Elementos de Apoio Boas Praticas e Sistema APPCC
Elementos de Apoio Boas Praticas e Sistema APPCC
Elementos de Apoio Boas Praticas e Sistema APPCC
Qualidade e
Série
Segurança Alimentar
Elementos de Apoio
Boas Práticas e Sistema APPCC
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DO COMÉRCIO – CNC SENAC – DEPARTAMENTO NACIONAL
CONSELHO NACIONAL DO SENAC
CONSELHO NACIONAL DO SESC Sidney da Silva Cunha
Diretor-Geral
Antonio Oliveira Santos
Presidente
SENAI – DEPARTAMENTO NACIONAL
ANVISA
Ricardo Oliva
Diretor de Alimentos e Toxicologia
Cleber Ferreira dos Santos
Gerente Geral de Alimentos
Elementos de Apoio
Boas Práticas e Sistema APPCC
2 0 0 2
© 2002. SENAC – Departamento Nacional
Qualquer parte desta obra poderá ser reproduzida, desde que citada a fonte.
SENAC/ DN
FICHA CATALOGRÁFICA
ISBN: 85-7458-081-3
PREFÁCIO
-MESA
PREFÁCIO
O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), ferramenta de gestão
da segurança de alimentos, é recomendado por organismos internacionais, como a Organização
Mundial do Comércio (OMC), a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura
(FAO) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Já é também exigido por alguns segmentos do
setor alimentício da Comunidade Econômica Européia e dos Estados Unidos.
Para garantir a produção de alimentos seguros para a saúde dos consumidores e, também, para
aumentar a competitividade das empresas de alimentação no mercado, Senai, Senac, Sebrae,
Sesc, Sesi e Anvisa assinaram um convênio de cooperação técnica e financeira para implantação
do Sistema APPCC no segmento mesa, que reúne os estabelecimentos que servem alimentos ao
consumidor.
Essa etapa da cadeia produtiva de alimentos é muito crítica e, com certeza, a maior responsável
por surtos de doenças de origem alimentar, que decorrem, muitas vezes, da deficiência das
instalações, da falta de controle na aquisição das matérias-primas e da falta de preparo da gran-
de maioria dos manipuladores de alimentos, tanto com relação aos aspectos de higiene e apre-
sentação pessoal quanto aos aspectos técnicos de recepção, armazenamento, preparo, manuten-
ção e distribuição.
Justamente para fortalecer esse segmento, o Programa Alimentos Seguros - Mesa se propõe a difun-
dir e apoiar a implantação, de forma simples e eficaz, das Boas Práticas e do Sistema APPCC nas
atividades de preparo/produção de alimentos para consumo.
Para isso, várias ações, como a elaboração de manuais técnicos, cursos de formação de consulto-
res e responsáveis técnicos e a realização de seminários para empresários, em especial de micro,
pequenas e médias empresas, terão abrangência nacional.
Esta publicação faz parte de um conjunto de produtos que serão disponibilizados e servirão de
referência para as empresas de alimentos que aderirem ao Projeto. Certamente, ela será um ins-
trumento valioso para ajudar a introduzir os princípios das Boas Práticas e do Sistema APPCC nos
estabelecimentos do segmento mesa.
APRESENTAÇÃO
-MESA
APRESENTAÇÃO
O Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC), conhecido
internacionalmente por Hazard Analysis and Critical Control Point (HACCP), originou-se na indústria
química, particularmente na Grã-Bretanha, há aproximadamente 50 anos.
Com as primeiras viagens espaciais tripuladas no início dos anos 60, a NASA, nos Estados Unidos,
estabeleceu como prioridade o estudo da segurança da saúde dos astronautas, no sentido de
eliminar a possibilidade de doença durante a permanência no espaço. Dentre as possíveis doenças
que poderiam afetar os astronautas, as consideradas mais importantes foram aquelas associadas
às suas fontes alimentares.
A Companhia Pillsburry foi a escolhida para desenvolver sistemas de controle efetivo sobre a
cadeia alimentar e, após intensa avaliação, ela concluiu que seria necessário estabelecer controle
em todas as etapas de preparação do alimento e também sobre matéria-prima, ambiente, processo,
pessoas diretamente envolvidas, estocagem, transporte e distribuição.
O Sistema APPCC vem sendo adotado em várias partes do mundo, não só por garantir a segurança
dos produtos alimentícios, mas também por reduzir os custos e aumentar a lucratividade, já que
minimiza perdas. Contribui para a saúde e maior satisfação do consumidor e torna as empresas
mais competitivas, com chances de ampliar suas possibilidades de conquista de novos mercados,
principalmente o externo. É um sistema preventivo e, portanto, diminui a necessidade da realização
de análises laboratoriais durante o processo, exigindo-as basicamente para a verificação do
sistema. Além disso, é um sistema lógico, prático, econômico e dinâmico. Como processo de
controle transparente e confiável, constitui-se na ferramenta de gestão mais eficaz na obtenção
de alimentos seguros para a saúde do consumidor. Vale aqui dizer que os princípios do APPCC são
aplicáveis a todos os segmentos da cadeia alimentar, desde o campo até à mesa do consumidor.
• desenvolver procedimentos que reduzam o risco de um surto de doença transmitida por alimentos;
Em março de 1998 foi criado o Projeto APPCC - Indústria que teve inicialmente como parceiros o
Senai, o Sebrae, o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, o Ministério da Saúde, e a
Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisas Agropecuárias). Em seu primeiro ano de atividades,
trabalhou na criação de materiais técnicos, de divulgação e de sensibilização para a utilização do
Sistema APPCC pelas indústrias de carnes, laticínios, sorvetes, pescados e vegetais. Também
realizou, em diversos estados do país, seminários de sensibilização de empresários e treinamentos
de consultores e técnicos de empresas para a elaboração do plano e a implementação do Sistema.
Um fato marcante e de muita importância para o Projeto foi a sua inclusão como Meta Mobilizadora
Nacional no Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade (PBQP), abrindo o leque de ações
para outros segmentos da cadeia produtiva, como produção primária, transporte, distribuição e
alimentos prontos para o consumo.
Com a experiência adquirida e em decorrência dos resultados altamente positivos com o Projeto
APPCC - Indústria, foi possível a expansão das ações para outro elo da cadeia produtiva, na
ponta da comercialização, instituindo-se o Projeto APPCC - Mesa, que tem como objetivos
principais:
APRESENTAÇÃO
• difundir o Sistema APPCC nas empresas ou nos prestadores de serviços de preparo/produção
de alimentos diretamente para o consumidor, como cozinhas industriais e hospitalares,
restaurantes, bares, lanchonetes, padarias, quiosques e ambulantes;
• auxiliar a ação do Ministério da Saúde na adaptação dos requisitos legais quanto à fiscalização
sanitária.
Em agosto de 2002, o Projeto APPCC passou a ser denominado Programa Alimentos Seguros -
PAS, conferindo um caráter contínuo, como deve ser a visão de um programa de segurança
alimentar e mostrando a verdadeira dimensão das ações que vinham sendo desenvolvidas com o
objetivo de estabelecer, em nível nacional, as condições requeridas para a produção de alimentos
seguros em toda cadeia produtiva, sendo o Sistema APPCC uma das ferramentas empregadas
nestas ações.
A implantação do Sistema APPCC no segmento mesa baseia-se numa série de etapas inerentes à
produção dos alimentos, incluindo todas as operações que ocorrem desde a obtenção da matéria-
prima até o consumo do alimento. É importante salientar que como ferramenta de controle deve
ser utilizada adequadamente, e que a análise dos perigos é específica para cada produto ou
preparação considerada. Também cabe ressaltar que o método deve ser revisado sempre que
novos perigos forem identificados ou quando ocorrer alguma modificação no modo de preparo
ou a incorporação de novos ingredientes.
E como implantar o Sistema APPCC no segmento mesa? A partir da elaboração de um Plano APPCC
específico para cada grupo de produtos/processos, considerando que os princípios que integram
o Sistema são aplicáveis a toda e qualquer atividade relacionada com alimentos. Para isso, todo
o pessoal envolvido deve estar consciente da importância de sua participação como elemento
indispensável para a obtenção do sucesso desejado.
Apresentação .............................................................................................. 7
Introdução ................................................................................................ 17
INTRODUÇÃO
I NTRODUÇÃO
E ste Guia visa proporcionar aos consultores e multiplicadores do Projeto APPCC – Segmento
Mesa subsídios teóricos sobre Microbiologia e Perigos Físicos, Químicos e Biológicos que afetam
os alimentos. Para atender esse objetivo, são detalhadas as características dos perigos, os fato-
res que favorecem a contaminação, doenças de origem alimentar e formas de prevenção, tais
como as Boas Práticas recomendadas pela legislação e o Sistema APPCC – seus critérios de segu-
rança, planos de amostragem e comprovação metrológica.
UNI E MULTICELULARES
LIMENTOS
A estrutura celular é a unidade fundamental da maioria dos seres vivos. A célula pode se originar
de uma pré-existente ou, no caso da reprodução sexuada, pela troca de material nuclear entre
dois gametas ou por outros mecanismos, quando se trata de microrganismos .
em 1969, sugeriu a separação dos protistas procarióticos dentro de reinos diferentes, criando
um sistema com cinco reinos: monera (bactérias), protista (algas e protozoários), plantae (plantas
superiores), fungi (bolores e leveduras) e animalia (animais).
Bactérias
As bactérias são microrganismos amplamente distribuídos na natureza, sendo encontradas em
todos os ambientes. Podem ser responsáveis por doenças no homem, nos animais e nas plantas
ou por deteriorarem os alimentos e materiais diversos. Por outro lado, podem ser úteis de diversas
formas, tais como: compondo o que se denomina microbiota normal do homem, sendo utilizados
na produção de alimentos, como simbiontes na agricultura (fixando nitrogênio, por exemplo,
permitindo, dessa forma, o desenvolvimento do vegetal) e na medicina (produzindo
medicamentos, em especial, os antibióticos).
Dimensões: as bactérias são muito pequenas, possuindo células que têm, geralmente, entre 0,5
a 10 micra de comprimento ou diâmetro. Podem ser vistas sob o microscópio em aumentos
superiores a 400 vezes. Normalmente, os aumentos de 400 a 600 vezes são empregados para
observação a fresco e o de 1000 vezes, para observação de esfregaços de cultura em lâmina,
corados.
Formas: as bactérias podem ser encontradas em inúmeras formas. As células podem, também,
estar unidas formando grupamentos como cachos, cadeias, formações pares, tétrades e outras.
COCOS BASTONETES
espirilo espiroqueta
ESPIRAIS
a) Cápsula: é uma substância viscosa que forma uma camada de cobertura, ou envelope ao redor
da célula. Está presente em algumas bactérias, não sendo, entretanto, obrigatória. Tem como
funções: servir como defesa da bactéria contra substâncias nocivas, aumentando seu poder
infectante; funciona também como componente para aderência em tecidos dos hospedeiros e,
ainda, como reserva nutritiva da célula. Os antígenos capsulares, denominados de Vi, podem ser
utilizados para a identificação sorológica de algumas bactérias. Sua composição varia conforme
o microrganismo. Assim, a cápsula de Bacillus megaterium é constituída de polipeptídeos e
polissacarídeos e a de Leuconostoc, apenas de polissacarídeos (dextrana). As cápsulas são
responsáveis pela viscosidade (slime) que surge em alimentos (carne bovina, aves, produtos
cárneos e outros), sendo importante na formação de biofilme. Biofilme é uma comunidade de
microrganismos, aderidas em uma matriz constituída de polímeros orgânicos, sobre uma superfície.
As bactérias adquirem uma série de vantagens vivendo em biofilmes, pois estes funcionam como
uma proteção das células contra o meio ambiente.
c) Membrana celular: é constituída de lipídios (cerca de 40%), proteínas (cerca de 60%) e alguns
carboidratos. Tem como funções: servir de barreira osmótica, pois é impermeável às substâncias
ionizáveis; transportar nutrientes e servir de suporte ao sistema de formação de energia da célula.
e) Esporos: o esporo é uma estrutura de resistência das bactérias, sendo formada geralmente
quando as condições são adversas para a célula normal (vegetativa). Apresentam grande resistência
f) Flagelo: quando presente nas células, é responsável pelo movimento das bactérias. É uma
organela de locomoção, que se origina em corpúsculo esférico basal, situado no citoplasma,
próximo à membrana. Os flagelos são constituídos de proteína (flagelina). A energia de sua
movimentação é dada pelo ATP. Os flagelos, quando presentes, constituem o antígeno flagelar
(ou antígeno “H”), utilizado na identificação sorológica de bactérias Gram-negativas. O número
de flagelos por célula bacteriana varia de um a muitos entre as espécies, nesse caso, eles podem
se apresentar ao redor de toda a célula.
g) Pili (fímbria): são estruturas que se projetam da membrana celular atravessando a parede,
que têm como função principal, a aderência da célula sobre superfícies sólidas. As denominadas
fímbrias sexuais estão envolvidas com a troca de material genético entre duas células da mesma
espécie, do mesmo gênero e até entre gêneros diferentes.
Multiplicação: a multiplicação das bactérias ocorre por bipartição ou cissiparidade, da seguinte forma:
parede celular
Membrana celular
Núcleo se divide;
Parede e membrana celulares começam
Células irmãs separam-se
a formar um sépto transverso
Assim, uma célula dá origem a duas, essas duas dão origem a quatro, e assim por diante, em uma
proliferação (ou multiplicação) exponencial ou em escala geométrica. O tempo de geração (em
Fungos
Esses organismos pertencentes ao Reino Fungi podem existir ou como célula única, ou formar
um corpo multicelular dito micélio, que consiste em filamentos denominados hifas. São
encontrados em condições terrestres úmidas e, devido à ausência de clorofila, podem ser parasitas
ou saprofitas, em relação a outros organismos. São divididas em bolores e leveduras.
Bolores
Os bolores são fungos filamentosos que se encontram amplamente distribuídos na natureza. São
encontrados no solo, em superfícies de vegetais, nos animais, no ar e na água. Estão em maiores
quantidades geralmente nos vegetais, especialmente em frutos, através dos quais provocam
doenças. Nos alimentos, provocam deteriorações (emboloramento) e micotoxinas. São utilizados
na produção de certos alimentos (queijos, alimentos orientais), bem como na produção de
medicamentos (penicilina, por exemplo).
Dimensões: os bolores são bem maiores que as bactérias (mais de 100 micra), podendo ser
examinados em aumentos de 100 vezes ao microscópio.
Estruturas e formas: o talo é a menor porção capaz de exercer todas as atividades vitais. Ao se
desenvolver, forma as hifas (filamentos dos bolores), que crescendo, formam o micélio, um
agregado de hifas. O micélio representa a parte visível do fungo, que se vê nos materiais
embolorados. Geralmente o micélio é branco, com aspecto algodonoso. Após um determinado
estágio do desenvolvimento, os bolores formam esporos de origem assexuada que podem ser
esporangiosporos ou conidiosporos. Esses esporos dão coloração aos bolores (preta, marrom,
azul, verde etc). São também responsáveis pela disseminação dos bolores nos ambientes, pois se
destacam facilmente e são carregados pelo vento. Se caem em local com nutrientes (como os
alimentos), germinam e dão origem a um novo micélio. Alguns bolores apresentam estruturas
especializadas, tais como os rizóides (que servem para fixação do fungo) e estruturas que resistem
mais às condições adversas, tais como os esclerócitos e os clamidosporos.
Esporângios
Esporângios
jovens
maduros
esporo
hifa
rizóides micélio
Os bolores podem também apresentar estruturas de origem sexuada, tais como esporos
(zigosporos, ascosporos e basidiosporos). Outras estruturas podem também ser vistas nas Figuras
4 e 5.
Mucor Rhizopus
esporangiosporo
esporângio
columela
esporangióforo
rizóide
Penicillium Aspergillus
conidiosporos
esterigma
vesícula aspergilar
métulas
esporangióforo
hifa basal
Algumas características fisiológicas: os bolores são, com raras exceções, aeróbicos. Adaptam-
se muito bem a alimentos ácidos, embora proliferem em uma ampla faixa de pH. Com relação à
temperatura, preferem ambientes na faixa de 20oC a 30oC. Grande número de bolores proliferam
em temperatura de refrigeração. Os bolores, de modo geral, não se adaptam às temperaturas
mais elevadas. São capazes de se multiplicar em ambientes com baixa disponibilidade de água.
Leveduras
São denominadas leveduras, os fungos unicelulares, conhecidos como fermentos. São também
amplamente distribuídas na natureza na água, no solo, nas plantas, no ar e nos animais. De modo
geral, são encontradas em maior número nas frutas e nas verduras. São utilizadas para a fabricação
de bebidas, pães e outros produtos fermentados, já que, na ausência do ar, fazem a fermentação
alcoólica. Podem provocar, também, deterioração de alimentos e bebidas. Algumas espécies são
patogênicas, causando doenças ao homem, mas que não são transmitidas por alimentos.
Dimensões: variam de 2 a 20 micra, podendo medir 100 micra de comprimento. A largura varia
geralmente de 1 a 9 micra.
Morfologia são encontradas sob diferentes formas, sendo a oval a mais freqüente.
Citologia: as células são eucarióticas. Podem apresentar cápsulas, como as bactérias. A parede
celular contém glucana, manana, lipídios e fosfatos. A quitina pode estar presente.
Vírus
Os vírus são microrganismos muito pequenos (em média 0,1 micra), que são observados apenas
em microscópio eletrônico.
Os vírus não possuem estrutura celular como os outros microrganismos. São constituídos por
ácido nucléico (DNA ou RNA), circundado por uma camada protéica (cápside) e são incapazes de
produzir ATP (adenosina trifosfato), ou seja, energia necessária para as atividades de uma célula
ou organismo superior. Assim, precisam de uma célula viva para se replicar, da qual utilizam as
estruturas celulares que lhes faltam e o ATP da célula parasitada. Utilizam células de animais,
vegetais e mesmo de microrganismos para se replicarem, porém são hospedeiros específicos (o
vírus da gripe afeta só o homem, enquanto o vírus da raiva, todos os mamíferos); os vírus que
afetam os vegetais ou os microrganismos não afetam os animais. Os vírus também possuem
organotropismo, ou seja, especificidade por órgãos ou tecidos animais. A especificidade dos
vírus que afetam os microrganismos é tal que permite a classificação de bactérias por fagotipos
(bacteriófagos). São inativos em alimentos, ou seja, não se multiplicam, nem se replicam.
Nos alimentos provocam problemas na fabricação de produtos tais como iogurtes e queijos, pois
os bacteriófagos destróem as células das culturas starter. Os vírus patogênicos como da hepatite
A, da poliomelite e os causadores da gastroenterite (rotavírus e vírus Norwalk) podem ser
veiculados ao homem por água e alimento.
Parasitos
Entre os parasitos encontram-se, principalmente, os protozoários e os helmintos. Os protozoários
são microscópicos e têm tamanho variado. São unicelulares, eucariotas e heterotróficos quanto
ao tipo de alimentação, em sua maioria. Sua reprodução ocorre de forma assexuada (por divisão
binária, principalmente) e/ou sexuada (por fecundação ou singamia). Geralmente ocorrem onde
a umidade está presente (todos os tipos de coleção de água e solo).
Os helmintos são organismos multicelulares, cuja forma infectante pode ou não ser microscópica.
Os helmintos podem alcançar dimensões significativas e produzem ovos e outras formas
infectantes (como cisticercos, no caso da Taenia solium), durante o seu ciclo biológico.
Alguns parasitos são transmitidos pelos alimentos, sendo as vias de transmissão e as formas de controle
similares aos das bactérias e vírus. Como esses últimos, os parasitos não se multiplicam nos alimentos.
Príons
Existem outros agentes infectantes de importância para os alimentos, como as rickettsias e os
príons, de ocorrência mais rara. As rickettsias, apesar de apresentarem uma estrutura celular, são
incapazes de produzir ATP, por isso também são parasitos intracelulares obrigatórios. A Coxiella
burnetii é uma rickettsia responsável por doença pulmonar no homem, pode ser veiculada por
leite bovino. Os príons apresentam estrutura protéica capaz de se multiplicar no organismo do
hospedeiro, interferindo com o impulso nervoso. É um dos agentes da Encefalopatia Espongiforme
Bovina (EEB, “vaca louca”, em inglês BSE). O príon é transmissível pela carne. É termorresistente
e o seu controle é realizado obrigatoriamente na produção animal.
Com relação ao pH
As bactérias e os fungos, em geral, preferem ambientes (matrizes) neutros. Entretanto, alguns
deles têm afinidade para ambientes ácidos (pH menores que 5,0), sendo raro os que preferem os
básicos (pH acima de 8,0). Dentre os microrganismos, os fungos (bolores e leveduras) são menos
exigentes quanto ao pH do que as bactérias, o que explica o seu papel na deterioração de frutas.
Os microrganismos podem ser acidófilos ou basófilos, ou seja, têm afinidade para ambientes e
matrizes ácidas ou básicas. Além da alteração de pH, a presença de moléculas não dissociadas de
ácidos, em especial os orgânicos, também inibem ou provocam a morte das células de
microrganismos. Esse fato explica o uso de conservadores ácidos em produtos com pH ácido.
Existem microrganismos acidúricos.
Bactérias
Gênero Pseudomonas. Vive especialmente no solo e na água, salgada ou doce. Muitas espécies
multiplicam-se bem em temperaturas de refrigeração, algumas produzem pigmentos fluorescentes
e são fitopatogênicas. Pseudomonas aeruginosa é considerado patógeno humano oportunista,
ou seja, é capaz de causar doença quando existe uma alteração da microbiota natural ou quando
as defesas naturais do organismo humano estão prejudicadas, como é o caso de queimados, nos
quais a continuidade da epiderme está lesada e as partes mais profundas da derme e abaixo da
mesma estão expostas.
Pseudomonas sp., de modo geral, são importantes na deterioração de pescado, carnes e derivados,
aves, leite e derivados, mantidos sob refrigeração, pois são psicrotróficas e produzem enzimas
proteolíticas e lipolíticas. São responsáveis pelo aparecimento de limosidade superficial e odores
desagradáveis. Pseudomonas fluorescens, freqüentemente, é implicada na deterioração de carnes
in natura, com produção de pigmento esverdeado.
Gênero Alcaligenes. São encontradas no trato intestinal de animais de sangue quente e frio,
águas frescas e produtos de laticínios. Algumas espécies são psicrotróficas, podendo estar
associadas a outras espécies na deterioração de pescado, produtos de laticínios, carnes e derivados.
Alteração viscosa no leite pode ocorrer por crescimento de Alcaligenes viscolatis, quando o produto
é mantido sob refrigeração por longo período.
Gênero Brucella. É encontrada no solo. Provocam a brucelose, através do contato com portador
humano, ou pelo consumo do leite cru e de produtos de laticínios elaborados com leite não-
pasteurizado e carnes mal cozidas. Pode ser considerado agente de doença ocupacional, pois
acomete com maior freqüência os jardineiros (pelo uso de adubo orgânico não compostado ) e
os trabalhadores de matadouros.
Existem três espécies que causam doenças nos animais e no homem: Brucella melitensis (caprinos);
Brucella abortus (bovinos) e Brucella suis (suínos), sendo todas patogênicas para o homem.
Gêneros Acetobacter e Gluconobacter. Compõem o grupo das chamadas bactérias acéticas, pois
produzem ácido acético a partir do etanol. São encontradas em frutas e vegetais. São importantes
na produção de vinagres, estando também implicadas na deterioração de sucos de frutas e bebidas
alcoólicas, como vinhos e cervejas, formando películas ou turvações nos mesmos. Acetobacter
aceti é uma espécie usada na produção de vinagres.
a) Coliformes. Grupo que compreende as bactérias entéricas e ambientais. Esse grupo inclui os
coliformes totais e os coliformes de origem fecal.
b) Patogênicos. Espécies dos gêneros Salmonella e Shigella, bem como sorovares das espécies
Escherichia coli e Yersinia enterocolitica são importantes por causar doenças no homem e nos
animais, principalmente veiculadas por alimentos. Inclui-se nessa classe, as E. coli não habitantes
normais do intestino, patogênicas para o homem: E. coli enteropatogênicas clássicas (EPEC), as
enterotoxigênicas (ETEC), as enteroinvasoras (EIEC), as enterohemorrágicas (EHEC) e as
enteroagregativas (EaggEC).
Certas cepas de Bacillus cereus são importantes por provocarem doenças alimentares. São
encontradas, principalmente, em cereais e produtos amiláceos.
Algumas espécies como Bacillus polymyxa e Bacillus macerans são importantes em alimentos
perecíveis, mantidos à temperatura elevada. B. stearothermophilus e B. coagulans podem causar
problemas de deterioração de produtos enlatados.
O Clostridium botulinum produz toxina (botulínica), responsável por doença alimentar grave. As
conservas caseiras são os veículos principais desta doença.
O Clostridium perfringens causa doença alimentar não muito perigosa, sendo as carnes e seus
produtos derivados os principais alimentos envolvidos.
Gênero Vibrio. O Vibrio cholerae, agente da cólera, é potencialmente epidêmico e é veiculado por
água, frutos do mar, verduras e outros contaminados com material fecal de portadores e doentes.
O Vibrio parahaemolyticus, agente de gastroenterite, é disseminado só por frutos do mar
contaminados, pois faz parte do ambiente marinho.
Gênero Aeromonas. Prefere temperaturas ambientais, mas apresenta multiplicação quando sob
refrigeração. Tem como habitat as águas e pode contaminar vegetais, carnes, pescado e aves.
Aeromonas hydrophila, além de deteriorante, pode estar associada à doença de origem alimentar.
Gênero Listeria. É também capaz de proliferar à temperatura de refrigeração dos alimentos. A espécie
Listeria monocytogenes é a mais importante, sendo patógena para o homem e veiculada pelos alimentos.
Grupo das cianobactérias. Compreende vários gêneros que têm em comum o habitat, pois são
encontrados em águas superficiais, eutrofizadas e estagnadas. As cianobactérias são também
denominadas de algas azuis ou de água doce. Várias espécies podem produzir endotoxinas, que
afetam o homem de diversas formas (hepatotoxinas, neurotoxinas etc). A microcistina é uma
ficotoxina hepatotóxica considerada cancerígena. A floração da cianobactéria nos reservatórios de
água, quando ocorre, é determinada por mudanças climáticas e teor de conteúdo orgânico disperso.
Fungos
Entre os fungos importantes para os alimentos encontramos as seguintes leveduras e bolores:
Leveduras
Gênero Saccharomyces. Espécies de Saccharomyces, como Saccharomyces cerevisiae, são utilizadas
na obtenção de bebidas destiladas (rum, vodca, uísque e outras), fermentadas (vinho, cerveja) e
na produção de fermento biológico para panificação.
Gênero Kloeckera. São comuns em frutas, caldo de cana e sucos recém-extraídos. Associadas a
processos de fermentação de sucos de fruta, principalmente no início.
Bolores
Gênero Mucor. As espécies desse gênero são encontradas no solo, esterco, frutas, vegetais e
grãos. Deterioram alimentos, especialmente carnes e produtos cárneos congelados, bem como
frutas e vegetais. Algumas espécies são usadas para a produção de alimentos orientais.
Gêneros Aspergillus e Penicillium. São os bolores mais comumente encontrados como deteriorantes
de alimentos, especialmente os vegetais, produtos cárneos e produtos de laticínios. Apresentam
coloração verde, azul, preta e amarelada na sua superfície , quando da formação de esporos. São
também encontradas nesses gêneros as espécies que produzem micotoxinas, tais como Aspergillus
flavus e Aspergillus parasiticus, produtoras de aflatoxina. Deve-se ter cuidados especiais com os
alimentos mofados. Algumas espécies, como Penicillium roqueforti e Penicillium camemberti, são
usadas na produção de queijos.
Gênero Byssochlamys. Espécies desse gênero produzem enzimas pectinolíticas, podendo provocar
a deterioração de produtos de frutas envasados, tais como purês, sucos e polpas. Por possuírem
estruturas resistentes ao calor, podem sobreviver ao tratamento térmico e se desenvolver em ambiente
com baixíssimo teor de oxigênio (característica que é exceção entre os bolores).
Gênero Cladosporium. São psicrotróficos, deteriorando alimentos sob refrigeração. São bolores
escuros que quando se desenvolvem nos alimentos provocam o aparecimento de manchas escuras
na sua superfície. A espécie C. herbarium produz manchas negras em carne de vaca.
Vírus
São problemáticos nas indústrias que trabalham com microrganismos úteis (tais como na produção
de iogurtes, queijos), pois os vírus (bacteriófagos) podem destruir as células das culturas starter.
Vírus patogênicos como da hepatite A, da poliomelite e os causadores de gastroenterites
(Rotavírus e vírus Norwalk) podem ser veiculados por água e alimentos. A veiculação alimentar
dos vírus é passiva, uma vez que os mesmos não se multiplicam, a não ser quando dentro de uma
célula viva. Os vírus assinalados como patogênicos têm uma veiculação fecal-oral, mediada ou
não pelos alimentos. Podem ser inativados biologicamente, pelo uso de temperaturas altas e por
determinadas substâncias químicas, usadas na desinfecção de superfícies. Podem também ser
sensíveis a determinadas condições, em especial pH e umidade.
A Febre Aftosa é uma doença contagiosa dos ruminantes domésticos e selvagens, causada por
um vírus da família Picornaviridae, gênero Aphtovirus. O vírus da febre aftosa (VFA) é preservado
sob refrigeração e congelamento, sendo progressivamente inativado em temperaturas superiores
a 50°C e em ambientes com pH acima de 9,0. “Desinfetantes” como o hidróxidos de sódio (2%),
carbonato de sódio (4%) e ácido cítrico (,2%) inativam esse vírus. Por outro lado, o VFA é
resistente aos iodóforos, aos compostos de amônia quaternária, ao hipoclorito e ao fenol, quando
da presença de matéria orgânica. A transmissão do VFA ao homem processa-se através de: leite,
carne e produtos cárneos, produtos apresentando pH acima de 6, quando não tratados pelo calor
e os vegetais produzidos onde circulam animais infectados.
TABELA A: Protozoários
Agente causal Nome da doença Vias de transmissão Sintomatologia clínica Medidas de Controle
Giardia lamblia Giardíase Ingestão de cistos madu- A diarréia pode ser agu- Higiene pessoal dos
ros em água contamina- da e autolimitante ou manipuladores de ali-
da com dejetos huma- crônica e persistente, mentos; proteção dos
nos, em alimentos (ver- com perda de peso e alimentos contra insetos;
duras e frutas mal lava- má-absorção de gordura utilização de água trata-
das), veiculados por e nutrientes. É mais da para consumo e pre-
moscas e baratas ou por grave em crianças e nas paro de alimentos (os
transmissão fecal-oral primoinfecções (primeira cistos são destruídos
direta (p. ex., mãos infecção). somente em água fer-
contaminadas de pesso- vente).
as infectadas).
Entamoeba Amebíase Ingestão de cistos madu- Amebíase Intestinal: Higiene pessoal dos
histolytica ros em água contamina- Diarréia com muco e/ou manipuladores de ali-
da com dejetos huma- sangue, cólicas, tenesmo mentos, combate às
nos, em alimentos (ver- e febre. Complicações: moscas, lavar bem e
duras e frutas mal lava- Perfurações, peritonite e tratar os alimentos crus,
das), veiculados por apendicite. Amebíase utilização de água trata-
moscas e baratas ou por Extra-intestinal: Abces- da para consumo e pre-
transmissão fecal-oral sos hepáticos, cutâneos, paro de alimentos.
direta (p. ex., mãos cerebrais, pulmonares e
contaminadas de pesso- renais.
as infectadas).
Toxoplasma gondii Toxoplasmose Ingestão de oocistos Toxoplasmose Ganglionar: Proteger alimentos do
esporulados presentes Aumento dos gânglios e contato com gatos,
em solo contaminado ou febre. Toxoplasmose Ocu- insetos e baratas; não
disseminados por mos- lar: Cegueira parcial ou ingerir leite cru ou carne
cas, baratas e minhocas; total. Toxoplasmose Neu- crua ou mal-cozida de
ingestão de cistos na rológica: Incoordenação, qualquer animal (o con-
carne crua ou malcozida; convulsão e morte. gelamento ou o aqueci-
ingestão de taquizoítos Toxoplasmose Congênita: mento acima de 60o C
em leite contaminado; Aborto ou nascimento de por 10 minutos,
congênita. crianças com anomalias inviabiliza os cistos).
graves.
Isospora belli Isosporose ou Ingestão de oocistos Quadros severos da Higiene pessoal dos
Isosporíase esporulados através da infecção ocorrem geral- manipuladores de ali-
água e alimentos conta- mente em crianças e mentos; evitar a conta-
minados com dejetos imunodeficientes, com minação ambiental com
humanos. febre, diarréia aquosa, fezes humanas; utiliza-
desidratação, cólicas, ção de água tratada
vômito e perda de peso. para consumo e preparo
de alimentos.
Cryptosporidium Criptosporidiose ou Ingestão ou inalação de Diarréia, perda de apeti- Higiene pessoal dos
parvum Criptosporidíase oocistos presentes em te, náuseas, flatulência manipuladores de alimen-
alimentos ou água usada e dor de cabeça. Crian- tos, principalmente em
para consumo ou recrea- ças e imunodeficientes: creches e hospitais; evitar
ção (p. ex. piscina), Quadro mais grave, com contaminação da água e
contaminados com fezes emagrecimento, má- alimentos, com fezes
humanas ou de animais; absorção, desidratação e humanas e de animais;
transmissão fecal-oral mortalidade elevada. utilização de água tratada
direta (p. ex., mãos Outras alterações: para consumo e preparo
contaminadas de pesso- Colite, apendicite, lesões de alimentos.
as infectadas); auto- pulmonares e hepáticas.
infecção.
Cyclospora Ciclosporose ou Ingestão de oocistos Náusea severa, perda de Higiene pessoal dos mani-
cayetanensis Ciclosporíase esporulados através da apetite, cólicas, diarréia puladores de alimentos;
água e alimentos conta- aquosa, constipação, evitar a contaminação
minados com dejetos perda de peso, ambiental com fezes hu-
humanos. flatulência, dor nas jun- manas; utilização de água
tas e sudorese noturna. tratada para consumo e
preparo de alimentos.
Agente causal Nome da doença Vias de transmissão Sintomatologia clínica Medidas de Controle
Fasciola hepatica Fasciolose Ingestão de água e Processo inflamatório Consumir somente água
verduras aquáticas (prin- crônico do fígado e filtrada/fervida e agrião
cipalmente o agrião) dutos biliares, podendo bem lavado (lavagem
contaminadas com as causar hepatite traumá- individual das folhas),
formas larvárias proveni- tica, hemorragias, alte- principalmente em áreas
entes de ovos expelidos ração do fluxo biliar, endêmicas para
com as fezes de ovinos e cirrose e insuficiência fasciolose animal.
bovinos. hepática.
Taenia solium/ Teníase Ingestão de carne de Tontura, dor muscular, Aquisição de carne
Taenia saginata bovino (T. saginata) ou apetite excessivo, náuse- inspecionada e liberada
de suíno (T. solium), as, vômito, alargamento para consumo, não con-
crua ou malcozida, do abdômen, perda de sumir carne crua ou
infectadas com cistos peso, intoxicação alérgi- malcozida.
teciduais denominados ca, hemorragia.
cisticercos.
Taenia solium Cisticercose Auto-infecção: Ingestão Neurocisticercose: dor Higiene pessoal dos
de ovos de sua própria de cabeça, vômito, con- manipuladores de ali-
tênia, levados à boca vulsões, desordem men- mentos; impedir o aces-
por mãos contaminadas. tal, prostração, hiperten- so dos suínos às fezes
Heteroinfecção: Ingestão são craniana. humanas; tratamento do
dos ovos juntamente Cisticercose cardíaca: homem infectado; evitar
com alimentos e água palpitações, ruídos e contaminação da água e
contaminados com respiração alterada. alimentos, com fezes
dejetos humanos; disse- Cisticercose ocular: humanas; utilização de
minação dos ovos por perda parcial ou total da água tratada para consu-
moscas e baratas. visão, catarata, perda do mo e preparo de alimen-
olho. tos.
Cisticercose muscular:
dor, fadiga e cãibras
Ascaris Ascaridíase ou Ingestão de água ou Por larvas: Principalmente Higiene pessoal dos
lumbricoides Ascariose alimentos contaminados em crianças. Pneumonia manipuladores de ali-
com ovos contendo a com febre e tosse com mentos; tratamento do
larva infectante; catarro sanguinolento. homem infectado; evitar
veiculação dos ovos Por vermes adultos: contaminação da água e
através de moscas e Reações alérgicas com alimentos, com fezes
baratas; transmissão edema, urticária, convul- humanas; utilização de
fecal-oral direta (mãos sões; subnutrição, obs- água tratada para consu-
contaminadas). trução intestinal, man- mo e preparo de alimen-
chas cutâneas tos.
Trichuris trichiura Tricuríase Ingestão de ovos presen- Dor abdominal, Higiene pessoal dos
tes em alimentos ou disenteria, sangramento, manipuladores de alimen-
água contaminados com prolapso retal, perda do tos; tratamento do homem
fezes humanas; transmis- apetite, anemia, desnu- infectado; evitar contami-
são fecal-oral direta (p. trição e desenvolvimento nação da água e alimen-
ex., mãos contaminadas retardado, obstrução do tos, com fezes humanas;
de pessoas infectadas); cólon e perfuração intes- utilização de água tratada
ovos disseminados pela tinal para consumo e preparo
mosca doméstica. de alimentos.
Trichinella spiralis Triquinelose ou Ingestão de carne de Quadro intestinal: Consumo de carne suína
Triquinose suínos (ou de caça) enterite aguda, diarréia bem cozida; evitar o
malcozida, especial- e febre. consumo de carne de
mente na forma de Quadro reumático ou caça; somente consumir
embutidos, contendo a muscular: dor muscular, carne suína de procedên-
larva infectante insuficiência respiratória, cia conhecida, onde os
encistada. miocardite, podendo animais são alimentados
causar a morte. com ração.
Os ciclos de vida dos protozoários mencionados na Tabela A encontram-se nas figuras 1 a 6 e dos
helmintos, nas figuras 7 a 12.
Ciclo biológico e mecanismos de transmissão: 1. Ingestão de cistos por meio de água e alimentos contaminados. 2. Transmissão
direta através das mãos. 3. Colonização na mucosa do intestino delgado. 4. Eliminação de cistos (forma infectante).
Ciclo biológico: 1. Se inicia pela ingestão de cistos maduros, através de alimentos e água contaminados. 2. Chegam ao final do
intestino delgado ou início do intestino grosso, onde ocorre o desencistamento, 3. com a liberação dos trofozoítos. 4. Os
trofozoítos podem se multiplicar e colonizar o intestino grosso ou se transformar em cistos, 5. que são eliminados já maduros
juntamente com as fezes. A) Os trofozoítos de Entamoeba histolytica vivem na luz do intestino grosso, como comensais. B)
Ocasionalmente, os trofozoítos podem penetrar na mucosa e produzir ulcerações intestinais, C) ou em outras regiões do
organismo, como fígado, pulmão, rim e cérebro.
Os felídeos são os únicos hospedeiros definitivos conhecidos para os estágios sexuados do T. gondii, sendo a principal fonte de
disseminação da infecção. 1. Os gatos se infectam, principalmente, através da ingestão de cistos presentes nos tecidos dos
hospedeiros intermediários (carnivorismo), 2. e liberam os oocistos não esporulados pelas fezes. 3. Os oocistos esporulam
(tornam-se infectivos) no meio ambiente, após um período de cerca de quatro dias. Os oocistos podem sobreviver no meio
ambiente por vários meses, porém são resistentes aos desinfetantes e à dissecação. 4. São ingeridos pelos hospedeiros interme-
diários, onde o parasito forma cistos nos tecidos, principalmente nos músculos, miocárdio e cérebro. A infecção humana pode
ser adquirida, principalmente, A) através da ingestão de carne crua ou mal cozida infectada com cistos de T. gondii, B) pela
ingestão de oocistos esporulados presentes em alimentos ou água contaminados com fezes de felinos, e C) por transmissão
transplacentária. A infecção humana pode ocorrer, ainda que raramente, através de transfusão de sangue, transplante de órgãos
ou acidentes de laboratório.
1. Os oocistos maduros são ingeridos juntamente com alimentos e água contaminados com fezes humanas. Os esporozoítos
liberados dos oocistos invadem a mucosa do intestino delgado, onde ocorre a evolução do parasito até a formação de oocistos.
2. Os oocistos são liberados pelas fezes, ainda imaturos, 3. e esporulam (tornam-se infectantes) no meio ambiente.
Oocisto Esporozoito
Ingestão
Trofozoito d e
a b c
Saída do hospedeiro
pelas fezes
Auto-infecção
Merozoito
Ciclo
assexual
Oocisto de parede Oocisto de parede
grossa (esporulado) fina (esporulado) Meronte tipo II
j k f
Enterócitos
do hospedeiro
Ciclo
sexual
g
Microgameta
Merozoitos
Zigoto
h Enterócitos
do hospedeiro
Macrogameta
Os oocistos são liberados pelo hospedeiro infectado através das fezes. Após a ingestão ou inalação do oocisto por um
hospedeiro suscetível, ocorre o excistamento(a). Os esporozoítos são liberados e parasitam as células epiteliais do trato
gastrointestinal (b, c). Nestas células, o parasito realiza a multiplicação assexuada (d, e, f) e sexuada (g, h). Após a multiplicação
sexuada, desenvolvem-se os oocistos, que esporulam dentro do hospedeiro infectado e são excretados (j). Esta esporulação
interna permite a ocorrência da auto-infecção caso o oocisto tenha a parede delgada (k).
Ingestão de
água ou
alimentos
contaminados
Oocisto
esporulado
framboesa
ervas água
Oocistos esporulados
entram na cadeia alimentar
Oocistos esporulam no
ambiente
Excreção de
Estágio Infectivo
oocistos não
esporulados
Estágio de diagnóstico pelas feses
Desencistamento
Ciclosporíase (Cyclospora cayetanensis): Quando recém passado pelas fezes, o oocisto não é infectivo (1). No meio ambiente (2)
a esporulação acontece depois de dias ou semanas à temperaturas de 22º a 32ºC (3). Produtos frescos e água podem servir como
veículos de transmissão (4) e o oocisto esporulado é ingerido (em alimento ou água contaminados) (5). O oocisto desencista no
trato gastrintestinal, liberando os esporozoitos que invadem as células epiteliais do intestino delgado (6). Dentro das células,
realizam a multiplicação assexuada e o desenvolvimento sexual para oocistos imaturos, que são liberados pelas fezes (7). Os
mecanismos potenciais de contaminação de alimentos e água ainda estão sob investigação.
Fonte: Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos (INPPAZ) - Divisão de Prevenção e Controle de Doenças. - www.inppaz.org.br
1. Os vermes adultos, presentes nos dutos biliares, liberam os ovos que, com a bile, passam para o intestino e são eliminados com
as fezes. 2. Os ovos, encontrando condições favoráveis de temperatura e umidade, tornam-se embrionados, 3. e dão origem ao
miracídio, que só sai do ovo quando o mesmo entra em contato com a água. 4. O miracídio penetra no caramujo aquático
(hospedeiro intermediário), sofrendo diversas transformações em seu interior, até atingir o estágio de cercaria. 5. As cercarias
saem do caramujo, perdem a cauda e se encistam (metacercária) aderidas à vegetação aquática. 6. O homem ou os animais se
infectam ao beber água ou comer verduras com metacercárias. 7. Estas desencistam-se no duodeno, perfuram a parede do mesmo,
caem na cavidade peritoneal, perfuram a cápsula hepática, migram pelo fígado e, 8. dois meses após a infecção, caem nos dutos
biliares, onde se transformam em adultos.
Adultos
Escólex se fixa
no intestino
Ingestão
Cisticerco no músculo
Circulação
BOVINOS
Ovos embrionados
ou proglotes
ingeridas
Oncosferas
Teníase (Taenia saginata): O homem é o único hospedeiro definitivo da Taenia saginata. O verme adulto (comprimento: usual-
mente 5m ou menos, até 25m) se aloja no intestino delgado, onde se fixa pelo escolex. Produz proglotes (cada verme tem 1.000
a 2.000 proglotes) que amadurecem, se tornam grávidas, se destacam do verme e migram para o ânus ou são liberados pelas fezes
(aproximadamente, 6 por dia). Os ovos contidos na proglote grávida (80.000 a 100.000 ovos por proglote) são liberados
depois que as proglotes estão livres e passaram pelas fezes. Os ovos podem sobreviver por meses a anos no meio ambiente. O gado
e outros herbívoros se infectam ao ingerir a vegetação com ovos (ou proglotes). No intestino do animal, os ovos liberam a
oncosfera que evagina, invadindo a parede intestinal, e migram para os músculos estriados, onde se desenvolve em cisticercos.
O cisticerco pode sobreviver por vários anos no animal. O homem se infecta pela ingestão de carne crua ou pouco cozida. No
intestino do homem, o cisticerco se desenvolve, por cerca de 2 meses, em verme adulto que pode sobreviver por mais de 30 anos.
Fonte: Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos (INPPAZ) - Divisão de Prevenção e Controle de Doenças. - www.inppaz.org.br
Cisticercose Humana
Cisticerco nos
pulmões,
cérebro, olhos
Escólex se fixa
Circulação
no intestino
Oncosfera
SERES HUMANOS Proglotes
grávidas
A
Cisticerco no músculo Ovos embrionados
ou proglotes
ingeridas
Ovos nas
fezes
Circulação
SUÍNOS
Ovos embrionados
ou proglotes
Oncosfera ingeridas
A = auto-infecção
Teníase (Taenia solium) Seu ciclo de vida é semelhante ao da T.saginata. Os adultos (comprimento de 2 a 7 m., menos de 1000
proglotes, menos ativas que os da T.saginata, cada uma com 50.000 ovos, longevidade de até 25 anos) se desenvolve não só no
homem mas também em outras espécies animais (macacos, hamster). O cisticerco não se desenvolve só em músculo estriado, mas
também no cérebro, fígado e outros tecidos dos suínos e outros animais, incluindo o homem. O homem desenvolve teníase
quando ingere carne de porco contendo cisticerco pouco cozida (sub processada). Desenvolve a cisticercose pela ingestão de
ovos de T.solium, tanto por consumir alimentos contaminados por material fecal como por autoinfecção. No último caso, o
homem infectado com T.solium adulto ingere os ovos produzidos pelo verme, tanto através de contaminação fecal ou, mais
discutível, de proglotes levadas ao estômago por presistaltismo reverso.
Fonte: Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos (INPPAZ) - Divisão de Prevenção e Controle de Doenças. - www.inppaz.org.br
Ascaridíase (Ascaris lumbricoides): O verme adulto (1) vive no lúmen do intestino delgado. A fêmea pode produzir até 240.000
ovos/dia, os quais são liberados pelas fezes (2). Os ovos férteis embrionam e se tornam infectantes após 18 dias a algumas
semanas (3), na dependência das condições ambientais (ótimo, solo úmido, quente e sombreado). Depois de serem ingeridos
(4), as larvas eclodem (5), invadem a mucosa intestinal e são carreadas, via porta e então pela circulação sistêmica, aos pulmões
(6). A larva amadurece nos pulmões (10 a 14 dias), penetra pelas paredes alveolares, ascendem a árvore brônquica até a faringe
e são engolidos (7). Uma vez chegando ao intestino delgado, se desenvolvem em vermes adultos (1). São necessários cerca de
2 a 3 meses da ingestão do ovo infectivo até a ovoposição da fêmea adulta. Os vermes adultos podem viver 1 a 2 anos.
Fonte: Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos (INPPAZ) - Divisão de Prevenção e Controle de Doenças. - www.inppaz.org.br
Tricuríase (Trichuris trichiura): Os vermes adultos (aproximadamente 4cm de comprimento) vive no ceco e no colon ascendente.
As fêmeas dos vermes no ceco, põem 3.000 a 20.000 ovos por dia. Os ovos não embrionados são libererados pelas fezes. No solo,
embrionam e se tornam infectivos em 15 a 30 dias. Após a ingestão (mãos ou alimentos contaminados com terra), os ovos
alcançam o intestino delgado e liberam larvas que amadurecem e se estabelecem como adultos no colon. Os vermes adultos se
fixam neste local, com a porção anterior ligada à mucosa. As fêmeas começam a colocar ovos 60 a 70 dias após a infecção. O
verme adulto pode viver por cerca de 1 ano.
Fonte: Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos (INPPAZ) - Divisão de Prevenção e Controle de Doenças. - www.inppaz.org.br
Larva encistada
em músculo
estriado
Porcos
Larva liberada
Carnívoros Carnívoros
no intestino
delgado
Roedores
Larva encistada em
músculo estriado
Adultos no
intestino
Estágio infectivo Circulação
delgado
Triquinelose (Trichinella spiralis): A triquinose é adquirida pela ingestão de carne contendo cistos (larvas encistadas) de
Trichinella (1). Após a exposição ao ácido gástrico e à pepsina, a larva é liberada do cisto (2) e invade a mucosa do intestino
delgado, onde se desenvolve em verme adulto (3) (as fêmeas tem 2,2 mm de comprimento e os machos, 1,2mm; tempo de vida,
4 semanas). Após 1 semana, as fêmeas liberam larvas (4) que migram para os músculos estriados e encistam (5). O encistamento
é completado em 4 ou 5 semanas e a larva encistada pode permanecer viável por vários anos. A ingestão de larvas encistadas
perpetuam o ciclo. Os ratos e roedores são os responsáveis primários na manutenção da endemicidade desta infecção. Animais
carnívoros/onívoros, tais como os suínos ou os veados, se alimentam de roedores ou da carne de outros animais infectados.
Espécies diferentes de animais estão envolvidas no ciclo de vida de espécies diferentes de Trichinella. O homem é infectado
acidentalmente, quando consome carne insuficientemente processada destes animais carnívoros (ou por consumo de alimento
contaminado por tal carne).
Fonte: Instituto Pan-Americano de Proteção de Alimentos (INPPAZ) - Divisão de Prevenção e Controle de Doenças. - www.inppaz.org.br
Príons
São agentes infecciosos não convencionais que, ao contrário dos agentes comuns, não induzem
resposta inflamatória ou imunológica. São responsáveis pelas encefalopatias espongiformes bovina
(EEB) e humana. Encefalopatia espongiforme é uma enfermidade infecciosa neurodegenerativa,
também conhecida como Doença do Príon, ocorrendo tanto no homem como em animais. A doença
pode ser fatal e é caracterizada microscopicamente por intensa vacuolização de neurônios, dando
ao tecido cerebral aspecto de esponja, daí ser referida como encefalopatia espongiforme.
A teoria do príon surgiu quando uma proteína resistente às proteases (PrPsc) foi identificada em
cérebros infectados de animais com scrapie (doença que afeta ovelhas e carneiros). Posteriormente,
uma proteína semelhante (PrPc), sintetizada pela própria célula, com peso molecular diferente,
mas com a mesma seqüência de aminoácidos, foi identificada em neurônios de animais sadios.
Isso explica a falta de resposta imunológica ao agente das encefalopatias espongiformes
transmissíveis (EET). A PrPsc pode ser gerada na própria célula por agentes mutantes da proteína
ou penetrar na célula como agente infeccioso (PRÍON), vindo de outro hospedeiro. A PrPsc interfere
no metabolismo celular formando complexos químicos que se acumulam no citoplasma, formando
as vesículas invisíveis no exame histológico.
O príon é transmissível pela carne, sendo o seu controle realizado, obrigatoriamente, na produção
animal. É extremamente resistente aos meios convencionais de desinfecção, como calor, formalina,
radiações ultravioleta e ionizantes, além de outros agentes químicos e físicos.
Aspectos higiênicos
São as determinações microbianas que permitem avaliar higienicamente um produto, no que se
refere à aplicação de Práticas de Higiene em toda a sua cadeia de produção e exposição ao
consumo. Baseia-se em determinações analíticas de contagem total de bactérias (carga microbiana
total de mesófilos e/ou termófilos e/ou psicrotróficos), contagem total de fungos (bolores e
leveduras), coliformes totais (ambientais). A avaliação de presença/ausência ou de números
baixos desses microrganismos não é suficiente e não está diretamente relacionada com conclusões
sobre o risco do consumidor. Como indicadores higiênicos, estão relacionados com qualidade do
processamento / etapa / procedimento e com a possível deterioração de produtos.
É importante assinalar que a alteração / deterioração é melhor avaliada por parâmetros físicos e
químicos, como caracteres organoléticos, pH, provas de rancificação, produção de gás sulfídrico,
amônia, indol etc. A introdução desses critérios nas normas e padrões legais é questionável, uma
Microrganismos úteis
São usados nos processos de transformação de matérias-primas em produtos alimentícios. São
microrganismos controlados, cujo metabolismo sobre os componentes da matéria-prima em
questão dá como resultado final um mesmo metabólito, não tóxico, porém alimentício. São usados
para a fermentação da massa de pão e similares, usados na fabricação de cervejas e chope, de
iogurte, de queijos, de outros produtos designados de fermentados. Alguns deles, como o levedo
de cerveja, têm propriedades consideradas medicamentosas; como fonte de vitaminas do complexo
B e como o iogurte, protetor e restaurador da microbiota intestinal (probióticos). Esse grupo
não faz parte das normas e padrões legais, mas é importante para controle de processos industriais.
Indicadores de risco
São os microrganismos que podem produzir e liberar toxina no produto, como a enterotoxina
estafilocócica, ou causar uma toxi-infecção, como o Bacillus cereus e o Clostridium perfringens
(cujo indicador é o clostrídio sulfito redutor a 460C), ou ainda causar uma infecção, como a
Salmonella. Como indicadores de risco, são considerados os de maior prevalência e incidência de
casos de DTA e/ou os de maior capacidade de disseminação (larga distribuição geográfica, como
as Salmonelas). O Staphylococcus aureus, Bacillus cereus e Clostridium perfringens são de
distribuição restrita, ou seja, os surtos acontecem predominantemente em comensais de uma
mesma refeição, sendo raro surtos “em aberto”, enquanto a salmonelose é um problema de
saúde pública internacional. Alguns membros desse grupo podem estar incluídos nas normas e
padrões legais. São objeto da Análise de Riscos e da aplicação do Sistema de Análise de Perigos
e Pontos Críticos de Controle (APPCC/HACCP).
Toxinas biológicas
Essa avaliação compreende toxinas de várias origens, como a toxina estafilocócica (da qual o
Staphylococcus aureus é um indicador, não sendo adequada a relação direta entre a presença de
números iguais ou superiores a 105 com a presença da enterotoxina; o desenvolvimento do
microrganismo em questão é regulado por faixa de temperatura e de umidade do produto não-
linear com a produção e liberação da toxina) e a toxina botulínica (idem ao anterior, diferindo
apenas por se tratar, nesse caso, de uma bactéria esporulada, que pode estar “inerte” no produto
alimentício, ou seja, presente porém sem se multiplicar e, portanto, sem produzir e liberar toxina).
A avaliação microbiológica, portanto, pode ser direcionada para conclusões diferentes, de acordo
com o grupo que está sendo analisado e as finalidades de análise. Essas avaliações têm por base
as características intrínsecas ou internas do produto alimentício, como pH, atividade de água,
potencial de óxido-redução, substâncias antimicrobianas naturais ou adicionadas (aditivos com
ação conservadora); as características extrínsecas ou externas aos quais o produto em questão
está exposto, como embalagem, condições de tempo (validade) e temperatura de comercialização,
condições de manuseio e preparo final antes do consumo etc; a microbiota natural do produto,
uma vez que todos os nichos ecológicos têm uma microbiota específica; o processamento
tecnológico, com conseqüente emprego de processos que permitem exclusão de microrganismos,
como os térmicos, tanto brandos como extremos, de controle de multiplicação, por redução de
água, acidificação, uso de temperaturas baixas, uso de microrganismos úteis para obtenção de
outros produtos, com conseqüente alteração da microbiota natural, entre outros.
Curva de multiplicação
A multiplicação microbiana significa aumento no número total de células devido à multiplicação
dos organismos individuais em uma cultura ou em qualquer ambiente. É freqüente encontrar-se
o termo crescimento microbiano ao invés de multiplicação, como no caso da conhecida “curva de
crescimento dos microrganismos”.
B
D - fase de declínio ou morte
TEMPO
Nt = N0 x 2n , onde:
n = o número de gerações.
O valor de n pode ser calculado pela seguinte fórmula: n = t/tg, onde t é o tempo (em minutos)
de crescimento e tg é o tempo de geração, ou tempo necessário para dobrar o número de células
(em minutos).
n = t/tg = 180min/15min
n = 12
Nt = N0 x 2n
Nt = 1 x 212
Nt = 4096
Entretanto, isso ocorre em condições ideais para a multiplicação. Se houver qualquer fator inerente
ao alimento, ou ao ambiente, que faça com que o microrganismo se multiplique mais lentamente,
aumentando o tempo de geração, ao final do mesmo período de tempo o número de
microrganismos será menor.
Na fase estacionária a multiplicação é reduzida por limitação de algum fator ambiental (nutrientes,
por exemplo). A população se mantém constante.
Os fatores inerentes ao próprio alimento são também denominados parâmetros intrínsecos, como
por exemplo, o pH e atividade de água. Já os fatores inerentes ao ambiente que cerca o alimento
são denominados parâmetros extrínsecos, como por exemplo, a temperatura e a umidade relativa.
As leveduras possuem um tempo de geração (tg) de 30 minutos a três horas; maior, portanto, do
que o das bactérias. Já os bolores (fungos filamentosos), multiplicam-se mais lentamente do
que as leveduras. Dessa forma, em um alimento que forneça condições para o desenvolvimento
dos três grupos de microrganismos, as bactérias dominarão e, por conseguinte, serão a causa
primeira da deterioração de determinados alimentos. Por outro lado, leveduras e bolores são
importantes na deterioração de alimentos que não apresentam parâmetros que favoreçam o rápido
desenvolvimento das bactérias.
pH
O pH indica a concentração de H+ de um alimento ou solução, o que é representado pela equação:
pH = log 1/[H+]. Por essa equação, observa-se que quanto maior a concentração de H+ (caráter
ácido), menor é o pH. Assim, o pH é menor em alimentos ácidos. O pH varia de 0 a 14, sendo 7 o
valor que expressa a neutralidade.
A microbiota de alimentos pouco ácidos (pH > 4,5) é muito variada, havendo condições para o
desenvolvimento da maioria das bactérias, inclusive as patogênicas, bolores e leveduras.
Em alimentos ácidos (pH 4,0 a 4,5), a microbiota bacteriana já é bem mais restrita, representada por
bactérias láticas e algumas formas esporuladas do gênero Bacillus e Clostridium, cujos esporos podem
ser de baixa resistência térmica. O pH 4,5 é muito importante em Microbiologia de Alimentos, pois
assinala o valor abaixo do qual previne-se a multiplicação de Clostridium botulinum e, de modo geral,
de outras bactérias patogênicas. Nessa faixa de pH, os bolores e leveduras encontram-se em condições
ótimas para seu desenvolvimento. Nos alimentos muito ácidos (pH < 4,0), a microbiota capaz de se
desenvolver é restrita, praticamente, aos bolores e leveduras além de bactérias láticas e acéticas.
TABELA 1
Hortaliças pH
Brócolis 6,5
Aspargos 5,7-6,1
Couve- de-bruxelas 6,3
Batata 5,3-5,6
Cenoura 4,9-6,0
Milho 7,3
Azeitona 3,6-3,8
Tomate 4,2-4,3
Frutas pH
Ameixa 2,8-4,6
Figo 4,6
Laranja (suco) 3,6-4,3
Maçã 2,9-3,3
Morango 3,0-3,9
Geléia de frutas 3,5
Carnes pH
Frangos 6,3-6,4
Presunto 5,9-6,1
“Corned beef” 5,5-6,0
Salsichas Frankfurt 6,2
Bovina (moída) 5,1-6,2
Pescados pH
Atum 5,2-6,1
Camarão 6,8-7,0
Peixe fresco (maioria) 6,6-6,8
Salmão 6,1-6,3
Laticínios pH
Creme de Leite 6,5
Manteiga 6,1-6,4
Queijo 4,9-5,9
Leite 6,3-6,5
O valor absoluto de atividade de água fornece uma indicação segura do teor de água livre do
alimento, sendo esta a forma ideal de água usada pelos microrganismos. As bactérias são
usualmente mais exigentes quanto à disponibilidade de água livre, seguidas das leveduras e dos
bolores, sendo que, entre esses últimos, algumas espécies destacam-se pela elevada tolerância à
baixa Aa. A possibilidade de alteração microbiana em alimentos cessa em alimentos apresentando
Aa abaixo de 0,60, embora isso não signifique a morte de microrganismos.
O efeito dos diferentes solutos na redução da Aa difere de forma muito acentuada, o mesmo
sendo válido em relação ao efeito inibitório sobre os microrganismos.
Fonte: CHRISTIAN,1980
Existem alguns grupos de microrganismos que são particularmente resistentes a baixas Aa. São eles:
a) Microrganismos osmofílicos – necessitam de ambiente com baixa Aa, como produtos com
teores significativos de açúcar , para se desenvolver.
b) Microrganismos osmodúricos – suportam, mas não necessitam de ambientes com elevada
concentração de açúcar.
c) Microrganismos halofílicos – necessitam de ambientes com elevada concentração salina para
se desenvolver.
d) Microrganismos halodúricos – suportam ambientes com alta concentração de sal.
e) Microrganismos xerofílicos – afinidade a ambientes secos.
Fonte: Farkas,1997
Há uma grande diversidade de métodos para se medir a atividade de água em alimentos. Entretanto,
os mais empregados são os que utilizam higrômetros eletrônicos. Dentre eles, existe medidor de
Aa portátil, que, apesar de seu alto custo, apresenta boa precisão, rápida leitura e ampla aplicação
na indústria de alimentos.
Vê-se, então, que se trata de um fator importante a ser usado na conservação dos alimentos e
também permite avaliar quais microrganismos irão se desenvolver em determinados alimentos.
Pode-se, por exemplo, utilizar a exaustão, embalagens não permeáveis ao O2 submetidas a vácuo,
atmosfera com gases inertes, de aeração e carbonatação para se controlar os microrganismos
aeróbios. Esses recursos são usados largamente para queijos, vegetais, produtos cárneos e outros,
a fim de evitar os bolores (mofos) superficiais.
Fonte: ICMSF,1980.
Conteúdo de Nutrientes
Os microrganismos variam quanto às suas exigências aos fatores de multiplicação e à capacidade
de utilizar os diferentes substratos que compõem os alimentos. Assim:
Constituintes antimicrobianos
Na natureza, a estabilidade de alguns produtos de origem animal e vegetal ocorre devido à
presença de constituintes antimicrobianos. São alguns exemplos:
a) Ovo - Possui lisozima (muramidase), que destrói a parede celular das bactérias Gram-positivas.
No albúmen do ovo encontra-se a avidina, uma substância com atividade inibitória sobre algumas
bactérias e leveduras.
b) Amoras, ameixas e morangos - Possuem ácido benzóico com atividade bactericida e fungicida,
sendo mais efetivo em pH na faixa de 2,5 a 4,5.
c) Cravo - Contém eugenol, que atua contra bactérias (Bacillus, Staphylococcus aureus, Aeromonas
e Enterobactérias).
d) Canela - Contém aldeído cinâmico e eugenol, substâncias que atuam contra bolores e bactérias,
respectivamente.
e) Alho - Contém substâncias voláteis (alicinas) que apresentam atividade antimicrobiana. Atuam
sobre as salmonelas, shigelas, micobactérias, Leuconostoc plantarum, Staphylococcus aureus,
Leuconostoc mesenteroides, Bacillus cereus, Clostridium botulinum, Candida albicans, Aspergillus
flavus e Penicillium, entre outros.
f) Condimentos e frutas cítricas – A maioria dos condimentos (pimenta, orégano, cebola, coentro,
etc.) e algumas frutas, em especial a casca de frutas cítricas, contêm óleos essenciais que
apresentam atividade antibacteriana e antifúngica. É importante assinalar que o óleo (essência)
pode estar em concentrações baixas no produto natural.
Estruturas Biológicas
Constituem uma barreira para o acesso dos microrganismos às partes perecíveis de certos alimentos,
ou seja, às partes que possuem nutrientes que permitem a multiplicação dos microrganismos e
que são (teoricamente) estéreis. Exemplos:
a) cascas de sementes
b) cascas de nozes
c) casca do arroz
d) pele e pêlo dos animais
e) casca ou película das frutas.
Microbiota do alimento
A competição da microbiota inerente ao alimento atua favorecendo ou inibindo certas espécies
ou grupos de microrganismos. Bactérias láticas, por exemplo, podem produzir ácido lático e
bacteriocinas, que inibem ou eliminam certos microrganismos patogênicos presentes no alimento.
Por outro lado, alguns tipos de leveduras podem consumir os ácidos orgânicos de alimentos
ácidos, dando condições para microrganismos, que antes tinham sua multiplicação inibida pela
acidez, se multiplicarem.
Certas bactérias, como Staphylococcus aureus e Clostridium botulinum, são maus competidores e
não se desenvolvem bem em alimentos que apresentem altas contagens de outros microrganismos,
tais como alimentos crus (carne, pescado, verdura etc.).
Temperatura
A temperatura é um dos fatores ambientais que mais afetam a viabilidade e a multiplicação
microbiana. Apesar da multiplicação microbiana ser possível numa faixa de -8OC até +90OC, a
temperatura ótima da maioria dos patógenos é de 35OC. A temperatura afeta a duração da fase de
latência (lag), a velocidade de multiplicação, as necessidades nutritivas e a composição química
e enzimática das células.
Temperatura (o C)
Termófilos 40 a 45 55 a 75 60 a 90
Mesófilos 5 a 15 30 a 45 35 a 47
Psicrófilos -5 a +5 12 a 15 15 a 20
Psicrotróficos -5 a +5 25 a 30 30 a 35
O binômio U.R./temperatura não pode ser desprezado. Em geral, quanto mais próxima a temperatura
de estocagem for da temperatura ambiental, menor deverá ser a U.R., sendo o inverso também
verdadeiro, no que se refere à estocagem a baixas temperaturas.
Esse tipo de estocagem é utilizado, em muitos países, para frutas (maçãs e pêras), provocando o
retardamento da putrefação, causada por fungos filamentosos. Esse efeito se deve, provavelmente,
à inibição do etileno pelo gás carbônico. O etileno atua nas frutas como fator de maturação. A
concentração de CO2 geralmente não excede a 10%.
Atmosferas de gás carbônico também têm sido muito utilizadas para prolongar o armazenamento
de carnes. As bactérias Gram-negativas são mais sensíveis ao CO2 do que as Gram-positivas.
Atmosferas contendo misturas de CO2 e O2 têm sido mais eficazes do que atmosferas contendo
somente ar e gás carbônico.
A estabilidade e a segurança da maioria dos alimentos são baseadas em vários fatores, que visam
evitar a multiplicação dos microrganismos, impedindo a deterioração e a veiculação de doenças
pelos alimentos. As interações entre os fatores intrínsecos e extrínsecos originaram o conceito
dos obstáculos (barreiras) de Leistner. Os obstáculos normalmente considerados na conservação
dos alimentos são: temperatura (alta ou baixa), atividade de água (Aa), pH (acidificação), potencial
redox, conservantes (nitritos, sorbatos, sulfitos), atmosfera modificada, microrganismos
competitivos (bactérias láticas e produtos do seu metabolismo), número inicial (carga) de
microrganismos e o conteúdo em nutrientes. A atuação sinergética desses fatores pode melhorar
a estabilidade (aumento da vida útil) e, conseqüentemente, a qualidade do alimento, tornando-
o inócuo à saúde do consumidor.
Como os fatores que compõem os parâmetros intrínsecos e extrínsecos não são usados
isoladamente, a teoria dos obstáculos está baseada na potencialização ou diminuição do efeito
deletério sobre o microrganismo objeto de controle, considerando a interação entre eles. Por
exemplo, quanto mais rico em nutrientes e, em especial em aminoácidos, o efeito esperado do pH
e da temperatura é menor do que aquele que é alcançado quando o alimento é pobre em nutrientes.
A diminuição esperada quando da aplicação tecnológica de qualquer dos fatores é menor quando
o número inicial de microrganismos contaminantes presentes no alimento for maior do que o
esperado. A interação de pH ácido, de conteúdo ácido ou a adição de conservantes em um alimento
potencializam a ação de temperaturas altas, provocando diminuição e morte dos microrganismos
presentes em maior proporção do que quando da ausência do ambiente ácido ou da presença de
conservantes.
Características do
pH e Aa Temperatura
alimento
Muito perecíveis pH> 5,2 e Aa>0,95 < + 5ºC
Perecíveis pH 5,2-5,0 (inclusive) ou Aa < 10ºC
0,95-0,90 (inclusive)
Estáveis pH<5,0 ou Aa<0,90 Não requer refrigeração
A inativação das células vegetativas e dos esporos pelo calor úmido decorre da desnaturação de
proteínas, incapacitando a célula de se multiplicar. O calor seco age nas células por oxidação dos
componentes celulares. Os esporos são mais resistentes em função de seu maior grau de
desidratação e pela sua concentração de sais do ácido dipiconílico.
A curva de sobrevivência térmica demonstra que o tempo é fundamental para a destruição, a uma
dada temperatura, de uma população de microrganismos.
O calor é utilizado em vários métodos de conservação e preparo dos alimentos, tais como: cocção,
pasteurização, esterilização, secagem e concentração. Nesses métodos, ocorre a eliminação total
ou parcial dos microrganismos, de acordo com o grau de aquecimento (tratamento térmico)
dado ao alimento.
Cocção (Cozimento)
A cocção é um processo de uso de temperaturas altas largamente utilizado, em especial para o
preparo final do produto, antes do consumo. São várias as formas de cocção usadas: fervura,
fritura, assamento etc.
É importante assinalar que a inativação dos microrganismos pelos processos de cocção são efetivos
na diminuição/eliminação das formas vegetativas de bactérias e fungos e de vírus entéricos,
porém a segurança (inocuidade) dos alimentos depende também dos cuidados na manipulação,
exposição e conservação dos mesmos até o consumo.
Pasteurização
É um tratamento térmico que elimina grande parte dos microrganismos presentes no alimento.
Emprega temperaturas inferiores a 100ºC, sendo utilizado nos seguintes casos:
No caso dos alimentos muito ácidos, os microrganismos patogênicos não sobrevivem ou não se
desenvolvem (como o Clostridium botulinum) e os deteriorantes do produto são as leveduras, os
bolores, bactérias láticas e acéticas, facilmente eliminadas pelo calor (faixa de 60-90ºC). Assim,
com esse tratamento, o produto pode ser mantido em temperatura ambiente (caso de vinagre,
picles e conservas ácidas).
No caso dos alimentos ácidos, os patógenos também não resistem (ou não se desenvolvem como o
Clostridium botulinum), em função da acidez (pH). Os deteriorantes capazes de se multiplicar são as
leveduras, os bolores, as bactérias láticas e acéticas e alguns esporulados, tais como Bacillus coagulans,
e certas espécies de Clostridium. Os esporos desses microrganismos não são muito resistentes, mas,
como podem se desenvolver no produto, precisam ser destruídos. Nesses casos, são usadas temperaturas
de 100oC (banho-maria) no tratamento térmico. O pH, entretanto, é um fator crítico e deverá ser
sempre inferior a 4.5 neste tipo de tratamento, pois acima desse valor, o esporo de Clostridium
botulinum, que não é destruído, pode germinar e produzir toxinas, causando quadros de toxinose.
Esse tipo de processamento é feito nos alimentos apertizados (embalados em latas ou vidros),
após ou antes da embalagem, como no processamento asséptico (sucos em embalagem tetra-
brick), onde o produto é pasteurizado e, posteriormente, envasado em embalagem esterilizada e
em ambiente asséptico.
A pasteurização é um processo que pode ser conduzido nas cozinhas e outros locais onde se
prepara o alimento para consumo. Por exemplo, para a pasteurização de ovos ou gemas e de
outros produtos líquidos, de maior ou menor viscosidade, a utilização de banho-maria, com
agitação ou mistura constante do produto permite alcançar a temperatura e o tempo necessários
para a segurança do produto final. Apesar do processo poder ser realizado nesse nível de preparação
de refeições, é importante assinalar que o produto, após processamento, torna-se
microbiologicamente mais vulnerável, caso ocorra uma recontaminação por patógenos.
A elaboração de conservas em meio ácido é processo conduzido também pelos responsáveis por
refeições. Entretanto, o processo não é conduzido como anteriormente descrito. Uma forma de
controle que tem se mostrado efetiva é considerar a conserva artesanal ou caseira, uma
semiconserva, o que significa que deverá ser mantida sob refrigeração.
Esterilização
A esterilização tem por finalidade a destruição total dos microrganismos presentes. Como isso
implica a eliminação dos esporos bacterianos, são necessárias temperaturas elevadas, acima de
100oC, o que se consegue com uso das autoclaves, que trabalham com o calor sob pressão.
Observou-se anteriormente, no caso dos alimentos ácidos e muito ácidos, que temperaturas até
100oC são suficientes para que os alimentos apertizados mantenham-se estáveis à temperatura
ambiente. Para os produtos pouco ácidos (ervilhas, salsichas, almôndegas, sardinhas e outros
produtos enlatados), que têm pH acima de 4,5, há necessidade de destruir os esporos de Clostridium
botulinum, patógeno de maior resistência térmica. Assim, temperaturas entre 115-120oC, devem
ser usadas, por tempo suficiente.
Para calcular o tratamento necessário para esterilizar um produto é preciso conhecer a resistência
do microrganismo alvo, através do seu valor D e Z e determinar a curva de penetração de calor do
produto. Tendo-se esses dados, é possível calcular o valor de F0 (tempo correspondente a 121,1oC
do processo térmico).
Quando se aumenta a temperatura do processo em “1 valor Z”, o tempo do processo pode ser
diminuído 1 ciclo logarítmico ou 10 vezes, ou seja, caso estejamos processando um produto a
118oC/15 minutos e o Z do microrganismo alvo for 8oC, se aumentarmos a temperatura para
126oC, o tempo equivalente do processo será de apenas 1,5 minutos.
P
V 1
P
2
Secagem
Por meio da secagem ocorre a eliminação da água pelo calor, que pode ser conduzido através do
ar quente (secadores adiabáticos) ou de superfície sólida. No primeiro caso, são empregados:
a) secadores de cabina e secadores de túnel (trabalham entre 45-85oC), muito usados para
produção de massas alimentícias, desidratação de vegetais e de carnes;
c) fornos secadores, usados para farinhas; e outros tipos de equipamentos mais sofisticados
(puff-dryer e foam mat dryer).
Deve-se ter muito cuidado com o local de estocagem dos produtos desidratados, bem como com
a embalagem, pois esses produtos absorvem água com facilidade. Como a Aa é o fator que os
mantém estáveis, a absorção de umidade do ambiente poderá provocar o desenvolvimento de
bolores.
Concentração
A concentração é um processo que remove somente parte da água (30 a 60%) dos alimentos,
diminuindo, portanto, a Aa do mesmo. É usada para produção de sucos concentrados, doces em
massa, produtos de tomate (molhos, catchup), geléias e outros.
A evaporação é o processo mais utilizado para a concentração. Para isso, são utilizados
evaporadores, que podem ou não trabalhar sob vácuo. A destruição dos microrganismos durante
o processo depende da temperatura. Nos evaporadores a vácuo, nos quais se pode utilizar
temperaturas baixas (50-60oC), bactérias termófilas poderão, inclusive, se multiplicar. Já a 100oC,
os esporos não são destruídos, ocorrendo somente a destruição de células vegetativas.
Como a quantidade de água disponível nesses tipos de alimentos ainda permite o desenvolvimento
de microrganismos (especialmente leveduras osmofílicas), são necessários métodos
complementares para sua conservação. Assim, os sucos concentrados são congelados ou
adicionados de conservadores; os doces em massa podem sofrer envasamento a quente (tratamento
térmico).
A concentração é possível de ser conduzida nos processos de cocção usados em cozinhas, por
exposição prolongada do produto às fontes de calor, comumente usadas para o preparo de
refeições. São exemplos de pratos prontos obtidos por esse processo os doces em pasta (goiabada
e similares).
T = temperatura
O Q10 ~ 1,5-2,5 para os sistemas biológicos. Isso significa que a velocidade dobra a cada
aumento de 10oC.
Refrigeração
Na refrigeração utilizam-se temperaturas superiores às do ponto de congelamento. Pode ser
usada como meio de conservação básica (como no caso das carnes e pescado fresco); como
conservação temporária, até que se aplique outro método (como no leite cru), ou pode ser usada
como método de conservação complementar (como no caso do leite pasteurizado).
A refrigeração não pode ser considerada como forma de eliminação de microrganismos, pois são
poucos os que têm sua viabilidade inibida ou prejudicada, como é o caso do Vibrio parahaemolyticus
e das formas vegetativas do Clostridium perfringens. Na maioria dos microrganismos apenas a
multiplicação ficará inibida (caso dos mesófilos e dos termófilos). Alguns mesófilos, ambientais
e psicrotróficos, entretanto, poderão se multiplicar mais ou menos rapidamente, dependendo da
temperatura utilizada na câmara.
a) A umidade relativa pode ter influência sobre o produto que está sendo conservado. Se a
umidade relativa é baixa, pode ocorrer a perda de umidade do alimento (ressecamento), ao
passo que uma umidade relativa alta facilita a multiplicação microbiano.
b) A circulação do ar é necessária para que haja uma distribuição uniforme da temperatura dentro
do equipamento de refrigeração. Esse ponto é muito importante, pois se a circulação é fraca, a
diminuição da temperatura no interior do alimento pode ser lenta, aumentando o risco de
desenvolvimento de patógenos.
Congelamento
No congelamento, utilizam-se temperaturas mais baixas do que na refrigeração. Na prática, as
temperaturas usadas situam-se entre -10 a -40°C. No processo de congelamento, ocorre uma
redução da população microbiana. A morte dos microrganismos decorre, principalmente, devido
aos cristais de gelo formados na célula; à desnaturação de enzimas; à perda de gases da célula;
ao abaixamento da Aa e a outros fatores. As bactérias Gram-negativas, especialmente as aeróbias
estritas (como as Pseudomonas), são as que mais reduzem seu número durante o congelamento.
De um modo geral, os alimentos congelam entre 0ºC e -4°C. O congelamento pode ser feito de
modo lento ou rápido. No congelamento lento (3 a 12 horas), há formação de cristais grandes
de gelo no interior da célula e, principalmente, nos espaços intercelulares. Esses cristais irão
afetar fisicamente a célula, podendo causar reações indesejáveis. No congelamento rápido (1 a 3
minutos), tem-se um abaixamento brusco da temperatura, havendo assim formação de pequenos
cristais de gelo, principalmente no interior da célula.
a) congelamento por ar, que pode ser o ar sem movimento (geladeira, freezer) ou ar insuflado
(túneis de congelamento);
b) congelamento por contato indireto, feito através de placas resfriadas por uma substância
refrigerante;
c) congelamento por imersão, que pode ser feito diretamente no meio refrigerante, ou a
pulverização do líquido sobre o produto. Emprega-se, geralmente, o N2 (-195°C) e o CO2 (-
80°C).
Da mesma forma, o uso adequado do congelamento é indispensável para a qualidade dos serviços
de refeições e lanches. A possibilidade de congelar pratos semi-elaborados ou semiprontos é
uma forma de manutenção da qualidade, da possibilidade de dispor mais rapidamente do produto
e da garantia da segurança, sempre e quando os parâmetros de higiene e de controle de
contaminantes forem cumpridos.
É importante salientar que, após a retirada do sal (dessalgue), o produto se torna suscetível ao
ataque dos demais microrganismos, pois a atividade aquosa deixou de ser limitante.
Os serviços de refeições estão na etapa final do uso e preparo para consumo de produtos
conservados pelo sal. Assim, os cuidados que devem ser considerados para a segurança
(inocuidade) do produto final estão relacionados com o processo de dessalgue. É importante
considerar a possibilidade de multiplicação de bactérias patogênicas presentes, em especial as
que podem produzir toxinas termoestáveis, como é o caso do S. aureus.
Atualmente, o termo fermentação é utilizado em um sentido mais amplo (não apenas relacionado
ao metabolismo anaeróbio), para indicar qualquer processo em que microrganismos (ou suas
enzimas) transformam um composto em outro(s). No caso das indústrias de fermentação, os
compostos produzidos têm interesse econômico.
O uso da fermentação para a conservação dos alimentos baseia-se na modificação das características
da matéria-prima, por ação de microrganismo(s), dando origem a um produto mais estável em
decorrência de compostos produzidos durante a fermentação (ácido lático, ácido acético ou
etanol). Os ácidos, além de atuarem provocando a morte de microrganismos, abaixam o pH . Com
isso, a maioria dos microrganismos não pode se desenvolver, inclusive os patogênicos. Além
desta maior conservabilidade, os produtos fermentados têm maior digestibilidade.
Para a unificação mundial do uso de aditivos, foi criada em 1962, sob os auspícios da FAO/OMS,
o Comitê de Aditivos do “Codex Alimentarius Comission”. Dentre as 11 classes de aditivos
consideradas pela legislação brasileira, estão incluídos os conservadores, que atuam sobre os
microrganismos, aumentando a vida útil dos alimentos. Os conservadores permitidos pela legislação
estão relacionados na Tabela 8 (página seguinte).
a) Ácido benzóico e seus sais – ocorrem naturalmente em certos alimentos (ameixa, amora),
sendo a sua ação conservadora provocada pelas moléculas não-dissociadas. Sua ação sobre os
microrganismos se dá, segundo alguns pesquisadores, pela destruição das membranas celulares;
outros pesquisadores acham que competem com coenzimas das células ou interferem no
metabolismo energético a nível de acetato. O sal, benzoato de sódio, é mais utilizado devido à
sua solubilidade. É empregado na conservação de concentrados de frutas para refrigerantes
(0,1%), conservas vegetais (0,1%), margarinas (0,1%), sucos de frutas (0,1%) e refrigerantes
(0,035%).
Fonte: ABIA - Revisão do Primeiro Compendio MERCOSUL - Alimentos e Bebidas - MERCOSUL/GMC/RES 86/96
e) Dióxido de enxofre e derivados – podem ser aplicados sob a forma de gás (SO2) ou sais, tais
como sulfitos e metabissulfitos. Atuam reduzindo ligações S-S de certas enzimas, inativando-as,
bem como reagem com aldeídos no metabolismo de carboidratos, bloqueando-os. São utilizados
na indústria de sucos de uva, vinhos e vinagres para inibir o desenvolvimento microbiano,
especialmente de leveduras e bactérias acéticas. Também são utilizados para conservar sucos de
frutas, geralmente associado ao benzoato.
f) Nitratos – trabalhos científicos comprovam que o nitrato não tem ação inibitória contra
bactérias; sua ação é manifestada apenas após a redução para nitrito, por microrganismos presentes
no produto. Como o cozimento ou a pasteurização eliminam as bactérias redutoras de nitrato a
nitrito, é desnecessário seu uso em produtos cárneos cozidos.
h) Propionatos – este ácido e seus sais são efetivos no controle de bolores, por isso são muito
empregados em panificação para inibir estes microrganismos, bem como, associados com acetatos,
inibir bactérias responsáveis pelo rope do pão (Bacillus subtilis). São empregados em produtos
de confeitaria (0,20%), farinhas (0,20%), chocolates (0,20%) e queijos (0,20%).
O uso de aditivos químicos tóxicos não deve ser utilizado no preparo de lanches e refeições. Os
“aditivos” devem se restringir ao uso de ácidos (acético, por adição de vinagre; cítrico, por
adição de suco de limão) e de determinados condimentos que possam liberar óleos essenciais. Os
corantes usados não têm atividade bactericida, porém é importante assinalar que alguns
apresentam potencial carcinogênico.
Quanto à irradiação gama ( 60Co ou 137Ce), é importante observar que o produto não se torna
radioativo. Ainda, dependendo da quantidade e do tempo de irradiação, o processo industrial
usado pode ter efeito equivalente à pasteurização ou à esterilidade comercial. A rotulagem do
produto deve indicar a melhor forma de conservação, se pelo frio ou se pode ser mantido em
temperatura ambiente. Esse tipo de irradiação é usada para prolongar a vida de vegetais e
impedir o brotamento de batata e outros tubérculos e raízes. Seu uso é regulamentado pelos
Ministérios da Agricultura e da Saúde do Brasil.
O tempo de permanência no fumeiro, bem como a temperatura máxima a ser atingida, depende
do produto. Assim, lingüiças ficam por 3 a 4 horas, mortadelas de 9-13 horas e o presunto tender
até 13 horas.
A defumação é um processo que deve ser conduzido em nível industrial. São raros os produtos
que são elaborados por esse processo em nível de preparo de refeições para coletividades.
Entretanto, o processo pode ser explorado artesanalmente, em especial no que se refere a pescados
defumados. Nesse sentido, é importante que os serviços de alimentação conheçam o processo e
estabeleçam condições de conservação adequadas para o produto final. De preferência, o
congelamento deve ser utilizado para conservar pescados defumados artesanalmente,
considerando as características do Clostridium botulinum tipo E (freqüente no ambiente marinho,
capaz de se multiplicar em temperaturas de 3,30C, com produção de toxina).
Deterioração Bacteriana
Utilização de carboidratos
Praticamente todos os carboidratos podem ser metabolizados como substrato para o
desenvolvimento microbiano. A maioria das bactérias é capaz de metabolizar diretamente mono
e dissacarídeos por um processo oxidativo ou fermentativo. Entretanto, polissacarídeos não
penetram através da membrana celular e devem ser previamente hidrolisados. É o caso de vegetais
que têm a pectina em sua composição, conferindo rigidez. Muitas bactérias apresentam atividade
pectinolítica, causando a hidrólise da molécula de pectina com o conseqüente amolecimento e
liquefação dos tecidos (deterioração denominada “podridão mole”). Dentre essas bactérias,
destacam-se os gêneros: Clostridium, Aeromonas, Enterobacter, Erwinia e Pseudomonas.
A metabolização dos carboidratos por um processo fermentativo dá origem a uma série de produtos
que dependem dos diversos gêneros e espécies de bactérias contaminantes. Assim, quando se
observa no leite um sabor e odor ácidos, é provável a ocorrência de fermentação butírica e lática,
pelos gêneros: Clostridium, Lactococcus, Pediococcus, Lactobacillus, Streptococcus e Leuconostoc.
Esse último gênero, juntamente com algumas espécies de lactobacilos são capazes de produzir
diacetil, que possui aroma bastante pronunciado de manteiga, sendo sua presença inaceitável
em alguns alimentos, particularmente sucos cítricos e cervejas.
As bactérias que demonstram intensa atividade proteolítica são: Bacillus, Clostridium, Proteus,
Aeromonas e Pseudomonas. Esse último gênero produz várias alterações em alimentos de origem
animal: modificações no aroma de pescados caracterizado por odor pronunciado de frutas, devido
à metabolização de aminoácidos como glicina, leucina e serina.
Utilização de lipídios
Os óleos puros e as gorduras não são atacados por microrganismos, pois, como já foi visto, eles
não se multiplicam na ausência de água. No entanto, em alimentos gordurosos, que apresentam
uma fase aquosa associada à gordura, a multiplicação microbiana pode ocorrer. É o que acontece
com alimentos como creme de leite, margarinas e manteigas.
Alguns testes químicos são utilizados para medir a intensidade de rancificação oxidativa de
alimentos gordurosos. O índice de peróxidos e o teste do ácido tiobarbitúrico (TBA) constituem
bons indicadores.
b) Alterações na coloração do alimento - Podem ser provocadas por diversos gêneros bacterianos
produtores de pigmentos. Dentre as bactérias produtoras de pigmentos destacam-se os gêneros
Halococcus e Halobacterium, halófilos comumente envolvidos na deterioração de produtos cárneos
e de pescados, salgados e desidratados, que produzem um pigmento – a bactorubeína – que
confere à superfície do alimento coloração rósea a vermelha.
Várias espécies de leveduras aparecem deteriorando sucos naturais de frutas, sucos concentrados,
maionese, chucrute, picles, leite condensado, geléias, polpas concentradas, recheios de produtos
de confeitarias, xaropes e produtos desidratados. A ocorrência de espécies patogênicas de
leveduras em alimentos é praticamente desconhecida.
Utilização de carboidratos
A utilização de carboidratos pelas leveduras pode ser oxidativa ou fermentativa. As leveduras
oxidativas (film yeasts) são de maior importância, uma vez que crescem na superfície de alimentos
ácidos, como picles e sucos envasados em vidros. Ao utilizarem ácidos orgânicos e alcoóis, elevam
o pH do produto. Com a elevação do pH, pode ocorrer o desenvolvimento de microrganismos
pouco resistentes a ácidos, como é o caso de Clostridium botulinum em picles e outros alimentos
ácidos. As leveduras envolvidas nesse tipo de deterioração são: Pichia, Hansenula, Debaromyces
e Candida.
Zigosaccharomyces bailii prolifera em meio que contenha até 70% de glicose, além de tolerar
concentrações moderadas de etanol, 10% de cloreto de sódio e apresentar resistência a alguns
conservantes, como benzoato e sorbato de sódio.
Ao contrário das leveduras, a imensa maioria dos gêneros de bolores é aeróbia estrita,
necessitando, portanto, de oxigênio atmosférico para evidenciar multiplicação. Uma exceção à
natureza aeróbia estrita dos bolores é o gênero Byssoclamys, particularmente as espécies
Byssoclamys fulva e Byssoclamys nivea, que são importantes agentes de deterioração em alimentos
envasados que apresentam vácuo pronunciado, causando intensa deterioração de vegetais, em
função da atividade pectinolítica. Além disso, a resistência térmica acentuada dessas espécies
contrasta com a maioria das outras espécies de bolores.
Outros microrganismos termofílicos podem deteriorar alimentos enlatados. São eles: Bacillus
stearothermophillus, causador da deterioração tipo flat-sour (produção de ácidos a partir de
açúcares, sem formação de gás) em alimentos pouco ácidos. Esse microrganismo é anaeróbio e
Desulfotomaculum nigrificans não atuam sobre açúcares, podendo produzir H2S, a partir de
aminoácidos sulfurados como cisteína e cistina. O H2S pode se combinar com o ferro, resultando
na formação de sulfetos. Em conseqüência, tanto o alimento como a superfície interna da lata
adquirem coloração escura.
Carnes in natura
Microbiota inicial – a quantidade e tipo de microrganismos que se desenvolverá na carne
dependerá das condições do animal antes do abate, tais como transporte, condições de estresse
etc. Em se tratando de animal sadio, poucos microrganismos são encontrados, com exceção da
superfície externa, dos tratos digestivos e respiratórios. Assim, o nível de contaminação geralmente
é menor na superfície interna do que na externa. Essa microbiota pode apresentar diferenças
relacionadas com a espécie, ou seja, a dos bovinos apresenta características ligeiramente diferentes
da dos suínos e dos caprinos.
As medidas preventivas (de controle) para a obtenção de uma carne de boa qualidade incluem o
uso de rações e água de dessedentação isentas de microrganismos patogênicos, a adoção de um
programa eficiente de assistência veterinária aos rebanhos e transporte adequado, evitando-se o
estresse e lesões do animal, bem como o emprego de caminhões adequadamente higienizados
para o transporte.
Quanto aos bolores, espécies como Sporotrichium carnis e Penicillium provocam o aparecimento
de pontos brancos e verdes, respectivamente.
O esverdeamento por produção de H2S pode ocorrer em carnes frescas embaladas a vácuo e
armazenadas a temperaturas entre 1ºC e 5ºC. O H2S reage com a mioglobina formando
sulfomioglobina, de coloração verde. Cabe acrescentar que em carnes com pH >6, esse tipo de
deterioração não ocorre. As bactérias causadoras dessa deterioração são: Pseudomonas mephitica,
Shewanella putrefaciens e Lactobacillus sake.
Patógenos
Quanto aos patógenos, as principais bactérias patogênicas que podem ser encontradas na carne
são Salmonella sp., E.coli patogênica (em especial diarreiogênicas e enterohemorrágicas),
Staphylococcus aureus, Yersinia enterocolítica e Clostridium perfringens.
Entre as bactérias patogênicas, as Salmonellas são que mais oferecem risco. Normalmente, têm
acesso à carne através de um abate inadequado, quando o conteúdo gastrointestinal foi perfurado.
O uso de rações contaminadas, o transporte como fator de estresse e a posterior contaminação
cruzada, assim como a manutenção de portadores assintomáticos durante a manipulação da
carne, constituem pontos de controle importantes na prevenção da disseminação de Salmonella
sp nos alimentos.
ausência dessa bactéria em 25g de carne in natura e obriga a implantação do programa de APPCC
em frigoríficos, visando a reduzir esse perigo. Em relação à Yersinia enterocolítica, o emprego de
refrigeração adequada, que se mostra efetiva na redução de outras bactérias, não surte o mesmo
efeito no seu controle.
Os parasitos podem estar presentes como conseqüência da doença do animal. O Toxoplasma gondii
está relacionado com o consumo de carne bovina crua ou mal cozida.
A teníase pode ser transmitida pela carne suína de animal que apresenta cisticercose muscular
(Taenia solium) e pela carne bovina (Taenia saginata).
O controle do processamento térmico é feito em duas etapas. Na primeira etapa, devem ser
considerados o controle da temperatura do produto antes do envasamento, o controle do tempo
entre a recravação e o processamento térmico, o controle da recravação das latas e o controle da
exaustão da autoclave. Na segunda etapa, é importante controlar a quantidade e a disposição
das latas na autoclave, bem como tempo e temperatura de esterilização. A separação das latas
esterilizadas das não-estéreis deve ser objeto de observação constante.
A embalagem pode permitir o acesso de microrganismos, uma vez que defeitos existentes na
mesma podem permitir vazamentos, contaminação pós processamento e deterioração do produto.
A inspeção on line das latas para a medição da sobreposição e avaliações visuais, bem como um
bom ajuste da recravadeira constituem a principal medida preventiva.
Leite pasteurizado
Microbiota inicial – A pasteurização elimina o perigo microbiológico (no que diz respeito a
células vegetativas), uma vez empregados corretamente o tempo e temperatura necessários para
a destruição dos microrganismos e desde que o número inicial (carga) não seja anormalmente
elevado. Qualquer contaminação microbiológica posterior significa recontaminação. Entretanto,
vale citar que o calor não elimina alguns microrganismos termorresistentes, conhecidos como
termodúricos. Esse grupo resiste ao tratamento térmico empregado, proliferando no leite quando
a temperatura diminui. São eles: Micrococcus, Streptococcus, aeróbios formadores de esporos
(Bacillus subtilis e Bacillus cereus) e Lactobacillus casei. Geralmente, os termodúricos multiplicam-
se lentamente à temperatura de 5ºC, em contraste com os psicrotróficos; porém, se estiverem
presentes inicialmente em grandes quantidades, podem se desenvolver, causando alterações no
leite armazenado sob refrigeração. A medida preventiva básica, para eliminar esse perigo, constitui-
se em uma boa higienização na produção, transporte e indústria.
Em relação à esterilização, processo UHT, o seu maior desafio consiste na eliminação de esporos.
São eles que determinam os parâmetros da esterilização.
A eficiência do processo de esterilização pode ser traduzida como o número de reduções decimais
na população microbiana atingida pelo processo. Isso ocorre em função de dois fatores: tempo
e temperatura utilizados e termorresistência dos esporos bacterianos presentes.
No processo UHT, a deterioração pode ocorrer pela produção de proteases termorresistentes, por
subprocessamento e/ou como resultado de uma contaminação durante a operação de envase.
Membros do gênero Bacillus: Bacillus badius, B. cereus, B. licheniformis, B. polymyxa, B. subtilis e
B. stearothermophillus já foram identificados.
Micotoxinas podem estar presentes em função das rações contaminadas usadas para a alimentação
do gado leiteiro e não são inativadas pelo processo térmico.
Queijos
A microbiota inicial existente no queijo depende da existente no leite. Os equipamentos utilizados
e a manipulação do leite aumentarão a população microbiana. Por outro lado, o armazenamento
do leite durante períodos excessivos, particularmente a temperaturas superiores a 4,4OC permitirá
uma multiplicação rápida das bactérias presentes.
Em muitos queijos ocorre a formação anômala de gás evidenciando-se pela presença de “olhos”
na massa. Esse tipo de alteração está normalmente relacionada à presença de bactérias ácido-
propiônicas ou a clostrídios, especialmente Clostridium tyobutyricum e Clostridium butyricum. Os
fatores que normalmente conduzem à produção de gases durante a elaboração de queijos são: o
uso de leite cru, tratamento térmico inadequado, contaminação do leite após a pasteurização e a
lenta produção de ácidos pela cultura starter.
Diversos fatores contribuem para que o queijo não se altere. O pH ácido, geralmente inferior a
5,3, a adição de sal na concentração de 1,5 a 5%, que reduz a atividade de água, a baixa temperatura
de maturação e o baixo potencial de oxi-redução.
Patógenos, o tratamento térmico inadequado do leite, bem como uma contaminação posterior
podem resultar na presença de salmonelas, Staphylococcus aureus e E.coli patogênica no queijo;
fatores adicionais tendem a incrementar o perigo de patógenos. A magnitude do risco à saúde
pelo consumo de queijos não é a mesma para todos os tipos existentes.
Staphylococcus aureus pode ter acesso ao queijo, caso o leite de gado infectado com mastite for
usado no processamento. A refrigeração adequada, inibindo a produção de toxinas, um tratamento
térmico (pasteurização) combinado com o uso de uma cultura starter ativa e um programa efetivo
de higienização são procedimentos que devem ser empregados com a finalidade de eliminar, ou
minimizar, a presença desse patógeno. Se a concentração do microrganismo for alta na matéria-
prima, a pasteurização não será eficiente na eliminação total desse perigo. Ressalta-se que a
enterotoxina uma vez formada no leite cru não será destruída pela pasteurização.
Em queijos elaborados com fungos que apresentam superfície com alto conteúdo em umidade e
pH próximo do neutro, pode ocorrer o desenvolvimento de patógenos como a Listeria
monocytogenes .
Além desses outros agentes podem causar doenças pelo consumo de queijos. Já foram relatados
incidentes por Brucella e por aminas biogênicas. A presença de aflatoxinas em queijos tem sido
também relatada.
Leite em pó
Os principais problemas que podem ocorrer nesse tipo de leite apresentam-se depois da
reconstituição, uma vez que a Aa do leite em pó é tão baixa que não permite o desenvolvimento
microbiano. O leite em pó, quando reconstituído, transforma-se em um produto perecível e está
Manteiga
A microbiota inicial da manteiga corresponde basicamente à do creme empregado para sua
elaboração. Se o creme for armazenado em condições precárias de refrigeração, podem surgir
processos de acidificação, fermentações indesejáveis que acarretam, posteriormente, lipólises e
proteólises. A formação de ácidos, fundamentalmente de ácido lático, é provocada essencialmente
por estreptococos láticos, lactobacilos, leveduras e coliformes. Bolores do gênero Geotrichum
candidum também constituem-se em deterioradores. Bactérias Gram-negativas como as
Pseudomonas, Alcaligenes, Acinetobacter, Moraxella, e Flavobacterium são as responsáveis pelos
processos proteolíticos e lipolíticos.
c) Odor a malte – É produzido por certas cepas de Streptococcus lactis que produzem 3-metilbutanol.
O crescimento dessa bactéria com posterior produção do aroma pode ocorrer antes da pasteurização
ou após. Mesmo com a destruição pelo tratamento térmico, o aroma permanece no produto.
Iogurte
A contaminação ocasional da cultura empregada na elaboração de iogurtes origina uma
fermentação anormal e defeitos físicos. Culturas de Lactobacillus delbrueckii var. bulgaricus,
Streptococcus thermophillus e S.lactis são susceptíveis à contaminação por bacteriófagos. Os
resíduos de antibióticos que estiverem presentes no leite podem interferir na fermentação, uma
vez que ambos os microrganismos são sensíveis à penicilina e às tetraciclinas.
As leveduras também podem constituir um problema, pois muitas espécies não são afetadas pelo
ácido lático e multiplicam-se associadas com a cultura de iogurte, resultando na aparição de
sabores estranhos e produção de gases (CO2).
Microbiologia de pescados
Incluem-se neste item, os pescados crus, refrigerados e congelados, curados, defumados e esterelizados.
Durante o rigor mortis, a autólise e a deterioração do pescado são retardadas; dessa forma, quanto
mais tempo durar esse estado, melhor será a qualidade. Captura em condições inadequadas e
manutenção do pescado em temperaturas elevadas são os principais fatores que aceleram o
término do rigor mortis. Sendo assim, o emprego do frio favorece a manutenção dessa condição,
pois inibe e/ou diminui a ação proteolítica das enzimas. Esse procedimento deve ser prolongado
até o momento do consumo, ou até serem aplicados outros procedimentos de conservação, tais
como: salga, cura, defumação, fermentação e acidificação.
O frio para a conservação de peixes frescos pode ser utilizado de várias formas: gelo britado e em
escamas são os mais empregados. O gelo em escamas apresenta as vantagens de ser menos pesado
e não ser pontiagudo, permitindo melhor conservação da textura do produto. O gelo mantém o
produto entre 0o e 2oC, retardando a atividade deterioradora e a água fria da fusão do gelo banha
a superfície corporal do peixe, removendo muco, sangue, impurezas e a carga microbiana.
Devido ao seu baixo custo operacional, a refrigeração com gelo é uma das modalidades mais
empregadas na conservação dos peixes. Entretanto, só será obtido resultado satisfatório se a
qualidade, a quantidade e a colocação do gelo sobre os peixes nos depósitos forem controlados.
A deterioração de peixe fresco ocorre através de autólise, oxidação e atividade bacteriana. As enzimas
proteolíticas, naturalmente presentes no suco gástrico, ao atingirem o tecido muscular, em ação
conjunta com as enzimas proteolíticas presentes nos tecidos e na pele, provocam a sua
decomposição, propiciando a disseminação de microrganismos da microbiota intestinal e da pele.
pescado (autólise), após a sua morte, estas substâncias serão metabolizadas pela ação microbiana.
Esgotadas essas substâncias, as bactérias passam a utilizar as proteínas, provocando o amolecimento
dos tecidos e o aparecimento de odores indicativos de estado avançado de deterioração.
A deterioração microbiana, inicia-se após o término do rigor mortis sendo os gêneros Pseudomonas
e Shewanella os que mais predominam nesse processo. P. fluorescens, Pseudomonas fragi e
Streptococcus putrefaciens são as espécies mais envolvidas. Pela sua capacidade de se multiplicar
em temperaturas abaixo de 5oC e de utilizar compostos nitrogenados não protéicos são os gêneros
mais importantes nos processos de deterioração dos peixes refrigerados. A produção de
trimetilamina, amoníaco, cadaverina, putrescina, ácidos graxos inferiores, aldeídos, sulfeto de
hidrogênio, mercaptans e indol caracteriza o estado de putrefação. São observadas alterações no
aroma, no sabor, na textura do tecido e na coloração da pele. Além destes gêneros bacterianos,
Sarcina, Micrococcus, Bacillus, Moraxella-Acinetobacter, Alcaligenes e fungos fazem parte da
microbiota deterioradora.
O congelamento é um dos processos mais eficazes para a conservação dos peixes, podendo ser
realizado por vários métodos: salmoura (-17o a -21oC), ar resfriado (-30oC a -45oC), por contato
(em placas) ou por nitrogênio. Fatores como a qualidade da matéria-prima, composição química,
temperatura e tempo de armazenamento e embalagens influenciam na eficácia desse processo.
Pescados Curados
Microbiota inicial – A cura baseia-se no emprego de sais que diminuem a atividade de água da
musculatura dos peixes, minimizando a contaminação microbiana. A salga com salmoura ou a
seco, deve restringir-se a uma única espécie de pescado de cada vez e a peixes de tamanho
aproximadamente uniforme.
Pescados Defumados
Microbiota inicial – A conservação pela defumação afeta a atividade da água dos tecidos do
peixe, restringindo a microbiota microbiana. Peixes frescos submetidos a processos de defumação
apresentam uma variável estabilidade microbiológica, dependendo do tipo de defumação a que
este produto foi submetido.
Pescados esterilizados
Os pescados enlatados, tais como sardinha, atum, salmão etc, quando submetidos à esterilização
comercial, devem estar livres de bactérias viáveis e potencialmente patogênicas. Os perigos de
tais alimentos são os mesmos já descritos para os alimentos enlatados de baixa acidez. Uma
exceção, no entanto, pode ser citada: o envenenamento por escombrídeos. A histamina, resistente
ao calor, pode provocar intoxicação devido ao consumo de atum enlatado.
Microbiologia de vegetais
Neste item, trataremos dos vegetais in natura, dos minimamente processados, dos congelados,
dos esterilizados, dos desidratados e dos fermentados ou acidificados.
Vegetais in natura
A microbiota inicial pode variar consideravelmente, dependendo do tipo, dos fatores ambientais,
sazonalidade, etc, sendo constituída por microrganismos oriundos do solo, da água, dos insetos
e dos animais. As folhas sofrem a influência do ar; as raízes, do solo. Fatores como uso de
pesticidas, tipo de técnicas agrícolas aplicado durante o cultivo e a poluição por dejetos humanos
ou de animais, também afetam o perfil microbiológico de vegetais.
A maioria dos microrganismos presentes em vegetais são saprófitas, incluindo bactérias, leveduras
e bolores. Os fungos, incluindo Aureobasidium, Fusarium, e Alternaria, freqüentemente estão
Os vegetais sadios possuem uma camada de células epidérmicas que proporciona uma barreira
contra a infecção dos tecidos internos. Para que ocorra deterioração, essa barreira deve ser vencida.
Há várias formas de vencer as barreiras externas: por infestações de insetos, lesões provocadas
durante e pós-colheita e ação de alguns microrganismos, em particular, de bolores fitopatogênicos.
Uma vez comprometidas as barreiras externas, os microrganismos rapidamente invadem os tecidos.
Dentro dos tecidos, terão que vencer mais uma barreira, que são as células, cujas paredes são
ricas em celulose e pectina. Assim, somente aqueles capazes de produzir celulase e/ou pectinase
poderão invadir as células. A atividade celulásica é muito importante, pois além de contribuir
para o amolecimento e maceração do tecido, ainda produz glicose, que permite que microrganismos
incapazes de degradar a celulose também se desenvolvam. A degradação das cadeias de pectinas
leva à liquefação das pectinas e completa maceração dos tecidos dos vegetais (podridão mole).
O estado fisiológico dos vegetais afeta de forma dramática a sua susceptibilidade à deterioração
por microrganismos. São mais resistentes à invasão microbiana quando estão fisiologicamente
sadios.
Patógenos - em regiões onde são utilizados dejetos de animais como fertilizantes ou água
contaminada para irrigação, é de se esperar que o produto contenha patogênicos intestinais
como Salmonella, Shigella, vírus da hepatite e parasitos humanos. As principais bactérias
patogênicas isoladas de vegetais crus são Aeromonas (alfafa, aspargo, brócolis, pimentão,
espinafre e saladas), Salmonella (broto de feijão e de alfafa, folhas de beterraba, repolho,
couve-flor, acelga, pimenta, endívia, berinjela, alface, salsa, mostarda, pimentão, espinafre, entre
outros ), Shigella (salsa e saladas de vegetais), E.coli O157:H7 (repolho, acelga e coentro),
Listeria monocytogenes (repolho, cenoura, pepino, broto de feijão, brócolis, alface, pimentão,
batatas, radiche, tomates, saladas pré-embaladas e saladas), Yersínia enterocolitica (repolho,
cenoura, pepino, saladas e outros vegetais), Campylobacter jejuni (alface, cogumelos, batatas,
broto de mostarda, cebolinha e radiche), Staphylococcus aureus (saladas verdes, radiche, alface e
salsa), Bacillus cereus (broto de soja e agrião) e Clostridium botulinum (pimentão e saladas de
vegetais).
Os parasitos que podem ser transmitidos por vegetais são: Giardia lamblia, Taenia solium (ovos),
Ascaris lumbricoides, Cyclospora cayetanensis, Entamoeba histolytica. Foram envolvidos em surtos
associados ao consumo de vegetais os microrganismos: Bacillus cereus (brotos de vegetais),
Campylobacter jejuni ( pepino e alface), alguns sorovares de Salmonella (salada de repolho e
cebola, broto de feijão, broto de alfafa), Shigella flexneri (salada mista), Shigella sonnei (alface),
Vibrio cholerae ( salada de vegetais), E.coli O157:H7 (alface, broto de radiche ), Giardia (cenoura
e outros vegetais), vírus da hepatite A (alface e agrião) e vírus Norwalk (salada temperada).
Ao mesmo tempo em que os avanços nas técnicas agrícolas têm possibilitado um maior suprimento
de produtos de boa qualidade para muitos consumidores durante o ano todo, também têm
permitido a expansão não só da distribuição geográfica, como da incidência de doenças humanas
associadas com um crescente numero de bactérias patogênicas, vírus, protozoários e parasitos.
Outros fatores que têm contribuído para o aumento de doenças associadas com o consumo de
vegetais crus são: a globalização do suprimento de alimentos, o desenvolvimento, pelos
microrganismos, de novos fatores de virulência, a diminuição da imunidade de certos segmentos
da população e mudanças nos hábitos alimentares. Por outro lado em regiões onde são utilizados
dejetos de animais como fertilizantes ou água contaminada para irrigação, o número de surtos
de origem alimentar é bastante significativo.
A lavagem com água potável remove parte das células microbianas. Muitas vezes uma lavagem
vigorosa com água potável pode ter o mesmo efeito que um tratamento com água que contenha
de 100 a 200 ppm de cloro, que em geral, reduz em 10 a 100 vezes a populacão microbiana. A
primeira lavagem é feita com água potável para remover sujidades como solo, material fecal e
contaminantes grosseiros e a segunda, com água contendo um desinfetante. Listeria monocytogenes
é, em geral, mais resistente aos desinfetantes do que Salmonella, Shigella e E.coli o 157:H7.
Pouco se conhece sobre a eficácia dos desinfetantes na destruição dos vírus e parasitos que
contaminam os vegetais. A irradiação por raios gama tem sido apontada como uma poderosa
ferramenta para a descontaminação de alimentos, como frutas, tubérculos e legumes.
Dentre os desinfetantes, o cloro é, sem dúvida, o mais utilizado. Há, no entanto vários trabalhos
questionando a sua eficácia em reduzir de forma significativa os microrganismos patogênicos em
diversos tipos de vegetais e frutas. Vários fatores interferem na atividade de cloro livre sobre os
microrganismos nesses produtos, como nível de contaminação, presença de matéria orgânica,
pH, temperatura e tempo de exposição e substância que libera o cloro (hipocloritos e dióxidos),
assim como o uso de água previamente potável.
Atualmente o dióxido de cloro tem sido indicado para a desinfecção de frutas e verduras, pois a
sua eficácia é menos afetada pelo pH e matéria orgânica e também porque não reage com amônia
para formar cloramina, como ocorre com cloro líquido e hipoclorito.
Vegetais minimamente processados são definidos como aqueles preparados mediante uma única
ou várias operações unitárias apropriadas, tais como corte, pelagem, fragmentação etc, associadas
a um parcial tratamento de conservação não definitivo, que pode incluir o uso de aquecimento
mínimo, conservador ou radiação. Aliada a esses tratamentos de conservação durante o
armazenamento, distribuição e comercialização, normalmente se utiliza alguma forma de atmosfera
modificada/controlada, envase à vácuo ou exposição dos produtos à baixas temperaturas. Os
produtos minimamente processados são tecidos vivos, cuja respiração é muito incrementada
como conseqüência dos danos causados aos tecidos resultantes das operações do processamento.
Em decorrência, todo vegetal minimamente processado, mostra rápida deterioração sob estocagem
em temperatura ambiente, sendo por isso normalmente mantido sob refrigeração.
Com relação aos perigos físicos pode-se listar os fragmentos de metais que podem ser provenientes
dos equipamentos ou oriundos da própria matéria-prima. Nesses produtos além dos
microrganismos patogênicos encontrados nos vegetais crus, são evidenciados outros,
provenientes das etapas de processo, caso essas não sejam realizadas segundo as Boas Práticas
(Portarias 326/MS e 368/MAA).
Vegetais congelados
A microbiota dos vegetais após o congelamento é similar à encontrada no produto antes do
processo, sendo constituída de microrganismos introduzidos do ar.
peso desejado, o empacotamento feito mecanicamente deva ser completado manualmente, muitas
vezes utilizando reservas do produto que já havia ficado por muito tempo à temperatura ambiente
após sofrer branqueamento. Se a carga microbiana da reserva utilizada for muito elevada, pode
refletir no produto final.
Em vegetais congelados, a microbiota é inibida pela ação conjunta de temperatura e baixa atividade
de água, decorrente do congelamento da mesma. Contagens de colônias aeróbicas na faixa de
101 a 105/g são consideradas normais em vegetais congelados.
Vegetais esterilizados
Microbiota inicial - Os esporos de bactérias mesófilas e termófilas são as formas mais
termorresistentes. Entre os mesófilos, encontram-se várias espécies capazes de provocar
deterioração, assim como espécies patogênicas como Bacillus cereus, Clostridium perfringens e
Clostridium botulinum. Os termófilos, mais termorresistentes do que os mesófilos, não são
patogênicos. A sua importância decorre da capacidade de deteriorar alimentos envasados em
condições específicas, como estocagem dos produtos a elevadas temperaturas. Isso implica dizer
que o processamento térmico é projetado para eliminar os esporos capazes de se multiplicar sob
condições normais de estocagem.
Muitos vegetais enlatados são de baixa acidez, pois o seu pH fica acima de 4,5. A esses produtos
é dado, em geral, um tratamento térmico suficiente para destruir os esporos de Clostridium
botulinum, sendo considerados “comercialmente estéreis”.
Os alimentos enlatados, processados para atingir “esterilidade comercial”, não deveriam sofrer
deterioração. No entanto, são várias as causas que podem levar à sua deterioração, destacando-
se as seguintes: deterioração pré-processamento, por subprocessamento, por vazamento (falhas
nas costuras ou de recravagem) por resfriamento inadequado e por estocagem a elevadas
temperaturas.
Após o processamento, microrganismos podem penetrar através de falhas nas costuras durante o
resfriamento. É muito comum nesses casos a presença de bactérias não esporuladas, que
normalmente não resistiriam ao tratamento térmico. Em geral, observa-se uma microbiota mista,
composta de micrococos, lactobacilos, estreptococos, enterococos. No entanto, se for empregada
água clorada o enlatado pode conter, primariamente, microrganimos formadores de esporos.
a) deterioração tipo flat sour (vegetais com pH > 4,5) – provocado por bactérias facultativas,
termófilas, produtoras de ácido, mas não de gás, como Bacillus stearothermophilus e Bacillus
coagulans. As extremidades do enlatado se apresentam planas, sendo a aparência do produto
normal, porém o sabor é ácido. O líquido fica turvo e o aroma alterado. O Bacillus stearothermophilus
multiplica-se melhor a temperaturas acima de 43ºC, não se multiplicando acima de 65-75ºC. Já
para Bacillus coagulans, a temperatura mínima encontra-se na faixa de 15-25ºC e a máxima entre
55-60ºC. Se a etapa de resfriamento for bastante prolongada, esses microrganismos poderão
deteriorar os vegetais.
Vegetais desidratados
Microbiota inicial: os vegetais podem sofrer ou não branqueamento antes de serem desidratados.
Assim a microbiota de um produto desidratado depende do grau de contaminação do produto
cru, da limpeza dos equipamentos e se sofreu ou não branqueamento. Se o vegetal cru for mantido
por muito tempo a temperatura inadequada, o nível de microrganismos pode aumentar, além de
sofrer contaminação devido a falhas na higienização dos equipamentos.
Durante a desidratação, os vegetais são mantidos na faixa de 80-100 ºC para que ocorra a
evaporação da água. No entanto, a temperatura interna nunca ultrapassa 35-45ºC, de forma que
nos vegetais desidratados raramente ocorre a redução do nível de microrganismos; na realidade,
pode ocorrer uma concentração em um volume menor de alimento. Outro processo utilizado para
a desidratação é a liofilização.
Durante o processo da fermentação, a interação de vários fatores é responsável pela sua seqüência,
destacando-se: pH, ácidos orgânicos, atividade de água, temperatura, potencial redox e
concentração de O2 e de CO2. A fermentação de todos os vegetais, com pequenas variações,
consiste na multiplicação seqüencial de bactérias láticas como: Leuconostoc mesenteroides,
Lactobacillus brevis, Pediococcus acidolacti, Pediococcus pentosaceus e Lactobacillus plantarum.
Frutas in natura
Microbiota inicial – As principais fontes dos microrganismos são as mesmas dos vegetais, incluindo
ar, água, solo, insetos e outros animais, como aves e répteis. No entanto, diferente dos vegetais
a sua deterioração é causada mais por fungos do que por bactérias, com exceção das que
apresentam baixa acidez, como pêras, melancia, melão, entre outras, em que a deterioração é
devida a Erwinia spp e outras bactéria pectinolíticas.
As frutas, para serem consumidas frescas, são freqüentemente colhidas ainda verdes, sendo
amadurecidas durante o transporte ou estocagem. Durante essas operações podem sofrer algum
tipo de injúria, tornando-se vulneráveis à invasão e deterioração por fungos.
As frutas são lavadas ou limpas imediatamente após a colheita; a seguir, são embaladas e
transportadas em caixas de papelão. A etapa de lavagem reduz a contaminação microbiana. Tem
sido documentado que a limpeza e escovação pode reduzir cerca de 99% da população de
microrganismos da superfície das maçãs. No entanto, a água pode ser fonte de microrganismos,
principalmente quando é reciclada e não tratada adequadamente. É também muito importante a
umidade relativa da atmosfera durante a estocagem e a maturação das frutas. Baixa umidade
relativa causa dessecação; elevada umidade favorece a multiplicação de microrganismos.
O pH ácido das fruta inibe a maioria das bactérias. Entretanto as bactérias lácticas, como
Lactobacillus e Leuconostoc, não são inibidas, bem como os bolores e leveduras, sendo responsáveis
pelas alterações observadas na maioria das frutas. Os fungos podem invadir os tecidos das frutas
antes ou após a colheita, podendo ficar latentes ou não. Frutas assim contaminadas deterioram-
se rapidamente durante o transporte e a estocagem, levando a grandes perdas através da
contaminação cruzada. Manipulações durante o comércio a varejo, aumentam as injúrias sofridas
pelas frutas, facilitando o desenvolvimento dos fungos e a sua disseminação.
Cada espécie de fruta, devido à variação na sua composição e ao tipo de manipulação que recebe,
está sujeita à deterioração por uma ou mais espécies de fungos. Se a fruta for mole e sumarenta,
a deterioração será mole, podendo resultar no extravasamento do suco. Outras frutas ficam com
aparência seca e descoloridas. O micélio do bolor pode ser visível, apresentando esporos coloridos,
ou estar sob a superfície, quando então aparecem apenas pontos deteriorados. As espécies de
Penicillium são as mais importantes deterioradoras de frutas in natura. A presença de micélio
esverdeado, exsudação, odor indesejável e amolecimento consistem em outros tipos de alterações.
O gênero Alternaria causa o apodrecimento negro de maçãs, frutas cítricas, bananas e abacaxis.
Os morangos podem ser deteriorados pelo bolor Botrytis cinerea, com o aparecimento de uma
área acinzentada, devido ao crescimento do micélio do bolor. Diversos gêneros de leveduras
como Saccharomyces, Hansenula, Pichia, Torulopsis, Candida, Debaromyces e Kloeckera são capazes
de fermentar as frutas produzindo odor e sabor indesejáveis.
Para se minimizar a carga microbiana inicial, as frutas devem ser lavadas, inicialmente com água,
e depois submetidas a uma solução de cloro. Os produtos elaborados a partir de frutas podem
ser recontaminados com esporos de bolores por diversos motivos: área de recepção próxima ou
junto a área de processamento, setor de embalagem com grande circulação de ar, envase a frio,
subprocessamento térmico e qualidade do ar ambiente inadequada, sendo nesse último caso,
necessário a pulverização de sanificante no ambiente para reduzir a carga microbiana.
Patógenos – A maioria das frutas possui barreiras, como baixo pH, presença de substâncias
antimicrobianas, entre outras, que impedem a multiplicação das bactérias patogênicas. No
entanto, a sobrevivência de E. coli O157:H7 foi descrita em suco de maçã e de sidra, cujo pH
encontrava-se abaixo de 4,0. Experimentos em laboratórios têm demonstrado a possibilidade
desse patógeno desenvolver uma gradativa resistência ao pH baixo. Tem sido observado também
que várias bactérias patogênicas, vírus e protozoários capazes de causar doenças no homem
podem ser encontrados em frutas in natura. Alguns desses microrganismos são capazes de se
desenvolver nas frutas inteiras, nos produtos minimamente processados e nos cortes, em função
das manipulações rotineiras e formas de estocagens.
Vários fungos são capazes de produzir micotoxinas. Penicillium expansum, Penicillium claviforme
e Penicillium urticae produzem micotoxina (patulina), principalmente em frutas em deterioração
e tendo sido evidenciada em sucos de frutas, especialmente a de maçãs. Para se evitar esse tipo
de contaminação, as maçãs infestadas por esses bolores devem ser separadas e descartadas.
Frutas congeladas
Microbiota inicial – A microbiota inicial, presente na matéria-prima, já foi citada anteriormente
no item frutas in natura.
A maioria das frutas é congelada sem sofrer branqueamento prévio, pois o aquecimento causa
amolecimento e perda de umidade. As que se destinam à panificação ou confeitaria, utilizadas
após aquecimento, podem sofrer branqueamento. Algumas vezes são utilizados ácido ascórbico
como antioxidante e ácido cítrico para reter a cor. Frutas cortadas em fatias pequenas e finas
podem ser imersas em solução de sulfito durante 6 horas, para reduzir o número de
Patógenos – Quando manipuladas de forma apropriada, as frutas congeladas não contêm bactérias
patogênicas.
Muitas conservas de frutas, por serem ácidas, sofrem tratamento térmico na faixa de 85 a 90°C.
Sucos e néctares sofrem rápido aquecimento (93 a 110°C) e, então, são embalados assepticamente.
Esse tratamento é suficiente para matar a maioria das bactérias, bolores e leveduras. Produtos
que sofrem tratamento térmico podem ser deteriorados pelos fungos Byssochlamys fulva,
Byssochlamys nivea, Neosartorya ficheri e Penicillium dangeardii.
As polpas de frutas e as frutas desidratadas podem aparecer com pontos coloridos, devido a
presença de bolores. Os coliformes são agentes deterioradores de grande importância nesse tipo
de produto. Sua presença se deve, principalmente, à manipulação inadequada.
Grãos de cereais
Os grãos de cereais incluem trigo, aveia, milho, centeio, sorgo, arroz e outros relacionados. A
soja e o feijão, apesar de não serem grãos, podem estar incluídos nesse item, pois os seus
produtos são muito similares àqueles produzidos a partir dos cereais.
Diferentes tipos de cereais apresentam características intrínsecas muito semelhantes, como baixa
atividade de água (Aa), estrutura biológica que serve de barreira à invasão microbiana e fontes
de nutriente, por isso não se observa muita diferença em relação às suas respectivas populações
microbianas. A maioria das espécies de bolores, leveduras e bactérias aeróbias mesófilas
observadas nos cereais são inatas das próprias plantas. Bolores, como Cladosporium, estão
presentes em alguns tipos de grãos, enquanto em outros são encontrados Aspergillus, Fusarium,
Alternaria, entre outros. Rhizopus sp é também bastante comum de ser encontrado, podendo ser
reconhecido devido a cor preta dos seus esporos.
A produção de amido de milho é feita através de processo de moagem a seco. O amido apresenta
estabilidade bem maior do que os outros produtos derivados de grãos de cereais, pois além de
possuir baixa atividade de água constitui um substrato pouco utilizado pela maioria dos
microrganismos. Dessa forma, somente algumas espécies de bolores e Bacillus, denominados
microrganismos amilolíticos (produtores de amilase) podem degradá-lo.
O Bacillus cereus é sem dúvida o patógeno de maior interesse. Seu habitat é o solo, sendo
encontrado nos grãos, a partir do qual contamina facilmente as farinhas e amido resultantes do
seu processamento. Seu controle na matéria-prima é praticamente impossível, deve-se, portanto,
prevenir seu desenvolvimento, evitando o armazenamento em ambientes com umidade elevada.
Nessas condições, também os bolores podem se desenvolver, com o aparecimento de micélio
típico e formação de esporos, além de produzir micotoxinas. A ocorrência de esporos de bactérias
termófilas em amostras de amido é relativamente freqüente e representa grande preocupação
quando do seu uso como ingrediente de enlatados de baixa acidez, podendo levar a rejeição
desse ingrediente como matéria-prima industrial.
Produtos à base de farinha de soja, como queijo de soja (tofu), já foram envolvidos em surtos de
salmonelose e yersiniose, sendo a fonte de contaminação a água utilizada no processo produtivo.
As massas alimentícias podem ser frescas (que devem ser mantidas em geladeira ou sob
congelamento) ou secas, que apresentam teor de umidade variável, entre 10 e 13% e que são
estáveis à temperatura ambiente. O tempo e as condições de preparo da massa podem permitir a
contaminação e a multiplicação de microrganismos. O processo de secagem deve ser conduzido
de forma a reduzir o número de microrganismos viáveis, além da sua importância tecnológica
para a obtenção de um produto final com qualidade.
Os contaminantes da massa estão relacionados aos da farinha; as outras fontes importantes são os
ingredientes usados no preparo da massa, em seu recheio e/ou cobertura, destacando-se o ovo
(adicionado à massa propriamante dita), carne e derivados (recheio) e queijo e similares (recheio,
cobertura). Em determinados produtos, como os pastéis e as pizzas, o recheio e a cobertura podem
incluir hortifrutigrangeiros crus, como tomate picado e salsinha. O controle desses contaminantes
deve considerar a natureza e as caracterísiticas microbiológicas dos produtos usados.
Microbiota natural – Como a maioria dos vegetais crus, as especiarias acumulam uma microbiota
mista, constituída por bactérias e bolores. A população microbiana varia em função das práticas
agrícolas empregadas, das condições ambientais, dos tratamentos durante a colheita e pós-
colheita das plantas e das características intrínsecas do produto. Algumas especiarias apresentam
uma contagem total elevada, em torno de 107 unidades formadora de colônia/g (UFC/g). Várias
apresentam atividade antimicrobiana. Cravo, canela, alho, cebola e orégano, por exemplo, são
altamente antioxidantes, exibindo a propriedade antimicrobiana.
Da pimenta do reino, tanto em grão como moída, têm sido isolados vários sorovares de Salmonella,
como Oraniemburg, Senftemberg, Lexington e Abaetetuba.
Os condimentos, pelas suas carcaterísticas intrínsecas (Aa baixa, e presença de substâncias anti-
oxidantes, com atividade antimicrobiana) não sofrem deterioração na proporção que ocorre com
os demais grupos de alimentos. São, no entanto, fonte de esporos de bactérias (especialmente
Clostridium) e de bolores. Tratamento com gases, como óxido de propileno ou óxido de etileno e
radiação gama e microondas, reduzem a carga microbiana dos condimentos. O tratamento da
pimenta do reino com óxido de etileno (90% + 10% CO2) é capaz de eliminar a Salmonella e
reduzir em mais de 90% a microbiota do produto. Entretanto, a radiação gama é considerado o
tratamento mais seguro (até 30 kGy), pois o óxido de etileno pode formar compostos tóxicos ao
reagir com lipídios (óleos essenciais).
A microbiota que causa alterações em molhos para saladas é bastante restrita, sendo em geral
composta das espécies de Lactobacillus, Saccharomyces e Zygosaccharomyces. A deterioração da
maionese se dá pelas espécies de Hansenula, Pichia, Geotrichium, Saccharomyces e Lactobacillus.
As alterações mais freqüentes causadas por esses microrganismos são: formação de gases, mudança
na cor, sabor, no odor e na textura.
Microbiologia de ovos
Microbiota inicial – O ovo das aves geralmente é estéril, embora, desde o início dos anos 80,
tenha sido constatada a presença eventual de Salmonella na gema, pois a mesma pode se encontrar
no ovário ou na parte alta do oviduto da galinha. A proteção do ovo aos contaminantes externos
é conferida pela cutícula, pela própria casca e pela membrana interna. Na clara, a viscosidade, o
pH elevado e a lisozima são fatores que impedem a multiplicação dos microrganismos que
eventualmente tenham acesso ao interior do ovo.
Durante a postura, os ovos podem se contaminar externamente, através de sua passagem pela
cloaca. Logo após a postura e após esfriar, cria-se uma pressão negativa que favorece a entrada
de microrganismos; a contaminação é favorecida quando a umidade relativa do ambiente é elevada.
Em ambientes secos, higiênicos e sem mudança de temperatura, o interior do ovo se preserva das
contaminanções. A cama de postura, com presença de fezes e de outras sujidades, contribui para
que a casca se contamine com microrganismos, inclusive os patogênicos.
Manchas roxas, acompanhadas de odor quase imperceptível, são provocadas pelas espécies de
Serratia. Microrganismos como Proteus e às vezes algumas espécies de Pseudomonas e de
Aeromonas, podem provocar alterações caracterizadas pelo enegrecimento (presença de gás
sulfídrico) e odor pútrido. O exame pela ovoscopia mostra que os ovos se apresentam opacos,
pois as gemas enegrecidas se desintegram. Algumas espécies de Pseudomomas, Achromobacter,
Alcaligenses e coliformes podem provocar alterações quase imperceptíveis, pois não desenvolvem
coloração e odor, ou o odor pode ser semelhante ao de frutas. A gema solta-se e no estágio final
pode se desintegrar. A albumina pode se liquefazer.
Os bolores produzem coagulação ou liquefação do ovo, dando lugar a sabor e odores de mofo.
As alterações passam por diversas fases de desenvolvimento:
1) produção de manchas puntiformes que aparecem em grande número dentro e fora da casca. A
cor dessas microcolônias de bolores varia com o gênero envolvido, Penicillium produz manchas
amarelas, verdes ou azuis no interior da casca, Cladosporium, verde escuras ou negras e
Sporotrichium, róseas;
2) produção de mucosidade superficial que ocorre quando a atmosfera em que os ovos são
armazenados é muito úmida, e o desenvolvimento de bolores se dá em toda a casca. Essa
alteração é causada por espécies dos gêneros Penicillium, Cladosporium, Sporotrichium, Mucor
e Alternaria.
3) apodrecimento devido à penetração dos micélios dos bolores através de poros ou rachaduras
da casca. A clara se transforma em gelatina e ocorre o desenvolvimento de manchas anormais
de cor roxa ( Sporotrichium ) ou negra (CLadosporium).
Patógenos - Antes da postura alguns ovos já podem estar contaminados com microrganismos
patogênicos do ovário e oviduto da galinha. Inúmeros surtos de infecção alimentar tem sido
atribuídos à Salmonella Enteritidis veiculada por ovos e seus produtos. Esses surtos têm ocorrido,
praticamente, em todo o mundo. Acredita-se que a contaminação, via casca, seja a principal fonte
de infecção, no entanto a contaminação por esse patógeno internamente na ave, já foi
comprovada. É possível a presença de outras salmonelas, como a Typhimurium e a Heildelberg.
A contaminação microbiana das cascas dos ovos de consumo e a sua posterior penetração por
microrganismos pode ser minimizada através de vários procedimentos:
a) coleta dos ovos nos galpões várias vezes ao dia (reduzindo dessa forma o tempo de exposição
ambiental;
b) sanificação da casca após coleta;
c) armazenamento sob refrigeração.
A adoção da higienização da casca dos ovos comerciais com sanificantes pode representar uma
melhora sanitária na qualidade dos mesmos, contribuindo na redução da sua contaminação
microbiana interna, redução dos riscos de doença alimentar e aumento da vida de prateleira.
Quando os ovos são lavados em tanque sem renovação da água ou do sanificante, durante o
processo, a água fica carregada de matéria orgânica e impurezas. A ausência de controle e as
condições impróprias de temperatura e pH da água podem acarretar aumento da carga bacteriana
nos ovos após a etapa de lavagem.
São vários os pratos prontos elaborados com ingredientes crus: saladas de folhas verdes, cenoura,
cebola, tomate picados, quibe cru, bife tártaro, sashimi e sushi, maionese, mousse, glace elaborada
com clara de ovo crua e outros.
Os processos de preparação, quando possíveis de serem aplicados, têm por objetivo diminuir a
carga microbiana, em especial a seleção, lavagem e desinfecção de hortifrutigranjeiros,
imediatamente antes do consumo. Para outros produtos, entretanto, não é possível a adoção de
tais medidas, como é o caso do consumo de ostras cruas. É aconselhável que pescados consumidos
crus sejam previamente congelados, considerando a presença de parasitos e de Vibrio
parahaemolyticus, que são sensíveis ao congelamento.
As frutas e legumes que são descascados para o consumo podem contaminar-se durante e após o
preparo. É importante considerar as condições de manuseio e a contaminação por utensílios e
equipamentos.
Alimentos cozidos
Além disso, as características próprias do produto, como pH, Aa, Eh e outros, devem ser
consideradas como importantes para a multiplicação do patógeno. Alguns patógenos estão
específicamente relacionados com determinados grupos de alimentos, como é o caso do Clostridium
perfringens tipo A com carnes cozidas e do Bacillus cereus com produtos de cereais, leite e carne.
Alimentos mistos
São os pratos prontos que contêm alimentos cozidos e crus. A adição de salsinha picada ou de
pimenta do reino sobre alimentos cozidos pode ser uma fonte importante de contaminação para
o prato preparado, assim como os demais ingredientes crus, como folha de alface, cenoura ralada
e outros. Os cuidados de preparo para a montagem final do prato devem considerar as etapas
importantes que minimizem a possibilidade de contaminação e multiplicação de patógenos.
Lanches rápidos
Muitas vezes, sanduíches e salgadinhos são consumidos como lanches rápidos, até em substituição
de refeições. Além da possível presença de patógenos nos recheios dos sanduíches, este é um
produto bastante manipulado. A higiene do manipulador, utensílios e equipamentos é fator que
também pode contribuir para a presença de patógenos. Os salgadinhos (quibe frito, esfiha, coxinha
etc) são preparados, em geral, com antecedência e também podem sofrer recontaminações ou
ser mantidos em condições que favoreçam a multiplicação de patógenos.
Os principais fatores relacionados com a contaminação de pratos prontos para o consumo são: o
emprego de matéria-prima e ingredientes contaminados ou exposição às contaminações e práticas
que propiciam a sobrevivência e a multiplicação dos microrganismos patogênicos. Estes fatores
não são excludentes.
As causas da contaminação são: fontes não confiáveis das matérias-primas e ingredientes (origem
e procedência); manipuladores veiculadores de patogênicos; contaminação cruzada (inclui
c) Perigos físicos são vidros, metais, madeira ou objetos que possam causar dano ao consumidor
(ferimentos de boca, quebra de dente e outros).
Bactérias patogênicas
Bactérias patogênicas e/ou suas toxinas causam a maioria dos surtos e casos de doenças de
origem alimentar notificados. Esses microrganismos podem ser encontrados, em um determinado
nível, em alimentos crus. Condições de estocagem e/ou manipulação impróprias desses alimentos
contribuem para um aumento significativo de sua quantidade. Alimentos processados, como por
exemplo os que sofreram cocção, podem ser contaminados (contaminação cruzada) com
microrganismos patogênicos que alcançam rapidamente uma dose infectante , se a temperatura
de armazenamento for favorável à sua multiplicação.
TABELA 1: Estimativa dos custos das doenças de origem alimentar causadas por bactérias – Estados
Unidos, 1987
Fonte: GT-VEDTHA/CENEPI/FUNASA/MS.
a) Salmonella sp
O gênero Salmonella pertence à família Enterobacteriaceae, sendo constituída de duas espécies:
S. entérica, com 6 subespécies e S. bongori (Tabela 3). Baseados nos antígenos O e H foram
descritos em torno de 2.375 sorovares.
Espécies/subespécies Nº de sorovares
S.enterica
subsp arizonae 94
subsp houtenae 65
subsp indica 10
S. bongori 19
Total 2375
Salmonella é encontrada no trato intestinal de mamíferos, pássaros, anfíbios e répteis. Pode ser
transferida aos frutos do mar devido à poluição das orlas litorâneas com dejetos humanos e de
animais, ou por contaminação pós-captura de peixes.
Infecção de origem alimentar causada por Salmonella spp. provoca náusea e vômito, dores
abdominais e febre. O período de incubação varia de 5 a 72 horas e, em média, de 12 a 24 horas.
Os sintomas persistem por 3 a 14 dias. A dose infectante é extremamente variável, sendo
relativamente alta para indivíduos saudáveis e baixa para indivíduos de risco, como por exemplo
idosos e imunocomprometidos.
Parâmetros Valores
Temperatura mínima 5,2°C
Temperatura máxima 46,2 °C
pH mínimo 3,7
pH máximo 9,5
Aa mínima 0,94
% máximo de NaCl 8
TABELA 5: Termorresistência
Fonte: Price,1997
b) Shigella sp
Shigella é encontrada no trato intestinal de humanos. Na grande maioria dos casos a disseminação
se dá pela transmissão pessoa a pessoa. No entanto, têm sido documentados surtos de infecção
causados pela ingestão de alimentos ou água contaminados. Alimentos prontos para consumo
(saladas, leite etc.) são os principais veículos desse microrganismo. Os sintomas aparecem, em
geral, dentro de 4 a 7 dias. Na forma mais severa, o paciente apresenta desidratação, fezes
mucossanguinolentas com presença de pus, tenesmos, toxemia e febre. A doença persiste, em
geral, por 3 a 14 dias. A dose infectante é baixa: de 10 a 102 células.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 6,1°C
Temperatura máxima 47,1°C
pH mínimo 4,8
pH máximo 9,34
Aa mínima N/D
% máximo de NaCl 6
Fonte: Price,1997
c) Escherichia coli
Escherichia coli patogênica tem sido agrupada em cinco categorias, baseando-se nas características
de virulência, diferenças quanto à epidemiologia e composição antigênica O:H. São denominadas
de E. coli enteropatogênica (EPEC), E. coli enterotoxigênica (ETEC), E. coli enteroinvasora (EIEC),
E. coli enterohemorrágica (STEC-EHEC) e E. coli enteroagregativa (EAggEC) (Tabela 7).
Cepas de Escherichia coli são naturalmente encontradas nos tratos intestinais de todos os animais,
inclusive de humanos. A maioria das cepas não é patogênica. Cepas patogênicas de E. coli, de
Vários surtos causados por EHEC envolveram alimentos de origem bovina e maçã. Infecções
causadas por cepas pertencentes às demais categorias, com exceção das EaggEC, já foram
associadas à ingestão de alimentos.
A contaminação cruzada é muito comum. Infecção alimentar por E. coli pode causar dor abdominal,
diarréia aquosa ou sanguinolenta, febre, náusea e vômito. Os sintomas variam em função da
categoria a que pertence a cepa implicada assim como do período de incubação e da duração da
doença. Com exceção de STEC (EHEC), cujo período de incubação é longo (3 a 9 dias), as demais
categorias provocam diarréia dentro de 8 a 24 horas após a ingestão do alimento contaminado.
A dose infectante para ETEC e EPEC é elevada, 105 a 108, ao passo que para EIEC é baixa, semelhante
à de Shigella; já para STEC (EHEC) e EAggEC não é conhecida.
Sítio primário intestino delgado intestino grosso intestino delgado intestino delgado ND
EPEC - E. coli enteropatogênica clássica; ETEC - E. coli enterotoxigênica; EIEC - E. coli enteroin-vasora; STEC (EHEC) - E. coli
enterohemorrágica e EAggEC - E. coli enteroagregativa; ND - não documentado.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 2,5°C
Temperatura máxima 45,5°C
pH mínimo 4,0
pH máximo 9,0
Aa mínima 0,95
% máximo de NaCl 6-8%
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 8-10°C
Temperatura máxima. 45,5°C
pH mínimo 4,0
pH máximo 8,5
Aa mínima 0,95
% máximo de NaCl 6-8
Fonte:Price,1997
d) Yersinia enterocolítica:
Vários surtos têm indicado que esse microrganismo provoca enterite de origem alimentar, sendo
o leite cru, leite achocolatado, carne de suínos e seus derivados, ostras e pescados comumente
implicados como veículos da infecção. Encontra-se amplamente distribuído na natureza, sendo
os suínos os seus principais reservatórios. Foram isolados também de vacas, chinchilas, coelhos,
aves, pescados e outros animais. Yersiniose provoca diarréia e vômito, dor abdominal e febre,
simulando freqüentemente uma apendicite. O período de incubação varia de 2 horas a 6 dias e,
em média, de 72 horas, com duração de 7 dias. Os sintomas podem desaparecer em 2 dias, como
também podem perdurar por 30 dias, dependendo da virulência da cepa, da faixa etária e do
grau de resistência do hospedeiro.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima - 1,3°C
Temperatura máxima 44°C
pH mínimo 3,0
pH máximo 9,6
Aa mínima 0,95
% máximo de NaCl 5-6
Fonte:Price,1997
Fonte:Price,1997
e) Campylobacter sp
Contaminação cruzada de alimentos por superfícies de contato sujas, incluindo tábuas de cortar
e mãos, pode ser a rota mais freqüente. A transmissão também pode ser pelo contato pessoa a
pessoa. Os sintomas aparecem após dois a cinco dias e incluem diarréia profusa (às vezes
sanguinolenta), dores abdominais, cefaléia, fraqueza e febre. Muitas infecções são assintomáticas.
Como na yersiniose, a campylobacteriose persiste por 2 a 30 dias, sendo que a média é de 7 dias.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 30°C
Temperatura máxima 45°C
pH mínima 4,9
pH máxima 9,5
Aa mínima > 0,97
% máximo de NaCl 2
Fonte:Price,1997
Fonte:Price,1997
f) Listeria monocytogenes
O gênero Listeria constitui-se das seguintes espécies: Listeria monocytogenes, L. ivanovii, L. innocua,
L. seeligeri, L. denitrificans, L. murrayi, L. grayi e Listeria welshimeri. Todas são contaminantes de
alimentos, sendo que a Listeria ivanovii é responsável por aborto em bovinos e caprinos e a
Listeria monocytogenes constitui-se em importante patógeno para o homem e animais.
Com base nos 15 antígenos somáticos (O) e 5 antígenos flagelares (H) a Listeria monocytogenes
foi dividida em 13 sorovares, sendo que L1/2a, L1/2b e L4b são responsáveis por mais de 90%
dos casos de listeriose humana.
Não são motivo de preocupação os alimentos crus que irão passar por processo de cocção antes
de serem consumidos, pois as cepas de L. monocytogenes são, em geral, sensíveis ao calor. Os
produtos prontos para consumo que não requerem posterior cocção constituem as maiores ameaças
de listeriose. L. monocytogenes tem sido isolada de queijos, produtos cárneos, pescados frescos
e preservados e vegetais.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 0°C
Temperatura máxima 45,0°C
pH mínima 4,3
pH máxima 9,6
Aa mínima 0,83
% máximo de NaCl 20
60 2,39 Lagosta
Fonte:Price,1997
g) Bacillus cereus
Encontra-se largamente distribuído na natureza, sendo o solo o seu resevatório natural.
Comumente contamina vegetais, cereais, condimentos, além de muitos outros alimentos crus e
processados.
Têm sido atribuídos ao B. cereus duas formas de gastrenterite: a síndrome diarréica e a síndrome
emética. A primeira é caracterizada por dor abdominal e diarréia. O período de incubação é de 4
-16 horas e os sintomas duram cerca de 12 a 24 horas. Os alimentos comumente envolvidos
nesse tipo de gastrenterite são produtos cárneos, pescado, leite, produtos amiláceos e vegetais
cozidos ou brotos de vegetais crus. A segunda é caracterizada por um ataque agudo de náusea e
vômito. Diarréia não é comum. O período de incubação é de 1 a 5 horas. O alimento comumente
envolvido em surtos e casos esporádicos de síndrome emética é o arroz cozido a vapor ou frito.
Toxinfecção causada por Bacillus cereus ocorre, em geral, quando os alimentos, após a sua
cocção, são mantidos sem refrigeração apropriada durante poucas horas (2h a 3h) antes de
serem servidos. Muitas vezes, o aquecimento não é suficiente para destruir os esporos, freqüentes
nos cereais e vegetais. O calor favorece a germinação dos esporos e a manutenção a uma
temperatura propícia favorece a multiplicação das formas vegetativas, podendo alcançar a dose
infectante ou produzir toxinas no alimento.
Importante ressaltar que a temperatura de cocção utilizada para o preparo da maioria de alimentos
prontos para o consumo não elimina completamente os esporos de Bacillus cereus.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 4°C
Temperatura máxima 50°C
pH mínimo 4,3
pH máximo 9,3
Aa mínima 0,91
% máximo de NaCl 18
Fonte:Price,1997
90 21-137 Água
95 5-36 Água
100 6.7-8.3 Água
Fonte:Price,1997
h) Clostridium botulinum
São agrupados sete tipos de C. botulinum, de A a G, baseado na especificidade sorológica das
neurotoxinas que produzem as doenças. O botulismo humano, toxinose de origem alimentar,
ferida e botulismo infantil estão associados aos tipos A , B, E e, muito raramente, F. Os tipos C e
D causam botulismo em animais. Até o presente, não há nenhuma evidência do envolvimento do
tipo G com doenças.
ND - não determinado
O botulismo de origem alimentar varia desde um quadro benigno até uma doença grave, que
pode levar à morte em menos de 24 horas. Os sintomas aparecem em média entre 12 a 36 horas
após a ingestão, podendo ocorrer após poucas horas, ou em até 14 dias. Os primeiros sintomas
a aparecer são: náusea, vômito (mais raro) seguido de distúrbios neurológicos, como visão
dupla, pupilas fixas e dilatadas, dificuldade de falar e de engolir, boca, garganta e língua secas,
dor na garganta, cansaço, perda de coordenação muscular e falência respiratória. Outros sintomas
gastrointestinais podem incluir dores abdominais, diarréia ou constipação. Esses sintomas
aparecem em função do tipo de neurotoxina envolvida. Incapacidade respiratória e obstrução
à entrada de ar são as principais causas de morte.
Os esporos de C. botulinum são, comumente, encontrados no solo sedimentoso. Têm sido isolados
de carnes, mel, vegetais, produtos de laticínios, pescados, tratos intestinais de peixe e vísceras
de caranguejos e outros frutos do mar.
C. perfringens causa dois tipos de doenças que podem ser transmitidas por alimentos: toxinfecção
alimentar (C. perfringens A) e enterite necrótica (C. perfringens C), sendo esta última bastante
rara.
Alimentos como carne e frangos cozidos e mantidos sem aquecimento ou refrigeração adequados
antes de servir são os principais veículos desse microrganismo.
A presença de pequeno número de C. perfringens não é incomum em carnes cruas, frangos, sopas
desidratadas, molhos, legumes crus e especiarias. Pelo fato dos esporos de algumas cepas serem
resistentes a temperaturas tão altas quanto 100°C por mais de uma hora, sua presença em pratos
pontos é praticamente inevitável. Além disso, o nível de oxigênio durante a cocção encontra-se
bastante reduzido, permitindo a multiplicação dos clostrídios. Esporos que sobrevivem à cocção
podem germinar e as células vegetativas desenvolvem-se rapidamente em alimentos não
refrigerados adequadamente. Assim, quando evidências clínicas e epidemiológicas sugerem que
C. perfringens é a causa de um surto alimentar, a presença de centenas de milhares ou mais destes
organismos por grama de alimento consubstancia o diagnóstico. Porém, as formas vegetativas
que são responsáveis pela doença são mortas quando conservadas em temperaturas baixas; as
formas esporuladas se mantêm viáveis.
TABELA 20: Parâmetros que controlam o desenvolvimento das células vegetativas de C. perfringens
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 10°C
Temperatura máxima. 52°C
pH mínimo 5,0
pH máximo 9,0
Aa mínima 0,93
% máximo de NaCl 7
Fonte: Price,1997
j) Staphylococcus aureus
O gênero Staphylococcus pertence à família Microccocaceae, que inclui dois outros, Micrococcus e
Planococcus. É dividido em mais de 23 espécies e subespécies, muitas delas encontradas em
alimentos como resultado de contaminação de humanos, animais ou ambiente. Seis espécies são
isoladas com maior frequência: S. aureus, S. chromogenes, S. hyicus, S. intermedius, S. epidermidis
e S. saprophyticus, as três primeiras de grande relevância para a Microbiologia de Alimentos.
S. aureus é a espécie que apresenta maior potencial patogênico para o ser humano e é
extremamente importante para a Microbiologia de Alimentos, por ser uma das mais freqüentes
causas de gastrenterite de origem alimentar em todo o mundo. Cepas de S. aureus produzem
várias enzimas e toxinas que participam no seu mecanismo de patogenicidade. As enterotoxinas
são particularmente importantes no processo de gastrenterite de origem alimentar. A toxinose
estafilocócica é provocada pela ingestão de alimentos contendo enterotoxina pré-formada, não
havendo participação direta das células vegetativas. São vários os tipos de enterotoxina envolvidos
em toxinoses alimentares por S. aureus: A, B, C1, C2, C3, D e E. Apesar de haver outras espécies com
capacidade para produzir enterotoxina, a maioria das toxinoses têm sido causadas por S. aureus.
A doença é autolimitante, começando com um quadro emético após um curto período de incubação,
usualmente dentro de 4 horas após a ingestão do alimento. Períodos mais curtos, cerca de 30
minutos a 3 horas, assim como mais longos, até 10 horas, já foram observados, sendo a média
de 4 horas. Além de vômitos, sintomas como náusea, dor abdominal, diarréia, dor de cabeça, dor
muscular e prostração, são comumente observados. Algumas pessoas podem não apresentar
vômitos. A diarréia é, em geral, aquosa, podendo conter sangue. As toxinoses geralmente produzem
quadros clínicos afebris.
É difícil estabelecer a dose infectante, pois vários parâmetros podem afetar a produção de
enterotoxinas. De acordo com a “Food and Drug Admnistration”, a dose de enterotoxina
estafilocócica poderá ser atingida quando a população de S. aureus for maior que 105 UFC por
grama do alimento contaminado. Outros estudos mostram que 105 a 108 UFC por grama seria a
faixa típica, apesar de níveis mais baixos também terem sido observados. Embora a enterotoxina
estafilocócica seja muito potente, a quantidade necessária para induzir os sintomas é relativamente
grande. Níveis de 1 a 5 mg têm sido associados em muitos surtos. No entanto, 1 mg de enterotoxina
por grama do alimento contaminado já é suficiente para provocar os sintomas.
Os seres humanos são os principais reservatórios para os estafilococos, incluindo S.aureus. Apesar
de pertencer à microbiota normal das mucosas e pele, S. aureus é um dos mais importantes
patógenos para a espécie humana. Coloniza principalmente as mucosas nasais e oral (garganta),
podendo estar presente em outros locais como períneo, pele e cabelo de indivíduos saudáveis.
Indivíduos portadores são os principais disseminadores desse microrganismo. A disseminação
do S. aureus entre os seres humanos e destes para os alimentos pode ocorrer por contato direto
ou indireto, através de fragmentos de pele ou por secreções do trato respiratório. Além da
contaminação através dos manipuladores de alimentos, portadores de S. aureus, essa bactéria
pode ser introduzida no alimento a partir de equipamentos e utensílios usados no processamento
de alimentos, como moedores de carne, facas, tábuas de cortar e serras.
Os animais constituem uma outra importante fonte de S. aureus, pois são freqüentemente
colonizados por esse microrganismo. Isso se torna um problema de saúde pública pois resulta na
contaminação de alimentos, principalmente do leite obtido de animais com mastite.
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 5,6°C
Temperatura máxima 50°C
pH mínimo 4,3
pH máximo 10
Aa mínima 0,83
% máximo de NaCl 20
Parâmetro Valores
Temperatura mínima 10°C
Temperatura máxima 48°C
pH mínimo 4,76
pH máximo 9,02
Aa mínima 0,87
% máximo de NaCl 12
Fontes: Price, 1997; ICMSF, 1996
O valor D (valor de redução decimal) é o tempo exigido para destruir 90% da toxina a uma temperatura
específica em um meio específico.
Fonte:Price,1997
l) Vibrio spp
O gênero Vibrio pertence à família Vibrionaceae. Possui várias espécies patogênicas para o homem,
destacando-se V. cholerae, V. parahaemolyticus e V. vulnificus, pela sua importância na Microbiologia
de Alimentos.
Vibrio cholerae: até o presente, foram descritos mais de 130 sorovares de V. cholerae. As epidemias
de cólera foram sempre associadas às cepas produtoras de toxina termolábil pertencentes ao
sorogrupo 01. Por isso, são descritas como V.cholerae 01, para indicar o agente da cólera e V.
cholerae não 01, para designar cepas pertencentes aos demais sorovares (sorotipos) não
relacionados à colera. Recentemente surgiu na Índia, em Bangladesh, uma doença muito
semelhante à cólera, porém mais grave, que, no entanto, não era causada pelo sorogrupo 01,
mas sim 0139.
A cólera pode ser causada por dois biotipos de V. cholerae; o clássico e o El Tor. Cada biotipo é
classificado em 3 sorovares; Inaba, Ogawa e Hikojima. A atual pandemia que atingiu a América
do Sul, em 1991, teve início no Peru e se estendeu para outros países, inclusive o Brasil. Ela é
causada pelo V. cholerae 01, biotipo El Tor.
Os sintomas mais comuns de doença provocada por V. parahaemolyticus são: diarréia, dores
abdominais, náusea, vômito e enxaqueca. Febre e calafrios não são freqüentes. O período de
incubação varia de 2 a 48 horas, de média de 12 horas. Os sintomas podem persistir por 2 a 10
dias; no entanto, costumam desaparecer em 3 dias. A doença tem sido associada ao consumo de
caranguejos contaminados, ostras, camarão, lagosta e peixe cru. Ocorre com grande freqüência
no Japão, por causa do hábito alimentar de ingerir peixes crus (sashimi e sushi).
Vibrio vulnificus: é uma bactéria que ocorre naturalmente em ambiente marinho, requerendo sal
para sobrevivência. Ocorre principalmente no Golfo do México, mas também foi isolada dos oceanos
Atlântico e Pacífico. Os níveis dessa bactéria no ambiente são mais elevados durante os meses
mais quentes.
Os sintomas mais comuns incluem: lesões de pele, choque séptico, febre, calafrios e náusea. Dor
abdominal, vômito e diarréia são pouco freqüentes. A morte ocorre em aproximadamente 50%
dos casos. Várias condições médicas tornam os indivíduos mais suscetíveis aos efeitos maléficos
dessa bactéria, incluindo: doença hepática, alcoolismo, câncer, diabete, doença renal crônica,
Temperatura mínima ND 5 °C 8° C
pH máximo 9,6 11 10
ND - Não disponível
m) Plesiomonas shigelloides
O gênero Plesiomonas pertence à família Vibrionaceae, sendo constituído por bacilos Gram-
negativos, anaeróbios facultativos, citocromooxidase positiva e fermentadores de carboidratos.
São diferenciados dos Vibrios e Aeromonas, que também pertencem a essa família, principalmente
pela fermentação do inositol. Plesiomonas shigelloides, a única espécie do gênero, tem sido,
recentemente, indicada como agente de diarréia. Os reservatórios desse microrganismo incluem
aves, peixes, crustáceos, mamíferos (cães, gatos, ovelhas), répteis e os seres humanos.
Surtos de gastrenterites têm sido documentados incriminando alimentos e água como veículos.
Os alimentos comumente associados aos surtos foram: pescados, como caranguejos, ostras (cruas
ou cozidas) e peixe. Pouco se conhece, ainda, sobre a epidemiologia e biologia desse
microrganismo. A sua importância advém do fato de se encontrar disseminado no ambiente
contaminado com dejetos humanos e de animais e por produzir toxinas, possivelmente
responsáveis pela diarréia. Os sintomas clínicos, além da diarréia, são: dores abdominais, náuseas,
vômitos, febre e cefaléia. O período de incubação varia de 24 a 48 horas.
n) Aeromonas
O gênero Aeromonas pertence à família Vibrionaceae. As espécies comumente associadas a doenças
são móveis e incluem A. hydrophila, A. veronii biotipo sobria (V. sobria) e A. caviae. Investigações
epidemiológica, microbiológica, clínica e imunológica confirmam a sua relevância como agentes
de gastrenterites. Acometem principalmente crianças com menos de 2 anos e adultos com mais
de 50 anos e pacientes imunocomprometidos. Essas cepas possuem propriedades de virulência,
como capacidade de produzir enterotoxinas, citotoxinas, hemolisinas e/ou invadir células
epiteliais. A. hydrophila e A. sobria causam dois tipos de diarréias, uma semelhante à cólera,
caracterizada por diarréia aquosa e febre moderada, e outra do tipo disenteriforme, muito
semelhante à diarréia provocada por Shigella, apresentando muco e sangue nas fezes. São
comumente isoladas da água para consumo e de uma variedade de alimentos, como mariscos,
carnes de aves e bovinos, vegetais e leite cru. Os reservatórios desses microrganismos são água
doce, águas residuais e água marinha.
Vírus em alimentos
Vírus entéricos podem ser de origem fecal, aquática ou transmitidos aos alimentos por contato
humano ou animal. Diferente das bactérias, os vírus não podem se multiplicar fora das células
vivas (hospedeiras), ou seja, nos alimentos. Vírus patogênicos como os da hepatite A, da
poliomelite e aqueles causadores de gastrenterites (rotavírus e vírus Norwalk) podem ser veiculados
por água e alimentos.
Outros Agentes
Outros parasitos e infectantes prejudiciais à saúde humana e que podem ser controlados através
das Boas Práticas estão descritos detalhadamente no capítulo 1 deste manual. Entre eles, as
miíases e os príons.
PERIGOS Q UÍMICOS
Perigos químicos são resíduos ou produtos de degradação em níveis inaceitáveis nos alimentos.
A contaminação química dos alimentos pode ocorrer em qualquer momento da sua fabricação,
desde a produção de matérias-primas, até o consumo do produto final. Os efeitos dos
contaminantes químicos no consumidor podem ser a longo prazo (crônicos), como os produzidos
por produtos químicos carcinogênicos, cumulativos (por exemplo micotoxinas), que podem se
acumular no organismo durante muitos anos; ou podem ser a curto prazo (agudos), como os
produzidos por alimentos alergênicos.
Toxinas naturais
a) Toxinas marinhas têm sido associadas a inúmeras síndromes, destacando-se a Ciguatera
(ciguatoxinas) e os envenenamentos por toxinas paralisante, diarréica, neurotóxica e amnésica.
Essas toxinas são produzidas por algas, principalmente do grupo dos dinoflagelados. O
aparecimento dos sintomas está, em geral, associado ao consumo de peixes (barracuda), em
especial capturados na região do Caribe, no caso da Ciguatera, e de frutos do mar nas demais
síndromes. A tetrodotoxina é uma toxina associada com peixes tipo baiacu. Os sintomas da
parestesia (oral e geral) – náusea, vômito diarréia, paralisia muscular e respiratória – podem
aparecer em 10 minutos a quatro horas após a ingestão do peixe. Morte pode ocorrer dentro de
6 horas. As tetrodotoxinas são produzidas por alguns grupos de bactérias (Vibrio sp, Pseudomonas
sp, Shwanella sp e Alteromonas sp) presentes nos baiacus, ficando acumuladas em suas vísceras.
b) Metabólitos tóxicos de origem microbiana, entre os quais destacam-se as aminas tóxicas (tipo
histamina). A intoxicação causada por histamina resulta do consumo de peixes, principalmente
da família Scombrideae (atum e bonito). Incidentes têm ocorrido, também, com outros tipos
de peixes como arenque, sardinha e anchova. A amina tóxica tipo histamina é produzida pela
conversão da histidina na presença de histidina descarboxilase produzida por algumas
bactérias deteriorantes (Morganella morganii, Hafnia, Klebsiella, entre outras). Essas bactérias
fazem parte da microbiota do ambiente marinho e do peixe ou podem ser introduzidas após
captura ou em qualquer fase de processamento. A produção de aminas (histamina) ocorre
em temperaturas superiores a 4°C, sendo importante destacar a sua termorresistência.
Os sintomas – vermelhidão na face, pescoço e peito, seguida de diarréia, vômito, sudorese,
dor de cabeça e dor abdominal – aparecem em pouco tempo, dentro de alguns minutos a duas
horas após a ingestão do peixe contaminado.
Micotoxinas
As micotoxinas, metabólitos tóxicos produzidos pelos bolores, encontram-se bastante
disseminadas nos alimentos ou nas matérias-primas utilizadas na sua produção, sendo que algumas
As aflatoxinas são produzidas por algumas espécies do gênero Aspergillus, como o A. flavus e A.
parasiticus, sendo bastante freqüentes em milho e amendoins, estando presentes em outros
tipos de cereais, em sementes e especiarias.
As patulinas são produzidas por várias espécies dos gêneros Penicillium, Aspergillus e
Byssochlamys, sendo importante em alimentos a espécie P. expansum, que se desenvolve em
maçãs, pêras e outras frutas. A presença de patulina em maçãs está comumente associada com
sinais de emboloramento, e a simples retirada das partes pode, praticamente, eliminar toda a
toxina.
Produtos de limpeza
Os produtos de limpeza são um dos perigos químicos mais comuns em qualquer operação de
preparação ou produção de alimentos. Os resíduos dos produtos de limpeza podem permanecer
nos utensílios, tubulações e equipamentos, sendo transferidos diretamente aos alimentos, ou
por respingos durante a limpeza de zonas adjacentes.
Pesticidas
Os pesticidas são produtos químicos utilizados para controlar ou acabar com pragas. Podem ser:
inseticidas; herbicidas; fungicidas; conservantes de madeira; repelentes de aves e animais;
protetores para o armazenamento de alimentos; raticidas; pinturas marinhas anti-fouling (para
evitar o aparecimento de microrganismos); produtos higiênicos de uso doméstico/industrial.
Os pesticidas são aplicados na agricultura, indústria, indústria naval e nos domicílios. Apesar de
aqueles utilizados na agricultura serem de maior importância para a segurança do alimento, deve
ser considerada a contaminação proveniente de outras fontes.
Esses contaminantes, quando presentes na água, podem se acumular nos peixes em níveis que
podem causar doenças.
Visando à segurança dos alimentos, deve-se conhecer quais são os pesticidas utilizados em todas
as matérias-primas em qualquer momento durante a preparação e quais são os pesticidas permitidos
e, em cada caso, o limite máximo de seguridade dos resíduos.
Além das matérias-primas que tenham contato direto com os pesticidas, deve-se considerar,
também, a possibilidade de contaminação cruzada com pesticidas em qualquer etapa da produção,
transporte e estocagem de alimentos.
b) determinar a utilização dos produtos vegetais para outros fins que não alimentícios (como
sementes) e/ou sua destruição sumária. Não há outra forma segura de controle. A mistura de
Alérgenos
Alguns componentes dos alimentos podem produzir alergias ou reações de intolerância em
indivíduos sensíveis. Essas reações variam de leves a extremamente sérias, dependendo da dose
e da sensibilidade do consumidor ao componente em questão.
a) rótulo eficaz, que mostre com precisão a composição do produto, ressaltando qualquer
componente potencialmente alergênico. Por exemplo, no caso de camarão descascado e
descabeçado, congelado, que contenha sulfito, este deve estar explicitamente declarado no
rótulo. O fato de conter sulfito e não estar declarado pode significar um risco para os
consumidores. Deve-se ter um cuidado especial quando se declara a presença de uma categoria
genérica como “pescado” ou “frutos secos”, já que determinadas pessoas podem ser alérgicas
a determinados tipos de pescado ou frutos secos;
Metais tóxicos
Outros contaminantes possíveis na produção primária são os metais pesados que podem ser
motivo de preocupação em níveis altos. Podem estar presentes ou agregados no ambiente de
procedência das matérias-primas, como é o caso de compostos mercuriais, que alcançam rios e
mares via descarga de indústrias, ou como conseqüência de atividades de garimpo, ou ainda por
estarem presentes em determinados pesticidas, entre outros.
a) a contaminação ambiental;
b) o solo onde crescem os alimentos;
c) os equipamentos, utensílios e envases utilizados no cozimento, processamento e
armazenamento;
d) a água utilizada no processamento;
e) os produtos químicos utilizados na agricultura.
A adição de nitratos e nitritos está regulada estritamente pela legislação, já que a presença nos
alimentos de altas concentrações de nitratos, nitritos e nitrosaminas pode ter efeitos tóxicos,
tais como metahemoglobinemia infantil e efeitos carcinogênicos.
As nitrosaminas podem se formar nos alimentos através da reação de nitratos e nitritos entre
eles, ou com outros produtos. Em determinadas ocasiões, também pode formar-se in vivo, quando
se ingerem, na dieta, grandes quantidades de nitratos e nitritos. Nos alimentos enlatados, os
nitratos podem produzir problemas adicionais ao deteriorar o verniz de recobrimento, permitindo
ao estanho atingir o produto.
Os constituintes dos plásticos em contato com os alimentos, bem como das embalagens encontram-
se estritamente regulados pela legislação, e também as migrações máximas permitidas em uma
série de alimentos-modelo.
Resíduos veterinários
Os hormônios, promotores de crescimento, e os antibióticos, utilizados nos tratamentos dos
animais, podem passar para os alimentos. Os hormônios e os promotores de crescimento utilizados
na produção animal estão proibidos em muitos países, e a utilização de antibióticos e outros
remédios é estritamente controlada.
Os alimentos portadores de antibiótico podem causar problemas graves devido à sua capacidade
de produzir reações alérgicas em pessoas suscetíveis, e os hormônios e os promotores de
crescimento podem ter efeitos tóxicos ao serem consumidos.
Aditivos químicos
Outros perigos, em especial os que estão relacionados com a formulação do produto, têm outras
etapas para o seu controle, ou seja, a própria formulação e o respectivo cumprimento da
quantidade de cada um deles.
Os aditivos são usados para produzir alimentos seguros e higiênicos, e também como coadjuvante
da produção e para melhorar o aspecto de alimentos que são nutritivos, porém pouco atrativos.
Também podem ser benéficos, como o caso das vitaminas.
Apesar dos limites constantes na legislação serem considerados seguros, a adição de aditivos
químicos é um perigo a ser considerado durante o processamento. A adição de determinados
conservantes, como o nitrato (nitrito) e agentes de sulfitação, pode representar um perigo,
dependendo da quantidade adicionada. A alguns corantes sintéticos, como a tartracina, foi
atribuída, mas não provada, a produção de hiperatividade em crianças.
Portanto, os aditivos podem ser benéficos; no entanto, se mal utilizados, podem se tornar
prejudiciais.
a) evitar o uso de nitrito quando existirem outras fontes alternativas possíveis que não
comprometam a segurança e a qualidade do produto;
b) controlar o uso de substâncias e/ou ingredientes que possam causar injúria, e os dizeres de
rotulagem, no caso de produtos destinados a classes especiais de consumidores;
c) evitar o uso excessivo de metabissulfito de sódio em alimento ácido, já que o anidrido sulfuroso
resultante pode ser prejudicial para os asmáticos (manipuladores e consumidores);
d) utilizar outras alternativas mais naturais do que a tartracina, caso o produto seja destinado a
consumidores jovens;
São utilizados em animais aquáticos para tratar doenças, controlar parasitas, afetar reprodução e
crescimento, e como tranqüilizante (durante o transporte).
Para mais informações sobre concentrações de uso permitidas para essas substâncias, consultar
a legislação vigente (ABIA, CNNPA).
PERIGOS FÍSICOS
Perigos físicos são corpos estranhos, em níveis e dimensões inaceitáveis. Os perigos físicos são
representados por objetos ou matérias estranhas que são capazes de, fisicamente, injuriar um
consumidor, incluindo os que são antiestéticos e desagradáveis.
Os perigos físicos podem contaminar o alimento em qualquer fase de sua produção. É importante
salientar que qualquer substância estranha pode ser um perigo para a saúde se puder produzir
dano ao consumidor. Isso é de especial importância nos alimentos produzidos para crianças, nos
quais pequenos pedaços de papel, proveniente dos envoltórios da embalagem, podem significar
um risco de vida.
São perigos físicos mais comumente associados aos alimentos: vidros, metais, pedras, madeiras,
plásticos e pragas.
Vidros
Os fragmentos de vidro podem provocar cortes na boca dos consumidores e, se engolidos, causam
sérias conseqüências (pode ocorrer perfurações do trato digestivo). As peças lisas de cristal,
como as de relógios, podem também causar problemas de engasgamento, ou quebrar em
fragmentos afiados ao serem mordidos pelo consumidor.
O vidro pode estar presente nas matérias-primas, como uma matéria estranha proveniente de um
ponto de produção, ou a partir da embalagem das matérias-primas.
Metais
Os metais podem ser introduzidos nos produtos a partir das matérias-primas, ou durante a
produção, podendo causar engasgamentos ou, se as peças forem afiadas, ferimentos.
Pedras
As pedras são fáceis de serem encontradas nas matérias-primas de origem vegetal, podendo ser
recolhidas juntamente com a colheita. Podem provocar danos nos dentes do consumidor ou
engasgamento; as pedras afiadas podem causar os mesmos problemas que o cristal e o metal. Um
exemplo comum é a presença de pedras no feijão.
Madeiras
Os fragmentos afiados de madeira podem ser um perigo para o consumidor, produzindo, por
exemplo, cortes na língua e garganta. Os pedaços de madeira podem, também, permanecer na
garganta do consumidor, provocando engasgamento.
c) advertir o pessoal da produção para que não traga artigos de madeira para as zonas de produção.
Isso deve fazer parte das Boas Práticas e do plano de formação de pessoal;
Plásticos
O plástico é utilizado freqüentemente para substituir outros perigos físicos, como a madeira e o
vidro; porém, é necessário ressaltar que os pedaços de plástico duro podem ser perigosos. O
plástico brando é usado nos envoltório e como parte do vestuário de proteção, como luvas e
aventais.
Pragas
As pragas são consideradas carreadoras de perigos biológicos mediante a introdução de
microrganismos patogênicos nos alimentos. Também podem ser consideradas produtoras de
perigos físicos, uma vez que sua presença no alimento pode provocar engasgamentos. As pragas
mais importantes são insetos, parte de roedores ou pássaros. Elas também podem carrear perigos
químicos, como a ingestão de iscas tóxicas de roedores e conseqüente liberação de toxinas.
Ossos
Os fragmentos de ossos podem provocar engasgamento, perfurações, cortes na boca e/ou danos
nos dentes do consumidor,
Ossos podem ser incorporados às carnes industriais durante etapas de separação de partes, cortes
e retirada de carne mecanicamente separada (CMS) na formação dos blocos, por fornecedores
inidôneos.
Espinha/ossos de pescado
Os fragmentos de ossos e, especialmente, de espinhas de pescados podem provocar engasgamento
ou perfurações na boca do consumidor.
Atenção: A seguir encontram-se quadros adaptados do Guia Veta, referentes aos perigos de
contaminação dos alimentos.
Enfermidade Agente Período de incubação Sinais e Alimentos envolvidos Material a ser Fatores que
etiológico ou latências Sintomas coletado (afetado) contribuem para a
ocorrência de surtos
Intoxicação por Possivelmente De 30 minutos a 2 Náuseas, vômitos, Muitas variedades de Vômito Ingestão de variedades
cogumelos do grupo substâncias tipo resina horas diarréia, dores cogumelos de cogumelos, tóxicas
que produz irritação de certos fungos abdominais não conhecidas e
gastrintestinal confundidas com outras
variedades comestíveis
Agentes químicos
Intoxicação por Antimônio em De alguns minutos até Vômitos, dores Alimentos e bebidas Vômito, fezes, urina Aquisição de utensílios
antimônio utensílios de ferro uma hora abdominais, diarréia muito ácidos contendo antimônio;
esmaltado armazenamento de
alimentos muito ácidos
em utensílios de ferro
esmaltado
Intoxicação por cádmio Cádmio em utensílios De 15 a 30 minutos Náuseas, vômitos, Alimentos e bebidas Vômito, fezes, urina, Aquisição de utensílios
chapados dores abdominais, muito ácidos, confeitos sangue contendo cádmio;
diarréia, choque e outros elementos armazenamento de
alimentos muito ácidos
em recipientes
contendo cádmio;
ingestão de alimentos
que contêm cádmio
Intoxicação por cobre Cobre nas tubulações e De alguns minutos até Sabor metálico, Alimentos e bebidas Vômito, lavado Armazenamento de
utensílios algumas horas náuseas, vômitos muito ácidos gástrico, urina, sangue alimentos muito ácidos em
(vômito verde), dores utensílios de cobre ou
abdominais, diarréia emprego de tubulações de
cobre para servir bebidas
muito ácidas; válvulas
para evitar refluxo (nas
máquinas para servir
Intoxicação por flúor Flúor de sódio nos De alguns minutos a Gosto de sal ou sabão, Qualquer alimento Vômitos, lavado Armazenamento de
inseticidas 2 horas intumescimento da contaminado gástrico inseticidas no mesmo
boca, vômitos, acidentalmente. Em lugar que os
SEGMENTO MESA
Intoxicação por Chumbo contido em 30 minutos ou mais Sabor metálico, Vômito, lavado Aquisição de
chumbo vasilhames de barro ardência na boca, Alimentos e bebidas gástrico, fezes, vasilhames contendo
cozido, pesticidas, dores abdominais, muito ácidos sangue, urina chumbo;
tintas, gesso, vômito leitoso, fezes embalados em armazenamento de
argamassa pretas ou vasilhames contendo alimentos muito ácidos
sanguinolentas, chumbo; qualquer em vasilhames
halitose, choque, alimento contaminado contendo chumbo;
Estanho em latas de De 30 minutos até 2 Edemas, náuseas, Vômitos, fezes, urina, Uso de recipientes de
Intoxicação por conserva horas vômitos, dores Alimentos e bebidas sangue estanho sem
estanho abdominais, diarréia, muito ácidos revestimento para
cefaléia armazenamento de
alimentos ácidos
Zinco em recipientes De alguns minutos até Dores bucais e Vômitos, lavagens Armazenamento de
Intoxicação por zinco galvanizados 2 horas abdominais, náuseas, Alimentos e bebidas gástricas, urina, alimentos muito ácidos
vômitos, tontura muito ácidos sangue, fezes em latas galvanizadas
Período de incubação de 1 a 6 horas
Agentes bacterianos
Bacillus cereus Enterotoxina de B. De 30 minutos a 5 Náuseas, vômitos, Arroz cozido ou frito, Vômitos, fezes Armazenamento de
gastrenterite (tipo cereus horas ocasionalmente pratos de arroz com alimentos cozidos em
emético) diarréia carne temperatura elevada;
alimentos cozidos em
vasilhames grandes;
preparação de
alimentos várias horas
antes de servi-los
Toxinose Enterotoxinas A, B, C, De 1 a 8 horas, média Náuseas, vômitos, Presunto, produtos de Doente: vômitos, Refrigeração deficiente;
estafilocócica D e E de de 2 a 4 horas dores abdominais, carne de boi ou de fezes, swab retal. manipuladores que
Staphylococcus aureus, diarréia, prostração aves, tortas recheadas Portador: swab nasal, tocaram em alimentos
estafilococos de nariz, com creme, misturas das lesões e anal cozidos; preparo do
pele e lesões em de alimentos, restos alimento várias horas
homens e animais de comida antes de ser servido;
infectados, e do úbere manipuladores com
de vacas infecções purulentas;
manutenção de alimentos
com temperatura elevada
(incubação bacteriana);
fermentação de
alimentos pouco ácidos
Agentes químicos
Intoxicação por nitrito Nitritos ou nitratos De 1 a 2 horas Náuseas, vômitos, Carnes curadas, Sangue Emprego de quantidades
empregados como cianose, cefaléia, qualquer alimento excessivas de nitritos ou
compostos para curar a tontura, fraqueza, contaminado nitratos para curar
carne. Água perda do acidentalmente, alimentos ou ocultar a
subterrânea de poços conhecimento, sangue exposto à excessiva decomposição; confundir
pouco profundos cor de chocolate nitrificação nitritos com sal comum
e outros temperos;
refrigeração insuficiente;
excessiva nitrificação dos
alimentos fertilizados
Intoxicação diarréica Ácido ocadáico e outras De 30 minutos a 12 Diarréia, náuseas, Mexilhões, moluscos, Lavado gástrico Captura de mariscos
por toxinas de toxinas produzidas por horas; em geral 4 dores abdominais ostras em águas com alto
Intoxicação por Ciclopeptídeos e De 6 a 24 horas Dores abdominais, Amanita phalloides, Urina, sangue, vômito Urina, sangue, vômito;
cogumelos dos grupos giromitrina em certos sensação de plenitude A.verna, Galerina ingestão de certas
ciclopeptìdeos e fungos gástrica, vômitos, autumnalis. Giromitra espécies de cogumelos
giromitrínicos diarréia prolongada, esculenta e espécies Amanita, Galerina e
astenia, sede, câimbras semelhantes de Giromitra; ingestão de
musculares, pulso cogumelos variedades
rápido e fraco, colapso, desconhecidas de
icterícia, sonolência, cogumelos; confundir
dilatação das pupilas, cogumelos tóxicos com
coma, morte variedades comestíveis
Vírus
Pequenos vírus Inclui adenovírus, Náuseas, vômitos, Fezes humanas Fezes, sangue na fase Pessoas infectadas que
Enfermidade Agente Período de incubação Sinais e Alimentos envolvidos Material a ser Fatores que
Etiológico ou latências Sintomas coletado contribuem para a
(afetado) ocorrência de surtos
Intoxicação por cloreto Misturas contendo Alguns minutos Ardor na língua, boca Sobremesas Vômito Contaminação dos
de cálcio cloreto de cálcio para e garganta, vômitos congeladas picolés durante o
congelamento de congelamento,
sobremesas permitindo a entrada
de cloreto de cálcio no
xarope
Intoxicação por Hidróxido de sódio em Alguns minutos Ardor nos lábios, na Bebidas engarrafadas Vômito Enxugar de maneira
hidróxido de sódio compostos para boca e na garganta; insuficiente as garrafas
lavagem de garrafas, vômitos, dores lavadas com produtos
detergente, limpadores abdominais, diarréia contendo hidróxido de
de tubulações, sódio
produtos para esticar o
cabelo
Infecções por Streptococcus pyogenes De 1 a 3 dias Faringite, febre, Leite cru, alimentos Swab faríngeo, vômito Manipuladores que
estreptococos da garganta e de náuseas, vômitos, com ovo tocaram alimentos
betahemolíticos lesões, em pessoas rinorréia; às vezes, cozidos; manipuladores
infectadas erupção cutânea com infecções
purulentas;
refrigeração
insuficiente; cozimento
ou reaquecimento
inapropriado; preparo
de alimentos várias
horas antes de serem
servidos
Gastrenterite por Enterotoxina de B. De 8 a 16 horas; Náuseas, dores Produtos de cereais, Fezes Refrigeração
Bacillus cereus (tipo cereus, microorganismo média de 12 horas abdominais, diarréia arroz, cremes e insuficiente;
diarréico) no solo molhos, picadinhos, armazenamento de
salsichas, vegetais alimentos em
cozidos, prato temperatura elevada
desidratado (incubação bacteriana);
Enterite por Clostridium Enterotoxina formada De 8 a 22 horas; Dores abdominais, Carne de boi ou de Fezes Refrigeração
perfringens tipo A durante a esporulação média de 10 horas diarréia aves cozidas, canja, insuficiente;
de C. perfringens nos molhos e sopas armazenamento de
intestinos; alimentos em
microrganismos nas temperatura elevada
fezes do homem ou de (incubação bacteriana);
animais e no solo preparo de alimentos
várias horas antes de
serem servidos;
reaquecimento inadequado
de sobras de comida
Cólera Enterotoxina de Vibrio De 1 a 3 dias Diarréia aquosa e Peixes e mariscos crus, Fezes Peixes e mariscos de
cholerae, biótipos intensa (fezes tipo alimentos lavados ou água contaminada com
clássicos e El Tor, em água de arroz), preparados com água água de esgoto de áreas
fezes de pessoas vômitos, dores contaminada endêmicas; falta de
infectadas abdominais, higiene pessoal;
desidratação, sede, trabalhadores infectados
colapso, redução do que manuseiam os
turgor cutâneo, rugas alimentos; cozimento
nos dedos, olhos inadequado; uso de água
fundos contaminada para lavar
alimentos; drenagem
inadequada de águas
residuais; uso do
conteúdo de latrinas
como fertilizante
Gastrenterite por Cepas De 5 a 48 horas; Dores abdominais, Diversos alimentos, Fezes Trabalhadores infectados
Escherichia coli enterotoxigênicas ou média de 10 a 24 diarréia, vômitos, água que manipulam os
patogênica invasoras de E. coli em horas náuseas, cefaléia, alimentos; refrigeração
fezes de homens e mialgia insuficiente; cocção
animais infectados inapropriada; limpeza
e desinfecção deficiente
do equipamento
Diarréia por E. coli O157: H7, O26, De 1 a 10 dias; em Diarréia aquosa, seguida Hambúrguer, leite cru, Fezes ou swab retal Hambúrguer feito de carne
Escherichia coli O111, O115, O113 geral, 2 a 5 dias de diarréia embutidos, iogurte, de animais infectados;
enterohemorrági-ca sanguinolenta, dor alface, água consumo de carne e leite
ou verotoxinogênica abdominal intensa, crus; cozimento
sangue na urina. inadequado; contaminação
Seqüela: síndrome cruzada; pessoas
hemolítico-urêmica infectadas que manuseiam
os alimentos prontos para o
seu consumo; desidratação
inadequada e
Diarréia por Escherichia Cepas de E. coli De ½ a 3 dias Dor abdominal intensa, Saladas e outros Fezes ou swab retal Cozimento inadequado,
coli enteroinvasiva enteroinvasiva febre, diarréia aquosa, alimentos não tratados pessoas infectadas que
SEGMENTO MESA
Enterite por Pleisomonas shigeloides Diarréia com fezes com Água Fezes ou swab retal Cozimento inadequado
De 1 a 2 dias
Pleisomonas muco e sangue
Salmonelose Vários sorovares de De 6 a 72 horas; em Dores abdominais, Carne bovina e de aves Fezes ou swab retal Refrigeração insuficiente;
Salmonella em fezes média de 18 a 36 diarréia, calafrios, e seus produtos; estocar alimentos em
de homens e animais horas febre, náuseas, produtos de ovo; temperatura elevada
infectados vômitos, mal-estar outros alimentos (incubação bacteriana);
contaminados por cozimento e
Salmonella reaquecimento
inadequados; preparo de
alimentos várias horas de
serem servidos;
contaminação cruzada;
falta de limpeza de
equipamentos;
trabalhadores infectados
que manuseiam os
alimentos cozidos;
obtenção de alimentos
de fontes contaminadas
Shigelose Shigella flexneri, S. De ½ a 7 dias, em Dores abdominais, Qualquer alimento já Fezes ou swab retal Trabalhadores
(Disenteria bacilar) dysenteriae, S. sonnei e geral, de 1 a 3 dias diarréia, fezes com pronto para o consumo infectados que
S. boydii sangue e muco, febre e contaminado; em manuseiam os
geral, saladas, água alimentos; refrigeração
insuficiente; cozimento
e reaquecimento
inadequados
Gastroenterite por V. parahaemolyticus em De 2 a 48 horas,média Dores abdominais, Pescados, mariscos Fezes ou swab retal Cozimento inadequado;
Vibrio parahaemolyticus água do mar ou de 12 horas diarréia, náuseas, crus ou contaminados refrigeração
produtos marinhos vômitos, febre, insuficiente;
calafrios, cefaléia contaminação cruzada;
falta de limpeza dos
equipamentos; emprego
de água do mar para
preparar alimentos
Diarréia por Yersinia Yersinia enterocolítica, De 1 a 7 dias Dores abdominais Leite cru, água Fezes ou swab retal Cozimento ou
Y. pseudotuberculose (pode simular pasteurização
apendicite), febre inadequados;
baixa, cefaléia, mal- contaminação cruzada;
estar, anorexia, ingredientes em águas
náuseas, vômitos contaminadas
Agentes virais
Gastrenterite viral Vírus entéricos (vírus De 3 a 5 dias Diarréia, febre, Alimentos já prontos Fezes Falta de higiene
SEGMENTO MESA
Ascaridíase Ascaris lumbroicides De 14 a 20 dias Distúrbios estomacais, Vegetais e água Fezes Disposição inadequada
cólicas, vômitos, febre das excreções; falta de
Disenteria amebiana Entamoeba histolytica De poucos dias até Dores abdominais, Hortaliças e frutas Fezes Falta de higiene
(amebíase) vários meses; em constipação ou diarréia cruas pessoal; trabalhadores
geral, de 2 a 4 com sangue e muco infectados que
semanas manuseiam os
alimentos; cozimento e
reaquecimento
inadequados
Fasciolíase Fasciola hepatica Febre, sudorese, dor Plantas aquáticas ou Fezes, biópsia de Disposição inadequada
4 a 6 semanas abdominal, tosse, asma com alta umidade tecidos de excreções humanas e
brônquica, urticária animais
Anisaquíase Anisakis Dor gástrica, náuseas, Peixe pedra, arenque, Fezes Ingestão de peixe cru
pseudoterranova 4 a 6 semanas vômitos, dor abdominal bacalhau, salmão, lula, ou com cozimento
sushi, haddock, pregado, insuficiente
linguado e peixe-sapo
Infecção por carne de Taenia saginata em Mal-estar indefinido, Carne crua ou com Fezes Falta de inspeção da carne;
boi (teníase) carne de gado De 8 a 14 semanas fome, emagrecimento, cozimento insuficiente cozimento inadequado;
dores abdominais drenagem inadequada
de águas residuais;
pastagens poluídas por
águas residuais
Ciclosporidíase Cyclospora cayetanensis De 1 a 11 dias; em Diarréia aquosa Framboesa, alface, Fezes Irrigação com água
geral, 7 dias prolongada, perda de alfavaca, água contaminada; lavagem
peso, fadiga, náuseas, de frutas com água
anorexia, dor contaminada; possível
abdominal manuseio de alimentos
já prontos para
consumo
Criptosporidíase Cryptosporidium parvum De 1 a 12 dias; em Diarréia aquosa Cidra de maçã, água Fezes; biópsia Disposição inadequada
geral, 7 dias profusa, dor intestinal de resíduos de animais,
abdominal, anorexia, contaminação com o
vômitos, febre leve meio animal, filtragem
inadequada da água
Infecção por tênia do Diphyllobothrium latum De 5 a 6 semanas Mal-estar Peixe de água doce cru Fezes Cozimento inadequado;
peixe (difilobotríase) em carne do peixe gastrintestinal ou com cozimento drenagem inadequada
infestado indefinido, pode insuficiente de águas residuais;
apresentar anemia lagos contaminados
por águas residuais
Giardíase Giárdia lamblia em De 1 a 6 semanas Dores abdominais, Hortaliças e frutas Fezes Falta de higiene
fezes de homens diarréia com muco, cruas, água pessoal; trabalhadores
infestados fezes gordurosas infestados que
manuseiam os
alimentos; cozimento
inadequado; drenagem
inadequada de águas
residuais
Infecção por tênia do Taenia solium em carne De 3 a 6 semanas Mal-estar indefinido, Carne suína crua ou Fezes Falta de inspeção da
porco (teníase) suína fome, perda de peso com cozimento carne; cozimento
insuficiente inadequado; drenagem
inadequada de águas
residuais; pastagens
contaminadas por
águas residuais
Enfermidade Agente Período de incubação Sinais e Alimentos envolvidos Material a ser Fatores que
Etiológico ou latências Sintomas coletado (afetado) contribuem para a
ocorrência de surtos
Intoxicação por Ácido ibotênico e De 30 a 60 minutos Sonolência e estado de Amanita muscaria, A. Ingestão de Amanita
cogumelos do grupo muscinol em certos intoxicação, confusão, pantherina e espécies muscaria e espécies
que contém ácido cogumelos espasmos musculares, afins de cogumelos afins de cogumelos;
ibotênico delírio, distúrbios ingestão de variedades
visuais de cogumelos
desconhecidas; confundir
Intoxicação por Muscarina em certos De 15 minutos até Salivação excessiva, Clitocybe de albata, C. Consumo de muscarina
cogumelos do grupo cogumelos diferentes poucas horas hipotensão, espasmo rivulosa e muitas e espécies
Muscarina dos indicados muscular, delírio, espécies de cogumelos relacionadas; consumo
anteriormente distúrbios da visão Inocybe e Boletus de variedades não
conhecidas de fungos;
consumo equivocado
de fungos tóxicos
Agentes químicos
Intoxicação por Inseticidas De alguns minutos a Náuseas, vômitos, dores Qualquer alimento Sangue, urina, biópsia Borrifar pesticidas
organofosforados organofosfora-dos, algumas horas abdominais, diarréia, contaminado de tecido adiposo imediatamente antes da
como Parathión, TEPP, cefaléia, nervosismo, acidentalmente safra; armazenamento
Diazinón, Malatión visão borrada, dor de pesticidas no mesmo
torácica, cianose, lugar que os alimentos;
confusão, contração confundir inseticidas
espasmódica, convulsões com alimentos em pó
Intoxicação por Carbonyl (Seven), Tem 30 minutos Dor epigástrica, Qualquer alimento Sangue, urina Aplicação inadequada em
carbamato (Aldicarb) vômitos, salivação contaminado safras; estocar carbamatos
anormal, contração das acidentalmente nos mesmos locais que os
pupilas, falta de alimentos; confundir os
coordenação muscular alimentos em pó
Dinoflagelados
Intoxicação por toxina Saxitoxina e outras De poucos minutos a Formigamento, ardor e Mexilhões e mariscos Lavado gástrico Coleta de mariscos em
paralisante de toxinas de 30 minutos adormecimento ao redor águas com alta
moluscos dinoflagelados das dos lábios e na ponta concentração de
espécies Alexandrium e dos dedos, tontura, fala dinoflagelados das
Gymnodinium incoerente, paralisia espécies Alexandrium e
respiratória Gymnodinium
Animais tóxicos
Intoxicação por Tetrodoxina do De 10 minutos até 3 Sensação de Peixes do tipo do Ingestão de peixe do
tetrodontídeos intestino e das horas adormecimento nos baiacu tipo baiacu; consumo
gônadas de peixes do dedos das mãos e dos desse peixe sem
tipo do baiacu pés, tontura, palidez, extrair os intestinos e
adormecimento da boca as gônadas.
e das extremidades,
sintomas
gastrintestinais,
hemorragia e
descamação cutânea,
olhar fixo, contração
espasmódica, paralisia,
cianose
Plantas venenosas
Erva de Jimson Alcalóides do grupo Menos de 1 hora Sede anormal, Qualquer parte da erva Urina Consumo de qualquer
Tropano fotofobia, olhar parte da erva de
distorcido, dificuldade Jimson; ou consumo de
para falar, delírio, tomates de plantas
coma, infarto misturadas com a erva
de Jimson
Intoxicação por cicuta Resina cicutóxica de De 15 a 60 minutos Salivação excessiva, Raiz da cicuta aquática Urina Ingestão da cicuta
aquática cicuta aquática náuseas, vômitos, dor Cicuta virosa e C. aquática; confundir
de estômago, masculata raiz da cicuta aquática
respiração irregular, com chirivia silvestre,
convulsões, paralisia batata-doce ou
respiratória cenoura
Intoxicação por Inseticida de De 30 minutos a 6 Náuseas, vômitos, Qualquer alimento Sangue, urina, fezes e Armazenamento de
hidrocarbono clorado hidrocarbono clorado, horas parestesia, debilidade contaminado lavado gástrico inseticidas no mesmo
como Aldrín, Clordano, muscular, perda de acidentalmente lugar que os alimentos;
DDT, Dieldrín, Endrín, peso, confusão confusão de praguicidas
Lindano e Toxafeno com alimentos em pó
Botulismo Neurotoxinas A, B, E, De 2 horas a 8 dias; Vertigem, visão dupla ou Conservas caseiras Sangue, fezes, lavado Elaboração inadequada
e F de Cloristudium média de 18 a 36 borrada, boca seca, pouco ácidas; peixes gástrico de alimentos em lata e
botulinum. Os esporos horas dificuldade para deglutir, embalados a vácuo; peixes defumados;
encontram-se no solo e falar e respirar, fraqueza ovos de peixe fermentações não
no intestino de animais muscular, constipação, fermentados, peixes e controladas
dilatação ou fixação das mamíferos marinhos,
pupilas, paralisia peixes não eviscerados
respiratória. Os sintomas
gastrintestinais podem
preceder os neurológicos.
Freqüentemente evolui
para óbito
Período de incubação superior a 72 horas
Agentes químicos
Intoxicação por Compostos de etil e 1 semana ou mais Adormecimento, Grãos tratados com Urina, sangue, cabelo Peixe capturado em
mercúrio metil em mercúrio de fraqueza nas pernas, fungicidas que contêm águas contaminadas
resíduos industriais e paralisia espástica, mercúrio; porco, peixes com compostos de
mercúrio orgânico de deterioração da visão, e mariscos expostos a mercúrio; animais
fungicidas cegueira, coma compostos de mercúrio alimentados com grãos
tratados com fungicidas
com mercúrio; ingestão
de grãos tratados com
mercúrio ou carne de
animais alimentados
com esses grãos
Intoxicação por fosfato Fosfato de triortocresol De 5 a 21 dias; média Sintomas Óleo de cozinha, Biópsia do músculo Uso do composto para
de triortocresol empregado como de 10 dias gastrintestinais, dor extratos e outros gastrocnêmio extração, ou como óleo
extrato ou como nas pernas, pé e pulso alimentos para cozinhar ou para
substituto do óleo de em posição pendular contaminados com saladas
cozinha fosfato de triortocresol
Enfermidade Agente Período de incubação Sinais e Alimentos envolvidos Material a ser Fatores que
etiológico ou latências Sintomas coletado (afetado) contribuem para a
ocorrência de surtos
Infecção por Vibrio Vibrio vulnificus 16 horas Septicemia, febre, mal- Ostras e moluscos crus Sangue Indivíduos com história
vulnificus estar, prostração, casos de enfermidade
típicos em indivíduos hepática
com história de
enfermidade hepática
Carbúnculo Bacillus anthracis De 3 a 5 dias Gastrenterite, vômitos, Carne de animais Fezes, vômitos Manifestações clínicas
Tuberculose Micobacterium bovis Principalmente lesões Leite Cultura de secreções Consumo de leite cru
pulmonares; lesões nos ou tecidos
rins, no fígado, no
baço e em gânglios
correspondentes
Listeriose Listeria monocytogenes De 3 a 70 dias, em Febre, cefaléia, Leite, queijo fresco, Sangue, urina Cozimento inadequado,
geral, de 4 a 21 dias náuseas, vômitos, patê, carnes falhas na
aborto, meningite, processadas pasteurização do leite;
encefalite e sepsis refrigeração
prolongada.
Febre tifóide e Salmonella typhi em De 7 a 28 dias; média Mal-estar, cefaléia, Mariscos, alimentos Fezes, swab retal, Trabalhadores infectados
paratifóide fezes de pessoas de 14 dias febre, tosse, náuseas, contaminados por sangue no início da que manuseiam os
infectadas, outros vômitos, constipação, manipuladores, leite fase aguda, urina na alimentos; falta de
sorotipos (como dores abdominais, cru, queijo, agrião, fase aguda higiene pessoal;
paratyphi A, calafrios, manchas cor- água cozimento inadequado;
cholerasuis); os casos de-rosa, fezes refrigeração insuficiente;
de febre paratifóide sanguinolentas drenagem inadequada
estão relacionados a de águas residuais;
fezes de homem e obtenção de alimentos
animais de fontes contaminadas;
pesca de mariscos de
águas contaminadas por
águas residuais
Agentes virais
Hepatite A (hepatite Vírus da hepatite A nas De 10 a 50 dias; média Febre, mal-estar, Mariscos, qualquer Fezes, urina, sangue Trabalhadores
infecciosa) fezes, na urina e no de 25 dias astenia, anorexia, alimento contaminado infectados que
sangue de pessoas e náuseas, dores pelo vírus da hepatite, manuseiam os
outros primatas abdominais, icterícia água alimentos; falta de
infectados higiene pessoal;
cozimento inadequado
de mariscos de águas
contaminadas por
águas residuais;
drenagem inadequada
de águas residuais
Hepatite E Vírus da hepatite E De 15 a 65 dias; em Semelhante ao anterior Mariscos, qualquer Fezes, urina, sangue Trabalhadores
geral, de 35 a 40 (alta mortalidade para alimento contaminado infectados que
mulheres grávidas) pelo vírus da hepatite manuseiam os
E, água alimentos; falta de
higiene pessoal;
cozimento inadequado;
pesca de mariscos
contaminados por águas
residuais; drenagem
inadequada de águas
residuais
Agentes parasitários
Angioestrongiloidose e Angiosgtrongylus De 14 a 16 dias Gastrenterite, cefaléia, Caranguejo, lesma, Sangue Cozimento inadequado
SEGMENTO MESA
Toxoplasmose Toxoplasma gondii em De 10 a 13 dias Febre, cefaléia, Carne crua ou com Biópsia de gânglios Cozimento inadequado
tecidos e carne de mialgia, erupção cozimento inadequado linfáticos, sangue da carne de ovinos,
animais infectados cutânea suínos e bovinos
Triquinose Trichinella spiralis em De 4 a 28 dias; média Gastrenterite, febre, Carne de porco, urso, Biópsia muscular Ingestão de carne de
carne de porco e urso de 9 dias edema ao redor dos morsa porco ou de urso com
olhos, mialgia, cozimento inadequado;
calafrios, prostração, processos de
Agentes químicos
Intoxicação por Quantidade excessiva De alguns minutos até Sensação de ardência Alimentos temperados Emprego de
glutamato monossódico de glutamato uma hora na parte posterior do com glutamato quantidades excessivas
monossódico pescoço, antebraço e monossódico de glutamato
tórax; sensação de monossódico para
aperto, formigamento, intensificar o sabor.
vermelhidão no rosto, Somente alguns
tontura, cefaléia, indivíduos são
náuseas sensíveis ao GMS
Intoxicação por ácido Nicotinato sódico De alguns minutos até Vermelhidão, sensação Carne ou outros Emprego de nicotinato
nicotínico (niacina) empregado para uma hora de calor, prurido, dores alimentos que foram sódico para conservar
conservar a cor abdominais, edema do adicionados com a cor
rosto e dos joelhos nicotinato sódico
Os sintomas e o período de incubação variam, dependendo do indivíduo ou do grupo exposto, Adaptado de:
devido à resistência, idade e ao estado nutricional de cada pessoa, ao número de organismos ou à GUIA DE SISTEMAS DE VIGILÂNCIA DAS ENFERMIDADES TRANSMITIDAS POR ALIMENTOS (VETA) E A
concentração de substâncias tóxicas nos alimentos ingeridos, à quantidade de alimentos consumida INVESTIGAÇÃO DE SURTOS –
e à patogênese e virulência das cepas do microrganismo, ou ainda à toxicidade da substância
GUIA VETA
química em questão. Várias doenças apresentam sintomas e período de incubação incluídos em mais
de uma categoria. Divisão de Prevenção e Controle de Doenças
Organização Pan-Americana da Saúde – OPAS
Para um estudo aprofundado, ver Bryan, F.L. (1975). Diseases Transmitted by Foods (A Classification
Organização Mundial da Saúde – OMS
and Summary). Centro para o Controle das Enfermidades, Atlanta, Georgia.
As Doenças Transmitidas por Alimentos (DTA) são síndromes que afetam o consumidor. Manifes-
tam-se com o desenvolvimento de sintomas clínicos gastrintestinais, relacionados com o perío-
do de incubação, quando causadas por agentes que desencadeiam doenças agudas. As doenças
crônicas também ocorrem, no caso de o agente ser cumulativo (o consumo reiterado se soma no
organismo, pois a excreção do agente é pobre ou não ocorre no consumidor) ou em decorrência
da doença aguda. Em alguns casos, o agente pode disseminar-se para outros órgãos.
Apesar de haver subnotificações de casos e de surtos de DTA no Brasil, a sua notificação está
prevista na legislação brasileira (artigo 2º da Portaria do Ministério da Saúde nº1461 de 22 de
dezembro de 1999, estabelece: “Todo e qualquer surto ou epidemia, assim como a ocorrência de
agravo inusitado, independente de constar na lista de doenças de notificação compulsória, deve
ser notificado, imediatamente, às Secretarias Municipal e Estadual de Saúde e à Fundação Nacio-
nal de Saúde/FUNASA.”)
O diagnóstico das DTA é uma atividade que tem por objetivo o esclarecimento de ocorrência de
natureza epidemiológica relacionada ao consumo de alimentos. É de interesse à saúde do con-
sumidor, para a implementação de medidas de controle dos agentes de agravo à saúde. Permite
identificar perigos de maior incidência e prevalência, fornecendo dados indispensáveis para a
elaboração de um plano de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle e outras formas de
controle de perigos.
O diagnóstico das DTA depende da caracterização do agente através dos sintomas e período de
incubação e por análise laboratorial, assim como da associação com o consumo de uma mesma
refeição, o que caracteriza surtos fechados e nos quais os comensais têm relação entre si (locais
como residências, indústrias, escolas, associações, clubes, festas, creches, asilos etc.) ou envol-
ver consumidores que não partilharam da mesma refeição, mas que têm em comum a ingestão de
produto de distribuição ampla, que pode afetar pessoas sem relação entre si, de municípios,
estados e até países diferentes. Assim, para um dimensionamento total das doenças de origem
alimentar, é necessário dispor de sistema de notificação e de associação entre os casos.
Para caracterizar casos e surtos de DTA, é necessário que a população esteja informada sobre os
sintomas desta classe de ocorrência (diarréias brandas, episódios de vômito), pois comumente
são considerados pelo próprio afetado como “mal-estar passageiro” e não necessariamente as-
sociados ao consumo de alimentos. Sintomas graves, como diarréias severas, febre, incapacitações
físicas é que podem, em função da necessidade de atendimento médico e/ou hospitalar, sugerir
ao afetado ou seus contatos, uma “doença significativa” de origem alimentar. Os profissionais de
atendimento primário à saúde também devem estar alertados para estas ocorrências, com vistas
ao dimensionamento do problema e da investigação de suas causas.
É importante assinalar que a análise de produtos que não foram processados, como por exemplo
carnes cruas, não tem função diagnóstica do surto, mas pode ser indicativa da presença do
patógeno na matéria-prima utilizada, sendo útil para um possível rastreamento da origem da
contaminação do produto efetivamente consumido.
Quando o resultado da análise de alimentos é relacionada com o resultado das amostras biológi-
cas e ambientais, o diagnóstico é completo e os perigos de maior incidência e prevalência podem
ser adequadamente caracterizados.
As doenças alimentares também podem ser classificadas de acordo com o agente e os sintomas:
Doenças infecciosas
Causadas por agentes bacterianos, virais e parasitários que têm a capacidade de causar infec-
ções. São exemplos a Salmonella Typhi, os demais sorovares, Streptococcus do grupo A, vírus da
hepatite infecciosa, vírus entéricos humanos, Toxoplasma gondii, entre outros. As infecções
bacterianas podem desencadear sintomas que incluem a febre, que pode ser mais ou menos alta.
Alguns agentes, como a Escherichia coli O157:H7, o Vibrio cholerae 01 epidêmico e outros, podem
produzir toxina, durante a infecção.
Toxinfecção
Designa-se toxinfecção a doença alimentar decorrente da liberação de toxina “in vivo”, sem a
colonização pelo microrganismo produtor. Por exemplo, a toxinfecção por C. perfringens tipo A
ocorre após a ingestão de números elevados desta bactéria na forma vegetativa; durante a
esporulação, que ocorre “in vivo”, ocorre também a liberação da toxina.
Doenças tóxicas
São síndromes que têm como agente uma toxina ou uma substância química. A presença das subs-
tâncias químicas tóxicas, como os pesticidas, pode ser conseqüência de uso indevido na produção
primária de vegetais e animais, conforme já assinalado. Outra classe de produtos tóxicos, igual-
mente importante, é a de resíduos de drogas veterinárias, como medicamentos antiparasitários,
antibióticos e determinadas classes de hormônios não tolerados, por falha na aplicação e no cum-
primento de tempo de carência. Os contaminantes inorgânicos (metais pesados, como mercúrio,
chumbo, cádmio) podem estar presentes como conseqüência de seu uso na composição de al-
guns pesticidas ou por despejo de dejetos industriais e de mineração no meio ambiente.
Doenças nutricionais
Essas síndromes estão relacionadas com a ausência/deficiência de nutrientes no produto ali-
mentício ou com nutrientes não biodisponíveis e com alimentos direcionados a dietas de ema-
grecimento que não forneçam os nutrientes necessários, levando o consumidor a condição de
subnutrição, desnutrição ou síndromes relacionadas com falta de nutrientes, vitaminas, sais
minerais e outros.
Além desse enfoque, os agentes de doenças alimentares podem ser classificados quanto à gravi-
dade dos sintomas. Os agentes que apresentam probabilidade alta de letalidade são considera-
dos de severidade alta (toxinose botulínica, febre tifóide, disenteria bacilar por Shigella dysenteriae
etc.); os que causam doenças revertidas por atendimento médico, caso das demais salmoneloses
e shigeloses que são consideradas de severidade média, e os que apresentam sintomas e sinais
de curta duração, raramente com complicações, são os denominados de severidade baixa (toxinose
estafilocócica, toxiinfecção por B.cereus etc.).
Essa classificação, entretanto, pode ser questionada, pois pode mudar quando se consideram os
consumidores de maior risco e respectivas complicações de saúde, por ocorrência de doenças
extra-intestinais (meningites, pielonefrites, pneumonias etc.), assim como o desencadeamento
de doenças crônicas (doenças cardíacas, artrites, doenças circulatórias etc.) como decorrência
(complicação) da doença entérica de origem alimentar.
As infecções virais são relativamente freqüentes, em especial nos meses quentes do ano. Apesar
de as parasitoses serem agentes de doenças freqüentes da população brasileira, o relato e a
associação com alimento não é comum; a exceção está relacionada com surto de Anisakis, pelo
consumo de tainha capturada na costa marítima do litoral sul do Estado de São Paulo.
Quanto aos agentes químicos, a escassez de informações em nosso meio não permite dimensionar
sua ocorrência; entretanto acidentes pelo consumo de metanol em bebidas alcoólicas já foram
relatados em vários estados, como São Paulo, Mato Grosso e Bahia. Relatos de reações adversas
pelo consumo de produtos com aditivos, em especial o sulfito em sucos de fruta concentrados,
ingeridos sem diluição, também já foram relatados em nosso meio. Acidentes com pesticidas
também ocorrem, principalmente relacionados com consumo de grãos e tubérculos destinados
ao plantio e em casos de acidentes domésticos.
Outro fator importante é a avaliação do custo econômico de saúde pública, para o atendimento
dos casos e do ônus individual e coletivo quando da ocorrência de DTA. O impacto não é restrito
ao número de afetados, mas também às complicações posteriores de saúde dos afetados e às
conseqüências econômicas.
Embora os dados das implicações econômicas não estejam disponíveis em nosso meio, existem
estimativas internacionais: nos Estados Unidos, segundo Todd, 1989, as bactérias são responsá-
veis por gastos de quase 7 bilhões de dólares, os vírus por cerca de 350 milhões, os parasitos por
625 milhões, as toxinas marinhas por 125 milhões e os agentes químicos por 33 milhões de
dólares. No que se refere a casos de diarréia infantil, Todd estimou, em 1978, o custo de 50
dólares por caso de doença nos países em desenvolvimento, com total de 50 milhões de dólares/
ano, incluindo os casos fatais. Já para a toxoplasmose congênita, decorrente da contaminação
5) o custo social em caso de doenças crônicas que impossibilitam a produtividade familiar e dos
casos fatais, com as conseqüências óbvias de ônus familiar e social e a revisão/reformulação
tecnológica das indústrias envolvidas;
No passado, as formas de prevenção e controle eram exercidas sobretudo por restrições sociais e
religiosas, com regras para o consumo de alimentos, que incluía proibições de alguns alimentos
(carne de porco, ovos de pata, água não tratada, morango, determinados pescados como da
família Tetrodontidae (baiacu) e do tipo arabaiana (litoral norte do Brasil), em determinadas
épocas do ano etc.
O risco relativo de cada natureza de agentes de DTA, segundo dados internacionais, encontra-se
no quadro 29.
Fonte: Trunswel et al., 1978, apud Varnam & Evans, 1991 (modificado).
O esforço organizado da sociedade tem demonstrado que os gastos para a prevenção das Doen-
ças são menores que os relacionados com a recuperação ou cura. A avaliação do custo/benefício
dos programas de prevenção devem considerar a economia nacional. No que se refere a agravos
da saúde, deve-se levar em conta uma série de gastos (Quadro 30)
Geral Específicos
Morte Não calculável
Tratamento médico Medicamentos
Hospitalização
Tratamento de seqüelas
Pagamentos Suplemento necessário
Manutenção de dependentes
Produtividade Perda
Exportação Perda de mercados
Perda de força turística
Imagem prejudicada
Prevenção Custo da infraestrutura
Custo do controle de produção
Custo da pesquisa
Surtos e epidemias Valor da perda de alimentos
Custo da investigação
Custo da recuperação da imagem
Treinamento/retreinamento
Enfermidades graves e agudas - toxinose botulínica, intoxicação por PSP (toxina paralisante
dos moluscos), infecção por V. vulnificus, infecção por E. coli O157:H7, infecção por V. cholerae
O139, infecção por S. Typhi (febre tifóide), infecção por L. monocytogenes em imunossuprimidos
ou imunocomprometidos, infecção por C. perfringens (produtor de toxina necrosante dos
intestinos), enterovírus, enteroparasitos etc.
Enfermidades moderadamente graves - infecção por Salmonella sp, toxinfecção por V. cholerae
01, infecção por V. parahaemolyticus, infecção por Aeromonas hydrophila etc.
Os agentes de DTA de maior prevalência, em nível nacional e internacional, são: Salmonella sp,
enterotoxina estafilocócica, B. cereus, C. perfringens. Na situação epidêmica de cólera a ocorrên-
cia de V. cholerae O1 e provavelmente O139 fica aumentada. A ocorrência das parasitoses intestinais
é relativamente alta, porém o estudo epidemiológico não é sistemático, apesar de que a grande
maioria dos mesmos tem veiculação alimentar. O mesmo ocorre com as infecções por vírus
entéricos.
C ONCENTRAÇÃO
Além da ocorrência, é um dado muito importante o número de células viáveis de patógenos ou a
quantidade de toxina presente, pois os agentes de DTA têm uma concentração mínima, que é
capaz de ultrapassar as barreiras de proteção natural de cada classe de consumidor.
Além dessas características importantes para os perigos mais significativos, outros dados são de
interesse, como os fatores que interferem com a multiplicação, morte e sobrevivência dos agen-
tes de DTA; habitat natural ou distribuição do agente; condições de multiplicação e produção de
toxinas; formas de controle; aplicação do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle (APPCC), ou avaliação por check list usados na inspeção e fiscalização da aplicação das
Práticas de Higiene; certificação laboratorial das medidas preventivas adotadas; previsão do
comportamento do agente no meio ambiente e nos produtos alimentícios, para fins de decisão
de destino de produtos etc.
• Sintomas alérgicos (ardência facial, petéquias) - Exemplos: para período de incubação menos
de 1h, com os sintomas: dor de cabeça, tontura, náusea, vômito, gosto picante, queimação na
garganta, inchaço e manchas vermelhas (petéquias) no rosto, dores no estômago e ardência
na pele, o agente pode ser a histamina; menos de 1h, com os sintomas: dormência ao redor
da boca, comichão, dor de cabeça, tontura e náusea, o agente pode ser o glutamato monosódico.
Para essa categoria não consta nenhum agente microbiano.
Feto L. monocytogenes
Esses exemplos (Quadro 31) não incluem o vírus da hepatite infecciosa e a toxina de determina-
das algas de água doce (que podem afetar o fígado), cisticerco (cérebro), toxina botulínica
(terminação nervosa no músculo), toxina paralisante dos moluscos (PSP) em nível muscular e
outros. O envolvimento gastrintestinal não está especificado, por já ter sido descrito. Cabe citar
o Helicobacter pylori como agente de úlcera estomacal.
Artrites Y. enterocolitica
Campylobacter sp
Salmonella sp
Shigella sp
E. coli patogênica
S. aureus
Autoimune/tireóide Y. enterocolitica
Esses quadros permitem avaliar os agentes de DTA e suas complicações, e a repercussão das
mesmas na saúde coletiva. Não só pelas DTA, mas pelo geral das doenças relacionadas com o
consumo de alimentos, justifica-se a priorização dos recursos da saúde na sua investigação e
controle.
• DTA - Síndrome originada pela ingestão de alimento (incluída água) que contenha agentes
etiológicos em quantidade suficiente para desencadear os sintomas nos afetados.
• Surto de DTA - Episódio no qual uma ou mais pessoas apresentam sintomas clínicos semelhantes
depois de ingerirem alimentos de mesma origem e procedência.
• Caso de DTA - Uma pessoa afetada depois do consumo de alimentos. Um surto de DTA pode
envolver um número variável de casos.
• Quadro clínico - Sintomas (alterações) que o(s) afetado(s) apresenta(m) e que são
considerados anormais. O quadro clínico do surto é dado de grande importância para
caracterizar o agente. Cada tipo de agente apresenta sintomas específicos, como conseqüência
da sua forma de ação sobre o(s) órgão(s) afetado(s) do comensal. Em investigação de surto,
devem ser considerados todos os sintomas apresentados. A freqüência, em porcentagem, é
calculada e os sintomas que aparecem em maior porcentagem são considerados como
característicos do surto em questão.
• Taxa de ataque - É o cálculo através de comensais afetados e não afetados, que consumiram/
não consumiram o(s) alimento(s), para avaliar a taxa de ataque por alimento/refeição
incriminada.
• Agente provável - Considerando os dados obtidos pela entrevista dos comensais, é o agente
que mais se adapta ao período de incubação, sintomas clínicos e alimento veiculador.
• Fatores que contribuem com os surtos - São as falhas detectadas quando do estabelecimento
do histórico do produto. Esses fatores quase nunca são únicos, mas sempre ocorrem em cadeia,
como por exemplo, preparo com muita antecedência e manutenção em condições de temperatura
inadequada.
Essas definições permitem estabelecer formas de elucidação de DTA: notificação de surtos, con-
firmação de surtos, entrevista dos comensais para obter dados sobre a doença, o provável agen-
te e o alimento veiculador e o histórico do alimento, para correção/prevenção de surtos.
1
Doentes
2
Não doentes
A refeição suspeita é o almoço do dia 11, uma vez que a diferença de percentual de doentes (taxa
de ataque) entre os que consumiram e não consumiram uma mesma refeição é a maior dentre as
refeições consideradas (42,2 - 5,8 = 36,4).
O alimento veiculador é a carne (86,1% de doentes dentre os que comeram e 4,4% de doentes
entre os que não comeram, sendo esta a maior diferença de taxa de ataque, ou seja, 81,7 %).
Conforme descrito no Quadro 35 os sintomas prevalentes são diarréia, dores abdominais e náusea.
0-1 hora 1 -
1-3 horas 2 3
3-5 horas 8 11
5-7 horas 11 22
7-9 horas 15 37
9-11 horas 3 40
O histórico de preparo do alimento é igualmente importante para avaliar a falha possível. Nesse
caso hipotético, o histórico do preparo da carne revelou: cocção de carne no dia 10, em panela
de pressão. Após cocção, a carne foi mantida na panela tampada até o dia 11, pela manhã,
quando então foi retirada e fatiada sobre superfície previamente higienizada. Após fatiamento,
foi colocada em bandejas e coberta com molho de tomate preparado imediatamente antes. Não
sofreu reaquecimento após adição do molho. Foi mantida a mais ou menos 450C até consumo,
por cerca de duas horas e meia. As falhas que se identificam são: preparo com antecedência,
manutenção à temperatura ambiente, reaquecimento insuficiente e manutenção à temperatura
inadequada do alimento pronto para o consumo até o momento de servir.
• Os fatores que contribuem com os surtos de DTA são variáveis. No Quadro 33 encontram-se
descritos os principais fatores contribuintes associados a surtos de DTA (dados do Paraná de
1978 a 1999).
QUADRO 33- Fatores contribuintes para os surtos de DTA no Paraná, de 1978 a 1999
FATORES CONTRIBUINTES %
Alimento cozido mantido por longos períodos em anaerobiose Toxina botulínica, Clostridium perfringens
Fonte:Price,1997
AGENTES TOTAL
Salomonella sp.
Toxina vegetal
C. perfringens
Shigella spp.
V. cholerae
S. aureus
Químicos
B. cereus
Outros
E. coli
ALIMENTOS Nº %
NOTAS: “Preparações mistas” incluem matérias-primas de origem animal e vegetal (ex: maionese, panqueca, bolo, farofa).
“Diversos” incluem alimentos pertencentes a outros grupos (ex: tubérculos, refrescos, outros).
a) Confirmados – laboratorialmente.
b) Suspeitos – epidemiologicamente.
c) Indeterminados – não foi possível estabelecer o alimento nem laboratorialmente e nem epidemiologicamente.
I NTRODUÇÃO
PARA O
DE PRÉ - REQUISITOS
APPCC
O Sistema APPCC é uma ferramenta de controle do processamento dos alimentos e não do ambiente,
das instalações ou da higiene. É, portanto, importante implantar programas que enfoquem todos
esses aspectos ambientais e de higiene. São os chamados Programas de Pré-requisitos para o
APPCC, como o de Boas Práticas (BP) e o de Procedimentos Padrão de Higiene Operacional (PPHO).
É possível encontrar siglas diferentes para a especificação das Boas Práticas, como:
• BPF – Boas Práticas de Fabricação (citada nas portarias do M.S. nos 326 e 1428);
• BPPNe – Boas Práticas de Preparação de Nutrição Enteral (citada na resolução 63 anexo II);
• a cada 6 meses
As águas de poços, minas e outras fontes alternativas só devem ser usadas desde que não exista
risco de contaminação (fossa, lixo, pocilga) e quando submetidas a tratamento de desinfecção.
Após a desinfecção da água, recomenda-se ser realizada análise bacteriológica em laboratório
próprio ou terceirizado. A utilização de sistema alternativo de abastecimento de água deve ser
comunicada à Autoridade Sanitária.
O vapor, quando utilizado em contato com produtos ou superfícies que entram em contato com
alimentos, não pode representar riscos de contaminação.
Para a higiene (lavagem e desinfecção) dos reservatórios, devem ser utilizadas metodologias
oficiais.
• Não permitir que as mangueiras tenham contato com o piso (as partes que possam entrar em
contato com o interior de equipamentos ou utensílios)
b) Esperar toda a água do reservatório inferior ser bombeada para o reservatório superior.
d) Abrir o registro de entrada de água da rua e esperar a água atingir cerca de um palmo de
altura.
e) Escovar as paredes com escova de fibra vegetal ou fio de plástico macio (nunca use sabão,
detergente ou outro produto).
f) Retirar o lodo que irá se formar no fundo do reservatório com baldes e pá de plástico para não
danificar as paredes, depois limpar enxaguando as paredes de modo a eliminar toda a sujeira.
h) A utilização de hidrojateamento, (máquinas com pressão para jatos d’água) deverá ser efetuada
por pessoas experientes e com extremo cuidado para evitar danos à impermeabilização das
paredes do reservatório.
i) Preparar uma solução contendo 200 ppm de cloro. Essa solução pode ser obtida em um
recipiente, de duas maneiras:
1º - Adicionar 4 colheres das de sopa (40 ml) de hipoclorito de sódio a 10% para 20 litros de
água (2 baldes de 10 litros);ou
2º - Adicionar um copo americano (200ml) bem cheio de água sanitária (recomendada para
desinfecção de uso geral) para 20 litros de água (2 baldes de 10 litros).
d) O responsável deverá observar até sobrar uma quantidade de um palmo de água no fundo da
caixa d’água. Nesse momento deverá fechar a saída da água da caixa para a tubulação.
e) Retirar o lodo com baldes e pá de plástico para não danificar as paredes do reservatório,
depois limpar enxaguando-o, de modo a eliminar toda a sujeira.
g) A utilização de hidrojateamento (máquinas com pressão para jatos d’água) deverá ser efetuada
por pessoas experientes e com extremo cuidado para evitar danos à impermeabilização das
paredes do reservatório.
h) Preparar uma solução contendo 200 mg/l de cloro. Essa solução pode ser obtida em um
recipiente, de duas maneiras:
1º - Adicionar 4 colheres das de sopa (40 ml) de hipoclorito de sódio a 10% para 20 litros de
água (2 baldes de 10 litros); ou
2º - Adicionar um copo americano (200ml) bem cheio de água sanitária (recomendada para
desinfecção de uso geral) para 20 litros de água (2 baldes de 10 litros).
Observar, a cada 30 minutos, se houve evaporação do desinfetante nas paredes. Em caso afirmativo,
repetir a operação anterior.
d) O responsável deverá observar até sobrar uma quantidade de um palmo de água no fundo da
caixa d’água e, nesse momento, fechar a saída de água da caixa para a tubulação.
e) Escovar as paredes com escova de fibra vegetal ou fio de plástico macio (nunca use sabão,
detergente ou outro produto).
f) Retirar o lodo que irá se formar no fundo do reservatório com baldes e pá de plástico para não
danificar as paredes, depois limpar enxaguando as paredes de modo a eliminar toda a sujeira.
h) Preparar uma solução contendo 200 mg/l de cloro. Essa solução pode ser obtida em um
recipiente, de duas maneiras:
1º - Adicionar 4 colheres das de sopa de hipoclorito de sódio a 10% para 20 litros de água (2
baldes de 10 litros);ou
2º - Adicionar um copo americano (200ml) bem cheio de água sanitária (recomendada para
desinfecção de uso geral) para 20 litros de água (2 baldes de 10 litros).
Observação: A cada 30 minutos, caso haja evaporação do desinfetante nas paredes, repetir a
operação anterior.
b) Fechar o registro de entrada da água da rua, antes de consumir toda a água do reservatório
inferior (subsolo).
Enquanto as empresas se adaptam para atender a esses padrões, prevalece a Portaria GM/36, de
19/01/90, do Ministério da Saúde, que aprova normas e padrões de potabilidade da água destinada
ao consumo humano, a qual define que em 20% das amostras a CPP (contagem padrão em
placas) não deve exceder 500 UFC/ml e, além disso:
• ausência de coliformes totais em 100ml das “águas de nascente, de poço coletada na saída da
bomba e de rede coletada no cavalete, ou seja, água coletada na entrada do estabelecimento
antes da caixa d’água”;
• ausência de coliformes fecais em 100ml da “água coletada após a caixa d’água, ou seja, nas
torneiras, bebedouros etc.”
Padrão de potabilidade
A qualidade da água é garantida também pelo seu padrão de potabilidade, definido no Capítulo
IV da Portaria nº1469, no seu Art.11, segundo o qual a água potável deve estar em conformidade
com o padrão microbiológico, conforme Tabela 40, a seguir (as recomendações para higiene da
caixa d’água - conforme estudos realizados pela Enga. Sonia Nogueira - SABESP - SP).
Parâmetro VMP(1)
Notas:
(2) Água para consumo humano em toda e qualquer situação, incluindo fontes individuais, como poços, minas, nascentes, etc.
§1º No controle da qualidade da água, quando forem detectadas amostras com resultado positivo
para coliformes totais, mesmo em ensaios presuntivos, novas amostras devem ser coletadas em
dias imediatamente sucessivos, até que as novas amostras revelem resultado satisfatório. Nos
sistemas de distribuição, a recoleta deve incluir, no mínimo, três amostras simultâneas, sendo
uma no mesmo ponto e duas outras localizadas a montante e a jusante.
§ 2º Amostras com resultados positivos para coliformes totais devem ser analisadas para Escherichia
coli e, ou, coliformes termotolerantes, devendo, nesse caso, ser efetuada a verificação e confirmação
dos resultados positivos.
§ 4º O resultado negativo para coliformes totais das amostras extras (recoletas) não anula o
resultado originalmente positivo no cálculo dos percentuais de amostras com resultado positivo.
§ 6º Em 20% das amostras mensais para análise de coliformes totais nos sistemas de distribuição,
deve ser efetuada a contagem de bactérias heterotróficas e, uma vez excedidas 500 unidades
formadoras de colônia (UFC) por ml, deve ser providenciada imediata recoleta, inspeção local e,
se constatada irregularidade, outras providências cabíveis.
• Características microbiológicas
Na fonte, poço ou local de urgência e na sua comercialização, a água mineral natural e a água
natural não devem apresentar risco à saúde do consumidor (ausência de microrganismos
patogênicos) e estar em conformidade com as características microbiológicas descritas abaixo:
Notas:
1) n: é o número de unidades da amostra representativa a serem coletadas e analisadas individualmente.
2) c: é o número aceitável de unidades da amostra representativa que pode apresentar resultado entre os valores “m” e “M”.
3) m: é o limite inferior (mínimo) aceitável. É o valor que separa uma qualidade satisfatória de uma qualidade marginal. Valores abaixo
do limite “m” são desejáveis.
4) M é o limite superior (máximo) aceitável na classe marginal.
Gelo
O gelo usado como alimento ou para resfriar diretamente um alimento deve ser feito com água
potável.
O gelo usado para resfriar externamente os recipientes com alimento nunca deve ser usado como
ingrediente no alimento ou para bebidas.
Deve-se usar recipiente limpo e higienizado para colocar o gelo, além de ser necessário usar
utensílio de cabo longo, também higienizado, para transferi-lo.
Nunca deve-se utilizar recipientes que transportem carnes cruas ou peixes ou aves para colocar gelo.
Os padrões microbiológicos para o gelo devem ser os mesmos aplicados para a água potável.
2 - O controle de saúde clínico exigido pela Vigilância Sanitária, que objetiva a saúde do trabalhador
e a sua condição para estar apto para o trabalho, determina que o trabalhador não pode ser
portador aparente ou inaparente de doenças infecciosas ou parasitárias. Para isso devem ser
realizados os exames médicos admissionais, periódicos, dando ênfase aos parâmetros preconizados
neste regulamento, acompanhados das análises laboratoriais (obrigatórias pela CVS-6 – São
Paulo) São os seguintes os exames médicos necessários:
b) Coprocultura: exame de cultura das fezes, no qual são isolados microrganismos patogênicos,
como a Salmonella e outras que acometem os indivíduos e os tornam portadores e transmissores
dos mesmos através dos alimentos.
Os exames médicos devem ser realizados de acordo com avaliação médica. Recomenda-se que a
periodicidade dos exames médico-laboratoriais seja anual. Dependendo das ocorrências endêmicas
de certas doenças, a periodicidade pode ser reduzida de acordo com os Serviços de Vigilância
Sanitária e Epidemiológica locais.
Qualquer tipo de controle de saúde do trabalhador que contemple o controle de saúde clínico, e
desde que comprovado com os respectivos laudos, estará de acordo com este Regulamento, não
sendo necessária, nesse caso, a Carteira de Saúde.
Deve-se enfatizar que o que garante a segurança do produto são os procedimentos adequados
pertinentes ao controle higiênico-sanitário dos alimentos.
Não devem manipular alimentos os funcionários que apresentarem feridas, lesões, chagas ou
cortes nas mãos e braços, bem como gastrenterites agudas ou crônicas (diarréia ou disenteria).
Estão também impedidos aqueles que estiverem acometidos de infecções pulmonares ou faringites.
A gerência deve garantir que os funcionários nessas situações, sejam afastados para outras
atividades, sem prejuízo de qualquer natureza.
Controle de pragas
O controle de insetos, roedores, aves e outros animais de uma unidade deve ser feito por
profissionais credenciados de firmas especializadas e devidamente respeitadas e registradas. O
manual de “Controle Integrado de Pragas”, elaborado pela Associação Brasileira de Profissionais
da Qualidade de Alimentos PROFIQUA/SBCTA, São Paulo, 1996, é uma publicação que cobre aspectos
de controle das diferentes pragas que podem afetar uma unidade produtora de alimentos. Aqui
serão dadas algumas indicações básicas sobre o controle das principais pragas: moscas, baratas,
ratos e aves.
Controle de moscas
O uso de lâmpada fluorescente na parte externa causa a atração de insetos noturnos para as
instalações. Devem ser substituídas por luz de sódio.
Se houver penetração de algum inseto, o uso de armadilha luminosa ajuda o controle. As principais
exigências para sua instalação e uso são:
b) Tratamento químico, através de pulverização com produtos permitidos e feito por pessoas
treinadas.
Monitorização
O registro de incidência de insetos nas diferentes áreas deve ser feito, pois serve para avaliar se
os fatores anteriormente vistos estão sendo observados ou se há necessidade de aumentar a
freqüência das desinsetizações pela firma responsável.
Controle de baratas
Duas espécies de baratas são encontradas em nosso ambiente. A Periplaneta americana, de maior
tamanho, muito comum em ralos e bueiros e a Blatella germanica, de menor tamanho, encontradas
no interior de ladrilhos quebrados, paredes, equipamentos e que é bem mais difícil de ser eliminada
(se reproduz mais rapidamente e é de mais difícil acesso para o combate).
Controle de roedores
Existem três tipos de roedores que podem ser encontrados nos diversos ambientes: o rato comum
(Rattus rattus), a ratazana (Rattus norvegicus) e o camundongo (Mus musculus). Todos possuem
hábitos noturnos.
Para a proliferação de roedores, são necessárias três condições: água (córregos, esgotos, rios
etc.), abrigo (esgoto, entulhos, sacarias, vegetação etc.) e alimento (lixo com resíduos de
alimentos, restos de comida espalhados no ambiente).
b) não permitir: pontos de entradas de roedores, tais como ralos sem proteção de telas, sifão
etc; portas e janelas mal vedadas, calhas, forros; falhas na manipulação, guarda e descarte do
lixo; presença de entulhos, caixas, etc.; grama e mato não aparados, trepadeiras até o telhado,
nas paredes externas da fábrica, etc.;
c) na área de estocagem (almoxarifado), manter uma distância mínima de 30cm entre parede e
paletes com insumos e produtos. Entre o piso e a base do palete, deve-se manter a distância
mínima de 20cm.
b) iscagem: iscas de produtos anticoagulantes (menor perigo para homem e animais) devem ser
colocadas em locais estratégicos (áreas de acesso às instalações, canaletas, forro etc.). A
iscagem na parte externa deve estar presente em vários pontos, de forma a proteger (cercar)
a unidade.
As iscas não podem ser colocadas em áreas de processamento. Devem ser usadas dentro de
comedouros ou porta-iscas, que devem ser mapeados e controlados. No próprio porta-iscas,
ou próximo ao local, deve ser indicado: “Cuidado: veneno”.
c) Ultra-som: aparelhos que emitem som de baixa freqüência, irritando o roedor que não consegue
permanecer na área. Há divergências quanto à sua eficácia. São muito eficientes no início de
seu uso. Na prática, devem ser associados a outro tipo de combate.
Pássaros
Pombos e pequenos pássaros (pardais, cambachirras etc.) podem causar diversos problemas de
contaminação na unidade, especialmente de origem fecal. Como principais medidas preventivas
(de controle) têm-se:
a) uso de telas e calafetação nos locais de acesso como telhas, calhas, janelas;
b) uso de molas em portas, para permanecer sempre fechadas;
c) ausência de resíduos de alimentos na área externa;
d) evitar proliferação nos arredores;
e) uso de telas ou cortinas nos vãos de entrada;
f) uso de aparelho ultra-som para aves.
Deve ser realizado controle de pragas periódico, através de empresas autorizadas, de modo a
prevenir ou minimizar a presença de insetos e roedores. Os produtos e as concentrações utilizadas
devem ser aprovados pela legislação vigente (Portaria SNVS nº 10 de 8/3/85) .
O Responsável Técnico deve ser informado sobre os produtos utilizados, sua concentração e a
periodicidade de aplicação.
Para proceder às suas funções, os visitantes deverão estar devidamente paramentados com
uniforme fornecido pela empresa, como avental, rede ou gorro para proteger totalmente os
cabelos e, se necessário, botas ou protetores para os pés. A Autoridade Sanitária deve sempre
dispor de seu próprio uniforme, completo e dobrado, para a inspeção nos locais que não disponham
de uniforme para fornecimento.
Os visitantes não deverão tocar nos alimentos, equipamentos, utensílios ou qualquer outro material
interno do estabelecimento, se não estiverem com a adequada higiene das mãos ou utilizando
corretamente luvas descartáveis. Não deverão comer, fumar, mascar chiclete durante a visita ao
estabelecimento.
Não deverão entrar na área de manipulação de alimentos os visitantes que estiverem com
ferimentos, gripes, doenças transmissíveis, gastrenterites, ou qualquer outro quadro clínico que
represente risco de contaminação.
Localização
Área deve estar livre de focos de insalubridade, ausência de lixo, objetos em desuso, animais,
insetos e roedores. Acesso direto e independente, não comum a outros usos (habitação). As
áreas circundantes não devem oferecer condições de proliferação de insetos e roedores.
Piso
O material usado deve ser liso, resistente, impermeável, lavável, de cores claras e em bom estado
de conservação, antiderrapante, resistente ao ataque de substâncias corrosivas e que seja de fácil
higienização (lavagem e desinfecção), não permitindo o acúmulo de alimentos ou sujidades.
Deve ter inclinação suficiente em direção aos ralos, não permitindo que a água fique estagnada.
Em área que permita existência de ralos, esses devem ser sifonados, e as grelhas devem possuir
dispositivo que permita o fechamento.
Paredes
O acabamento deve ser liso, impermeável, lavável, de cores claras, isento de fungos (bolores) e
em bom estado de conservação. Se a parede for azulejada, deve respeitar a altura mínima de 2
metros. Deve ter ângulos arredondados no contato com o piso e teto.
Forros e tetos
O acabamento deve ser liso, impermeável, lavável, de cores claras e em bom estado de conservação.
Deve ser isento de goteiras, vazamentos, umidade, trincas, rachaduras, bolor e descascamento.
Se houver necessidade de aberturas para ventilação, essas devem possuir tela com espaçamento
de 2 mm e ser removíveis para limpeza. No andar térreo, o pé direito deve ser no mínimo de 3m
e em andares superiores, de 2,7m.
Portas e janelas
As portas devem ser de superfície lisa, de cores claras, de fácil limpeza, ajustadas aos batentes,
de material não absorvente, com fechamento automático (mola ou similar) e com borracha de
vedação na parte inferior. As entradas principais e os acessos às câmaras devem ter mecanismos
de proteção contra insetos e roedores.
As janelas com telas milimétricas devem estar sempre limpas, sem falhas de revestimento e
ajustadas aos batentes. As telas devem ter malha de 2mm, ser de fácil limpeza e estar em bom
estado de conservação. As janelas devem estar protegidas, de modo a não permitir que os raios
solares incidam diretamente sobre os alimentos ou equipamentos mais sensíveis ao calor.
Iluminação
O ambiente deve ter iluminação uniforme, sem ofuscamentos, sem contrastes excessivos, sombras
e cantos escuros. A lâmpadas e luminárias devem estar limpas, protegidas contra explosão e
quedas acidentais e em bom estado de conservação, não devendo alterar as características
sensoriais dos alimentos.
O conforto térmico pode ser assegurado por aberturas de paredes que permitam a circulação
natural do ar, com área equivalente a 1/10 da área do piso.
O sistema de exaustão/sucção com coifa deve ser de material liso, resistente, de fácil limpeza e
sem gotejamento de gordura.
Instalações sanitárias
Devem existir banheiros separados para cada sexo, em bom estado de conservação, constituídos
de vaso sanitário, pia e mictório para cada 20 funcionários, dispostos de bacia com tampa, papel
higiênico, lixeira com tampa acionada por pedal, mictórios com descarga, pias para lavar as
mãos, sabonete líquido ou sabão anti-séptico, toalha de papel, de cor clara, não reciclada.
Nas instalações sanitárias exclusivas para funcionários das empresas produtoras de alimentos
fica proibido o descarte de papel higiênico em lixeira, devendo ser este diretamente no vaso
sanitário.
As instalações sanitárias devem ser bem iluminadas, ter paredes e piso de cores claras, de material
liso, resistente e impermeável, portas com molas, ventilação adequada com janelas com telas.
Não devem se comunicar diretamente com a área de manipulação de alimentos ou refeitórios.
Vestiário
Deve ser separado para cada sexo, possuir armários individuais e chuveiros para cada 20
funcionários, com paredes e pisos de cores claras, material liso, resistente e impermeável, portas
com molas, ventilação adequada e janelas com telas.
Lixo
Deve estar disposto adequadamente em recipientes com tampas, constituídos de material de fácil
higiene. O lixo fora da cozinha deve ficar em local fechado, para não atrair moscas, roedores e
outros animais.
O lixo não deve sair da cozinha pelo mesmo local onde entram as matérias-primas. Na total
impossibilidade de áreas distintas de entrada e saída, deve-se determinar horários diferenciados.
Deve estar devidamente acondicionado, de modo que não represente risco de contaminação. Em
determinados horários tolera-se manter a tampa do vasilhame de lixo aberta, para evitar o contato
constante das mãos com a tampa, para facilitar uma operação específica.
Esgotamento sanitário
Deve estar ligado à rede de esgoto ou, quando necessário, tratado adequadamente para ser
eliminado através de rios ou lagos. Dentro das áreas de preparo de alimentos, não deverá existir
caixa de gordura ou de esgoto.
No caso de possuir apenas uma geladeira ou câmara, o equipamento deve estar regulado para o
alimento que necessitar de menor temperatura. Se forem instaladas câmaras, estas devem
apresentar as seguintes características:
f) interruptor de segurança localizado na parte externa da câmara, com lâmpada piloto indicadora
de “ligado - desligado”;
i) dispositivo de segurança que permita abrir a porta por dentro, quando utilizar porta hermética.
Área de consumação
A área de consumação ou o refeitório deve ter as mesmas características das áreas de preparo dos
alimentos. Podem permanecer no refeitório os equipamentos para distribuição de alimentos,
como o balcão térmico, balcão refrigerado, refresqueiras, bebedouros, utensílios de mesa, geladeira
de bebidas. O balcão térmico deve estar limpo, com água tratada e limpa, trocada diariamente,
mantido à temperatura de 80° a 90° C. Estufa ou passthrough limpos mantidos à temperatura de,
no mínimo, 65° C. Balcão frio, regulado de modo a manter os alimentos a, no máximo, 10° C
(vide capítulo de critérios para distribuição quente e fria).
Ornamentos e plantas não devem propiciar contaminação dos alimentos. As plantas não devem
ser adubadas com adubo orgânico nem estar entre o fluxo de ar e os alimentos, ou sobre balcões
de distribuição. No refeitório é permitida a existência de ventiladores de teto ou chão, desde que
o fluxo de ar não incida diretamente sobre os ornamentos, as plantas e os alimentos.
Sala de administração
A área deve estar localizada acima do piso da área total da cozinha, com visor que facilite a
supervisão geral do ambiente e das operações de processamento.
Não deve existir sabão anti-séptico para higiene das mãos nas pias utilizadas para manipulação
e preparo dos alimentos, devido ao alto risco de contaminação química dos alimentos.
Desenho (Layout)
A configuração das áreas de preparação dos alimentos deve permitir o fluxo linear, sem cruzamento
de atividades entre os vários gêneros de alimentos. Se não houver áreas separadas para os vários
gêneros, deve existir no mínimo um local para pré-preparo (produtos crus) e local para preparo
Equipamentos
O dimensionamento dos equipamentos deve ter relacionamento direto com o volume de produção,
tipos de produtos ou padrão de cardápio e sistema de distribuição/venda. Os equipamentos
devem ser dotados de superfície lisa, de fácil limpeza e desinfecção, bem conservados, com
pinturas claras, sem gotejamento de graxa, acúmulo de gelo e com manutenção constante.
Utensílios
Utensílios de mesa devem ser providenciados em quantidade igual ou maior que o número provável
de consumidores; lavados manualmente ou à máquina. Utensílios de preparação suficientes,
bem conservados, sem crostas, limpos e sem resíduos. Armazenados, após a lavagem e desinfecção,
de forma ordenada e protegidos contra sujidades e insetos. Utensílios de distribuição devem
possuir cabos longos para evitar o contato direto com os alimentos.
Móveis
Mesas, bancadas e prateleiras devem ser em número suficiente, de material liso, resistente,
impermeável e de fácil limpeza.
Definições
Higienização: procedimentos aplicados ao processo que eliminem ou reduzam a contaminação,
minimizando os riscos de transmissão de agentes causadores de doenças. É um processo completo,
que inclui limpeza, lavagem e sanificação.
Lavagem: procedimento que envolve a utilização de água e detergente ou sabão para uma melhor
remoção da sujidade, podendo ou não reduzir a carga microbiana e até mesmo os patógenos em
níveis suportáveis.
Em algumas vezes a limpeza e lavagem são contempladas em uma só operação.
Esterilização: procedimento físico ou químico que elimina todas as formas de vida, ou seja, que
torna o metabolismo microbiano irreversível.
Anti-sepsia: procedimento que tem o mesmo efeito que a sanificação, eliminando ou reduzindo
os patógenos em níveis suportáveis. O termo é utilizado para a ação externa em seres vivos,
como pele e mucosas.
Assepsia: procedimento que evita o retorno da contaminação, ou seja, dos perigos biológicos,
físicos e químicos. Significa uma conduta de controle aplicada após a esterilização, sanitização
ou anti-sepsia. É também qualquer procedimento que mantenha os microrganismos indesejáveis
afastados, seja em ambientes, superfícies ou mãos.
Higiene pessoal
A apresentação do funcionário envolve as seguintes orientações, onde aborda-se tanto a estética
quanto o asseio:
a) banho diário;
e) dentes escovados;
h) maquiagem leve;
i) não utilização de adornos (colares, amuletos, pulseiras ou fitas, brincos, relógio e anéis);
c) o uso de avental plástico deve ser restrito às atividades onde há grande quantidade de água,
não devendo ser utilizado próximo ao calor;
e) os sapatos devem ser fechados, em boas condições de higiene e conservação. Devem ser
utilizadas meias de algodão, de preferência na cor branca;
f) não carregar no uniforme: canetas, lápis, batons, escovinhas, cigarros, isqueiros, relógios e
outros adornos;
Importante:
Todas as pessoas que circulam dentro da cozinha e áreas afins devem usar avental e proteção
para os cabelos.
Não devem manipular alimentos os funcionários que apresentarem feridas, lesões, chagas ou
cortes nas mãos e braços, ou gastrenterites agudas ou crônicas (diarréia ou disenteria), assim
como os que estiverem acometidos de infecções pulmonares ou faringites como gripes, tuberculose,
amigdalite etc. A gerência deve garantir que os funcionários nessas situações sejam afastados
para outras atividades, sem prejuízo de qualquer natureza.
c) os funcionários devem habituar-se a lavar as mãos várias vezes ao dia, sempre que entrar no
setor, trocar de função e nas seguintes situações: quando chegar ao trabalho, depois de
utilizar os sanitários, tossir, espirrar ou assoar o nariz; usar esfregões, panos ou materiais de
limpeza; fumar; recolher o lixo e outros resíduos, tocar em sacarias, caixas, garrafas e sapatos;
tocar em alimentos não higienizados ou crus; pegar em dinheiro; qualquer interrupção do
serviço. Além dessas situações, a lavagem das mãos deve ser feita antes de iniciar um novo
serviço, tocar em utensílios higienizados ou colocar luvas; bem como sempre que manipular
alimentos ou mudar de atividade.
Técnica de higienização/anti-sepsia:
a) umedecer as mãos e antebraços com água;
b) lavar com sabonete líquido, neutro, inodoro. Pode ser utilizado sabonete líquido anti-séptico;
nesse caso, massagear as mãos e antebraços por pelo menos 1 minuto ou conforme
recomendação do fabricante devido aos diferentes princípios ativos;
g) secar as mãos, de preferência, com ar quente ou com papel-toalha descartável virgem (não
reciclado). Fechar a torneira com o papel-toalha, quando necessário;
h) aplicar anti-séptico, no caso, álcool 70% ou similar, de preferência em gel, quando não utilizado
sabonete anti-séptico (ver “Diluições”) ou outro autorizado pela legislação;
i) pode ser aplicado o anti-séptico com as mãos úmidas, deixando secar naturalmente ao ar.
Definição de Validação (ABNT, 1995): Confirmação por exame e fornecimento de evidência objetiva
de que os requisitos específicos, para um determinado uso pretendido, são atendidos. A validação
se refere ao processo de examinar um produto para determinar sua conformidade com as
necessidades do usuário.
Uso de luvas
Dependendo dos procedimentos, o funcionário deverá usar um desses tipos de luvas: descartáveis,
de malha de aço, térmicas ou de borracha. Entretanto, não devem ser utilizadas luvas quando
essas implicarem risco de acidente de trabalho tais como: manuseio de fornos, fogões,
flambadores, fritadeiras, cilindros, masseiras e assemelhados.
b) no preparo e manipulação de alimentos prontos para consumo que não sofrerão tratamento
térmico;
Cuidados específicos
a) Lavar as mãos e fazer anti-sepsia, antes e depois de usar as luvas.
b) No caso de luvas descartáveis, utilizar luvas novas toda vez que retornar a uma função
previamente interrompida.
Uso de máscaras
A utilização de máscaras na manipulação de alimentos não é recomendada como um mecanismo
de prevenção da contaminação. A máscara torna-se úmida depois de 20 a 30 min de uso, agregando
as fibras e permitindo a passagem de grande quantidade de microrganismos, além de se tornar
desconfortável e provocar prurido, ocasionando maior contaminação das mãos, decorrente do
ato de coçar.
Quando extremamente necessário, em situações específicas tais como: alimentos para fins especiais
e porcionamento de alimentos para transporte, poderão ser utilizadas máscaras descartáveis,
trocadas no máximo a cada 30 min, sendo necessário um treinamento e conscientização do
funcionário quanto à utilidade e uso correto.
c) cuspir;
e) tocar o corpo;
f) assoar o nariz, colocar o dedo no nariz ou ouvido, mexer no cabelo ou pentear-se próximo aos
alimentos;
h) manipular dinheiro;
i) fumar;
m) trabalhar diretamente com alimento quando apresentar, por exemplo, ferimentos e/ou infecção
na pele, ou se estiver resfriado ou com diarréia ou disenteria;
Importante
Ao tossir ou espirrar, o funcionário deverá afastar-se do produto, cobrir a boca e o nariz, se
possível, com papel-toalha descartável e depois lavar imediatamente as mãos e fazer anti-sepsia.
A Portaria 2616 de 12/05/98 do Ministério da Saúde, sobre normas para controle das infecções
hospitalares, define os produtos aprovados para anti-sepsia das mãos, que podem ser também
utilizados como orientações para manipuladores de alimentos, já que os resíduos de produtos
desinfetantes e anti-sépticos tornam-se importantes contaminantes químicos em alimentos.
Para melhor entendimento, transcrevemos a seguir o item da referida Portaria sobre anti-sépticos:
Não são permitidos: as formulações orgânicas, acetona, quaternário de amônio, líquido de Dakin,
éter, clorofórmio”.
Esta portaria foi elaborada visando a anti-sepsia das mãos em hospitais, porém, em se tratando
de empresas produtoras/fornecedoras de alimentos, onde existe o risco de ingestão de resíduos
tóxicos provenientes da higienização das mãos, recomenda-se ao utilizar formulações à base de
iodóforos, permanganato de potássio, clorohexidina, sais de prata, cuidados adequados com o
enxágüe.
Recomenda-se a utilização de anti-sépticos à base de álcool 70%, além dos sabões anti-sépticos
com registro no Ministério da Saúde.
Higiene ambiental
A higienização do local, equipamentos e utensílios é de suma importância, porém além desta
rotina deve-se também:
c) seguir um programa de controle integrado de pragas, orientado por empresas que tenham
seus produtos registrados no Ministério da Saúde (Portaria S.N.V.S nº 10 de 08/03/85).
Periodicidade de limpeza
Empresas e áreas afins, como estoque, cozinha, refeitório, vestiários e banheiros, devem obedecer
à seguinte periodicidade de limpeza:
b) paredes: semanal
e) maçanetas: diário
g) telas: mensal
i) lavatórios (pias): diário. Proceder à limpeza das saboneteiras sempre que houver necessidade
de preenchê-las com produto
j) sanitários: diário
n) estoque: quinzenal
o) estrados: quinzenal
t) equipamentos e utensílios em geral: diário (conforme o uso). A água do balcão térmico deve
ser trocada diariamente. O volume de água deve ser suficiente para favorecer a manutenção
da temperatura dos alimentos durante a distribuição. Deve ser ligado com o tempo necessário
para atingir a temperatura recomendada (80ºC a 90ºC)
Outros:
a) caixa de gordura: conforme necessidade
b) reservatório de água: semestral
c) filtro do ar condicionado: de acordo com fornecedor
Todos os locais devem estar limpos e organizados, inclusive vestiários e banheiros, respeitando
a periodicidade citada anteriormente.
Higienização manual
a) Retirar o excesso de sujidade e/ou recolher os resíduos. No caso de pisos é proibido varrer a
seco nas áreas de manipulação. Os resíduos podem ser recolhidos com auxílio de pá,
preferencialmente de fechamento.
d) Desinfetar com álcool 70% ou solução clorada a 200 ppm (ver “Diluições”) –pode ser utilizado
borrifador.
g) No caso de pisos e bancadas a água pode ser retirada com auxílio de rodo. Para as bancadas
o rodo deve ser exclusivo, de cabo curto, de material plástico ou metal, sendo necessário
lavá-lo e desinfetá-lo após o uso.
Importante
O detergente deve ter as seguintes características: bom emulsificador, bom solvente, bom
emoliente, bom defloculador, bom agente de dispersão, ser muito solúvel e inofensivo para o
homem.
A solução clorada pode variar entre 100 e no máximo 250 ppm. Monitorar a concentração de
cloro ativo ou trocar a solução a cada 6 horas. No caso do álcool 70%, trocar a cada 24 horas.
O tempo de contato da solução clorada com a superfície deve ser de aproximadamente 15 minutos,
ou seja, após um borrifamento, por exemplo, deve-se esperar pelo menos 15 minutos antes de
reutilizar um recipiente. Se a desinfecção com a solução clorada for feita por imersão, recomenda-
se deixar por 2 minutos e após a retirada, aguardar 15 minutos para a reutilização.
Alguns utensílios de difícil higienização, por exemplo, saco de confeitar (sacapuxa), devem ser
substituídos por outros de material descartável ou apropriado. No caso de sacapuxa de pano ou
outro material não descartável, proceder às recomendações de “higienização manual”, realizando
a desinfecção pelo método físico: fervura por 10-15 minutos.
a) recolher toda a gordura depositada utilizando uma pá exclusiva para este fim;
c) esfregar com vassoura ou escova exclusiva para esse fim, água fervente e produto
desengordurante apropriado para essa finalidade;
e) deixar escoar.
Condutas recomendadas
a) Manter o ambiente limpo e seco.
b) Os equipamentos devem ser desligados da tomada e retiradas as partes móveis para proceder
à limpeza adequada.
c) Não é permitido o uso de escova de metal, lã, palha de aço, madeira, amianto e materiais que
não permitam uma adequada higiene.
e) Não é permitida a mistura entre produtos de limpeza como detergentes e desinfetantes, a não
ser produtos preparados industrialmente pelo produtor e registrados no Ministério da Saúde.
g) Manter os produtos de limpeza nas embalagens originais e não reaproveitá-las. Quando utilizar
borrifadores para as soluções desinfetantes, esses devem estar devidamente identificados.
i) A limpeza deve começar pelos lugares mais altos e por último o piso.
j) Controlar a operação de limpeza para que os utensílios e/ou equipamentos e suas partes
móveis a serem lavados e desinfetados mantenham-se apoiados em algum suporte, não tocando
diretamente o piso.
k) Utensílios de limpeza usados nos vestiários e banheiros não devem ser utilizados nos locais de
manipulação de alimentos; esses devem ser exclusivos, identificados com etiquetas ou cores.
m) As mangueiras de limpeza devem ser dotadas de fechamento automático e, quando não em uso,
devem ser enroladas e guardadas penduradas para que não entrem em contato com o piso.
n) Não manter panos destinados para limpeza espalhados pelo ambiente. Os balcões de
distribuição não devem ter panos expostos para limpeza rápida. Mantê-los em local apropriado.
Não utilizar panos de chão como “tapete”, nem papelão.
Recomendações:
Para desinfecção de peças de equipamentos, utensílios de preparação e lavagem manual de
utensílios de mesa, poderá ser utilizado Hipoclorito de Sódio, em concentração não inferior a
100 ppm e, como limite superior, 200-250 ppm. Esse princípio ativo é comercializado como ‘água
sanitária - desinfetante de uso geral’, com 2,0 % a 2,5% de cloro ativo e pH máximo do produto
bruto 13,5 e diluído a 1% pH 11,5. Também encontrado na concentração original de 1%, devendo
seguir as mesmas recomendações para água sanitária.
Na impossibilidade da utilização de Hipoclorito de Sódio, poderá ser utilizado álcool gel 70%.
Quando utilizar cloro ou álcool gel 70% não haverá necessidade de enxágüe final.
Se usar álcool gel a 70%, a solução deve ser trocada a cada 24 horas.
Higiene de hortifrutigranjeiros
A seleção é a primeira etapa do processo, que visa descartar as partes consideradas impróprias
para o consumo. A pré-lavagem de hortifrutigranjeiros, quando existente, deve ser feita em água
corrente potável e em local apropriado, de modo que não ofereça risco de contaminação.
Para o preparo desses gêneros, deve ser realizada a higienização completa (lavagem, desinfecção
e enxágüe) em todos aqueles que serão consumidos crus. Em alguns alimentos pode-se excluir a
desinfecção, porém devem ser lavados um a um em água corrente, como:
a) frutas não manipuladas e aquelas cujas cascas não são consumidas, tais como, laranja, tangerina,
banana e outras da mesma espécie;
b) alimentos (verduras, legumes e frutas) que irão sofrer ação do calor, desde que haja garantia
de a temperatura interior atingir no mínimo 74ºC;
c) ovos inteiros, tendo em vista que devem ser consumidos após cocção, atingindo 74ºC no
interior.
d) desinfetar por imersão em solução clorada a 100 ppm por 15 minutos (colocar todo o lote ao
mesmo tempo). A concentração da solução clorada pode variar entre 100-200, podendo chegar
até 250 ppm;
e) fazer o corte dos vegetais, se houver necessidade. Quando as condições ambientais oferecerem
risco de contaminação, as verduras podem ser picadas antes da desinfecção;
i) reenxaguar (opcional) em função do tempo para o consumo, retirar o excesso de água por
escoamento ou por centrífuga;
Importante
a) A solução clorada deve ser trocada a cada uso (lote imerso) ou ser reutilizada quando o
monitoramento da solução indicar um mínimo de 100 ppm de cloro ativo. Nesse caso, a
solução não deve ter muitos resíduos nem turvação, para isso a lavagem inicial folha a folha
deve ser realizada adequadamente.
b) Esse procedimento deve ser feito em área específica dentro da cozinha; as etapas de desinfecção
e enxágüe final podem ser realizadas em monoblocos exclusivos.
c) Para desinfecção de vegetais (frutas, verduras, legumes etc.) são permitidos apenas produtos
à base de cloro inorgânico (Hipoclorito de Na, Li e Ca) ou orgânico formulado especificamente
para essa finalidade.
d) Não é recomendado utilizar soluções cloradas com menos que 100 ppm ou com mais que 250
ppm.
e) O vinagre, quando utilizado, não constitui uma etapa de desinfecção, apenas de limpeza.
Diluições
Solução clorada a 100-200 ppm: 10 ml (1 colher de sopa rasa) de Hipoclorito de sódio a 1% em
1 litro de água(para 100 ppm).
As soluções cloradas devem ser monitoradas a fim de não apresentarem concentração de cloro
livre inferior a 100 ppm. Quando impossível monitorar, trocar as soluções dos alimentos a cada
imersão.
Outras soluções à base de cloro podem ser utilizadas. Observar as recomendações do fabricante
e averiguar a concentração final de cloro (em ppm) para que esteja adequada. Todos os produtos
devem estar registrados no Ministério da Saúde.
1º) Visual: é aplicado às superfícies dos equipamentos, juntas etc. Qualquer presença de resíduo
significa que a etapa de limpeza não foi bem executada e que deve ser refeita.
2º) De contato: é usado onde a visualização não é possível ou como medida complementar. Pode
ser feita com papel branco, ou mesmo com a mão limpa e sanificada. Se houver a sensação de
gordura nas mãos, ou se houver sujidades no papel, o processo deve ser refeito.
3º) Da carga microbiológica: é feito através do exame com swab, placas de contato ou última
água de enxágüe. Só deve ser realizada se as superfícies dos equipamentos passaram pelas duas
primeiras verificações. Esses exames detectam a presença e a quantidade de microrganismos
viáveis, fornecendo indicações sobre as operações de limpeza e sanificação.
Atualmente utiliza-se, por sua rapidez, a técnica de swab para detecção de ATP (proveniente
tanto de células, quanto de resíduos orgânicos) que se encontra nas superfícies
(bioluminescência).
Essa diluição deve ser correta, a fim de não perder a concentração alcoólica bactericida.
O etanol a 70% é o que apresenta melhor poder bactericida (de acordo com ICMSF). Corresponde
ao álcool a 70,114%, o álcool com densidade de 77oGL.
Deverá ser utilizado álcool a 70% na forma de gel, de acordo com as formulações aprovadas por
legislação específica.
Soluções cloradas
A água sanitária, normalmente, possui 2,5% de cloro, ou seja, 2,5g de cloro ativo para cada
100ml de solução (25.000ppm);
Legenda:
Exemplos:
A quantidade de cloro ativo deve estar indicada no rótulo. Caso contrário, solicitar este valor ao revendedor.
• da formulação (receita);
da contaminação física e química por ar, superfícies, áreas mal conservadas e outros;
das exigências na recepção de produtos, por base em especificações dos mesmos e por inspeção
e seleção antes do processamento e, quando aplicável, por análises e testes de identidade e
qualidade das matérias-primas e ingredientes;
O controle dos perigos potenciais à saúde deve ser avaliado pelo uso adicional do sistema APPCC.
Para tal, deve-se:
I NTRODUÇÃO
DE SEGURANÇA
A área de recebimento deverá, quando possível, conter tanque ou pia para pré-lavagem de vegetais
e local para a higienização das caixas/monoblocos.
Deve-se manter estrados para o apoio das caixas limpas e para a transferência dos gêneros para
que os mesmos nunca sejam colocados diretamente no piso.
Deve-se programar as entregas para horários que possibilitem uma boa inspeção das mercadorias,
uma de cada vez.
Recomendações básicas
a) Observar data de validade e fabricação.
c) Observar as condições das embalagens. Devem estar limpas, íntegras e seguir as particularidades
de cada produto. Alimentos só devem estar em contato direto com materiais aprovados.
Importante
É no ato do recebimento que deve ser feita a troca de embalagens quando necessária (eliminar
caixas de madeira e/ou papelão).
a) Conferir a rotulagem. Deve conter nome e composição do produto, lote, data de fabricação e
validade, número de registro no órgão oficial (quando necessário), CGC, endereço do fabricante
e distribuidor, condições de armazenamento e quantidade (peso).
b) Observar as condições do entregador. Deve estar com uniforme adequado e limpo, avental,
sapato fechado, proteção para cabelo ou mãos (rede, gorro ou luvas) quando necessário.
e) Medir as temperaturas, as quais devem estar adequadas e ser registradas no ato do recebimento
em planilhas específicas.
Congelados: -18ºC com tolerância até -12ºC, ou “duro como pedra”, sem sinais de
descongelamento.
Importante
Todos os produtos devem ser registrados durante o recebimento em planilhas específicas. Estando
esses em desacordo com os critérios preestabelecidos devem ser devolvidos no ato do recebimento.
Latas
Não devem estar enferrujadas, estufadas ou amassadas.
Vidros
Não devem estar trincados, apresentar vazamentos nas tampas, formação de espumas, ou qualquer
outro sinal de alteração do produto.
Hortifrutigranjeiros
Para esses gêneros, é importante observar tamanho, cor, aroma, grau de maturação, ausência de
danos físicos e mecânicos. Devem estar sem presença de insetos e moluscos.
A triagem deve ser feita retirando-se folhas velhas, frutos verdes e deteriorados antes da pré-
higienização e do acondicionamento em embalagens adequadas. Conforme necessidade, solicitar a
troca da mercadoria ao fornecedor.
Os ovos devem estar com a casca íntegra, sem rachaduras e resíduos que indiquem a falta de higiene
do fornecedor. Devem ficar estocados em local arejado, limpo e fresco, longe de fontes de calor. As
embalagens de ovos não devem ser reutilizadas, nem utilizadas para outra finalidade. É recomendável
a refrigeração até 10ºC por 14 dias ou outro critério garantido pelo fornecedor.
Temperatura recomendada:
Hortifrutigranjeiros pré-processados congelados: -18ºC com tolerância até -12ºC
Hortifrutigranjeiros pré-processados resfriados/refrigerados: até 10ºC ou de acordo com o
fabricante
Hortifrutigranjeiros in natura: ambiente
Ovos: ambiente (tolerado) – recomendável até 10º C por até 14 dias
Temperatura recomendada:
Leite in natura e seus derivados: até 10ºC ou de acordo com o fabricante
Massas frescas: até 10º C, preferencialmente até 4º C.
Importante
Alguns queijos podem estar à temperatura ambiente, desde que especificado no rótulo.
Requeijão: consistência untável ou fatiável; cor e odor característicos; sabor de creme, ligeiramente
ácido ou opcionalmente salgado, para o requeijão cremoso; e ácido salgado a ranço, para o
requeijão de manteiga.
Ricota fresca: crosta rugosa, não formada ou pouco nítida, consistência mole, não pastosa e
friável, textura fechada ou com alguns olhos mecânicos, branco ou branco-creme, odor
característico, sabor suave (próprios).
Mussarela: consistência semidura e semi-suave; textura fibrosa, elástica e fechada; cor branca à
amarela; sabor láctico, pouco desenvolvido a ligeiramente picante; odor láctico pouco perceptível;
sem crosta; sem olhaduras, podendo apresentar aberturas irregulares.
Prato: crosta inexistente, fina, lisa e bem formada, podendo apresentar-se revestida de parafina,
consistência semi-elástica, tendente a macia, de untura manteigosa; textura com poucos olhos
Parmesão: crosta firme, lisa, não pegajosa, untada com óleo secativo ou verniz próprio, consistência
dura, maciça, de untura seca; textura compacta, com poucos olhos mecânicos pequenos, de fratura
granulosa; cor amarelo-palha, homogênea; odor e sabor característico, picante, forte.
Provolone: crosta firme, lisa, resistente, destacável, parafinada, encerada ou oleada; consistência
semidura, de untura meio seca outras tendente a manteigosa; textura compacta ou com poucos
olhos, defumado ou não; cor marfim ou creme, homogênea, odor característico e sabor picante,
suave, tolerando-se o picante forte.
Carnes
Esses gêneros devem ser entregues acondicionados em monoblocos ou caixas de papelão lacradas,
embalados em sacos plásticos ou a vácuo, inclusive os salgados defumados.
Deve-se realizar o registro da temperatura e avaliação sensorial dos produtos. Para tais produtos
sugere-se ainda: fazer controle físico-químico (reação de H2S, amônia e teste de pH) e se
necessário, controle microbiológico.
Temperatura recomendada:
Carnes refrigeradas: até 10º C, preferencialmente até 4º C
Carnes congeladas: -18º C com tolerância até -12º C
Frios e embutidos industrializados: até 10ºC ou de acordo com o fabricante
Produtos salgados, curados ou defumados: ambiente ou recomendada pelo fabricante
Aves
Não deve haver formação de gelo entre ou sobre as peças; água dentro da embalagem, nem sinal
de recongelamento (gelo avermelhado); a consistência deve ser firme, não amolecida, nem
pegajosa; com odor característico; a cor característica é amarelo-rosada, sem escurecimento,
manchas esverdeadas ou outras colorações estranhas.
Embutidos
Não deve haver formação de gelo sobre ou entre as peças, água dentro da embalagem, nem sinal
de recongelamento; a consistência deve ser firme, não pegajosa, com odor característico, sem
odor de ranço; com a cor característica de cada classe, sem manchas pardacentas, esbranquiçadas,
verdes ou cinzas.
Peixes
Não deve haver água dentro da embalagem, nem sinal de recongelamento; a consistência deve
ser firme, não amolecida, nem pegajosa; com odor característico; a cor característica dos filés,
geralmente, é branca ou ligeiramente rósea.
Se o peixe estiver inteiro, a carne deve estar presa à espinha, o ventre desinchado, as escamas
bem aderidas e brilhantes, guelras úmidas e intactas, olhos brilhantes e salientes, superfície não
pegajosa.
Pescados salgados, curados ou defumados podem ser recebidos em temperatura ambiente, desde
que especificado na embalagem.
Camarão
Não deve haver formação de cristais de gelo ou água dentro da embalagem, nem sinal de
recongelamento; o corpo deve-se apresentar curvo, não deixando escapar facilmente as pernas e
cefalotórax. A carapaça deve ser transparente, deixando visualizar coloração dos músculos,
aderente ao corpo e libertando-se sem aderências musculares, quando forçada. Olhos na cor
negra e bem destacados; com odor característico e cor rosada ou acinzentada, de acordo com a
espécie, sem pigmentação estranha.
A avaliação sensorial (características organoléticas, cor , odor, aroma, aparência textura, sabor)
baseia-se nos critérios definidos pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas – NBR-
12806- 02/93) e RIISPOA (Análise Sensorial de Alimentos e Bebidas).
A RMAZENAMENTO :
Essa etapa envolve três procedimentos básicos:
c) Alimentos não devem ficar armazenados junto a produtos de limpeza, químicos, de higiene e
perfumaria.
d) Produtos descartáveis também devem ser mantidos separados dos itens citados anteriormente.
f) Caixas de papelão não devem permanecer nos locais de armazenamento sob refrigeração ou
congelamento, a menos que haja um local exclusivo para produtos contidos nessas embalagens
(exemplo: freezer exclusivo ou câmara exclusiva).
g) Alimentos ou recipientes com alimentos não devem estar em contato com o piso, e sim apoiados
sobre estrados ou prateleiras das estantes. Respeitar o espaçamento mínimo necessário que
garanta a circulação de ar (10 cm).
h) Alimentos que necessitem serem transferidos de suas embalagens originais devem ser
acondicionados de forma que se mantenham protegidos, devendo ser acondicionados em
contentores descartáveis ou outro adequado para guarda de alimentos, devidamente
higienizados. Na impossibilidade de manter o rótulo original do produto, as informações
devem ser transcritas em etiqueta apropriada (vide sistema de etiquetagem).
m) Podem ser armazenados no mesmo equipamento para congelamento (freezer) tipos diferentes
de alimentos, desde que devidamente embalados e separados.
C ONGELAMENTO
Etapa onde os alimentos passam da temperatura original para faixas de temperaturas abaixo de
0ºC em 6 horas ou menos.
Etapa onde os alimentos passam da temperatura de congelamento para até 4ºC, sob refrigeração
ou em condições controladas.
5. utilização de peças cárneas ou filetadas de até 2 kg, embaladas por peças ou em suas embalagens
originais;
H IGIENIZAÇÃO DE HORTIFRUTIGRANJEIROS
P RÉ - PREPARO /P REPARAÇÃO
Etapa onde os alimentos sofrem tratamento ou modificações, através de higienização, tempero,
corte, porcionamento, seleção, escolha, moagem e/ou adição de outros ingredientes. Devem ser
obedecidas as seguintes práticas:
Armazenamento pós-manipulação:
1. Todos os alimentos que foram descongelados para serem manipulados não devem ser
recongelados crus.
3. Alimentos prontos congelados que foram descongelados não devem ser recongelados.
5. Alimentos que foram retirados da embalagem original, manipulados e armazenados crus sob
refrigeração devem ser devidamente identificados por etiquetas, respeitando os critérios de
uso.
6. Alimentos industrializados que não tenham sido utilizados totalmente e que necessitem ser
retirados da embalagem original devem ser colocados em embalagens adequadas e
identificados por etiquetas, respeitando os critérios de uso.
Dessalgue
Etapa onde as carnes salgadas são submetidas à retirada do sal sob condições seguras, descritas
a seguir:
3. Através de fervura (se for imediata, levada para a cocção ou resfriada corretamente).
C OCÇÃO
Etapa onde os alimentos devem atingir no mínimo 74º C no seu centro geométrico ou combinações
de tempo e temperatura como 65º C por 15 minutos ou 70º C por 2 minutos.
Entre os diversos métodos de cocção, ressalta-se a cocção por fritura, que deve atender aos
seguintes requisitos:
a) os óleos e gorduras utilizados nas frituras não devem ser aquecidos a mais de 180º C.
c) a reutilização do óleo só pode ser realizada quando este não apresentar quaisquer alterações
das características físico-químicas ou sensoriais. O óleo deve ser filtrado em filtros próprios
ou pano branco fervido por 15 minutos. Quando utilizar fritadeiras com filtro, seguir as
recomendações do fabricante e observar as características físico-químicas ou sensoriais.
Considerações
Formas de cocção:
1. Cocção básica - é a que é efetuada em caldeirões, para: feijão, arroz, carnes de panela, sopas,
cremes etc.
- Algumas preparações cozidas passam por um processo de aquecimento brando, não alcançando
assim as faixas de temperatura de segurança: 65º C por 15 min ou 70º C por 2 min. Para esses
tipos de preparação definidas aqui como de cocção branda, deve-se proceder à higienização
completa dos ingredientes em questão, a fim de controlar os perigos ou, então, limitar o
tempo de manutenção e distribuição, não podendo ser superior a 3 horas.
São exemplos dessas preparações: o agrião da rabada, a couve à mineira e o repolho refogado ou
salteado.
É a etapa onde os alimentos que sofreram cocção devem atingir 55º C em sua superfície, para
serem levados ao resfriamento.
R ESFRIAMENTO / REFRIGERAÇÃO
Etapa onde os alimentos passam da temperatura original ou pós-cocção (55º C) para a temperatura
específica de cada produto, de acordo com os requisitos estabelecidos abaixo:
No resfriamento forçado até 21ºC e conseqüente refrigeração até 4ºC, podem ser utilizados:
imersão em gelo, freezer (-18° C), geladeira (2º a 3° C) ou equipamento para refrigeração rápida.
De 50º C atingindo 21º C em, no máximo, 2 horas e desta temperatura até 7º C em, no máximo,
4 horas.
De 55º C a 21ºC em, no máximo, 2 horas. E, desta temperatura até 4º C de, no máximo, 8 a10
horas.
Os alimentos que não sofreram cocção ou que foram manipulados em temperatura ambiente
devem atingir a temperatura recomendada em 6 horas (vide critérios de uso).
R ECONSTITUIÇÃO
Etapa na qual os alimentos a serem reconstituídos recebem a adição de água própria para consumo
e, a seguir, devem ser consumidos imediatamente ou aquecidos ou refrigerados, conforme critérios
de uso.
Etapa na qual os alimentos quentes devem ser mantidos a 65ºC ou mais até o momento da
distribuição e os alimentos frios devem ser mantidos abaixo de 10ºC até o momento da
distribuição. Essas temperaturas devem ser medidas no centro geométrico dos alimentos.
P ORCIONAMENTO
Etapa na qual os alimentos prontos para consumo sofrem manipulação com a finalidade de se
obter porções menores. Nessa etapa a manipulação deve ser realizada observando-se
procedimentos que evitem a recontaminação ou a contaminação cruzada.
Alimentos quentes não devem ser porcionados em área climatizada, exceto quando forem
submetidos ao resfriamento.
D ISTRIBUIÇÃO
Etapa na qual os alimentos são oferecidos para o consumo. A distribuição pode ser do tipo:
centralizada, descentralizada ou mista.
Os alimentos deverão ter controle de tempo e temperatura para não ocorrer multiplicação
microbiana e devem permanecer protegidos de novas contaminações. Para tanto, devem ser
seguidos os seguintes critérios para distribuição de alimentos quentes e frios:
Alimentos quentes
Podem ficar na distribuição ou espera a 65ºC ou mais por, no máximo, 12 horas; ou a 60º C ou
superior por, no máximo, 6 horas; ou abaixo de 60ºC, no máximo, por 3 horas (considerar o
tempo que o alimento permaneceu na espera para fornecimento/distribuição).
Alimentos frios
São potencialmente perigosos porque favorecem uma rápida multiplicação microbiana. Por isso:
b) quando a temperatura estiver entre 10º C e 21º C, só podem permanecer na distribuição por 2
horas;
S OBRAS
São alimentos prontos que não foram distribuídos ou que ficaram no balcão térmico ou
refrigerado. Somente podem ser utilizadas sobras que tenham sido monitorizadas. Alimentos
prontos que foram servidos não devem ser reaproveitados.
Sobras quentes
Sobras que ficaram sob requisitos de segurança, devem ser:
a) Reaquecidas a 74ºC e mantidas a 65ºC ou mais para serem servidas por, no máximo, 12 horas.
b) Reaquecidas a 74ºC e quando atingirem 55ºC na superfície devem ser resfriadas a 21ºC em 2
horas, devendo atingir 4º C em mais 6 horas, para serem reaproveitadas, no máximo, em 24
horas.
d) Alimentos que sofreram tratamento térmico e que serão destinados à refrigeração devem ser
armazenados em volumes ou utensílios com altura máxima de 10 cm, devendo ser cobertos
quando atingirem a temperatura de 21°C ou menos.
Sobras frias
Sobras de alimentos que ficaram sob requisitos de segurança devem ser:
a) Refrigerados de modo que a temperatura interna do alimento atinja 4ºC em 4 horas, podendo
ser utilizados por, no máximo, 24 horas.
b) Também podem ser reaproveitadas para pratos quentes, devendo ser levadas à cocção a 74º C
e mantidas a 65º C para distribuição por, no máximo, 12 horas.
c) Após atingirem 55º C devem ser resfriadas a 21º C em 2 horas e atingir 4º C em mais 6 horas,
devendo ser mantidas nesta temperatura para reaproveitamento, como pratos quentes, por
no máximo 24 h.
CRITÉRIOS DE USO
Congelamento
0º C a -5° C 10 dias
-5º C a -10° C 20 dias
-10º C a -18° C 30 dias
-18° C ou inferior 90 dias
Refrigeração
• Pescados e seus produtos manipulados crus: até 4 º C por 24 horas.
• Carne bovina, suína, aves e outras, e seus produtos manipulados crus: até 4º C por 72 horas.
• Sobremesas, frios e laticínios manipulados: até 8º C por 24 horas, até 6º C por 48 horas ou até
4ºC por 72 horas.
• Maionese e misturas de maionese com outros alimentos: até 4ºC por 24 horas.
Algumas preparações podem seguir outros critérios, desde que sejam observados: o tipo de
alimento e suas características intrínsecas (Aa, pH etc.), procedendo-se ao estudo da “vida de
prateleira” através de análise sensorial, microbiológica seriada e, se necessário, físico-química.
Guarda de amostras
A guarda de amostra deve ser realizada com o objetivo de esclarecimento de ocorrência de doença
transmitida por alimentos prontos para o consumo.
As amostras que devem ser colhidas são componentes do cardápio da refeição servida na
distribuição 1/3 do tempo antes do término da mesma.
Técnica de coleta:
a) identificar as embalagens ou sacos esterilizados ou desinfetados com nome do local, data,
horário, produto e nome do responsável pela coleta;
e) retirar o ar e vedar.
Quanto à quantidade, o mínimo deve ser 200g ou conforme a técnica a ser usada pelo laboratório
de análise.
Armazenamento
Por 72 horas sob refrigeração até 4ºC ou sob congelamento a -18ºC. Líquidos só podem ser
armazenados por 72 horas sob refrigeração até 4ºC.
CONSERVAÇÃO
UTILIZAR ATÉ (A DATA ESTABELECIDA DEVE ESTAR DE ACORDO COM OS CRITÉRIOS DE USO)
A utilização de ovos
Os ovos podem estar contaminados com Salmonella sp tanto na casca como na gema. Existem
medidas de controle que devem ser realizadas na indústria, porém a qualidade sanitária das
preparações à base de ovos nas empresas fornecedoras de alimentos pode ser garantida com os
seguintes procedimentos:
Na comercialização e na compra
a) É proibida a venda de ovos com a casca rachada.
b) Deve-se verificar se os ovos estão estocados em local arejado, limpo e fresco, longe de fontes
de calor e de preferência refrigerados.
Na utilização
a) Armazenar os ovos de acordo com as instruções do fornecedor.
Na preparação
a) Não oferecer para consumo ovos crus.
b) Não oferecer para consumo alimentos preparados onde os ovos permaneçam crus.
c) Em preparações sem cocção (cremes, musses, maioneses, enterais etc.) utilizar ovos
pasteurizados, ovos desidratados / liofilizados (que tenham sido pasteurizados), ovos cozidos.
d) Em preparações quentes, os ovos devem ser cozidos por 7 minutos em fervura, no mínimo; os
ovos fritos devem estar com a gema dura; omeletes, empanados, milanesa, bolos, doces etc.
devem atingir 74ºC no centro geométrico.
Transporte
Requisitos para o transporte de alimentos:
f) No transporte de alimentos deve constar nos lados direito e esquerdo, de forma visível, dentro
de um retângulo de 30 cm de altura por 60 cm de comprimento, os dizeres: Transporte de
Alimentos, nome, endereço e telefone da empresa, Produto Perecível (quando for o caso);
h) Os métodos de higienização devem ser adequados às características dos produtos e dos veículos
de transportes.
i) Quando a natureza assim o exigir, o alimento deve ser colocado sobre prateleiras e estrados,
quando necessário removíveis, de forma a evitar danos e contaminação.
j) Os materiais utilizados para proteção e fixação da carga (cordas, encerados, plásticos e outros)
não devem constituir fonte de contaminação ou dano para o produto, devendo os mesmos
serem desinfetados juntamente com o veículo de transporte.
k) A carga e/ou descarga não devem representar risco de contaminação, dano ou deterioração
do produto e/ou matéria-prima alimentar (proteger da exposição do sol , chuva etc).
l) Nenhum alimento deve ser transportado em contato direto com o piso do veículo ou embalagens
ou recipientes abertos.
n) Os alimentos perecíveis crus ou prontos para o consumo devem ser transportados em veículo
fechado, dependendo da natureza, sob:
Recomendações:
Para saladas ou outros alimentos nos quais se misturem maionese ou molhos à base de maionese
ou creme de leite recomenda-se que sejam transportados sem os molhos, ou seja, que a mistura
seja efetuada no local da distribuição e consumo. É recomendável também que tanto o molho
quanto os demais ingredientes estejam resfriados ( menor que 10ºC ).
Alternativa: utilizar molhos, maionese etc. em sachês individuais, que serão misturados pelo
próprio consumidor.
Uso de termômetros
Os termômetros devem ser periodicamente calibrados, através de equipamentos próprios ou por
empresas especializadas. Quando usados, não devem propiciar risco de contaminação. Suas hastes
devem ser lavadas e desinfetadas antes e depois de cada uso.
Tipos de termômetros
• Precisão de ± 1º C.
• Botão (reset) para a aferição ou parafuso de ajuste para calibração.
• Marcações de fácil leitura.
• Marcação (sulco) que indica o final da área sensora.
b) Digitais:
• Medem a temperatura por sonda de metal exibindo em um display. Podem vir com mais de um
tipo de sonda, projetadas para medir diferentes superfícies.
Importante
A temperatura externa medida não reflete a temperatura interna dos produtos.
O sensor do termômetro deve estar regulado para o tipo de superfície a ser mensurada.
c) Líquidos, embalagens cartonadas: submergir o termômetro até pelo menos 5cm. Não encostar
nas laterais da embalagem.
I NTRODUÇÃO
DE
ANÁLISE M ICROBIOLÓGICA
A MOSTRAGEM
Idêntico procedimento será adotado na etapa de verificação do sistema APPCC, nas análises do
produto final.
Os resultados das análises microbiológicas nas avaliações mais criteriosas devem permitir um
julgamento que expresse a segurança oferecida pelo produto. Isso é possível se houver, no
estabelecimento, critérios de avaliação, que podem ser internos, do país ou mesmo internacionais,
como é o caso do programa estabelecido através da Comissão do Codex Alimentarius.
a) o plano de amostragem;
Esses critérios poderão ser elaborados para atender a uma especificação, ou do padrão
microbiológico. Dessa forma, de acordo com o maior ou menor rigor dos planos de amostragem,
serão avaliados os riscos do consumidor e do produtor. Entende-se como risco do consumidor a
possibilidade de ele aceitar como adequados lotes não conformes (na maioria dos padrões, o
risco é 10%). O risco do produtor é a possibilidade de ter rejeitado lotes conformes (geralmente
5%).
A LGUMAS DEFINIÇÕES
1- Atributo - Uma característica qualitativa de uma unidade de amostra. Por exemplo, os resultados
de uma análise são positivos ou negativos para Salmonella.
PLANOS DE AMOSTRAGEM
Os de duas classes são os planos que separam a qualidade de uma amostra em apenas dois níveis:
aceitável e não aceitável. São utilizados especialmente em um atributo, tal como a presença ou
ausência de um microrganismo (como ausência de Salmonella em 25g de produto), ou quando
certos níveis de microrganismos podem ser aceitáveis (por exemplo, uma unidade pode ser
aceitável com menos de 3 E. coli/g). O plano de duas classes é definido pelos seguintes valores:
Já os planos de três classes diferem do de duas classes por terem dois limites microbiológicos:
Nesse caso, o valor c define o número máximo de unidades amostrais que podem estar com valor
localizado na classe marginal (entre m e M).
• aceitável - abaixo de m;
• marginal - entre m e M;
• inaceitável - acima de M.
Para a avaliação das condições sanitárias dos alimentos está em vigor a Resolução RDC 12 ,de 2
de janeiro de 2001, que define os limites de tolerância sanitária, ou seja, levando em consideração
apenas os microrganismos potencialmente patogênicos. Essa Resolução revoga a Portaria 451,
de 19 de setembro de 1997, conforme definido na introdução da RDC 12, a seguir:
Art. 1º Aprovar o Regulamento Técnico sobre Padrões Microbiológicos para Alimentos, em anexo.
Art. 2º O descumprimento aos termos desta Resolução constitui infração sanitária, sujeitando os
infratores às penalidades da Lei nº 6.437, de 20 de agosto de 1977, e demais disposições aplicáveis.
Art. 4º Fica revogada a Portaria SVS/MS 451, de 19 de setembro de 1997, publicada no DOU de 2
de julho de 1998.
A seleção de indicadores microbianos que se segue pode ser de grande utilidade, uma vez que a
RDC 12 não contempla os padrões higiênicos, apenas os sanitários.
Conceitos
Define-se como critério ou limite microbiológico o limite máximo tolerável de microrganismos
ou de espécies definidas, determinado por metodologia estipulada e sugerido como aceitável
para determinado alimento, podendo ser utilizado como orientação. Padrão microbiológico é o
número máximo tolerável de microrganismos ou de espécies definidas para um certo alimento,
determinado por metodologia estipulada e constante de uma lei ou regulamento administrativo
oficial, sendo, portanto, obrigatório.
Para avaliar as condições microbiológicas dos alimentos, a empresa deve definir a tolerância
para a contagem de microrganismos constantes da tabela interpretativa, fixando os critérios que
constituirão a especificação. Do ponto de vista legal, a especificação não substitui os padrões
vigentes na legislação.
c) Quando o produto estiver configurado nos conceitos 1.b) ou 1.c) (ver tabela interpretativa),
na conclusão do laudo deverá constar explicitamente: “Condições Higiênicas Insatisfatórias”
ou “Condições Higiênico-sanitárias Insatisfatórias”, respectivamente, não sendo, entretanto,
considerado nocivo à saúde, por essas determinações analíticas e em função do número de
células viáveis presentes no produto em questão. Pode ser necessária a aplicação de plano de
amostragem para Investigação.
aeróbios mesófilos viáveis e/ou coliformes a 35(30)º C e/ou coliformes a 45º C e/ou bolores
e leveduras acima de cem (100) vezes os limites estabelecidos, na conclusão do laudo deve
constar explicitamente ”Produto impróprio para o consumo”. Essa conclusão é por níveis
inaceitáveis de contaminantes gerais; níveis inaceitáveis de perigos indiretos e pouco
significativos; critérios relacionados com perigos moderados e diretos, de disseminação restrita,
que se multiplicaram no produto em questão; perigos moderados, diretos à saúde, de
disseminação ampla. Pode ser necessária a aplicação de plano de amostragem mais rígido ou
para investigação.
1.c) Coliformes a 45º C, Acima dos valores Até no máximo Condições Aplicação inade-
Estafilococo estabelecidos até, 1 mais o valor higiênico- quada das Boas
coagulase positiva, no máximo, 10 de c (c+1) sanitárias Práticas, exceção
B. cereus e C. sulfito vezes este valor insatisfatórias dos produtos espe-
redutor a 46º C cificados em 1.d)
Coliformes a 45º C, Acima dos valores Até no máximo Produto Para os produtos
1.d) Estaf.coag.positiva, estabelecidos até, 1 mais o valor inadequado para secos ou em pó ou
B. cereus e no máximo, 10 de c (c+1) a comercialização que não permitam
C. sulfito redutor a vezes este valor a multiplicação de
46º C microrganismos.
Idem anterior.
Diretrizes e critérios
Neste item apresentamos as diretrizes e os critérios para a decisão da necessidade de proceder à
determinação analítica de microrganismo patogênico em alimentos, como base para programas e
atividades de identificação e gerenciamento de perigos – diagrama decisório.
Nota – Aplicar o diagrama decisório, considerando os agentes mais graves e prevalentes nas patologias humanas:
toxinfecções, infecções e intoxinações (toxinoses) de origem alimentar e de natureza viral, bacteriana, parasitária
ou biológica, como as toxinas naturais, conforme caracterizado no item 3.1 dos Procedimentos Gerais.
COMPROVAÇÃO METROLÓGICA
7
I NTRODUÇÃO
C OMPROVAÇÃO
M ETROLÓGICA
PARÂMETROS DE CONTROLE
Para determinar quais são os equipamentos que devem ser submetidos à confirmação metrológica,
é importante identificar quais são os pontos críticos de controle do processo e qual será o crité-
rio utilizado na determinação dos pontos críticos e respectivos parâmetros de controle. Isso é
vital para se obter a melhor relação custo/benefício possível, visto que a confirmação metrológica
implica investimento de capital diretamente proporcional ao número de equipamentos sujeitos à
calibração.
O critério para a escolha dos pontos e parâmetros críticos deve levar em conta os aspectos de
qualidade, preservação do meio ambiente, segurança e custos de produção. Os parâmetros esco-
lhidos devem ser aqueles que controlam e garantem especificações de processo e produto, que
controlam efeitos ambientais, garantem atendimento a códigos e legislações, garantem a segu-
rança das instalações, garantem a manutenção dos custos de produção dentro dos limites pres-
critos e os que contribuem para a obtenção de objetivos e metas estabelecidas.
Um aspecto que deve ser levado em conta: os parâmetros escolhidos como críticos não devem ser
impactados pelos parâmetros de outros pontos considerados não críticos (em uma malha de
controle, por exemplo).
D EFINIÇÕES
a) Metrologia: é a ciência das medições.
f) Incerteza da medição: é o resultado de uma avaliação que tem por finalidade caracterizar a
faixa dentro da qual se espera que o valor real de uma grandeza medida se encontre, geralmente,
com uma dada probabilidade.
COMPROVAÇÃO METROLÓGICA
g) Exatidão: é a proximidade entre a média de uma série de medidas e o verdadeiro valor dessa
medida (ou valor alvo de referência). A falta de exatidão de um aparelho é originada pelo
erro sistemático, sendo prontamente corrigido através do ajuste do aparelho. O instrumento
é considerado exato se a diferença descrita for menor que a tolerância ou o erro tolerado na
medição.
j) Erro absoluto de medição: é o resultado de uma medição, menos o valor real da grandeza
medida.
l) Rastreabilidade: propriedade do resultado de uma medição pela qual essa pode ser relacionada
com os padrões de medição apropriados, geralmente internacionais ou nacionais, através de
uma cadeia ininterrupta de comparações.
Devem descrever o processo utilizado para calibração, incluindo método de seleção e identifica-
ção dos equipamentos, localização, freqüência de calibração; método de calibração; critério de
aceitação; ação a ser tomada quando o equipamento for encontrado fora dos critérios de aceita-
ção da calibração; método de identificação da situação de calibração; condições ambientais para
a calibração; critérios para garantir o manuseio, preservação e armazenamento dos equipamen-
tos; descrição dos registros de calibração; definição da rastreabilidade aos padrões reconhecidos
nacional ou internacionalmente; descrição dos selos e lacres para evitar intervenções que pos-
sam invalidar a calibração executada; definir os critérios para seleção e avaliação de subcontratados
para execução de serviços de confirmação metrológica; definir a qualificação e treinamentos
requeridos para o pessoal que executa atividades de confirmação metrológica e definir autorida-
des e responsabilidades por cada atividade de confirmação metrológica.
a) o tipo do equipamento;
b) recomendações do fabricante;
k) conseqüências de um valor medido incorretamente ser aceito como correto devido a defeito
do equipamento;
m) intervalos de comprovação.
COMPROVAÇÃO METROLÓGICA
Dois critérios básicos e opostos precisam ser levados em conta e devem estar em equilíbrio
quando da decisão sobre os intervalos de comprovação:
Observação: as freqüências mencionadas são apenas orientativas e não devem ser tomadas como
padrão ou obrigação.
O INMETRO credencia esses organismos que passam a pertencer à Rede Brasileira de Calibração -
RBC - e esse credenciamento habilita o organismo a executar comprovações de acordo com o
escopo mencionado em seu certificado de credenciamento.
Organismos não credenciados podem executar comprovações. O cuidado que se deve ter é avaliar
previamente esse organismo para garantir se as comprovações serão executadas por pessoal
qualificado, seguindo procedimentos reconhecidos, em ambiente controlado e com padrões vá-
lidos e rastreáveis a padrões nacionais e/ou internacionais.
O INMETRO possui uma lista com todos os organismos credenciados e seus respectivos escopos
de credenciamento.
Q UALIFICAÇÃO DE PESSOAL
O pessoal que executa ou controla as comprovações metrológicas deve possuir qualificação espe-
cífica em metrologia/comprovação metrológica e nos equipamentos nos quais executará ou con-
trolará a comprovação. Conhecimentos de técnicas estatísticas também são recomendáveis.
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Este material foi elaborado tomando por base o Guia do Empresário para o Sistema APPCC – Indústria