Ficha Leitura TA
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Nas palavras de ambos os autores, o Antropoceno – termo cunhado pelo laureado premio
nobel Paul Crutzen, é um conceito que desde 2002 tem tido uma ascensão meteórica de
popularidade em grande parte dos setores da sociedade. Esta nova época geológica, na
qual a Humanidade e as suas ações começam a ter um impacto no clima e sistemas da
vida na terra, demonstram que a separação entre a natureza e cultura se tornou obsoleta,
evidenciando que a convergência entre as ciências naturais e sociais para a compreensão
deste fenómeno é deveras importante
Para Malm e Hornborg mais do que colocar importância nas relações entre história,
ciência natural e ciência sociais, de igual forma é preciso perceber e contextualizar as
novas noções de modernidade e do que verdadeiramente é o significado da palavra
humano. Por isso, o grande objetivo dos autores torna-se assim, a necessidade de
questionar o uso do termo espécies, o homo sapiens – o Humano, para estudar a narrativa
do Antropoceno, de como a mesma analiticamente possui algumas falhas e de como essas
mesmas falhas impedem de se agirem sobre elas.
Apesar das duas noções de natureza e cultura se quererem mais diluídas, não separadas
como extremos opostos, as respostas para as consequências climáticas causadas pela
sociedade continuam primeiramente ancoradas nas ciências naturais. Com o abandono do
dualismo cartesiano, tornar-se-ia assim efetivo ter em conta as condições materiais dos
indivíduos, representações e as estruturas de poder que regem a sociedade e não só como
a ecologia humana influencia e é influenciada pela própria ação humana.
Esta mudança de estados, retirou a mudança climática da natureza para a ação humana
para a reificar de seguida como parte inerente à própria noção de humanidade. Todavia,
as evidencias demonstram que historicamente os humanos sempre criaram mudanças
climáticas e que as mesmas são fruto de fenómenos sociológicos e não de biologia
humana.
Já na parte final do artigo, a naturalização das mudanças climáticas, nas palavras de Malm
e Hornborg são naturalizadas, vistas como regras, naturais ao ser humano e incapazes de
serem mudadas, efetuando um paralelismo com a ideia de Marx, que afirmava que a
produção estaria envolvida em leis naturais, independentes do curso normal da história.
Se o Antropoceno está imbuído num traço ou propriedade essencial de todos os seres
humanos, como é que podemos imaginar o desmantelamento de uma economia fóssil e
fim, ou pelo menos, o remediar da catástrofe climática? Será que a célebre frase de Mark
Fisher se tornará uma evidência, onde é mais fácil imaginar o fim do mundo do que uma
mudança brutal do mundo em que vivemos? Fica demonstrado assim pelos autores que a
dominância das ciências naturais no que diz respeito as mudanças climáticas, torna o
Antropoceno numa ideologia por defeito, repleto de defeitos na vertente analítica e que
dificulta a ação contra as alterações climáticas.