60 )LORVRȴD
6º $XOD
$QWURSRORJLDȴORVµȴFD
Nesta aula, estudaremos sobre a Antropologia Filosófica,
um tema muito discutido no âmbito filosófico. Não podemos
estudar a razão sem conhecer o ser humano...
Nós educadores, devemos alcançar objetivos que
favoreçam o ser humano, uma fonte inesgotável de
conhecimentos, sentimentos e, sobretudo um ser que sabe
aonde quer chegar... Caberá a nós educadores, mostrar,
indicar a trilha mais segura, mais atraente...
Nesta aula desejo que você encontre uma âncora, um
porto seguro, e qualquer dúvida favor envia-me... Vamos a
mais uma aula...
Boa aula!
2EMHWLYRVGHaprendizagem
Ao término desta aula, o aluno será capaz de:
VHUGRWDGRGHHVStULWRFUtWLFRHUHVSRQVDELOLGDGHTXHOKHSHUPLWDXPDDWXDomRSURILVVLRQDOFRQVFLHQWHGLULJLGDSDUDD
melhoria da qualidade de vida da população humana;
IRUPDUXPUDFLRFtQLRGLQkPLFRUiSLGRHSUHFLVRQDVROXomRGHSUREOHPDVGHQWURGHFDGDXPDGHVXDVKDELOLWDo}HV
específicas;
RULHQWDUDSRSXODomRQDLGHQWLILFDomRGHUHFXUVRVSDUDDWHQGLPHQWRHGHIHVDGHVHXVGLUHLWRVSDUDDVRFLHGDGHFRPRXPWRGR
59 61
particularmente bem adequado, já que foi deixado de lado
6H©·HVGHestudo pelos outros ramos das ciências do homem.
3) Finalmente, e aqui temos um terceiro caminho, que
inclusive não exclui o anterior (pelo menos enquanto campo de
1 - Antropologia Filosófica
estudo), ele afirma a especialidade de sua prática, não mais através
2 - Razão Humana
de um objeto empírico constituído (o selvagem, o camponês),
1$QWURSRORJLDȴORVµȴFD mas através de uma abordagem epistemológica constituinte.
Estudar Antropologia no Curso de Pedagogia é uma
Ao iniciarmos este nosso estudo, começo definindo o que necessidade do educador moderno, pois temos que ter a
vem a ser Antropologia: preocupação com o ser humano como um todo, todas as
crianças, todos os jovens, todos os adultos têm uma origem,
&21&(,72 têm um significado. Com isso temos que saber lidar com todas
A Antropologia é o estudo as manifestações culturais, sociais, econômicas e étnicas...
do ser humano. Esse estudo É com essa preocupação que começo a esboçar a
é profundo, busca a origem, a necessidade da Antropologia Filosófica. É um estudo delicado
essência do ser humano, como, e ao mesmo tempo necessário... Falar de Antropologia
onde e por que surgiu, analisa Filosófica é falar do homem como ser racional (sapiens sapiens).
as características fundamentais: Não tenho a pretensão de formar antropólogos, mas
crânio, estatura, alimentação, acadêmicos capazes de entender todo processo humano...
grupo... Na antropologia, estuda- Continuando com o pensamento de (Laplantine, 2003),
se a natureza do ser humano. podemos dizer que o estudo da Antropologia Filosófica, nos
A Ciência antropológica leva a enxergar mais de perto a totalidade, dando-se como
surgiu do despertar do ser ΖPDJHPH[WUD¯GDHPLQWHOHFWRYDUJDV objetivo compreender os múltiplos aspectos do ser humano.
humano, sobre sua origem, blogspot.com> Acesso em: 28/07/2010 Com os estudos antropológicos voltados para a filosofia,
uma curiosidade espetacular, pois conhecendo nossas origens, podemos chegar à compreensão mais sensata sobre o que é
podemos conhecer a origem da humanidade, os problemas e o ser humano, como e por que surgiu e qual seu fim último...
desafios enfrentados por eles (antepassados) que ajudarão a Segundo Rabuske (1995), a Antropologia Filosófica tem
nós no presente, sempre com o olhar para o futuro... a tarefa de responder a pergunta: o que é o homem?
A antropologia segue uma linha de raciocínio, utilizar A tarefa que hoje se impõe ineludivelmente ao homem
de todos os mecanismos para aprimorar constantemente a é, em não pequena parte, teórica: compreender e expressar o
descoberta cada vez mais atualizada. Temos na Antropologia, que ele é, o que ele pode e deve ser. A filosofia tem aqui uma
diversas subáreas ou áreas, como podemos destacar: posição central, pois a pergunta pela essência lhe pertence
Antropologia Biológica, Antropologia Cultural, Antropologia primordialmente. Mas, a resposta não pode ser descoberta por
Psicológica, Antropologia Filosóficas (dentre outras...). pura reflexão. Também se requer a participação, dum lado,
Desde que Charles Darwin publicou em 1859 sua obra “A daquelas formas do saber que, embora vinculada a aspectos
Origem das Espécies” neste aspecto Darwin, demonstra que o ser parciais e a um determinado método, são nutridas de experiência
humano surgiu através das transformações evolutivas, ou seja, e objetividade demonstráveis – é o conhecimento científico.
o ser humano evoluiu através das mudanças ou mutações. Um Doutro lado, não se pode excluir a participação da linguagem do
fato que muitos conhecem é o de que o ser humano surgiu dos símbolo, não objetivável cientificamente, da tradição religiosa,
macacos, mais diretamente dos chimpanzés, que para chegar no sentido mais amplo do termo. Isto dá, do ponto de vista
ao ser humano, passou por várias transformações (clima, metodológico, ao nosso empreendimento certa ambiguidade,
alimentação, vivência em grupos...). inevitável a partir do assunto mesmo. (RABUSKE, 1995)
Deixou aqui uma diferenciação entre Antropologia e Continuemos com a indagação: O que é o homem?
Sociologia: Antropologia estuda a origem do ser humano. A Segundo Lima Vaz (1991) 26, no campo filosófico, a
Sociologia estuda a origem da sociedade onde o ser humano está interrogação sobre o homem torna-se o tema dominante
inserido... Gosto dessa diferenciação, pois alguns confundem na época da Sofística antiga (séc. V a.C.) e, a partir de então,
essas duas ciências, principalmente no dia de prova... acompanha todo o desenvolvimento histórico da Filosofia
Voltando à disciplina, podemos questionar sobre a ocidental, até encontrar expressão clássica nas célebres
Antropologia e o papel do antropólogo, cuja necessidade e questões Kantianas:
importância se detém em três tópicos essenciais, para análise
e discussão, como salienta (LAPLANTINE, 2003, p. 15) 25: Ⱥ2TXHSRVVRVDEHU" WHRULDGRFRQKHFLPHQWR
Ⱥ2TXHGHYRID]HU" WHRULDGRDJLUpWLFR
1) O antropólogo aceita, por assim dizer, sua morte, e Ⱥ2TXHPHpSHUPLWLGRHVSHUDU" ILORVRILDGDUHOLJLmR
volta para o âmbito das outras ciências humanas. Ele resolve Ⱥ2TXHpRKRPHP" $QWURSRORJLD)LORVyILFD
a questão da autonomia problemática de sua disciplina
reencontrando, especialmente a sociologia, e notadamente o Podemos então dizer que a Antropologia Filosófica é
que é chamado de “sociologia comparada”. uma disciplina ou movimento filosófico preocupado com o ser
2) Ele sai em busca de uma outra área de investigação: o humano, e com isso com todo o seu potencial. Na Pedagogia,
camponês, este selvagem de dentro, objeto ideal de seu estado, estudar o ser humano é muito importante, principalmente no
62 )LORVRȴD 60
que diz respeito ao conhecimento, aprendizagem e saber, temos colaboram percepções sensoriais. Recolhemos impressões
que estudar muito bem e nos dedicarmos para que as pessoas sensíveis. Com isso o mundo exterior não apenas age sobre
que vêm até nós, possam “sugar” o máximo de nós, para que eles nós, mas penetra na luz da consciência. Vemos algo como, por
possam “dar” o melhor deles, para aqueles que mais necessitam. exemplo, o quadro-negro, e sabemos que o vemos. No homem
Neste parágrafo, analisaremos isso. A antropologia 27 o conhecimento sensível sempre é atravessado, assumido
encarada metafisicamente é antes aquela parte da filosofia e elaborado pelo conhecimento intelectivo, que perfaz o
que investiga a estrutura essencial do homem. Contudo, conhecimento propriamente humano.
este ocupa o centro da especulação filosófica, na medida
em que tudo se deduz a partir dele, na medida em que ele 2.1 - Conceituação de conhecimento
torna acessíveis as realidades, que o transcendem, nos modos
Conhecer é um ato de identidade do conhecedor como tal
de seu existir relacionados com essas realidades. Ou seja, a
e do conhecido como tal. Conhecer é um agir, que precisa dum
antropologia filosófica é uma antropologia da essência e não
outro, dum objeto. Sujeito e objeto do agir são correlativos. O
das características humanas. Ela se distingue da antropologia
específico do conhecer reside nisto: o sujeito e o objeto estão
mítica, poética, teológica e científico natural ou evolucionista
no mesmo ato, se identificam no ato. Isso exprimimos dizendo:
por dar uma interpretação basicamente ontológica do homem.
o conhecedor como tal, e o conhecido como tal se identificam.
Estudo das estruturas fundamentais do homem. Converte-
Mas essa identidade, posta no ato, pressupõe a diferença do
se numa ontologia, na medida em que nos conduz à questão do
conhecedor em si e do conhecido em si.
significado do “Ser”. O homem torna-se para si mesmo o tema
Quando conheço, torno-me
de toda a especulação filosófica: interessa estudar o homem e
idêntico com o outro, não fisicamente,
estudar tudo o mais apenas em relação a ele.
mas intencionalmente. Em outros
O que é mais significativo é o conhecimento do homem,
termos: estou totalmente junto do
e não o de nós próprios enquanto individualidade. Estuda,
outro, a distância se anula. O mero
também, o caráter biopsicológico do homem, verifica o que o
ser-atingido dos órgãos por estímulos
homem faz com suas disposições bioquímicas dentro de seu
ainda não é conhecer. Posso estar
ambiente biológico que possa diferenciá-lo de outros animais.
de olhos abertos diante duma coisa
Mostrar exatamente como a estrutura fundamental do
e, contudo, não ver nada, porque
ser humano, estendida na forma pela qual a descrevemos
mentalmente “estou em outra parte”.
brevemente (espírito; homem), “explica todos os monopólios,
Conhecer também é julgar, ΖPDJHPH[WUD¯GDHPZZZ
todas as funções e obras específicas do homem: linguagem, esferamaster.com.br/
formar juízos. Não falamos apenas raciocinio.htm>. Acesso em:
consciência moral, as ferramentas, as armas, as ideias de justiça e
em palavras isoladas, não pensamos 28/07/2010.
de injustiça, o Estado, a administração, as funções representativas
em conceitos isolados, mas unimos as palavras numa frase que
das artes, o mito, a religião e a ciência, a historicidade e a
exprime um juízo. Por exemplo, isto é uma mesa.
sociabilidade, a fim de ver se há algo nessas atividades, bem
Juízo é mais que ligação de conceitos. Também “mesa
como em seus resultados, que seja especificamente humano.
verde” é uma ligação de conceitos. O essencial do juízo consiste
nisto, que o todo da proposição é afirmado, referido à realidade:
9DPRV FRQKHFHU XP SRXFR PDLV VREUH D $QWURSRORJLD )LORVµȴFD Pedro “é” um bom amigo. No dizer “é” o conhecimento tem
(VWXGDUHPRVDVHJXLUDFRQVWUX©¥RGD5D]¥R+XPDQD uma enorme pretensão: dizer a verdade, atingir a realidade com
uma validade incondicional. Se conheço aquilo que é, então sei
O texto a seguir foi extraído do livro de Rabuske (1995) 28
que é assim apenas “para mim”, mas que é assim “em si” e que
Não é minha intenção dificultar o entendimento da Antropologia
nesta validade absoluta do seu ser se afirma perante todos os
Filosófica, mas sim ajudar a entender que o essencial do
outros seres.
ser humano está nele mesmo, basta cada um desenvolver o
Além do conceito e do juízo, o conhecimento também se
conhecimento e consequentemente aprimorar a busca pelas
realiza no raciocínio. A partir de ideias e juízos conquistados
respostas que fazemos diariamente, sobre nós mesmos.
avançamos para outros conhecimentos – “dis-corremos”,
Na Educação, não fugimos dessa realidade, devemos
deduzimos. O pensar lógico-conclusivo é um conhecimento
conhecer constantemente, para aprimorarmos no outro o
medializado. Não estamos presos ao aqui e agora, mas
saber...
possuímos a liberdade do espírito, transcendemos o sensível
e o limitado.
2 - Razão humana Não se pode afirmar: “Tudo deve ser demonstrado”.
Conhecemos o homem a partir Cada raciocínio supõe noções já conhecidas – as premissas e
dos seus atos. Pelos atos o homem as regras de dedução ou conclusão. Mas, não posso regredir ao
se relaciona com a realidade. Todos infinito: para provar as premissas eu deveria recorrer a outras
os atos humanos e todas as relações premissas, etc. Portanto, deve haver intuições não deduzíveis,
com a realidade estão penetrados pelo evidentes em si mesmas, que não precisam nem podem ser
conhecimento. O conhecimento não é provadas. São intuições primordiais que, mesmo que não
um elemento isolado, ao lado de outros expressamente conscientes, comandam todo pensar. É um
atos, mas participa de toda a conduta ΖPDJHPH[WUD¯GDHP saber primordial do ser e de suas leis. Claro, numa Filosofia,
<www.padremachado.
humana. edu.br> Acesso em: que quer ser uma ciência crítico-metodologica, essas intuições
No nosso conhecimento, 28/07/2010.
devem ser criticamente refletidas e metodicamente relevadas.
61 63
2.2 - Interdição e transgressão conhecimento, a intuição e os conceitos; de tal modo, que
não existe conhecimento por conceitos sem a correspondente
O homem é o ser que produz interdições. A vida social, intuição ou por intuições sem conceitos. Ambos são puros ou
com as suas normas e as suas hierarquizações, as suas instituições empíricos: empíricos se neles se contém uma sensação (que
e os seus sistemas simbólicos, exige necessariamente uma rede supõe a presença real do objeto); puro, se na representação
de interdições que assinalam os lugares de ruptura entre o não se mescla sensação alguma. Pode chamar-se à sensação, a
homem e o animal. matéria do conhecimento sensível.
Mas o que define o homem é a transgressão. Não quer A intuição pura, portanto, contém unicamente a forma
isso dizer que se pretenda um regresso à natureza, mas sim pela qual é percebida alguma coisa, e o conceito puro a forma
um tipo de transgressão que não suprima as interdições, mas do pensamento de um objeto em geral. Somente as intuições
as mantenha transgredidas. Existe, assim, “uma cumplicidade e conceitos puros são possíveis “a priori”; os empíricos só o
profunda da lei e de sua violação”. (A transgressão é o rasgar são “a posteriori”.
das normas, é a subversão de uma ordem). Existem inúmeras Se denominamos de sensibilidade à capacidade que tem
formas de existência inautêntica, que são aquelas que nos nosso espírito de receber representações (receptividade),
indicam as diversas figuras da alienação. A existência autêntica é quando é de qualquer modo afetado, pelo contrário, chamar-
a que se lança na exploração do possível rumo ao impossível que se-á entendimento à faculdade que temos de produzir
lhe acena e a obceca, lugar absoluto da ação, limiar da loucura. nós mesmos representações ou a espontaneidade do
A existência inautêntica pode subordinar-se à Lei, conhecimento.
retificá-la nas formas instituídas da alienação, projetá-la nos Pela índole da nossa natureza a intuição não pode ser
instrumentos opressivos do capitalismo: teremos o universo senão sensível, de tal sorte, que só contém a maneira de
modelar do catecismo e da “moralina”, das boas ações e como somos afetados pelos objetos. O entendimento,
dos bons sentimentos, dos discursos de inauguração e dos pelo contrário, é a faculdade de pensar o objeto da intuição
artigos de fundo, do adocicado e viscoso da palavra virtuosa, sensível. Nenhuma dessas propriedades é preferível à outra.
da mediocridade resignada e quase feliz no seu destino dócil, Sem sensibilidade, não nos seriam dados os objetos, e sem
dos mitos da autoridade e da identidade, do comportamento o entendimento, nenhum seria pensado. Pensamentos sem
íntegro que não oferece dúvidas. conteúdo são vazios, intuições sem certos conceitos, são cegas.
[...] Devemos distinguir entre a transgressão autêntica e Assim, é necessário tornar sensíveis os conceitos (quer
a pseudotransgressão a que a nossa civilização repressiva nos dizer, fornecer-lhes o objeto dado na intuição), bem como
habituou. Como nota Sollers, “uma tal libertação é apenas a tornar inteligíveis as intuições (submetendo-as a conceitos).
máscara de uma repressão redobrada”. As pseudotransgressões Essas duas faculdades ou capacidades não podem trocar
são brechas abertas na muralha da moral que apenas servem de funções. O entendimento não pode perceber e os sentidos
para consolidar a resistência dessa muralha. É por isso que não podem pensar coisa alguma. Somente quando se unem,
certas atitudes “escandalosas” são toleradas, e até mesmo resulta o conhecimento.
cultivadas, porque elas constituem a face demoníaca que O entendimento foi definido, antes, de uma maneira
estabelece, numa sutil contabilidade, o equilíbrio da repressão puramente negativa: uma faculdade de conhecer não
social. Determinados meios, determinadas camadas (a sensível. Pois bem; como não podemos ter nenhuma
juventude como momento de purificação que antecede a intuição independente da sensibilidade, não é, portanto, o
austeridade de uma vida), determinadas ruas, determinadas entendimento uma faculdade intuitiva. Mas fora da intuição,
formas de clandestinidade, são apenas álibis por meio dos quais não há outra maneira de conhecer senão por conceitos. É, por
a sociedade obtém a dosagem exata da sua moral. conseguinte, o conhecimento do entendimento, pelo menos o
do homem, um conhecimento por conceitos, quer dizer, não
2.3 - A estrutura do homem intuitivo, mas discursivo.
Tentaremos explicitar mais detalhadamente as conclusões Todas as intuições enquanto sensíveis apoiam-se
a que chegamos até aqui. Como se dá o entrelaçamento de nas afeições, mas os conceitos supõem funções. Entendo
responsabilidade, liberdade e necessidade? por função a unidade de ação para ordenar diferentes
É preciso examinar a estrutura do homem, e para tal representações sob uma comum a todas elas. Fundam-se,
usaremos o esquema utilizado pelo filósofo Van Riet como pois, os conceitos na espontaneidade do pensamento, do
ponto de partida para sua teoria do conhecimento. Embora mesmo modo que as intuições sensíveis na receptividade das
originalmente o ponto de referência para o filósofo tenha sido o impressões. O entendimento não pode fazer destes conceitos
homem enquanto sujeito que conhece, vamos fazer a adaptação outro uso senão julgar por seu intermédio.
à questão da liberdade, isto é, o homem enquanto ser livre. O pensamento é o conhecimento por conceitos. Mas os
Para Kant (2008)30, nosso conhecimento emana de duas conceitos se relacionam como predicados de juízos possíveis
fontes principais do espírito: a primeira consiste na capacidade com uma representação qualquer de um objeto ainda
de receber as representações (a receptividade das impressões), e indeterminado. Assim, o conceito de corpo significa algo, por
a segunda, na faculdade de conhecer um objeto por meio dessas exemplo, um metal que pode ser conhecido mediante aquele
representações (a espontaneidade dos conceitos). Pela primeira conceito. É, pois, somente, conceito conquanto diante as
nos é dado um objeto, pela segunda é pensado em relação a essa quais pode referir-se a objetos. É, pois, o predicado de um
representação (como pura determinação do espírito). juízo possível, por exemplo, deste: todo metal é um corpo. As
Constituem, pois, os elementos de todo nosso funções do entendimento podem ser achadas se se expõem
64 )LORVRȴD 62
com certeza as funções de unidade no juízo. A seção que
segue mostrará que isso pode ser feito perfeitamente.
1RW«UPLQRGHVWDDXODYDPRVID]HUXPUHWURVSHFWRGR
Pensar e conhecer um objeto não é a mesma coisa. Ao
TXHYLPRV
conhecimento pertencem duas partes: primeiramente, o
conceito pelo qual em geral se pensa um objeto (a categoria);
e, depois, a intuição pela qual ele é dado; porque não pudesse 1$QWURSRORJLD)LORVyILFD
dar-se ao conceito uma intuição correspondente, o conceito
Aqui estudamos a importância de conhecer a origem do
seria um pensamento quanto à forma, mas sem objeto algum,
ser humano, e mais particular sua origem como ser pensante.
e nenhum conhecimento seria possível mediante ele, pois não
Devemos conhecer toda a estrutura do ser humano, ou seja,
teria nem haveria coisa alguma, que eu saiba a que pudesse
primeiramente o eu e depois o outro. Com isso nos tornamos
aplicar-se meu pensamento.
equilibrados e virtuosos nesta busca constante da verdade.
Com isso podemos dizer que a filosofia traz ao homem
Estudar Antropologia Filosófica é estar pronto para uma
o desejo do conhecimento de si próprio, faz refletir sobre
análise mais profunda do próprio eu.
a sua posição no universo, sempre buscando a verdade e
almejando uma utopia, está disponível para todos, mas poucos 25D]mR+XPDQD
a usufruem, como é definido entre o sábio e as massas.
Se o homem começasse a pensar filosoficamente, teria Vimos neste tema uma contribuição para o nosso
que mudar toda a sua vida radicalmente, pois seus conceitos conhecimento. Essa contribuição é a necessidade de sabermos
mudariam. Entretanto, o medo do novo, do desconhecido e como, por quê e para quê, utilizar da filosofia para um encontro
o comodismo da vida, acostumados aos problemas sociais do entendimento do ser humano. Vimos vários conceitos
e econômicos do dia a dia, não o fazem buscar a filosofia, importantes e com isso precisamos nos adaptarmos para a
vivendo assim em uma antifilosofia. estrutura da razão e da reflexão.
Entretanto, a antifilosofia também é um tipo de filosofia.
Se o homem em busca da sua verdade adota a filosofia, passará */266É5,2
a interrogar sempre sobre tudo em seu universo, prevendo
assim tendências nesse mesmo universo, criando uma fusão ,QWXLomR: é o nome dado ao processo de apreensão
entre a verdade atual e a revelação de seu futuro. racional não discursiva de um fenômeno ou de uma relação.
É conveniente para o homem moderno afastar-se Se a razão discursiva se caracteriza por um processo paulatino
da filosofia, pois, em meio de uma falsa democracia a qual que culmina numa conclusão, a intuição é compreensão
vivemos, além de corrupta, tem seu domínio nas mãos de direta, imediata de algo.
poucos que determinam a linha de vida política, econômica $OLHQDomR: estado patológico de indivíduo que
e social de muitos, objetivando só e exclusivamente o poder, se tornou alheio a si mesmo; nesse estado a pessoa não é
ficando cegos para o que realmente acontece em seu meio. responsável plenamente por seus atos; aquele que se encontra
Assim, cria-se uma tranquilidade infinita, do pressuposto em estado de alienação; louco.
de que o seu amanhã será igual ao seu hoje, só com visões de
melhoria socioeconômicas, não vendo que a nossa verdade
hodierna tende a uma consequente extinção de toda a vida
terrena, já que fingindo não ver, seguidas construções de 9DOHDpena DVVLVWLU
máquinas para aniquilações, bombas, conflitos, poluições,
armas e doenças químicas, terrorismo com atos cada dia 'HU]X 8]DOD; 1975 – Japão/URSS – A amizade
mais hediondos, manipulação da radioatividade, violência e inabalável de dois homens aparentemente diferentes entre
mortes nas cidades e estradas mundiais, alterações na natureza, si, um humilde caçador e um militar que mapeia regiões
modificando irresponsavelmente o meio ambiente e afetando inóspitas da URSS, e os ensinamentos que este absorve sobre
seu ciclo natural e seu equilíbrio, escassez de viveres, violência a natureza através do experiente nativo.
entre os semelhantes, e tudo isso se passa por despercebido
como normal e cotidiano sem a preocupação de onde nos levará. 2 (QLJPD GH .DVSDU +DXVHU. 1975 – Alemanha –
Embora desprezada e vítima de preconceito, a filosofia iria Garoto é criado num porão, longe de qualquer contato com
abrir a mente das civilizações, não se deixando iludir por uma outro ser humano, até completar 18 anos. Sem saber falar,
falsa sensação de confiança e considerar a hipótese de uma andar ou sua própria identidade, ele é levado para a cidade,
inevitável catástrofe letal, que poderá extinguir a vida na terra. onde é objeto de curiosidade e desprezo da população local.
Podemos então concluir dizendo que o homem é capaz
*HUPLQDO– 1993 – Bélgica/França/Itália – Adaptação
de conhecer. Isso ninguém nega. A nossa tese é que o homem
para o cinema de romance homônimo do escritor Francês
é capaz de conhecer no sentido forte do termo, isto é, de
Emile Zola, publicado em 1885. Retrata as condições de
atingir o outro em seu em-si. O ser não permanece fechado
trabalho e vida dos trabalhadores das minas de carvão na
ao conhecimento humano, como julga o agnosticismo e todas
segunda metade do século XIX, bem como a emergência dos
as formas de relativismo e ceticismo.
movimentos, greves e revoltas operárias.
5HWRPDQGRDaula 2VKRZGH7UXPDQ – 1998 - EUA – História que se
63 65
passa numa pequena comunidade racionalizada a partir da
mais avançada tecnologia. Truman tem sua vida exposta a
milhões de telespectadores, tendo sua imagem vinculada à
propaganda de produtos diversos.
2%6 1¥R HVTXH©DP (P FDVR GH G¼YLGDV DFHVVHP DV IHUUDPHQWDV
ȊIµUXPȋRXȊTXDGURGHDYLVRVȋ
0LQKDVDQRWD©·HV