Ex de Revisão Bibliográfica
Ex de Revisão Bibliográfica
Ex de Revisão Bibliográfica
por
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________________
Leila Maria Hildebrandt
Presidente e Orientadora UFSM/CESNORS
_______________________________________
Maria Inês Tambara Leite, Dra.
Membro da Banca UFSM/CESNORS
_______________________________________
Liciane Miritizi, Msc.
Membro da Banca UFSM/CESNORS
SUMÁRIO
Resumo ................................................................................................................4
Abstract ...............................................................................................................4
Introdução ...........................................................................................................5
Metodologia .........................................................................................................9
Resultados e Discussão .....................................................................................10
Conclusão ..........................................................................................................23
Referências Bibliográficas ...............................................................................24
Apêndice A.........................................................................................................27
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RESUMO
Este trabalho tem por objetivo investigar a inserção do profissional da Psicologia no campo da
Saúde Pública por meio de uma pesquisa bibliográfica, através da análise dos artigos
científicos publicados on line a partir de 2005, que abordam a temática como tema central. A
análise do conteúdo dos artigos foi realizada baseada em Minayo (2010). A relevância deste
trabalho se dá em função dos avanços nos sistemas de saúde que corroboram com o
crescimento da inserção de equipes multiprofissionais no contexto da Saúde Pública.
Apresenta como resultados da discussão dos artigos a trajetória histórica da inserção da
psicologia no campo da saúde pública, a atuação da psicologia na saúde pública, considerando
os serviços, programas de saúde, bem como as linhas teóricas que embasam as intervenções
dos psicólogos neste contexto, e por fim, considera-se a questão da formação em psicologia e
os currículos para a atuação de psicólogos na saúde pública. Em geral, os artigos analisados
apontam a importância de um novo olhar para a Psicologia no campo da Saúde Pública, de
modo que tanto a Psicologia quanto a Saúde Pública são fenômenos em constante
transformação.
Palavras-chave: Saúde Pública; Atuação; Psicologia
INTRODUÇÃO
A saúde por longa data foi visualizada por um enfoque biomédico e reducionista. É
recente a transposição do entendimento da saúde como um fenômeno que contempla os
fatores do contexto social e a dinamicidade da vida. Esta visão que envolve a subjetividade
das pessoas tem sido precursora de muitas modificações na configuração e organização dos
sistemas de saúde. Deste modo, o conceito de saúde toma uma proporção amplificada, tanto
no seu entendimento quanto na acessibilidade dos serviços. Neste contexto, começa a
construção do movimento voltado à saúde comunitária, que serve de subsídio para o relatório
final da 8ª Conferência Nacional de Saúde. Tal documento apresentou três grandes
referenciais para a reforma sanitária brasileira: um conceito amplo de saúde; a saúde como
direito da cidadania e dever do Estado; e a instituição de um Sistema Único de Saúde,
organizado pelos princípios da universalidade, da integralidade, da descentralização e da
participação da comunidade (BRASIL, 2006).
global e ampliada. Assim, existem muitos ganhos ao ponderar as contribuições das diversas
áreas da saúde.
Segundo Dimenstein (1998) citado por Ferreira Neto (2008), diversos estudos
consideram que o crescimento dos profissionais da psicologia na Saúde Pública do Brasil tem
forte associação com o fenômeno da Reforma Psiquiátrica, movimento que buscou
modificações no campo da saúde mental. A psicologia, enquanto componente de atuação na
saúde pública, também precisa estar se renovando e inovando. Assim como a saúde pública se
desenvolveu em uma trajetória articulada e ainda vista como um desafio, a inserção do
psicólogo no contexto da saúde tem seu movimento e necessita ser discutida de forma crítica e
coletiva. Para tanto, a psicologia na saúde representa não apenas o enfoque curativo, mas
abrange atividades de promoção e proteção da saúde, somadas a prevenção e tratamento de
doenças e condições de risco ou adoecimento.
Neste sentido, este artigo explana uma análise de artigos publicados online, em
periódicos nacionais, relativos à inserção do psicólogo em serviços públicos de saúde, a fim
de compreender o processo de inserção desse profissional nesse cenário e refletir sobre a
atuação destes nos serviços de saúde. A partir das considerações elencadas, este estudo tem
por objetivo identificar e analisar artigos publicados em português, no período de 2005 a
2010, disponíveis no Scientific Eletronic Library Online – Scielo e na Biblioteca Virtual em
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Saúde - Psicologia BVS-psi ULAPSI, que abordam a temática sobre a inserção do psicólogo
no sistema público de saúde.
METODOLOGIA
Este estudo caracteriza-se como uma revisão bibliográfica, à medida que objetiva
realizar uma análise dos materiais bibliográficos disponíveis, elaborado por outros autores, em
formato online. Esta revisão bibliográfica constitui-se como um método de integração de
informações sobre determinado tema de relevância, a fim de levantar dados e analisar os
conteúdos sobre uma temática especifica (GIL, 2007). Deste modo, a trajetória desta pesquisa
requer um estudo aprofundado do tema, seguindo alguns passos que organizam tal estudo.
Para a captação dos artigos, seguindo os critérios citados acima, foram utilizados
alguns descritores: saúde pública, psicologia, atuação do psicólogo, psicologia social,
psicologia da saúde e SUS. Das palavras utilizadas como descritores, o maior número de
artigos e materiais coletados foi com as palavras saúde pública e psicologia, pois foram
encontrados 32 artigos. Com a utilização dos demais descritores, houve repetição dos artigos
que já haviam sido identificados.
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RESULTADOS E DISCUSSÃO
A partir da leitura dos artigos selecionados, far-se-á inicialmente uma descrição dos
mesmos e a seguir a análise de seus conteúdos. Neste capitulo é construído a descrição e
discussão dos dados, com intuito de explanar os achados da pesquisa bibliográfica de artigos
científicos sobre o tema, no intervalo de 2005 a 2010.
Dos 12 artigos analisados todos foram escritos por psicólogos, que atuam na área da
saúde pública, por meio da atuação acadêmica profissional ou na prática cotidiana, em
unidades de saúde diversas. Além disso, há predominância das publicações realizadas nos
periódicos de psicologia, tais como: Psicologia: Teoria e Pesquisa (um artigo); Aletheia (dois
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artigos); Temas em Psicologia (um artigo); Psicologia & Sociedade (dois artigos); Estudos em
Psicologia (dois artigos); e Psicologia, Ciência e Profissão (quatro artigos).
Outro fator que caracteriza os artigos refere-se aos tipos de estudos encontrados,
quatro possuem caráter de Pesquisa Qualitativa, realizada com metodologias de diversas
abordagens teóricas. Foram encontrados três artigos com características de Pesquisas
Bibliográficas relacionadas à inserção do psicólogo, à formação e às possibilidades de atuação
do profissional no campo da saúde pública. Ainda, quatro dos estudos eram Relatos de
Experiência, contemplando as práticas realizadas em serviços de saúde pública nos diversos
contextos. Em um dos estudos não foi possível identificar o tipo de método empregado.
Deste modo, a saúde pública propriamente dita também tem uma trajetória recente, a
inserção da psicologia no campo da saúde pública foi tardia e contaminada pela lógica
privativa, reducionista e individualizada. Os autores ressaltam que o início da atuação da
psicologia na saúde pública apresentou-se com fortes características assistencialistas,
marcadas ainda hoje em algumas práticas na saúde pública. Entretanto, pode-se considerar
que, no decorrer dos anos, os serviços de saúde passaram a ser capazes de prestar maior
atenção a integralidade dos sujeitos e a promoção de saúde.
Lima (2005) cita Dimenstein como autor de referência a fatores decisivos para a
entrada da psicologia no serviço público da saúde, como o contexto das políticas públicas de
saúde no final de 1970 e na década de 80. Neste período houve a diminuição da busca aos
consultórios particulares de psicologia em função da crise econômica, bem como movimentos
da própria categoria profissional no sentido de refletir sobre a função social da psicologia,
acerca da difusão da psicanálise e da psicologização1 da sociedade.
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Ou seja, um olhar para dentro de si, busca do auto-conhecimento, sentidos e significados internos para a vida..
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propriamente dita e as implicações das práticas psi no contexto da saúde. Ainda traz a
transição e o desenvolvimento da atuação da psicologia no campo da saúde.
Quanto as Unidade de Atenção Básica em Saúde, três autores dos artigos pesquisados,
referencia como ambiente de referência para a atuação do psicólogo na saúde pública (LIMA,
2005; RONZANI e RODRIGUES, 2006; FERREIRA NETO, 2008). Diante disso, Lima
(2005) considera que a ampliação de atenção primária e secundária é forçada pela necessidade
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de o Estado diminuir os custos hospitalares, bem como pelos movimentos que efetivaram a
reforma psiquiátrica e impulsionam as intervenções multiprofissionais, auxiliando a melhoria
da qualidade da assistência a saúde da população. Mas, esse princípio também enfrentou
algumas problemáticas no que diz respeito ao desconhecimento2 da nova área que emergia e
as possibilidades de atuação na rede básica de saúde.
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Refere a não familiaridade com esta nova área de atuação.
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ações em grupo em que o psicólogo seja dinâmico e possua amplos conhecimentos da área
humana e da saúde.
estratégias para atenção a saúde das famílias. A psicologia emergiu também como uma
ferramenta que qualifica a atenção à saúde.
Isso remete a ideia apontada por Camargo-Borges e Cardoso (2006) quanto a parceria
da psicologia e a ESF nos processos de trabalho em saúde. Esta troca tem contribuído para o
rompimento de um modelo biomédico ultrapassado. O trabalho multiprofissional propicia a
equipe intervenções mais integradas, pois é possível um espaço de trocas de saberes,
fortalecendo as ações horizontais e coletivas. O campo da Psicologia Social e ESF trazem
saberes e objetivos semelhantes, afluindo em uma mesma direção e finalidade.
Mucci et al. (2008) salientam no seu estudo que a atuação do psicólogo como um
profissional de ligação na saúde mental tem contribuído para a ascensão de mudanças nos
cuidados em saúde em instituições de atendimento a saúde mental, cita hospitais e
ambulatórios. Como profissional de ligação, o psicólogo pode atuar em procedimentos com o
paciente, com a família e com a equipe multiprofissional de saúde. De tal modo, a psicologia
nas intervenções em saúde mental desempenha um papel ampliado, que além da execução de
cuidados específicos, é fundamental em uma atenção integral e integrada.
Para Pires e Braga (2009), inclusão da psicologia na saúde pública teve maior acesso
pela área da saúde mental. Porém apontam que este processo ocorreu, em alguns aspectos, de
forma descontextualiza. A introdução do profissional foi fundamentada a partir das demandas
psiquiátricas, ocasionadas pelo movimento da Reforma Psiquiátrica, que resultaram no fim
dos tratamentos em manicômio. Portanto, houve uma necessidade de extensão dos serviços
em saúde mental na rede básica, a criação de métodos substitutivos envolvendo equipes
multidisciplinares.
Paralelo a isso, Ferreira Neto (2008) refere o Programa de Saúde Mental, provindo da
Reforma Psiquiátrica e o extermínio de hospitais psiquiátricos de modelo asilar, em função do
crescimento da necessidade de atendimento ambulatorial a pacientes portadores de transtornos
mentais graves e persistentes. No mesmo sentido, Rutsatz e Câmara (2006) discutem que a
inserção da psicologia no campo da saúde mental, ocorreu em um momento histórico, político
e econômico que favoreceu a valorização cultural deste profissional e da profissão, no sentido
de buscar-se uma reconfiguração da saúde e das práticas psicológicas neste contexto.
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Diante das possibilidades de atuação da psicologia nas áreas da saúde pública, cabe
também discutir as abordagens utilizadas para embasar as intervenções neste contexto. Além
das áreas, locais, ambientes, programas e serviços que este profissional pode atuar, nos artigos
foi possível identificar as abordagens teóricas que embasam o “fazer” da psicologia na saúde.
São indicadas pelas formas de atuação individual, em contraponto a atuação coletiva. No
mesmo sentido, as dicotomias da psicologia clínica versus a psicologia social, relacionadas ao
enfoque psicanalítico e comunitário.
se com o ser humano. Essa consideração se agrega a temática seguinte em referência aos
currículos da psicologia.
Lima (2005) considera três modalidades e rumos profissionais dos psicólogos que
atuam no serviço público de saúde. A primeira, denominada trajetória do conflito, a qual se
refere ao desenvolvimento dos trabalhos da psicologia de forma limitada, pois possui
restrições na compreensão dos fenômenos psicológicos, dos serviços públicos de saúde, e
possui uma visão simplista ou direcionada somente a aspectos intra-individual. Tal forma de
atuação é apontada com tendências a ociosidade, à medida que o profissional mantém focado
apenas em um sentido de intervenções, geralmente, de cunho clínico-individual. Desconsidera
a dimensão amplificada e a integralidade nos serviços públicos, muitas vezes projetando nos
usuários a pouca produtividade ou inatividade do seu trabalho. A segunda é nomeada como a
trajetória da reprodução, semelhante a anteriormente mencionada, é caracterizada por um
isolamento típico da assistência ambulatorial (LIMA, 2005). Deste modo, o trabalho enquanto
equipe multidisciplinar é inexistente, pois apenas realiza-se a reprodução dos serviços
individualizados periodicamente.
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Para Lima (2005) há outra forma de atuação pode ser considerada mais efetiva, é a
trajetória da construção, que contempla a abertura a equipe no sentido de ultrapassar a atuação
clínica tradicional, utilizando ainda o uso de inovações nas intervenções de forma mais
educativa e de trabalhos em grupo. Assim, desenvolve estratégias baseadas na Atuação
Psicológica Coletiva (APC), pois leva em conta a escuta cautelosa, ou seja, uma conduta
profissional socialmente orientada, bem como a reafirmação da importância da subjetividade
no processo de saúde-doença-cuidado, tanto com intervenções individuais quanto grupais.
Enfatiza atenção psicológica que visa a promoção, prevenção e a recuperação da saúde.
Pires e Braga (2009) discutem que mesmo com a predominância do enfoque clínico
baseado na atuação individual, percebe-se uma abertura da Psicologia para o diálogo com
todos os atores envolvidos na saúde, não considerando apenas os profissionais, mas também a
comunidade e os usuários, muitas vezes fomentando um processo de participação e controle
social. No mesmo sentido, Yamamoto e Oliveira (2010) agregam que a linha de atuação
coletiva vem se disseminando, assim como a psicoterapia vem se diluindo, mas ainda é uma
grande ferramenta de trabalho do psicólogo. O olhar clínico do psicólogo em muitos
contextos é pertinente, entretanto, na saúde pública, a visão coletiva e comunitária é a
ferramenta mais eficaz na prevenção, promoção e na educação popular.
Ferreira Neto (2008) relata que há uma separação entre a psicologia clinica e a
psicologia social, pois uma visualiza como objeto empírico hegemônico a intervenção
individual, ao passo que outra tem como objeto de atuação os grupos e os coletivos. Pombo-
de-Barros e Marsden (2008) também contribuem em relação aos paradoxos entre a psicologia
clínica e a social, no que se refere às intervenções individuais versus coletivas ou a
contraposição da visão privada e pública. O que cabe aqui problematizar não é a escolha de
uma ou outra forma de atuação, mas sim o que é pertinente para o campo da saúde pública, ou
seja, o diálogo entre as áreas da psicologia. Os profissionais precisam acima de tudo
desenvolver essa habilidade de escuta aberta e dialógica.
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Os autores consideram ainda uma ausência nestas articulações.
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Para tanto, fica ainda em aberto um espaço que a psicologia poderia estar trabalhando,
afinal muitas das possibilidades de atuação não estão sendo exploradas. Sabe-se que são
poucos os profissionais da psicologia envolvidos nas ações em comunidade. Algumas
tentativas vão ao encontro de conhecer essa realidade. Mas como aponta Pires e Braga (2009),
a universidade não está fornecendo fundamentação para as novas possibilidades de atuação,
precisa estar conhecendo e desenvolvendo as habilidades e competências para o trabalho no
SUS para os futuros profissionais.
Uma questão importante que Rutsatz e Câmara (2006), assim como Ronzani e
Rodrigues (2006), contribuem dizendo que não apenas a formação acadêmica da graduação
ou especializações, mas também o processo de educação permanente são fundamentais para
os profissionais na saúde. Nota-se a importância em dar prioridade ao diálogo entre o fazer e
as teorias e/ou técnicas psicológicas no contexto da saúde pública, a educação permanente
pode ser a ferramenta para a aprendizagem.
CONCLUSÃO
Por fim, os artigos analisados debatem sobre a formação de psicólogos para atuar em
saúde pública, indicando a necessidade de implementar e reavaliar os currículos de psicologia,
pois percebe-se falhas na formação dos profissionais, onde as limitações emergem pela ênfase
em apenas algumas áreas especificas e pela desconsideração do panorama de atuação dos
profissionais na realidade. Neste sentido, é importante contextualizar os currículos de
psicologia e incluir o campo da saúde pública como uma área de grande relevância da atuação
do psicólogo na atualidade.
REFERÊNCIAS
BERNARDES, J. Formação Generalista em Psicologia e o Sistema Único de Saúde. In:
Primeiro Fórum Nacional de Psicologia e Saúde Pública: contribuições técnicas e políticas
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BRASIL, Constituição Federal de 1988. Titulo VIII- Da ordem social. Capitulo II, Seção II,
Da Saúde. Art. 196, 197, 198, 199 e 200. BRASIL, 1988.
BRASIL, Lei n. 8.080, setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços
correspondentes e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8080.htm> Acesso em 02 de junho de 2011.
CAMPOS, G. W. Reforma da reforma: repensando a saúde. 3.ed. São Paulo: Hucitec, 2006.
GIL, A.C. Como elaborar um projeto de pesquisa. 4. ed. 9 reimpr. São Paulo: Atlas, 2007.
MUCCI, S. et al. Saúde Mental nas praticas em saúde: a experiência do PROLIG. Psicologia,
Ciência e Profissão. v. 28, n. 3, p.646-659, 2008.