Longbowman
Longbowman
Longbowman
O longbowman inglês certamente foi a tropa mais eficaz de seu país por muito tempo,
e toda a sua glória é resumida em somente uma arma: Seu arco longo. Com o alcance superior a
muitas armas de sua época, o longbowman preparou seu terreno diante as diversas adversidades,
e passou por cima de todas elas, bem de longe, por detrás de seu arco.
A longbow possivelmente foi introduzida no cenário de guerra inglês através do País de Gales,
que já possuía uma longa tradição no uso do arco longo, seja para a caça ou para a guerra. Essa
introdução ocorreu após a Conquista Normanda, durante a tentativa de invasão ao País de Gales
e na subsequente derrota para os galeses devido, justamente, ao uso da longbow. Entretanto,
ainda há controvérsia no meio acadêmico quanto às supostas diferenças entre o arco longo galês
e o arco longo inglês.
Dentro das fileiras inglesas, os longbowmen eram soldados comuns, apesar de
receberem um pagamento maior do que os infantes normais. O processo de recrutamento deles
era por algo chamado “Comissão de Gama”, uma espécie de contrato que forçava todo o
homem com idade a partir de 16 anos a servir o seu país em momento de necessidade. Por
motivos culturais, os jovens ingleses já tinham prática com o arco desde os seus 7 anos de idade,
o que facilitou bastante para eles manusearem o arco longo inglês nos períodos de guerra.
Longbowman inglês preparando seu arco
A armadura do longbowman inglês era mais leve que o de um soldado de infantaria
comum ou dos cavaleiros, eles usavam cotas de malha por baixo de casacos de couro, e também
usavam capacetes no estilo bascinet e protetores de pescoço. Era comum também os
longbowmen usarem armaduras acolchoadas, com ou sem as longas mangas que protegiam os
braços.
Mas o que os fez realmente se destacarem na história medieval foi o uso da sua arma
principal, que seria o arco longo. O arco longo era bastante difícil de se manusear devido a
altura do mesmo, já que era de cerca de 1,8 m. Entretanto, essa dificuldade passou a ser driblada
quando o rei Edward III fez uma declaração permitindo a prática deliberada do arco e flecha
para nobres e plebeus, o que facilitaria o recrutamento de arqueiros mais eficazes para o
exército inglês.
O arco longo era geralmente feito de madeira de freixo, teixo ou olmo com cordas que
eram feitas de cânhamo, seda ou linho. O grande segredo do arco longo era seu alcance, que era
próximo a 250m e, dependendo do tipo de flecha empregado, o alcance poderia ser estendido
até 328m. As flechas também ajudavam no desempenho final do arco. As flechas usadas pelos
ingleses eram geralmente flechas de caça, mas entre elas também haviam umas poucas flechas
escocesas e flechas galesas. Entre 1341 e 1359, a coroa inglesa obteve um total de 1,232,400
flechas para uso de seus arqueiros.
Os ingleses usavam seus longbowmen de diversas formas no campo de batalha, não se
restringindo a empregá-los em uma formação fixa. Geralmente, os longbowmen eram usados
nos flancos das formações inglesas, cercando os inimigos com flechas enquanto eles lançavam
uma carga pelo centro. Ocasionalmente, eles também eram usados no centro da organização de
batalha inglesa e, em ambos os casos, geralmente eles eram acompanhados de estacas de
madeira, postas em sua frente, para impedir o avanço da cavalaria sobre os mesmos.
Arqueiros ingleses assaltando uma fortificação francesa
Sendo uma das tropas mais tradicionais do Reino da Inglaterra, os longbowmen
tiveram destaque em várias batalhas de seu período medieval. Entre as batalhas mais notáveis
em que eles foram usados, estão a Batalha de Falkirk e a Batalha de Agincourt. A Batalha de
Falkirk ocorreu em 22 de Julho de 1298, durante a Primeira Guerra de Independência Escocesa.
Após saber da derrota de seus homens na Batalha de Stirling Bridge, Edward I declarou uma
trégua com Philippe IV da França, com quem estava em guerra, e retornou para a Inglaterra para
focar seus esforços na conquista da Escócia.
O exército que Edward I conseguiu reunir, entretanto, era gigantesco para os padrões
medievais. 2500 cavaleiros completamente armados, e 12500 soldados de infantaria, dentre os
quais a maioria eram galeses armados com o arco longo. Por mais que não tivesse a capacidade
de pagar esse exército, muitos dos homens presentes possuíam uma dívida com a coroa, e sua
forma de pagamento foi ir para o combate.
O plano inicial de William Wallace, o general escocês, era deixar os ingleses vagando
pela Escócia até seus suprimentos acabarem e, dessa forma, fazer eles se retirarem com um
único ataque. Esse plano poderia ter dado certo se Edward I não tivesse descoberto que os
escoceses estavam próximos demais, e resolveu partir para atacá-los.
As formações escocesas eram feitas, principalmente, de lanceiros, como havia sido na
Batalha de Stirling Bridge. A cavalaria inglesa conseguiu, no primeiro momento, quebrar as
formações de cavaleiros, que fugiu ao presenciar os meros números dos ingleses, e os arqueiros
escoceses foram massacrados devido à sua inexperiência em combate, apesar disso, os ingleses
viram-se incapazes de fazer com que os piqueiros se rendessem. Dessa forma, Edward I usou da
mesma tática que o Duque de Warwick na Batalha de Maes Moydog, 3 anos antes.
Posicionando seus arqueiros na frente das formações escocesas, e a cavalaria na
retaguarda, os ingleses começaram a alvejar os escoceses com suas flechas, praticamente
encerrando a batalha a favor dos ingleses, mas o terror para os escoceses ainda não havia
acabado, já que quando as formações de lanças ficaram rasas o suficiente, a cavalaria inglesa
iniciou uma carga em sua retaguarda, matando boa parte daqueles que haviam restado e
causando uma fuga desesperada para os escoceses.
As baixas para os escoceses foi de 2 mil homens, dos 6 mil que estavam presentes na
batalha, enquanto as baixas inglesas foram praticamente idênticas. A derrota em Falkirk fez com
que William Wallace desistisse de seu título de Guardião da Escócia, mas por outro lado,
também marcou o início do emprego tradicional de longbowmen em batalhas inglesas.
A Batalha de Agincourt, que ocorreu em 25 de Outubro de 1415, foi uma das mais
famosas batalhas da Guerra dos 100 Anos, a disputa entre França e Inglaterra pelo trono francês,
com essa fase marcada pela invasão de Henry V através de Pas-de-Calais, iniciando uma nova
campanha para reclamar o seu direito à coroa da França.
Henry V já optara pelo uso de táticas defensivas em batalhas anteriores, e essa era a
situação perfeita para ser usada já que suas tropas estavam exaustas e sem suprimentos.
Entretanto, desta vez, ele resolveu empregá-la ao partir para a ofensiva contra um exército
francês, que iniciara as negociações na esperança de que um reforço viesse e conseguisse, em
um único golpe, expulsar os ingleses de sua terra.
A organização dos ingleses usou da vantagem do terreno, pondo seus longbowmen em
ambos os flancos, posicionados em desfiladeiros erodidos naturalmente pela floresta da região,
enquanto o grosso do seu exército, notavelmente a cavalaria, estava posicionada no centro. A
única vantagem dos franceses, entretanto, é que eles eram numericamente superiores aos
ingleses, possuindo uma força ainda mais potente de cavalaria.
O terreno foi um fator decisivo para o resultado da batalha, já que os franceses seriam
forçados a andar sobre uma passagem estreita entre dois desfiladeiros repletos de arqueiros
ingleses e, como havia chovido recentemente, as linhas após os ingleses estavam repletas de
lama, que dificultaria a manobrabilidade da cavalaria francesa. Os arqueiros também estavam
sendo protegidos por estacas de madeira, algo inovador na época para os ingleses, e
provavelmente uma repetição do feito otomano na Batalha de Nicopolis, já que eles usaram essa
mesma técnica para derrotar a cavalaria francesa.
Após uma longa espera de ambos os lados, Henry V se viu forçado a reposicionar suas
tropas para dar a chance dos franceses atacarem, e foi isso o que ocorreu. A carga de cavalaria
francesa que se deu sequência foi um completo desastre, sendo alvejada de ambos os lados pelas
flechas dos longbowmen, e sem a força para reagir já que eles estavam protegidos pelas estacas.
Os franceses, entretanto, conseguiram fazer com que o centro inglês fosse um pouco para trás,
mas quando as flechas acabaram, os longbowmen se aproximaram dos flancos e atacaram os
franceses com as ferramentas que possuíam em mãos.
Dessa forma, desorganizando os já impedidos franceses, que estavam com sua
manobrabilidade prejudicada por estarem em cima da lama, ao contrário dos longbowmen, cujo
equipamento leve facilitava o ataque em massa em cima dos franceses. Os cavaleiros franceses,
confusos e desorganizados, dessa forma, bateram em retirada.
A batalha acabou quando, temendo uma reorganização dos franceses após um ataque
ao seu carro bagageiro, Henry V ordenou a execução em massa da maioria dos prisioneiros
franceses que, em uma virada sensacional, de fato estavam em maior número do que o próprio
exército inglês que os aprisionara e poderiam, facilmente, sobrepujar o exército inglês a
qualquer momento e tornar a vitória incrível em uma derrota decisiva.
Devido à falta de fontes imparciais, não se sabe exatamente quantos soldados
morreram naquele dia, nem a quantidade exata de homens de ambos os lados. As estimativas
modernas põem os números entre 6 a 9 mil ingleses e 12 a 36 mil franceses, com 5/6 do exército
inglês sendo composto por longbowmen. O número de mortos seria de 112 ingleses, e entre 7 a
10 mil mortos entre os franceses, com 1500 nobres franceses sendo feitos prisioneiros.
Miniatura medieval francesa retratando a Batalha de Agincourt
Os longbowmen foram empregados nos exércitos ingleses até o século XVI, quando o
avanço da pólvora e o surgimento de armas de fogo tornou os seus arcos longos completamente
obsoletos, e eles acabaram sendo substituídos pelas tropas emergentes de arcabuzeiros e
granadeiros. Entretanto, os ingleses fizeram o possível para continuar mantendo o costume do
uso da longbow, até mesmo pouco antes da Guerra Civil Inglesa, onde panfletos reais
estimulavam o uso do arco e flecha e pique pelas milícias locais.
Apesar de obsoleto, o arco longo continuou sendo usado por muito tempo após o
advento das armas de fogo. Há o registro de que ele foi usado durante a 2ª guerra mundial em
que o oficial inglês Jack Churchill matou um homem com um arco longo na França em 1940, e
até mesmo considerada para o uso dos comandos britânicos ao decorrer da segunda guerra.