EVANGELHOS
EVANGELHOS
EVANGELHOS
2
Jessé Vitorino da Silva Júnior
TEXTO SAGRADO V
EVANGELHOS
1ª Edição
2017
3
4
Sumário
Panorama Neotestamentário
Evangelhos Sinóticos
Revisando
Leitura obrigatória
Revisando
Autoavaliação
Bibliografia
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6
Palavra do professor autor
7
Sobre o autor
8
Ambientação à disciplina
Caro estudante,
Você tem a oportunidade através desta leitura, de conhecer um
conteúdo relacionado ao período denominado Novo Testamento, termo
utilizado em virtude da Nova Aliança proclamada desde o Velho Testamento,
fazendo-se real na vinda de Jesus, o Cristo! A realidade neotestamentária
passa a ser delineada nessa tão antiga esperança que o Salvador, em
definitivo, resgataria a humanidade. A vinda do Senhor era a certeza de quem
não enxerga nada além do que via o coração. O Novo Testamento concretiza o
modelo de uma fé profética veterotestamentária.
Veremos como toda a realidade temporal se moldou para proporcionar o
maior evento de que já se teve conhecimento: A vida do verdadeiro Messias!
Pelas mãos do hábil artesão universal, o Santo YHWH, a criação recebe uma
arquitetura adequada para que a Palavra ecoasse uma metanoia adequada e
todos finalmente em espírito e verdade contemplassem a Deus.
Nesta pequena literatura, importante se faz perceber o que gerou
decorrente deste encontro da Humanidade com o Filho de Deus, momento
onde nada permanece como estava. Ponderar sobre as consequências revela
a prudência de um sábio. E assim, ao sabermos que a boa nova do evangelho
se propagou e cartas evangelizaram declamando a redenção na cruz,
concluímos a certeza de que uma ressurreição fez o planeta levantar da morte
porque Ele veio! E como Ele veio, então foi unicamente porque nos ama.
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Trocando ideias com os autores
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PANORAMA
NEOTESTAMENTÁRIO
1
Conhecimento
Noções sobre o Novo Testamento e os evangélicos sinóticos
Habilidade
Estar capacitado para poder explanar assuntos retratados na unidade
Atitude
Cultivar empenho crítico-reflexivo diante do contexto ofertado
11
12
Ambiente Histórico
Os Hebreus
Os hebreus foram escolhidos como um “reino de sacerdotes e nação
santa” (Ex 19.6) era designado para ser sal e luz entre os povos, contudo
fracassou quanto a esse intento devido seus recorrentes pecados. Como
consequência presenciamos no ano 587 a.C. Nabucodonosor os levando para
cativeiro. Da Babilônia se dispersam por todo o mundo antigo. Esse evento traz
consigo benefício: muitos deles, carregam consigo a marca do monoteísmo e
se revelam aos gentios como adoradores fiéis do único Deus verdadeiro que
lhes deu Sua Lei. Assim, o monoteísmo se disseminou através dos anos numa
espécie de preparo à vinda de Jesus.
A mensagem pregada por Jesus e seus apóstolos não seria uma total
novidade porque o conceito básico monoteísta já era conhecido. Mas não se
resume apenas nos testemunhos dos dispersos, também houve um evento que
colaborou no preparo da “plenitude dos tempos”. Uma publicação de
extraordinária importância levou leitores gentios o ideário judaico. Através da
Septuaginta, a Versão dos Setenta, a mensagem veterotestamentária foi
traduzida para o grego, que era a língua de uso internacional. Isto aconteceu
em Alexandria no Egito entre 250 e 150 a.C., mas sua repercussão se fez livre
de fronteiras e assumiu um caráter atemporal, características substanciais no
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que se refere a disseminação de ideias, estas que abrem caminho a Salvação
que virá e que provém dos judeus. Dentro desse quadro de itens com diversos
prenúncios, lembramos que durante o século II a.C. surgiram no Judaísmo
suas principais corrente de pensamento. Dentre elas, duas em destaque,
sempre mencionadas nos evangelhos e no livro de Atos, seriam os fariseus
(mais numeroso e composto em sua maioria por estudioso e mestres do Antigo
Testamento) e os saduceus (compostos por líderes políticos e autoridades
onde se viam os sacerdotes e os principais oficiais do Sinédrio em Jerusalém).
A radicalidade farisaica era latente. A ressurreição, o juízo do último dia, a
legitimidade incontestável veterotestamentária e a existência de anjos e espírito
são conceitos pertinentes à sua crença. Esses elementos, por sua vez,
negados pelos saduceus (At. 23.6-8). Mas em Jesus, o grupo farisaico sempre
encontrava uma posição clara (Mt. 23.23-23).
Os Gregos
Um mundo helenizado antecedeu a chegada de Jesus. Alexandre, o
Grande, filho de Filipe da Macedônia através de suas conquistas disseminou o
idioma grego como língua comum a todos. A morte de Alexandre provocou o
fim do império, mas as consequências desta miscigenação cultural continuaram
ecoando historicamente. Ouvimos estes ecos quando nos deparamos com os
apóstolos de Jesus pregando basicamente em grego ou quando o idioma é
utilizado pelos autores neotestamentários em suas obras em virtude da ampla
utilização desta língua como idioma comum daquela época. Com a utilização
do grego presenciamos como que neologismos, situação esta onde a
espiritualidade é privilegiada em sua dimensão evangelística. Palavras
recebem amplitude no seu significado, o que beneficia, enriquecendo, quando
da disseminação da mensagem. Termos como Cristo, redimir, resgate, igreja,
sabedoria e palavra, seriam nítidos exemplos.
Os Romanos
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vital que permite e proporciona existência coesa e pródiga. Era uma imensa
área territorial onde através de províncias e distritos, supervisionados por
governadores, obtinha-se um ordeiro gerenciamento produtivo. O mundo
repousava aos pés de Roma. Sobre sua importância na participação da
construção de possibilidade nessa plenitude dos tempos, destacamos que a
paz romana obtida através de um considerável apoio bélico, evidenciada no
reinado de César Augusto, é de suma importância. Deve ser considerado,
porque Lucas em (2.1-7) nos faz o relato do nascimento do Salvador em Belém
na Judeia; que era província romana.
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A Palestina no Século Primeiro
Monarcas
Procurador
Sumo Sacerdote
16
O Templo
O Templo de Jerusalém era o centro religioso judaico. Referido como
“templo de Herodes”, estava sob conclusão nos dias de Jesus (Jo 2.20)
Símbolo da esperança e desejos religiosos populares, destacamos outros
edifícios anteriores: Os templos de Salomão e de Zorobabel. Era o local que
motivava peregrinações, no intuito de adoração, oferta de sacrifício, e
observância das festas como Páscoa, Pentecostes e a Festa dos
Tabernáculos.
A Sinagoga
Havia várias Sinagogas. Elas surgiram após o Exílio Babilônico como um
lugar de reunião religiosa. Era utilizado principalmente por quem habitava
regiões distantes de Jerusalém. Locais de ensino e oração visitados por judeus
e prosélitos gentios. Lucas 4.16-30 e Atos 13.14ss; 26.11 nos informam que
Jesus e os primeiros cristãos frequentavam a sinagoga.
O Messias
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Quanto a mim, já fui oferecido em libação e chegou o tempo de
minha partida. Combati o bom combate, terminei a minha
carreira, guardei a fé. Desde já me está reservada a coroa da
justiça, que me dará o Senhor, justo juiz, naquele dia; (...) 2
Tim 4 6-8.
Divisões Neotestamentárias
Literária
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ressuscitado. Observemos a interação temática sobre o ministério de Jesus a
fluir com graciosidade e coerência entre os evangelhos (DUNNET, 2005).
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a) Cronológica
20
Motivadores
Reação
1
Canon de Muratori, chamado também fragmentum Muratorianum, é a lista mais antiga e mais importante dos escritos
do NT. Foi descoberto por L. A. Muratori (1672-1750) na Ambrosiana (J 101 Sup.) em Milano (editado: Milano 1740). E’
um do século V I ou V III, sendo, porém, uma cópia de um documento muito mais antigo, redigido na segunda metade
do século XI, conforme a opinião hoje comum, em Roma ou nas redondezas; talvez por Hipólito de Roma. O texto (que
conta agora 85 linhas [ver p. ex. E B 3]) foi redigido num latim desajeitado e às vezes incompreensível (uma redação
original em grego é duvidosa), a tal ponto que a interpretação apresenta sérias dificuldades; além disso ela está
danificada, faltando um trecho no início e provavelmente também no fim. A lista fornece informações importantes a
respeito da origem de diversos escritos do NT. Faltam Hbr, Tg, lPdr e 2Pdr; Apc porém consta, de acordo com a
tradição ocidental, bem como (mas não sem restrições) o apocalipse apócrifo de Pedro e (como livro do N T !) Sab. As
falsificações marcionitas, as cartas, ditas de S. Paulo aos laodicenses e aos alexandrinos e diversos escritos heréticos
são expressamente reprovados, o Pastor de Hermas é mencionado, mas apenas como “útil”.
BORN, A. VAN DEN. Dicionário Enciclopédico da Bíblia. Petrópolis: Vozes, 1977 p. 235-236.
21
autoria Paulina a este escrito), 1 Pedro, 1 João e aparentemente (sob
considerações), Apocalipse. Segundo: Antilegomena (os debatidos) onde
encontramos Tiago, Judas, 2 Pedro, e 2 e 3 João. Terceiro: Os pseudé, não
legítimos, os sem aceitação alguma, como Atos de Paulo, Pastor de Hermas,
Apocalipse de Pedro, Epístola de Barnabé, O Didaquê e, talvez, o Apocalipse.
Consequências
22
obstante tenhamos o conhecimento de que para Lutero o vocábulo “apostólico”
significaria ou “dos tempos apostólicos” (escrita de punho dos apóstolos) ou “de
outros tempos” (produzido por outros que não os apóstolos, mas que em si
reside a marca apostólica). Tal manobra deste reformador gera uma diferença
de classificação quanto ao livro de Hebreus em traduções reformadas: a
Confessio Belgica (1561) a coloca como décima quarta epístola paulina. A
Confessio Gallicana (1559) e a Confissão de Westminster (1647) a colocam
entre as chamadas epístolas universais. Kummel (1982, p. 667).
Pertinente se faz considerarmos que o estabelecimento de um cânon
não visa dar credibilidade aos escritos que foram aceitos e sim estruturar
sistemicamente dentro de uma ortodoxia o que não seria compatível com a
realidade da pessoa do Cristo e Seus ensinos.
Evangelhos Sinóticos
23
Característica
O problema Sinóptico
Diferenças
Concordâncias
24
Jerusalém onde sofre morte. (MARCONCINI, 2001, p.10). Também no que
tange ao conteúdo, pois os três se repetem nas narrativas em relação a mesma
casuística: curas, exorcismos e ensinos por parábolas da parte de Jesus.
Também encontramos concordância em situações que lhes são por marca: o
envio dos doze, a transfiguração, o sermão profético, a narrativa da última ceia.
Tal conjunto de características peculiares é ressaltado por Marconcini:
Mais Singularidades
25
A proximidade dessa tríade se estende mais além, como percebemos
nessas constatações: o conteúdo integral do evangelho e os destaques a
específicos acontecimentos dentro da missão de Jesus; citações da escritura,
nestes três evangelhos possuem igual forma, contudo não é o Texto
Massorético nem a Versão dos Setenta (LXX). (e.g.: Mt 3,3; Mc 1,3; Lc 3,4—Mt
11,10; Mc 1,2; Lc 7,27). Também constitui fator de extrema identidade entre
esses livros o estilo, o vocabulário, a ordem das palavras (Mt 9,1-17; Mc 2,1-
22; Lc 5,17-39), onde se encontram palavras que, no Novo Testamento,
somente uma única vez são utilizadas). Aumentando ainda mais suas
analogias, percebe-se nesses livros a ordenação de determinadas séries de
fatos e de determinados “logia” relativos aos mesmos ( Mt 9,1-17; Mc 2,11-22;
Lc 5,17-39 – Mt 16,13-17,23; Mc 8,27-9,32; Lc 9,18-45 – Mt 24,1-44; Mc 13,1-
37; Lc 21,5-33). (BARBAGLIO, 1990, p. 23).
26
parciais para o grego, fecundando um Mateus grego, isso enquanto a
tradição oral tinha continuidade. O segundo livro, Marcos, que teria
se utilizado de uma dessas traduções, juntamente com o material
oriundo das pregações de Pedro. E o terceiro seria Lucas que teria
se utilizado da tradução grega de Mateus e de Marcos (em forma
escrita e oral) além de algumas fontes próprias;
Mt Mc Lc
2
“A hipótese das duas fontes oferece a melhor explicação global para o relacionamento entre os evangelhos sinóticos
(...)”. Carson et al., Introdução ao Novo Testamento, São Paulo: Vida Nova, 1992, p. 43.
27
suas próprias fontes e naturalmente também do estilo de escrita de
cada um.
Cronologia
Nascimento de Jesus
28
a) A provável data da morte de Herodes oscila entre o final de
março ou começo de abril de 4 a.C. (em decorrência do fatídico
incidente ocorrido o qual se encontra relatado em Mt 2.6, não
pode estar situado muito antes dessa suposta data).
Pelo que pudemos observar, tanto esse polêmico senso quanto ao astro
celeste, não seriam indicativos precisos. Então, se entende que a data estaria
repousando no intervalo de 6 e 4 a.C.
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Início Ministério de Jesus
Um ano, ao menos
30
Dois anos, ao menos
Com João tudo assume novo horizonte, e como tal, maior tempo ao
ministério é considerado. Neste evangelho dentro do ministério de Jesus,
temos três referências (2.13; 6.4; 11.55) às Páscoas. Se tais Páscoas referidas
estiverem situadas cronologicamente em diferentes ocasiões, teremos um
período de no mínimo dois anos.
Morte de Jesus
Primeira Proposta
2. Sinóticos – A última ceia teria sido uma refeição de Páscoa (por ex. Mc
14.12). O que nos dá assim, uma sexta-feira 15 de Nisã.
31
contaminarem e poderem comer a Páscoa”. O dia 14 de Nisã é a data
provável da Páscoa.
Segunda Proposta
32
execução do antissemita, Sejano. Ele era o real governante do império,
encontrando-se logo abaixo de Tibério. Esse fato ocorreu em outubro desse
mesmo ano. Então, juntando-se essa proposição (uma data após o ano de 31
d.C) ao argumento astronômico, conduz a sintetização de multiplicidades
convergindo a um ano: 33 d.C. Situação essa que conta com uma adversidade:
exploramos as possibilidades tanto do 14 de Nisã quanto do 15 de Nisã com
suas fortes probabilidades para serem estipulados como (ou um ou o outro) a
data mais provável da crucificação. Todavia, o ano de 33 d.C. se converterá em
indicação inadequada caso a crucificação tenha se passado em 15 de Nisã,
como parecem sugerir os sinópticos. Além do que uma data em 33 d.C. tão
tardia, não concedesse tempo suficiente entre a morte de Jesus e a conversão
de Paulo. Ficamos então como mais indicadas possíveis datações para
crucificação com 7 de abril de 30 d.C. e 3 de abril de 33 d.C. (CARSON ET AL
1992, p. 62-65).
Revisando
33
O cânon da Sagrada Escritura no Novo Testamento foi salientado
abordando questões sobre critérios de composição, motivos para esta
composição, com suas reações e consequências.
34
EVANGELHO SEGUNDO
MARCOS
E MATEUS
2
Conhecimento
Noções sobre o Evangelho de Marcos e o Evangelho de Mateus
Habilidade
Estar capacitado para poder explanar assuntos retratados na unidade
Atitude
Cultivar empenho crítico-reflexivo diante do contexto ofertado
35
36
Evangelho segundo Marcos
Autor
37
Papias, no ano 112 d.C., se refere a Marcos como “o intérprete de
Pedro”. Temos então aquele que registrava em grafia a oralidade das
memórias petrinas sobre Jesus. Isso é palpável quando confrontamos o
Evangelho Segundo Marcos e o sermão de Pedro (At 10.34-43). O que nos
sugere é que por Pedro temos uma síntese da vida de Jesus que em Marcos
implementos são perceptíveis acréscimos. Dunnet (2005, p. 25).
Quem é Marcos?
38
Entretanto, a precisão é algo buscado cuja tradição não sacia os anseios
de muitos pesquisadores. Afirma Kummel (1982. p. 115): “A tradição que atribui
a redação de Marcos a João Marcos é, portanto, de escassa credibilidade”.
Data
Local
39
do século II o Prólogo Antimarcionita e confirmado pelo já citado Irineu de
Leão. Barbaglio et al (1990, p. 429)
Destinatários
Propósito
40
Comunidade
Característica literária
Conteúdo/Estrutura Literária
41
Elementos Literários
Fontes
42
utilizado na confecção do Evangelho Segundo Marcos pode ter chegado
através de pequenas unidades de tradição. Também de outra forma: nessas
unidades acrescidas de resumos orais mais longos, ou ainda na junção dessas
duas modalidades acrescidas de documentos escritos. Carson et al (1997, p.
116). Teríamos provavelmente então para o Evangelho uma combinação, um
arranjo feito pelo autor, de várias fontes (agrupamentos mínimos de diversas
tradições e unidades separadas). Kummel (1982, p. 98). Pergunta Barbaglio et
al (1990, p. 426): “O evangelho atual é uma segunda edição revista e corrigida
de um evangelho primitivo? Ou é um trabalho de montagem, feito pelo autor,
de peças que já existiam, isto é, de fontes escritas?”
Texto
43
A Teologia em Marcos
O Filho de Deus – O primeiro (1.1) e o último (15.39) título que Jesus recebe
de Marcos é filho de Deus. Duas vezes (1.11 e 9.7) Marcos registra evento no
44
qual uma voz divina, ressaltando a paternidade divina de Jesus, atesta a
especialidade que repousa sobre esse “Filho amado”. Também em outra
situação (3.11) espíritos impuros também proclamam esta filiação divina que
Jesus retém sobre si. Em 5.7 a titulação sofre pequena variação, mas o sentido
permanece. Jesus é visto pelo espírito demoníaco como “Jesus, Filho do Deus
Altíssimo”. É importante lembrarmos que os discípulos, neste evangelho, não
utilizam esta titulação. Nem o próprio Jesus a utiliza. Em 13.32 Jesus tão
somente refere “o Filho”.
45
que as consequências do pecado são reais e (14.41) o inicio da via de
amor, onde a realeza de Jesus é glorificada pelo seu discurso concreto
estampado em atos reais onde a livre serventia é exaltada por Deus
através da Ressurreição.
46
constituiu na Palestina de época, contrapunha-se veementemente ao messias
que o Cristo em verdade e em espírito se constituía. A leitura
veterotestamentária de que seria enviado um libertador vinculava tal libertador
a um belicismo selvagem.
O messias vindouro seria assim mero instrumento aguerrido de
libertação material, o que constituía pesaroso equívoco. E esse engano é
explicável se considerarmos que existia a presença de uma limitação quanto a
compreensão integral desse Messias, ou seja, lhe subtraíam o caráter divino.
Jesus então numa adição evangélica resgata arrogando a si essa realidade
sobre-humana. Presenciamos então O Cristo, Filho do Homem, dentro de uma
esfera de teofania que revive uma das visões descritas em Dn 7.13-14. E
considerando que um messias era aguardado e este messias deveria
necessariamente ser um promotor de convulsão social, Jesus não arriscaria
uma interrupção abrupta de sua missão oriunda de um encarceramento e
julgamento prematuros em sua missão. GUNDRY (1998, pp.87 e 88).
47
Temos passagens neste Evangelho que se tornam explícito
cumprimento, momentos em que a proclamação veterotestamentária chega ao
Novo Testamento como um inegável cumpriu-se! Observemos a proximidade
dos versos: (Mt 1.23 com Is 7.14); (Mt 2.15 com Os 11.1); (Mt 8.17 com Is
53.4); (Mt 12.18-21 com Isaías 42.1-4); (Mt 21.5 com Zc 9.9). Dunnet (2005, p.
24).
Autor
48
temática de estudo das Escrituras. E a motivação que levou a atribuir a Mateus
a redação desta obra, nos é apresentada.
49
Data
Local
50
em missão, aos gentios, pela igreja local. Enfaticamente Carson (1992, p. 85)
encerra a questão: “Em suma, não é possível termos certeza quanto à
procedência geográfica deste evangelho. A Síria é talvez a proposta mais
provável, mas nada de importante depende dessa decisão”.
Destinatários
Propósito
51
ainda destinado a habilitar uma liderança eficaz que estaria a frente de Igreja
nascente. Mas, diante de uma possibilidade de profusões de entendimento,
necessário é enxergarmos pontos nevrálgicos que permeiam as intenções de
feitio deste evangelho. Mateus coloca Jesus, o Messias da promessa, sob
títulos honrosos e de pertinente realeza: Filho de Davi, Filho de Deus, Filho do
Homem, Emanuel. Figura tipificada profeticamente desde a realidade da
Primeira Aliança. E que em Jesus e sua primeira passagem na terra, está
aberta a porta do reino escatológico prometido. Carson (1992, p. 90-91) É
possível enxergar um Jesus que instruiu, um Mestre (9.35). Nele a vontade do
Pai se faz plena e ele é o mestre maior (5,17). Ensina embasado na sua
própria coerência e, portanto ensina com autoridade. Um messias que na cruz
cumpre as revelações do Velho Testamento. Vejamos: Mt 27.34, 48 com Sl
69.21; Mt 27.35 com Sl 22.18; Mt 27.39-40 com Sl 22.7; Mt 27.43 com Salmo
22.8; Mt 27.46 com Sl 22.1; Mt 27.57-60 com Is 53.9; Mt 28.19-20 com Is
66.18. Também traz a mensagem que desenha uma Igreja constituída pelo
povo de Deus, uma comunidade messiânica que se faz notório sinal de
redentora salvação a humanidade. Formado pelo joio e o trigo, que no juízo
final será pesada na balança da justiça com amor. Não é identificada com o
reino, mas é tráfego que flui em direção a ele. Uma comunidade de discípulos
que se encontra aberta ao mundo. Barbaglio et al, (1990, p. 53-71).
Comunidades
52
capítulo 23 e sua declaração contra escribas e fariseus é um momento no
Evangelho em que o antijudaísmo aflora perceptivelmente. Na passagem
(28.19) a comunidade de Mateus irrevogavelmente caminha num caráter de
universalismo em direção aos propósitos de salvação cristã irrestrita aberta a
todo aquele que crê. Marconcini (2001, p. 123-124).
Característica Literária
Conteúdo/Estrutura Literária
53
Elementos Literários
54
(1990, p. 52). Dentro dessa realidade de consideráveis dimensões literárias em
Mateus, citamos mais uma característica deste Evangelho:
Fontes
55
“Q” Mc Tradições
Mt
A Teologia de Mateus
João Batista
56
bem. Mateus detalha essa riqueza em forma humana de um abnegado pela fé
levado a proclamação do arrependimento indistinto porque era chegada a hora.
Mateus tendo todo o capítulo terceiro uma narrativa que fala de um
homem cujo discurso que antecede Jesus e que proclama um novo tempo a
ser inaugurado com a chegada desse Jesus. Segue descrevendo João
(3,4;11.18), seus discípulos (9.14), sua marca de pregação que seria um
arrependimento verdadeiro que produz frutos (3.8). Possuidor de um discurso
forte sobre arrependimento (3.2), esse João sabia da chegada de quem era
maior do que ele próprio e que batizaria com o Espírito Santo e fogo (3.11).
Fala sobre o preparo do caminho do Senhor e cita uma profecia
veterotestamentária aplicada a Deus e agora referida a Jesus (3.3). Jesus
confirma João como o Elias prometido (11.14; 17.10-13; Ml 4.5), que era muito
importante (11.11). Toda a profecia de João está permeada da temática do
julgamento. Ira vindoura (3.7) é exemplo claro. Passagens como (3.10) e (3.12)
se coadunam com essa proposição. Em João o profeta se faz por excelência,
sempre com a prontidão da clareza de posicionamento, ao lado de Deus e um
discurso apropriado à sua realidade cuja temática oriunda do trono divino é
direta e exata, sem humanas variações (Tg 1.17). Morris (2003, p. 141).
O filho de Davi
Filho de Davi, título que exprime honra, já que está ligado diretamente a
um grande rei israelita. Homem segundo o coração de Deus. Seria indicativo
até de descendência real. Designação que em si trazia conotação de
messianismo. Alguém que traria de volta a realidade magnífica de um Israel
sob os auspícios de Davi. Assim, é possível que no século I, isto reverberasse
belicamente, motivado pelas recordações históricas do caráter aguerrido de
Davi. Título que poderia envolver a sugestão de um messias libertador de uma
nação conquistado. “Filho de Davi”, era uma designação que remetia à
identidade local, empregada tão somente por três vezes por Marcos e Lucas, e
nove vezes por Mateus (incluindo 1.20). Presenciamos Mateus proferindo no
inicio do evangelho esta declaração de titularidade e a partir daí relega a
proclamação da descendência real a terceiros (9.27), (15.22), (20.30-31),
(12.23), (21.9), (21.15). Caso interessante é o contexto de referência
57
presenciado em (22.41-45). Na ocasião a discussão gravita em torno de uma
realidade de época em um senso comum. Então Davi seria naturalmente, pelo
exposto, maior do que sua descendência. Mas o Salmo 110 contradiz esse
equívoco popular. Mateus não comete essa imprudência, pois definitivamente
proclama a superioridade de Jesus ante Davi. A ligação de Jesus com Davi tão
somente expressa recordação subjacente que traz à memória, pontos
proeminentes de realeza na pessoa, na obra de um soberano. Morris (2003, p.
152-153).
A paixão
58
(26.64 com Sl 110.1; Dn 7.13), (27.9 com Jr 32.6-9; Zc 11.12-13), e o brado na
cruz (27.46 com Sl 22.1). Nos três sinóticos encontramos a oração de Jesus no
Getsêmani mas em Mateus há mais riqueza de detalhes. Ainda percebemos
peculiaridades que somente encontramos neste evangelho. Seriam: No
Getsêmani ele ora uma segunda e uma terceira vez e somente ele se dirige a
Deus como “meu Pai”. Marcos e Lucas referem-se apenas “Pai”. Detalhes que
embelezam ainda mais a obra. Minúcias que nos chegam como constatação de
um trabalho inspirado, forjado com esmero e cuidado. Para Mateus a morte de
Jesus não foi oriunda de deliberações humanas (Caifás, Pilatos), no entanto,
sob designação de Deus, quando Deus permitiu a obra de consumação (26.18;
cf. 26.45), sob Seu controle. Jesus reconhece essa potência (26.53) e (26.42).
Mateus também em várias passagens (26.3, 47, 57; 27.1, 3, 12, 20, 41; 28.12)
atribui aos anciãos influência na decisão quanto à morte de Jesus. Marcos cita
apenas três vezes e Lucas uma, esse contexto. De Mateus vem o informe
sobre a realidade romana no ocorrido: O sonho da esposa de Pilatos (27.19), o
gesto marcante do lava mãos (27,24), a diligência popular em desejar um
desfecho cruento tomando para si a responsabilidade da condenação (27.25),
e consideravam toda a cena com Barrabás (27.15-26). Para Mateus, os
romanos consideravam Jesus inocente e não necessitaria de execução.
Diferentemente, os judeus, exigindo a libertação de Barrabás, condenam Jesus
à pena capital. Em 27. 51-53 relata situações cataclísmicas oriundas da morte
do nazareno. O relevo da morte de Jesus é encontrado em Mateus 26.28,
indicando que o sangue vertido em “favor de muitos, para remissão de
pecados” é “aliança”. E se tal aliança parte de Jesus, é uma Nova Aliança. Nele
encontra-se implícita essa premissa. E também se faz oportuno lembramos o
interesse de Mateus em relação a Judas. Em 26.15 e 26.25 é Mateus quem
registra as frases declaradas pelo traidor. Apenas neste evangelho Judas é
saudado pela expressão amigo, por Jesus, no Getsêmani e que menciona o
remorso do traidor, seu intento de devolução das moedas e posterior suicídio
(27.3-10). Morris (2003, p.159-163).
59
Revisando
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EVANGELHOS DE
LUCAS E JOÃO
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Conhecimento
Noções sobre o Evangelho de Lucas e o Evangelho de João
Habilidade
Estar capacitado para poder explanar assuntos retratados na unidade
Atitude
Cultivar empenho crítico-reflexivo diante do contexto ofertado
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Evangelho segundo Lucas
Autor
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a Marcião. Este que por volta do século II em seu prólogo deste evangelho
(chamado prólogo antimarcionita) relata a autoria do evangelho a Lucas. Junte-
se a isso o Cânon Muratoriano, assim todos corroborando a Lucas a tecitura do
livro. São muitas fontes, não obstante ressaltamos em concordância, que o
manuscrito lucano mais antigo, o papiro Bodmer XIV, citado como “p ” e datado
de 175-225 d.C., prossegue nesse ínterim testemunhal. Carson et al (1992 p.
125). Estamos diante de um autor que domina o estilo de narração, e que
prima por ordem e clareza sempre considerando a real historicidade factual e
coerência temporal. Fabris et al (1992 p 11). Orígenes, Eusébio de Cesareia e
Jerônimo enriquecem a autoria lucana com informações como a origem
antioqueana (cf. At 11,20), a constante presença junto a Paulo até sua morte
em Roma (cf. 2Tm 4,11) Marconcinni (2001, p.149).
Data
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Local
Destinatários
Leitores gregos (ou gentios) seriam os destinatários. Uma obra feita para
todo aquele que cultive interesse pela historicidade cristã. Dunnet (2005, p. 26).
Propósito
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Palestina e que estão sob ação cultural e religiosa impressa maciçamente por
esta realidade estrangeira. Buscam reconsiderar sua real identidade como
Igreja em Cristo. Fabris (1992, p. 16-17). No prólogo ao quarto verso
presenciamos a motivação essencial que leva o autor a divagar em nítido
indicativo de finalidade desta escrita: “(...) para que verifiques a solidez dos
ensinamentos que recebeste”. Disseminar confiança ao leitor do evangelho
quanto à integridade, fidedignidade da obra perante a casuística dos fatos da
vida do Senhor. Assim uma investigação acurada foi necessária, e nessa
conformidade é que o historiador Lucas conseguiu, através de seu Evangelho,
nos relegar uma joia evangelística literária. Kummel (1982, p. 157).
Comunidades
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Característica Literária
Conteúdo/Estrutura Literária:
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Uma mensagem sem fronteiras
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Jesus como homem de oração (3.21), (5.16), (6.12), (9.18), (9.28-29), (10.21),
(11.1), (22.39-46), (23. 34, 46). Somente esse evangelista relata duas
parábolas acerca de oração (11.5-13 e 18.1-8).
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Fontes/Como se fez:
“Q” Mc L
(fontes particulares)
Lc
Teologia de Lucas
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”(...) uma fonte contendo quase exclusivamente ditos de Jesus e indicada pela sigla Q (Quelle=fonte) (...)”. Barbaglio
et al. Os Evangelhos I, São Paulo: Loyola, 1990, p. 36 e também: “(...) compreendia uma série de pequenas coleções
em forma de tratados ou ciclos de tradições evangélicas, (...)”.Fabris et al Os Evangelhos II, São Paulo: Loyola, 1990,
p. 21).
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se desde a época veterotestamentária da realidade material para concretizar
Seus propósitos. Um testamento inicial cuja luz aponta para a morte redentora
do testador (Hb 9.16) que se faz em completude profética no âmbito
neotestamentário numa sincronia supranatural inebriante. Redenção salvadora
essa que se perpetua indistintamente através do dom do Santo Espírito, seja
na comunidade primeira, seja na Igreja de qualquer tempo. Em Lucas, o
momento que a comunidade passava é parte dos últimos tempos. Escatologia,
parusia, história da Salvação e teologia, em uníssono, convergem para o crivo
cristocêntrico. A unidade teológica que é o Cristo que veio e que retornará, é
ação contínua na história, ressurreto que ascende aos céus, mas que
permanece, sendo ação direta, através do Espírito Santo. Marconcini (2001, p.
159).
Jesus, Profeta
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revelam a contundente presença do Espirito Santo. Depois de João Batista se
deu o início a um novo tempo sob o enlevo do sentido cristológico. Estaria
assim anunciada em incontrolável revelação essa boa-nova desse Reino de
Deus. (20.1; 4.43; 7.22; 8.1; 16.16). No episódio da Transfiguração (9.30-31,35)
ele está ao lado de Elias e Moisés; nessa coparticipação temos uma leitura
incontestável de Jesus como um profeta. Então, Elias e Moisés se afastam
antes da apresentação de Jesus, porque é Jesus o profeta que anuncia a
última palavra divina. E diferenciando acima dos profetas, para outorgar sua
excelência, presencia-se inegável delegação de poder e autoridade,
divinamente instituídos pela declaração “Da nuvem, porém, veios uma voz
dizendo: “Este é o meu filho, o Eleito; ouvi-o”. E como todo profeta tradicional,
alude-se a ele situação de morte (13.32-34). Ainda assim, em Jerusalém, (Is 53
e Lc 17.25) através de seu sacrifício cruento do profeta, servo obediente e fiel
obterá a glória por Deus (22,20). Fabris (1992, p. 17-18).
Jesus, Salvador
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não somente nos dois capítulos relativos ao evangelho da infância como
também no evangelho público. Vejamos: evangelização aos pobres, libertação
aos presos e oprimidos (4.18-19), na passagem (7.16; 19.44) ao ver ressuscitar
o filho da viúva de Naim, o povo presente ao fato, glorificaram afirmando que
Deus tinha visitado seu povo, atestando que um salvador lhes tinha visitado, e
em (1.79; 2.14; 19.38,42) temos uma paz que se faz oriunda de uma libertação
messiânica em Jesus. Todavia a salvação que é fruto de uma experiência real
com Jesus difere profundamente das alegadas supostas salvações que são
anunciadas pelas manifestações religiosas pagãs encontradas no culto ao
Imperador ou nas religiões de mistério. A primeira seria uma evocação
imperialista com fins políticos e a segunda se faz por falsa religião. A salvação
evangélica é universal, indistinta, resgata os homens no seu âmbito de
concretude material, porém esta redenção se conclui numa transcendência que
perpassa a história (21.28). Temos uma salvação que nos liberta das mazelas
materiais e espirituais. Salvação esta que, em Jesus, se faz plena, o homem
perfeito que é o modelo de perfeição a ser reproduzido. A abertura de uma
aliança nova inaugurada através de perfeição encarnada que deve ser o rumo
almejado pela humanidade liberta neste Salvador. Fabris (1992, p. 18-19).
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O Jesus histórico dificilmente é retratado; temos aqui Jerusalém com
maior importância do que sua região autóctone, a Galileia. Perceptível é a
substituição das pregações e parábolas usuais por discursos magnânimos
onde Jesus identifica a finalidade divina de sua missão. Neste evangelho,
exclusivamente encontramos a realidades físicas que desaparecerão logo
depois de findar essa primeira vinda de Jesus. Assim também desaparecerão
os lugares batismais em Betânia e Edon (1.28; 3.23), peregrinação para
Páscoa e festa dos tabernáculos (2.23; 7.2), festa de dedicação do templo
(10.22). Em (7.37) no contexto das Festas das Tendas, Jesus menciona
referência a uma ritualística de água executada neste dia. Ohler et al (2013, p.
360).
Autor
Data
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“O texto do quarto Evangelho goza do privilégio do testemunho manuscrito mais antigo que possuímos do NT: o
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papiro Ryland (P , conservado na John Ryland’s Library de Manchester, descoberto no Egito e publicado por C.H.
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Evangelho, e que é datado aproximadamente entre 120 a 135 d.C., de forma
convincente nos coloca a ideia de que, possivelmente já ao fim do primeiro
século da era cristã, a escrita do evangelho tenha sido feita. Subtende-se
então, que pela data do fragmento, décadas tenham-se transcorrido desde a
composição da obra joanina. Gundry (1998, p. 109). A última década do século
I seria o indicado. Kummel (1982, p. 315).
Local
Destinatários
Propósito
“Jesus fez ainda, diante de seus discípulos, muitos outros sinais, que
não se acham escritos neste livro. Esses, porém, foram escritos para crerdes
que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que crendo, tenhais vida em seu
nome”. Jo 20. 30-31. Dunnet (2005, p. 33). Sua finalidade de evangelização
universal também possuiria internamente um propósito específico: Levar as
Roberts em 1935); contém Jo 18,31-33.37-38 e remonta aos anos 120-130 d.C.” Lexicon – Dicionário Teológico
Enciclopédico. São Paulo: Edições Loyola, 2003, p. 412.
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boas novas a judeus da diáspora e prosélitos judeus. Percebemos
características como, menções, referências veterotestamentárias revelando
que os destinatários desta escrita conheciam a Bíblia; sua tradução de termos
semíticos (1.38,42; 4.25; 19.13, 17), também demonstra que se remete a
falantes de grego. Apesar da presença de profundas denúncias aos judeus,
neste evangelho isto não se faz por um caráter em nenhum momento
“antissemita”, podemos enxergar isso quando observamos sua afirmação que a
salvação viria dos judeus (4.22). Apenas João, possivelmente, quer expressar
distinção entre judeus comuns e algumas lideranças hebraicas. Tudo gira
apenas em torno da questão teologal e jamais étnica. Carson et al (1992, p.
195).
Comunidade
Característica Literária
Conteúdo/Estrutura Literária
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A primeira divisão, que é o período inicial do ministério de Cristo: sinais,
obras e palavras (2.1-4.54). Aqui teremos a transformação de água em vinho,
purificação do templo e a afirmativa de que Jesus substituiria o templo (2.1-11;
12-17 e 18-22). Em (2.23-25) uma reação incomum é percebida: “Enquanto
estava em Jerusalém, para a festa da Páscoa, vendo os sinais que fazia,
muitos creram em seu nome. Mas Jesus não tinha confiança neles, porque os
conhecia a todos”. Uma crença que gera uma fé vazia. Seguimos para o
encontro de Jesus com Nicodemos, no qual onde o conhecimento humano se
abate diante da sabedoria divina (2.1-15). Duas vezes neste capítulo, João
aparenta acrescer um testemunho próprio, sendo o primeiro (3.16-21) e o
segundo (3.22-30 seguido de (3.31-36). Ainda destacamos em (4.1-42) o
encontro com a Samaritana, que conclui essa divisão com um segundo sinal,
na cura de uma criança (4.43-54).
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povo de Deus, o que gera divisão entre os judeus. (10.1-21). Na Festa da
Dedicação, presenciamos a decisão de morte para Jesus. Sua afirmativa
quanto a ser o Messias e Filho de Deus fomentou fortíssimas reações
adversas, levando Jesus para o outro lado do Jordão, um local onde João
Batista havia batizado (10.40-42).
Agora adentramos numa espécie de pequena unidade transitória antes
de adentrarmos a terceira e final unidade. Referimo-nos a (11.1—12.50), onde
encontramos a morte e ressurreição de Lázaro (alusão ao Cristo), e também a
decisão oficial de matar Jesus (11.1-44) e (11.45-54) respectivamente. Na
próxima relação de passagens (11.55—12.36), que cronologicamente se
reporta à “páscoa judaica” (11.55-57), temos a unção em Betânia onde Maria,
ungindo Jesus, prefigura seu destino de cruz que o glorificará (12.1-11). A
entrada em Jerusalém (12.12-19); lembra-nos “Exulta muito, filha de Sião! Grita
de alegria, filha de Jerusalém! Eis que o teu rei vem a ti: ele é justo e vitorioso,
humilde, montado sobre um jumento, sobre um jumentinho, filho de jumenta”.
Zc 9.9. Temos o anúncio da morte de Jesus e consequentemente sua
glorificação por Deus através desse sacrifício definitivo e de oferta perfeita
(12.20-36).
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diálogo, parte monólogo), fracionado (13.31—14.31 e 15.1—16.33). Em (17.1-
26) temos a oração de Jesus; no intervalo (18.1—19.42) é apresentado o
julgamento e a paixão de Jesus, sempre notadamente destacando sua brava
sóbria realeza. Sua ressurreição (20.1-31), conta com um Jesus ressurreto
aparecendo em visita aos discípulos, concedendo-lhes o Espírito Santo e
explanando sobre o perdão (20.19-22), colhendo de Tomé afirmativa sobre sua
divindade: “Meu Senhor e meu Deus” (20.28) e termina esta divisão segmental
em (20.30-31) declarando a intenção de escrita da obra. De (21.1-25) temos
um epílogo que aborda a volta de Pedro à missão evangelística, e com variado
simbolismo, antevê a desenvoltura de crescimento da igreja. Carson et al
(1992, pp. 151-155).
Fontes/Como se fez
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O texto
No Escrito
A mulher adúltera
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autenticidade, além de uma alta presença incidente de variantes textuais.
Sobre isto, afirma Kummel (1982, p. 262).
Teologia
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meu Pai” (...). Diz-lhe Jesus: “Há tanto tempo estou convosco e tu não me
conheces, quem me vê, vê o Pai, como podes dizer: “Mostra-nos o Pai!”? Não
crês que estou no Pai e o Pai está em mim”? (Jo 14.7 e 9-10). Gundry (1978, p.
112 e 113).
Reconhecer Jesus
Sinais
Crer
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manter indiferença. Temos alguns sinônimos utilizados por João, juntamente
com o vocábulo crer, que aumentam a clareza do significado: Receber (1.12),
beber (4.14), vir (6.35) e entrar (10,9). São palavras usualmente utilizadas, mas
que recebem enlevo (completo e profundo entendimento) quando do trato
espiritual das pessoas com Cristo.
Vida
Jesus e fé
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Depositar em Jesus uma tão marcante proximidade com Deus acarreta
intensa reprovação pela principal corrente do judaísmo. A ideia expressa em
(1.14) está completamente marginal aos contextos hebraicos, não obstante
torna-se o âmago solene do cristianismo que emerge. Ohler et al (2013, p.
362).
Palavra Logos
“No princípio era o verbo e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus”.
(Jo 1.1).
Para os gregos
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pertenceria a uma classe gramatical. Redução e limitação profundamente
perceptíveis quando estamos diante do segundo conceito grego, logos
endiathetos (seria, para melhor compreensão, algo mais assemelhado a
nossa razão).
E entre gregos
Para os hebreus
E entre hebreus
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o mesmo significado, isto é perceptível no modo de como são utilizadas numa
construção paralela igualitária (Is 2.3; Mq 4.2).
João 1.1 nos repassa a ideia de que a Palavra era Deus, cedendo ao
Logos o mais absoluto superlativo que possa existir. Em Jo 1.14 a Palavra
encarna, abstendo-se do caráter atemporal de Sua essência e se faz (e não se
mostra ou aparece como) física realidade pertencente a um momento
determinado dotado de especificidade histórica. Na encarnação há uma relação
antagônica do humano ante o divino bastante clara no termo “carne” (cf. 3.6;
6.63; 8.15). Por mais divina que seja a Palavra, ela se revestiu de humanidade
em carne por amor. Neste evangelho a menção do termo Palavra como o
próprio Deus, a diviniza. Morris (2003, p. 270-271).
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A Palavra “fala”
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Leitura obrigatória
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Revisando
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Autoavaliação
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Bibliografia
MORRIS, Leon. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2003.
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