Balanço de Energia e Evapotranspiração Na Cidade Do Recife-Pe Por Sensoriamento Remoto
Balanço de Energia e Evapotranspiração Na Cidade Do Recife-Pe Por Sensoriamento Remoto
Balanço de Energia e Evapotranspiração Na Cidade Do Recife-Pe Por Sensoriamento Remoto
TESE
RECIFE, PE
2014
ELVIS BERGUE MARIZ MOREIRA
Orientador:____________________________________________________
Dr. Ranyére Silva Nóbrega(UFPE)
2º Examinador : ___________________________________________________
Dr. Admir Créso de Lima Targino (UTFPR)
3º Examinador:____________________________________________ ________
Dr. José Machado Coelho Júnior (UFRPE)
4º Examinador:____________________________________________________
Dra. Sara Fernandes de Souza (UFAL)
5º Examinador:___________________________________________________ _
Dr. Osvaldo Girão da Silva (UFPE)
RECIFE – PE
25/02/2014
Que darei eu ao Senhor, por todos os benefícios que me tem feito? Sl 116 v12
DEDICATÓRIA
Elaborar uma Tese de Doutorado não se constitui uma tarefa fácil, sobretudo
quando se tem que conciliar atividades de pesquisa com vida secular. Sendo assim
torna-se impossível a sua realização sem a contribuição direta e indireta de algumas
pessoas para o pleno desenvolvimento dos objetivos propostos. Em primeiro momento,
agradeço a Deus por ter me concebido o dom da vida e ter iniciado e finalizado a boa
obra na minha vida para realização deste trabalho. Muito obrigado meu Deus, tributo
honra, louvores e adoração ao teu nome. Fostes fiel comigo desde o processo seletivo
atendendo à minha oração e proporcionado o ingresso nesse curso de Doutorado;
- À minha esposa e família, que estavam na torcida por mim em oração e que
participaram os momentos vivenciados na elaboração dessa tese, onde muitas coisas
aconteceram, surpresas agradáveis e desagradáveis, marcados por perdas familiares,
que, entretanto foram superadas. As madrugadas passadas no computador para leituras e
geração dos modelos de sensoriamento remoto (SEBAL) foram compreendidas pela
minha esposa, que suportou minha ausência em prol de uma causa justa. Obrigado meu
amor, amo muito você, seu apoio foi muito decisivo;
- Aos orientadores e amigos, professor Dr. Ranyére Silva Nóbrega, pela confiança
depositada, boa conversa dotada de informações valiosíssimas e decisivas na construção
da pesquisa. Ao prof. Dr. Bernardo Barbosa da Silva, impressiona-me a simplicidade e
maturidade intelectual deste homem. Obrigado por ter me ensinado o SEBAL e os
exemplos de vida, confesso-lhes que sem vocês esse trabalho não seria realizado,
faltam- me as palavras para lhes agradecer;
- Aos amigos da igreja, que torceram muito por mim desde o meu ingresso neste curso,
Guilherme Papine e família, Márcio André e família, Henrique e família, Dr. Dilza e
família, Roque e família, sou grato a Deus pela vida de vocês;
- À Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), por ter proporcionado a oportunidade
de cursar a graduação, mestrado e doutorado;
- À profa. Dra. Josicleda Galvíncio, pelo suporte no laboratório para o uso dos softwares
de geoprocessamento e sensoriamento remoto;
- À Jorge, Luis, Zuca, Itamar e irmã Didi, funcionários do departamento que foram
entretenimento e aporte numa conversa descontraída com café e bolacha;
RESUMO
O conhecimento do balanço de energia e evapotranspiração em área urbana é de suma
importância para o entendimento do clima local, podendo prover informações decisivas
ao planejamento urbano. A pesquisa objetivou analisar a influência da superfície urbana
nos componentes do balanço de energia e evapotranspiração na cidade do Recife PE,
utilizando-se do algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land ) e seis
imagens do satélite Landsat 5 – TM, compreendendo as datas entre 06/08/1998 e
25/09/2011. Foram processadas cartas temáticas do NDVI (Normalized Difference
Vegetation Index ), temperatura da superfície, albedo da superfície, saldo de radiação,
fluxos de calor no solo, sensível, latente e evapotranspiração real. Os resultados
encontrados apontaram para alterações relevantes nas trocas dos fluxos de energia entre
a malha urbana e atmosfera com predominância de altos valores de radiação disponível
para aquecimento do ar próximo à superfície e na formação de zonas de calor. As
unidades de conservação e corpos hídricos, em menor representação espacial,
apresentaram resfriamento evapotranspirativo de aproximadamente 6,0 mm d-1 ,
proporcionando o arrefecimento da temperatura do ar e contribuindo com a formação de
ilhas de arrefecimento em escala local. A metodologia utilizada representou de forma
consistente os fluxos de calor e massa dos diversos tipos de cobertura, apresentando-se
de grande relevância na área de climatologia urbana, podendo promover um avanço
significativo nas informações dos fluxos de energia da superfície disponíveis para o
monitoramento do clima urbano face às mudanças ocorridas no espaço geográfico no
decorrer dos anos.
ABSTRACT
ET Evapotranspiração
NC Nível de Cinza
PE Pernambuco
T Temperatura média do ar
UC Unidades de Conservação
α Albedo (%)
Kc Coeficiente de cultura
L Comprimento de Monin-Obukhov
dT Diferença de Temperatura
εa Emissividade atmosférica
εNB Emissividade do infravermelho próximo (termal)
EA Erro absoluto
ER Erro relativo
K Graus Kelvin
ha Hectare
IV Invravermelho
ρ Massa específica
m Metro
km Quilômetro
rs Resistência da superfície
τ Transporte de momentum
1. INTRODUÇÃO........................................................................................ 22
1.1. Hipótese da pesquisa.......................................................................... 24
1.2. Objetivos............................................................................................ 24
2. REVISÃO DE LITERATURA.................................................................. 26
2.1. Clima e o espaço urbano..................................................................... 26
2.2. Balanço de energia em áreas urbanas.................................................. 33
2.3. Sensoriamento remoto aplicado ao balanço de energia....................... 45
2.4. Evapotranspiração em área urbana...................................................... 49
3. MATERIAL E MÉTODOS....................................................................... 52
3.1. Área de estudo..................................................................................... 52
3.2. Dados orbitais...................................................................................... 57
3.3. Dados micrometeorológicos................................................................ 59
3.4. Algoritmo SEBAL (Surface Energy Balance Algorithm for Land).... 60
3.5. Processamento das imagens................................................................ 62
3.5.1.Calibração radiométrica.................................................................... 62
3.5.2. Reflectância espectral ...................................................................... 63
3.5.3. Albedo no topo da atmosfera............................................................ 64
3.5.4. Albedo da superfície......................................................................... 65
3.5.5. Radiação de onda longa emitida....................................................... 66
3.5.6. Radiação de onda longa incidente.................................................... 67
3.5.7. Radiação de onda curta incidente..................................................... 68
3.6. Saldo de radiação instantâneo............................................................. 68
3.7. Fluxo de calor no solo......................................................................... 68
3.8. Fluxo de calor sensível........................................................................ 69
3.9. Fluxo de calor latente.......................................................................... 73
3.10. Evapotranspiração real diária (mm.d-1 )............................................. 74
3.11. Análise estatística.............................................................................. 75
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................... 76
4.1. Parâmetros biofísicos.......................................................................... 76
4.2. Balanço de radiação............................................................................ 85
4.3. Saldo de radiação instantâneo............................................................. 89
4.4. Saldo de radiação 24h......................................................................... 93
4.5. Fluxo de calor no solo......................................................................... 96
4.6. Fluxo de calor sensível........................................................................ 100
4.7. Fluxo de calor latente.......................................................................... 111
4.8. Evapotranspiração real diária (mm d-1 )............................................... 120
5. CONCLUSÕES......................................................................................... 127
6. RECOMENDAÇÕES................................................................................ 128
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 129
APÊNDICES ................................................................................................. 148
22
1. INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas o clima das áreas urbanas vem sendo objeto de estudos em
todo o mundo, sobretudo com o atual enfoque das mudanças climáticas e as elevadas
taxas de crescimento populacional evidenciada nas grandes cidades. O reflexo do
referido crescimento imprime uma nova conotação no uso do solo, proporcionando
progressiva deterioração dos ambientes urbanos e periurbanos, especificamente
impulsionado pelas pressões econômicas e especulativas nas grandes cidades, refletindo
na substituição de áreas verdes por áreas artificiais que imprime uma dependência
crescente por materiais de construção civil.
A intensificação de áreas construídas, diminuição de corpos hídricos e
vegetação, somado a grande circulação de veículos e emissão de poluentes emitidos
pelas indústrias, colaboram para a formação de um clima com características distintas
ao comparado com zonas rurais, o clima urbano. O clima urbano altera as trocas de
energia entre a interface superfície-atmosfera, favorecendo um maior percentual de
energia disponível a ser empregada no aqueciment da superfície, proporcionando desta
forma o aumento da temperatura do ar, colaborando com a redução das taxas
evaporativas e aumento de zonas quentes (GRIMMOND et al., 2007).
O adensamento construtivo atrelado às pressões econômicas no uso do solo
demanda o surgimento de novas feições impermeáveis com características que facilitam
a absorção de calor, proporcionando alterações significantes no balanço de energia e
taxas evaporativas. Nesse contexto está inserida a cidade do Recife que tem
apresentado em sua superfície um palco de intensas aglomerações urbanas resultando
em áreas cobertas por asfalto e concreto, as quais são superfícies capazes de converter e
armazenar a radiação solar incidente em maior grau do que as áreas vegetadas e, por
conseguinte, favorecem o aparecimento de um gradiente horizontal urbano de
temperatura podendo vir a provocar alterações substanciais no clima.
Ressalta-se que o processo de urbanização e industrialização, ao mesmo tempo
em que constituem um excelente indicador do nível de desenvolvimento alcançado por
uma determinada cidade, também comportam problemas relacionados com a
deterioração do meio urbano e da sua qualidade de vida. As investigações dentro da
temática em discussão pautam suas premissas teóricas e técnicas em aplicações que
visam analogias entre centros urbanos (áreas com solos impermeáveis) e áreas providas
de vegetação (zona rural) gerando amplitudes térmicas e ilhas de calor, e com poucas
23
fenômeno das ilhas de calor urbano (OKE, 1987). Por esta razão, abordagens de
sensoriamento remoto são muito atraentes na quantificação de parâmetros biofísicos da
superfície terrestre, possibilitando a representação de parâmetros distribuidos no espaço,
(LEIVAS, 2008).
A radiação é uma importante variável do balanço de energia a ser considerado,
pois é o principal mecanismo de transmissão de calor, de forma tal que as temperaturas
registradas em um ponto qualquer da Terra dependerão, em primeiro lugar, do balanço
de radiação nesse ponto. Esta energia é transmitida até a Terra na forma de ondas
eletromagnéticas proporcionando as trocas entre a superfície terrestre e atmosfera. O
percentual de radiação resultante deste processo determinará a quantidade de energia
disponível no meio e que será utilizada para aquecimento.
A intensidade das intervenções antrópicas no uso do solo consolidadas em
ambientes artificiais com propriedades em armazenamento de calor proporciona o
agravamento da temperatura. Estudos relacionados ao clima urbano, com destaque para
os fluxos de radiação e taxas de evapotranspiração obtidos por detecções remotas e que
visem à mitigação dos efeitos das mudanças climáticas por meio de medidas adequadas
de planejamento urbano, apresenta-se um atraente no campo da climatologia urbana.
1.1. Hipótese
A pesquisa fundamenta-se na hipótese de que é possível obter os diferentes
componentes do balanço de energia, baseado em imagens orbitais e fundamentos do
SEBAL (Algoritmo de Balanço de Energia à Superfície) e se investigará se as mudanças
registradas no espaço urbano da cidade doo Recife são detectáveis por esses
componentes.
1.2. Objetivos
Diante da importância do conhecimento de informações disponíveis do clima de
uma cidade assim como sua relevante contribuição ao planejamento urbano, esse
trabalho objetiva analisar a influência da superfície urbana nos componentes do balanço
de energia em Recife (Pernambuco), utilizando o algoritmo SEBAL e imagens
multiespectrais do TM Landsat 5. Para tanto, serão estimados a radiação de onda curta
incidente, radiação de onda longa emitida pela superfície, albedo da superfície,
temperatura da superfície, saldo de radiação, fluxo de calor no solo, fluxo de calor
sensível, fluxo de calor latente e evapotranspiração diária.
25
2. REVISÃO DE LITERATURA
enquanto no período da manhã a cidade apresentou 1°C menor que a zona rural,
atribuído ao sombreamento dos edifícios. No período da tarde registrou-se 1°C mais
quente devido aos altos valores do fluxo de calor sensível no centro da cidade.
Feliciano et al. (2009) utilizaram sensoriamento remoto para estudar o clima
urbano de uma ilha tropical onde está localizada a cidade de San Juan (Porto Rico),
tendo como objetivo investigar o impacto da rápida urbanização local no clima e sua
relação com as ilhas de calor. No trabalho foi utilizado o sensor de alta resolução
aerotransportado ATLAS/NASA, juntamente com campanhas de campo através de
medições com placas de infravermelho e balões de radiossonda. Em virtude da alta
resolução do sensor utilizado foi possível constatar dentre os diferentes tipos de
paisagens diferenças de até 30°C nas áreas urbanas, quando comparadas com as
vegetadas. Os resultados mostraram temperaturas entre 60°C na área urbanizada e 30°C
nas áreas com vegetação durante o dia. Ficou evidenciado que a radiação solar imprime
um comportamento mediante os diferentes tipos de materiais presentes na superfície
urbana.
Papangelis et al. (2012), com intuído de contribuir com o planejamento urbano
realizaram um estudo de modelagem para prever o impacto do verde urbano em uma
área com alta densidade construtiva e diversificada na cidade costeira de Atenas, Grécia.
Foi utilizado o Weather Research and Forecasting model (WRF) acoplado a outro da
camada do dossel urbana utilizado para gerar cenários de uso da terra com resolução de
0,5 km com foco em parques urbanos com dimensões de 8 e 4 km. Os resultados do
cenário investigado no parque urbano previram um grande efeito de arrefecimento
(maior do que 5°C) durante a noite sob condições climáticas calmas e claras abrangendo
a paisagem urbana, chegando ao desenvolvimento da brisa fresca do parque em grande
parte da cidade.
Utilizando o mesmo modelo, Wang et al. (2013) realizaram um estudo para
investigar o efeito da urbanização nos eventos de calor extremo e criar estratégia de
mitigação potencial para o efeito das ilhas de calor na área metroplitana de Pequim. Os
resultados mostraram que as características do uso do solo proporcionaram um impacto
significativo sobre as temperaturas que ocorrem durante os eventos de calor extremo
com aumento de aproximadamente 0,60°C, sendo mais evidenciada no período noturno,
com um aumento máximo de 0,95°C, contribuindo com 34% do calor antropogênico.
No Brasil diversos trabalhos aplicados à climatologia urbana merecem destaque.
Polizel (2009) realizou um estudo através de Geotecnologias para analisar o clima
32
criada e nem destruída, somente convertida para outra forma, sendo condicionada aos
ganhos e perdas de energia. Na área urbana, o armazenamento da energia no dossel
urbano ocorre através de superfícies impermeáveis (edificações, pavimentos, concreto,
asfalto etc). Conforme Ferreira (2010) a capacidade de armazenamento do dossel
urbano pode ser caracterizada pela propriedade denominada admitância térmica, que
informa o qual rápido uma superfície irá receber ou liberar calor. Oke (1982) destaca
que a admitância térmica é uma propriedade física da superfície que indica a amplitude
e a velocidade da resposta térmica à entrada de energia dentro do sistema urbano ou
rural.
Em geral, os materiais que compõem o meio urbano (concreto, asfalto, paredes,
telhas entre outros) apresentam maior admitância térmica que os materiais que
compõem as superfícies não urbanizadas (solos desprovidos de vegetação, gramas,
arbustos, árvores de médio e grande porte) o que faz com que a energia armazenada
dentro do dossel urbano seja maior do que nos ambientes rurais (GRIMMOND et al.,
1991).
O balanço de energia em uma superfície urbana é expresso teoricamente como:
R n Q F Q H Q E QS Q A
(1)
telhados, edifícios, paredes e ruas, sendo que com maior intensidade no período da
tarde.
Em ano posterior, Núñez e Oke (1977) investigaram as trocas de energia
ocorrida dentro de um cânion urbano de latitude média em período de verão localizado a
sudoeste da região central da cidade de Vancouver, Canadá. Para tanto foram utilizados
na aferição dos fluxos energéticos dezesseis radiômetros para medir a radiação solar e
terrestre; um lisímetro; sete radiômetros líquidos para aferir a radiação líquida e, oito
termômetros, visando quantificar o papel desempenhado pelos materiais e orientação de
paredes. O particionamento dos fluxos energéticos do sistema cânion urbano mostrou
que 60% da radiação disponível no meio foi dissipada na forma de calor sensível para
aquecimento do ar, 30% foi armazenada nos materiais que compõem o cânion urbano e
10% foi consumido na evaporação da água presente no solo. O fluxo de calor no solo
foi modulado pela superfície urbana, destacando-se com os maiores valores nas áreas
desprovidas de vegetação, permanecendo com a energia armazenada durante o dia e
sendo liberada para atmosfera no período noturno.
Voogt e Grimmond (2000) realizaram uma modelagem da superfície para
obtenção do fluxo de calor sensível através da temperatura da superfície radiativa em
uma área urbana industrial de Vancouver (Canadá). Foram utilizados dados de uma
torre meteorológica e modelagem usando uma abordagem de transferência de massa e
calor, e sensoriamento remoto para espacialização da temperatura da superfície. As
condições sinóticas em ambos dos dias do estudo foram caracterizadas por céu claro e
ensolarado com temperaturas altas. Também predominou uma brisa marinha no período
de 15 dias durante as medições do balanço de energia. Os resultados encontrados
apontaram os maiores valores do fluxo de calor sensível nas áreas onde as temperaturas
da superfície apresentaram-se maiores, sobretudo nas áreas com coberturas metálicas,
ruas e edifícios, sendo os menores encontrados nos parques urbanos.
A heterogeneidade das áreas urbanas, a considerar os diversos materiais
presentes nos ambientes artificiais e sua variabilidade espacial, produz modificações no
balanço de energia, sobretudo quando comparados com áreas rurais. Dentro desse
contexto, Oke (1986, 1999); Grimmond et al. (1993); Grimmond e Oke (2002);
Christen e Vogt (2004) traçaram o comportamento do fluxo de calor no solo, sensível e
latente das referidas áreas. Segundo os autores supracitados, as áreas urbanas
apresentam uma menor aerodinâmica quando considerados com o ambiente rural, assim
como o fluxo de calor latente apresenta os menores valores nas áreas sem vegetação e
40
balanço de energia para três cidades de Taiwan, China. Para realização do trabalho
foram estimados os fluxos de calor mediante imagens do satélite ASTER e
FORMOSAT-2 (Satélite óptico de alta resolução), assim como dados meteorológicos.
Os resultados encontrados para as três cidades apontaram valores do saldo de radiação
com variação entre 200 W m-2 nas áreas urbanas e 350 W m-2 nas feições de floresta.
Para o fluxo de calor sensível os valores foram modulados pelo tamanho das cidades,
destacando-se as áreas urbana residenciais das cidade de Kaohsiung, Taian e Kaohsiung
com intervalos de 300 W m-2 , 200 W m-2 e 373 W m-2 , respectivamente, enquanto nas
zonas industriais e comerciais esses valores foram superiores a 400 W m-2 . O fluxo de
calor latente e o fluxo de calor no solo nas áreas urbanas apresentaram valores médios
entre 0 e 3 W m-2 , enquanto o calor no solo apresentou intervalos superiores a 94 W m-2 .
Estes resultados implicam que o terreno em torno de uma determinada cidade, bem
como a escala de atividade urbana afeta significativamente o balanço de calor nas
cidades, proporcionando altos valores de fluxo de calor sensível em detrimento do fluxo
de calor latente.
Gomes et al. (2013) realizaram estudo do balanço de energia através de técnicas
de sensoriamento remoto com uso de imagem do TM Landsat 5 e aplicação do
algoritmo SEBAL na cidade de Patos (PB), visando quantificar os principais
componentes do balanço de energia. Os resultados mostraram que o saldo de radiação
variou de modo similar ao determinado na literatura; os valores do fluxo de calor
sensível apresentaram alta variabilidade espacial, coerentes com a distribuição espacial
de sobre a área estudada. O fluxo de calor latente apresentou os maiores valores para os
corpos d’água e área vegetadas e menores valores para a zona urbana e solo exposto,
devido à sua baixa disponibilidade de umidade, resultando em valores de
evapotranspiração diária variando entre 0,1 e 12 mm d-1 . A imagem de satélite mostrou
que a modificação do uso e da cobertura do solo contribui para mudanças significativas
nos parâmetros do balanço de energia.
área urbana (276), enquanto o S-SEBI apresentou para os mesmos alvos, 918 mm, 669
mm, 363 mm, respectivamente.
3. MATERIAL E MÉTODOS
iniciadas nos meses de março com precipitação total anual acima de 1200 mm e
isotermas que variam entre 26°C e 22°C, apresentando elevada umidade relativa do ar,
com valores médios anuais superiores 84%. A região estudada está situada dentro da Zona
Intertropical, e com latitude próximo ao Equador, apresenta alta taxa de isolação entre
os meses de verão. Devido a isto, apresenta temperatura do ar média mensal em torno
de 25°C, sendo os meses de janeiro e fevereiro os mais quentes, com temperaturas
superiores a 26°C, enquanto os meses de julho e agosto apresentam temperaturas iguais
ou inferiores a 24°C. A diferença anual de temperatura entre janeiro e julho é apenas
3°C e a amplitude térmica diária pode chegar a ser superior a 6°C (CORRÊA, 2006).
Os sistemas atmosféricos responsáveis pelo regime de chuvas, destacam-se as
massas de ar provenientes do Anticiclone do Atlântico Sul, as Ondas de Leste, comuns
entre outono/inverno e a ZCIT (Zona de Convergência Intertropical) que se dispõe no
talvegue das baixas pressões equatoriais onde convergem os alísios boreais e austrais na
Zona de Doldruns, atingindo a cidade especificamente no outono com chuvas, trovoadas
e mudança na direção dos ventos. A cidade também recebe a influência das
perturbações oriundas da proximidade da própria Frente Polar, que atinge o Recife em
frontólise (dissipação) e precipitações oriundas de movimentos ciclônicos da alta
troposfera, os vórtices ciclônicos, geralmente de escala mesorregional. Os referidos
sistemas desenvolvem-se mais ativamente no verão e possuem um centro com límpido e
bordas nebulosas, de onde provêm as precipitações (CORRÊA, 2006).
A cidade mantém acelerado ritmo de crescimento da sua população tendo, na
segunda metade do século XX, ultrapassando um milhão de habitantes. Segundo dados
do IBGE/2010, a região metropolitana do Recife é a mais populosa do Nordeste e a
quinta maior do Brasil ao lado de Fortaleza e Salvador. Com uma população de
1.533.580 milhões de habitantes e total de 3,73 milhões em toda área metropolitana,
sendo considerada uma das cidades com maior desenvolvimento econômico do
Nordeste do Brasil. A metrópole tem como forte característica o comércio, o qual teve
início no período da economia açucareira com o Porto do Recife. Sua função e
hierarquia acompanharam o ritmo das transformações socioeconômicas do Brasil, e
atualmente é um dos mais importantes centros de serviços e distribuição de mercadorias
da região Nordeste.
A atual conjuntura econômica da metrópole e sua região metropolitana
apresentam-se em pleno crescimento, sobretudo com a implantação de complexos
industriais, refinarias de petróleo, expansão portuária, estaleiros e infraestrutura para
54
( m) a b a b a b
1 (azul) 0,45 – 0,52 -1,52 152,10 -1,52 193,00 -1,52 169,00 1957 0,93
2 (verde) 0,52 – 0,60 -2,84 296,81 -2,84 365,00 -2,84 333,00 1826 0,274
3 (vermelho) 0,63 – 0,69 -1,17 204,30 -1,17 264,00 -1,17 264,00 1554 0,233
4 (IV-próximo) 0,76 – 0,90 -1,51 206,20 -1,51 221,00 -1,51 221,00 1036 0,155
5 (IV-médio) 1,55 – 1,75 -0,37 27,19 -0,37 30,20 -0,37 30,2 215,0 0,032
6 (IV-termal) 10,4 – 12,5 1,2378 15,303 1,2378 15,303 1,2378 15,03 - -
7 (IV-médio) 2,10 – 2,35 -0,15 14,38 -0,15 16,50 -0,15 16,50 80,67 0,012
DSA: dia sequencial do ano; E (º) = ângulo de elevação solar, cos Z = cosseno do
ângulo zenital solar, Hora: (Tempo Central GMT), dr: inverso do quadrado da distância
relativa Terra-Sol; Tar (ºC): Temperatura do ar; Tar min (°C): Temperatura mínima do ar;
Tar,max (ºC): Temperatura máxima do ar; UR %: Umidade relativa do ar; UR% min:
Umidade relativa do ar mínima; UR% max: Umidade relativa do ar máxima; Par (kPa):
Pressão atmosférica em Quilo Pascal; U*(m.s-1 ): Velocidade do vento a 10m; Rs 24h
(MJ m-2 ): Radiação solar diária obtida através do piranômetro licor ( - ausência de
dados em 04/08/1998 e 28/07/2007).
60
2000), México (Bastiaanssen e Zwart, 2007), Grécia (Alexandridis et al., 2008, 2009;
Spiliotopoulos et al., 2008) e, recentemente Chipre (Papadavid et al., 2011), Grécia
(Spiliotopoulos et al., 2012), Brasil (Silva e Bezerra, 2006; Teixeira et al., 2009 a,b).
bi ai (
Li ai . ND
255 (2)
em que ai e bi são as radiâncias espectrais mínima e máxima (W m-2 sr-1 μm-1 ), ND é a
intensidade do pixel e i corresponde às bandas 1, 2, ....,7, do TM Landsat 5.
Etapa 1 Etapa 5
Imagem de satélite ND Índices de Vegetação
(NDVI, SAVI, LAI)
Etapa 2
Calibração radiométrica
Etapa 6
Emissividades da
Superfície
Etapa 2
Reflectância espectral
Etapa 3 Etapa 7
Albedo no Topo da Temperatura da
Atmosfera Superfície
Etapa 11
Balanço de Radiação à Superfície
Rn RS 1 r0 RL RL 1 0 RL
como sendo a razão entre o fluxo de radiação solar refletido e o fluxo de radiação solar
incidente, obtida segundo a equação (BASTIAANSSEN, 1995; ALLEN et al., 2002;
SILVA et al., 2005):
L .
rpi
K . cos Z . d r
(3)
em que rpi é refletância planetária da banda i, K λ é a irradiância solar espectral no
topo da atmosfera, Z é o ângulo zenital solar e dr é o inverso do quadrado da distância
relativa Terra – Sol (em unidade astronômica - UA), dada por Iqbal (1983):
2π
d r 1 0,033cos DSA (4)
365
em que DSA é o dia sequencial do ano
O ângulo zenital foi obtido com a seguinte fórmula:
π
CosZ cos - E
2 (5)
onde: E é o ângulo de elevação do Sol, obtido no cabeçalho de cada imagem.
Mediante as cartas da refletância planetária de cada uma das seis bandas
reflectivas do TM Landsat 5, obteve-se os índices de vegetação, emissividade e
temperatura da superfície, cujos procedimentos estão descritos em Silva et al. (2005).
(6)
α toa α p
α 2
(7)
τ sw
sendo toa o albedo planetário, , é a radiação solar refletida pela atmosfera, que varia
entre 0,025 e 0,04. Para o modelo SEBAL recomenda-se o uso do valor 0,03 (SILVA et
al., 2011); τsw é a transmissividade atmosférica, que para as condições de céu claro é
calculada em função da pressão atmosférica e da água precipitável (ASCE-EWRI, 2005;
ALLEN et al., 2007a; GOMES et al., 2009; SILVA et al., 2011), sendo dada por:
0, 4
0,00146P W
τ sw 0,35 0,627 exp 0,075
K t cosZ cosZ
(8)
Ta - 0,0065z 5, 26
P 101,3
Ta
(9)
66
UR. eS
ea
100 (11)
17,2694.Ta
es 0,61078 exp
237,3 Ta (12)
R L = ε0 σ Ts4 (13)
Conforme Allen et al. (2002), para os pixels com IAF ≥ 3 são adotados valores de ɛ0 =
em que IAF é o Índice de Área Foliar, definido através da razão entre a área foliar de
toda a vegetação por unidade de área utilizada por essa vegetação, sendo considerado
como indicador de biomassa de cada pixel da imagem, computado conforme (ALLEN et
al., 2002):
0,69 SAVI
ln
IAF 0,59
0,91 (15)
onde o SAVI é o Índice de Vegetação Ajustado aos Efeitos do Solo, calculado com base
nas faixas do infravermelho próximo (banda 4) e do vermelho (banda 3) (HUETE,
1988):
SAVI
1 L ρiv ρ v
L iv v (16)
RL ε a a
4
(17)
ε a 0,85. ln sw
0 , 09
(18)
Rn RS 1 RL RL 1 0 RL
(20)
dT
H ρ .cp .
ra (22)
Dados meteorológicos
dT
u, Zx , Zom, u* H ρ .c p .
ra
Velocidade ku x
u*
do vento a z 3
ρc p u * Ts
200 m ln x L
z0m kgH
Velocidade ku 200
u*
de fricção em 200 ψ m , ψ h(Z 2) , ψ h( Z 1)
cada pixel ln
z0 m
u 200 .k
u*
200
Resistência z ln ψ m(200 m)
aerodinâmica ln 2 z0 m
1
z
em cada pixel rah
u* . k
imagem. Sendo assim, a velocidade de fricção cada pixel da imagem, é obtida segundo
a equação 20 (ALLEN et al., 2002; TREZZA, 2002, SILVA e BEZERRA, 2006).
ku 200
u*
200
ln
z0 m (24)
z
ln 2
rah 1
z
u* . k (26)
onde z 1 e z 2 são as alturas acima da superfície (em alguns estudos mais recentes têm
sido utilizados 0,1 m e 2,0 m, respectivamente).
Para efetuar o processo iterativo conforme fluxograma supracitado é feito
inicialmente a escolha de dois “pixels âncoras” nas cenas estudadas, os quais são
caracterizado como pixeis “frio” e “quente” selecionados através do campo de
temperatura da superfície e que serão utilizados para definir uma relação linear entre a
temperatura da superfície (Ts) e a dT, visando estabelecer os valores constantes de
calibração de dT (a e b). Diante da carta de temperatura da superfície foi possível
realizar a seleção dos pixels supracitados, onde o frio situou-se dentro do Manguezal do
Pina (superfície com água), enquanto o pixel quente foi representado no Shopping
72
Center Recife (superfície impermeável). O fluxo de calor sensível Hquente (W m-2 ) é dado
por:
ρcp (a bTsup )
Hquente R n G
rah (27)
a bTsup rah (R n G) / ρ cp
(28)
3
ρc p u * Ts
L (29)
kgH
Os valores de L definem as condições de estabilidade da seguinte forma: se L <
0, a atmosfera é considerada instável; se L > 0, a atmosfera é considerada estável e se L
= 0 a atmosfera é considerada neutra. Dependendo das condições atmosféricas, os
valores das correções de estabilidade para o transporte de momentum (ψ m ) e de calor
u 200 .k
u*
200
ln ψm(200 m)
z0 m (30)
ln( Z 2 / Z1 ) h ( Z 2 ) h ( Z0 ,1)
rah
k .u * (31)
O fluxo de calor latente (LE) pode ser definido como um fluxo total do
transporte de água da superfície do solo ou da água à atmosfera pelo processo de
evaporação e do transporte de água da superfície de folhas da vegetação à atmosfera
através do processo de transpiração (LIU, 2006). Conhecidos os fluxos de calor
sensível, no solo e saldo de radiação é possível calcular o fluxo de calor latente como
74
LE = Rn - G - H (32)
LE LE 24 h
FEi FE24 h
Rn G Rn 24 h (33)
LE24h e Rn24h correspondem aos valores diários dos fluxos supracitados conforme De
BRUIN e STRICKER (2000):
RTOA,24h é a radiação solar incidente no topo da atmosfera. Diante destes dados foi
possível o cômputo da ET (mm d-1 ), conforme:
LE
ET 0,035 1 Roc 24 medida - 110 τ 24 h
Rn G (36)
75
P - 0
n 2 2
i i
RMSE i 1
0i
(37)
1 n (38)
EAM Pi - 0i
n i1
900
0,408 ( Rn G ) u 2 e
ETo T 273
1 0,34 u 2 (40)
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Figura 9 - Carta temática do NDVI nas datas 216/1998, 269/2000, 238/2006, 209/2007,
249/2010 e 268/2011.
79
de onda curta incidente, estimada em função do cosseno do ângulo zenital, dia do ano,
transmissividade atmosférica e constante solar (1367 W m-2 ), é atribuída ao ângulo
zenital solar identificada em cada data no momento da passagem do satélite (ALLEN et
al., 2002). Conforme Tabela 2 citada anteriormente, os menores valores representam as
datas 216/1998 e 209/2007.
A radiação de ondas longas emitidas pela atmosfera em direção a superfície
terrestre, apresentou valores aproximadamente constantes compreendendo toda extensão
das cenas nas respectivas datas (Tabela 7). Conforme (Galvão e Fisch, 2000), esse fluxo
de energia é resultante da emissão dos gases atmosféricos sendo determinante no
computo do balanço de radiação. A superfície urbana não exerce nenhuma influência
nesses valores, entretanto serão modulados conforme a utilização nos componentes do
balanço de energia na configuração espacial da área em estudo. Silva et al. (2005)
encontram valores iguais a 361,4 W m-2 para o ano de 2000 e 367,0 W m-2 para o ano de
2001, em região de clima semiárido.
Figura 14 - Valores médios estimados para radiação de onda longa emitida pela
superfície e onda curta incidente.
Figura 16 - Valores médios e desvio padrão do saldo de radiação instantâneo nas datas
216/1998, 269/2000, 238/2006, 209/2007, 249/2010 e 268/2011.
90
Querino et al. (2006) apontam que a incidência da radiação solar global está
relacionada com o ângulo zenital (Z), onde quanto menor o ângulo formado maior o Rg
em virtude do menor caminho óptico que o raio percorre nesse horário e desta forma
possibilita que a radiação incida na superfície com pouca interferência, entretanto,
94
Figura 20 - Radiação solar acumulada obtida na torre meteorológica (MJ m-2 ) nas datas
269/2000, 238/2006, 249/2010 e 268/2011.
Figura 21 - Gráfico dos valores médios e desvio padrão do fluxo de calor no solo nas
datas 216/1998, 269/2000, 238/2006,209/2007, 249/2010 e 268/2011.
Figura 22 - Carta temática da distribuição espacial do fluxo de calor no solo nas datas
216-1998, 269-2000, 238-2006, 209-2007, 249-2010 e 268-2011.
99
Tabela 9 - Distribuição percentual das classes do fluxo de calor no solo para as datas
em análise.
Fluxo de calor 216/1998 269/2000 238/2006 209/2007 249/2010 268/2011
no solo (W m-2 )
G < 15 0% 0,01 % 0% 0,04 % 0,03 % 0%
16 < G < 30 0,62 % 0,05 % 0,02 % 0,02 % 0,21 % 0%
31< G < 45 32,06 % 7,02 % 10,47 % 28,45 % 20,10 % 0,73 %
46 < G < 60 64,50 % 30,64 % 22,54 % 50,22 % 18,18 % 22,78 %
61 < G < 75 0,61 % 53,55 % 21,52 % 19,47 % 31,58 % 25,28 %
G > 76 2,03 % 8,7 3% 45,45 % 1,80 % 29,90 % 51,21 %
Figura 23 - Disperção entre o fluxo de calor no solo e o índice de vegetação NDVI para
os alvos: Manguezal do Pina, Carrefour, Shopping Recife, Aeroporto e Ceasa na data
268/2011.
Figura 24 - Valores médios e desvio padrão do fluxo de calor sensível nas datas
216/1998, 269/2000, 238/2006, 209/2007, 249/2010 e 268/2011.
valores inferiores a 5 W m-2 representados pela classe com tonalidade verde escuro,
enquanto os maiores foram encontrados na tonalidade laranja escuro e vermelho com
intervalos entre 321 W m-2 e superiores a 426 W m-2 respectivamente, localizados no
setor leste das cenas, região dotadas de menores coberturas vegetativas e intenso uso do
solo com ambientes construtivos e com maior intensidade na cena de 268/2011.
Os valores intermediários foram representados na classe amarela, com intervalos
entre 106 e 215 W m-2 predominando na mancha urbana, estando em consonância com
os resultados obtidos por Araujo et al. (2010) na mesma área. Os autores encontram
intervalos entre 350 e 500 W m-2 através do modelo BRAMS. Santos et al. (2010)
encontraram intervalos entre 200 e 400 W m-2 usando o modelo SEBAL na área urbana
da cidade de Paraíso do Sul.
A cena referente a data 216/1998 apresentou os menores valores em comparação
com as demais datas. As feições com presença de corpos hídricos e vegetação,
localizados na parte norte, região da mata de Dois Irmãos e da Guabiraba, seguidos da
porção oeste da cena onde se situa o corredor verde, assim como o manguezal do Pina,
situado na parte sul da cidade. As áreas acima estão inseridas nas unidades de
conservação, portanto, apesar de apresentarem baixos valores de energia disponível para
o aquecimento do ar não apresentavam especulação imobiliária intensa, sobretudo por
não estarem inseridas no eixo das conexões econômicas e com isto destacam-se com
baixos valores do fluxo de calor sensível, compreendendo assim as áreas com baixa
densidade demográfica, sobretudo a região da Guabiraba, localizada no setor norte da
cena.
Os maiores valores culminaram nas áreas onde o adensamento construtivo é
mais intenso e com baixo percentual de áreas verdes e corpos hídricos. Nessas áreas alto
percentual de energia está sendo empregada para aquecer a temperatura da superfície e,
com isto propiciam aumento da temperatura do ar que são favorecidos pelas
propriedades dos materiais construtivos na absorção de calor de forma rápida e
liberação de forma lenta, proporcionando o aprisionamento e emissão de calor,
destacando os alvos Shopping Center Recife e o Aeroporto Internacional dos
Guararapes. Esses empreendimentos, apesar de contribuírem com a economia da cidade
e empregarem mão de obra, contribuem para o aumento da temperatura e, por
conseguinte, alteram as trocas de energia entre superfície e atmosfera.
103
Figura 25 - Carta temática do fluxo de calor sensível nas datas 216-1998, 269-2000,
238-2006, 209-2007, 249-2010 e 268- 2011.
104
Tabela 10 - Distribuição percentual das classes do fluxo de calor sensível para as datas
em análise.
Fluxo de calor 216/1998 269/2000 238/2006 209/2007 249/2010 268/2011
sensível (W m-2 )
H<5 0,19 % 1,63 % 0,03 % 2,92 % 0,53 % 1,26 %
6 < H < 110 54,36 % 32,90 % 31,33 % 47,01 % 43,56 % 23,45 %
111 < H < 215 43,16 % 25,56 % 42,48 % 32,93 % 39,35 % 24,26 %
216 < H < 320 2,27 % 35,61 % 25,91 % 14,93 % 16,25 % 34,27 %
321 < H < 425 0,02% 4,07 % 0,27 % 0,77 % 0,31 % 16,24 %
H > 426 0% 0,23 % 0% 0,04 % 0% 0,52 %
Figura 33. Perfil do fluxo de calor sensível representado entre a distância 0 - 22.500 m,
no sentido Norte/Sul da cidade em 249-2010.
111
Figura 35 - Gráfico dos valores médios e desvio padrão do fluxo de calor latente nas
datas 216/1998, 269/2000, 238/2006, 209/2007, 249/2010 e 268/2011.
Figura 36 - Carta temática da distribuição espacial do fluxo de calor latente nas datas
216-1998, 269-2000, 238-2006, 209-2007, 249-2010 e 268-2011.
114
Tabela 11 - Distribuição percentual das classes do fluxo de calor latente para as datas
em análise.
Fluxo de calor 216/1998 269/2000 238/2006 209/2007 249/2010 268/2011
latente (W m-2 )
LE < 100 0,05 % 0,54 % 0,42 % 0,49 % 0,12 % 2,61 %
101 < LE < 210 2,11 % 6,74 % 10,69 % 7,67 % 2,22 % 26,40 %
211 < LE < 320 24,88 % 23,93 % 34,90 % 29,19 % 20,55 % 22,13 %
321< LE < 430 54,15 % 22,48 % 21,70 % 27,73 % 29,46 % 16,40 %
431 < LE < 540 18,32 % 20,26 % 31,81 % 34,92 % 21,39 % 25,97 %
LE > 541 0,48 % 26,05 % 0% 0% 26,23 % 6,49 %
perfis, conforme Figuras 39, 40, 41, 42, 43, 44 respectivamente. Os maiores valores
encontrados nos perfis foram destacados entre as distâncias 0 e 5.000 m, situados na
porção norte das cenas. As referidas distâncias compreendidas nas feições de cobertura
verde apresentaram os alvos com maior expressão em todas as datas analisadas,
destacando valores superiores a 450 W m-2 e máximo de 690 W m-2 aproximadamente,
representados nas datas 249/2010 e 268/2011.
Foi evidenciado um padrão de declínio entre os valores após a referida
distância, voltando a ter alguns picos nos alvos representados por características
semelhantes ao supracitado, assim como nos corpos hídricos, encontrados entre as
distâncias 11.500, 14.000, 18.000 e 22.500 m, respectivamente, verificados na Figura
38.
A Figura 47, representa a relação entre o NDVI e ET24h para cinco alvos
selecionados nas feições de mata atlântica e fragmentos de mangue, referente à data
268/2011. Os alvos elucidam alto potencial evapotranspirativo, destacando a Mata do
Ibura e Mata do Engenho Uchoa com ET24h aproximadamente 6,2 mm d-1 e 5,8 mm d-1 ,
com NDVI entre 0,75 e 0,73, respectivamente. O manguezal do Pina apresentou valores
125
de ET24h aproximadamente 3,85 mm d-1 e com NDVI 0,69, valores de ET24h entre 4,5
mm d-1 e com NDVI 0,71 foi encontrado na Reserva Ecológica Dois Unidos, sendo a
Reserva Dois Irmãos com valores de ET24h 5,0 mm d-1 e NDVI 0,72. Constatou-se nos
alvos em análise valores de NDVI superiores a 0,69 uma forte relação com ET24h ,
apontando com isto a relevância evaporativa das áreas verdes no ambiente urbano e sua
contribuição no clima em escala local em detrimento da expansão construtiva destacado
nas coberturas impermeáveis da cidade.
5. CONCLUSÕES
6. RECOMENDAÇÕES
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APÊNDICES
Tabela 1. 04-08-1998
Tabela 2 - 26-09-2000
Tabela 3 - 26-08-2006
n Ts,q (K) Ts,f (K) rah,in Rn (Pq) G (Pq) U*ini dT a b Hq
1 311,2 291,5 61,93 513,4 91,5 0,118 22,63 -21,12 1,15 421,9
2 311,2 291,5 6,30 513,4 91,5 0,184 2,30 -2,14 0,11 421,9
3 311,2 291,5 23,87 513,4 91,5 0,214 8,72 -8,13 0,44 421,9
4 311,2 291,5 13,96 513,4 91,5 0,201 5,10 -4,76 0,25 421,9
5 311,2 291,5 17,59 513,4 91,5 0,206 6,42 -5,99 0,32 421,9
6 311,2 291,5 16,03 513,4 91,5 0,204 5,85 -5,46 0,29 421,9
7 311,2 291,5 16,63 513,4 91,5 0,205 6,07 -5,67 0,30 421,9
8 311,2 291,5 16,39 513,4 91,5 0,204 5,98 -5,58 0,30 421,9
n L X 200 X2 X 01 F 200 F2 F1 Zom U*c rahcor
1 -0,348 9,793 3,105 1,538 5,885 3,343 1,041 0,006 0,269 6,30
2 -4,122 5,280 1,721 1,085 3,762 1,366 0,171 0,006 0,184 23,87
3 -1,319 7,019 2,242 1,220 4,714 2,206 0,436 0,006 0,214 13,96
4 -2,075 6,267 2,013 1,154 4,329 1,853 0,306 0,006 0,201 17,59
5 -1,720 6,569 2,104 1,179 4,488 1,997 0,356 0,006 0,206 16,03
6 -1,851 6,449 2,068 1,169 4,425 1,940 0,336 0,006 0,204 16,63
7 -1,798 6,496 2,082 1,173 4,450 1,963 0,344 0,006 0,205 16,39
8 -1,824 6,473 2,075 1,170 4,438 1,951 0,340 0,006 0,204 16,51
150
Tabela 4 - 28-07-2007
Tabela 5 - 06-09-2010
Tabela 6 - 25-09-2011