Apresentação Por Laíza Santana Oliveira (PPGHS-USP) Sobre Os Estudos de Daniel Miller

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1) MILLER, Daniel. Material cultures. Why some things matter.

University College London. 1998.


2) MILLER, Daniel. Material Culture and Mass Consumption.
Oxford: B. Blackwell, 1987.
3) MILLER, Daniel. Trecos, troços e coisas. Estudos
antropológicos sobre Cultura Material. Ed. Zahar. 2013.
AULA 1 - PARTE I - Introdução À Cultura Material
Autor: Daniel Miller: 3 conceitos: TRECOS; OBJETIFICAÇÃO;
HUMILDADE DOS OBJETOS.

1º slide: apresentação da perspectiva de Miller que não opõe


sujeito e objeto; sua compreensão sobre o que é treco.

O antropólogo inglês Daniel Miller (1987; 1998; 2013) apresenta uma


perspectiva específica sobre Cultural Material: para ele, os artefatos (ou
stuff, como denomina) não representam as pessoas, pois os artefatos
constituem as pessoas. Na contramão da análise semiótica e do
questionamento da oposição vigente no senso comum entre pessoa e
coisa, animado e inanimado, sujeito e objeto, Miller argumenta que os
objetos nos fazem enquanto nós os fazemos.

isto significa afirmar que o sujeito se transforma a partir de seu


relacionamento com os objetos por ele criados. Por isso, para Miler, uma
apreciação mais profunda das coisas leva à uma apreciação mais
profunda das pessoas (MILLER, 2013, p. 12).

E o que ou quais seriam esses ‘trecos, coisas, troços’? Segundo Daniel


Miller (2013) “treco é um e-mail, uma moda, um beijo, uma folha ou uma
embalagem de poliestireno” (p. 7). Ou seja, há uma diversidade de
elementos materiais que podem ser trabalhados sob o prisma da Cultura
Material. [e que permitem] uma compreensão mais profunda de quem
somos” (MILLER, 2010, p. 5).

Miller (1987) reconhece a pecha associada à ideia de materialismo,


como sendo uma característica negativa das sociedades ocidentais
contemporâneas. Porém, não é sobre isso que seu trabalho versa, e sim
sobre a capacidade contida nos objetos materiais para refletir, explicar e
transformar a sociedade em que foram gerados. Dessa forma, Miller
(1987) pretende reconhecer, respeitar e nos expor a nossa própria
materialidade, em vez de negá-la. Ele acredita que uma apreciação mais
profunda das coisas conduzirá a uma apreciação mais profunda das
pessoas.

2º slide: Miller se insere em um segundo momento dos estudos de


cultura material, em uma nova compreensão que compreende a
materialidade para além da representação dos artefatos.

Para o autor (1998), o segundo estágio no campo acadêmico acerca de


estudos voltados para a àrea da materialidade se concentram em
romper com o paradigma reducionista que circunscreve a análise dos
artefatos à modelos sociais ou subdisciplinas e à interpretação de
representações do mundo.

Conceito de OBJETIFICAÇÃO - Um dos principais conceitos para


avançar na análise da Cultura Material, para Miller (2013) é o conceito
de ‘Objetificação’: “Trata-se da teoria que dará forma à ideia de os
objetos nos fazem como parte do processo pelo qual os fazemos” (p.
91).. Os carros, por exemplo, permitiram a criação de um nova forma de
vivência, de experiência histórica. A sociedade que existia antes da
criação dos carros e da construção de rodovias é distinta da sociedade
que foi estruturada após a criação dos carros. (MILLER, 2013, p. 91).

3º E 4º slides: p. 92 - “A humanidade que existia antes das rodovias


e dos engarrafamentos de tráfego não é a mesma de depois. Carros
têm efeitos em cadeia sobre outras formas culturais.” Exemplo do
processo de retificação do Rio Pinheiros e rio Tietê (slides 4 e 5).

EXEMPLO DO CARRO: Irei me referir a esse processo envolvendo


autoalienação ao usar a palavra objetificação neste livro. Ela é o modo
como incrementamos nossa capacidade como seres humanos. Ao
criarmos a indústria do cinema ou automobilística, incentivamos nosso
crescimento. Toda vez que fazemos isso, pelo mesmo processo criamos
uma contradição, uma possibilidade de nos oprimir se a coisa que
criamos desenvolver seus próprios interesses autônomos. Ao
produzirmos um carro também criamos poluição, acidentes de
automóvel e paisagens/ devastadas pelas rodovias. (...) Com frequência
filmes e carros são um tremendo benefício, embora haja uma tensão
entre algo que podemos ver como inequivocamente bom - digamos, a
capacidade de ajudar pessoas incapacitadas a dar um passeio - e
coisas que podemos encarar como não tão boas - como o estímulo a
fazer jornadas poluentes a fim de gerar lucros para a indústria
automobilística. Assim, no interior do processo de objetificação, a
autoalienação é essencial, mas pode se tornar apenas alienante.

6º slide: elementos relacionados ao processo de objetificação, ou


seja, processo de constituição de pessoas por coisas e das coisas por
pessoas. A característica fundamental para Miller é a Humildade dos
objetos.

DANIEL MILLER - Treco, troços e coisas. 2013. pp.78-79.

- Para Miller(2013), este processo de constituição de pessoas por


coisas e das coisas por pessoas é bidirecional e possui três
características fundamentais: agência, teimosia e humildade.
a) agência: os artefatos exercem protagonismo pois, também são
constituídos por elementos físico-químicos que reagem ao
ambiente.. Exemplo: casa mal-assombrada.
b) teimosia: as coisas fazem coisas conosco e nem sempre são
coisas da nossa própria vontade. Exemplo: smartphone.
c) humildade: modela o comportamento das pessoas à sua volta sem
que estas se deem conta e esta característica dos objetos permite
que (eles) exerçam agência sobre os sujeitos de maneira mais
contundente.
“Porém, a lição da cultura material é que, quanto mais deixamos de
notá-la, mais poderosa e determinante ela se mostra. Isso propicia uma
teoria da cultura material que dá aos trecos muito mais significado do
que se podia esperar. Acima de tudo, a cultura vem dos trecos.”
(MILLER, 2013, p. 93).

“os objetos são importantes não porque sejam evidentes e fisicamente


restrinjam ou habilitem, mas justo o contrário. Muitas vezes, é
precisamente porque nós não os vemos. Quanto menos tivermos
consciência deles, mais conseguem determinar nossas expectativas,
estabelecendo o cenário e assegurando o comportamento apropriado,
sem se submeter a questionamentos.” (MILLER, 2013, p. 78).

7º slide: Humildade dos objetos - “tão óbvio que cega” - “Objetos não
gritam para você como os professores, nem jogam um pedaço de giz em
você, como o meu jogou, mas eles lhe ajudam docilmente a aprender
como agir da forma apropriada. Essa teoria também dá contorno e forma
à ideia de que os objetos fazem as pessoas. Antes de realizarmos
coisas, nós mesmos crescemos e amadurecemos à luz de coisas que
nos foram transmitidas pelas gerações anteriores. Percorremos terraços
de arroz ou sistemas rodoviários, a moradia e os jardins ancestrais. Eles
dirigem inconscientemente nossos passos, assim como o ambiente
cultural ao qual nos adaptamos.” (MILLER, 2013, p. 83).

De modo que, entre elas, as idéias de Goffman e Gombrich formaram


um argumento para o que chamei de a humildade das coisas. A
conclusão surpreendente é que os objetos são importantes não porque
sejam evidentes e fisicamente restrinjam ou habilitem, mas justo o
contrário. Muitas vezes, é precisamente porque nós não os vemos.
Quanto menos tivermos consciência deles, mais conseguem determinar
nossas expectativas, estabelecendo o cenário e assegurando o
comportamento apropriado, sem se submeter a questionamentos.

Eles determinam o que Teorias das coisas ocorre à medida que estamos
inconscientes da capacidade que têm de fazê-lo. Assim, minha primeira
teoria das coisas começa com a propriedade oposta ao que
esperaríamos dos trecos. Não que as coisas sejam trecos tangíveis, em
que podemos bater o dedão e tropeçar. Não que sejam fundações firmes
e claras que se oponham à leveza ou à sutileza das imagens da mente
ou das idéias abstratas. Elas funcionam porque são invisíveis e não
mencionadas, condição que em geral alcançam por serem familiares e
tidas como dadas. Tal perspectiva parece ser descrita da maneira
apropriada como cultura material, pois implica que grande parte do que
nos torna o que somos existe não por meio da nossa consciência ou do
nosso corpo, mas como um ambiente exterior que nos habitua e incita.
Essa capacidade algo inesperada que os objetos têm de sair do foco, de
jazer periféricos à nossa visão e ainda assim determinar nosso
comportamento e nossa identidade teve outro resultado importante.
Ajudou a explicar por que tantos antropólogos menosprezavam os
estudos da cultura material, considerando-os de algum modo triviais ou
incapazes de abarcar o que é importante.”

“Há a natureza, mas a cultura nos dá a segunda natureza, aquela que


geralmente pomos em operação sem pensar. Coisas, veja bem, não
coisas individuais, mas todo o sistema de coisas, com sua ordem
interna, fazem de nós as pessoas que somos. Elas são exemplares em
sua humildade, sem nunca chamar atenção para o quanto devemos a
elas. Apenas seguem adiante em sua empreitada.”

Exemplo da pintura Monalisa e do quadro de Monalisa: o quadro da


Monalisa, em exposição, com uma moldura dourada e com um vidro na
frente, difere da pintura monalisa. O quadro, no Louvree, conforma um
comportamento de mais distância, exterioridade com relação ao
conjunto da obra.

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