RC 17.03.2022
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RELATÓRIO
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Acórdão do Tribunal da Relação de Coimbra 02/10/23, 16:16
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Na sequência do óbito do réu AA, foram habilitados nos autos por
sentença de 16/02/21, transitada em julgado, a sua esposa BB (a aqui
ré) e os seus seis filhos, CC, DD, EE, casada com FF, GG, HH e II,
casado com JJ.
Após, realizou-se audiência de julgamento, sendo proferida sentença
na qual se julgou a acção improcedente e se absolveram os RR. dos
pedidos formulados pela A.
*
QUESTÕES A DECIDIR
Nos termos do disposto nos artigos 635º, nº4 e 639º, nº1, do Código
de Processo Civil, as conclusões delimitam a esfera de atuação do
tribunal ad quem, exercendo uma função semelhante à do pedido na
petição inicial. Esta limitação objetiva da atuação do Tribunal da
Relação não ocorre em sede da qualificação jurídica dos factos ou
relativamente a questões de conhecimento oficioso, desde que o
processo contenha os elementos suficientes a tal conhecimento (cf.
artigo 5º, nº3, do Código de Processo Civil). Também não pode este
Tribunal conhecer de questões novas que não tenham sido
anteriormente apreciadas porquanto, por natureza, os recursos
destinam-se apenas a reapreciar decisões proferidas.
Nestes termos, as questões a decidir que delimitam o objecto deste
recurso, consistem em apurar:
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FUNDAMENTAÇÃO DE FACTO
O tribunal recorrido considerou a seguinte matéria de facto:
“Factos provados
Resultam provados os seguintes factos (alegados nos articulados ou
constantes dos documentos, com relevo para decidir, excluindo factos
conclusivos e conceitos jurídicos):
1. A autora é uma sociedade comercial que tem por objecto a compra
e venda de bens imóveis e prestação de serviços de consultadoria
financeira e consultadoria para os negócios e a gestão.
2. No dia 6 de Maio de 2017, no exercício da sua actividade, a autora
celebrou com os réus um contrato promessa de compra e venda,
tendo como objecto os seguintes imóveis sitos na Freguesia de ...,
concelho ... e Distrito de ...:
a. Urbano, destinado a habitação sito em ..., na Freguesia de ...,
concelho ... e Distrito de ..., inscrito na respectiva matriz predial
urbana sob o artigo n.º ...75;
b. Rústico, sito em ..., com área total de 20.000m2, Freguesia de ...,
concelho ... e Distrito de ..., inscrito na respectiva matriz predial
rústica sob o artigo n.º ...57.
3. Resulta da cláusula 3.ª do referido contrato promessa de compra e
venda que o preço global da venda foi de 45.000 euros.
4. Resulta da cláusula 3.ª do referido contrato promessa de compra e
venda que o referido preço seria pago em duas tranches: a quantia de
15.000,00 euros seria paga no dia 06 de maio de 2017 e o
remanescente seria pago no dia da outorga da escritura de compra e
venda.
5. Resulta da cláusula 4.ª do referido contrato promessa de compra e
venda que “A escritura pública de compra e venda a favor do
Promitente Comprador, será celebrada até 30 de Setembro de 2017”.
6. Resulta da cláusula 5.ª do referido contrato promessa de compra e
venda que “Os Promitentes Vendedores compromete-se a proceder a
suas expensas à devida legalização dos imóveis objecto deste
contrato, nomeadamente à sua actualização fiscal, predial e
administrativa no ..., responsabilizando-se ainda pela obtenção da
respectiva licença de habitabilidade para o imóvel urbano, destinado
à habitação, ou certidão demonstrativa da sua isenção, bem como a
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notarial da .... NN, sito em Rua ... .... Toda a documentação de que
careçam para a dita escritura encontra-se ao vosso dispor no dito
cartório com a antecedência de cinco dias. Por outro lado, devem
entregar no dito cartório com, pelo menos, dois dias de antecedência
face à data designada o comprovativo de pagamento do IMT e
imposto de selo e outros impostos da V/ responsabilidade, se os
houver.”
15. No dia 10.11.2017, pelas 11h30, LL, na qualidade de legal
representante da autora, compareceu no cartório notarial da Dr.ª NN,
sito em Rua ... ..., o que fez consciente de que os réus não tinham
recebido a missiva mencionada no ponto 12.
16. No dia 10.11.2017, pelas 11h30, os réus não compareceram no
cartório notarial da Dr.ª NN, sito em Rua ... ....
17. Resulta do certificado notarial subscrito por NN que: “No dia dez
de Novembro de dois mil e dezassete, pelas 11 horas e 30 minutos,
esteve marcada neste Cartório, uma escritura de compra e venda em
que seriam vendedores, BB, NIF ... e seu marido, AA, NIF ...,
casados sob o regime de comunhão geral de bens, residentes na Rua
..., freguesia de ..., concelho ... e seria compradora a sociedade por
quotas com a firma, "S..., Lda.", com sede no lugar ..., s/n, freguesia e
concelho ..., matriculada na Conservatória do Registo Comercial ...,
sob o núme.ro único de matricula e identificação de pessoa colectiva
cinco, zero, nove, zero, seis, um, nove, nove, zero, com o capital
social de cinco mil euros, e objecto da mesma compra e venda, o
prédio rústico, composto por terra de pastagem, com a área de vinte
mil metros quadrados, sito em ..., freguesia de ..., concelho ...,
descrito na Conservatória do Registo Predial ... sob o número mil
duzentos e treze/Freguesia de ..., inscrito na matriz predial respectiva
sob o artigo ...57, com o valor patrimonial tributário de €259,20 e o
prédio urbano, composto por um edificio de ... e ..., destinado a
habitação, com a superfície coberta de vinte metros quadrados, sito
em ..., freguesia de ..., concelho ..., descrito na Conservatória do
Registo Predial ... sob o número mil cento e quatro/Freguesia de ...,
inscrito na matriz predial respetiva sob o artigo ...75, com o valor
patrimonial tributário de € 4640,00. Mais certifico que esteve
presente neste Cartório, á hora marcada, apenas a representante da
referida sociedade compradora, LL, casada, natural de ..., residente na
Avenida ..., freguesia e concelho ..., titular do cartão de cidadão
número ..., válido até 12/11/2020, emitido pela Republica Portuguesa,
pelo que a escritura não se realizou por não terem aqui comparecido
para o efeito, os mencionados vendedores."
18. No dia 09 de novembro de 2017, a autora remeteu missiva aos
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DA IMPUGNACÃO DA MATÉRIA DE FACTO
réus originários e ser alterado o dito preço. Ora, tal ponto não foi
igualmente valorado, na medida em que, para além de não encontrar
respaldo na demais prova produzida, foi contraditado pela missiva
subscrita pela própria. Como resulta da segunda missiva, a legal
representante da autora informou os réus que: “Pese embora V.a
Exas. tenham sido atempadamente informados da aludida resolução
contratual, inexplicavelmente, tentaram, ainda assim, agendar uma
escritura notarial no Cartório da Dra. NN, em ..., para o passado dia
10/11/2017, pelas 11H30. Ainda que a "S..., Lda.." não tivesse
intenção em celebrar qualquer escritura de compra e venda, pelos
motivos já oportunamente invocados, a mesma fez-se, ainda assim,
representar pela respectiva representante legal, no intuito de, caso
V.a Exas. persistissem injustificada e ilegalmente - em levar por
diante tal celebração, poderem ser transmitidas à Notária as razões
ponderosas pelas quais já não fazia sentido (naquela data) agendar a
celebração de qualquer escritura, porquanto o Contrato-Promessa
havia já sido resolvido.”
Desta forma, em face destes dois documentos subscritos pela própria
legal representante da autora, o Tribunal deu como não provadas as
alíneas d. a f., da materialidade dada como não provada.”
Concorda-se com a fundamentação expressa pelo Tribunal a quo. É a
legal representante da A., em sede de declarações de parte que afirma
não ter proposto qualquer redução do preço dos imóveis. A “atenção”
que referiu pretender fosse feita no preço dos imóveis, não encontra
respaldo em nenhuma das missivas enviadas, sendo certo que não se
vê obstáculo para, assim o pretendendo, a A. comunicar, da mesma
forma que comunicou a resolução do contrato por alteração das
circunstâncias aos promitentes-vendedores, a pretendida redução que
entendia dever ser feita ao negócio.
Mantém-se assim estas duas alíneas na matéria de facto não assente.
FUNDAMENTAÇÃO DE DIREITO
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DECISÃO
As custas fixam-se em 90% para os RR. e 10% para a A. (artº 527 nº1
do C.P.C.)
Coimbra 17/03/22
[10] Ob. cit, pág. 77, considerando que “seria nula a cláusula pela
qual promitente-comprador renunciasse antecipadamente, ao direito
de invocar a nulidade, para salvaguarda da ordem pública de
protecção ou ordem pública social que ditou a norma legal, ou seja,
para proteger da sua própria fraqueza e inexperiência, ligeireza e
inadvertência, na tomada de decisão temporã, em branco. A admitir-
se a validade da cláusula pela qual o promitente-comprador renuncia
antecipadamente ao direito de arguir a nulidade, estaria aberta a
porta para, com a maior das facilidades, os promitentes-vendedores
incluírem nas promessas uma cláusula de estilo, em que as partes
declarariam prescindir das formalidades impostas pelo art. 410º n°.
3, renunciando à invocação da respectiva omissão e, assim sabotar o
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[25] Sendo que em todo o caso, a solução não seria diversa, pois que
então, não podendo o vendedor entregar ou repor a coisa se
justificaria ou a extinção do contrato ou a sua modificação equitativa
[26] OLIVEIRA ASCENSÃO, José, “Onerosidade excessiva por
“alteração das circunstâncias”, Estudos em Memória do Professor
Doutor José Dias Marques, Almedina, pág. 527.
[27] OB. cit., pág. 529.
[28] Neste sentido, vide Galvão Teles, ob. cit., p.345, nota 314;
CALVÃO DA SILVA, Estudos de Direito Civil e Processo Civil,
Coimbra, Almedina, 1996, p. 181; MENEZES LEITÃO ob cit., pág.
143.
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