexíveis”.
Num livro recente, David Tyack e Larry Cuban (1995, p. 85) analisam a ocorrência de
fenômenos semelhantes nos Estados Unidos através do conceito de “gramatica da escola”
(que corresponde à organização pedagógica que tenho vindo a utilizar):
As bases da gramática da escola, como a própria configuração da classe,
têm permanecido estáveis ao longo das últimas décadas. Poucas têm sido as
mudanças na maneira como as escolas dividem o tempo e o espaço, classi-
ficam os alunos e os distribuem pelas classes, agrupam os conhecimentos
em disciplinas e concedem graus e “créditos” como evidências da aprendi-
zagem. (...) A continuidade na gramática da instrução frustrou gerações de
reformadores que sonharam alterar estas formas estandardizadas.
Para estes autores a falência das reformas que têm sido tentadas, em vários domínios da
educação, resultou, essencialmente, de elas terem ficado de fora deste “núcleo central” que é
a sala de aula. Isto ficou a dever-se, muitas vezes, à adopção de uma perspectiva a-histórica,
por parte dos políticos e dos reformadores que os leva a ignorar o carácter construído das ins-
tituições escolares e a origem das suas especificidades. É esta aliás uma das razões da própria
externalidade e voluntarismo, com que os reformadores abordam a educação e as escolas.
193
Trazer o desenvolvimento ao cerne da educação - a instrução na sala de
aula, cuja forma é definida por esta “gramática” constitui a mais difícil
espécie de reforma, e ela resultará, no futuro, mais de mudanças internas
criadas pelo conhecimento e perícia dos professores do que de medidas
tornadas por decisores políticos externos.
Como se vê, a solução para este problema tem de passar por uma alteração radical das
estruturas. Mas esta alteração não pode ser feita de cima para baixo. Ela tem de ser cons-
truída nas escolas pelos próprios professores e alunos. Para isso é importante que do ponto
de vista formal-legal existam mecanismos que incentivem e promovam essas mudanças.
Mas o lugar central cabe à formação. Formação que auxilie os professores a desconstruir as
suas práticas e a reconhecer nelas o peso destas estruturas. Formação para sugerir práticas
alternativas. Mas, acima de tudo, formação para dar segurança às pessoas que encetam um
processo de mudança que não se limite à alteração das estruturas mas que pressupõe, igual-
mente, a transformação da cultura escolar.
Não sendo aqui o momento de aprofundar esta temática, importa referir, contudo, que
estamos perante um campo de investigação e análise extremamente promissor para a com-
preensão da escola (individualmente considerada) enquanto organização e instância de so-
cialização, nomeadamente em Portugal, sendo de destacar neste caso, as obras de Rui Gomes
(1993), Manuel Sarmento (1994) e Leonor Torres (1997, 2003).
194
Embora não exista uma definição consensual desta “cultura de escola” e ela dependa
da postura teórica dos seus autores, é possível dizer que ela corresponde a uma metáfora
com que se pretende significar os elementos e processos organizacionais que identificam o
ethos de uma determinada escola, como por exemplo, valores, crenças, ideologias, normas,
condutas, rotinas, hábitos, símbolos, etc.
Como se vê, temos nestas duas perspectivas um evidente paralelismo com a distinção
que fiz entre “cultura escolar” e “cultura de escola”’, no quadro da sua utilização nos estudos
de história da educação.
De fato, a utilização que faço de “cultura de escola” remete para a existência em cada
escola de um conjunto de fatores organizacionais e processos sociais específicos que relati-
vizam a “cultura escolar” (enquanto expressão sui generis dos valores, hábitos, comporta-
mentos, transmitidos pela forma escolar de educação a partir de determinações exteriores).
Isto significa que, se queremos falar da “cultura escolar”, não nos podemos ficar pelo
nível macro do sistema (o quadro formal-legal), mas temos que ir ao interior das escolas
“concretas” (nomeadamente através de estudos de caráter monográfico) para detectar as suas
especificidades e o campo de determinação que resulta das práticas dos seus atores.
195
A capacidade de cada escola produzir a sua própria cultura (no quadro de um conjunto
de constrangimentos externos) está intimamente ligada com o jogo de relações entre as es-
truturas formais e informais da organização.
Um exemplo disto mesmo encontra-se no estudo que eu fiz sobre um corpus docu-
mental de 546 relatórios dos reitores dos liceus, em Portugal, no período entre 1935 e 1960
(BARROSO, 1995) e de que se apresenta a seguir, resumidamente, alguns dos resultados
obtidos neste domínio.
- a quebra da coesão interna da própria organização que era um dos pressupostos fun-
damentais de toda a filosofia de administração subjacente à aplicação do “regime de classes”.
Sem pôr em causa o carácter heterodirigido da administração dos liceus e a sua mo-
delação pela política educativa do Estado Novo, foi possível utilizar os relatórios dos reito-
res para identificar “outras” racionalidades (mais subjetivas e definidas “a posteriori”), que
imprimiam, por vezes, um carácter distintivo à organização do liceu ou às modalidades
utilizadas na sua administração.
196
Atendendo ao papel chave que os reitores desempenhavam neste processo, a análise
dos relatórios permitiu igualmente proceder a uma “análise funcional” mais fina do que a
realizada a partir do quadro legal, dando conta da diversidade de estilos e de modalidades de
ação que era possível encontrar.
Além disso, a análise dos relatórios permitiu pôr em evidência a diversidade de situ-
ações existente (em contradição com a imagem homogênea que a retórica oficial dá do sis-
tema), bem como da construção progressiva de uma organização pedagógica divergente da
que estava consagrada no quadro legal. Tanto no domínio da organização dos horários, como
da constituição das turmas e da distribuição dos espaços, é notória a distância que separa
a “estrutura formal” da “estrutura informal”. É possível identificar, igualmente, um “liceu
invisível”, muito menos homogéneo do que o previsto na legislação e onde as incoerências
entre o modelo legislado e as suas condições de execução constituem espaços de improvi-
sação de soluções e de tomada de decisões, ditadas por critérios de racionalidade diferente.
197
Em síntese
Como breve síntese conclusiva, importa referir no final deste texto a necessidade de
utilizar no estudo da “cultura escolar” (quer numa perspectiva sincrónica, quer diacrónica)
o contributo das diferentes abordagens referenciadas no início deste capítulo funcionalista,
estruturalista e interacionista.
Com esse fim, os estudos sobre a escola deverão ter em linha de conta as três dimen-
sões essenciais do processo de referencialização da cultura organizacional: as normas, as
estruturas e os atores, o que pode ser representado pela figura seguinte:
Normas
Saiba M
Estruturas Actores
Saiba Ma
198
DEROUET, Jean Louis. O funcionamento dos estabelecimentos de ensino em França: um objeto científico em
redefinição. In: BARROSO, João (Org.). O Estudo da Escola. Porto: Porto Editora, 1996.
DURKHEIM, Emile. L ‘Evolution Pédagogique en France. Paris: Librairie FéIix Alcan, 1938.
FABER, Ch.; SHEARRON, G. Administración Escolar - Teoria e Prática. Madrid: Paraninfo, 1974. (Tradução
da edição americana de 1973).
FARIA DE VASCONCELOS, (1921-1929). Problemas Escolares. Lisboa: Seara Nova. 2v.
199
Sobre ética, educação e
1
1. Publicado anteriormente no Caderno de Formação: Formação de Professores, Bloco 1 Formação Geral, Módulo 1 Introdução à
Educação, Disciplina Ética e Cidadania.
200
fragilidade original – e insolúvel – a democracia representativa tende a ser assumida
como a democracia, ideal absolutizado pela referência ao povo e à sua possibilidade de
se tornar governante. Mesmo quando a quantidade de pessoas envolvida é relativamente
pequena (como é o caso das escolas) e os princípios e as vantagens da democracia
direta poderiam ser postos em prática, a inércia ou a compulsão pressionam pela
prevalência dos critérios da democracia representativa e pela observância conseqüente
4. Organizar o debate ético nas escolas hoje significa submetê-lo aos riscos da
representatividade deformada e, mais ainda, ao imperativo quase surreal da indefinição
do povo da escola. Como sabemos, a figura institucional e moral do corpo docente
tornou-se diluída e flutuante face às condições de trabalho impostas aos professores
e hoje quase naturalizadas por sua consolidação ao longo do tempo. Raros são os
professores de uma só escola e raríssimas são as escolas que têm todos os seus
professores exclusivamente à sua disposição. A polis escolar muito dificilmente poderia
ser identificada por seus cidadãos. Por isso é tão difícil elaborar e fazer cumprir um
projeto político-pedagógico. Para que o projeto de uma escola orientasse efetivamente
a construção de seu futuro, seria indispensável que seus autores obrigatórios – os
professores - dispusessem do tempo e do local necessários à expressão e à defesa de
suas ideias, até que o bom senso levasse ao consenso e este à edição das normas a serem
por todos observadas. Sem um corpo atuante, a alma não tem como se manifestar.
5. Antes de ser um ideal, a ética é uma necessidade prática. Por isso mesmo, a humanidade
criou o Direito e o associou ao Estado. Para que ambos zelassem pelo cumprimento
das normas éticas. Teóricos do Direito, de diferentes extratos ideológicos, parecem
concordar com a síntese proposta por um deles: antes de mais nada os homens precisam
sobreviver, mas a própria força dessa necessidade os condenaria ao autoextermínio.
A ética se fez necessária para direcionar as práticas humanas, mas não teria como
impô-las por si mesmo. O Direito, se fez, então, também necessário para assegurar a
ética. Mas, falível, como todas as práticas humanas, o Direito logo se dissociaria da
ética, em busca da construção de sua própria identidade. Despojada do apoio formal do
Direito e do suporte material do Estado, a ética buscou refúgio no território do Ideal,
na esperança de que o apelo aos fundamentos da condição humana pudesse revigorar
a consciência da necessidade do respeito pessoal e da prevalência da solidariedade
sobre a liberdade individual, ou, pelo menos, do equilíbrio entre elas. A ética idealista,
que assim se configura, confronta-se, desde então, com a ética histórica construída e
revista pela humanidade ao longo de sua trajetória temporal.
6. Ética idealista e ética histórica são concepções teóricas que se opõem, mas não são,
necessariamente, realidades que se excluem. Mais grave que a discrepância entre elas,
é a tendência crescente ao abandono de qualquer uma delas ou de ambas. Em tempos
201
de exacerbação do individualismo e das individualidades, o abandono da preocupação
com o outro esvazia de sentido as noções de coletividade e de solidariedade, retirando
delas a condição de valores assumidos como referências para as ações desenvolvidas.
Quer se entenda que a solidariedade tem um sentido universal e atemporal, derivado de
sua condição de atributo natural da pessoa humana, como quer a ética idealista; quer se
entenda que ela é construída parcial e diferenciadamente em função do tempo e do local
em que se desenvolve, como quer a ética histórica, o que se observa é, simplesmente,
a despreocupação, quando não, a condenação do sofrimento do outro, assim como a
condenação do outro ao sofrimento. Sem que se contemple o sofrimento alheio como o
mal a ser evitado, nenhuma construção ética se sustenta no plano abstrato do conceito
ou no plano concreto da história. Desde os primórdios até os dias atuais, a questão
ética está centrada, necessariamente, na oposição entre o bem e o mal.
202
produtividade significa ou deveria significar manutenção da quantidade de produtos
em um menor tempo de trabalho. Para o trabalhador, reduzir o tempo de trabalho é
a condição necessária para a proteção do valor do único bem do qual é efetivamente
proprietário, a sua própria força de trabalho. Já sabemos que na luta ideológica pelos
significados na sociedade capitalista e em sua legislação prevalece o significado
estipulado pela lógica do capital, a ponto de muitas pessoas se surpreenderem com
9. Uma ética do trabalho pedagógico, evidentemente, não poderia ser construída nesses
termos. E é nesse ponto, infelizmente, que a ausência de uma teoria autônoma da
administração escolar mais se faz sentir. Ainda que, como já registramos, a ética
não seja uma decorrência natural da ciência, é inegável também, por outro lado, que
quanto mais e melhor conhecermos as coisas e as situações, maior e melhor será nossa
possibilidade de organizar eticamente nossa conduta. Sabendo como as coisas são,
saberemos o que pode acontecer com elas e a partir delas. Restará então decidir o que
queremos que aconteça com elas e por elas. A decisão ética é sempre decorrente da
vontade e, em princípio, orientada pela realização da justiça. Lamentavelmente, o ainda
incipiente e quase sempre insuficiente conhecimento já elaborado e disponibilizado
no atual estágio da produção teórica em administração escolar no Brasil pouca
contribuição pode oferecer para nos ajudar a decidir para onde e por onde queremos
orientar a vida de nossas escolas e de nossos sistemas escolares.
10. Esboçamos nos anos oitenta e desenvolvemos em parte até os anos noventa a análise
de duas questões centrais: a natureza do trabalho pedagógico e a natureza da relação
pedagógica. Avançamos um pouco mais na discussão da primeira e remetemos a
segunda à consideração de outras áreas de conhecimento do campo educacional, como
203
a didática e a psicologia, por exemplo, mas, em ambos os casos, não conseguimos (ou
não pretendemos) centrar o debate na busca incessante da melhor significação para
esses conceitos. A peculiaridade do trabalho pedagógico entre as formas de trabalho
social e a especificidade da relação pedagógica entre a multiplicidade das relações
sociais são referências básicas para a organização do trabalho pedagógico nas escolas
e, consequentemente, para a promoção da educação e da cidadania. A autonomia do
trabalho do professor, que é inerente à sua natureza, e a solidariedade necessária entre
o professor, seus alunos e destes entre si foram simplesmente atropeladas pelo furor da
lógica de mercado que, proveniente do setor privado, invadiu as políticas, as formas de
organização e as próprias convicções do serviço público. Nossa administração escolar
simplesmente se afastou da lógica do direito à educação, desfazendo-se, sem muita
hesitação, de suas preocupações éticas.
11. A solidariedade, princípio central da ética é também o princípio educativo por excelência.
Se uma relação que se pretende educativa não está presidida pela solidariedade ela,
simplesmente, não tem como ser educativa. Como já sabemos – mas, ao que parece, não
estamos muito lembrados... – um professor e seus alunos têm que ser necessariamente
solidários entre si em vista do objetivo que lhes é comum: o aluno deve ter acesso ao
conhecimento de que o professor é o portador. A implicação ética é obrigatória: todos
deverão se empenhar para que isso aconteça. E para que isso aconteça a autonomia
do professor na escolha, na proposição e na coordenação das formas de trabalho a
serem utilizadas não pode descambar em autoritarismo e a aceitação dos alunos não
pode se reduzir à mera subserviência. É preciso ser convincente para gerar convicção,
mas é preciso também estar convicto para poder ser convincente. É a força do espírito
humano e não a força da arbitrariedade que assegura o esforço coletivo.
12. Como trabalhador autônomo, o professor é responsável pelo trabalho que desenvolve
mas, pela própria natureza desse trabalho, não pode sobrepor-se nem a seus alunos , nem
aos outros professores, seus companheiros de trabalho. Sua autonomia será exercida
nos limites de um projeto pedagógico que, por sua vez, necessita do trabalho coletivo
para poder se desenvolver. O trabalho pedagógico é sempre é um trabalho relacional,
ou seja, necessita do outro para poder se realizar. A ética é, então, não apenas uma
dimensão desejável da conduta humana, mas a própria condição de possibilidade do
trabalho pedagógico. A autonomia é um pressuposto necessário para a decisão ética.
Por isso, o próprio modelo original grego carregava suas restrições: os escravos, as
mulheres e as crianças não circulavam pelo espaço público das decisões. Privados da
liberdade, ficavam fora dos limites da cidadania.
204
intencionados, alguns, irresponsáveis, outros e desastrados quase todos. Nos dias
atuais chegamos ao limite do desaparecimento da própria ideia de escola, tal como
historicamente a concebemos. Os muitos “sistemas de ensino” que pululam com
suas “griffes” pelo mercado do “franchising” educacional privado já se apoderaram,
segundo eles próprios, de poderosas fatias do mercado do setor público (sic!), quase
sempre desavisadas secretarias municipais e até algumas estaduais seduzidas pela
14. Diante da ameaça ao professor, para que não pense, e à escola, para que não organize
livremente seu currículo, cabe à administração escolar, enquanto disciplina acadêmica,
reinventar seu objeto de estudo - a escola, suas estruturas internas, as estruturas a que
se integra e as políticas que as condicionam. Embora esse último aspecto, o estudo das
políticas, seja indispensável, ele não pode monopolizar as agendas de pesquisa da área,
como há tempos vem ocorrendo. Precisamos entender as escolas “por dentro”, saber,
não apenas como reagem às políticas, mas saber, principalmente, como vivem em seu
cotidiano. Como é seu povo, ou seja, quais e como são as pessoas que buscam construí-
las socialmente e que esperam que essa construção possa realizá-las profissional e
afetivamente. De que condições de trabalho dispõem essas pessoas, a que relações de
trabalho se subordinam, de que instrumentos de trabalho podem se valer. Do ponto de
vista metodológico, precisamos muito mais de etnografias do que de estatísticas para
atribuir significado às “boas” e ‘às “más” escolas.
15. Ética, educação e cidadania são idealizações do espírito humano, ao mesmo tempo que
necessidades práticas de ação. Se entendermos por cidadania a consciência moral que
as pessoas têm de reagir ao certo e ao errado, a introjeção dos direitos e dos deveres
de que são portadoras, estaremos reconhecendo a necessária interligação entre elas.
A cidadania se sustenta em sua dimensão ética, assim como a educação; a ética se
expressa pelos juízos de valor que a educação lhe permite formular; a educação se
propõe a produzir a humanidade de todos a partir da produção da humanidade de
cada um, ou seja, propõe-se a produzir a cidadania universal. O direito à educação
constitui, assim, o ponto de convergência de nossa reflexão. O sujeito humano que dele
resultará, será a síntese do sujeito ético, do sujeito epistêmico, e do sujeito político que
conseguirmos construir.
205
Autonomia da Pedagogia:
as Decisões Autônomas dos
Professores, a Autonomia das
Escolas e a Democr atização dos 1
Poderes Educativos
Licínio C. Lima
Professor Catedrático da Universidade do Minho, tem como área
de investigação a Organização e Administração Escolar
1. Originalmente publicado em: LIMA, Licínio C. Organização escolar e democracia radical: Paulo Freire e a governação democrática
da escola pública. São Paulo: Cortez; Instituto Paulo Freire, 2000. (Guia da escola cidadã, v.4)
206
mudanças morfológicas, pretensamente universais, acima ou para além dos atores concretos
e das suas práticas pedagógicas localmente ensaiadas2. Tal como não é possível, nem acei-
tável, democratizar a escola e alcançar a sua autonomia através de práticas e de meios não
democráticos - ou “ter um sonho de libertação e usar meios de domesticação” (FREIRE,
1994c, p. 33) -, também o recurso a práticas, métodos e meios pedagógicos implicitamente
(ou potencialmente) democráticos e autonômicos não pode ficar indiferente aos objetivos,
Neste sentido, a autonomia da pedagogia (isto é, dos atores, da organização, dos po-
deres e das decisões, nucleares ao universo pedagógico) é absolutamente essencial à prática
da pedagogia da autonomia. E embora, também neste caso, haja que admitir percursos e
realizações distintos, sob distintas orientações e em diferentes circunstâncias, não me pa-
rece possível admitir uma concepção dicotómica, e muito menos antinómica (embora isso
não signifique a ausência de tensões e de conflitos): a pedagogia da autonomia e da decisão
constitui-se necessariamente como prática autonômica, atualizada por sujeitos pedagógicos
democráticos e autônomos (em afirmação e em formação), em contextos de autonomia - de
autonomia sempre relativa, em contextos não de independência mas de interdependências,
como processo e construção social coletiva e não como artefato ou aquisição definitiva e
independente das ações dos atores.
2. A propósito das discussões relativas ao local e ao universal, uma das temáticas a exigir maior atenção e esforço crítico nas investiga-
ções em educação, é oportuno considerar a chamada de atenção de Alípio Casali (1998: 96), lembrando que a obra de Paulo Freire se
universalizou a partir das suas intervenções concretas a nível local: “Dar, o paradoxo: ao realizar bem o particular, Paulo Freire univer-
salizou-se. A universalidade analógica de sua teoria tornou-a significativa para outras situações históricas e culturais, as mais diferen-
ciadas, que têm esse desafio comum: o de contribuir por meio da educação, para o que ele chamava de ‘superação das dominações”’.
207
desarticulação. Em todo o caso, a autonomia da escola e dos atores educativos, a autonomia
da pedagogia (do currículo, da avaliação, etc.), constitui-se sempre, enquanto ação, como
pedagogia (no mínimo implícita) da autonomia, como experiência educativa significante que
releva do exercício de práticas de autonomia, tal como do exercício de práticas pedagógicas
se espera que relevem experiências de autonomia.
Face a um projeto de educação libertadora, como o que é proposto por Paulo Freire,
compreende-se quão imprescindível se toma a construção de contextos, situações e práticas
de autonomia da pedagogia da autonomia, estruturados através do diálogo, da reinvenção
democrática dos poderes pedagógicos e da superação de assimetrias político-educativas3.
3. Como escreveu Agostinho dos Reis Monteiro, a educação libertadora caracteriza-se “pela transformação da sua [...] real assimetria
em simetria ética, através do diálogo, em que educador e educandos morrem para renascer’ (Monteiro, 1998: 126), assinalando muito
bem a ideia de Páscoa presente na obra de Freire (ver, por exemplo, as referências em Freire, 1976: 107).
208
de avaliação e de controle da qualidade (LIMA; AFONSO, 1993) tem-se verificado que
muitos governos vêm atribuindo novas responsabilidades administrativas e financeiras às
escolas, mas que estas, entretanto, vão perdendo poderes em outras áreas, como a pedagogia,
o currículo e a avaliação4, assim se acentuando “as formas externas de controle e escrutínio
sobre o trabalho dos professores” e a “redução da autonomia da profissão docente” (SAN-
CHES, 1995, p. 42, 45).
5. Para uma tentativa de relacionação entre as propostas de Freire e a “educação empresarial” veja-se o trabalho de Alan Gibson
(1994). Embora o exercício contenha virtualidades, a verdade é que o autor incorre num certo reducionismo. despolitizando a “educa-
ção empresarial” e admitindo o seu caráter neutral (p. 49); e embora reconheça a dimensão política das propostas de Freire, tende no
entanto a acentuar as vertentes metodológicas e didáticas do seu trabalho (assim relativamente desencarnadas), por esta via procu-
rando realçar semelhanças entre “elementos básicos do processo educativo” (p. 51).
6. Expressão criticamente utilizada por Celestino Silva Junior, para quem esta situação significa: ‘’’conferir’ autonomia às escolas, vin-
culada, naturalmente, a um ‘contrato de gestão’; que tal ‘contrato’ supõe a adoção de um novo ‘padrão de gestão’; que o novo ‘padrão
de gestão’ supõe salários diferenciados por decorrência da avaliação de desempenho; que a avaliação do desempenho da escola e
de seus trabalhadores será também uma decorrência da avaliação do desempenho dos seus alunos em exames pós-curso de caráter
nacional; que não apenas os salários, mas também as demais dotações orçamentárias para as escolas deverão variar em função de
‘sua produtividade’; que os educadores do ensino público devem rever sua resistência em aceitar a presença de empresários e re-
presentantes de segmentos do ensino privado nas negociações destinadas à produção de consensos” (Silva Junior, 1996: 88-89).
7. Por esta razão afirma José Contreras com pertinência: “Talvez o mais necessário e urgente, mais quê inventar procedimentos de
‘autonomização do outro’, seja apoiar a elaboração de vozes públicas nas quais a discussão pública, política, sobre a educação não
esteja instrumentalizada por interesses estranhos” (Contreras, 1999: 72-73).
209
Em contextos diversos que, não obstante as suas diversidades e especificidades, podem
também em graus variados partilhar elementos característicos daquilo que já foi apelidado
de “assalto neoliberal à educação” (SILVA, 1996, p. 251-258), as decisões político-educativas,
autônomas, dos docentes, embora imprescindíveis em termos de democratização, eviden-
ciam limitações. Se é verdade que o aprofundamento das autonomias educativas se encontra
muito dependente das ações concretas que os professores desenvolvem, isso não significa
que as mudanças político-educativas possam, voluntaristicamente e heroicamente, ser ape-
nas concretizadas por eles, de forma isolada face a outros atores e poderes educativos, sobre-
tudo num quadro global e perante opções políticas orientadas em sentido inverso. Docentes,
e mesmo outros atores educativos, seriam desta forma unilateralmente responsabilizados,
ignorando-se os constrangimentos existentes, desprezando-se assimetrias de poder, homo-
geneizando-se objetivos e interesses e, simultaneamente, atribuindo ao estado, aos governos
e administrações, um papel pretensamente neutro (LIMA, 1998c). A autonomia das escolas
não representa uma conquista digna de heróis, não é um premio para atores performativos,
nem uma aquisição resultante do merecimento de docentes interessados e diligentes; não é,
enfim, um ato de liberalidade dos governos, magnanimamente capazes de redistribuírem e
devolverem poderes de decisão.
Creio, de resto, que isolados (e muito menos em oposição sistemática face a outros
atores e interesses educativos), os docentes dificilmente se sucederão na tomada da palavra
nas escolas, enquanto ato de participação legítima nas decisões político-educativas; mais do
que uma tentativa de tomada do poder, a sua ação visará a transformação do poder (FREI-
RE; MACEDO, 1990, p. 36), a redistribuição democrática dos poderes de decidir sobre os
problemas educativos, designadamente no interior das escolas.
8. Como esclarece João Barroso (1997: 20), “A autonomia da escola não é a autonomia dos professores, ou a autonomia dos pais, ou
a autonomia dos gestores. A autonomia é um campo de forças, onde se confrontam e equilibram diferentes detentores de influência
(externa e interna) dos quais se destacam: o governo, a administração, professores, alunos, pais e outros membros da sociedade local”.
210
regras e estruturas mais livres, justas e democráticas, um futuro mais próximo e mais in-
ventável e manejável por parte dos atores escolares organizacionalmente localizados. Par-
ticipando, na escola e em seu contexto comunitário, na construção de uma obra própria e
não apenas na pressuposta reprodução de uma obra alheia, ou seja, co-construindo a escola
democrática, produzindo regras e estruturas de autonomia em regime de co-autoria face a
políticas, interesses e objetivos de âmbito nacional ou regional (LIMA, 1996b).
líticas educacionais. Políticas educacionais que, tal como Freire nos ensina, exigem suporte
organizacional e ação administrativa; tal como as práticas de administração e gestão esco-
lares, seja a que nível for, não podem escapar à condição de práticas de política educacional.
Saiba Mais
Administrar a educação e gerir as escolas, tanto como ensinar, são tarefas político
-pedagógicas, implicando um trabalho educativo; ora tal como Paulo Freire deixou muito
11
claro , o trabalho educativo não pode existir sem opção política.
Referências
BALL, Stephen. Culture, Cost and Control: Self-management and entrepreneurial schooling in England and
Wales. In: SMYTH, J. (Ed.). A Socially Critical View of the Self-managing School. Londres: The Falmer
Press, 1993. p. 63-82.
9. Num importante estudo sobre a ação de Paulo Freire na cidade de São Paulo, O’Cadiz, Wong & Torres (1998: 91) afirmam: “Ao nível
administrativo o diálogo era visto como o meio para desenvolver relações mais democráticas entre os atores educacionais envolvidos
e como metodologia para comprometer administradores, professores, estudantes e comunidade num processo coletivo de troca de
conhecimento e de construção de conhecimento”.
10. Segundo Benno Sander (1995: 100), “No contexto da tradição do conflito na Sociologia e na educação, a administração dialógica
é uma construção alternativa, tanto para a administração estruturalista como para a administração interpretativa, tratando de superar,
respectivamente, o determinismo econômico e o determinismo antropológico que lhe são inerentes”.
11. A título de exemplo, e em registro informal, veja-se o conjunto de diálogos organizados por Nogueira & Geraldi (1990), onde esta
questão é abordada e Paulo Freire reflete sobre a sua experiência como administrador escolar.
211
FREIRE, Paulo; ESCOBAR, M., FERNÁNDEZ , A. L.; GUEVARA-NIEBLA, G. Paulo Freire on Higher
Education. A Dialogue at the National University of Mexico. Albany: Suny Press, 1994c.
FREIRE, Paulo; MACEDO, Donaldo. Alfabetização. Leitura do Mundo, Leitura da Palavra. São Paulo: Paz e
Terra, 1990. (1.ed. de 1987).
GADOTTI, Moacir. Lições de Freire. Educação, Sociedade & Culturas, n.10, p. 111-122, 1998.
LIMA, Licínio C. Reformar a Administração Escolar: a recentralização por controlo remoto e a autonomia como
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LIMA, Licínio C. Construindo Modelos de Gestão Escolar. Lisboa: Instituto de Inovação Educacional, 1996b.
LIMA, Licínio C. A Administração do Sistema Educativo e das Escolas (1986/1996). In: MINISTÉRIO DA
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LIMA, Licínio C. E Depois de 25 de Abril de 1974. Centro(s) e Periferia(s) das Decisões no Governo das Escolas.
Revista Portuguesa de Educação, v.12, n.1, p. 57-80, 1999.
MONTEIRO, Agostinho dos Reis. (Re)Encontro com Paulo Freire. Revista de Educação, v.III, n.1, p. 123-128,
1998.
NOGUEIRA, Adriano; GERALDI, João W.(Orgs.). Paulo Freire: Trabalho, Comentário, Reflexão. Petrópolis:
Vozes, 1990.
O’CADIZ, Maria P.; WONG, Pia L.; TORRES, Carlos A. Education and Democracy. Paulo Freire, Social
Movements, and Educational Reform in São Paulo. Boulder: Westview Press, 1998.
RYAN, Brendan. And your corporate manager will set you free... : devolution in South Australian education.
In: Smyth, J. (Ed.). A Socially Critical View of the Self-managing School. Londres: The Falmer Press, 1993.
p. 191-211.
SANCHES, Maria F. C. A Autonomia dos Professores como Valor Profissional. Revista de Educação, v.V, n.1,
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SANDER, Benno. Gestão da Educação na América Latina. Campinas: Autores Associados, 1995.
SILVA, Tomaz Tadeu da. Identidades Terminais. As Transformações na Política da Pedagogia e na Pedagogia
da Política. Petrópolis: Vozes, 1996.
WHITTY, Geoff; POWER, Sally; HALPIN, David. Devolution and Choice in Education. The School, the
State and the Market. Buckingham: Open University Press, 1998.
212
Bloco 3 Disciplina 26
213
Atenção: As atividades presenciais deverão ser publicadas até o final da aula e po-
derão ser aprimoradas ao longo da semana se houver necessidade.
Vejam abaixo as atividades programadas para a semana:
S
1ª Aula Presencial – 25/02/2013 – 2ª feira
Atividade 01 – Comentário inicial dos Orientadores de Disciplina sobre a proposta
da disciplina.
Referência:
BECSKEHÁZY, Ilona. Os desafios da gestão educacional. Revista Gestão Educacional, Curitiba, set. 2011.
Disponível em: http://www.gestaoeducacional.com.br/view/action/visualizarArtigo.php?cod=274. Acesso em: 29
nov. 2012.
Atividades Avaliativas
214
Saiba Mais
Saiba Mais
1ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
1ª Aula Presencial – 25/02/2013 – 2ª feira
215
Atividade Extra – Orientações para atividades de estágio
Além das atividades especificamente previstas para a disciplina, preparamos algu-
mas atividades opcionais para estágio, também com base nos temas propostos.
Para cada tema são sugerias atividades que podem ser realizadas até o dia 20 de
março de 2013, período final de recuperação da D26, para convalidação de horas de
estágio.
Todas as propostas deverão ser publicadas nos Portfólios Individuais, tanto da D26,
como no ambiente de Orientações de Estágio – mesmo quando a sugestão for para
realizá-las em grupo. Verifiquem como nomear as postagens em cada uma das pro-
postas.
Observem também, que diferente das propostas apresentadas nas disciplinas ante-
riores, essas atividades não fazem parte da avaliação final da D26, entretanto serão
avaliadas pelos Orientadores de Turma, para convalidar as horas de estágio.
As atividades propostas são as seguintes:
216
Publiquem seus trabalhos com o título D26_Tema2_B. Essa atividade po-
derá ser convalidada em duas horas de estágio em Gestão Educacional.
Saiba Mais
Tema 3 – Sobre sistemas e instituições escolares
Atividade A (Grupo) – Relatório de observação de visita orientada a uma
cional.
Fragmento 1
[...] O que se coloca no centro da discussão é a legitimidade do exercício
do poder na escola e não, necessariamente, a finalidade da escola como
instituição social predominantemente voltada à transmissão do saber. Nessa
posição fica implícito o entendimento de que a administração escolar não
se constitui em um saber técnico especializado ou, pelo menos, o de que
sua existência c sua consistência não são suficientemente significativas para
distinguir e credenciar alguém por seu domínio. Em razão disso, o professor-
diretor deveria ser detentor apenas de um mandato e não de um cargo.
Como se pode observar, uma primeira grande indagação se coloca nessa
discussão: a administração escolar enquanto “saber estruturado com preten-
são à objetividade” (VALE, 1985) teria já alcançado um satisfatório grau de
desenvolvimento que lhe assegurasse, nos termos de Seheffler, por exemplo,
o caráter de ciência subjacente à prática profissional da administração esco-
lar? (SCHEFFLER, 1974) Admitindo-se para efeito de argumentação como
correta a posição que vem sendo observada em São Paulo, uma indagação
complementar seria: em que consiste esse saber estruturado sobre admi-
217
nistração escolar? Uma nova indagação complementar e necessária seria:
que concepção de ciência orientou e orienta o esforço de construção desse
saber? (SILVA JUNIOR, 2012, p. 102).
Fragmento 2
Não me parece tranquila a posição dos estudiosos e dos praticantes da adminis-
tração da educação a respeito do significado do fenômeno educacional. A ênfase
no “administrativo” apresenta-se assim, ao mesmo tempo, como opção preferencial
face às peculiaridades da disciplina e também como “proteção” face ao complexo
universo teórico-metodológico em que a discussão sobre a educação se desen-
volve. De tal posição resulta o entendimento até aqui admitido de que é possível
estabelecer as formas de realização do processo de administração da educação
independentemente de uma análise mais aprofundada e conclusiva sobre as carac-
terísticas do próprio processo educacional. O desdobramento desse entendimento
leva à convicção de que é também possível pensar a administração da educação
em sua especificidade própria, válida por si mesma e capaz, consequentemente, de
se sobrepor às condições em que a educação se desenvolve em uma determinada
formação social. Nascem daí as teorias “universais” de administração da educação,
cuja aplicação, segundo se acredita, atestaria o grau de “modernização” de urna
sociedade em busca de solução para seus problemas educacionais. Todo o vasto
arsenal teórico-metodológico-conceitual do funcionalismo, derivado da epistemolo-
gia neopositivista, e tão facilmente localizável em documentos de nossas agências
governamentais, se assenta nessa visão simplificadora da realidade.
Acredito na possibilidade e na importância de se estabelecer a especificidade da
administração da educação enquanto disciplina acadêmica e enquanto prática so-
cial determinada. As marcas distintivas dessa especificidade devem, no entanto, a
meu ver, ser buscadas não no “administrativo-genérico-empresarial aplicado à si-
tuação escolar”, mas sim na recuperação de propostas originais que buscam identi-
ficar as peculiares formas de contribuição que a administração possa oferecer para
que a educação se realize em sua plenitude e a partir de seus elementos próprios.
(SILVA JUNIOR, 2012, p. 110).
218
educação está associada à hegemonia da concepção positivista de
ciência.
c. ( ) É possível estabelecer a especificidade da administração escolar
como prática social, mas não como disciplina acadêmica.
d. ( ) Observadas determinadas condições, é possível estabelecer a es-
Fragmento 3
Quando “ministra” sua aula, o professor “administra” essa aula, ou seja, es-
tabelece as condições em que a aula se processa. Em seu trabalho docente
fundem-se o comportamento administrativo e o comportamento técnico-di-
dático. O domínio das condições é a garantia da realização do ato de ensino.
O “esforço humano orientado para a realização de fins”, marca essencial do
processo administrativo, tem aí sua possibilidade máxima de viabilização.
Um único indivíduo responde pela ordenação dos meios em relação aos fins
a que se propõe. A aula é, ao mesmo tempo, instrumento e finalidade.
Quando pensamos no trabalho pedagógico tomado em sentido amplo, em
seu caráter de organização de unidades e de sistemas escolares, a questão
da administração da educação desdobra-se, evidentemente, em complexi-
dade. Trata-se agora de articular meios e fins que se apresentam separada-
mente e que são de responsabilidade de indivíduos diferentes. O caminho
não está em “robustecer” a identidade da administração para colocá-la “ao
nível do ensino”, mas em manter presente a lição da sala de aula: a adminis-
tração é “condição para”, e, como tal, é determinada pelo fim a que se desti-
na. Isso significa que a ordenação das necessidades do trabalho pedagógico
é que vai estabelecer os padrões da administração a ser exercida. (SILVA
JUNIOR, 2012, p. 112).
219
Vocês consideram que está correto o que se afirma em:
a. I, II e III
b. II, apenas
c. I e II
d. II e III
e. III, apenas
Fragmento 4
Ainda que o pretenda, o especialista em administração da educação não pode
orientar sua atuação pela objetivação do trabalho pedagógico, ou seja, não pode
pretender avocar a si o controle do processo de trabalho desenvolvido pelos pro-
fessores. Se isso se dá, o que resulta é a subordinação do trabalhador (professor)
ao processo de trabalho que executa, e essa subordinação é exatamente o que não
pode ocorrer, tendo em vista a natureza própria do trabalho pedagógico. Na relação
educativa, conforme Saviani o demonstra, o professor detém o controle do proces-
so de trabalho que realiza, é ele quem o planeja, elabora e executa. [...].
[...] de duas maneiras a natureza do ato educativo determina as perspectivas de sua
administração: marcado pela solidariedade, ele não pode ser administrado de for-
ma competitiva; permanecendo sob o controle do trabalhador que o produz, ele é ir-
redutível a uma administração que implique sua objetivação. Por ambas as razões a
administração de fundo teórico-empresarial não pode, sob pena de desvirtuamento
completo da finalidade da escola pública, aplicar-se à condução das atividades de
seus professores. Não pode também, consequentemente, presidir, às organizações
maiores – os sistemas escolares – no interior das quais essas atividades se desen-
volvem. (SILVA JUNIOR, 2012, p. 114).
220
Valor: 10.00 Peso: 3
Tipo de atividade: Individual.
Objetivos:
• Refletir sobre os conteúdos apresentados no texto 01 – “A administração da
escola pública. Equívocos e implicações”.
Fragmento 1
A Administração Educacional como ciência, disciplina ou campo de estudo
nasceu sob o signo da ambiguidade, “comprimida” entre dois territórios de
conhecimentos e práticas, anteriormente constituídos, mas ainda em proces-
so de afirmação: as” Ciências da Educação” e as “Ciências da Administração
e Gestão”. O primeiro, reduzindo a importância das questões administrativas
e organizativas da escola a um campo de aplicação da Pedagogia e da Didá-
tica Geral, devidamente “assistidas” pela Psicologia da Educação enquanto
disciplina credibilizadora de uma “área de estudos” em busca de estatuto e
reconhecimento científico (ver a este propósito CORREIA, 1998). O segundo,
reivindicando o monopólio dos estudos administrativos e organizacionais e
fazendo do sistema educativo e das escolas um campo de aplicação das teo-
rias da administração e organização, em afirmação crescente no comércio e
indústria desde o primeiros anos do século XX.
Esta “disputa” de territórios e de dependências era agravada pelo fato de,
quer as Ciências da Educação, quer as Ciências da Administração e Gestão
221
estarem, também elas, num processo de afirmação “juvenil”, perante os que
consideravam que a educação e a administração não passavam de campos
de práticas, dispensando, por isso, o saber teórico de que se reclamavam
aquelas disciplinas.
De registrar, ainda, que nos países de administração centralizada e com pre-
domínio do sistema público de educação, o lugar das “ciências da adminis-
tração e gestão” era secundarizado perante o primado do Direito Adminis-
trativo enquanto corpo estabelecido de normas e processos que regulava
as práticas da administração pública, incluindo, portanto, a administração da
educação, em qualquer dos seus níveis. (BARROSO, 2012, p. 122).
Fragmento 2
[...] pode dizer-se que a Administração Educacional nasceu sob o signo da
inutilidade ou da redundância.
Inutilidade porque, à semelhança do que era dito das próprias “administra-
ção” e “educação”, a administração da educação, para ser bem exercida,
necessitava unicamente do respeito das normas e das regras que fixavam
os procedimentos e as rotinas a adotar. E quanto ao resto, o “saber” de pro-
fissionais experimentados era suficiente para resolver, com bom senso, os
casos particulares que fossem surgindo.
Redundância porque lá existiam disciplinas que disponibilizavam teorias e
conhecimentos que interpretavam o que se passava nos serviços da admi-
nistração e nas escolas, quer no que se refere à tomada de decisão, orga-
nização do trabalho e afetação de recursos (as Ciências da Administração),
quer no que se refere à organização da escola (tempo, espaços, currículo),
ao trabalho dos professores e dos alunos (métodos de ensino) e à relação
pedagógica na sala de aula (Pedagogia e Didática). Sendo assim, para que
era preciso a Administração Educacional? (BARROSO, 2012, p. 122).
222
Fragmento 3
As análises sociológicas das organizações de ensino decorrem, por um lado,
da reação aos grandes inquéritos sociais sobre os “efeitos de escola” (de que
o célebre Relatório Coleman. nos meados dos anos 1960, é o mais conheci-
do), e por outro lado, do movimento de renovação da sociologia da educação
no Reino Unido (BATES, 1985; DEROUET, 1987).
Fragmento 4
Para que a escola se torne um objeto científico é preciso, por isso, que haja
um processo de transformação da representação do real, a partir de uma in-
terrogação sistemática fundada num corpo articulado de teorias e conceitos
(CANÁRIO, 1996, p. 127):
É a partir deste modo de conceber a atividade investigativa, encarando-a
como um processo de transformação de objetos sociais em objetos cientí-
ficos, que é possível afirmar que a escola enquanto objeto de estudo não
223
corresponde a “uma escolha”, nem a “uma descoberta”, nem sequer a “uma
emergência”, mas sim a um processo de construção realizado pelo investiga-
dor. É ainda esta distinção entre objeto social e objeto científico, bem como
a compreensão do processo que preside à passagem de um para outro, que
ajuda a clarificar, ou a equacionar, uma outra dimensão importante: a escola,
enquanto objeto social, não corres¬ponde a um objeto de estudo, mas sim a
múltiplos objetos de estudo, consoante a multiplicidade de olhares teóricos
de que for alvo. (BARROSO, 2012, p. 143).
224
Atividade 07 – Assistir ao vídeo 01 – Administração escolar e participar do
Fórum de Discussão Presencial do tema 01
Assistam às 20h e/ou às 21h15, em sua TV digital, ao vídeo 01 – “Administração
escolar”, veiculado pela UNIVESP TV. Esse vídeo pode ser acessado também, por
meio da Ferramenta Material de Apoio, ou pelo Portal Acadêmico, link Vídeos.
Fragmento 1:
[...] a construção da escola democrática não é viável sem a prática de uma
pedagogia indagativa, da pergunta, “em que se ensine e se aprenda com
seriedade, mas em que a seriedade jamais vire sisudez [...] em que, ao se
ensinarem necessariamente os conteúdos, se ensine também a pensar cer-
to” (FREIRE, 1991, p. 24); sem uma “real participação da comunidade de pais
e de representantes de movimentos popu¬lares na vida inteira das escolas”
(ibid., p. 47-48); sem a participação e a voz dos educadores, tradicionalmente
225
manie¬tados “em nome de sua pouca competência com ‘pacotes’ emprenha-
dos por nossa sabedoria” (ibid., p. 29); sem, simul¬taneamente, liberdade e
autoridade docentes democráticas, apoia¬das na competência profissional
dos professores (FREIRE, 1996b, p. 103) ; sem poder de decidir, pois só de-
cidindo se aprende a decidir e só pela decisão se alcança a autonomia (ibid.,
p. 119-120). (LIMA, 2012, p. 148-149).
Fragmento 2:
[...] é claro, para Freire, que todos aqueles que intervêm na educação a partir
de uma perspectiva crítica ficam, em congruência, obrigados “a engendrar, a
estimular, a favo-recer, na’ própria prática educativa, o exercício do direito à par-
ticipação por parte de quem esteja direta ou indiretamente ligado ao que fazer
educativo” (Freire, 1996a: 305). Trata-se de introduzir as regras do jogo demo-
crático e o gosto pelas práticas democráticas e participativas, na escola (FREI-
RE, 1997c, p. 89):
É preciso e até urgente que a escola vá se tornando um espaço acolhedor e
multiplicador de certos gostos democráticos como o de ouvir os outros, não por
puro favor mas por dever, o de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento às
decisões tomadas pela maioria a que não falte contudo o direito de quem diver-
ge de exprimir sua contrariedade. O gosto da pergunta, da crítica, do debate. O
gosto do respeito à coisa pública que entre nós vem sendo tratada como coisa
privada, mas como coisa privada que se despreza”. (LIMA, 2012, p. 150).
Fragmento 3:
A descentralização educativa, a autonomia da escola e a participação de-
mocrática adquirem, nas propostas de Freire, um sentido político e cívico
incompatível com conotações gerencialistas e neo-científicas, com os co-
nhecidos processos de ressemantização conservadora e pragmática em que
descen¬tralização e participação surgem associadas a técnicas de gestão
eficazes com vista à racionalização e otimização dos sistemas educativos
(LIMA, 1994), e em que a autonomia (reduzida a dimensões processuais e
implementativas) é elogiada enquanto prática da diversidade de soluções e
de formas de execução das medidas políticas centralmente decididas . A go-
vernação democrática e participativa da escola, única e autônoma, integrada
numa administração pública descentralizada (não uniforme nem hiper-regu-
226
lamentadora), configura uma “escola cidadã”, uma só escola que só sendo
autônoma poderá vir a ser uma escola para todos (GADOTTI, 1992, p. 54-
57). (LIMA, 2012, p. 151-152).
Fragmento 4
As práticas iluministas e vanguardistas dos líderes democráticos e o cen-
tralismo das elites democráticas, a favor de suas superiores concepções de
democracia, tal como Paulo Freire bem esclareceu, redundam em práticas
antidemocráticas e autoritárias. É de fato impossível democratizar a escola
autoritariamente, à força ou através de golpes legislativos; descentralizar a
administração escolar apenas a partir de decisões centralizadas, doar a au-
tonomia às escolas, ou condená-las a uma autonomia que os atores escola-
res desprezam ou se recusam a assumir. A educação para e pela cidadania
demo¬crática não é algo que possa ser restringido à escola, aos atores es-
colares, ou somente aos alunos, curricularizável e avaliável ao estilo escolar
mais convencional. Trata-se de “uma invenção social que exige um saber po-
lítico gestando-se na prática de por ela lutar a que se junta a prática de sobre
ela refletir” (FREIRE, 1994a, p. 146) e, portanto, é algo que não se adquire
nem chega por acaso:
[...] é uma construção que, jamais terminada, demanda briga por ela. Deman-
da engajamento, clareza política, coerência, decisão. Por isso mesmo é que
uma educação democrática não se pode realizar à parte de uma educação
da cidadania e para ela” (Freire, 1997c: 119). (LIMA, 2012, p. 156).
227
4. Analisem o Fragmento 4 e assinalem V (verdadeiro) ou F (falso):
a. ( ) Líderes democráticos e elites democráticas podem provocar resul-
tados opostos às suas intenções anunciadas.
b. ( ) A urgência em fazer avançar o processo de democratização das
escolas pode justificar o abandono temporário de certas práticas de-
mocráticas.
c. ( ) A autonomia das escolas é incompatível com sua integração a um
sistema nacional de educação.
d. ( ) Do ponto de vista legal, a gestão democrática é um atributo exclu-
sivo das escolas públicas.
e. ( ) Educação democrática e educação para a cidadania são constru-
ções sociais interativas
Publiquem seus arquivos no Portfólio Individual, com o título D26_Atividade08, e
levem uma cópia impressa, na próxima aula presencial, para as discussões.
Observação: Essas questões podem ser respondidas no arquivo editável da Ativi-
dade 08, disponibilizado no Material de Apoio.
Atividade avaliativa - Associar à avaliação –
Compartilhar com formadores
228
Para ajudá-los nos estudos, observem os quatro fragmentos abaixo e respondam
às questões pertinentes a cada um deles.
Fragmento 1
A questão da participação atravessou todo o século XX e invade o atual
como algo correto, simples e, de certa forma, até uma expectativa natural.
Fragmento 2
[...] Decisões corretas e eficientes podem surgir de procedimentos burocrá-
ticos, centralizados ou autoritários. Assim como propostas antiéticas ou ab-
surdas podem ser legitimadas por amplos e complexos processos participa-
tivos. O sujeito social possui raciocínio e vontade própria, logo não é possível
compreendê-la a partir de fórmulas gerais como fazem os colegas de exatas
e biológicas com seus objetos de estudo. Mas, levando-se em conta estas
características e atendendo à especificidade das relações, como tentaremos
expor mais adiante, os processos participativos podem levar a decisões não
229
apenas éticas, mas também mais eficientes que qualquer outro processo.
(GUTIERREZ, 2012, p. 162).
Fragmento 3
A participação é um elemento a ser ti interiorizado dentro do projeto peda-
gógico na perspectiva de seus objetivos específicos, como a transmissão de
conhecimento, o desenvolvimento de habilidades e a construção da cons-
ciência de forma autônoma para o exercício pleno da cidadania. Esse desafio,
quase sobre-humano, que se apresenta ao educador, não pode ser enfren-
tado apenas com as boas intenções da defesa das práticas participativas. É
necessário uma teoria, como as apresentadas, por exemplo, por Francisco
Ferrer ou Paulo Freire, para então contextualizar esta teoria em uma realida-
de concreta determinada e articular sua prática com os recursos existentes,
tanto materiais como humanos, nos moldes de um projeto pedagógico que
precisará ser repensado e reavaliado no tempo, a partir da sua adequação
aos objetivos propostos originalmente. Assim, a participação pode surgir de
forma coerente com o processo educacional, devendo-se pensar a sua inten-
sidade e a sua natureza integradas com as práticas pedagógicas e didáticas.
(GUTIERREZ, 2012, p. 162-163).
230
Fragmento 4
No campo da educação, os princípios de Taylor ajudaram a enriquecer os
primeiros donos de cursos pré-vestibulares com seu sistema de aulas apos-
tiladas, que depois foi estendido ao ensino de primeiro e segundo grau. Aqui,
apenas um pequeno grupo de docentes, que desenvolve os programas das
231
Bloco 3 Disciplina 26
Caros estudantes!
Durante esta segunda semana da D26 – Princípios Gerais de Administração Esco-
lar, vamos trabalhar com os textos referentes ao segundo e ao terceiro tema de nossa
disciplina:
Tema 02 – “Sobre a democracia e a participação como princípios na admi-
nistração da educação”.
Tema 03 – “Sobre sistemas e instituições escolares”.
Sobre esses textos, constatamos que, infelizmente, nossos sistemas e nossas ins-
tituições escolares nem sempre parecem orientados por princípios acordados entre
seus membros. Cabe, então, uma reflexão acerca da participação dos sujeitos na
administração da educação. Será que existe democracia?
As atividades desenvolvidas terão por objetivo responder a esta indagação. Elas
serão distribuídas ao longo de encontros presenciais e períodos virtuais. Durante
esta segunda semana, vocês poderão entregar suas atividades, sem descontos em
nota, até domingo, dia 10 de março de 2013, às 23h55. As atividades entregues, fora
do prazo estabelecido, entrarão no período de recuperação de prazos que termina
no dia 20 de março de 2013, às 23h55, e terão suas notas avaliadas com descontos
(consultem o Manual do Aluno). Após esse prazo, as atividades entregues não serão
avaliadas. Por isto, aconselhamos que não deixem para postá-las de última hora.
Importante: Lembrem-se de que, na 5ª aula presencial, dia 11 de março, um dos
grupos deverá apresentar o Seminário 01, fundamentado pelo texto para seminário
01 – “Sobre ética, educação e cidadania”.
Atenção: As atividades presenciais deverão ser publicadas até o final da aula.
Vejam abaixo as atividades programadas para a semana:
232
Sai
Sa
3ª Aula Presencial – 04/03/2013 – 2ª feira
Atividade 10 – Retomada das atividades 08 e 09. Saib
Referência:
OLIVEIRA, R. P.; ADRIÃO, T. (Orgs.). Gestão, financiamento e direito à educação. Análise da LDB e da Consti-
tuição Federal. São Paulo: Xamã Editora, 2001.
Atividade Avaliativa
233
Saiba Mais Saiba Mais
2ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
3ª Aula Presencial – 04/03/2013 – 2ª feira
234
Texto disponibilizado na Ferramenta Leituras ou, diretamente, em seu Caderno de
Formação.
Finalizada a leitura, leiam, atentamente, os quatro fragmentos abaixo e respondam
às questões referentes a cada um deles:
Fragmento 1
Fragmento 2
A identidade de nossas escolas públicas encontra-se em crise há bastante
tempo e o horizonte da superação dessa crise parece ainda distante de ser
visualizado. Já o núcleo da crise é claramente perceptível. Trata-se da dilui-
ção e da flutuação da figura institucional e moral do corpo docente da esco-
la, decorrentes das condições de trabalho impostas aos professores e hoje
quase naturalizadas por sua consolidação ao longo do tempo. Raros são os
professores que circunscrevem sua jornada de trabalho a uma só escola e
raríssimas são as escolas que podem ter seus professores integralmente
à sua disposição. Como disse em outro lugar, “a polis escolar dificilmente
235
poderia ser identificada por seus cidadãos” (SILVA JUNIOR, 2007, p. 105),
já que esses se deslocam por diferentes territórios escolares ao longo de
sua jornada de trabalho. Antes de ser político, este é um problema organi-
zacional. Como também já disse anteriormente, “para que as pessoas se
organizem ou sejam organizadas (...) é preciso, antes de mais nada, que
elas se encontrem em seu cotidiano de trabalho. Sem a presença física do
trabalhador individual o trabalhador coletivo não se constitui, mas também
o projeto político não se elabora” (SILVA JUNIOR, 1990, p.17). Para que a
tão reclamada figura do projeto político pedagógico pudesse efetivamente se
constituir, seria indispensável que o tempo de permanência do trabalhador
da escola em seu local de trabalho e as circunstâncias que envolvem essa
permanência e esse local viabilizassem a livre expressão e a defesa das
ideias de todos. A existência do bom senso é necessária para a produção
do consenso. Sem um corpo pensante e atuante, a alma não tem como se
manifestar e o futuro, como se concretizar.
Além das dificuldades que encontra para se manifestar no plano material, a
identidade de nossas escolas públicas também encontra dificuldades para
ser considerada no plano acadêmico. A escola como instituição é, parado-
xalmente, pouco estudada. Quando tomada como objeto de estudo, a abor-
dagem a pressupõe como uma organização. Os referenciais teóricos para a
análise são recrutados em campos genéricos, como a ciência política, ou um
pouco mais específicos, como a sociologia das organizações, a teoria das
organizações ou a psicologia social das organizações. Ou ainda a psicologia
organizacional. Quando se associam as ideias de escola e de organização, a
primeira acaba subsumida à segunda. (SILVA JUNIOR, 2012, p. 172).
Fragmento 3
Analisando a relação entre ciência e poder, Fourez (1995) chama a atenção
para os dois sentidos em que a expressão política científica pode ser tomada.
O primeiro, mais conhecido e considerado único por grande parte dos estudio-
236
sos do tema, diz respeito às direções apontadas para a prática científica e à
provisão de recursos para a sustentação dessa prática. Prevê e apoia a reali-
zação de eventos em que os resultados da prática científica são apresentados
e discutidos, como no óbvio exemplo do evento em que nos encontramos.
Há, porém, um segundo sentido para a expressão, menos percebido e menos
examinado. Podemos também falar de política científica quando se quer to-
237
seu respeito. O autor ainda adverte: “a ênfase posta sobre a função de con-
servação e de transmissão cultural da educação não deveria impedir-nos de
prestar atenção ao fato de que toda educação, e em particular a educação
de tipo escolar, supõe sempre na verdade uma seleção no interior da cultura
e uma re-elaboração dos conteúdos da cultura destinados a serem transmi-
tidos às novas gerações” (FORQUIN, 1993, p. 14). Poderíamos acrescentar:
para ser pedagógica a cultura escolar terá que ser necessariamente seletiva.
Em cada instituição escolar haverá que se processar o que Forquin chama de
“uma versão autorizada da cultura”, aquele algo da cultura que aquela esco-
la, nos limites daquele sistema terá decidido selecionar e disseminar. A tarefa
pedagógica por excelência antes de ser metodológica é valorativa. É preciso
identificar no interior do vasto mundo da cultura e das muitas significações
que lhe correspondem os elementos que “transcendem necessariamente as
fronteiras entre os grupos humanos e os particularismos mentais”, aquilo que
“advém de uma memória comum e de um destino comum a toda humanida-
de”. A condição humana é o horizonte e a fonte do processo pedagógico.
Quando se busca entender e caracterizar a cultura escolar ou a cultura pro-
fissional do professor independentemente da cultura pedagógica que neces-
sariamente envolve sua ação pouco se avança na tarefa de construção de
significados para os sistemas e para as instituições escolares. Se a análise
se prende exclusivamente às atividades-meio, ela acaba se cingindo ao pla-
no dos estudos sobre a eficácia dos estabelecimentos de ensino e mesmo
nesse plano ela resulta insuficiente, já que a eficácia diz respeito à articu-
lação entre meios e fins. Como avaliar adequadamente uma relação se um
dos polos é subestimado ou desconsiderado? (SILVA JUNIOR, 2012, p. 177).
238
Critérios de avaliação:
• Cumprimento da proposta.
• Entrega no prazo determinado.
Prazo de entrega:
• até 10/03/2013 – sem desconto em nota.
• de 11 a 20/03/2013 – com desconto em nota.
239
1. Analisem o Fragmento 1 e assinalem V (verdadeiro) ou F (falso):
a. ( ) O significado do conceito de “cultura escolar” varia em função das
abordagens em que é empregado.
b. ( ) Uma escola é sempre uma organização. Logo, “cultura organizacio-
nal’ deveria ser o único significado a ser considerado.
c. ( ) A abordagem funcionalista não coloca em questão os conteúdos da
cultura a ser transmitida.
d. ( ) A abordagem estruturalista não coloca em questão as formas pelas
quais a escola historicamente se desenvolveu.
e. ( ) Priorizando a “cultura” produzida pelos atores organizacionais em
suas relações internas, a abordagem interacionista é, em princípio,
consentânea com os estudos de caráter etnográfico sobre a escola.
Fragmento 2
A adoção do “modo simultâneo” (século XVIII) e do “modo mútuo” (século
XIX) corresponde à introdução de critérios de racionalidade no trabalho pe-
dagógico que são ditados por duas ordens de razão. Por um lado, o próprio
crescimento de efetivos que eram escolarizados em conjunto, como resul-
tante da difusão do ensino das primeiras letras Por outro, a necessidade de
fazer da organização da escola um instrumento de inculcação de valores
e normas sociais que enquadrem o próprio processo de escolarização das
classes populares e a sua preparação para o trabalho fabril (com os primór-
dios da revolução industrial).
Num e noutro caso, a solução adoptada passou pela divisão do trabalho dos
alunos, pela especialização de funções docentes (com recurso a monitores
ou a auxiliares do professor), pela seriação do espaço (ainda que no interior
de uma mesma sala), do tempo (horários detalhados), dos saberes (compar-
timentação das matérias), com a divisão em “classes” e secções, no ensino
simultâneo, ou de “monitorias”, no ensino mútuo.
O processo de racionalização surge deste modo associado à imposição a
todas as escolas primárias de um mesmo modo de organização pedagógica
que se consubstancia no principio de “ensinar a muitos como se fossem um
só” (BARROSO, 1995). (BARROSO, 2012, p. 187).
240
Fragmento 3
A escola não pode ser uma coleção de classes justapostas. Este modelo
tradicional revela-se incapaz de responder às novas exigências e de integrar
as inovações que, em consequência, aparecem.
É esta também a convicção de Hassenforder que, no seu estudo sobre a
inovação no ensino, em diversos países, no início da década de 70, afirma
241
4. Observem o Fragmento 4 e analisem as seguintes afirmações:
I. As observações iniciais do autor, centradas na realidade atual do siste-
ma escolar português, aplicam-se na mesma intensidade à realidade
atual do sistema escolar brasileiro.
II. As visões funcionalista e estruturalista ainda são dominantes na análi-
se dos problemas das escolas brasileiras.
III. O número ainda reduzido de estudos sobre a escola apoiados em uma
visão interacionista é um indicador das dificuldades de construção de
um domínio teórico da administração escolar no Brasil.
Vocês consideram que está correto o que se afirma em:
a. I e II
b. I, II e III
c. II e III
d. II, apenas
e. III apenas
Se acharem conveniente, publiquem seus arquivos no Portfólio Individual, com o
Saibapresencial,
título D26_Atividade13, e levem uma cópia impressa na próxima aula Mais para
enriquecer as discussões.
Observação: Essas questões podem ser respondidas no arquivo editável da Ativi-
dade 13, disponibilizado no Material de Apoio.
Saiba Mais
4ª Aula Presencial – 07/03/2013 – 5ª feira
242
também aponta problemas decorrentes das dificuldades atuais para a construção do
sentido de “pertencimento” em nossas instituições escolares.
Saiba Mais
Finalizada a apresentação, participem do Fórum de Discussão Presencial do tema 03 –
Sobre sistemas e instituições escolares, discutindo com a classe a questão de referência:
É visível o desprestígio atual da escola pública como instituição social. O que pode
243
Bloco 3 Disciplina 26
244
Saiba Mais
Referência:
MORENO, Luiz Carlos. Gestão educacional e gestão de pessoas. Revista Gestão Educacional, Curitiba, set.
2011. Disponível em: http://www.gestaoeducacional.com.br/view/action/visualizarArtigo.php?cod=305. Acesso
em: 14 nov. 2012.
Atividades Avaliativas
245
Saiba Mais
Saiba Mais
3ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
5ª Aula Presencial – 11/03/2013 – 2ª feira
Grupo ouvinte:
Publiquem, no Portfólio do Grupo, com o título D26_Atividade 17_XXX (no
qual XXX é o nome do grupo), a síntese das discussões, destacando seus
pontos principais e os aspectos apresentados no vídeo 04 que enriquece-
ram as discussões.
Atividade avaliativa - Associar à avaliação
Formar grupos na plataforma – Compartilhar com formadores
246
Prazo de entrega:
• até 17/03/2013 – sem desconto em nota.
• de 18 a 20/03/2013 – com desconto em nota.
Saiba Mais
6ª Aula Presencial – 14/03/2013 – 5ª feira
247
Atividade 20 – Apresentação do Seminário 02 – “Autonomia da Pedagogia:
as decisões autônomas dos professores, a autonomia das escolas e a
democracia dos poderes educativos”
O grupo responsável pelo Seminário 02 – “Autonomia da Pedagogia: as decisões
autônomas dos professores, a autonomia das escolas e a democracia dos poderes
educativos”, deverá iniciar a aula fazendo sua apresentação. Em seguida, iniciem
as discussões, levando em conta, também, os aspectos levantados pelos colegas
durante a leitura do texto.
As discussões deverão ser interrompidas e retomadas após a apresentação do
vídeo 05 – Autonomia na administração escolar.
Observação: Ao final da aula, o grupo que assistiu à apresentação do seminário
deverá sistematizar as discussões e publicá-las também.
Importante: Orientações e critérios avaliativos para as publicações dos diferentes
grupos:
Grupo ouvinte:
Publiquem, no Portfólio do Grupo, com o título D26_Atividade 20_ XXX
(no qual XXX é o nome do grupo), a síntese das discussões, destacando
seus pontos principais e os aspectos apresentados no vídeo 05 que enri-
queceram as discussões.
Atividade avaliativa – Associar à avaliação
Formar grupos na plataforma – Compartilhar com formadores
248
Prazo de entrega:
• até 17/03/2013 – sem desconto em nota.
• de 18 a 20/03/2013 – com desconto em nota.
249
Bloco 3 Disciplina 26
Olá Caríssimos,
Chegamos à etapa final da D26 – Princípios gerais da administração escolar.
Essa disciplina representou uma oportunidade para a retomada da discussão em
termos políticos e pedagógicos de uma temática e de uma problemática quase sem-
pre deformadas em sua consideração pela prevalência, na sociedade brasileira, da
lógica do mercado educacional sobre a lógica do direito à educação. Esperamos ter
propiciado um horizonte de reflexão que pretendemos detalhar e aprofundar em nos-
sa próxima disciplina, D27 - Organização e Gestão da Escola.
Excetuando a prova final, as atividades propostas durante esta quarta semana não
serão avaliativas, contribuindo assim, apenas, para seus estudos. Aproveitem esse
período para tirar suas dúvidas e para entregar as eventuais atividades atrasadas.
Vocês deverão postá-las até quarta-feira, dia 20 de março de 2013, às 23h55, data
final do período de revisão e recuperação de prazos. Fiquem atentos, pois as ativida-
des entregues, após esse prazo, não serão avaliadas.
No dia 21 de março de 2013, vocês realizarão a prova presencial. Essa prova deve
representar para vocês um momento de reflexão sobre o que aprenderam e de orga-
nização das informações, e dos conhecimentos.
Observem abaixo as atividades programadas para a semana:
S
7ª Aula Presencial – 18/03/2013 – 2ª feira (Revisão/Recuperação)
Atividade 23 – Estudos em grupo.
250
Saib
Sai
Qualquer problema, por favor, entrem em contato com seu Orientador de Disciplina.
Boa semana!
Referência:
SANDER, B. Administração da educação no Brasil. Genealogia do conhecimento. Brasília: Liber Livro Editora, 2007.
Saiba Mais
Saiba Mais
Atividade Avaliativa
4ª SEMANA DE ATIVIDADES:
Saiba Mais
7ª Aula Presencial – 18/03/2013 – 2ª feira (Revisão/Recuperação)
251
Sai
Atividade 26 – Prova
Chegou o momento de verificarmos suas aprendizagens!
Esta prova é composta de questões teóricas relativas aos estudos realizados na
Disciplina D26 – Princípios Gerais de Administração Escolar.
A prova vale 10 pontos, é individual, poderá ser feita com consulta e terá duração
de quatro horas. Boa prova!
Atividade avaliativa
Valor da nota: 10,00 Peso: 4 Saiba Ma
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