Curriculo Funcional Ufscar
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PATRICIA ZUTIÃO1
MARIA AMÉLIA ALMEIDA2
IASMIN ZANCHI BOUERI3
UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos
1. INTRODUÇÃO
O Currículo Funcional Natural (CFN) surgiu no início da década de setenta, quando um grupo de
pesquisadores na Universidade do Kansas discutiu e propôs um currículo para ser utilizado com
crianças com desenvolvimento típico na faixa etária de quatro a cinco anos. Esse currículo
propunha desenvolver habilidades que levassem as crianças a atuarem da melhor forma possível
dentro do seu ambiente, tornando-as mais independentes e criativas, aumentando as respostas
adaptativas e diminuindo os comportamentos que tornassem as crianças menos integradas
(SUPLINO,2005).
Na década de 80, esse currículo foi levado para o Centro Ann Sullivan, por uma parceria entre as
doutoras Liliana Mayo e Judith Leblanc. A equipe do Centro modificou e adaptou o currículo
para ser trabalhado com pessoas com necessidades educacionais especiais (SUPLINO, 2005).
Segundo LeBlanc (1992) “um currículo para uma pessoa com deficiência intelectual deverá estar
centrado no ensino de habilidades, que tornam aluno mais independente e produtivo e
consequentemente mais socialmente aceito”. Atualmente esse currículo é utilizado
principalmente com pessoas que possuem deficiência intelectual ou autismo.
O CFN é um currículo diferente dos outros, daqueles tradicionais, é um currículo focado naquilo
que está acontecendo, no que é natural para o alunado. Esse currículo é programado de forma
individualizada, de acordo com a realidade e necessidades de cada aluno, essa individualização,
segundo Leblanc (1992, p. 2), deve estar baseada em:
a) As necessidades atuais e futuras do aluno como o determina seu meio de vida;
b) Informação e as habilidades que o aluno precisa apreender logo, de acordo com análise do
que ele já tenha aprendido;
1
Graduanda em Educação Especial, na Universidade Federal de São Carlos. Endereço: Rua Dr. Glenan Leite Dias,
nº 65, Jardim Paola – Descalvado SP. E-mail: [email protected]
2
Orientadora do trabalho. PhD em Educação Especial - Vanderbilt University (1987- USA) e Pós-Doutorado em
Educação Especial pela University of Georgia (2002)
3
Co-orientadora do trabalho. Doutoranda em Educação Especial na Universidade Federal de São Carlos.
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c) As habilidades e incapacidades dos alunos, os quais estão determinados pela ação da resposta
anterior do aluno nos meios educacionais.
Além disso, cada programa educacional deve incluir os mais eficazes planos e procedimentos de
ensino para cada aluno e também uma avaliação contínua do êxito e do fracasso desses
procedimentos e dos objetivos elencados para cada aluno. (LEBLANC,1992)
Suplino (2005) relata que todo currículo deveria responder a três perguntas básicas: O que
Ensinar? OBJETIVOS; Para que Ensinar? PRINCÍPIOS NORTEADORES, FILOSOFIA; Como
Ensinar? PROCEDIMENTOS. Segundo a mesma autora acima, tal currículo deveria ser também,
funcional, natural, divertido e proposto para ocasionar o menos número de erros possível.
Suplino (2005) traz que para se utilizar o CFN existem alguns princípios norteadores:
a) A pessoa como Centro: ou seja, a pessoa com necessidades educacionais especiais deve ser
respeitada e tratada como qualquer outra pessoa, olhando para ela além da deficiência,
enxergando o ser humano que existe apesar das limitações.
b) Concentração nas habilidades: a ação/atenção deve estar concentrada naquilo que a pessoa
com alguma deficiência pode fazer, naquilo que ela faz de bom, olhando as habilidades e as
possibilidades.
c) Todos podem aprender: as pessoas com necessidades educacionais especiais podem
aprender, porém cada um aprende de um jeito e em um ritmo e cabe ao professor analisar e
selecionar a melhor forma de ensinar.
d) A participação da família no processo de aprendizagem: “A filosofia do CFN vê a
participação da família no processo educacional da pessoa especial como peça fundamental para
o avanço da mesma.” (SUPLINO, 2005, p.41) Deve-se ter um intercâmbio e uma parceria entre a
instituição e a família, para que assim as técnicas de ensino sejam compartilhadas e os
alunos/filhos consigam generalizar as habilidades apreendidas entre os ambientes (casa/escola).
Perante essas colocações, acredita-se que um levantamento bibliográfico do que vem sido
produzido em relação ao currículo funcional, possa ajudar a compreender um pouco mais aonde e
com qual público ele vem sido utilizado e, além disso, quais os resultados da utilização do
mesmo.
2. OBJETIVO
3. MÉTODO
3.1 Base de dados pesquisada
A base de dados pesquisada foi, a Biblioteca digital de teses e dissertações – Bco – Biblioteca
Comunitária/UFSCar – Universidade Federal de São Carlos, disponível online, no endereço
http://www.bdtd.ufscar.br/htdocs/tedeSimplificado/.
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Essa base é de livre acesso e pode ser acessada por qualquer pessoa em qualquer local. É uma
base que possui todas as dissertações e teses apresentadas na Universidade Federal de São Carlos,
nos diversos programas de pós-graduação desde o ano de 2000.
Para realizar pesquisas, a base oferece diversas maneiras de pesquisa: pelo título; por autor; por
assunto; por contribuidor; por grau; por idioma; por data de defesa; ou por programa de pós-
graduação, como foi realizada nesse estudo.
A pesquisa foi realizada na base de teses e dissertações do PPGEES – Programa de Pós
Graduação em Educação Especial.
3.4 Instrumentos
Para a análise de dados foi utilizado o protocolo de análise documental. Este protocolo é
composto pelos seguintes tópicos: referência; objetivo da pesquisa; população pesquisada; local
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4. RESULTADOS
Foram encontradas o total de 229 dissertações e 106 teses digitalizadas desde o ano de 2000, as
quais foram defendidas no Programa de Pós Graduação em Educação Especial. Deve-se salientar
que fizeram parte dessa pesquisa, apenas as teses e dissertações digitalizadas e disponíveis no site
da biblioteca de teses e dissertações da UFSCar.
Para o descritor “Currículo Funcional Natural”, foram encontradas 5 dissertações, as quais serão
descritas abaixo, em ordem cronológica de defesa, a partir do protocolo de análise documental
produzido pelas pesquisadoras.
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Procedimento de coleta: Foram utilizados, para coleta de dados a linha de base e intervenções
com pessoas com autismo infantil.
Procedimento de análise: Qualitativa e quantitativa.
Principais resultados obtidos: Os resultados mostraram que todos os participantes apresentaram
mudanças no comportamento comunicativo, adquiriram vocabulário expressivo de algumas
palavras, alguns sons e uso de figuras, que variou entre 25 e 61, sendo sempre utilizadas com
função comunicativa. Os dados obtidos sugerem que a utilização de figuras com a finalidade de
interação e solicitação de algo desejado parece ter contribuído para o aparecimento de sons,
palavras e gestos usados com função comunicativa pelos participantes. No entanto, outros
estudos devem ser encorajados, assim como a própria extensão do uso do PECS-Adaptado a
outras pessoas com diferentes diagnósticos, mas que poderiam se beneficiar do uso da
comunicação alternativa. Os resultados obtidos com o presente estudo são indicativos que o
PECS-Adaptado, por ter como elemento básico a troca de figuras de interesse dos participantes,
através da ação interativa, poderá contribuir futuramente no processo de inclusão dessas pessoas,
não somente no ambiente escolar, como também na família e na comunidade.
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População pesquisada: A pesquisa teve como participantes três adultos com deficiência
intelectual, com idades entre 21 e 31 anos e 10 cuidadores, com idades variando de 19 a 78 anos
de idade.
Local de desenvolvimento da pesquisa: O estudo foi realizado em uma cidade de grande porte
do Estado de Minas Gerais. As Fases I e II do Estudo ocorreram predominantemente na
residência dos adultos com deficiência intelectual. As exceções foram: a realização de duas
visitas à instituição de educação especializada frequentada pelos participantes, para o contato
inicial com as famílias e exposição do estudo, e locais públicos, próximos a residência de um dos
adultos. A Fase III ocorreu na instituição de educação especializada frequentada pelos alunos
com deficiência intelectual e em locais públicos frequentados pelo adulto 1 e adulto 3.
Instrumentos: Protocolo para registro dos comportamentos ensinados; protocolos específicos,
para registro da diminuição dos comportamentos agressivos e o aumentos dos comportamentos
socialmente aceitos. Todas as linhas de base e intervenção foram filmadas e essas filmagens
foram vistas, analisadas e trabalhadas pela pesquisadora com os cuidadores.
Procedimento de coleta: Para a coleta de dados, foram realizadas intervenções, a partir da
capacitação teórica e prática para os cuidadores.
Procedimento de análise: qualitativa e quantitativa.
Principais resultados obtidos: Os resultados indicaram que nas sessões, após a linha de base, os
participantes (cuidadores e adultos com DI) conseguem adquirir habilidades e continuar a utilizá-
las nas etapas de sondagem e manutenção. Assim como, os cuidadores, por meio de orientações
sistematizadas, podem ensinar novos comportamentos aos adultos com DI, no contexto das
atividades do cotidiano. Por outro lado, os dados sugerem que os adultos com deficiência
intelectual são capazes de aprender os comportamentos necessários para a realização das
atividades do cotidiano, quando estratégias de ensino adequadas são utilizadas.
Em geral pode-se observar que os estudos desenvolvidos que utilizaram o “currículo funcional
natural” como base para sua realização foram pesquisas de intervenção, envolvendo número
pequeno de participantes por utilizarem delineamentos de sujeito único, aonde o sujeito entra
como seu próprio controle. Embora sejam pesquisas de intervenção, foram todas desenvolvidas
como dissertações, sendo realizadas em 24 meses. Desmistificando, desta forma, que apenas teses
podem utilizar e desenvolver programas de intervenção para serem implementados e avaliados.
De acordo com as pesquisas apresentadas a população pesquisada demonstra obter benefícios
importantes em seus comportamentos adaptativos, tornando-os mais aceitos socialmente.
5. DISCUSSÃO
Como se pode ver nos resultados, o tema “Currículo Funcional Natural” é pouco pesquisado no
Brasil, pois esse estudo teve acesso à biblioteca de teses e dissertações do Programa de Pós
Graduação em Educação Especial, o qual é um dos maiores da área no Brasil.
Contudo, apesar de pouco pesquisado, é muito utilizado, principalmente na Universidade Federal
de São Carlos e nos Centros Ann Sullivan, localizados na cidade de Ribeirão Preto – São Paulo e
no Rio de Janeiro.
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Diversos programas e estratégias de aprendizagem foram realizados com esse método, nas
pesquisas analisadas e analisando os resultados dessas intervenções, aplicações e estudos,
constata-se que é um método eficaz e que dá resultados positivos, quando utilizados em crianças,
jovens e adultos com deficiência intelectual e/ou autismo.
Observou-se também, a importância do professor, cuidador ou pesquisador, responsável pela
aprendizagem do aluno, o qual deve ter competência e saber ensinar, respeitando o ritmo e o
tempo de aprendizagem, tendo a pessoa como centro, focando as habilidades da pessoa com
deficiência e ensinando de forma funcional, natural, divertida e que ocasione o menor número de
erros possível. (SUPLINO, 2005)
6. CONCLUSÃO
Conclui-se então que são necessárias mais pesquisas sobre o tema “Currículo Funcional Natural”
no Brasil, em especial, no estado de São Paulo, onde se localiza a Universidade na qual a base de
dados foi pesquisada. Com mais pesquisas, as pessoas passaram a conhecer mais a área e o
método e utilizarão com mais clareza e de acordo com os princípios que ele traz. Além disso,
mais pesquisas, trarão maiores benefícios para a área e para as crianças, jovens e adultos com
autismo e deficiência intelectual que se beneficiarão cada vez mais.
REFERÊNCIAS
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