Direito Civil 01.08.2012
Direito Civil 01.08.2012
Direito Civil 01.08.2012
Índice
1. Anotações de aula
2. Jurisprudência Correlata
2.1 STJ, REsp. 889.852/ RS
2.2 STJ, REsp. 7631/ RJ
2.3 STJ, REsp. 23/ PR
2.4 STF, ADin. 3510/ DF
2.5 STJ, REsp. 557.365/ RO
2.6 STJ, REsp. 397.013/ MG
2.7 STJ, REsp. 709.608/ MS
2.8 STJ, REsp. 878.941/ DF
2.9 STJ, REsp. 833.712/ RS
2.10 STJ, REsp. 807.849/ RJ
2.11 STJ, REsp. 876.434/ RS
2.12 STJ, REsp. 226.436/ PR
2.13 STF, RE 363.889/ DF
3. Simulados
I. ANOTAÇÕES DE AULA
Data: 01.08.2012
1. Noções gerais
Napoleão chegou a dizer que a sociedade não tem interesse no reconhecimento de filho fora do
casamento. Historicamente, a filiação esteve atrelada ao casamento, tornando-se biologizada,
pois esta decorria de pessoas casadas, que biologicamente tinham um filho.
Dessa maneira a filiação era o vínculo estabelecido entre uma pessoa e aquelas que lhe deram
origem. Isso vai mudar:
1º) pela influência da biotecnologia, com o DNA e a fertilização assistida;
2º) o reconhecimento da socioafetividade como valor jurídico.
Com isso a adoção passou a ocupar o mesmo espaço que a biologia. É tão importante, que hoje,
a adoção é possível até entre pares homoafetivos. STJ, REsp. 889.852/ RS.
3. Prova da maternidade. “Mater is semper certus” (a mãe é sempre certa, o pai incerto). Todo
filho é putativo, até fazer o exame do DNA. Dimensão que historicamente se deu à paternidade
e o CC/02 mantém esse entendimento.
3.1. A maternidade é presumida pela gestação. É uma presunção relativa, pela possibilidade
troca de bebês na maternidade, situação que gera dano moral e material (responsabilidade
civil do Hospital), entendimento pacífico no STJ. Outra situação que justifica a presunção
relatividade é a gestação por substituição ou por útero alheio (barriga de aluguel), que é
permitido pela Res. 1.957/10, CFM (Conselho Federal de Medicina).
3.2. Requisitos para a barriga de aluguel:
a) plena capacidade das pessoas envolvidas;
b) as pessoas envolvidas sejam do mesmo grupo familiar – se não for da mesma família, o
médico só poderá realizar o procedimento se houver autorização do C.R.M. (Conselho Regional
de Medicina).
c) finalidade terapêutica - o médico só pode realizar gestação em útero alheio quando se
provar a impossibilidade gestacional da mulher interessada. Assim para impedir que mulheres
tenham filhos por essa modalidade porque não querem vivenciar o fenômeno da gravidez. O
que é possível nos EUA.
d) gratuidade da hospedagem de útero – logo a expressão barriga de aluguel é imprópria, não
há contraprestação.
e) não haverá intervenção do MP – no procedimento de transplante de órgãos de pessoas
vivas, exigem-se as mesmas condições acima apontadas, porém comB a prévia intervenção do
MP. Aqui, não tem a intervenção, dada a excepcionalidade da ocorrência do fato.
Não há hierarquia entre os critérios, que serão estabelecidos casuisticamente, significa que
hoje pode ser um, amanhã outro.
É possível ter a um só tempo um pai biológico e um pai afetivo, na chamada tese da Teoria
Tridimensional do Direito de Família, também chamada Pluriparentalidade ou
Multiparentalidade, por ela uma pessoa pode ter até três pais ou três mães (um critério não
exclui o outro). Funciona da seguinte forma, a pessoa pode ter laços de cunho:
a) afetivo: laço de convivência
b) biológico: carga genética
c) ontológico: modelo, exemplo de vida.
Essa teoria não ganhou dimensão maior, pois se critica que de algum modo ela pode estar
patrimonializando a filiação. A Pluripaternidade traz consigo, a reboque, a
plurihereditariedade.
Por enquanto, prevalece a ideia de que os critérios são excludentes e o juiz no caso concreto é
quem estabelece qual deles terá aplicação.
2) concepção artificial (fertilização medicamente assistida, inc. III, IV e V). Importante saber,
a fertilização médica assistida pode se apresentar:
a) por fertilização in vitro, que é quando o médico trabalha no laboratório com sêmen e óvulo;
b) por inseminação artificial, quando o médico trabalha somente com o sêmen, selecionando-o.
Ele não pode fazer sexagem, nem seleção genética, não pode interferir na genética, essa é a
concepção in vivo.
Tanto uma quanto a outra podem ser homóloga (quando o médico trabalha com material
genético do próprio casal) ou heteróloga (quando o médico trabalha com material genético de
terceiros). Aqui um ou ambos são estéreis.
Art. 1.798, CC/02, a expressão “já concebidas” abrange as pessoas que estão no útero da mãe.
Mas, abrangeria também as pessoas que estão no laboratório? Se você entender que sim, logo
estariam autorizadas a suceder na sucessão; se entender que não, logo não caberia a
legitimidade na sucessão. Alguns autores Caio Mário, Tartuce entendem que não abrange a
concepção laboratorial. Outros autores, Maria Berenice, Giselda Hironaka, entendem que
abrange.
Cristiano baseia-se na ideia que a interpretação normativa relacionada a filhos deve ser
ampliativa, logo esse dispositivo abrange também a concepção laboratorial.
Não há nenhum precedente sobre essa matéria.
2.3. concepção heteróloga, desde que tenha ocorrido prévia autorização do marido.
É o único caso de presunção de paternidade absoluta.
É permitido o procedimento da inseminação assistida a casais homoafetivos.
4.2. critério biológico (DNA) - A lei 12.004/09, alterou a lei 8.560/92, que é a lei de
investigação de paternidade, e criou o art. 2-A, o qual repete o entendimento da súmula 301 do
STJ, que por sua vez, endossa o entendimento do Supremo, no sentido de que ninguém pode
ser obrigado a se submeter ao exame de DNA, dado que ninguém pode ser obrigado A produzir
prova contra si; além disso, privacidade e integridade física são garantias constitucionais. Mas,
a lei estabelece que aquele que se recusou ao exame faz presumir a prova que se pretendia
produzir. É uma presunção legal relativa de paternidade. Essa lei é exclusiva da ação de
investigação de paternidade; qualquer outra ação segue o dispositivo do art. 232, CC/02,
também no mesmo sentido:
Art. 232. A recusa à perícia médica ordenada pelo juiz poderá suprir a prova que se pretendia obter com o
exame.
4.3. critério afetivo (convivência) – É convivência como se pai e filho fossem na prática.
No CC/02, a paternidade socioafetiva chama-se “posse do estado de filho”, conforme STJ,
REsp. 709.608/ MS, em que foi estabelecido relação entre a posse do estado de filho e a
paternidade socioafetiva. Ela gera desbiologização da paternidade, de modo que pai e genitor
não necessariamente serão a mesma pessoa.
Pode-se dizer que a socioafetividade se tornou fonte da filiação. Exemplos ilustrativos (não
taxativos): adoção, fertilização heteróloga com prévia autorização do marido, filho de criação,
adoção a brasileira (registrar como seu um filho que sabe não o ser), e etc. A socioafetividade
não precisa estar presente no dia em que se propôs a ação, tem de estar presente no curso da
relação socioafetiva.
O STJ no REsp. 878.941/ DF, fixa a filiação pelo critério socioafetivo, em que todos os efeitos
filiatórios e sucessórios decorrem automaticamente, fazendo cessar efeitos biológicos.
O enunciado 341 da Jornada, diz que a filiação socioafetiva estabelece obrigação alimentícia.
341 – Art. 1.696. Para os fins do art. 1.696, a relação socioafetiva pode ser elemento gerador de
obrigação alimentar.
Quando se tem um pai socioafetivo, significa que existe também um pai biológico. Pergunta: o
filho tem direito de saber quem é esse pai? Responde a questão o leading case, STJ, REsp.
833.712/ RS, que hoje forma a nova redação do ECA, no art. 47, pelo qual se admite ação de
investigação de origem genética ou ação de investigação de ancestralidade. Trata-se de direito
da personalidade. Dela não decorre efeito familiar, nem sucessório. Para Cristiano Chaves, é
possível decorrer impedimento matrimonial e tratamento terapêutico (transplante de
Art. 1.614. O filho maior não pode ser reconhecido sem o seu consentimento, e o menor pode impugnar o
reconhecimento, nos quatro anos que se seguirem à maioridade, ou à emancipação.
Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame pericial (teste de DNA).
Recusa. Inversão do ônus da prova. Relacionamento amoroso e relacionamento casual. Paternidade
reconhecida. - A recusa do investigado em se submeter ao teste de DNA implica a inversão do ônus da
prova e conseqüente presunção de veracidade dos fatos alegados pelo autor. - Verificada a recusa, o
reconhecimento da paternidade decorrerá de outras provas, estas suficientes a demonstrar ou a
existência de relacionamento amoroso à época da concepção ou, ao menos, a existência de
relacionamento casual, hábito hodierno que parte do simples 'ficar', relação fugaz, de apenas um
encontro, mas que pode garantir a concepção, dada a forte dissolução que opera entre o envolvimento
amoroso e o contato sexual. Recurso especial provido.
Direito civil. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade. Exame pericial (teste de DNA) em
confronto com as demais provas produzidas. Conversão do julgamento em diligência. - Diante do grau de
precisão alcançado pelos métodos científicos de investigação de paternidade com fulcro na análise do
DNA, o valoração da prova pericial com os demais meios de prova admitidos em direito deve observar os
seguintes critérios: (a) se o exame de DNA contradiz as demais provas produzidas, não se deve afastar a
conclusão do laudo, mas converter o julgamento em diligência, a fim de que novo teste de DNA seja
produzido, em laboratório diverso, com o fito de assim minimizar a possibilidade de erro resultante seja
da técnica em si, seja da falibilidade humana na coleta e manuseio do material necessário ao exame; (b)
se o segundo teste de DNA corroborar a conclusão do primeiro, devem ser afastadas as demais provas
produzidas, a fim de se acolher a direção indicada nos laudos periciais; e (c) se o segundo teste de DNA
contradiz o primeiro laudo, deve o pedido ser apreciado em atenção às demais provas produzidas.
Recurso especial provido.
Direito civil. Família. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade e maternidade. Vínculo
biológico. Vínculo sócio-afetivo. Peculiaridades. - A "adoção à brasileira", inserida no contexto de filiação
sócio-afetiva, caracteriza-se pelo reconhecimento voluntário da maternidade/paternidade, na qual,
fugindo das exigências legais pertinentes ao procedimento de adoção, o casal (ou apenas um dos
cônjuges/companheiros) simplesmente registra a criança como sua filha, sem as cautelas judiciais
impostas pelo Estado, necessárias à proteção especial que deve recair sobre os interesses do menor. - O
reconhecimento do estado de filiação constitui direito personalíssimo, indisponível e imprescritível, que
pode ser exercitado sem qualquer restrição, em face dos pais ou seus herdeiros. - O princípio
fundamental da dignidade da pessoa humana, estabelecido no art. 1º, inc. III, da CF/88, como um dos
fundamentos da República Federativa do Brasil, traz em seu bojo o direito à identidade biológica e
pessoal. - Caracteriza violação ao princípio da dignidade da pessoa humana cercear o direito de
conhecimento da origem genética, respeitando-se, por conseguinte, a necessidade psicológica de se
conhecer a verdade biológica. - A investigante não pode ser penalizada pela conduta irrefletida dos pais
biológicos, tampouco pela omissão dos pais registrais, apenas sanada, na hipótese, quando aquela já
contava com 50 anos de idade. Não se pode, portanto, corroborar a ilicitude perpetrada, tanto pelos pais
que registraram a investigante, como pelos pais que a conceberam e não quiseram ou não puderam dar-
lhe o alento e o amparo decorrentes dos laços de sangue conjugados aos de afeto. - Dessa forma,
conquanto tenha a investigante sido acolhida em lar "adotivo" e usufruído de uma relação sócio-afetiva,
nada lhe retira o direito, em havendo sua insurgência ao tomar conhecimento de sua real história, de ter
acesso à sua verdade biológica que lhe foi usurpada, desde o nascimento até a idade madura. Presente o
dissenso, portanto, prevalecerá o direito ao reconhecimento do vínculo biológico. - Nas questões em que
presente a dissociação entre os vínculos familiares biológico e sócio-afetivo, nas quais seja o Poder
Judiciário chamado a se posicionar, deve o julgador, ao decidir, atentar de forma acurada para as
peculiaridades do processo, cujos desdobramentos devem pautar as decisões. Recurso especial provido.
Direito civil. Família. Ação de declaração de relação avoenga. Buscada ancestralidade. Direito
personalíssimo dos netos. Dignidade dapessoa humana. Legitimidade ativa e possibilidade jurídica
dopedido. Peculiaridade. Mãe dos pretensos netos que também postulaseu direito de meação dos bens
que supostamente seriam herdados pelomarido falecido, porquanto pré-morto o avô.- Os direitos da
personalidade, entre eles o direito ao nome e aoconhecimento da origem genética são inalienáveis,
vitalícios,intransmissíveis, extrapatrimoniais, irrenunciáveis, imprescritíveise oponíveis erga omnes.- Os
netos, assim como os filhos, possuem direito de agir, próprio epersonalíssimo, de pleitear declaratória de
relação de parentesco emface do avô, ou dos herdeiros se pré-morto aquele, porque o direitoao nome, à
identidade e à origem genética estão intimamente ligadosao conceito de dignidade da pessoa humana.- O
direito à busca da ancestralidade é personalíssimo e, dessaforma, possui tutela jurídica integral e
especial, nos moldes dosarts. 5º e 226, da CF/88.- O art. 1.591 do CC/02, ao regular as
2.12 RE 363.889/ DF
3.3. TJ/GO Juiz Estadual – Ago 2007 Presumem-se concebidos na constância do casamento:
a) Os filhos concebidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do
marido.
b) nascidos há pelo menos duzentos (200) dias do estabelecimento da convivência conjugal.
c) havidos por fecundação artificial homóloga, desde que ainda vivo o marido.
d) nascidos no prazo de cinco (5) anos da concepção artificial homóloga, quando se tratar de
embriões excedentários.
Resposta:
3.1 A
3.2 B
3.3 B