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Pesq. agropec. bras., BrasIlia, v.32, itil, p.I 141-1146, nov. 1997
1142 H.P. DOS SANTOS et ai.
ervilhaca, a coiza e, com menor produção de resteva, As amostragens de solo, para determinação dos níveis
a cultura do linho. de nutrientes e do teor de matéria orgânica, foram realiza-
As restevas de cevada, de trigo e de aveia (bran- das anualmente, sempre após a colheita das culturas de
ca e preta rolada) têm facilitado a semeadura e o inverno. A adubação de manutenção e a correção da aci-
desenvolvimento da soja (Santos & Reis, 1990, 1991; dez basearam-se nos dados da análise de solo da área ex-
perimental.
Santos, 1991; Santos et aI., 1991a, 1991b). Por ou-
Em 1984, a acidez do solo foi corrigida com 3,7 i/ha
tro lado, as restevas de aveia (branca e preta), para•
(PRNT 75%) de calcário. Posteriormente, efetuou-se uma
produção de grãos, ao atingirem 7,4 a 8,2 t/ha de segunda correção, em 1989, com 11,7 1/ha de calcário,
palha, respectivamente, podem dificultar a semea- com PRNT 74%, aplicadas em duas vezes: metade antes
dura e o desenvolvimento dessa leguminosa (Roman, da aração (arado de discos) e a outra metade antecedendo
1990). Além disso, as gramíneas têm relação C/N a gradeação (grade pesada ou grade aradora). A semeadu-
maior do que as leguminosas e decomposição mais ra, o controle de plantas daninhas e o tratamento de se-
lenta em sistema plantio direto, determinando, pro- mente foram realizados de acordo com a recomendação
teção mais prolongada do solo (Monegat, 1991). para a cultura da soja e a colheita foi efetuada com
Existe trabalho de pesquisa mostrando que a soja colhedora especial para parcelas.
sob sistema plantio direto e após culturas de inver- Doze linhas de soja, distanciadas em 0,44 m, constitu-
no com cevada, linho, trigo, aveia branca, para grãos íram as parcelas, de 10 m de comprimento por 6 m de
largura. A população final de plantas foi determinada em
e aveia rolada não foi afetada quanto a rendimento
lO m lineares da parcela. Para a avaliação dos componen-
de grãos, estatura de plantas e altura de inserção dos tes do rendimento, de 1985 a 1993, coletaram-se 20 plan-
primeiros legumes (Santos & Pereira, 1987). Por tas por parcela, ao acaso, pouco antes da colheita. Foram
outro lado, Santos et ai. (1994) registraram menor determinados o número de legumes, o número e o peso de
estatura das plantas e menor altura da inserção dos grãos por planta, a estatura de plantas, a altura da inserção
primeiros legumes, na soja cultivada em sucessão dos primeiros legumes e o peso de 1000 grãos. O rendi-
ao linho. mento de grãos, corrigido para 13% de umidade, foi de-
Este trabalho teve por objetivo verificar o efeito terminado a partir da colheita de toda a parcela.
de culturas de inverno e de rotação de culturas so- O delineamento experimental foi o de blocos ao aca-
bre algumas características agronômicas de sola, em so, com quatro repetições. Foi efetuada a análise de
variáncia das características agronômicas de soja (dentro
sistema plantio direto.
de cada ano e na média conjunta dos anos), de 1984 a
1989 e de 1990 a 1993. Nas Tabelas são mostradas ape-
MATERIAL E MÉTODOS nas as análises conjuntas dos anos. Considerou-se o efei-
to de tratamento (diferentes restevas de inverno) como
O ensaio foi realizado na Cooperativa Agrária Mista fixo e o efeito do ano como aleatório. As médias foram
Entre Rios Ltda., município de Guarapuava, PR, de 1984 comparadas entre si pelo teste de Duncan, a 5% de proba-
a 1993. com Latossolo Bruno Álico (Embrapa, 1984). bilidade.,.
Os tratamentos consistiram em quatro sistemas de ro-
tação de culturas para soja: 1) monocultura soja/cevada, RESULTADOS E DISCUSSÃO
II) rotação soja/milho em sucessão a cevada/ervilhaca, de
1984 a 1989, e rotação soja/soja em sucessão a cevada/ Os resultados médios de algumas características
àveia branca, de 1990 a 1993; III) rotação soja/soja/milho agronômicas de soja foram apresentados de 1984 a
em sucessão a cevada/linho/aveia branca, de 1984 a 1989, 1989, com sete sucessões, e de 1990 a 1993, com
e rotação soja/milho/soja em sucessão a cevadalervilhaca/
oito sucessões após as culturas de inverno.
aveia branca, de 1990 a 1993; e IV) rotação soja/soja/
As varíáveis avaliadas nas plantas de soja, em
milho/soja em sucessão a cevada/linho/ervilhaca/aveia
branca (Tabela 1). As culturas foram estabelecidas em ambos os períodos, foram significativamente influ
plantio direto, exceto em 1989, quando foi aplicado enciadas pelo fator ano, exceto quanto à estatura de
calcário antes de as culturas de inverno serem semeadas. plantas, de 1990 a 1993 (Tabela 2). Isso indica que
As cultivares de soja usadas foram: BR-6, em 1984, em as características estudadas foram afetadas pelas va-
1985 e em 1986; Bragg, em 1987 e em 1989; BR-13, em riações climáticas ou pelas diferentes cultivares de
1988; e IAS 5, de 1990 a 1993. soja empregadas.
Pesq. agmpec. bns., Brasilia, v.32, n.I 1, p.I 141-1146, nov. 1997
EFEITOS DE CULTURAS DE INVERNO E DE SISTEMA DE ROTAÇÃO 1143
TABELA 1. Sistemas de rotação de culturas para soja, com espécies de inverno e de verão, em plantio direto,
em Cuarapuava, PR, 1984 a 1993 1 .
Sistema Ano
de rotação 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993
Sistema 1 C/S CIS CIS C/S CIS C/S CIS CIS CIS CIS
Sistema II C/S FIM CIS FIM CIS FIM CIS A/S CIS AIS
FIM C/S E/M CIS FIM CIS A/S CIS A/S C/S
Sistema 111 C/S L/S E/M C/S L/S FIM C/S E/M AIS C/S
LIS E/M C/S L/S E/M C/S FIM AIS C/S FIM
FIM CIS LIS FIM CIS L/S AIS CIS EIM AIS
Sistema IV C/S LIS AIS FIM C/S LIS FIM AIS CIS L/S
LIS AIS F/M C/S LIS AIS AIS CIS LIS FIM
AIS FIM C/S L/S AIS FIM CIS LIS F/M AIS
FIM C/S L/S AIS FIM C/S LIS AIS AIS CIS
A - aveia branca; C - cevada; E = ervilhaca; L - linho; M - milho; S soja
TABELA 2. Significado do teste F quanto a oito características agronômicas de soja, semeada de 1984 a 1989
e de 1990 a 1993. Guarapuava, PR.
Característica 1984 a 1989 1990 a 1993
agronômica Ano Tipo de Ano x tipos Ano Tipo de Ano x tipos
sucessão de sucessão sucessão de sucessão
Rendimento de grãos (kg/ha) * * ns
Número de legumes por planta * ns ns * ns ns
Número de grãos por planta * * - ns * ns ns
Peso de grãos por planta (g) * ns ns * ns
Peso de 1.000 grãos (g) * ns ns ns
População final de plantas (m 2 ) * ns na ns ns
Estatura de plantas (cm) * * * los * - na
Altura inserção primeiros legumes (cm) * * * * * ns
• - nfvel de significãncia de 5%
ns - não-significativo.
De 1984 a 1989, verificou-se que houve efeitos resultados aqui gerados são semelhantes aos relata-
significativos do tipo de sucessão com relação ao dos por Santos et ai. (1989b, 1991b, 1994), em tra-
rendimento de grãos, ao número de grãos por plan- balhos realizados na região de Passo Fundo, RS.
ta, à estatura de plantas e à altura de inserção dos Na interação ano x tipo de sucessão houve dife-
primeiros legumes (Tabela 2). De 1990 a 1993, ob- renças significaticas quanto ao rendimento de grãos,
servaram-se, também, diferenças significativas do à estatura de plantas e à altura de inserção dos pri-
tipo de sucessão nessas variáveis exceto quanto ao meiros legumes de soja, de 1984 a 1989, e quanto
número de grãos por planta (Tabela 2). Com rela- ao peso de grãos e ao peso de 1.000 grãos, de 1990
ção ao rendimento de grãos, à estatura de plantas e à a 1993 (Tabela 2). Esses resultados estão de acordo
altura de inserção dos primeiros legumes de soja, os com os obtidos por Santos & Reis (1990) e por San-
tos et ai. (1989a, 1989b, 1991b, 1994), nas regiões a soja foi cultivada nas seguintes sucessões: após
de Passo Fundo, RS e Guarapuava, PR. cevada, no sistema 111; após cevada, no sistema II;
De 1984 a 1989 (Tabela 3), os melhores rendi- após aveia branca, nos sistemas 11, III e IV; e após
mentos de grãos manifestaram-se onde a soja foi cevada no sistema IV. Entretanto, as últimas cinco
cultivada nas seguintes sucessões: após cevada, no sucessões foram significativamente semelhantes à
sistema 111; após cevada, no sistema IV; após ceva- de soja em monocultura (sistema 1). O menor rendi-
da, no sistema II; após cevada, no sistema!; e após mento de grãos, a menor estatura das plantas e a
aveia branca, no sistema IV. Todavia, as quatro últi- menor altura da inserção dos primeiros legumes fo-
mas sucessões foram significativamente similares à ram observados na soja após linho, no sistema IV.
de soja após linho, no sistema IV. A soja estabelecida Dados semelhantes foram obtidos por Santos &
após o linho, no sistema IV, e após o linho, no siste- Wobeto (1994), por Santos & Reis (1991) e por San-
ma III; após cevada, no sistema IV, e após cevada, tos et aI. (1994), em Passo Fundo.
no sistema 1, mostrou maior número de grãos por De acordo com Roman (1990), o linho não pro-
planta. Contudo, as três últimas sucessões foram porcionou adequada cobertura de solo (1,2 t/ha de
estatisticamente semelhantes à de soja cultivada após palha), em comparação com aveia branca (7,4 t/ha
cevada, no sistema 11, e aveia branca, no sistema 111. de palha) ou com cevada (2,4 tiha de palha), na re-
A soja cultivada após as sucessões com linho apre- gião de Passo Fundo. No presente experimento, em
sentou valores menores de estatura de plantas, altu- 1993 (Tabela 5), o linho produziu 2,3 tlha de palha;
ra da inserção dos primeiros legumes e rendimento a aveia branca 7,1 t/ha; e a cevada 3,9 t/ha, no siste-
de grãos. Esses resultados estão de acordo com os ma IV. Observou-se que, na maioria dos anos, a soja
obtidos por Santos & Wobeto (1994) e por Santos antecedida pelo linho emergiu mais lentamente, por
et ai. (1994). ter sido semeada a uma profundidade maior do que
De 1990 a 1993 (Tabela 4), os maiores rendi- o necessário. Credita-se a tal comportamento a quan-
mentos de grãos ocorreram nos tratamentos em que tidade relativamente menor de palha de linho, e o
TABELA 3. Efeitos de sucessões de culturas no rendimento de grãos (RG), no número de grãos por planta
(NGP), na estatura de plantas (EP) e na altura de inserção dos primeiros legumes (AL) de soja, de
1984 a 1989. Guarapuava, M'.
Tipode 1W MOI' E? AL
sucessã02 (kg/ha) (cm) (cm)
Sistema 1
Soja após cevada 2.652abc 50,5c 71abc 25a
Sistema 11
Soja após cevada 2.760ab 54,2abc 73a 26a
Sistema III
Soja após cevada 2.789a 53,2bc 72ab 26a
Soja após linho 2.470c 57,5a 64d 21c
Sistema IV
Soja após cevada 2.766ab 57,3ab 72ab 24ab
Soja após aveia branca 2.639abc 53,Obc 67bcd 24ab
Soja após linho 2.5751›c 59,5a 66cd 22bc
Médias 2.664 55,0 69 24
1' tratamentos 2,8 2,8' 3,1' 4,9'
• Médias seguidas da mesma leira,.,. coluna, nio apresentam diferenças significativa,, a5% de probabilidade, pelo teste de Duncan.
Sistema 1: monocultura soja/cevada; sistema II: soja/cevada e milho/ervilhaca; sistema 1H: soja/cevada. milho/ervilhaca e ,oja/linlso; e Sistema
iv: soja/cevada, soja/linho, mitho/ervilhaca e soja/avei, branca. -.
Pesq. agropec. bras.. Brasilia, vi2, n.i 1, p.i 141.1146, nov. 1997
EFEITOS DE CULTURAS DE INVERNO E DE SISTEMA DE ROTAÇÃO 1145
TABELA 4. Efeitos de sucessões de culturas no ren- TABELA S. Quantidade de restevas das espécies de
dimeato de grãos (RG), na estatura de cultivares no sistemas de rotação para
plantas (EP) e aa altura de inserção dos cevada, após inverno de 1993 1 .
primeiros legumes (AL) de soja, de 1990
a 1993. Cuarapuava, PR'. Sistema de Resteva
rotação2 (ilha)
Tipo de RG EP AL
sucessão2 (kg/ha) (cm) (cm) Sistema 1
Cevada 4,7b
Sistema 1
Sistema II
Soja após cevada 3.336b 75a 25a
Cevada 4,1b
Sistema II
Aveia branca 7,6a
Soja após cevada 3.460ab 79a 26a
Sistema III
Soja após aveia branca 3.4I7ab lia 27a
Cevada 3,6bc
Sistema III
Aveia branca 6,3a
Soja após cevada 3.481a iSa 26a
Sistema IV
Soja após aveia branca 3.407ab 75a 26a
Cevada 3,9bc
Sistema IV
Aveia branca 7,ia
Soja após cevada 3.357ab 78a 27a
Linho 2,3c
Soja após aveia branca 3.405ab 76a 26a
Soja após linho 3.098c 67b 22b Média 5,0
F tratamentos 11,7'
Médias 3.370 76 26 1
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, nao apresentam
F tratamentos 6,0' 6,6' 5,3' diferenças significativas a 5% de probabilidade, pelo teste de Duncan.
2
Médias seguidas da mesma letra, na coluna, nlo apresentam Sistema 1: monocultura soja/cevada; Sistema II: soja/cevada e
diferenças significativas, a 5% de probabilidade, pelo leste de soja/aveia branca; Sistema III: soja/cevada, milho/ervilhaca e
Duncan. soja/aveia branca; e Sistema IV: soja/cevada, soja/linho,
Sistema 1: monocultura soja/cevada; Sistema II: soja/cevada milho/ervilhaca e soja/aveia branca.
soja/aveia branca; Sistema llt soja/cevada, milho/ervilhaca e 'Nível de significância de 5%.
soja/aveia branca; e Sistema IV: soja/cevada, soja/linho,
milho/ervilhaca e soja/aveia branca.
fl'livel de significância de 5%.
fato de a semeadora utilizada no experimento ter sido As doenças da soja foram neutralizadas, parcial-
adaptada para o sistema plantio direto, ou seja, sem mente, com a troca de cultivares suscetíveis por cul-
regulagem para o plantio da soja com pouca resteva. tivares resistentes, uma vez que, a cada ano são re-
Nos componentes número de legumes, número comendadas novas cultivares de soja para a Região
de grãos, peso de grãos e peso de 1.000 grãos, não Sul do Brasil.
foram detectados efeitos significativos entre as mé- Os dados indicam que a soja cultivada após aveia
dias conjuntas dos anos. De acordo com Santos branca e cevada, nos sistemas estudados, pode ser
et ai. (1991a), esses componentes da soja não são
incluída, sem prejuízo, nos diferentes sistemas agrí-
influenciados pela resteva das espécies de inverno
colas recomendados para a Região Sul do Brasil
aqui estudadas ou, quando tal se verifica, não é sufi-
(Reunião, 1994). De preferência deve-se utilizar
ciente para alterar o rendimento de grãos (Santos &
Pereira, 1987; Santos et ai., 1989a, 1989b, 1991b; cultivar de soja resistente a doenças como
Santos & Reis, 1990; Santos, 1991). Isso pode ser Phialophera gregata (causador da podridão-parda-
explicado, em parte, porque a cultura de soja tende -da-haste) e Diaportephaseolorum f. sp. meridinalis
a compensar as possíveis falhas que possam ocorrer (causador do cancro-da-haste), acentuadas nos últi-
de um ano para outro, ramificando mais ou aprovei- mos anos na região, principalmente quando a
tando melhor seu florescimento, que se dá em ca- leguminosa for semeada por dois ou mais anos con-
madas. secutivos.
Pesq. agropec. bras., Brasília, v.32, n.l 1, p.l 141'1 146, nov. 1997
1146 H.P. DOS SANTOS et ai.
Pesq. agropec. bras,, Brasília, v.32, n. II, p.I 141-1146, nov. 1997