Mariana Arruda - Gerson - A INFLUÊNCIA DO PROCESSO MUSICOTERAPÊUTICO NA PERCEPÇÃO DA
Mariana Arruda - Gerson - A INFLUÊNCIA DO PROCESSO MUSICOTERAPÊUTICO NA PERCEPÇÃO DA
Mariana Arruda - Gerson - A INFLUÊNCIA DO PROCESSO MUSICOTERAPÊUTICO NA PERCEPÇÃO DA
Autora correspondente:
Resumo
1
Musicoterapeuta. Mestre e Doutoranda em Educação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).
Docente da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR). [email protected]. Curitiba –
Paraná - Brazil
2
Musicoterapeuta. Doutora em Educação pela UFPR. Docente da UNESPAR. [email protected]
3
Tecnólogo em Gestão Estratégica das Organizações, docente em cursos técnicos de administração e
mestre em Educação na UFPR. [email protected]
4
Doutor em Educação Física pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Docente da UFPR.
[email protected]
5
Doutora em Educação Física pela UFPR. Docente da UNESPAR e da UFPR.
[email protected]
2
Abstract
This study aimed to verify the influence of a music therapy process on the perception of elderly
women quality of life. The music therapy process was developed in 24 meetings during a three
- month period, with 20 retired elderly women from the State of Paraná. The measurement
instrument was a semi-structured interview and the analysis of these interviews was based on
Bardin (2011) with stages of pre-analysis, exploration and data treatment. In the
sociodemographic data of the participants, the average age was 71.3 ± 7.8 years, all brazillians,
(65%) born in the State of Paraná, caucasians (85%) and married (45%). In the results, there
were physical aspects in relation to body relaxation; in psychological aspects, in relation to
memory and emotional aspects; in social relations, regarding the interaction of the participants;
and finally, the impact of the environment during the music therapy process. It was verified that
the music-therapeutic process positively influences the perception of elderly women quality of
life.
1. INTRODUÇÃO
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http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/
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http://www.who.int/eportuguese/countries/bra/pt/
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pessoas com 80 anos, mais ativas e com melhores condições físicas e cognitivas do que pessoas
com 50 anos, por exemplo. Segundo a OMS (2015), o que deve ser feito é estruturar as políticas
de forma que um maior número de pessoas consiga envelhecer de forma saudável. O relatório
aponta, ainda, a necessidade de derrubar as barreiras que impedem a participação social
contínua das pessoas idosas, e a importância de uma política mais ampla que atenda a
diversidade dessa fase.
O envelhecimento é um processo complexo, marcado por mudanças cognitivas que
estão associadas ao declínio em tarefas que exigem atenção, rapidez, concentração e raciocínio
indutivo. É uma fase em que a pessoa está suscetível à deterioração global das funções
intelectuais, que inclui a perda da memória, do julgamento, do funcionamento social e controle
das emoções. Ainda pode ocorrer o declínio na linguagem, praxias ou funções executivas,
capazes de interferir no desempenho social e profissional da pessoa idosa. (ARGIMON &
STEIN, 2005).
2. MÉTODO
O presente artigo foi baseado em uma pesquisa qualitativa realizada por meio de uma
entrevista semiestruturada (BARDIN, 2011). A pesquisa qualitativa é realizada quando a busca
pretende compreender a perspectiva dos participantes sobre fenômenos que os rodeiam, de
forma que aprofundem suas experiências, opiniões e significados, e absorver a forma com que
os participantes percebem, subjetivamente, sua própria realidade. Esse tipo de pesquisa é
importante, também, quando se trata de um assunto pouco explorado. (SAMPIERI et al., 2013).
A entrevista é uma forma de coleta de dados que pode se transcrita para texto, quando
necessário, e codificada, podendo a codificação ocorrer em dois níveis: primeiro de significados
e categorias, e segundo, de seleção de temas e relações entre conceitos. (SAMPIERI et al.,
2013). Nesta investigação, optou-se pela tematização das respostas obtidas e transcritas. O
critério utilizado para a análise dos dados foi a análise de conteúdo de Bardin (2011), sendo que
a leitura flutuante e a análise temática foram os recursos recortados no método e aqui utilizados.
Participaram da pesquisa, 20 mulheres idosas aposentadas do Estado do Paraná, com
idade de 60 anos ou mais. O processo musicoterapêutico foi realizado durante 3 meses, com a
frequência de duas vezes por semana, e encontros de 1 hora cada, perfazendo 24 encontros de
Musicoterapia.
As pesquisadoras contaram com a colaboração de três estudantes de musicoterapia. Elas
ficaram responsáveis por organizar a sala onde ocorreriam as intervenções, ou seja, colocar as
cadeiras em círculo, a disposição de instrumentos musicais de percussão no centro do círculo,
construir e oferecer pastas com as letras das canções mais significativas para o grupo. As
estagiárias também deram suporte musical por meio do violão, do canto e da percussão, durante
o processo musicoterapêutico.
No primeiro encontro a atividade grupal consistiu na apresentação dos dados pessoais
como: nome, profissão e atividades exercidas no momento. Também foram discutidos aspectos
do histórico sonoro-musical das participantes. Depois disso, no decorrer do processo, foram
utilizadas as quatro técnicas8 de Bruscia (2016), que serão descritas a seguir:
1) Composição ou técnica composicional - a participante cria canções, letras ou peças
instrumentais ou ainda, realiza uma paródia conforme a sua capacidade musical e
8
Em seu livro, que é uma tradução da língua inglesa, é utilizado o termo método. Para esta pesquisa,
contudo, as experiências musicais citadas foram consideradas como técnicas no processo de intervenção.
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Batimento regular no andamento da música. (MED, 2017)
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É a duração absoluta do som e do silencio. Velocidade que se imprime à execução musical. (MED,
2017).
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Divisão de um trecho musical em séries regulares de tempos. (MED, 2017).
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harmônico optou-se pelo violão, e ainda, foi utilizado como recurso, o aparelho de som, para
as atividades que envolviam movimentos corporais, como a dança circular ou a roda de coco.
Ao final do processo, foi agendada uma data para que as participantes do processo
musicoterapêutico respondessem à uma entrevista semiestruturada. A mesma foi conduzida e
gravada por um profissional que não participou do processo musicoterapêutico para que não
houvesse conflito de interesse.
A entrevista consistiu em explorar as seguintes categorias: escolha pela participação dos
encontros de Musicoterapia, feedback do processo musicoterapêutico, percepção das
contribuições pessoais, de cognição (atenção, memória e linguagem) e da percepção dos
domínios de qualidade de vida (físico, psicológico, social e ambiental). O tempo médio de
participação na entrevista foi de 15 minutos.
3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Conforme a tabela 1 pode-se observar que a maioria das participantes possui pós-
graduação (50%), são aposentadas (85%), casadas (45%), brancas (85%), e do Estado do Paraná
(65%).
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Aspectos Físicos
corporal, como relata a Participante 1: “...me sinto mais leve a hora que eu saio”. E a
Participante 2: “...todo mundo quando sai diz bem assim: nossa, tô saindo leve, tranquila, de
bem com a vida e com a cabeça, o físico ... sai maravilhoso dali. É a música, né?!” E a
Participante 13 reforça: “é relaxante, estimulante, agradável, uma coisa bonita, e o físico seria
uma consequência na saúde, à medida que diminui o estresse, você melhora a condição física
de saúde”.
Nos relatos houve ênfase acerca da melhora no controle e na qualidade da respiração,
como disse a Participante 3: “...a gente aprendeu a desenvolver a nossa respiração através da
música, porque a gente canta e quando você vai ver... você perde o ar e, então, ela também deu
essas noções”.
A Participante 9 fez referência à estimulação de movimentos corporais livres: “porque
a gente brinca ali um pouco também, até dança... mas, assim, de um modo geral, ativou
bastante, né?!” E a Participante 7 reforçou: “Porque eu me motivei até a dançar um pouco
mais e....quanto mais a gente participa das coisas, melhor fica a vida, né? Você vai se
superando, vai melhorando à medida que você vai participando”.
Houve também relatos sobre a influência das atividades da Musicoterapia na
coordenação motora. A Participante 8 abordou este aspecto: “isso estimula a coordenação
motora, né?! Entre o auditivo e o motor, né?! Então, estimula sempre”. Mas sugere que o ganho
emocional é maior do que o físico: “Mas melhora mais, eu acho, no aspecto psicológico e
mental do que físico”.
As pesquisadoras observaram que, nesta pesquisa especificamente, os assuntos citados
não são exclusivamente de um único tema ou categoria, pois houve entrecruzamento também,
dos aspectos Psicológicos e Ambientais nestes classificados como Físicos. Essa divisão tem o
objetivo de facilitar a didática e a compreensão dos elementos apresentados.
Aspectos Psicológicos
a) Aspectos Cognitivos
até uma demência (DAMASCENO, 2006). A Musicoterapia pode atuar como função
compensatória. Isso significa que o musicoterapeuta pode identificar habilidades ou funções
preservadas das pessoas participantes do processo e, com isso, estimular o desenvolvimento de
novas habilidades que possam contribuir para suas rotinas. (MOREIRA et al., 2012).
As atividades musicais também exercem a função de ensinar conceitos, ideias e
sociabilidade como fonte de motivação e neurodesenvolvimento, ativam sistemas de controle
da memória, da linguagem, da atenção e do pensamento superior. (SLOBODA, 2008).
As participantes apresentaram a atenção como um dos elementos cognitivos trabalhados
no processo de intervenção musicoterapêutica, como afirmou a Participante 12: “primeiro a
atenção mesmo, porque na minha experiência de não identificação de nenhum dos instrumentos
apresentados, os sons, os conceitos, as próprias músicas no sentido da diversidade da nossa
própria contribuição, reconhecimento dos sons e coisas assim similares”. A Participante 19
relatou: “agora eu tô aqui fazendo a entrevista e eu tô escutando as vozes aqui do lado, é... tô
escutando o lado de cá silêncio, né?! Tô escutando o lado de lá rua, então, eu acho que isso
é... me deu pré-requisito pra que eu observe, como idosa, uso isso na minha vida diária, acho
que desenvolveu minha atenção, né? Já tô ouvindo mais, né?!”. A Participante 15 comentou:
“Fez eu atentar pra eu prestar mais atenção na música, no sentido da música, né?! Porque eu
não prestava atenção. Agora quando eu ouço a música, procuro saber quem tá cantando, qual
é o nome da música...já tô mais prestando atenção”.
Outro elemento da cognição presente nos relatos, foi a aprendizagem. A Participante 8
colocou: “aprender um pouco mais com música...sempre imaginei que Musicoterapia seria
alguma coisa bem interessante até para aprendizado como aluno.” E complementou:
“trabalhar habilidades que não eram desenvolvidas, trazer estímulos pra outras perspectivas
de informações, ao mesmo tempo acho que estimula novas áreas cerebrais”. A Participante 20
afirmou: “É oportunidade de novas informações, principalmente, esses conceitos, assim, que
eu tenho vontade de aprender”. E reforçou: “Ela estimula um pouco mais a aptidão mental,
nós aprendemos a conhecer alguns instrumentos que a gente não conhecia. Porque eu gosto
de conhecimento, sempre conhecer, a gente tem que estar sempre procurando conhecimento”.
Ouvir, cantar e relembrar letras de músicas são ações que ativam as áreas de Broca e
Wernicke, regiões cerebrais relacionadas ao conhecimento, interpretação e associação de
informações. O hipocampo, uma das áreas responsáveis pela memória, é ativada sempre que se
acompanha uma canção que já é familiar. (LEVITIN, 2010).
Para CUNHA (2007), perder a memória significa ser privado do patrimônio afetivo-
cultural, construído durante toda a vida. Na intervenção com a Musicoterapia trabalha-se esse
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b) Aspectos Emocionais
Música gera emoção e ativa várias estruturas cerebrais, como o sistema límbico, que é
responsável pelas emoções e comportamentos sociais. E com esse processo há também a
liberação do neurotransmissor dopamina, responsável pela sensação de prazer e por ativar o
sistema de recompensas no cérebro. (SANTOS; PARRA, 2015).
A Participante 2 iniciou seu relato dizendo: “esse momento de você extravasar através
do canto, pôr para fora, tem dado ânimo pra gente, me sinto muito bem. Eu me sinto
confortável.” E complementou: “ter uma motivação suficiente e sempre gostar de vir e
aproveitar ao máximo daquilo que é tratado aqui”. A Participante 6 afirmou: “me empolguei,
porque é algo realmente emocionante, eu acho que acalma, dá, assim, uma paz interior a
música. Eu acho que a gente fica descontraído, né?!” Depois ponderou: “aquilo que muitas
vezes você tem vergonha de se expor e ali não, com o passar você vai se soltando, te deixando
mais confiante”. A Participante 7 resumiu: “A emoção da gente, né?! De tá ouvindo essas
músicas, ainda mais lá da época, algumas da época da gente, né?! Então, isso é muito bom. A
Musicoterapia ela mexe muito com o emocional da gente, né?!” Por fim, a Participante 13
relatou: “A música traz fluídos bons e isso é bom para o psicológico da gente. Agora quando
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eu vou falar, eu tento colocar a postura da voz diferente, pra botar o peito aberto, a postura
pra emitir o som...melhoraram minha qualidade de vida.”
A Participante 4 ressaltou a importância do respeito à população com a qual se trabalha:
“Extremamente confortável esse respeito à nossa fase de vida”. A Participante 6 falou de sua
satisfação com o trabalho: “Não é uma coisa que eu queira que termine”. A Participante 5
apontou a importância da disponibilidade do terapeuta para o vínculo no processo: “Ela
(pesquisadora) é uma pessoa, assim, adorável.”
Também é importante ressaltar que os aspectos cognitivos e emocionais se relacionam
o tempo todo. Contudo, para melhor organização e apresentação, foi adotada essa divisão.
Relações sociais
Esses relatos corroboraram o estudo de Nayak et al. (2000) que encontrou uma melhora
significativa na interação social entre idosos após uma intervenção musicoterapêutica.
Ambiente
4. CONCLUSÃO
6. REFERÊNCIAS
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educação continuada na qualidade de vida dos idosos. Revista Brasileira de Geriatria e
Gerontologia. v. 20, n. 4. Rio de Janeiro. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1809-
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musicoterapêutica: contexto social e comunitário em perspectiva. Psicologia e Sociedade.
28(2). p. 387-395 Disponível em:<http://www.scielo.br/pdf/psoc/v28n2/1807-0310-psoc-28-
02-00387.pdf>. Acesso em: 18 jan. 2018.
LEVITIN, Daniel. (2010) A música no seu cérebro. A ciência de uma obsessão humana. Rio
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PY, Lígia; FREITAS, Elisabeth. (2016) Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro:
Editora Guanabara.
20
SAMPIERI, Roberto Hernandes. et al. (2013) Metodologia da Pesquisa. Porto Alegre: Penso.
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relação entre música, emoção, cognição e aprendizagem. Psicologia. PT. Disponível em:
<http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0853.pdf>. Acesso em: 15 jan. 2018.
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VON BARANOW, Ana Léa. (1999) Musicoterapia: uma visão geral. Rio de Janeiro:
Enelivros.