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A DOUTRINA DA EXISTÊNCIA DE DEUS

1 INTRODUÇÃO
Nossa intenção não é explicar quem é Deus pois há tantas coisas referentes
a Ele que são absolutamente indefiníveis, especialmente quanto a Seu SER.
Ou
seja, Deus é o mistério absoluto do universo, o qual está além das
possibilidades
de ser definido ou explicado. Quando se fala do Ser de Deus, as palavras
humanas
se tornam extremamente limitadas.
NOTA
EXISTÊNCIA é o ato de existir. Mas, a existência não implica
necessariamente
ser. É absolutamente possível existir sem ser. Este caderno de estudos, por
exemplo, existe,
mas pode não ser um caderno de estudos e sim um compêndio. Nós, homem,
podemos
fazer as coisas existirem, mas só Deus faz as coisas serem. A essência é
superior à existência.
Não podemos tratar sobre a doutrina bíblica de Deus sem antes abordar
a existência d’Ele como premissa fundamental das Escrituras Sagradas. Muito
embora a Bíblia não se preocupe em provar a existência de Deus, ao longo de
todas as suas narrativas encontram-se provas incontestáveis da existência de
um
Ser supremo. Da mesma forma, a Bíblia não se propõe a dissecar o Ser de
Deus,
ela O apresenta ao nível da compreensão humana. Por outro lado, Deus não
pode ser aquilatado em Sua plenitude pelo homem, em sua capacidade
limitada.
Portanto, toda a nossa tentativa de querer entender Deus esbarra no fato de
que
“Deus é Espírito”. Contudo, Deus se dá a conhecer.
2 QUEM É DEUS?
Como definirmos Deus? “Deus é espírito, em si e por si infinito em seu ser,
glória, bem-aventurança e perfeição; todo-suficiente, eterno, imutável,
insondável,
onipresente, infinito em poder, sabedoria, santidade, justiça, misericórdia e
clemência, longânimo e cheio de bondade e verdade”. (ANDERS, 2001, p. 40).
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
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2.1 DEUS É AUTOEXISTENTE
2.2 DEUS É ESPÍRITO
2.3 DEUS É TODO-PODEROSO
A expressão “EU SOU O QUE SOU”, de Êxodo 3:14 (“Sou o Deus santo,
existente que se revela”.), é uma das mais simples, completas e profundas
expressões que indicam que Deus é Autoexistente. Deus não depende de
ninguém
para existir. Todas as coisas têm seu começo, menos Deus. Ele não tem
começo
nem fim, não se limita ao tempo ou espaço. Diferente do homem, Deus é um
Ser absolutamente livre, contudo não age arbitrariamente. Ele respeita o
livrearbítrio do homem, embora requeira dele as consequências de seus atos.
A própria Bíblia que diz que “Deus é Espírito” (JOÃO 4:24). Assim sendo,
Deus é diferente dos demais espíritos, pelas seguintes razões:
l Ele é pessoal – inteligente, tem emoções e vontade.
l Ele é invisível – é invisível, porque é espírito. Porém, Deus não está
oculto apenas
ao olho físico, mas também à percepção do espírito humano. Deus é um Ser
desprovido de partes físicas, tais como carne, ossos, sangue. Por isso, Ele
jamais
foi visto ou contemplado a olho nu.
l Ele é vivo e ativo – é o singular Criador do universo, edificador dos
mundos,
defensor dos pobres e libertador dos oprimidos.
Esse atributo de Deus fala de um Ser que retém em Si a capacidade de
tudo fazer. Convém observar que esse atributo divino implica duas conotações:
l A liberdade de fazer tudo que se harmoniza com a Sua natureza. Assim,
não
se pode esperar que Deus realiza algo em contraposição com as próprias leis
criadas por Ele. (Por exemplo, um círculo quadrado, o outono sem inverno
etc.).
l Seu controle sobre tudo o que existe. No entanto, a Bíblia ensina que
isso se
deve ao livre-arbítrio do homem, o qual Deus não pode violar, mediante a lei
da causa e efeito, ou a lei da semeadura (GÁLATAS 6:7-10), mas vai requerer
responsabilidade de cada um pelo seu uso. A verdade é que nem mesmo
Satanás está fora do controle de Deus, visto que ele nada pode fazer sem a
Sua
permissão.
TÓPICO 1 | A DOUTRINA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
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2.4 DEUS PODE SER CONHECIDO PELO HOMEM?
A Bíblia mostra como Deus se faz conhecer através da revelação, por
meios conhecidos do homem. O termo “revelação” significa descerrar ou
remover
o véu. Deus dá a conhecer Seu poder e glória, Sua natureza e caráter, Sua
vontade
e Seu propósito, pois, Ele existe e se compraz (tem prazer) em dar-se e tornar-
se
conhecido.
Revelação é o ato pelo qual Deus comunica aos seres humanos a verdade
concernente a Si próprio, Sua natureza, Suas obras, Sua vontade ou Seus
propósitos. Revelação, é Deus se manifestando.
Deus se revelou de duas formas principais:
a) Revelação geral.
l Criação e natureza: “os céus declaram a glória de Deus; o firmamento
proclama
a obra das suas mãos”. (SALMOS 19:1. cf. ATOS 14:17 e 24; ROMANOS
1:19-20). A natureza declara a glória de Deus. Ela é como um espelho do Deus
Soberano, que nos convida à adoração ao Criador.
l Providência ou manutenção, o sustento, as estações, a chuva, a
frutificação dos
cereais.
O Deus que fez o mundo e tudo o que nele há é o Senhor dos céus e da
terra, e não habita em santuários feitos por mãos humanas. Ele não é
servido por mãos de homens, como se necessitasse de algo, porque Ele
mesmo dá a todos a vida, o fôlego e as demais coisas. De um só fez Ele
todos os povos, para que povoassem toda a terra, tendo determinado
os tempos anteriormente estabelecidos e os lugares exatos em que
deveriam habitar. (ATOS 17:24-26).
l História do mundo: a nação de Israel é o centro da revelação divina na
história,
através da qual Deus abençoou toda a humanidade. “[...] aos judeus foram
confiadas as palavras de Deus”. (ROMANOS 3:2).
l Mas, a revelação geral não é suficiente. Ela é suficiente apenas para
tornar os
homens inescusáveis e não para trazê-los ao conhecimento pessoal de Deus.
b) Revelação especial.
l A Bíblia é o registro da revelação especial de Deus. As Sagradas
Escrituras
são inspiradas, infalíveis e inerrantes; é Deus revelando-Se a Si mesmo. Elas
testificam da existência de Deus e tudo o que Ele fez e fará.
l A Igreja, Corpo místico de Cristo, onde Deus é revelado, à medida que
dela
se utiliza, para revelar-se ao mundo: “Esse mistério não foi dado a conhecer
aos homens doutras gerações, mas agora foi revelado pelo Espírito aos santos
apóstolos e profetas de Deus”. (EFÉSIOS 3:5).
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
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l Jesus Cristo, a revelação máxima de Deus: “O Filho é o resplendor da
glória
de Deus e a expressão exata do seu ser, sustentando todas as coisas por sua
palavra poderosa. Depois de ter realizado a purificação dos pecados, Ele se
assentou à direita da Majestade nas alturas”. (HEBREUS 1:3).
O teólogo inglês J.I. Packer (2005, p. 19) disse: “Despreze o estudo de Deus
e você estará sentenciando a si mesmo a passar a vida aos tropeções, como
um
cego, como se não tivesse nenhum senso de direção e não entendesse aquilo
que
o rodeia. Deste modo, poderá desperdiçar sua vida e perder a alma”.
3 CONHECENDO OS ARGUMENTOS ACERCA DA
EXISTÊNCIA DE DEUS
Deus existe! Ele é pessoal e inteligente. As Escrituras falam d’Ele, Sua
natureza e caráter, como alguém que o homem pode conhecer e manter um
estreito relacionamento. A existência de Deus é real, este é o testemunho das
Escrituras. Além das evidências bíblicas, existem outras, normalmente
utilizadas
com argumentos a favor da existência de Deus. Os mais conhecidos serão
apresentados a seguir.
3.1 ARGUMENTO ONTOLÓGICO
Este argumento enfatiza que o homem tem imanência em si, a ideia de
um ser absolutamente perfeito, deve existir, e esse Ser é Deus. O gestor deste
argumento foi Anselmo, teólogo italiano (1033-1109), pensador excepcional,
considerado pai da Escolástica.
A existência de um Ser infinitamente grande, causa pessoal, Criador e
legislador, tem sido provada. A este Ser devemos atribuir a infinita perfeição,
porquanto a base do argumento ontológico se assenta nessa ideia:
“Revestindo-O
de toda a perfeição que a mente humana pode conceber e esta na ilimitada
plenitude, temos aquele que, com justiça, chamamos de Deus”. (STRONG,
2003,
p. 152).
3.2 ARGUMENTO COSMOLÓGICO
O termo “cosmos”, do grego, quer dizer “universo”. Este argumento leva
em conta o pressuposto básico da perfeição do funcionamento do Universo,
onde
Deus é a causa última de tudo. A precisão no Universo prova a existência de
Deus.
TÓPICO 1 | A DOUTRINA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
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3.3 ARGUMENTO TELEOLÓGICO
3.4 ARGUMENTO ANTROPOLÓGICO
O termo grego téleios significa “causa final”. Este argumento tem como
pressuposto básico a ordem e a finalidade com que todas as coisas funcionam
no
Universo, onde somente um Deus, infinitamente sábio, poderia criar um
universo
com um sistema tão perfeito de relações entre meios e fins.
Do grego, Antropos significa homem. Este argumento afirma que a
constituição física, mental e espiritual do homem consiste numa forte evidência
de um Deus que produziu um ser tão especial como o homem.
NOTA
Leia o livro O DELÍRIO DE DAWKINS, de Alister e Joana McGrath. O livro é
uma
resposta ao fundamentalismo ateísta de Richard Dawkins, autor de Deus, um
delírio. Os
autores discutem os propostos de Dawkins, trazendo à tona questões
fundamentais dos
tempos pós-modernos – fé, coexistência de religião e ciência, liberdade de
crença, sentido
da vida e busca de significado.
4 CONHECENDO AS TEORIAS DE NEGAÇÃO DA EXISTÊNCIA
DE DEUS
Quando abrimos a Bíblia no primeiro capítulo e no primeiro versículos,
deparamo-nos logo com uma inequívoca declaração da existência de Deus:
“No
princípio Deus [...]” (Gênesis 1:1). Todavia, os homens insistem em apresentar
algumas formas humanas de negação da existência de Deus, que serão
apresentadas a seguir.
4.1 ATEÍSMO
De modo geral, os ateus se destacam em dois tipos: o ateu prático e o ateu
teórico. O ateu prático é aquele que vive como se Deus não existisse. O Salmo
10, versículo 4, descreve este tipo de ateu: “Em sua presunção o ímpio não o
busca; não há lugar para Deus em nenhum de seus planos”. Já o ateu teórico
procura provar que Deus não existe, por meios de argumentos. É uma classe
mais
intelectual. Mas, os teólogos distinguem o ateu teórico em três classes:
l O ateu dogmático, que de início nega que haja um Ser divino.
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
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4.3 EVOLUÇÃO
Essa teoria foi formulada por Charles Darwin, que procura desacreditar
a Deus como Criador imediato de tudo que existe no universo, ao defender um
desenvolvimento (evolução orgânica) meramente biológico dos seres.
4.2 AGNOSTICISMO
A palavra “agnosticismo” vem de dois termos gregos a (sem) gnosis
(conhecimento), que significa “não saber”. Os agnósticos partem do seguinte
pressuposto: “acreditar somente no que vê”. Afirmam que o homem é capaz de
saber se Deus existe ou não.
l O ateu cético, que duvida da capacidade da mente humana admitir se há
Deus
ou não.
l O ateu capcioso, que sustenta não haver prova válida da existência de
Deus.
4.4 MATERIALISMO
4.5 POLITEÍSMO
4.6 PANTEÍSMO
4.7 DEÍSMO
O materialismo descarta a existência de Deus, ao declarar que a única
realidade é a matéria.
Esta corrente, ou sistema religioso, ensina a adoração a vários deuses. É
uma distorção do monoteísmo – adoração centrada no Deus único e
verdadeiro.
Ensina que, no Universo, Deus é tudo e tudo é Deus. Crê que Deus e o
universo são essencialmente a mesma coisa. Essa teoria confunde o Criador
com
a criação, ao afirmar que Deus não é só parte do Universo criado, mas Ele é o
próprio Universo.
O deísmo até afirma que Deus existe, mas rejeita, por completo, a
possibilidade de Deus Se revelar aos homens. Para essa corrente filosófica,
Deus é
desprovido de atributos morais e intelectuais; é uma religião baseada
unicamente
no raciocínio humano.
TÓPICO 1 | A DOUTRINA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
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4.8 POSITIVISMO
O filósofo Augusto Comte, pai do positivismo, estabeleceu como critério
único da verdade os fatos e suas relações.
4.9 MONISMO
Esta doutrina ensina que o homem é um ser portador de uma única
natureza – a matéria. Ela não faz distinção entre Deus e a Criação.
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
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LEITURA COMPLEMENTAR
COMO UM CÉTICO PODE BUSCAR A DEUS?
Se por alguma razão você já decidiu que não quer crer em Deus, então
deve buscar evidências que sustentem sua decisão. Decidir não crer em Deus
é
como decidir com antecedência não ter câncer e depois negar todas as
evidências
que indiquem a presença da doença. Todavia, o que você pensa sobre ter ou
não
ter câncer é irrelevante. O que importa é se você tem ou não a doença.
Portanto,
o único modo de agir seguro é observar todas as evidências e ter disposição
para
mudar a decisão inicial quando perceber que as provas são convincentes.
Se tudo fosse apenas uma questão de curiosidade intelectual, poderíamos
debater o assunto até a exaustão, terminar num impasse, encolher os ombros
e
dizer: “é interessante, mas creio que não há como ter certeza”. Depois
poderíamos
ir para casa e nos ocupar de outros assuntos.
Porém, a questão vai muito além do debate intelectual. Quero saber se há
um Deus. Quero saber se é possível morrer sabendo para onde vai minha
alma;
quero saber se há algo que posso fazer para que tudo esteja em ordem quando
me
puserem debaixo de sete palmos de terra.
Além do mais, também quero saber se é seguro viver. Quero saber se há
propósito e significado para minha vida atual. Quero saber se posso viver de
qualquer maneira, à mercê das circunstâncias, ou se existe um Deus que me
ama,
que se preocupa comigo e me guia pela vida [...] Quero saber se existe
verdade
e mentira, certo e errado. Quando perco o emprego, quando pessoas
desonestas
são eleitas, quando minha casa é devastada por um furacão, ou a minha
cidade é
desolada por uma inundação – existe um Deus? Ele me acompanha ao longo
da
tribulação da vida? Posso viver de modo seguro?
Não me conformo em desprezar tudo isto como se fosse apenas um debate
intelectual... Se eu decidir de antemão que não há Deus e interpretar todas as
TÓPICO 1 | A DOUTRINA DA EXISTÊNCIA DE DEUS
11
evidências à luz desse pressuposto, sem buscar a Deus de maneira
apropriada,
estarei colocando em risco meu destino eterno e o presente senso de
significado
e propósito.
FONTE: Anders (2001, p. 26 - 28)
12
A Pessoa de Jesus Cristo se constitui na maior expressão da existência de
Deus. Jesus é a expressão humana exata do Ser de Deus. Ele é a expressa
imagem
do Criador.
A Bíblia diz “[...] que Deus em Cristo estava reconciliando consigo o
mundo, não levando em conta os pecados dos homens, e nos confiou a
mensagem
da reconciliação”. (2 CORÍNTIOS 5:19).
Portanto, quando a Bíblia afirma: “No princípio era aquele que é a Palavra.
Ele estava com Deus, e era Deus. Ele estava com Deus no princípio [...]
tornou-se
carne e viveu entre nós...” (JOÃO 1:1-2 e 14), significa que Deus foi
literalmente
encarnado em Jesus Cristo, o qual foi em carne tudo aquilo que Deus aprouve
revelar de Si mesmo ao homem, sendo esta a maior prova, tanto da Sua
existência
como do Seu grande amor pela humanidade.
RESUMO DO TÓPICO 1
13
1 Deus pode ser conhecido pelo homem. Como isto é possível?
2 Cite dois argumentos acerca da existência de Deus.
3 Quais das teorias de negação da existência de Deus têm sido mais
divulgadas
atualmente?
AUTOATIVIDADE
14
15
TÓPICO 2
A DOUTRINA DOS ATRIBUTOS DA
PERSONALIDADE ABSOLUTA DE DEUS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Para compreendermos melhor a essência divina, faz-se necessário estudar
Suas qualidades, conhecidas também como atributos. Os atributos de Deus
revelam vários aspectos da Sua personalidade – aquilo que lhe é próprio – e do
Seu caráter.
NOTA
O conceito de PERSONALIDADE representa o total das características
necessárias para descrever o que é um ser pessoal. Os nomes ou títulos
atribuídos a Deus
são uma das mais fortes evidências da Sua personalidade divina.
2 OS ATRIBUTOS TRANSCENDENTES DE DEUS (NATURAIS)
O teólogo norte-americano Augustus Strong (2003, p. 244) define
atributos de Deus como “aquelas características que distinguem a natureza
divina, inseparáveis da ideia de Deus, e que constituem a base e a razão de
suas
diferentes manifestações às suas criaturas”.
ATRIBUTO é aquilo que é próprio de uma pessoa ou coisa. Através do
estudo dos atributos de Deus, podemos compreender como Ele existe e atua.
A
seguir, abordaremos os ATRIBUTOS transcendentes (naturais) e os
ATRIBUTOS
imanentes (morais).
Esses atributos constitucionais de Deus são denominados também de
atributos incomunicáveis, por se tratar de qualificativos próprios da Sua
natureza.
Tão transcendentes, muito elevados, superiores, sublimes. São atributos do
Criador que destacam a Sua superioridade em relação à criatura.
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
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2.1 SIMPLICIDADE
2.2 UNIDADE
2.3 IMENSIDADE
2.4 ETERNIDADE
2.5 IMUTABILIDADE
Deus não é um Ser composto. Ele não é constituído de muitas partes.
Deus é tanto singular como indivisível em Sua essência. Até mesmo na
revelação da Trindade divina, a unidade de Deus é afirmada: “um só Deus e
Pai
de todos, que é sobre todos, por meio de todos e em todos”. (EFÉSIOS 4:6).
Este atributo fala da infinidade de Deus em relação ao ESPAÇO. O teólogo
Louis Berkhof (2007, p. 63) diz que a imensidade de Deus pode ser definida
como
“a perfeição do ser divino pela qual Ele transcende todas as limitações
espaciais e,
contudo, está presente em todos os pontos do espaço com todo o Ser”.
Este atributo natural de Deus fala de Sua infinidade em relação ao
TEMPO. Deus é sem começo e sem fim. A existência de Deus é absoluta e
sem
contingências em relação ao tempo.
Não há mudança em Deus, nem sombra de variação em seu Ser. Deus não
se altera em Sua natureza, pois não pode ser melhor do que é. Ele é
absolutamente
imune a acréscimos ou diminuições. Todavia, isto não quer dizer que Deus é
impassível. Ele é o Deus que age.
2.6 ONIPOTÊNCIA
Significa que Deus pode realizar qualquer coisa, que esteja em
conformidade com Sua natureza justa. Ou seja, Deus não faz nada que
contrarie
Sua natureza santa e justa.
TÓPICO 2 | A DOUTRINA DOS ATRIBUTOS DA PERSONALIDADE
ABSOLUTA DE DEUS
17
2.7 ONISCIÊNCIA
2.8 ONIPRESENÇA
3 OS ATRIBUTOS IMANENTES DE DEUS
O Salmo 139 é chamado de o Salmo da onisciência de Deus. Ali aprendemos
que Deus tem o conhecimento total dos acontecimentos. Ele sabe tudo, tanto
nossos atos públicos quanto nossos pensamentos ocultos. Esta é a
assombrosa
diferença existente entre Deus e o homem. Nada pode ser oculto de Deus,
tanto
em relação ao passado como ao futuro. Isto significa que Deus está fora da
esfera
do tempo. Para Deus, não existe passado ou futuro, mas só um eterno
presente.
Ele é o mesmo ontem, hoje e eternamente. (HEBREUS 13:8).
O atributo da onipresença revela que Deus não é limitado pelo espaço
material. Ele está em todos os lugares ao mesmo tempo, seja objetivamente
(em
glória, no céu, no cumprimento das leis naturais, controlando a História), ou
subjetivamente (despertando as consciências e providenciando a recompensa
para os ímpios). Também, vale observar que, embora Deus esteja em todos os
lugares, a Bíblia restringe o Seu habitar com aqueles com os quais tem uma
relação pessoal.
Esses atributos são conhecidos também por comunicáveis, por serem
constituídos de qualidades morais de Deus e, por isto, podem ser
desenvolvidas
pelos homens. Diz-se imanente aquilo de que une ser, participa ou a que une
ser
ainda que por intervenção de outro ser.
3.1 SANTIDADE
3.2 JUSTIÇA
O atributo da santidade de Deus resulta de Sua absoluta pureza moral.
Deus não pode pecar e não tolera o pecado. Quanto a Deus, santidade, é um
estado do Ser. (1 Pe 1:16). Quanto ao homem é um processo.
A justiça é a santidade em ação. Deus é justo porque é santo. Ele não precisa
do testemunho alheio para julgar, como fazem os homens, pois conhece todas
as
coisas, estando apto, portanto, a ser imparcial. Deus requer que pratiquemos a
justiça para com os nossos semelhantes, sejam eles bons ou maus. (MATEUS
7:2
e 12).
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
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3.3 AMOR
3.4 FIDELIDADE
3.5 SABEDORIA
Deus é amor. É de Deus que procede o Ágape - amor por excelência;
amor que envolve compromisso com o bem-estar dos homens. Este é o lado
abnegado (altruísta) e gracioso de Deus, expresso na Sua bondade,
misericórdia
e longanimidade. (1 Jo 4:8). O erudito Charles Ryrie (2003, p. 43) disse que
assim
como muitos termos cristãos, o amor é mais discutido do que propriamente
definido. Nem mesmo um dicionário pode oferecer muita ajuda. O amor
consiste
de afeição e também de correção... O amor busca o bem daqueles a quem se
ama.
O que é o bem? Para Deus, é a perfeição da santidade e tudo o que esse
conceito
implica. Amar, para Deus, é buscar o maior bem de todos e a glória das suas
perfeições.
Significa que Deus age sem incoerência ou hipocrisia.
Além de Deus conhecer todos os dados relativos a qualquer assunto,
Ele relaciona e dirige seus fins. O discernimento e o agir de Deus são feitos em
harmonia com os Seus propósitos justos do plano da salvação dos homens:
10A intenção dessa graça era que agora, mediante a igreja, a multiforme
sabedoria de Deus se tornasse conhecida dos poderes e autoridades nas
regiões celestiais, 11 de acordo com o seu eterno plano que ele realizou
em Cristo Jesus, nosso Senhor, 12 por intermédio de quem temos livre
acesso a Deus em confiança, pela fé nele. (EFÉSIOS 3:10-12).
4 CONHECENDO OS NOMES DE DEUS
4.1 ELOHIM
Charles Ryrie (2003, p. 53) diz que “os muitos nomes de Deus nas Escrituras
apresentam uma revelação adicional de Seu caráter. Não são meros títulos
dados
pelas pessoas, mas, em sua maioria, descrições que Ele fez de si mesmo.
Sendo
assim, revelam aspectos de seu caráter”.
Podemos aprender mais sobre Deus, por meio dos nomes a Ele
relacionados, pois expressam a plenitude das qualidades de Seu Ser. Vejamos
alguns dos nomes de Deus mais conhecidos.
“Forte”, “Deus Criador”. Elohim é um substantivo plural, a revelação
subsequente da Trindade. Este nome é empregado sempre que está em
evidência
Seu poder criativo, pois se refere à Trindade em ação.
TÓPICO 2 | A DOUTRINA DOS ATRIBUTOS DA PERSONALIDADE
ABSOLUTA DE DEUS
19
4.2 ADONAI
“Senhor”, “Mestre”. Indica o relacionamento entre o “senhor” e o “servo”.
Este nome é utilizado quando está implícita a dependência e submissão que
todos os homens devem ter para com Deus. Refere-se ao Seu governo e
domínio
e, consequentemente, do reconhecimento que devem ter Suas criaturas de
Sua
soberania. Este nome era frequentemente usado por Deus quando se dirigia
aos
filhos de Israel.
4.3 EL-SHADDAI
4.4 JEOVÁ
“Deus Todo-Poderoso”. Martin Loyd-Jones (1997, p. 110) explica que
este termo descreve Deus “como possuidor de todo poder no céu e na terra,
mas
especialmente Aquele que a tudo subjuga e a tudo faz que seja subserviente à
obra de Sua graça [...], por exemplo, Ele controla o vento, a chuva e a neve
para
que possamos ter alimento para comermos”.
Eu Sou. YHWH transliterado como “YAHWEH”. Na tradução grega está
consignado como “JAHWEH, porquanto na língua hebraica não existe a letra
“J”.
Portanto, “JEOVÁ” é um termo correspondente de JAHWEH. Este é o nome
por
excelência de Deus, pois somado a vários qualificativos resulta em definições
de
Sua ação poderosa na vida dos homens:
a) Jeová-Rafá: “O Senhor que te sara”. (ÊXODO 15:26). Concede tanto a cura
de enfermidades físicas, como o perdão dos pecados e a salvação no pleno
sentido da do vocábulo. (TIAGO 5:16).
b) Jeová-Raah: “O Senhor, meu pastor”. (SALMO 23:1). No hebraico, “meu
amigo”, processo que interage comigo.
c) Jeová-Tsidkenu: “O Senhor, nossa justiça”. (JEREMIAS 23:13). O vocábulo
traduzido por “justiça”, traz em seu bojo: retidão, salvação e libertação.
d) Jeová-Nissi: “O Senhor nossa bandeira”. (ÊXODO 17:15). Em Isaías 11:10,
refere-se ao local de encontro das tropas de guerra.
e) Jeová-Jireh: “O Senhor que provê”. (GÊNESIS 24:14). A tarefa de dar de
beber
a dez camelos era consideravelmente árdua, porquanto seriam necessários
400
litros de água.

UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS


20
f) Jeová-Shalon: “O Senhor nossa paz”. (JUÍZES 6:24). A palavra hebraica
shalon tem no Antigo Testamento um significado muito amplo que engloba os
aspectos de paz, segurança, concórdia, prosperidade, bem-estar e vida plena
(vivida em plenitude).
TÓPICO 2 | A DOUTRINA DOS ATRIBUTOS
LEITURA COMPLEMENTAR
UMA PROPOSTA UNIFICADORA PARA A FÉ CRISTÃ SOBRE A
NATUREZA DE DEUS
Se existe algo referente a Deus, com que todos os cristãos sempre
concordaram (além da existência de Deus) é que Deus é tanto grande quanto
bom. Os cristãos nem sempre opinaram de forma idêntica sobre as
características
exatas da magnitude e da bondade de Deus. Meramente arranhamos a
superfície
da controvérsia entre os cristãos sobre esta questão, porque em seu nível mais
básico a controvérsia se reduz à tensão expressa na questão: como é possível
para
Deus ser grande além da magnitude de criaturas e ao mesmo tempo bom em
um
sentido que seja significativo em termos de bondade humana?
Nenhum cristão ortodoxo deseja que Deus seja apenas um grande ser
humano projetado no céu. De acordo com o testemunho bíblico e a tradição
consensual, e talvez com a própria lógica, para Deus ser Deus ele precisa ser
incomparavelmente grande – transcendente, santo e majestoso. Esse parece
ser o
significado da visão de Isaías 6, e de muitas outras porções de Isaías.
Desde os pais da igreja antiga, os reformadores e até os pensadores cristãos
modernos, desenvolveu-se um consenso de que Deus é, segundo as palavras
de
Anselmo da Cantuária, “o maior ser concebível”.
[...] poderíamos simplesmente dizer que o Deus do cristianismo é tanto
completamente outro quanto pessoalmente presente de forma amorosa e
relacional, recusando-nos a especular sobre como ambas as características
podem
ser verdade. Porém, mentes inquiridoras desejam saber se há uma saída da
flagrante contradição.
Na medida do possível, deveríamos evitar a especulação sobre a vida
interior de Deus fora da criação. Conhecemos Deus apenas como Ele se revela
a nós; a mistificação surge tão logo começamos a especular sobre Deus fora
da
automanifestação e de seu relacionamento com o mundo.
FONTE: Olson (2004, p. 177 - 179)
22
RESUMO DO TÓPICO 2
Para o cristão, há uma grande alegria e segurança em saber que Deus é
tudo isso e muito mais. Assim como tudo que já se descobriu sobre o universo
é
como um grão de areia diante de Sua imensidão, o mesmo pode ser dito
acerca
do que se sabe sobre Deus. Somente a eternidade poderá revelar a magnitude
de
Seu Ser.
23
1 Qual a diferença básica entre atributos transcendentes e atributos imanentes
de Deus?
2 O que resulta o fato de Deus ser fiel?
3 O que é justiça, quanto a Deus?
AUTOATIVIDADE
24
25
TÓPICO 3
A DOUTRINA DA TRINDADE DIVINA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A doutrina da Trindade Divina ensina que a Divindade, embora Una
em Sua essência, subsiste nas Pessoas do Pai, do Filho e do Espírito Santo. É
importante ressaltar que as três Pessoas são iguais na substância e atributos,
são
transcendentes e imanentes. É o Deus único, formando, porém, uma trindade
na
unidade e uma unidade na Trindade (Triúno), onde cada uma das três Pessoas
(Pai, Filho e Espírito Santo) tem Suas atividades, visando à realização dos
decretos
divinos e à concretização do Plano de Salvação, em Cristo Jesus.
O texto de Gênesis 1:26 denota a dinâmica atuação da Trindade Divina:
“Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.
O Deus revelado nas Escrituras é uma Trindade, apesar desse termo não
se encontrar literalmente no texto canônico. Ele foi utilizado pela primeira vez
por Tertuliano (155-220 d.C.). Todavia, por todo o texto bíblico se encontra o
ensino sobre a Trindade Divina. É por isso que a doutrina bíblica da Trindade é
distinta e de suma importância para todo aquele que deseja conhecer a Deus
de
forma plena, tanto quanto pode conceber o entendimento humano.
NOTA
TERTULIANO foi um dos mais famosos pais latinos. Além de criar o termo
Trindade, com Tertuliano, os cristãos ocidentais aprenderam também a ter uma
visão
harmônica da fé e da razão. Ele foi um escritor profícuo e apaixonado.
O teólogo Augustus H. Strong (2003, p. 194) criou um acróstico com seis
letras de afirmações sobre a Trindade Divina:
Três são reconhecidos como Deus;
Reputados por pessoas distintas;
Imanentes e ternas, não meramente econômicas ou temporais;
26
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
Unidas na essência;
Nada além de igualdade;
Outras doutrinas descerra, mas permanece inescrutável.
2 A REVELAÇÃO BÍBLICA DA TRINDADE
2.1 A REVELAÇÃO NATURAL
Consciente das limitações humanas e respeitando o processo natural de
desenvolvimento e aprendizado da humanidade, Deus, através dos tempos,
foi-se fazendo conhecido aos homens e comunicando-lhes Seus propósitos.
Isto
se deve porque o homem, por si só, jamais poderia chegar a um conhecimento
perfeito de Deus Pai, Deus Filho e Deus Espírito Santo, que é a Trindade
Divina.
Assim, a primeira lição que aprendemos quando estudamos o tema
Trindade é que aprendemos que o que dela conhecemos é aquilo que aprouve
a
Deus revelar de Si mesmo. Como se deu essa revelação? Vejamos suas
etapas a
seguir.
Em Romanos 1:20, a Palavra de Deus declara que ninguém pode dizer
que não tem consciência da existência de Deus, pois tanto Seu poder como
Sua
divindade são reconhecidos por meio das coisas por Ele criadas.
Através da Criação de Deus, podemos chegar a conhecer pelo menos dois
de seus gloriosos atributos:
a) Sua SABEDORIA, revelada através dos desígnios implícitos nas leis naturais
e
diversidade de seres criados.
b) Seu PODER, revelado na presença da Criação e Sua sustentação.
Nesta etapa, porém, a revelação da Trindade foi apresentada de forma
rudimentar, sendo mais inferida do que definida, ou seja, pelo plural “façamos”
e “nossa”. (Gn 1:26). Mas, com a entrada do pecado no mundo, o pecado de
Adão
e Eva, no Jardim do Éden, essa revelação foi prejudicada pelo amortecimento
do
desejo de comunhão do homem com Deus e pela consciência do bem e do
mal.
(Gn 3:22).
O homem foi criado natural e moralmente semelhante a Deus, mas ao
pecar, perdeu a semelhança moral (que era a sua impecabilidade). A
semelhança
natural, que consiste no intelecto, nas emoções e na vontade, o ser humano
ainda
é detentor. (GÊNESIS 9:6; TIAGO 3:9).
TÓPICO 3 | A DOUTRINA DA TRINDADE DIVINA
27
2.2 A REVELAÇÃO MORAL
2.3 A REVELAÇÃO PELO FILHO
Após a trágica queda, o homem descobriu que dentro dele havia algo do
qual tinha conhecimento, mas não o controle. Afinal, se fazia alguma coisa boa,
o homem se sentia satisfeito. Porém, se agia de forma errada, era
imediatamente
acusado em sua consciência. Ora, se isso não podia ser controlado,
compreendese que deveria ter uma procedência externa. Mas de quem? De
Deus, o Criador
também desse elemento denominado consciência, um instrumento regulador
da
conduta humana.
Segundo Romanos 1:19-20, o homem é condenado porque a verdade lhe
foi revelada. A rejeição desta verdade torna o homem indesculpável diante de
Deus.
Nesta segunda etapa, a Trindade é apresentada por meio de Jeová
(“Senhor”, SHEMA – que se tornou a confissão básica de fé da religião judaica
-
“O Senhor nosso Deus é o único Deus”, DEUTERONÔMIO 6:4), e as demais
Pessoas da Trindade, de forma reservada, através do Anjo do Senhor, que leva
tanto o nome quanto o poder e dignidade divina. E, que recebe homenagem e
adoração reservada única e exclusivamente a Deus. Porém, vale lembrar que
essa
doutrina não podia ser claramente exposta em razão do politeísmo (crença em
vários deuses) existente nas nações ao redor do povo escolhido - Israel.
Jesus Cristo, a segunda Pessoa da Trindade, é a sua revelação máxima.
Isto porque, a necessidade de redenção do homem em seu pecado resultou
em
sua manifestação histórica. A Bíblia diz que Deus se fez carne em Jesus Cristo:
“Aquele que é a Palavra tornou-se carne e viveu entre nós. Vimos a sua glória,
glória como do Unigênito vindo do Pai, cheio de graça e de verdade” (JOÃO
1:14; cf. HEBREUS 1:1-4). É a representação exata da essência ou natureza
de
Deus. Portanto, por meio do Jesus histórico, podemos saber quem é Deus, ou
melhor, Seu caráter e natureza, pois Jesus habitou entre nós, expressando
quem
é o Pai.
Nesta etapa, a consciência da Trindade acontece quando Deus se encarnou
em Jesus Cristo, tornando-se perfeitamente humano e continuando a ser
perfeitamente divino; tendo consciência tanto de Sua natureza humana quanto
de Sua natureza divina. Só assim se pode entender por que o Jesus histórico
podia
sentir cansaço, sede, fome, e, ao mesmo tempo, apresentar-se como o
Messias
prometido. Ele era limitado pelo espaço, mas dava vida aos mortos.
28
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
2.4 A REVELAÇÃO ESCRITA
Após a ascensão de Cristo, a revelação de Deus assumiu uma nova forma,
sendo então transmitida pela inspiração do Espírito Santo dada a homens
santos
que registraram a continuidade do processo de Deus em se fazer conhecida
aos
homens. Deste modo, o livro intitulado Atos dos apóstolos pode ser chamado
de
“os Atos do Espírito Santo”, pois Ele agora assume o governo da Igreja, Corpo
de Cristo, dirigindo os apóstolos e discípulos de Jesus em suas atividades e
lhes
comunicando as verdades necessárias ao crescimento na graça e no
conhecimento
de nosso Senhor Jesus Cristo.
20 Antes de mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém
de interpretação pessoal, 21 pois jamais a profecia teve origem na vontade
humana,
mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo. (2
PEDRO
1:20-21).
As Escrituras Sagradas são a verdadeira profecia. Seu caráter é
sobrenatural. No texto anterior, o autor não trata de predições de eventos
futuros.
Ele faz referência às proclamações feitas pelos profetas do Antigo Testamento,
pois no versículo 20 a referência às Escrituras é relacionada às profecias. Na
época
em que Pedro exerceu seu ministério, ainda não havia um Novo Testamento
como
nós temos hoje. Dos 27 livros, havia alguns escritos, como alguns dos
Evangelhos,
algumas epístolas de Paulo, mas não o Novo Testamento inteiro. O autor não
se
referia, então, ao nosso Novo Testamento, mas ao Antigo Testamento.
O Antigo Testamento era, portanto, a Bíblia dos cristãos da época da Igreja
primitiva, e era tido como Escritura inspirada por Deus. Para eles, e continua
até
hoje para nós, o Antigo Testamento era muito importante e regia suas questões
de fé e prática. Inclusive era utilizada na pregação da Igreja, porque continha
as
profecias a respeito de Cristo, Sua obra e Seu ministério. Essas profecias eram
colecionadas para testemunho, para o ensino dos novos na fé, para a defesa
da fé
diante dos judeus e gentios.
Podemos concluir com a declaração do teólogo Pendleton (OLIVEIRA,
2001, p. 75):
Aceito o fato de que a Trindade existe, simplesmente porque acredito
que as Escrituras a revelam. E, se as Escrituras revelam o fato de que
há três Pessoas na Divindade; que há uma distinção que fornece base
para as chamarmos respectivamente de Pai, Filho e Espírito Santo; que
estabelece a base para aplicação dos pronomes pessoais Eu, Tu e Ele;
que torna certo dizermos que elas enviam ou são enviadas; que Cristo
está com Deus, está em Seu selo, além de outras cousas da mesma
natureza, ao mesmo tempo em que cada uma delas – então essa
verdade, como simplicidade, concede-nos crédito à revelação divina.
TÓPICO 3 | A DOUTRINA DA TRINDADE DIVINA
29
LEITURA COMPLEMENTAR
Adoramos um Deus em Trindade, e Trindade em unidade. Não
confundimos as pessoas nem separamos a substância. Pois a pessoa do Pai é
uma, a do Filho outra e a do Espírito Santo, outra. Mas no Pai, no Filho e no
Espírito Santo há uma divindade, glória igual e majestade coeterna. Tal qual é
o
Pai, o mesmo são o Filho e o Espírito Santo. O Pai é incriado, o Filho é
incriado, o
Espírito Santo é incriado. O Pai é imensurável, o Filho é imensurável, o Espírito
Santo é imensurável. O Pai é eterno, o Filho é eterno, o Espírito Santo é
eterno.
Não obstante, não há três eternos, mas um eterno. Da mesma forma não há
três
seres incriados, nem três imensuráveis, mas um incriado e um imensurável. Da
mesma maneira o Pai é onipotente. No entanto, não há três onipotentes, mas
um
onipotente. Assim, o Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. No
entanto, não há três deuses, mas um Deus. Assim, o Pai é Senhor, o Filho é
Senhor,
o Espírito Santo é Senhor. Todavia, não três senhores, mas um Senhor. Assim
como a veracidade cristã nos obriga confessar cada Pessoa individualmente
como
Deus e Senhor, assim também ficamos privados de dizer que haja três deuses
e
senhores. O Pai não foi feito de coisa alguma, nem criado, nem gerado. O Filho
procede do Pai somente, não foi feito, nem criado, mas gerado. O Espírito
Santo
procede do Pai e do Filho, não foi feito, nem criado, nem gerado, mas
procedente.
Há, portanto, um Pai, não três Pais; um Filho, não três Filhos; um Espírito
Santo.
Não três Espíritos Santos. E nesta Trindade não existe primeiro nem último;
maior
ou menor. Mas as três Pessoas coeternas são iguais entre si mesmas; de sorte
que
por meio de todas, como acima foi dito, tanto a unidade na Trindade como a
Trindade na unidade devem ser adoradas.
FONTE: Olson (2004, p. 191)
30
RESUMO DO TÓPICO 3
A Bíblia ensina que Deus é tanto Uno quanto Trino. É Uno no que concerne
à divindade (essência e caráter), pois só existe uma divindade para ser
obedecida
e adorada. Ele é Trino no que diz respeito à responsabilidade (distinções e
ministérios).
Embora as três Pessoas possuam a mesma divindade, cada uma tem a Sua
própria personalidade. Por isso, o Pai é Deus, o Filho é Deus, e o Espírito
Santo é
Deus. Mas, o Pai não é o Filho, como o Filho não é o Espírito Santo, e este não
éo
Pai. No entanto, os Três são perfeitamente unidos em Seus propósitos, de
maneira
que jamais haverá qualquer possibilidade de discordância entre Eles.
31
1 O que é Trindade Divina?
2 Como a Trindade Divina está revelada na Bíblia?
3 Qual é a diferença básica do Deus Uno e Trino?
AUTOATIVIDADE
32
33
TÓPICO 4
A DOUTRINA DOS DECRETOS ETERNOS
DE DEUS
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
O poder ilimitado, soberano e independente de Deus é um poder criador,
capaz de formar céus e a terra com toda a beleza e encantamento que eles
manifestam. O teólogo Mullins apud Aguiar Severa (1999, p. 106) diz que:
[...] o universo, conforme o conhecemos, é a suprema evidência da
onipotência de Deus. Por tê-lo criado, sustentado e orientado, Deus
exibe a capacidade de limitar-se ou restringir-se. Ele quis fazê-lo tal
como é, e não de outro modo. Ele quis criar o homem como um ser
livre e assim deixá-lo. O universo não exaure Deus. Nele sempre há
reservas de sabedoria e de poder.
O Deus que tudo pode, com Seu poder ilimitado, leva a efeito qualquer
coisa que queira, através de atos soberanos, tendo em vista a salvação de todo
aquele que crê em seu Filho Jesus Cristo.
2 CONHECENDO OS DECRETOS ETERNOS DE DEUS
Como uma ação soberana, os decretos eternos de Deus devem ser
entendidos no mais absoluto sentido da palavra. Todavia, os decretos divinos
não tornam o homem um autônomo, nem tão pouco violam o seu livre-arbítrio.
Pelo contrário, uma ação do homem só é tolhida quando este fere os decretos
divinos.
NOTA
DECRETO - trata-se de qualquer mandamento ou ordem dada por um
governante humano para o desempenho da tarefa de governar ou liderar. Os
decretos de
Deus são seus planos eternos e abrangentes para a Criação.
34
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
Portanto, a Bíblia revela um Deus de decisões soberanas. A Palavra de
Deus registra a concretização de muitos dos propósitos divinos que vieram à
luz
pela vontade soberana de Deus, na história. O estudo das profecias do Antigo
Testamento nos revela isto.
2.1 PROVIDÊNCIA DIVINA
2.2 PROPÓSITO DIVINO
Deus dirige Sua criação em direção a um objetivo supremo, que é a
salvação em Seu Filho Jesus Cristo. Segundo o Dicionário Teológico de
Claudionor
de Andrade (1998, p. 245), a providência divina é a resolução prévia tomada
por
Deus, visando à consecução de Seus planos e decretos, à preservação de
quanto
Ele criou e à salvação do ser humano. (ATOS 2:23). Acha-se a providência
divina
fundamentada nos atributos metafísicos e morais de Deus.
O conceito de providência é o entendimento da misericordiosa
concretização por parte de Deus-Pai, ao longo da história humana, do
propósito
divino em Cristo. Toda criação depende da providência divina.
O Salmo 104 destaca a variedade na natureza. Este Salmo nos ensina que
as obras de Deus são multiformes, isto é, elas apresentam muitas formas. Esta
multiformidade revela a sabedoria de Deus (v. 24). Toda a Bíblia está cheia de
histórias das atividades poderosas de Deus em favor de Seu povo.
No Salmo 66:5-12, o salmista convida seus contemporâneos, os hebreus, a
considerarem essas obras maravilhosas de Deus, o poder nas intervenções de
Deus
na história para salvar Israel. Por isto, a confissão das grandes obras de Deus
tinha
lugar importante na fé e no culto do povo escolhido. (DEUTERONÔMIO 26:5-
11;
SALMOS 78; SALMOS 106; SALMOS 106; ATOS 7:2-25).
Propósito é o mesmo que intento, intenção, plano ou projeto. Podemos
dizer que os decretos de Deus são Seu eterno propósito. O professor Zacarias
de Aguiar Severa (1999, p. 115) resumiu o conceito de propósito divino como
sendo: “preordenação divina abrangente, eterna, imutável, incondicional e
eficaz
de eventos que ocorrem no mundo”. (JEREMIAS 14:22; ISAÍAS 37:26).
Isto significa que os propósitos ou planos de Deus estabelecidos na
eternidade são concebidos nos momentos circunstanciais da história. Por
exemplo:
l a traição de Judas. (LUCAS 22:22);
l a destruição de Jerusalém. (LUCAS 21:20-22);
l a própria morte de Jesus. (ATOS 3:23; 4:27-28).
TÓPICO 4 | A DOUTRINA DOS DECRETOS ETERNOS DE DEUS
35
O propósito divino de Deus em relação ao mundo material e o espiritual
tem como foco principal a redenção do homem, levando em conta o seu
livrearbítrio.
2.3 O CONSELHO DE DEUS
2.4 PRESCIÊNCIA
Deus fez todas as coisas segundo Ele próprio: “Nele fomos também
escolhidos, tendo sido predestinados conforme o plano daquele que faz todas
as coisas segundo o propósito da sua vontade.” (EFÉSIOS 1:11). O conselho
de
Deus significa Seu plano eterno em relação ao mundo material e espiritual,
visível
e invisível, que abrange todos os Seus propósitos e decretos, incluindo a
Criação e
a Redenção de todas as coisas.
Portanto, o conselho de Deus é inerente à Sua Pessoa: Quem definiu limites
para o Espírito do Senhor, ou o instruiu como seu conselheiro? A quem o
Senhor
consultou que pudesse esclarecê-lo, e que lhe ensinasse a julgar com justiça?
Quem lhe ensinou o conhecimento ou lhe apontou o caminho da sabedoria?”
(ISAÍAS 40:13-14).
Segundo Isaías 46:9-11, este conselho é soberano, inigualável e trata
com especificidade. É, também, um conselho que abrange tanto os efeitos
como
as causas; tanto os fins como os meios. Vemos isto ao criar o homem, prover a
salvação em Cristo e julgar aqueles que livre e voluntariamente rejeitam a
graça
salvadora em Cristo. O autor Charles Hodge (2001, p. 313) diz que “o decreto
providencia em cada caso que o evento será efetuado por causas que agirão
de
maneira perfeitamente coerente com a natureza do evento em questão”.
Presciência significa conhecimento prévio ou conhecer tudo de antemão.
Strong (2004, p. 151) afirma que:
O conhecimento prévio implica fixidez, e fixidez implica decreto
[...] Desde a eternidade Deus previu todos os acontecimentos do
universo como estabelecidos e certos. Essa fixidez e certeza não
podem ter sua base nem na sorte cega nem nas vontades variáveis dos
homens, visto que nenhuma dessas coisas existia ainda. Não podia
ter seu fundamento em cousa alguma fora da Mente Divina, pois, na
eternidade, nada existia senão a Mente Divina. Mas, deve ter havido
uma causa para essa fixidez; se algo no futuro foi estabelecido, é que
alguma coisa deve tê-lo fixado. Essa fixidez só podia originar-se no
plano e propósito de Deus. Enfim, se Deus previu o futuro como certo,
há de ser porque em Sua Pessoa havia aquilo que o tornava certo, ou,
em outras palavras, porque Ele o decretara.
36
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
3 A CRIAÇÃO
3.1 A SEMANA DA CRIAÇÃO
A Criação de Deus não abrange apenas a esfera do visível, mas também
a do invisível.
O ensino bíblico é que Deus fez tudo a partir do NADA. O termo “criou”,
de Gênesis 1:1, no hebraico é ‘BARA’, e significa “chamar a existência sem uso
de
material preexistente”. Outro termo utilizado em Gênesis 1, é ‘ASAH’
(1:7,16,25,26
e 31), que significa “dispor de material existente”. Como podemos observar,
este
último é usado para descrever a maioria das obras na semana da Criação.
A Criação de Gênesis 1:1 é a Criação original. Vejamos o que diz Isaías
45:18: “Pois assim diz o Senhor, que criou os céus, ele é Deus; que moldou a
terra
e a fez, ele fundou-a; não a criou para estar vazia, mas a formou para ser
habitada
[...]”.
Mas, esta terra original tornou-se um “caos”, segundo a descrição em
Gênesis 1:2: “era a terra sem forma e vazia; trevas cobriam a face do abismo, e
o
Espírito de Deus se movia (ou “chocava”) sobre a face das águas”.
Os estudiosos acreditam que existe um intervalo indefinido de tempo
entre os versículos 1 e 2, de Gênesis 1, e em lugar de “era” utilizam o termo
“tornou-se”. Isto significa que a Criação original ficou temporariamente “sem
forma e vazia”, possivelmente em consequência da queda de Lúcifer e seus
anjos.
Portanto, Gênesis 1, a partir do versículo 2, é uma recriação ou
reconstituição da Criação original:
l Dia 1 - A criação da luz (a eletricidade).
l Dia 2 - A criação do firmamento e a separação das águas.
l Dia 3 - A separação de água e terra seca, e a preparação da terra como
uma
habitação para o homem (O reino vegetal).
l Dia 4 - A criação dos condutores de luz (Sol, lua e estrelas).
l Dia 5 - A criação dos pássaros do ar e dos peixes do mar.
l Dia 6 - A criação dos animais do campo, gado e seres rastejantes, e o
homem.
DICAS
Caro(a) acadêmico(a)! Leia o livro A LINGUAGEM DE DEUS, de Francis S.
Collins,
um livro que esclarece o dilema existente entre a fé em Deus e a fé na ciência.
TÓPICO 4 | A DOUTRINA DOS DECRETOS ETERNOS DE DEUS
37
3.2 OS ANJOS
3.3 O HOMEM
Os anjos são seres de ordem espiritual, mais elevados do que os homens.
A Bíblia diz que eles se situam em classes e categorias: “pois nele foram
criadas
todas as coisas nos céus e na terra, as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou
soberanias, poderes ou autoridades [...]”. (COLOSSENSES 1:16).
O termo “anjo” significa literalmente “mensageiro”, pois eles executam
ordens de Deus: “Os anjos não são, todos eles, espíritos ministradores
enviados
para servir aqueles que hão de herdar a salvação?” (HEBREUS 1:14).
Os anjos bons, mensageiros de Deus, são santos! Mas, existem, também,
os anjos maus, ou decaídos, que se rebelaram e caíram com Lúcifer, tornando-
se
mensageiros e agentes de Satanás – demônios.
A Bíblia, a regra de fé e prática dos cristãos, declara, desde o início, que o
homem foi criado e também formado por Deus, não evoluído de outras
espécies,
como ensina a teoria da evolução.
“Então o SENHOR Deus formou o homem do pó da terra e soprou em
suas narinas o fôlego de vida, e o homem se tornou um ser vivente”.
(GÊNESIS
2:7).
Convém ressaltar ainda que a teoria da evolução progressiva dos seres, de
Charles Darwin, sofreu sucessivas alterações. Aliás, segundo os
evolucionistas,
não há um ponto de partida para o surgimento da vida física.
38
UNIDADE 1 | DOUTRINA BÍBLICA DE DEUS
LEITURA COMPLEMENTAR
Deus é soberano sobre todos os detalhes da criação. Os eventos naturais
estão sob o seu governo, e o mal se encontra sob seu domínio, fazendo com
que
“Sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o
amam,
dos que foram chamados de acordo com o seu propósito” (ROMANOS 8:28),
separando e transformando o povo de Deus à sua semelhança. (ROMANOS
8:29-
30). Berkhof assim define a providência: “A providência é o permanente
exercício
da energia divina, pela qual o Criador preserva todas as Suas criaturas, opera
em
tudo que se passa no mundo e dirige todas as coisas para o seu determinado
fim.
Esta definição indica que há três elementos na providência, a saber, a
preservação,
a concorrência ou cooperação, e o governo.
Nem sempre esta tríplice divisão foi empregada, incluindo-se, por vezes,
concorrência na conservação ou no governo, como ser visto, por exemplo, no
catecismo de Heidelberg. Este catecismo dedica duas perguntas à doutrina da
providência. A pergunta 27 afirma que: A providência “é a força todo-poderosa
e presente, com que Deus, pela sua mão, sustenta e governa o céu, a terra e
todas
as criaturas. Assim, ervas e plantas, chuva e seca, anos frutíferos e infrutíferos,
comida e bebida, saúde e doença, riqueza e pobreza e todas as coisas não nos
sobrevêm por acaso, mas de Sua mão paternal”.
E, com uma vigorosa ênfase pastoral, a pergunta 28 afirma que devemos
conhecer o ensino bíblico sobre a providência: “Para que tenhamos paciência
em
toda adversidade, e mostremos gratidão em toda prosperidade e para que,
quanto
ao futuro, tenhamos a firme confiança em nosso fiel Deus e Pai, de que criatura
alguma nos pode separar do amor d’Ele. Porque todas as criaturas estão na
mão
de Deus, de tal maneira que sem a vontade d’Ele não podem agir nem se
mover”.
FONTE: FERREIRA, Franklin; MYATT, Alan. Teologia Sistemática. São Paulo:
Vida Nova. 2007, p.
320-221.
39
RESUMO DO TÓPICO 4
7 A lei do Senhor é perfeita, e revigora a alma. Os testemunhos do
Senhor são dignos de confiança, e tornam sábios os inexperientes.
8 Os preceitos do Senhor são justos, e dão alegria ao coração. Os
mandamentos do Senhor são límpidos, e trazem luz aos olhos. 9 O
temor do Senhor é puro, e dura para sempre. As ordenanças do Senhor
são verdadeiras, são todas elas justas. (SALMO 19:7-9).
Portanto, o caminho para compreender e vivenciar os PLANOS DE
DEUS é preciso, primeiro, aceitar e praticar Sua Lei, testemunhos, preceitos,
mandamentos, temor e ordenanças, visto que são dignos de confiança, pois
são
justos, verdadeiros e puros, e nos tornam sábios e nos dão alegria no viver.
40
AUTOATIVIDADE
1 Complete a frase: Os decretos eternos de Deus são...
2 Como você definiria providência divina?
3 Qual a diferença entre os termos hebraicos “BARA” e “ASAH”?
41
UNIDADE 2
DOUTRINA BÍBLICA DO
ESPÍRITO SANTO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• definir o Espírito Santo como uma Pessoa, uma Pessoa divina que integra
a Trindade Divina;
• apontar algumas evidências da presença do Espírito Santo na história bíblica,
ungindo e capacitando pessoas;
• explicar o significado da plenitude do Espírito Santo na vida cristã, como
uma experiência pessoal e íntima.
Esta Unidade está dividida em três tópicos nos quais se apresentam os
conteúdos. Em cada tópico você encontrará atividades para auxiliá-lo(a) na
compreensão dos conteúdos abordados.
TÓPICO 1 – A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
TÓPICO 2 – O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS
TÓPICO 3 – A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ
42
43
TÓPICO 1
A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Todo cristão precisa de orientações bíblicas adequadas a respeito da
natureza e dos ministérios do Espírito Santo, com todas as bênçãos que Ele
traz.
Uma coisa é termos o Espírito Santo habitando em nosso interior, e outra bem
diferente é estarmos aptos para falarmos d’Ele a outros, de maneira inteligível
e
convincente.
A Bíblia apresenta vários sentidos para a palavra “espírito”. Inicialmente,
temos que distinguir esses vários sentidos em toda a Bíblia:
a) No Antigo Testamento, a língua hebraica traduz a palavra “espírito” como
“ruach”, que significa, essencialmente, vento, hálito e respiração.
b) No Novo Testamento, a língua grega traduz a palavra “espírito” como
“pneuma”, cuja raiz pneu refere-se ao ar. O sufixo “ma” fala de ação,
movimento
do ar.
Tanto o “ruach” como o “pneuma” se referem também ao espírito humano,
à essência da humanidade (GÊNESIS 2:7), pois é o “espírito” que torna o
homem distinto dos animais. Os anjos também são “espíritos” criados, mas
sem
necessidade de corpos materiais.
Porém, o que nos interessa aqui é o Espírito, referindo-se a Deus. Quando
a Bíblia se refere a Deus, tanto o “ruach” como o “pneuma” tem uma conotação
especial, pois ele é o “Espírito Eterno.” (HEBREUS 9:14).
No estudo da teologia, a doutrina bíblica do Espírito Santo é conhecida
como “Pneumatologia”, termo que procede de três palavras gregas:
l pneuma – espírito.
l hagios – santo.
l logia – estudo.
Todavia, para os cristãos estudiosos da Bíblia, o termo preferido é
“PARAKLETO”, que procede do termo de João 16:7, o consolador.
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
44
NOTA
O termo PARAKLETO é composto de duas palavras gregas: pará (uma
preposição
que significa “para o lado de”), e kaleo (uma forma do verbo que significa
“chamado”). Ou
seja: alguém chamado para estar ao lado de outro para ajudá-lo.
Em 1 João 2:1, o termo paracleto é traduzido como “advogado”, revelando,
assim, outra atividade do Espírito Santo. Ou seja, o Espírito Santo é aquele
que ajuda em nossas fraquezas (consolador) e intercede por nós com gemidos
inexprimíveis (advogado).
2 NATUREZA DA PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo não é uma energia ou força impessoal, sem identidade e
emoções. Ele age e interage como uma PESSOA completa e perfeita.
NOTA
O que é uma PESSOA? É um ser consciente de sua existência, dotado de
autodeterminação e que possui capacidade de agir e interagir.
2.1 O ESPÍRITO SANTO É UMA PESSOA
Em momento algum as Escrituras Sagradas denominam o Espírito
Santo como “coisa”, “isso”, “aquilo”, “força”, “energia”, “influência”, ou algo
semelhante, mas como uma personalidade divina, com os atributos da
divindade.
O Espírito Santo é uma Pessoa real, capaz de sentir, pensar, falar, ensinar. Só
uma
Pessoa pode manifestar esses atributos.
O teólogo Charles Ryrie (2003, p. 398) afirmou que a negação de que o
Espírito Santo é uma Pessoa pode assumir formas diversificadas. Por exemplo,
quando se afirma que Ele é a personificação de um “poder” – muito parecido
com
a ideia de que Satanás é a personificação do mal. Mas, existem muitas
evidências
na Bíblia que provam que o Espírito Santo é uma Pessoa. Ele possui e
demonstra
os atributos de uma Pessoa, tem atitudes de uma Pessoa e se relaciona de
modo
pessoal com os seres humanos.
TÓPICO 1 | A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
45
O fato é que a personalidade do Espírito Santo é espiritual e incorpórea. É
um Espírito pessoal que se comunica com os homens com todas as
manifestações
próprias da Sua personalidade. Observe também que em João 16:8,13,14, são
utilizados pronomes pessoais ao Espírito Santo: “ele”, “aquele”, “dele”, etc.
2.2 O DOM DO ESPÍRITO SANTO
A expressão “Dom do Espírito” não significa alguma coisa que o Espírito
Santo dá, mas o próprio Espírito Santo, oferecido como dádiva. O Evangelho
de
João registra repetidamente a promessa de Jesus (14:16; 15:26;16:7). No
enunciado
da promessa, a condição para o cumprimento não era outra senão permanecer
na
cidade de Jerusalém e esperar a promessa. A promessa desta dádiva se
cumpriu
no dia do Pentecostes, com o evento do derramamento do Espírito Santo, que
iniciou uma nova dispensação no plano divino para a salvação dos homens.
Em Sua promessa, Jesus afirmou que o Espírito Santo viria como um dom,
dado por Deus, enviado por Cristo, para ficar para sempre ao lado dos
discípulos
de Jesus, como companheiro, e para ajudá-los.
Em João 14:14-17, Jesus utilizou o termo “outro” (gr. allon ao falar da
vinda do Espírito Santo, significando “outro do mesmo tipo”, ou seja, outra
pessoa. George Ladd (2007, p. 423) disse que isto implica que Jesus já tinha
sido
um Paracleto para seus discípulos e que o Espírito viria para assumir seu lugar
e
continuar seu ministério com eles. Este fato fica muito evidente na similaridade
de linguagem usada com relação tanto ao Espírito quanto a Jesus. Ou seja:
l O Paracleto virá, como também Jesus veio ao mundo. (JOÃO 5:43;
16:28).
l O Paracleto virá da parte do Pai, da mesma forma que Jesus veio da
parte do
Pai. (JOÃO 16:27-28).
l O Pai dará o Paracleto a pedido de Jesus, da mesma forma que deu o
Filho.
(JOÃO 3:16).
l O Pai enviará o Paracleto, como também Jesus foi enviado pelo Pai.
(JOÃO
3:17).
l O Paracleto será enviado em nome de Jesus, como também Jesus veio
em nome
do Pai.
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
46
2.4 DISTINTIVOS DA PESSOA DO ESPÍRITO SANTO
2.3 ASPECTOS OBJETIVOS DO ESPÍRITO SANTO COMO
UM SER PESSOAL
O Espírito Santo é uma Pessoa porque sente tristeza quando pecamos
contra Deus; tem ciúmes quando faltamos com o nosso compromisso com o
Senhor e negamos a fé, amasiando-nos com o mundo; agonia-se, gemendo e
intercedendo por nós, filhos de Deus, quando nos encontramos imersos em
profunda tristeza; ensina-nos os mistérios da Palavra de Deus, respondendo
às nossas mais difíceis indagações; fala, e esta é a maior manifestação de
uma personalidade. (EFÉSIOS 4:30; TIAGO 4:4-5; ROMANOS 8:26-27; (1
CORÍNTIOS 2:11-13; ATOS 10:19).
Há, pelo menos, três atributos que revelam a personalidade distinta do
Espírito Santo:

a) Intelecto – Ele fala, pensa, raciocina e tem poder de determinação, que são
elementos típicos de personalidade. “E aquele que sonda os corações conhece
a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede pelos santos de acordo com
a vontade de Deus”. (ROMANOS 8:27).
b) Vontade – Ele tem poder para agir de acordo com a economia divina, como,
por exemplo, a liberdade de distribuir Seus dons aos homens. “Todas essas
coisas, porém, são realizadas pelo mesmo e único Espírito, e ele as distribui
individualmente, a cada um, como quer”. (1 CORÍNTIOS 12:11).
c) Sentimento – Ele consola, geme, chora e intercede. “Da mesma forma o
Espírito
nos ajuda em nossa fraqueza, pois não sabemos como orar, mas o próprio
Espírito intercede por nós com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda
os corações conhece a intenção do Espírito, porque o Espírito intercede
pelos santos de acordo com a vontade de Deus”. (ROMANOS 8:26- 27; cf.
EFÉSIOS 4:30).
João Calvino tem sido chamado de “o teólogo do Espírito Santo”. Franklin
Ferreira (2007, p. 668) diz que durante a reforma foi ele quem mais deu
atenção
à Pessoa do Espírito Santo. Sua abordagem era moldada por sua
compreensão
bíblica de que a ação do Espírito é da proeminência ao Pai e ao Filho. Observe
o
que Calvino apud Ferreira (p. 668) escreveu:
TÓPICO 1 | A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
47
Entretanto, não convém passar em silêncio a distinção que observamos
expressa nas Escrituras, e esta consiste em que ao Pai se atribui o
princípio de ação, a fonte e manancial de todas as coisas; ao Filho, a
sabedoria, o conselho e a própria dispensação na operação das coisas;
mas ao Espírito se assinala o poder e a eficácia da ação. Com efeito,
ainda que a eternidade do Pai seja também a eternidade do Filho e
do Espírito, posto que Deus jamais pode existir sem sua sabedoria e
poder, nem se deve buscar na eternidade antes ou depois, todavia não
é vã ou supérflua a observância de uma ordem, a saber: enquanto o Pai
é tido como sendo o primeiro, então se diz que o Filho procede dele;
finalmente, o Espírito procede de ambos.
3 A DIVINDADE DO ESPÍRITO SANTO
3.1 O ESPÍRITO SANTO É A TERCEIRA PESSOA DA TRINDADE
O Espírito Santo não é apenas uma Pessoa; é uma pessoa singular, pois a
Bíblia afirma que o Espírito é Deus. Berkhof (2007, p. 91) diz que na
processão,
assim como na geração, há uma total comunicação da total substância da
essência
trina, de modo que o Espírito Santo é igual ao Pai e ao Filho. A principal forma
de provar que o Espírito Santo é Deus é pelos atributos divinos que Ele possui.
A Bíblia demonstra sua integração plena na Trindade divina, mostrando
que Ele possui as características (atributos naturais) do Pai e do Filho:
“Para onde poderia escapar do teu Espírito? Para onde poderia fugir da
tua presença?” (SALMOS 139:7).
“O anjo respondeu: “O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do
Altíssimo a cobrirá com a sua sombra. Assim, aquele que há de nascer será
chamado Santo, Filho de Deus”. (LUCAS 1:35).
“Quanto mais o sangue de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu
de forma imaculada a Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam
à
morte.” (HEBREUS 9:14).
Portanto, o Pai, o Filho e o Espírito Santo são iguais em aspectos, poder e
glória. Ou seja:
a) O Espírito Santo é Eterno. Ele transcende as limitações temporais.
b) O Espírito Santo é Imutável. Ele não é como os seres humanos, vulnerável
diante das circunstâncias; mantém-se inalterável e perfeito em Seus juízos.
c) O Espírito Santo é Onipresente. Ele penetra em todas as coisas e perscruta
o
entendimento dos homens, pois está em todos os lugares.
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
48
d) O Espírito Santo é Onisciente. Da mesma forma que o Pai e o Filho, o
Espírito
Santo tem conhecimento de todas as coisas. Sua sabedoria é infinita, singular
e indescritível.
e) O Espírito Santo é Onipotente. Ele pode todas as coisas. Todo poder que há
no
Universo, físico ou espiritual, tem sua origem na Trindade.
Assim como Deus, o Espírito Santo é Ser supremo por excelência. Este
Ser absoluto pode agir plenamente na vida dos homens que se submetem à
Sua
vontade. Ele é capaz de revelar os mistérios de Cristo e edificar a vida dos
cristãos
a partir da verdade de Deus, dando testemunho em seu interior, visto que Ele
não
fala de si mesmo, mas sim de Cristo.
3.2 TÍTULOS DESCRITIVOS DO ESPÍRITO SANTO QUE
REVELAM E PROVAM SUA DIVINDADE
Franklin Ferreira (2007, p. 677) afirma que a expressão “Espírito de Deus”
é encontrada nas Escrituras onze vezes. “Espírito do Senhor”, vinte vezes, e
“Espírito Santo”, três vezes. Por 16 vezes o Espírito Santo é relacionado aos
outros
membros da Trindade pelo nome.
a) Em relação ao Pai, Ele é chamado de Espírito de Deus (ROMANOS 8:14), e
Espírito do Pai. (MATEUS 10:20).
b) Em relação ao Filho, Ele é chamado de Espírito de Cristo (ROMANOS 8:9),
e
Espírito do Senhor. (2 CORÍNTIOS 3:17).
Como muito bem escreveu Martin Lloyd-Jones (1998, p. 22):
O máximo da doutrina do Espírito, do ponto de vista prático,
experimental, é que meu corpo é o templo do Espírito Santo; de modo
que, o que quer que eu faça, aonde quer que eu vá, o Espírito Santo
está em mim. Não conheço nada que promova tanto a santificação
e a santidade como a conscientização deste fato. Bastaria que
compreendêssemos, sempre, que em tudo quanto realizamos com
nosso corpo, o Espírito Santo está envolvido! Lembrem também de que
Paulo ensina isso no contexto de uma advertência contra a fornicação.
Ele escreve: “Acaso não sabem que o corpo de vocês é santuário do
Espírito Santo que habita em vocês, que lhes foi dado por Deus, e que
vocês não são de si mesmos?” (1 CORÍNTIOS 6:19). Eis a razão por
que a fornicação deve ser inconcebível num cristão. Deus está em nós,
através do Espírito Santo: não uma influência, não um poder, e sim,
uma Pessoa, a quem podemos entristecer.
TÓPICO 1 | A PERSONALIDADE DO ESPÍRITO SANTO
49
LEITURA COMPLEMENTAR
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ...
É o Espírito Santo que aplica na vida do indivíduo a salvação e conduz o
crente até alcançar a estatura completa de Cristo. Nesta obra do Espírito
podemos
destacar vários aspectos:
a) Convicção - convicção é convencimento intelectual. O Espírito Santo atua no
mundo, mediante a Palavra de Deus, e dá convicção quanto às realidades
espirituais proclamadas no Evangelho de Cristo, especialmente no tocante
ao pecado e à justiça divina. (JOÃO 16:8- 11). Significa que o Espírito coloca
a verdade diante da pessoa e atua no seu entendimento, iluminando-o, para
compreender a verdade e reconhecer que ela tem implicações vitais para a sua
vida. Ele trabalha não só com o pecador para ser salvo, mas coloca também
a verdade diante do cristão através das Escrituras para que ele cresça. (2
TIMÓTEO 3:16-17).
b) Regeneração – O Espírito dá vida espiritual ao crente e o santifica, unindo-o
a
Cristo. (JOÃO 3:6; EFÉSIOS 2:1; 1 CORÍNTIOS 6:11; TITO 3:5). Neste ato
regenerador, o crente é transformado moral e espiritualmente, e é colocado
no Corpo de Cristo, a Igreja, em sentido universal. (1 CORÍNTIOS 12:13; 1
PEDRO 2:4-5).
c) Habitação no crente – O Espírito Santo vem para o crente regenerado e
habita
nele. (JOÃO 14:16-17; 1 CORÍNTIOS 6:19; ROMANOS 8:9). No Antigo
Testamento, a relação do Espírito de Deus com os indivíduos crentes era, de
alguma forma, diferente do que acontece com os cristãos, após o Pentecostes.
Antes do derramamento do Espírito, ele já atuava nos servos de Deus,
capacitando-os para o desempenho de certas tarefas especiais, de interesse
no Reino de Deus. (GÊNESIS 41:38; ÊXODO 31:1; NÚMEROS 11:17 e 25;
JUÍZES 13:25), podendo ser algo temporário e provisório. (1 SAMUEL 16:14;
SALMO 51:11). No Novo Testamento, depois do cumprimento da promessa, o
Espírito Santo passou a habitar permanentemente no regenerado. Em nenhum
momento aquele que foi regenerado fica sem o Espírito (JOÃO 14:16-17;
ROMANOS 8:9; EFÉSIOS 1:13); mesmo aqueles que são cristãos, mas que
em momentos de fraquezas contemporizam com o pecado na vida, eles têm
o Espírito Santo (1 CORÍNTIOS 6:19), embora o entristecendo. (EFÉSIOS
4:30). A habitação do Espírito Santo no coração do cristão genuíno é um dom
gratuito de Deus. (ROMANOS 5:5).
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
50
d) Selo do Espírito – O Espírito Santo sela o regenerado no momento em que
ele
é unido a Cristo espiritualmente. (EFÉSIOS 1:13; 4:30; 2 CORÍNTIOS 1:22).
O selo indica que aquele indivíduo pertence a Deus, que ele tem a promessa
da
vida eterna garantida e está seguro eternamente. É por causa desta realidade
espiritual que o crente é exortado a desenvolver a sua vida de santidade.
(COLOSSENSES 3:1-10).
FONTE: AGUIAR SEVERA, Zacarias de. Manual de Teologia Sistemática.
Curitiba: A.D. Santos,
1999. p. 332-333.
51
RESUMO DO TÓPICO 1
O Espírito Santo aparece, pela primeira vez, nas Escrituras Sagradas,
em Gênesis 1:2. Porém, em Hebreus 9:14, Ele é chamado de “Espírito Eterno”,
mostrando que não tem começo nem fim de existência.
DoçSão as próprias Escrituras que especificamente asseveram a divindade
da Pessoa do Espírito. No incidente de Atos 5:3-4, envolvendo Ananias e
Safira,
o apóstolo Pedro lhes disse que eles não haviam mentido aos homens, e sim, a
Deus. Contudo, antes ele havia dito que eles haviam mentido ao Espírito
Santo.
Isto mostra que o Espírito Santo é Deus.
Como vimos, fomos selados, com o Espírito Santo de Deus, no momento
que cremos em Jesus para a salvação. No tempo do Novo Testamento, o selo
indicava posse e segurança. Portanto, a promessa do Espírito é a garantia para
o
cristão da certeza da sua salvação.
Não obstante, essa garantia concedida ao cristão – a consolidação da
salvação eterna – só é concretizada mediante a perseverança na fé cristã.
Esta,
opera através do amor, e a mensuração do amor de uma pessoa é aquilatada
pelo
grau de sua submissão aos mandamentos de Cristo Jesus.
O fato é que o amor do Pai é condicionado à nossa obediência à Sua
Palavra. A obra do Espírito Santo na vida do cristão é igualmente condicionada
à
nossa obediência aos preceitos do Senhor.
52
AUTOATIVIDADE
1 O que comprova que o Espírito Santo é uma Pessoa?
2 Cite três das evidências da Divindade do Espírito Santo.
3 No que consiste o SELO do Espírito Santo?
53
TÓPICO 2
O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
2 NO ANTIGO TESTAMENTO
2.1 NA CRIAÇÃO
O Espírito Santo, através de várias épocas, tem operado de forma
extraordinária, na história e na vida de pessoa. Ele esteve e trabalhou na
realização dos propósitos divinos desde o princípio; Ele agiu no tempo do
Antigo
Testamento, tanto quanto no Novo Testamento.
Millard Erickson (1997, p. 353) diz que o Antigo Testamento retrata o
Espírito Santo produzindo as qualidades morais e espirituais de santidade e
bondade na pessoa a quem chega ou em quem habita. Devemos notar, diz
Erickson
(1997, p. 354), que, embora em alguns casos essa obra interna do Espírito
Santo
pareça permanente, em outros casos, tal como no livro de Juízes, Sua
presença
parece intermitente e atrelada a uma atividade ou a um ministério específico
que
deve ser exercido.
Para Erickson (1997, p. 355), no testemunho do Antigo Testamento acerca
do Espírito, existe um anúncio de uma época em que o ministério do Espírito
será
mais completo.
A Bíblia atribui as obras de Deus, num sentido absoluto, a cada membro
da Trindade, tanto no aspecto individual como coletivamente. Cada uma das
três
Pessoas tem sua função específica, agindo em perfeita harmonia e cooperação
mútua em todo tempo. A Criação é um exemplo perfeito disto.
NOTA
“[...] o Espírito de Deus pairava por sobre as águas” (GÊNESIS 1:2), mostra o
papel
ativo do Espírito Santo na Criação, como uma ave que (“choca”) sustenta seus
filhotes e os
protege. Neste sentido, o termo “pairava” seria melhor traduzido como “se
movia”.
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
54
O escritor Raimundo de Oliveira (2001, p. 125) afirma:
Muito antes de o homem aparecer na terra e mesmo antes da terra
existir, o Espírito Santo já existia. A primeira parte de Gênesis 1:2
apresenta uma cena singular: a terra, uma massa informe, vazia e
escura. Foi então que um raio de esperança brilhou, iluminando-a,
antes mesmo que Deus ordenasse o aparecimento da luz. Lemos:
“E o Espírito de Deus pairava por sobre as águas”. Foi este aspecto
diferente o primeiro prenúncio da perfeição das obras do Criador.
O Espírito Santo, como integrante da Trindade Divina, criou e deu forma
a todas as coisas. Ele estava envolvido no planejamento geral do Universo,
participando na criação da terra (GÊNESIS 1:2), na criação da estrelas do céu
(SALMO 33:6), na criação dos animais (SALMO 104:30) e na criação do
homem
(JÓ 27:3;33:4).
2.2 NA HISTÓRIA DE ISRAEL
2.3 NOS PROFETAS
A Bíblia mostra que o Espírito Santo estava presente em toda nação,
ministrando e guiando o povo escolhido (NEEMIAS 9:20; ISAÍAS 63:10). De
modo mais específico, o Espírito Santo revestiu de poder homens como
Otoniel,
para julgar (JUÍZES 3:10); Gideão, para liderar (JUÍZES 6:34); Sansão, para
vencer adversários (JUÍZES 14:16, 19; 15:14), Elias e Eliseu, para profetizar (1
REIS 18:12; 2 REIS 2:19) etc.
Os registros do Antigo Testamento têm como pano de fundo a história
de Israel. Ali encontramos inúmeras evidências do Espírito Santo inspirando e
qualificando os homens e mulheres para as suas tarefas oficiais, até mesmo
nas
áreas da ciência e das artes. (ÊXODO 28:3; 31:2-3; 1 SAMUEL 11:6; 16:13-
14).
No Antigo Testamento, várias pessoas experimentaram a unção e
capacitação especial do Espírito Santo para desempenhar um serviço
específico.
Entre eles, estavam os profetas. A Bíblia diz que foi o Espírito Santo quem
inspirou
os profetas. (2 PEDRO 1:21).
A explicação de Alister MacGrath (2005, p. 429) é muito convincente:
O Antigo Testamento não esclarece muito sobre a forma como os
profetas eram inspirados, guiados ou motivados pelo Espírito Santo.
No período anterior ao exílio, a profecia é frequentemente associada
às experiências de êxtase espiritual ligadas a um comportamento
exaltado. (1 SAMUEL 10:6, 19-24). Entretanto, pouco a pouco a
atividade profética tornou-se algo relacionado à mensagem e não ao
comportamento, do profeta. As credenciais de profeta baseavam-se na
unção do Espírito (ISAIAS 61:1; EZEQUIEL 2:1-2; MIQUEIAS 3.8),
que por sua vez autenticava a mensagem do profeta – uma mensagem
normalmente descrita como ‘a palavra (dabhar) do Senhor’.
TÓPICO 2 | O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS
55
3 NO NOVO TESTAMENTO
3.1 NOS QUATRO EVANGELHOS
A revelação do Espírito Santo como uma pessoa, e não apenas como uma
força, é evidente no Novo Testamento. Uma prova disto é a questão do pecado
contra o Espírito Santo, em Marcos 3:28-30. (FERREIRA, 2007, p. 681). De
fato,
o Novo Testamento trata de forma especial do ministério do Espírito. Alguns
aspectos nunca foram mencionados no Antigo Testamento.
Como disse o professor Zacarias de Aguiar Severa (1999, p. 318), nos
Evangelhos, a atuação do Espírito Santo aparece especialmente relacionada à
vida e ao ministério de Jesus. Foi o Espírito Santo quem gerou Jesus no útero
da
virgem Maria, resultando na encarnação. (LUCAS 1:35). O Espírito Santo ungiu
Jesus com poder, relacionamento este que Jesus desfrutou por toda vida, no
exercício de Seu ministério, especialmente na pregação das boas novas do
Reino
de Deus e na realização de milagres. (LUCAS 4:18-19).
Concordo com o professor Zacarias de Aguiar Severa (1999, p. 318),
quando afirma:
Nessa época, o Espírito Santo atuava também na vida e no ministério
de João Batista (LUCAS 1:15) e nos discípulos de Jesus. (JOÃO
14:17). Quer dizer, o Espírito não estava restrito ao Filho de Deus. Ele
continuava com suas operações gerais no mundo, como no Antigo
Testamento, mas manifestou-se sobremodo na vida e no ministério de
Jesus.
3.2 NOS ATOS DOS APÓSTOLOS
Houve o derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes que
batizou com fogo os primeiros discípulos de Jesus (ATOS 2:1-8); distribuiu-lhes
dons espirituais, bem como capacitação espiritual para o serviço (ATOS
2:22,36;
5:4-53), e orientou-lhes neste serviço (ATOS 16:6-7) etc.
O Pentecostes, registrado em Atos 2, foi o estabelecimento da Igreja
de Cristo. Jesus já havia esclarecido os discípulos a esse respeito. Agora, eles
compreenderam que juntos formavam um corpo espiritual em Cristo,
constituíram
uma nova comunidade, que se tornou a igreja visível no mundo, da qual
fazemos
parte.
Como afirma Max Anders (2001, p. 85):
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
56
3.3 NAS EPÍSTOLAS
[...] No Antigo Testamento, Deus escolheu a nação de Israel para
receber sua mensagem de salvação e levá-la ao mundo. (SALMO 67).
No Novo Testamento, Deus escolheu a igreja para essa elevada tarefa.
É fácil identificar Israel – todos os descendentes de Abraão, mais os
que se converteram ao judaísmo. É um pouco mais difícil identificar a
igreja – a totalidade de todos os crentes em Jesus. Quando uma pessoa
se torna cristã, automaticamente se torna membro da Igreja. Foi à
Igreja que Deus deu a mensagem de salvação do Novo Testamento, e
é pelo poder do Espírito Santo que ela leva essa mensagem aos confins
da terra.
No primeiro século da era cristã, à medida que o Evangelho se expandia,
as igrejas se multiplicavam e as dificuldades enfrentadas pelos cristãos
também
eram cada vez maiores. Por isso, muitas cartas (epístolas) foram escritas, a fim
de orientar os cristãos acerca de questões relacionadas às heresias,
perseguições,
contendas e aflições.
O ministério do Espírito Santo nas epístolas se expressa na intercessão
(ROMANOS 8:26), na manifestação e uso dos dons espirituais (1 CORÍNTIOS
12:1-12), na transformação espiritual dos cristãos (2 CORÍNTIOS 3:18), na
regeneração interior do pecador (1 PEDRO 1:23), na manifestação do fruto do
Espírito na vida cotidiana (GÁLATAS 5:22) etc.
O maravilhoso derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes
inaugurou um novo tempo para a humanidade feita à imagem e semelhança de
Deus. Parte do plano redentor de Deus havia sido colocada em prática, quando
a graça de Deus se manifestou através da encarnação de Jesus Cristo,
atingindo,
assim, o clímax na sua morte e ressurreição. Mas, a segunda parte do plano
estava
ligada ao derramamento do Espírito Santo no Pentecostes.
Vejamos o excelente comentário de French Arrington (2003):
A era do Espírito Santo foi predita há muito tempo pelos profetas: ‘Isto
é o que foi dito pelo profeta Joel’. (ATOS 2:16). No Antigo Testamento,
só algumas pessoas experimentaram o Espírito. Do dia de Pentecostes
em diante, Deus torna disponível a todos os Seus filhos a plenitude
do Espírito. O poder carismático do Espírito já não está limitado aos
líderes do povo de Deus. Fundamentando sua mensagem na profecia
de Joel, Pedro promete que o derramamento do Espírito é para ‘toda
a carne’. É de escopo universal – sobre jovens e velhos, sobre filhas e
filhos, até sobre os de posição social menos favorecida, tanto homens
quanto mulheres... o cumprimento inicial da promessa de Joel (Jl 2:28)
no dia de Pentecostes batiza os discípulos para um ministério profético
de dar testemunho da obra salvadora de Cristo.
TÓPICO 2 | O ESPÍRITO SANTO NAS ESCRITURAS
57
LEITURA COMPLEMENTAR
Podemos definir a obra do Espírito Santo como segue: a obra do Espírito
Santo consiste em manifestar a presença ativa de Deus no mundo e em
especial na
igreja. Essa definição indica que o Espírito Santo é o membro da Trindade que
as
Escrituras com mais frequência representam como aquele que está presente
para
fazer a obra de Deus no mundo. Embora isso seja real até certo ponto através
de
toda a Bíblia, é particularmente verdadeiro na era da Nova Aliança. No Antigo
Testamento, a presença de Deus muitas vezes foi manifestada na glória de
Deus
e nas teofanias; nos evangelhos o próprio Jesus manifestou a presença de
Deus
entre os homens. Mas depois que Jesus subiu ao céu, e de contínuo através
de
toda a Era da igreja, o Espírito Santo é agora a principal manifestação da
presença
da Trindade entre nós. Ele é o que está presente de modo mais proeminente
entre
nós agora.
Desde o princípio da criação, temos indícios de que a obra do Espírito
consiste em completar e sustentar o que Deus Pai planejou e o que Deus Filho
começou, pois em Gênesis 1:2, “o Espírito de Deus pairava por sobre as
águas”.
No Pentecostes, com o início da nova criação em Cristo, é o Espírito Santo
quem
vem conceder poder à igreja. (ATOS 1:8; 2:4). Como o Espírito Santo é a
pessoa
da Trindade por meio de quem Deus manifesta de modo particular sua
presença
na era da nova aliança, Paulo emprega uma expressão adequada ao referir-se
a
ele como “primeiros frutos” (ROMANOS 8:23, NVI) e “garantia” ou “penhor”,
(2 CORÍNTIOS 1:22; 5:5) da plena manifestação da presença de Deus que
conheceremos no novo céu e na nova terra. (cf. APOCALIPSE 21:3-4).
FONTE: GRUDEN, Wayne. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2006.
p. 530.
58
RESUMO DO TÓPICO 2
O Espírito Santo foi atuante em toda a Bíblia. Da mesma maneira que Ele
revelou a verdade de Deus, às pessoas no Antigo Testamento, também fez no
Novo Testamento, dando visões e sonhos às pessoas (ATOS 10:1-20),
revelando
profecias e Escrituras que guiaram os escritores do Novo Testamento. (2
PEDRO
1:21; 3:15-16; 1 TIMÓTEO 3:16-17).
É curioso observar que a terceira Pessoa da Trindade é mencionada no
Antigo Testamento sem o adjetivo “Santo”. Todavia, Ele participou ativamente
na criação; esteve presente milagrosamente na vida e ministério dos primeiros
governantes de Israel, os Juízes, e posteriormente na vida dos reis de Israel e
Judá. No Novo Testamento, o Espírito Santo foi agente na concepção de Jesus
no
ventre de Maria; estava presente de forma sobrenatural na vida e ministério de
Jesus e agiu sobrenaturalmente por meio dos apóstolos.
59
AUTOATIVIDADE
1 O que quer dizer “... o Espírito de Deus pairava por sobre as águas?”
2 Qual é o principal destaque da ação do Espírito Santo nos Atos dos
apóstolos?
3 Qual a diferença da manifestação do Espírito Santo no Antigo e no Novo
Testamento?
60
61
TÓPICO 3
A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA
VIDA CRISTÃ
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
A obra do Espírito na vida do cristão destina-se a levá-lo, dia a dia, cada
vez mais, a uma identificação maior com a Pessoa de Jesus Cristo.
O Espírito Santo “habita” (ou “mora”) no interior de todo verdadeiro
cristão. Aliás, a ausência do Espírito Santo no interior da pessoa mostra que
ela
não é salva em Jesus Cristo. A Bíblia diz que não ter o Espírito Santo significa
não pertencer a Jesus Cristo: “Quem é dominado pela carne não pode agradar
a
Deus”. (ROMANOS 8:9).
Charles Ryrie (2003, p. 414) deu uma boa explicação da relação entre a
unção e habitação. No Antigo Testamento, a unção era um assunto solene,
pois
fazia com que algo ou alguém fosse santificado e sacrossanto. (ÊXODO 40:9-
15).
Sua associação com o Espírito Santo indicava a capacitação para o serviço
[...].
O Novo Testamento ensina claramente que todos os cristãos são habitados
pelo
Espírito Santo [...]. Isso deveria nos dar:
a) sensação de segurança em nosso relacionamento com Deus;
b) motivação para praticar a presença de Deus; e
c) sensibilidade aos pecados que possamos cometer contra Deus.
DICAS
Caro acadêmico(a)! Leia o livro Na Dinâmica do Espírito. J.I. Packer apresenta
uma análise bastante sólida e imparcial das várias linhas e tendências dos
movimentos
que enfatizam a Pessoa e a obra do Espírito Santo. O autor procura
estabelecer um juízo
equilibrado.
62
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
2 A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NO HOMEM
2.1 EM RELAÇÃO AOS DESCRENTES
O Espírito Santo não só está presente no mundo e no homem, mas atua
para a realização dos seus propósitos, que veremos a seguir.
É o Espírito Santo quem convence o homem do pecado, da justiça e do
juízo. (JOÃO 16:8). O capítulo 16 de João atribui ao Espírito Santo ainda outras
qualidades e atividades:
a) “Guiará” (v. 13). O Espírito Santo nos “guiará” à verdade bíblica revelada que
edifica a vida e dignifica a conduta cristã.
b) “Falará” (v. 13). O Espírito Santo não “falará” de si mesmo, mas de tudo
quanto
foi revelado por Deus, o Pai, na Sua Palavra.
c) “Glorificará” (v. 14). O Espírito Santo, como parte integrante da Trindade,
exerce o papel divino de glorificar a Pessoa de Jesus Cristo.
Estes termos, além de indicar que o Espírito Santo é uma pessoa, apontam
para a obra d’Ele na vida dos homens. Tomemos apenas o primeiro termo
(“convencerá”), para analisarmos cada uma das três expressões que vêm na
sequência do texto: “Quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da
justiça
e do juízo. Do pecado, porque os homens não creem em mim; da justiça,
porque
vou para o Pai, e vocês não me verão mais; e do juízo, porque o príncipe deste
mundo já está condenado”. (JOÃO 16.-8-11, grifo do autor).
a) O Espírito Santo convence ou torna o homem consciente do pecado da
incredulidade, pois o pior de todos os pecados é a falta de fé em Deus.
b) O Espírito Santo convence em relação à bondade de Cristo, pois o preço da
justiça foi pago na cruz por todos os pecados, inclusive pela falta de fé em
Deus.
c) O Espírito Santo convence do juízo vindouro, pois o caminho da
desobediência
leva à morte, mas o caminho da obediência leva à vida.
NOTA
O convencer é obra do Espírito Santo, mas o converter é do ser humano. A
responsabilidade é absolutamente pessoal. É render-se à transformação do
nosso caráter
mediante a santificação efetuada pelo Espírito Santo em nosso homem interior.
TÓPICO 3 | A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ
63
Falando sobre a graça comum, ligada à Pessoa do Espírito Santo, o teólogo
Charles Hodge (2001, p. 396), escreveu:
A graça comum é a influência restritiva e persuasiva do Espírito Santo,
operando somente por meio das verdades reveladas no Evangelho,
ou por meio da luz natural da razão e da consciência, aumentando o
natural efeito moral dessas verdades sobre o coração, a inteligência e
a consciência. Não envolve mudança do coração, e, sim, unicamente
aumento do poder natural da verdade, uma ação restritiva das más
paixões e aumento das emoções naturais em face do pecado, do dever
e do interesse próprio.
2.2 EM RELAÇÃO AOS CRISTÃOS
O Espírito Santo guia o cristão em toda verdade. (JOÃO 16:13). Isto
acontece de três formas básicas:
a) Através da Igreja. (ATOS 13:1-4). Os cultos de adoração a Deus, os
programas de
educação cristã, os trabalhos missionários e os testemunhos de transformação
pessoal são algumas das formas pelas quais o Espírito nos guia em toda
verdade.
b) Através da Bíblia. (2 TIMÓTEO 3:15). A Bíblia é o livro de Deus inspirado
pelo Espírito Santo. Quando lemos a Bíblia, é o Espírito Santo quem nos ajuda
a entendê-la. Somente pelo Espírito de Deus podemos desvendar os mistérios
da Palavra de Deus.
Neste ponto, vale a pena observar o que Stanley Horton (2004, p. 402)
disse:
O conhecimento intelectual da Bíblia não é o conhecer a Deus. Muitos
teólogos e comentaristas da Bíblia – os quais conheci pessoalmente ou apenas
através de seus escritos – sabem mais a respeito da religião, história da Igreja,
conteúdo da Bíblia e teologia, do que muitos que se definem como cristãos.
Mesmo assim, nunca reconheceram a reivindicação do Espírito Santo nas suas
vidas, nem se renderam a Ele. Não têm nenhuma experiência de Deus em
suas
vidas. Acreditam que, se eles não tiveram nenhuma experiência com Deus, não
é
possível que outra pessoa pudesse ter.
c) Através da consciência. (ROMANOS 2:15). É através da consciência que
chegamos a discernir entre o certo e o errado. Mas, devido à influência do
pecado, nossos padrões de conduta nem sempre estão de acordo com as
normas morais e espirituais estabelecidas por Deus em Sua Palavra - a Bíblia.
É aí que o Espírito Santo opera. Ele age sobre nossa consciência,
restaurandolhe a sensibilidade perdida, à medida que damos liberdade para
isso. Mas, o
processo não é tão simples como parece: temos que educar nossa consciência
para ouvir a Deus, sendo submissos a Ele.
64
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
3 A PLENITUDE DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA DO CRISTÃO
3.1 A PROMESSA DO DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO
O Espírito Santo é uma pessoa real. Portanto, chegue-se para Ele e diga:
Espírito Santo, é motivo de alegria tê-lo comigo como companheiro, mestre,
guia
e intercessor.
A obra do Espírito Santo era perceptível no Antigo Testamento, em
várias atividades descritas pelas Escrituras. Mas, havia uma promessa de um
derramamento especial do Espírito. (JOEL 2:28-32; ISAÍAS 32:15; 44:3). Estes
textos revelam que o derramamento do Espírito Santo seria uma bênção do
alto
que traria abundância de alegria, conforto, revestimento de poder e autoridade
para testemunhar as maravilhas de Deus.
Esta promessa maravilhosa se cumpriu no advento do PENTECOSTES,
em Atos 2.
NOTA

O PENTECOSTES era a segunda maior e mais importante festa anual do


calendário judaico, conhecida também como festa das semanas, observada
cinquenta dias
depois da Páscoa (LEVÍTICO 23:5-10), onde as primícias da colheita eram
apresentadas ao
Senhor.
3.2 O DERRAMAMENTO DO ESPÍRITO SANTO
Foi no primeiro Pentecostes após a morte, ressurreição e ascensão de
Jesus que se cumpriu a promessa do derramamento do Espírito. Deus usou
estrategicamente o advento do Pentecostes para cumprir Sua promessa do
derramamento do Espírito Santo. Em Atos 2:3-4, a vinda do Espírito Santo foi
manifestada pelo revestimento de poder ou batismo com o Espírito Santo, cuja
evidência inicial e física deste batismo foi o falar em línguas estranhas, sinal
externo bem evidente e audível, como demonstração de que haviam, de fato,
recebido o Espírito Santo. Esta unção ou virtude do Espírito Santo concede aos
cristãos poder não apenas sobre o pecado, mas também para testemunhar das
boas novas sobre Jesus Cristo.
Como muito bem escreveu Packer (2008, p. 11):
TÓPICO 3 | A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ
65
Estudar a obra do Espírito Santo é uma aventura temerosa para
qualquer pessoa que conheça, mesmo de segunda mão, o que o Espírito
pode fazer. Em 1908, alguns missionários na Manchúria escreveram
para seu país o seguinte: começou a manifestar-se na igreja um poder
que não poderíamos controlar, mesmo que quiséssemos, é um milagre
o impassível e comedido João chinês deixar a sua maneira de ser para
confessar pecados que nenhuma tortura da polícia poderia forçá-lo
a expressar; o fato de um chinês humilhar-se ao ponto de implorar,
chorando, as orações dos seus irmãos na fé,é coisa que está além de
qualquer explicação humana.Talvez vocês digam que é uma espécie de
histeria religiosa. Nós também dissemos o mesmo...Mas aqui estamos
nós, cerca de 60 presbiterianos escoceses e irlandeses que o vimos –
com todas as nuanças de temperamento - e, embora muitos de nós a
princípio tenhamos recuado desta manifestação, todas as pessoas que
ouviram e viram o que temos experimentado, todos os dias da semana
passada, estão certas de que existe apenas uma explicação – que é o
Espírito Santo de Deus manifestando-se...Uma cláusula do credo que
está bem viva diante de nós agora, em toda a sua solenidade tremenda,
é: “Creio no Espírito Santo”.
Afinal, qual é a finalidade do derramamento do Espírito Santo na vida
dos cristãos? À luz das seguintes passagens (1 CORÍNTIOS 12:7; ATOS 18:9-
11;
1 CORÍNTIOS 14:4), podemos enumerar pelo menos três:
l capacitação para o serviço cristão;
l novo dimensionamento espiritual;
l aprofundamento da comunhão com Deus.
3.3 BATIZADOS NO CORPO DE CRISTO
“Pois em um só corpo todos nós fomos batizados em um único Espírito:
quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres. E a todos nós foi dado
beber
de um único Espírito”. (1 CORÍNTIOS 12:13). Este texto não está se referindo
ao batismo em água, nem ao batismo no Espírito Santo. Refere-se ao batismo
do
cristão no Corpo de Cristo – a Igreja. A expressão “todos nós fomos batizados”
indica uma ação passada, que ocorre uma única vez, por ocasião da nossa
conversão a Cristo.
NOTA
A palavra BATISMO significa “imergir” ou “submergir”, ou mergulhar por inteiro.
O que é chamado de o batismo pelo Espírito – não no Espírito, consiste na
união do cristão
individualmente ao Corpo de Cristo e, assim, ao próprio Cristo como o Cabeça
do Corpo.
66
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
A descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes foi para formar a Igreja
como o corpo místico de Cristo. Durante o ministério de Jesus, a Igreja, como
seu corpo, não havia sido formada. Mas, depois da Sua ascensão, o Cabeça
do
Corpo - Jesus, enviou Seu Espírito para o Corpo e sobre ele. Assim, portanto,
no
dia do Pentecostes, a igreja foi inaugurada publicamente, como uma só
unidade
espiritual. É isto que Paulo está afirmando em 1 Coríntios 12:13: “batizados em
um só corpo”.
3.4 DEIXANDO-SE ENCHER DO ESPÍRITO SANTO
Efésios 5:18-21 é o texto bíblico de abordagem teológica mais utilizada
para explicar o que vem ser a plenitude do Espírito Santo na vida do cristão.
A frase chave nesta passagem, está no versículo 18: “deixem-se encher
pelo Espírito”. No grego, esta declaração está no imperativo e na voz reflexiva,
ou
seja: quando o sujeito pratica a ação. Isto significa que temos por
responsabilidade
pessoal render-nos ao domínio do Espírito Santo, para sermos cheios de Seu
poder e sabedoria.
Vale a pena ressaltar que o tempo do verbo “encher” é presente contínuo,
indicando que esta ação deve ser permanente e constante. Os versículos 19 a
21
mostram os resultados ou consequências diretas de quem está cheio do
Espírito
Santo: boca e coração cheios de coisas que edificam; sabedoria do alto
regendo o
seu agir em qualquer situação:
l Nas relações interpessoais (v. 21).
l No lar (vv. 21-25).
3.5 SÍMBOLOS ATRIBUÍDOS AO ESPÍRITO SANTO E SUA
OPERAÇÃO NA VIDA DO CRISTÃO
Muitos símbolos são utilizados na Bíblia com o propósito de revelar a
magnitude das manifestações do Espírito.
NOTA
Um SÍMBOLO consiste numa figura, objeto, número ou emblema, cuja imagem
representa uma verdade moral ou religiosa.
TÓPICO 3 | A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ
67
3.6 DONS ESPIRITUAIS E A VIDA CRISTÃ
A Bíblia exorta os cristãos para não serem ignorantes acerca dos dons
espirituais: “Irmãos, quanto aos dons espirituais, não quero que vocês sejam
ignorantes”. (1 CORÍNTIOS 12:1). Todo cristão tem a responsabilidade de
procurar conhecer, zelar e ser abundante nos dons espirituais. (1 CORÍNTIOS
14:1; 1 CORÍNTIOS 14:12).
Os símbolos do Espírito Santo mais conhecidos são:
a) Óleo – que expressa o conceito de iluminação, unção e conforto. (LUCAS
4:18; HEBREUS 1:9; ATOS 10:38).
b) Água – que expressa o conceito de purificação, santificação e revitalização.
(ISAÍAS 44:3; JOÃO 4:14; 7:38).
c) Fogo – que expressa o conceito de purificação, juízo e presença divina.
(MATEUS 3:11; ATOS 2:3).
d) Vento – que expressa o conceito de movimento e poder de Deus. (JOÃO
3:8;
20:22; ATOS 2:2).
e) Pomba – que expressa o conceito de ternura, tranquilidade e segurança.
(JOÃO 1:32 e 33; LUCAS 3:22).
f) Selo – que expressa o conceito de propriedade, direito e autoridade. (1
CORÍNTIOS 1:21-22; EFÉSIOS 1:13-14).
NOTA
Veja, no quadro a seguir, as três listas de dons espirituais mais completas
na Bíblia:
1 Coríntios 12:8-11 Romanos 12:6-8 Efésios 4:11
1. Palavra de sabedoria
2. Palavra de conhecimento
3. Fé
4. Dons de curar
5. Operar milagres
6. Profecia
7. Discernimento de espíritos
8. Variedades de línguas
9. Interpretações de línguas
10. Apóstolos
11. Profetas
12. Mestres
13. Prestar ajuda
14. Administração
1. Profecia
2. Serviço
3. Ensino
4. Encorajamento
5. Contribuir
6. Liderança
7. Misericórdia
1. Apóstolos
2. Profetas
3. Evangelistas
4. Pastores
5. Mestres
QUADRO 1 – DONS ESPIRITUAIS
FONTE: O Autor
Nenhuma destas listas de dons é completa. Como disse o professor
Zacarias de Aguiar Severa (1999, p. 342), “nem todas as listas juntas
abrangem
todos os dons que o Espírito pode conferir aos crentes”. Portanto, estudar os
dons
do Espírito Santo é tarefa de suma importância para todo cristão. Afinal, são os
dons os elementos capacitadores do cristão para que ele realize a sua missão
na
força e no poder do Espírito.
A função, portanto, dos dons espirituais é dotar o cristão e, por conseguinte,
a Igreja de Jesus, de poderes sobrenaturais, tendo em vista a edificação e o
cumprimento de sua missão na terra de forma eficaz.
3.7 FRUTO DO ESPÍRITO E O CRISTÃO
“Mas o fruto do Espírito é amor, alegria, paz, paciência, amabilidade,
bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio [...]” (GÁLATAS 5:22-23).
Estes frutos são tributos do caráter de Cristo. O fruto do Espírito Santo é a
expressão do caráter de Cristo, produzido no cristão pelo Espírito, para que o
mundo veja isso e glorifique a Deus. Portanto, uma vida frutífera em Deus é
uma
vida controlada pelo Espírito, em maturidade e equilíbrio cristão.
TÓPICO 3 | A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ
69
O termo grego para fruto é karpos, que tanto pode significar “o fruto” como
“dar fruto” ou “ser frutífero”. É indispensável fazermos distinção entre dons do
Espírito e o fruto do Espírito. Ou seja: os dons são dados, o fruto é produzido;
os
dons vêm do alto; o fruto vem do interior; os dons vêm perfeitos; o fruto requer
tempo para amadurecer; os dons falam de serviço; o fruto fala de caráter; os
dons
terminarão um dia, o fruto continuará para sempre.
3.8 PECADOS CONTRA O ESPÍRITO SANTO
“Por esse motivo eu lhes digo: Todo pecado e blasfêmia serão perdoados
aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada”. (MATEUS
12:31).
O pecado contra o Espírito Santo mais conhecido é a “BLASFÊMIA”.
NOTA
BLASFÊMIA (do Gr. blasphêmia, ofensa ou calúnia). A “blasfêmia” contra o
Espírito Santo consiste em dizer palavras ofensivas e desrespeitosas contra a
terceira Pessoa
da Trindade.
Blasfêmia contra o Espírito Santo é quando uma pessoa conhecedora da
Verdade de Deus adentra-se na apostasia pessoal, afirmando que Jesus Cristo
não
é o Messias (Cristo, Ungido).
Mas, há outros pecados contra o Espírito de Deus:
l Resistir contra o Espírito Santo, como fez o povo de Israel, numa
rejeição
contínua, persistente e sistemática da verdade: “Povo rebelde, obstinado de
coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre
resistem
ao Espírito Santo!” (ATOS 7:51). Mas, nem todos que assim agem, blasfemam
explicitamente contra o Espírito Santo.
l Entristecer o Espírito Santo, ou opor-se a Ele: “Não entristeçam o
Espírito
Santo de Deus, com o qual vocês foram selados para o dia da redenção”.
(EFÉSIOS 4:30).
A Blasfêmia contra o Espírito Santo é imperdoável, porque é uma atitude
de desprezo, consciente e taxativa ao único Ser, em todo o Universo, que pode
convencê-lo do pecado, da justiça e do juízo.
70
UNIDADE 2 | DOUTRINA BÍBLICA DO ESPÍRITO SANTO
LEITURA COMPLEMENTAR
Sem dúvida alguma, o pentecostalismo moderno é uma reação contra a
esterilidade que começou a caracterizar as igrejas estabelecidas na era
moderna.
Enfatiza o batismo no Espírito Santo como uma segunda obra da graça que
nos
concede poder e que promove o retorno à experiência de todos os dons
concedidos
e utilizados na época do Novo Testamento... Assim, no decorrer da história da
Igreja, é possível vislumbrar a formulação do que passou a ser conhecido como
doutrina ortodoxa da Pessoa do Espírito, depois disso definido pela Igreja
primitiva e desenvolvida durante a Reforma. Como em toda tentativa de definir
ou de desenvolver a verdade, alguns movimentos distanciaram-se dela, seja de
forma racionalista e fria, seja com entusiasmo desequilibrado e misticismo. A
história deveria nos ensinar que a doutrina ortodoxa não é apenas importante
para a fé, mas igualmente vital para a vida. Talvez em nenhuma doutrina esse
casamento de verdade e vida seja mais importante do que na doutrina do
Espírito
Santo.
FONTE: RYRIE, Charles C. Teologia Básica. São Paulo: Mundo Cristão 2004.
p. 452.
71
RESUMO DO TÓPICO 3
A promessa foi cumprida no dia do Pentecostes, quando o Espírito Santo
inaugurou o seu ministério entre os homens. Hoje, e enquanto a época da
graça
existir, o Espírito Santo estará conosco, ajudando-nos em nossas fraquezas e
limitações.
O Espírito Santo é uma Pessoa divina, que distribui inúmeras bênçãos
espirituais aos filhos de Deus. Ele cria e dá vida. Reprova e consola. Ajuda-nos
em nossas fraquezas. Nomeia e comissiona os cristãos para o serviço no
Reino de
Deus.
72
1 Como provar biblicamente que o Espírito é uma Pessoa?
2 Qual é um dos resultados da plenitude do Espírito Santo na vida do cristão?
3 Qual a diferença básica entre dons e frutos do Espírito Santo?
AUTOATIVIDADE
73
UNIDADE 3
DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• explicar a realidade do pecado, como base da necessidade da realização do
plano da salvação;
• definir a natureza espiritual da salvação pela graça de Deus, mediante a fé
em Cristo Jesus;
• expor o processo da salvação e o seu alcance no tempo e no espaço.
Esta Unidade está dividida em três tópicos nos quais se apresentam os
conteúdos. Em cada tópico, você encontrará atividades para auxiliá-lo(a) na
compreensão dos conteúdos abordados.
TÓPICO 1 – A REALIDADE DO PECADO E A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
TÓPICO 2 – A NATUREZA DA SALVAÇÃO
TÓPICO 3 – A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
74
75
TÓPICO 1
A REALIDADE DO PECADO E A
NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Apesar do quadro sombrio resultante da proliferação do pecado no
mundo, desde o Éden, brilha a luz da esperança nas promessas divinas quanto
à
salvação que viria através do descendente da mulher, que esmagaria a cabeça
da
serpente (diabo), embora fosse por ele ferido.
“Porei inimizade entre você e a mulher, entre a sua descendência e
o descendente dela; este lhe ferirá a cabeça, e você lhe ferirá o calcanhar”.
(GÊNESIS 3:15).
A promessa do Salvador se cumpriu em Jesus Cristo, e a SALVAÇÃO
espiritual tornou possível, através do Seu sacrifício vicário (substitutivo) na cruz
do Calvário.
NOTA
SALVAÇÃO no grego sozo é traduzida também como “libertação” de um perigo
iminente e “preservação”. No sentido bíblico, a salvação espiritual é obtida pela
graça, que
é um dom gratuito e imerecido que o pecador recebe, mediante a fé na Pessoa
de Jesus.
O Antigo Testamento ensina que o “livramento (salvação) vem do Senhor”.
(SALMO 3:8). Qualquer sistema que tende a combinar a responsabilidade
humana com este empreendimento divino está errado. No Novo Testamento, o
texto de Efésios 2:8-10 relaciona as obras à salvação operada pela graça como
um efeito dela, e não uma causa: “Pois vocês são salvos pela graça, por meio
da
fé, e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não por obras, para que ninguém
se
glorie. Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos
boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
76
2 A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
2.1 A ORIGEM DO PECADO
A imagem de Deus no homem fez dele, originalmente, um filho de Deus.
E essa relação resultou nas características associadas à imagem e
semelhança
de Deus no homem. No entanto, assim como em um organismo sadio o vírus
se torna um fator de doença, da mesma forma a entrada do pecado no mundo,
através de Adão e Eva, desencadeou uma reação que modificou a história do
homem e da humanidade.
A Bíblia diz que o PECADO entrou no mundo através dos nossos primeiros
pais. Mas, esta é apenas parte da história, pois quando se analisa Gênesis
3:15,
percebe-se outro elemento envolvido – a serpente, que a Bíblia identifica como
sendo o próprio diabo. (APOCALIPSE 12:9; 20:2). Diabo (do grego, diabolos)
significa “caluniador, agente do mal e inimigo de Deus. Outro dos seus nomes
é
“Satanás” (adversário).
NOTA
PECADO (do grego, hamartios) significa “transgressão” deliberada e
consciente
das leis estabelecidas por Deus. A definição mais utilizada pelos cristãos é
“errar o alvo”
estabelecido por Deus ao homem, ou “desvio do rumo”.
O diabo é a causa primária do pecado. Esta origem remonta à sua rebeldia
e queda, segundo o registro de Isaías 14:12-14:
Como você caiu dos céus, ó estrela da manhã, filho da alvorada! Como
foi atirado à terra, você, que derrubava as nações! Você, que dizia no
seu coração: ‘Subirei aos céus; erguerei o meu trono acima das estrelas
de Deus; eu me assentarei no monte da assembleia, no ponto mais
elevado do monte santo. Subirei mais alto que as mais altas nuvens;
serei como o Altíssimo.
A passagem de Ezequiel 28:13-16 também descreve a rebeldia e queda de
Satanás:
13 Você estava no Éden, no jardim de Deus; todas as pedras preciosas
o enfeitavam: sárdio, topázio e diamante, berilo, ônix e jaspe, safira,
carbúnculo e esmeralda. Seus engastes e guarnições eram feitos de
ouro; tudo foi preparado no dia em que você foi criado. 14 Você foi
ungido como um querubim guardião, pois para isso eu o designei.
Você estava no monte santo de Deus e caminhava entre as pedras
fulgurantes. 15 Você era inculpável em seus caminhos desde o dia em
TÓPICO 1 | A REALIDADE DO PECADO E A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
77
que foi criado até que se achou maldade em você. 16 Por meio do seu
amplo comércio, você encheu-se de violência e pecou. Por isso eu
o lancei, humilhado, para longe do monte de Deus, e o expulsei, ó
querubim guardião, do meio das pedras fulgurantes.
Tanto Isaías como Ezequiel descrevem o início de tudo, o momento em que
surge no coração, até ali puro, do “filho da alvorada” ou “querubim guardião”,
a centelha da tentação, então, por sua livre vontade optou pelo caminho da
transgressão (infringir, violar, quebrar a lei, passar dos limites). Sendo assim,
foi
destituído de suas funções celestiais e execrado eternamente.
Vale lembrar que esse ser foi criado por Deus, mas tinha o LIVREARBÍTRIO
como o homem também possui. Portanto, desde o Éden (o pecado
original), e através dos tempos, o diabo tem se utilizado de todos os meios para
corromper a humanidade. Gênesis é o melhor exemplo para se averiguar como
ele age para tentar o homem à desobediência a Deus.
NOTA
LIVRE-ARBÍTRIO é capacidade de escolher entre o bem e o mal. Ou seja, o
homem possui a liberdade de pensar ou agir tendo como única motivação a
sua vontade.
É a ideia que supõe que não existem causas externas suficientes para explicar
por que uma
pessoa age de certa maneira.
2.2 AS CONSEQUÊNCIAS DO PECADO
A desobediência de Adão e Eva no Éden resultou em consequências jamais
imaginadas por eles. O pecado os fez culpados, e sua culpa foi
automaticamente
imputada a toda a sua descendência. Isto é a universalidade do pecado: “Não

nenhum justo, nem um sequer”. (ROMANOS 3:10).
a) Separação de Deus: “Por isso o SENHOR Deus o mandou embora do jardim
do Éden para cultivar o solo do qual fora tirado. Depois de expulsar o homem,
colocou a leste do jardim do Éden querubins e uma espada flamejante que se
movia, guardando o caminho para a árvore da vida”. (GÊNESIS 3:23-24). Da
mesma forma que o diabo foi separado do Criador, por ocasião de sua queda,
assim o primeiro casal, que até ali mantinha uma relação íntima e pessoal com
Deus, viu-se separado de Deus por causa de seu pecado e consciente de sua
culpa.
Culpa é a convicção na consciência, pela violação da Lei. Juridicamente,
culpa é a intransigência da Lei, mediante negligência, ou imprudência, o que
caracteriza o crime culposo.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
78
b) Degradação do caráter: “O SENHOR viu que a perversidade do homem
tinha
aumentado na terra e que toda a inclinação dos pensamentos do seu coração
era sempre e somente para o mal”. (GÊNESIS 6:5; cf. ROMANOS 1:28-32).
O pecado atrai mais pecado. Cada vez que praticamos atos que sabemos
serem
errados (o pecado continuado), perdemos a noção da Verdade. Cada escolha
pecaminosa vai apagando a imagem de Deus em nós, chegando ao ponto do
homem ser pior em suas ações que os animais.
c) Atração da Ira Divina: “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus contra
toda
impiedade e injustiça dos homens que suprimem a verdade pela injustiça”.
(ROMANOS 1:18). Deus é santo. Ele estabeleceu normas ou leis e propósitos
santos para o homem. Quando o homem despreza estas leis, fatalmente atrairá
Sua Ira sobre si. Trata-se da penalidade ou punição do pecado, que é
inevitável.
O pecador passa a ter uma dívida para com Deus. O preço estipulado para
o pagamento desta dívida é muito alto: “O salário do pecado é a morte”.
(ROMANOS 6:23).
d) Infelicidade no viver: “Mas os ímpios são como o mar agitado, incapaz de
sossegar e cujas águas expelem lama e lodo. “Para os ímpios não há paz”,
diz o meu Deus”. (Isaías 57:20-21). Fomos criados para ter comunhão com o
Criador, e quando isso não acontece, perdemos totalmente a razão de viver.
Este é o motivo pelo qual o pecador nunca se satisfaz com o limite do seu
pecado.
e) Morte espiritual: “Pois o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de
Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor”. (ROMANOS 6:23). A
morte física é apenas parte do julgamento ou punição divina sobre o pecado. O
pecado trouxe também a morte espiritual, que é a separação de Deus.
f) Condenação Eterna: A Bíblia diz que, depois da morte (física), segue-se o
juízo.
(HEBREUS 9:27). Enquanto o pecador está em vida, tem oportunidade de
abandonar o pecado e voltar-se para Deus. Mas, depois da morte não há mais
oportunidade, ele estará condenado à “segunda morte” (APOCALIPSE 20),
que é a separação eterna de Deus.
Em seu comentário sobre a epístola aos Romanos 2:2-16, Elienai Cabral
(1998, p. 39), indica três meios pelos quais Deus julga os homens. Cabral diz
que
essa tríplice forma de juízo divino baseia-se no princípio da justiça universal,
que alcança todos os homens: judeus e gentios. Os judeus condenavam a
pecaminosidade e a idolatria dos gentios, e por isso consideravam ter
‘prerrogativa
moral’ para julgá-los, mas Paulo os coloca na mesma balança divina. Sabem
fazer
avaliações e distinções morais, mas não sabem aplicá-las à sua própria
experiência.
A seguir, veremos os três meios indicados por Cabral (1998, p. 39-41),
pelos quais Deus julga os homens:
TÓPICO 1 | A REALIDADE DO PECADO E A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
79
1) Deus julga através da verdade. (ROMANOS 2:2-5). “Bem sabemos que o
juízo de Deus é segundo a verdade” (v. 2). O que podemos entender nessa
declaração? O julgamento de Deus é instituído aqui em razão dos pecados do
PAGANISMO gentio e do falho MORALISMO dos judeus em condenar os
gentios. A questão do pecado é uma só para todos. Uma vez que tenha
pecado,
qualquer um incorre na condenação de Deus. Paulo declara que os gentios
pecaram (ROMANOS 1:18-32) e os judeus também [...] (ROMANOS 2:17-3,
8).
NOTA
PAGANISMO – Sistema religioso que desconhece a supremacia de Deus e
aceita como real a existência e a interferência de outros deuses nos negócios
humanos.
2) Deus julga conforme as obras de cada um. (ROMANOS 2:6-11). “Deus
retribuirá a cada um segundo o seu procedimento”. Esse princípio não é novo,
pois tanto o Antigo quanto o Novo Testamento estão repletos de referências
a esse princípio. (SALMO 62:12; PROVÉRBIOS 24:12; MATEUS 16:27; 1
CORÍNTIOS 3:8). Os judeus buscavam imunidade numa forma de ‘defesa
especial’, baseada no privilégio racial. Porém, essa pretensão é rejeitada pela
perfeita justiça divina que declara a sua culpabilidade. Deus é imparcial em
seu juízo sobre o pecador, e independe de privilégios ou outra razão qualquer,
pois cada homem será julgado por seus próprios atos. O homem é moralmente
responsável, por isso deve ser julgado conforme suas obras pessoais.
3) Deus julga conforme a Lei. (ROMANOS 2.12-16). Há dois tipos de leis que
regem o julgamento dos homens. Segundo o contexto, sugere que: “todos os
que pecaram sem lei” (v. 12), diz respeito aos gentios que desconheciam a lei
de Deus dada aos judeus; “todos os que com lei pecaram” (v. 12), refere-se
aos
judeus.
3 O PROPÓSITO ETERNO DE DEUS PARA A SALVAÇÃO
HUMANA
A motivação básica para salvação tem sua origem no grande amor de
Deus. Engana-se quem pensa que Deus foi tomado de surpresa com a queda
do
homem. Isto era simplesmente impossível, sendo Ele onisciente, conhecedor
de
todas as coisas, tanto no presente quanto no passado e futuro.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
80
3.1 O PROPÓSITO ETERNO DE DEUS
Porque Deus nos escolheu nele antes da criação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis em sua presença. Em amor nos predestinou
para sermos adotados como filhos, por meio de Jesus Cristo, conforme
o bom propósito da Sua vontade, para o louvor da Sua gloriosa graça,
a qual nos deu gratuitamente no Amado. N’ele temos a redenção por
meio de Seu sangue, o perdão dos pecados, de acordo com as riquezas
da graça de Deus. (EFÉSIOS 1:4-7).
Neste texto, aprendemos que a salvação do homem já fazia parte do
propósito divino, antes da criação do mundo. Ou seja, mesmo antes da criação
do
próprio homem.
Este texto também diz que Deus nos “escolheu” e “predestinou” soberana
e graciosamente antes do mundo existir, com o propósito de salvação. Observe
que a ideia de “predestinação” segue a presciência de Deus, como também
está
escrito em Romanos 8:29. “Pois aqueles que de antemão conheceu, também
os
predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que ele
seja o
primogênito entre muitos irmãos”.
Temos que sempre salientar que o Deus misericordioso, predestinou à
salvação da humanidade, para todos os homens. Todavia, concedeu-nos o
livrearbítrio, assim, quem optar em seguir a Jesus Cristo em obediência e
compromisso
fiel, torna-se salvo e filho de Deus.
Com base em Romanos 8:29, Wayne Gruden (2006, p. 312-313) diz:
A passagem fala [...] que Deus conhecia pessoas (“aqueles que de
antemão conheceu”) não que ele sabia de certos fatos a respeito delas,
como o fato de que elas haveriam de crer. É do conhecimento pessoal,
relacional que o texto trata aqui: Deus, olhando para o futuro, pensou
em certas pessoas relacionado-as salviticamente com ele e, nesse
sentido, ele as “conheceu” muito tempo atrás. [...] Quando pessoas
conhecem Deus na Escritura, ou quando Deus conhece pessoas, tratase do
conhecimento pessoal que envolve o relacionamento salvador.
Portanto, em Romanos 8:29, o significado correto de “aqueles que
de antemão conheceu” seria “muito tempo atrás aqueles de quem
ele pensou relacionando-se salviticamente consigo mesmo”. (cf.
ROMANOS 11:2). O texto realmente não diz nada a respeito de Deus
conhecer de antemão ou prever que certas pessoas haveriam de crer,
nem essa ideia é mencionada em qualquer outro texto da Escritura.
Deus não é limitado no tempo e no espaço como nós. Portanto, mediante
a Sua onisciência, Ele sabe tudo a respeito do passado, presente e futuro.
Mesmo sendo a salvação um grande mistério, oculto nos séculos até que
viesse a ser revelado na plenitude dos tempos, é importante observar que esse
processo só se tornou possível após a morte e ressurreição do Salvador Jesus
TÓPICO 1 | A REALIDADE DO PECADO E A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
81
Cristo: “E nos revelou o mistério da sua vontade, de acordo com o seu bom
propósito que ele estabeleceu em Cristo, isto é, de fazer convergir em Cristo
todas as coisas, celestiais ou terrenas, na dispensação da plenitude dos
tempos”.
(EFÉSIOS 1:10).
3.2 A REALIZAÇÃO DO PROPÓSITO ETERNO DE DEUS
“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens”.
(TITO 2:11). Para que o homem fosse redimido e restaurado à comunhão com
o
Criador, foi necessária a ENCARNAÇÃO da segunda Pessoa da Trindade
Divina
– o Filho de Deus. Pois, não havia entre os homens alguém (homem sem
pecado)
que pudesse morrer por todos. O Filho de Deus se sujeitou voluntariamente
aos
sofrimentos e morte na cruz, que tem valor infinito para todo aquele que crê. A
morte vicária de Jesus foi o preço pago por Deus para aplacar Sua justiça.
NOTA
ENCARNAÇÃO é a afirmação teológica segundo a qual, em Jesus, a Palavra
eterna de Deus (JOÃO 1:1 e 14), se manifestou em forma humana, para
executar o plano
redentivo de Deus.
No sofrimento e na morte na cruz, Jesus se tornou pecado por nós,
sofrendo toda a ira do Deus santo. Mathew Henry (2002, p. 791) foi muito feliz
ao
explicar que:
o pecador merecia morrer; portanto, o sacrifício tem de morrer. Ora,
sendo o sangue a vida, de tal maneira que, ordinariamente, animais
eram mortos para uso dos homens, esvaindo-se todo o seu sangue,
Deus designou a aspersão ou derramamento do sangue do sacrifício
no altar, para significar que a vida do sacrifício fora oferecida a Deus
em lugar da vida do pecador, como um resgate ou preço substituto
para isto.
Portanto, a morte de Cristo é substitutiva.
Resumindo, vejamos a salvação por meio de Cristo vista sob três
perspectivas:
a) Em relação a Deus-Pai e Deus-Filho: eles elegem, predestinam e chamam.
Berkhof (2007, p. 461) disse que nosso chamamento para a salvação em Cristo
consiste na apresentação e oferta da salvação aos pecadores, juntamente com
uma calorosa exortação a aceitarem Cristo pela fé.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
82
b) Em relação ao homem: ele se converte, arrepende-se e tem fé. No ato da
conversão, dois elementos andam juntos: arrependimento e fé. Quando
alguém se converte, é porque se arrependeu e creu; quando alguém crê, é
porque se arrependeu e se converteu; quando alguém se arrepende, de
maneira
verdadeira, ele chega à conversão e à fé.
c) Em relação ao Espírito Santo: ele convence o homem do pecado, da justiça
e
do juízo. O Espírito Santo contribui para a conversão do pecador, levando-o ao
arrependimento, animando-o a crer no grande amor de Deus e a aceitar Cristo
como Salvador pessoal.
TÓPICO 1 | A REALIDADE DO PECADO E A NECESSIDADE DE SALVAÇÃO
83
LEITURA COMPLEMENTAR
Um erro comum é considerar o pecado como substância. Mas, se o pecado
fosse uma substância ou coisa, então, sem dúvida, teria sido criado por Deus,
e,
assim sendo, seria essencialmente bom. Mestres cristãos, através dos séculos,
em
vista do ódio de Deus contra o pecado na Bíblia como um todo, tem rejeitado a
ideia de que o pecado tenha sua origem em Deus. Embora o pecado não seja
uma
substância, não significa que seja destituído de realidade. As trevas são
ausência
da luz. Embora o pecado e o mal sejam, algumas vezes, comparados com as
trevas, eles são mais que a mera ausência do bem. O pecado também é mais
que
um defeito. É uma força ativa, perniciosa e destruidora.
O que ensina a Bíblia sobre esse importante assunto? O ponto de vista
bíblico é que o pecado originou-se do abuso da liberdade concedida aos seres
criados, e equipados com o uso da vontade. Não foi Deus o criador do mal.
O mal é uma questão de relacionamento, e não algo provido de substância.
Basicamente, desconsidera a glória, a vontade e a Palavra de Deus. Rompe
com
a relação de obediência para com a fé em Deus, e toma a decisão de falhar
diante
d’Ele. Entretanto, por razões que são melhores conhecidas por Ele mesmo,
Deus
permitiu a possibilidade da falha moral. Existem certas coisas que Deus não
nos
revelou. A teologia especulativa procura investigá-las mediante a razão
humana.
Um exemplo disso é o escolasticismo, que dominou o pensamento da Europa
Ocidental entre os séculos IX e XVII. Combinava ensinos religiosos com
filosofias
humanas, principalmente as ideias de Agostinho e Aristóteles, e tentava dizer
mais do que Deus tencionou revelar.
A vontade é um importante corolário da personalidade racional. A ação
moral é aquilo que determina o caráter. E isso envolve um tremendo risco, o de
fracassar. Deus, ao prover espaço para a tomada de decisões livres e morais
aos
anjos e seres humanos que criou, teve de permitir a possibilidade do fracasso
em
algumas de suas criaturas. Sem essa possibilidade, não haveria liberdade
genuína
nem verdadeira personalidade...
FONTE: MENZIES, William; HORTON, Stanley. Doutrinas Bíblicas. Rio de
Janeiro: CPAD, 1995. p.
91-92.
84
O homem incrédulo vive distanciado de Deus, privado de Sua graça
salvadora e destinado à condenação eterna. É um escravizado pelo pecado
que
exalta e cultua o seu próprio eu, tornando-se refém do seu egoísmo (meu
bemestar, minha reputação, o que eu quero, meu direito), resultando numa
oposição
consciente e aberta contra o próprio Deus.
O mal é a quebra do bem. Deus permite essa quebra porquanto Sua justiça
é perfeita e, por isso, concede-nos o livre-arbítrio.
O fato é que a depravação moral está no mundo desde que o homem
rejeitou o seu Criador, entregando-se ao orgulho, egoísmo, altivez e rebeldia.
Por isso, necessita do Salvador. Somente a graça de Deus, em Cristo Jesus,
pode
redimi-lo.
RESUMO DO TÓPICO 1
85
1 O que está incluído da “imagem de Deus” nos seres humanos?
2 O que realmente a Bíblia ensina sobre a natureza do pecado e do mal?
3 O que sucedeu a Adão e Eva como resultado da transgressão deles e quais
os
efeitos deste pecado sobre a humanidade?
AUTOATIVIDADE
86
87
TÓPICO 2
A NATUREZA DA SALVAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
2 CARACTERÍSTICAS GERAIS DA SALVAÇÃO
2.1 A ORIGEM DA SALVAÇÃO É A GRAÇA DE DEUS
Já vimos como a Bíblia descreve a condição miserável do homem sem
Deus. Esta mesma Bíblia revela que há um escape: se esse homem perdido
receber
a Cristo como seu Salvador pessoal, ver-se-á livre das consequências eternas
do
pecado, pois somente Jesus Cristo pode salvá-lo.
Quando falamos da salvação, não tem como não falar da Pessoa de Jesus
Cristo. A Pessoa Divina que se fez carne. Como disse Martin Lloyd-Jones
(1997,
p. 328): “Ele tomou carne para Si mesmo e apareceu neste mundo,
semelhança ao
homem - não uma nova pessoa, mas essa Pessoa eterna”.
O termo grego traduzido como graça é “charis”. No contexto da doutrina
bíblica da salvação, charis é o dom ou favor imerecido de Deus, mediante o
qual
somos salvos por meio de Cristo. (cf. EFÉSIOS 1:7; 2:8). É a dádiva de Deus
aos
homens, capacitando-os a compreender, aceitar e usufruir, de imediato, o
plano
de salvação.
Nesta perspectiva, Thiessen (1987, p. 247) explica que,
como a humanidade está irremediavelmente morta em delitos e
pecados e nada pode fazer para obter salvação, Deus graciosamente
restaura a todos os homens a capacidade suficiente para fazer a escolha
na questão da submissão a Ele, esta é a graça salvadora de Deus que
apareceu a todos os homens. Em Sua presciência, Ele tem consciência
do que cada um vai fazer com esta capacidade restaurada, e, então,
elege os homens para a salvação em harmonia com o conhecimento da
escolha que fazem a respeito d’Ele.
88
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
2.2 O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO É O SANGUE DE
JESUS CRISTO
A Bíblia diz que “sem derramamento de sangue não há perdão” - ou
“remissão” de pecados. (HEBREUS 9:22). Por que Deus exigiu sangue como
pagamento pelo pecado? O pecado era uma afronta irreversível à santidade
de Deus. A única solução para o pecado era a punição com morte. No Antigo
Testamento, quando o sangue representando vida era derramado, significava
que uma vida tinha sido entregue. Todavia, o sangue dos animais sacrificados
apenas “cobria” o pecado, pois era uma instituição temporária e jamais poderia
tirar (remir) pecados: “Pois é impossível que o sangue de touros e bodes tire
pecados”. (HEBREUS 10:4).
Mas no Novo Testamento, o sangue imaculado de Jesus, o sacrifício único,
perfeito e insubstituível, fez a EXPIAÇÃO dos nossos pecados, satisfazendo,
assim, a justiça de Deus:
Ora, se o sangue de bodes e touros e as cinzas de uma novilha
espalhadas sobre os que estão cerimonialmente impuros os santificam,
de forma que se tornam exteriormente puros, quanto mais o sangue
de Cristo, que pelo Espírito eterno se ofereceu de forma imaculada a
Deus, purificará a nossa consciência de atos que levam à morte, para
que sirvamos ao Deus vivo! (HEBREUS 9:13-14; cf. 10:14).
NOTA
EXPIAÇÃO é a tradução da palavra hebraica kippur, que significa “cobrir com
um preço”.
Quais os resultados da obra de Cristo no Calvário? A este respeito Stanley
Horton (2004, p. 355) escreveu: desenvolvendo-se a partir do conceito de
sacrifício
vicário, encontramos o instituto da reconciliação. Assim como a expiação é a
causa,
a reconciliação é o efeito. Somos reconciliados com Deus pela cruz de Cristo:
“Se
quando éramos inimigos de Deus fomos reconciliados com ele mediante a
morte
de seu Filho, quanto mais agora, tendo sido reconciliados, seremos salvos por
sua
vida!” (ROMANOS 5:10; cf. 2 CORÍNTIOS 5:18-19).
Na expiação provida por Cristo temos também a ideia de redenção. Sua
morte é apresentada como pagamento de um resgate, um preço exigido por
um
escravo em liberdade. Mateus 20:28 e Marcos 10:45 retratam a Cristo como o
que
veio “dar sua vida em resgate por muitos”, isto é, de todos quanto n’Ele
confiam.
Portanto, a obra de Cristo é também referida com redenção: “[...] pelo seu
próprio
sangue, ele entrou no Santo dos Santos, de uma vez por todas, e obteve
eterna
redenção”. (HEBREUS 9:12).
TÓPICO 2 | A NATUREZA DA SALVAÇÃO
89
2.3 O MEIO DA SALVAÇÃO É A FÉ EM JESUS CRISTO
A fé nos méritos de Cristo é o elemento essencial na salvação cristã. Efésios
2:8 diz que a salvação é pela graça, mas mediante a fé. O professor Zacarias
de
Aguiar Severo (1999, p. 280) explica que há duas acepções de fé usadas no
Novo
Testamento: fé objetiva e fé subjetiva. A fé objetiva consiste no conjunto das
verdades ensinadas na revelação bíblica; a fé subjetiva consiste no ato de crer
nas verdades reveladas na Palavra Deus. Esta última é chamada de fé
salvadora,
que Berkhof (2007, p. 506) definiu assim: “[...] convicção, produzida pelo
Espírito
Santo no coração, quanto à veracidade do Evangelho, e uma segurança
(confiança)
nas promessas de Deus em Cristo”.
A confissão de Westminster apud Ferreira (2007. p. 777), afirma o seguinte:
A graça da fé, pela qual os eleitos são habilitados a crer para a salvação das
suas almas, é obra que o Espírito Santo faz nos corações deles, e é
ordinariamente
operada pelo ministério da Palavra; por esse ministério, bem como pela
administração dos sacramentos e pela oração, ela é aumentada e fortalecida.
Por essa fé o cristão, segundo a autoridade do mesmo Deus que fala em
sua Palavra, crê ser verdade tudo quanto nela é revelado, e age de
conformidade
com aquilo que cada passagem contém em particular, prestando obediência
aos
mandamentos, tremendo às ameaças e abraçando as promessas de Deus para
esta vida e para a futura; porém os principais atos de fé salvadora são – aceitar
e
receber a Cristo e afirmar-se só n’Ele para a justificação, santificação e vida
eterna,
isto em virtude do pacto da graça...
Esta fé é de diferentes graus, é fraca ou forte; pode ser muitas vezes e de
muitos modos assaltada e enfraquecida, mas sempre alcança a vitória,
atingindo
em muitos a uma perfeita segurança em Cristo, que é não somente o autor,
como
também o consumador da fé.
Vale lembrar, também, que a “fé morta” a que Tiago 2:17 se refere, não é
a fé salvadora. Não é a justificação diante de Deus, mas a autojustificação
diante
dos homens, ou seja, a maneira pela qual uma pessoa demonstra sua fé diante
de
outras pessoas. (HODGE, 2001, p. 961).
3 PASSOS BÁSICOS PARA O HOMEM OBTER A SALVAÇÃO
A realização da salvação é uma ação conjunta de Deus e o homem. Deus
é o parceiro superior, e o homem o parceiro menor, mas, não obstante, a
parceria
é crucial.
O homem precisa:
l Fé – crer no Senhor Jesus para perdão dos pecados.
90
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
l Arrependimento – contrição profunda do coração (mudança interna),
pela
culpa do pecado.
l Conversão – mudança externa, que reflete nas posturas e atitudes. Esta
transformação é semelhante à metamorfose experimentada pela lagarta,
quando se torna borboleta. O momento em que nascemos de novo, recebemos
a natureza de Cristo e passamos a viver em novidade de vida.
l Santificação – nova maneira de viver interna e externamente.
Estes passos estão na ordem de dependência entre si, pois não há
arrependimento sem fé; conversão, sem arrependimento; santificação, sem
conversão.
3.1 RECONHECER QUE É PECADOR
3.2 CRER EM JESUS CRISTO COMO SEU SALVADOR
“Miserável homem que eu sou! Quem me libertará do corpo sujeito a
esta morte?” (ROMANOS 7:24). “Corpo sujeito a esta morte” é uma expressão
figurada do corpo do pecado (ROMANOS 6:6), que pesava sobre o autor (e
sobre todos nós) como um cadáver e do qual não conseguia libertar-se.
“[...] Creia no Senhor Jesus, e serão salvos, você e os de sua casa”. (ATOS
16:31). O ato da salvação e da vida envolvem ambas as coisas, a saber, a
ação da
parte de Deus e também da parte do homem. Qual lado deveria ser
apresentado
primeiro? Qual é a ordem da salvação? Certa causa opera aqui, produzindo
certos
efeitos. A causa opera de maneira espiritual e livre de acordo com a natureza
das causas espirituais em geral. Os efeitos do homem são produzidos da
mesma
maneira. São efeitos morais e espirituais. (MULLINS, 2005, p. 462).
3.3 CONFESSAR A JESUS CRISTO COMO SALVADOR E
SENHOR
“Pois com o coração se crê para justiça, e com a boca se confessa para
salvação”. (ROMANOS 10:10). A salvação por meio de Cristo compreende a fé
no íntimo (“com o coração”), bem como a confissão exterior (“com a boca”).
Cristo nos salva através da Sua morte. Este é o ensino essencial do Novo
Testamento. Toda essência da posição cristã é depender da Pessoa de Jesus
Cristo
para ser salvo. Como muito bem ensinou Martin Lloyd-Jones (1997, p. 314),
TÓPICO 2 | A NATUREZA DA SALVAÇÃO
91
[...] essa é uma das muitas formas pelas quais vocês podem evocar a
‘diferença’ do cristianismo. Esse é o elemento que separa a fé cristã de
todas as demais religiões. Seus fundadores, ainda que importantes,
não são absolutamente essenciais a elas. Se Buda jamais tivera vivido,
ainda poderíamos ter o budismo. Se Maomé jamais tivera vivido,
ainda poderíamos ter o islamismo. Nas demais religiões, o ensino é
importante, e a pessoa não é essencial. As demais pessoas o poderiam
ter realizado igualmente bem, e o ensino permaneceria o mesmo. Mas
isto não é o que sucede com a fé cristã. O cristianismo como se tem
salientado amiúde, é o próprio Cristo. Ele não é apenas central; Ele é
absolutamente vital.
4 ASPECTOS CENTRAIS DA OBRA DA SALVAÇÃO NO HOMEM
Ninguém é salvo por meio de méritos pessoais. Nem tão pouco alguém
pode pagar qualquer preço pela salvação. Mas como diz Olson (2004, p. 408),
“Há um elemento comum à fé cristã sobre a salvação, e ela remonta ao
consenso
arraigado no Novo Testamento e nos pais da igreja antiga, de que a
reconciliação
com Deus, a transformação na imagem divina e na semelhança de Cristo, são
dádivas que também envolvem participação humana – até mesmo, quando
essa
participação também for interpretada como dádiva. Nenhum teólogo ou grupo
autenticamente cristão nega que a salvação seja, no final das contas,
integralmente
uma dádiva da graça e misericórdia divinas, conquistada por Cristo e adquirida
individualmente por pessoas mediante a fé”.
Para se conhecer mais profundamente o que significa a grande Salvação
de Deus, em Seu Filho Jesus Cristo, é indispensável entender três aspectos
centrais
desta maravilhosa doutrina.
4.1 JUSTIFICAÇÃO (NOSSA ELEIÇÃO EM CRISTO)
“Justificação”, do grego dikaios, é um termo técnico que significa “declarar
justo”, ou “atribuir justiça a alguém”, onde a pessoa passa a ser vista por Deus
como se jamais tivera cometido pecado, pois ele é resgatado dos seus
pecados e
restaurado à graça de Deus. É mais do que absolvição. É colocar o pecador no
lugar de justo. Portanto, como disse John Stott apud Ferreira (2007, p. 799), “o
contrário de justificação é condenação”.
A eleição é um dos assuntos mais controversos dentro da doutrina da
salvação.
A primeira controvérsia sobre a eleição surgiu entre Agostinho e
Pelágio, no final do século IV. Pelágio sustentava que cada pessoa tem
livre-arbítrio para escolher o bem e o mal, para aceitar ou rejeitar a
salvação. Agostinho, por outro lado, estava convencido de que, como
resultado da queda, o ser humano, no estado natural, não tem a
capacidade de vir a Deus sem a intervenção divina. A vontade humana
é escrava do pecado, não é livre com respeito à salvação. Portanto,
sem uma obra especial de Deus para libertar a vontade humana,
92
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
ninguém pode ser salvo. Para Agostinho, esta obra especial é a eleição,
isto é, a decisão de Deus de conceber a graça para algumas pessoas
específicas para libertar as suas vontade e criar as condições em que
elas vão confiar em Cristo. A Igreja Católica condenou Pelágio e ficou
com Agostinho, na época, mas depois passou a adotar uma posição
semipelagiana. (AGUIAR SEVERA, 1999, p. 258).
O alcance da justificação é sem distinção racial (judeu ou gentio) ou moral
(pagão imoral ou moralista). O alcance é universal. É algo potencialmente
eficaz
para todos os homens. Mas, como afirma Alister MacGrath (2005, p. 521),
[...] a doutrina da ‘justificação pela fé’ não significa que o pecador é
justificado porque crê, apenas em razão de sua fé. Isto seria o mesmo
que considerar a fé como uma obra ou atitude humana [...]. No que
se refere à justificação, Deus é ativo, e os seres humanos, passivos.
A expressão ‘à justificação pela graça por intermédio da fé’ mostra
mais claramente o significado da doutrina: a justificação do pecador
fundamenta-se na graça de Deus e é recebida por intermédio da fé.
Então, como entender Deus justificando um injusto? Pelo fato de Deus ser
santo, e isento de pecado. Sua justiça exige que todos os descendentes de
Adão
recebam punição por causa do pecado. Segundo textos bíblicos como 1
Coríntios
1:30 e 2 Coríntios 5:21, a justiça de Deus é o próprio Cristo. Ou seja, em Cristo,
a
exigência da justiça divina foi satisfeita, pois Jesus é justo e morreu pelos
injustos.
Assim, tornou-se o único que pode IMPUTAR (“creditar na conta de alguém”)
Sua justiça à conta espiritual do homem:
23 Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus, 24 sendo
justificados gratuitamente por sua graça, por meio da redenção que há
em Cristo Jesus. 25 Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação
mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em
sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente
cometidos; 26 mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser
justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. 27 Onde está, então,
o motivo de vanglória? É excluído. Baseado em que princípio? No da
obediência à Lei? Não, mas no princípio da fé. 28 Pois sustentamos
que o homem é justificado pela fé, independente da obediência à Lei.
(ROMANOS 3:24-28).
NOTA
IMPUTAR significa “atribuir a alguém alguma falta ou transgressão”. Ou seja:
“creditar na conta de alguém”.
TÓPICO 2 | A NATUREZA DA SALVAÇÃO
93
4.2 REGENERAÇÃO (NOSSA ADOÇÃO POR MEIO DO
NOVO NASCIMENTO)
Falando numa linguagem contábil, a justificação subtrai a culpa do homem
diante de Deus e adiciona a justiça na Sua conta celestial. Portanto, a
justificação é
mais do que perdão. O perdão remove a condenação do pecado; a justificação
nos
declara justos, como se nunca houvéssemos pecado contra Deus.
O termo “adoção” aparece apenas nas Epístolas Paulinas. (ROMANOS
8:15 e 23; 9:4; GÁLATAS 4:5; EFÉSIOS 1:5). A regeneração é um ato
instantâneo
que significa ser “gerado novamente” ou “reconstruído” pelo Espírito Santo no
homem interior, é nominada por Jesus de “nascer de novo”. (JOÃO 3:3). É uma
espécie de ressurreição espiritual, onde morremos para o pecado e
ressuscitamos
para Deus, como a Bíblia diz em Efésios 2:5 e 6:
deu-nos vida com Cristo, quando ainda estávamos mortos em
transgressões pela graça vocês são salvos. Deus nos ressuscitou com
Cristo e com ele nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus.
Então, concordo com Franklin Ferreira (2007, p. 776) quando assevera que
a regeneração é uma reversão da depravação e incapacidade total para uma
nova
vida onde, ainda que o indivíduo não seja tão santo quanto poderia ser, não
existe
nem um aspecto de sua vida que não seja influenciado pela obra renovadora
do
Espírito Santo.
Para Louis Berkhof (2007, p. 432) a regeneração é “o ato de Deus pelo
qual o princípio da nova vida é implantado no homem, a disposição dominante
da alma é tornada santa, e o primeiro exercício santo desta nova disposição é
assegurado”. A regeneração é, portanto, o início da caminhada espiritual do
homem com Deus. A obra da regeneração é operada pela Palavra de Deus
que
gera fé, desencadeando, assim, todo o processo de mudança de vida que
resulta
num caráter íntegro, como o de Jesus Cristo.
O nascimento físico denuncia que surgiu mais um descendente da
família de Adão, trazendo consigo a herança maldita do pecado. Agora, nós, os
nascidos espiritualmente, fomos adotados e colocados na posição de filhos de
Deus, e passamos a fazer parte legalmente de Sua família espiritual,
recebendo
os privilégios que Cristo sempre teve por direito eterno. Deus é nosso Pai,
Jesus
é nosso irmão.
94
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
4.3 SANTIFICAÇÃO POSICIONAL (NOSSA UNIÃO
ESPIRITUAL COM CRISTO)
O conceito teológico da santificação posicional está definido na expressão
“em Cristo” muito comum nas epístolas. Do grego “ev” significando “em Cristo”,
temos a tradução original: “mergulhado”, “embebido” - ensopado como uma
esponja.
A Bíblia diz: “se alguém está em Cristo, nova criatura é.” (2 CORÍNTIOS
5:17). Portanto, “em Cristo” é o lugar onde se opera a salvação. Quanto à
natureza
da nossa união com Cristo, o teólogo Zacarias de Aguiar Severa (1999, p. 286)
afirma que há uma perspectiva antropológica e outra mais teológica.
l Na perspectiva antropológica, considera-se mais a concretização
subjetiva
desta união na vida do cristão, no nível pessoal e consciente, deixando de lado
a base eterna da união e a sua realização objetiva em Cristo.
l Já na perspectiva teológica, a união com Cristo tem uma dimensão mais
ampla.
Como disse Berkhof (2007, p. 449), “não somente como designativo da união
subjetiva de Cristo e os crentes, mas também da união que lhe é subjacente e
básica, e da qual é apenas a expressão culminante”.
O teólogo Lewis Chafer (2003, p. 242) diz que:
Esta é uma santificação e uma santidade que vêm ao crente pela
operação de Deus através da oferta do corpo e do sangue derramado
do Senhor Jesus Cristo. Aqueles que foram redimidos e purificados
em Seu sangue, foram perdoados de todas as transgressões, tornados
justos pelo novo senhorio n’Ele, justificados e purificados. Eles agora
são filhos de Deus. Tudo isto indica uma classificação e uma separação
distintas, profundas e eternas, realizadas pela graça salvadora de
Cristo... São santificados posicionalmente, santos diante de Deus.
Resumindo, vejamos um gráfico elaborado pelo professor J. Scott Horrel
apud Ferreira (2007. p. 611), onde podemos visualizar o homem em três
tempos:
1) nosso estado de miséria sem Deus, 2) os benefícios que Cristo alcançou por
sua
morte na cruz para os que creem, e 3) a nova situação daqueles que
receberam
Cristo como Salvador:
NOSSA VELHA POSIÇÃO A OBRA DE CRISTO
ATRAVÉS DA CRUZ
NOSSA NOVA POSIÇÃO
1. Sob juízo, condenados,
sem substituto
Jesus nos substituiu, morreu em nosso lugar
O castigo do pecado foi
removido
2. Escravos de pecado,
presos, sem direitos
Cristo nos redimiu, pagou o preço e nos tirou da
escravidão
Somos redimidos, libertos, e temos novo Senhor
TÓPICO 2 | A NATUREZA DA SALVAÇÃO
95
3. Por causa do pecado,
sob a santa ira de Deus
Jesus nos propiciou, satisfez o caráter justo de Deus
Somos livres da santa ira
divina, propiciados
4. Declarados pecadores
no tribunal divino
Ele nos justificou, imputou
a nós Sua justiça
Declarados juridicamente
justos
5. Éramos inimigos de
Deus
Cristo nos reconciliou com
Deus
Agora temos amizade
com o Deus Triúno
6. Condenados sob a Lei Ele nos livrou da Lei Livres da Lei pela fé
7. Espiritual e eternamente
mortos, sem esperança
Jesus liberou a graça do
Espírito, nos deu o Espírito
Santo e a vida eterna
Nascidos de novo, regenerados, selados, habitados pelo Espírito Santo,
vida eterna
8. Escravos da nossa natureza pecaminosa
Ele quebrou o poder dominador da velha natureza
do pecado
Somos libertos para viver
obedientes a Deus
9. Estrangeiros, alienados
da família de Deus
Cristo nos preparou para a
adoção do Pai
Filhos, herdeiros para a
adoção do Pai, maduros,
com todos os direitos
10. Sem meios de perdão
como crentes
Ele providenciou a base do
perdão
Perdoados, restaurados
na comunhão com Deus
quando confessamos
11. Subjugados ao pecado,
à morte e a Satanás
Cristo derrotou o pecado, a
morte e Satanás
Liberto do medo e do
poder do mesmo
12. Sem esperança futura, aguardando juízo e o
inferno
Ele é o primogênito na
ressurreição, ascensão e
glorificação
Seremos como Ele, ressuscitados, arrebatados e
glorificados
O escritor Raimundo de Oliveira (2001. p. 217), tratando do alcance da
salvação, explica:
1) A salvação é para o mundo inteiro. Através do sacrifício perfeito de Cristo,
todos os habitantes da terra foram representados, e os seus pecados foram
potencialmente perdoados. Cristo é a propiciação pelos nossos pecados, e não
somente pelos nossos próprios, mas ainda pelos do mundo inteiro.
2) A salvação é para os que creem. Apesar de Cristo haver morrido pelos
pecados
do mundo inteiro, há um sentido em que a expiação é uma provisão divina
feita especialmente por aqueles que creem. Paulo apresenta Jesus Cristo
como o
“Salvador de todos os homens, especialmente dos fiéis”. (1 TIMÓTEO 4:10).
Deste modo, apesar de a salvação estar à disposição de toda humanidade, de
forma experimental, ela se aplica exclusivamente àqueles que creem.
3) Alguns abandonarão a salvação. A Bíblia dá a entender que muitos daqueles
pelos quais Cristo morreu, aceitarão a sua provisão salvadora, mas depois
abandonarão, perdendo com isto o direito à vida eterna [...].
96
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
DICAS
Caro(a) acadêmico(a)! Leia o livro JUSTIFICADOS PELA FÉ SOMENTE
(Editora
FIEL). Neste livro, os autores visam a prover “instrução na justiça” pelo método
de revelar a
diferença entre “declarar a pessoa justa” e “fazer a pessoa justa”.
TÓPICO 2 | A NATUREZA DA SALVAÇÃO
97
O PROPÓSITO DE DEUS COM RELAÇÃO À HUMANIDADE
Se abandonarmos a maneira abstrata de pensar a soberania de Deus e
a definirmos segundo o ensino das Escrituras, depararemos desde logo com
um ambiente distinto. A soberania se transforma imediatamente em uma
manifestação gloriosa do amor de Deus pela humanidade. Há quatro
declarações
que podem ser feitas para expressar essa verdade:
1. A primeira é que, desde o princípio, o bondoso propósito de Deus não foi
nacional, mas para a humanidade. Olhou não apenas uma só família, ou
nação, mas toda a humanidade. Houve famílias escolhidas e uma nação
escolhida. Mas essas não só eram fins em si mesmas, mas também eram
meios
para efetuar um fim mais amplo. Em uma crise da história do mundo, Noé e
sua família foram escolhidos como o duto da bênção de Deus à humanidade.
Mais tarde, Deus escolheu Abraão cujos descendentes chegaram a ser a
nação
de Israel. A promessa de Deus a Abraão foi a revelação de seu propósito
para com a humanidade: “Eu farei de ti uma grande nação; abençoar-teei, e
engrandecerei o teu nome; e tu, sê uma bênção. Abençoarei aos que te
abençoarem, e amaldiçoarei àqueles que te amaldiçoarem; e em ti serão
benditas todas as famílias da terra”. (Gn 12:2-3). Essa promessa foi repetida a
Abraão várias vezes substancialmente da mesma maneira. Não entenderemos
corretamente o chamado de Abraão a menos que vejamos nele a manifestação
do propósito da graça de Deus para todo o mundo.
2. A segunda declaração é que o curso da história no Antigo Testamento
mostra
claramente que o propósito invariável e consequente de Deus foi de conferir
seu favor ao mundo inteiro por meio de Israel, que chegou a ser uma nação,
um
povo escolhido e santo. Por último, foi destruído por causa de seu orgulho e
justiça própria, e de sua cegueira espiritual. Deus havia feito de Israel um povo
exclusivo com um fim universal. Israel tornou-se farisaico em espírito. Mas o
tesouro espiritual não foi perdido para a humanidade. Só precisamos ler as
mensagens dos profetas em todas as grandes crises da nação para entender o
plano de Deus. Era tão vasto que incluía a todos, com o qual operava por meio
de Israel. Isaías recorda a Israel a mensagem de Jeová: ”... também te porei
para luz das nações, para seres a minha salvação até a extremidade da terra”.
(Is 49:6). Também diz: “Pois eis que as trevas cobrirão a terra, e a escuridão os
povos; mas sobre ti o Senhor virá surgindo, e a glória se verá sobre ti. E
nações
caminharão para a tua luz, e reis para o resplendor da tua aurora. (Is 60:2-
3). Essas passagens representam uma grande classe de declarações
proféticas.
Quando a nação foi destroçada pelo cativeiro, os profetas vieram com
conceitos
mais amplos de Deus como a chave do significado da grande tragédia.
LEITURA COMPLEMENTAR

98
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
3. A terceira declaração é que a encarnação e a propiciação de Cristo implicam
e
envolvem o mesmo propósito universal da graça de Deus. Cristo era o “Filho
do homem”, e não meramente um judeu do primeiro século. Sua encarnação o
tornou orgânico com a humanidade. Como já vimos, sua propiciação foi para
todos. A grande Comissão inclui expressamente “todas as nações” e “toda
criatura” no destino ou meta do evangelho. (Mt 28:19-20; Mc 16:15-16).
4. A quarta declaração é que a história e o ensino do Novo Testamento
confirmam em geral a interpretação que acabamos de dar da encarnação e
da propiciação. O livro dos Atos dos apóstolos narra a extensão do evangelho
entre a humanidade. A eleição do apóstolo Paulo e sua missão mostram a
universalidade do evangelho. Sua doutrina da justificação pela fé contradizia
definitivamente a estreiteza judaica, que havia exigido que os conversos
se fizessem judeus em princípio e prática. Em Efésios, Paulo declara que a
universalidade do evangelho era o segredo das eras, agora dado a conhecer
por meio de Cristo (Ef 2 e 3; especialmente 3:4-13). O livro do Apocalipse, em
muitas partes, deixa-nos contemplar por meio de visões grandes multidões de
todas as nações, tribos, línguas e povos, redimidas para Deus pelo sangue de
Jesus Cristo.
FONTE: MULLINS. Edgar Young. A Religião Cristã. São Paulo: Hagnos, 2005.
p. 429-431.
99
A salvação, como resultado da redenção efetuada por Jesus na cruz, é o
meio que Deus proveu para livrar o homem de seus pecados e da perdição
eterna.
A salvação bíblica não é resultado de méritos humanos, e sim, da graça de
Deus
e da resposta humana da fé, ou seja:
l A Pessoa Jesus Cristo é a base segura da salvação espiritual.
l A fé é a condição essencial exigida na justificação de nossos pecados.
l A remissão da pena traz a reconciliação com Deus.
l A restauração, na graça de Deus, promove nova atitude para com Deus.
RESUMO DO TÓPICO 2
100
AUTOATIVIDADE
1 Leia a seguinte historieta: Certo homem perguntou a um velho pregador
como fazer para que a natureza divina vencesse sempre a carnal. O pregador,
mostrando dois cachorros, um magro e outro robusto, perguntou: qual desses
tem mais possibilidades de ser vitorioso em uma luta? Ao que o homem
respondeu: “o mais forte, logicamente”. O pregador então concluiu: “Assim
será em seu interior”.
a) Qual é a moral do ensino do pregador?
101
TÓPICO 3
A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
2 AS EVIDÊNCIAS DA SALVAÇÃO CRISTÃ
2.1 O TESTEMUNHO DO ESPÍRITO SANTO
A operação do Espírito Santo no coração do homem, denominada
regeneração, tem prosseguimento e se completará no porvir. A Bíblia ensina
que
nós devemos: “pôr em ação a salvação de vocês”. (FILIPENSES 2:12). Como
escreveu John Murray (1993, p. 172), “A perseverança dos santos nos faz
lembrar,
mui forçosamente, que somente os que perseveram até o fim são
verdadeiramente
santos”.
Assim como o pecado tornou-se universal, a justiça de Deus em Cristo
destina-se a todos os homens. Pois, ninguém é bom o suficiente para se
salvar,
nem tão mau que não possa ser liberto por Jesus.
“O próprio Espírito testemunha no nosso espírito que somos filhos de
Deus”. (Romanos 8:16). Este testemunho do Espírito Santo em nosso interior
diz
respeito ao nosso relacionamento com Cristo.
2.2 O TESTEMUNHO DA MUDANÇA INTERIOR E DA
CONSCIÊNCIA
“Portanto, se alguém está em Cristo, é nova criação. As coisas antigas já
passaram; eis que surgiram coisas novas”. (2 CORÍNTIOS 5:17). Este
testemunho
se expressa na determinação pessoal de abandonar o pecado, buscando
diariamente a Deus, com a convicção da necessidade pessoal permanente de
ajuda para alcançar este objetivo.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
102
2.4 O SALVO PODE PERDER A SALVAÇÃO?
2.3 O TESTEMUNHO DOS FRUTOS PRODUZIDOS
“Porque somos criação de Deus realizada em Cristo Jesus para fazermos
boas obras, as quais Deus preparou antes para nós as praticarmos”. (EFÉSIOS
2:10). Essa frutificação espiritual, além de expressar o caráter de Jesus Cristo
e
abençoar outras pessoas, glorifica a Deus. As obras não podem salvar, porém
a salvação é sempre acompanhada de boas obras, porquanto as obras são
consequência eficiente da salvação.
Vejamos o que disse o pregador John Wesley apud Ferreira (2007, p. 891)
(em seu sermão Pensamentos Sérios sobre a perseverança dos santos):
Se as Escrituras são verdadeiras, aqueles que são santos ou justos
no julgamento do próprio Deus; os que possuem a fé que purifica
o coração, que produz uma boa consciência; os que são ramos da
verdadeira videira, de quem Cristo diz: ‘Eu sou a videira, vós as
varas’; os que de tal modo conhecem a Cristo que, através desse
conhecimento, escaparam da poluição do mundo; os que veem a luz
da glória de Deus no rosto de Jesus Cristo e que são participantes do
Espírito Santo, do testemunho e dos frutos do Espírito; os que vivem
pela fé no Filho de Deus; os que são santificados pelo sangue da
aliança, podem, contudo, cair e perecer eternamente.
E mais:
Vejamos o que John Owen apud Ferreira (2007, p. 894), escreveu a respeito
dos que largam a fé, de Hebreus 6:4-6:
É claro que não se tratava de crentes verdadeiros e sinceros. Não há
nenhuma menção de fé ou crença. Não há nada aqui que nos faça
pensar que tinham qualquer relacionamento especial com Deus em
Cristo. Não são descritos como ‘sendo chamados segundo o propósito
de Deus’. Não são descritos como sendo justificados, nem santificados,
nem unidos a Cristo, nem filhos de Deus por adoção. Por outro lado,
são descritos como terra na qual chove frequentemente, mas onde
só crescem espinhos e abrolhos (vv. 7-8). Mas isso não é verdade
com respeito a crentes verdadeiros, porque a fé em si já é uma erva
cultivada com esmero na horta cercada de Cristo. O escritor dessa
epístola, descrevendo crentes verdadeiros, distingue-os dos apóstatas.
Nos crentes ele está confiante que vai achar coisas melhores, as coisas
que acompanham a salvação (v. 9). Os crentes são conhecidos pelo seu
‘trabalho e amor operante’, porque é só a verdadeira fé que trabalha
pelo amor (v. 10). Mas nenhuma destas coisas é dita dos apóstatas [...]
Esses apóstatas, embora tivessem feito uma profissão de fé ostensiva
de arrependimento e fé e tivessem sido batizados, não tinham sido
regenerados e santificados. Então foi da renovação externa que esses
apóstatas decaíram, renunciando totalmente à fé e ao batismo.
TÓPICO 3 | A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
103
3 OS RESULTADOS DA SALVAÇÃO NO HOMEM
3.1 APROXIMAÇÃO DE DEUS
3.2 RENOVAÇÃO DO CARÁTER
Ao contrário do pecado, a salvação produz no cristão vários benefícios,
como veremos a seguir:
Portanto, irmãos, temos plena confiança para entrar no Santo dos
Santos pelo sangue de Jesus, por um novo e vivo caminho que ele nos
abriu por meio do véu, isto é, do seu corpo. Temos, pois, um grande
sacerdote sobre a casa de Deus. Sendo assim, aproximemo-nos de
Deus com um coração sincero e com plena convicção de fé, tendo os
corações aspergidos para nos purificar de uma consciência culpada, e
tendo os nossos corpos lavados com água pura. Apeguemo-nos com
firmeza à esperança que professamos, pois aquele que prometeu é fiel.
(HEBREUS 10:19-23).
Se o pecado afasta o homem de Deus, a salvação o atrai para Ele. Aquele
que passou pela verdadeira experiência de conversão a Jesus, certamente terá
prazer tanto em estar com Deus, como falar de Seu nome.
Assim, eu lhes digo, e no Senhor insisto, que não vivam mais como os
gentios, que vivem na inutilidade dos seus pensamentos. Eles estão
obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa
da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração.
Tendo perdido toda a sensibilidade, eles se entregaram à depravação,
cometendo com avidez toda espécie de impureza. Todavia, não foi isso
que vocês aprenderam de Cristo. De fato, vocês ouviram falar dele,
e nele foram ensinados de acordo com a verdade que está em Jesus.
Quanto à antiga maneira de viver, vocês foram ensinados a despirse do velho
homem, que se corrompe por desejos enganosos, a serem
renovados no modo de pensar e a revestir-se do novo homem, criado
para ser semelhante a Deus em justiça e em santidade provenientes da
verdade. (EFÉSIOS 4:17-24).
O que a Bíblia está nos dizendo aqui é que após a CONVERSÃO, o homem
deve começar a percorrer um novo caminho. O seu caráter agora vai
assimilando
normas e atitudes baseadas nos princípios bíblicos que se refletirão numa
conduta
totalmente diferente daquela anterior. Com isso, a imagem de Deus antes
(quase)
apagada começa novamente a brilhar, refletindo o brilho do caráter de Jesus
Cristo.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
104
DICAS
CONVERSÃO significa mais que um retorno, é substancial mudança de rumo,
com profundas implicações morais e espirituais.
3.3 ATRAÇÃO DO AMOR DE DEUS
3.4 PAZ COM DEUS
“E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em
nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu”.
(ROMANOS
5:5). A obra da salvação possui poder de transformar o coração de “pedra” do
pecador em um coração maleável e submisso à vontade de Deus. (cf.
EZEQUIEL
36:26-27). Com isso, ele torna-se apto a ser um receptáculo do amor de Deus,
que
influenciará todas as suas atitudes e ações.
“Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso
Senhor Jesus Cristo”. (Romanos 5:1). Antes do milagre da salvação, o homem
vivia em guerra íntima com o Criador, mas agora ele está reconciliado com
Deus
através de Jesus Cristo. Esta paz com Deus nos torna livres para adorar e
louvar
a Deus. John Stott (1995, p. 324) diz que:
a eleição é uma peça fundamental e indispensável na adoração cristã,
no tempo e na eternidade. Faz parte da essência da adoração dizer:
‘não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória’. Se nós
fôssemos os responsáveis por nossa própria salvação, seja no todo ou
mesmo em parte, seríamos justificados ao entoar os nossos próprios
louvores lá no céu. Mas isto é inconcebível. O povo redimido de Deus
passará a eternidade louvando a Ele, humilhando-se perante Ele
em grata adoração, atribuindo a Ele e ao Cordeiro a sua salvação e
reconhecendo que somente ele é digno de receber todo louvor, honra
e glória. E por que isso? Porque a nossa salvação se deve inteiramente
a Sua graça, vontade, iniciativa, sabedoria e poder.
3.5 VIDA ESPIRITUAL
“Eu lhes asseguro: Quem ouve a minha palavra e crê naquele que me
enviou, tem a vida eterna e não será condenado, mas já passou da morte para
a
vida”. (JOÃO 5:24). Ao contrário do ímpio que nasce uma vez e morre duas, o
salvo em Jesus Cristo nasce duas vezes e morre apenas uma (isso, se não
passar
pelo arrebatamento). Tendo a vida doada pelo Senhor, o cristão deve viver
acima
das circunstâncias, confiando em Jesus e por Ele esperando.
TÓPICO 3 | A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
105

3.6 LIBERTAÇÃO ETERNA


4 A CONTINUIDADE E CONSUMAÇÃO DA SALVAÇÃO
“Como agora fomos justificados por seu sangue, muito mais ainda, por
meio dele, seremos salvos da ira de Deus!” (ROMANOS 5:9). A salvação de
Deus tem efeito tanto retrospectivo (passado), introspectivo (presente), quanto
perspectivo (futuro). Assim, em relação ao passado, fomos libertos da
condenação
do pecado; quanto ao presente, somos libertos do controle do pecado; e no
futuro,
seremos libertos da presença do pecado.
Considerando o fato que a salvação é integralmente uma dádiva de Deus
e também uma resposta humana de arrependimento e confissão de seus
pecados
pela fé em Cristo, significa que temos que agir para manter este glorioso
presente
de Deus.
Santo Agostinho (NEIVA, 2008) explicou este paradoxo da salvação da
melhor maneira possível:
Se a ação (salvação) é de ambos, a saber, da vontade do ser humano e
da misericórdia de Deus, então aceitamos este ditado: ‘não é daquele
que delibera, nem daquele que corre, mas de Deus que demonstra sua
misericórdia’ como significando: a vontade do ser humano sozinha
não basta se a misericórdia de Deus também não estiver presente.
Então, porém, nem mesmo a misericórdia de Deus sozinha basta se
a vontade do ser humano tampouco for ativa. [...] A obra toda deve
ser creditada a Deus que tanto dispõe a vontade para aceitar ajuda,
quanto ajuda a vontade uma vez que ficou disposta.

4.1 SANTIFICAÇÃO PROCESSUAL


A santificação é tanto um processo como uma obra completa. Como já
vimos o conceito de santificação como obra completa (posicional), agora
veremos
a santificação como um processo, onde não é possível chegar à perfeição total
nesta vida. O termo santificado no sentido bíblico significa “separação”, sendo
esta relacionada ao sistema mundano, e no sentido específico, a separação
para o
serviço de Deus. E isto resulta de ação dos aspectos da salvação que
impulsiona o
homem ao desejo de “separar-se” para o serviço de Deus.
Porém, vale observar que, embora a regeneração comunique ao homem
uma nova vida, ela não faz desaparecer a velha natureza carnal. Por um lado,
ele lida com as inclinações contínuas de seus instintos corrompidos, que geram
a morte; e por outro lida com as coisas do Espírito Santo, que resultam em
vida,
buscando seu viver diário adequar-se à imagem de Cristo. A santificação é o
processo que torna o cristão cada vez mais parecido com Cristo.
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
106

4.2 GLORIFICAÇÃO
“Num momento, num abrir e fechar de olhos, ao som da última trombeta.
Pois a trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis e nós seremos
transformados”. (1 CORÍNTIOS 15:52). Como disse Franklin Ferreira (2007, p.
887), a glorificação é a transformação final do nosso ser, o fim do processo de
salvação e a preparação para a vida celestial. Para Wayne Gruden (2006, p.
659),
glorificação é o passo final da aplicação da redenção. Ocorrerá quando
Cristo voltar e levantar dentre os mortos o corpo de todos os cristãos
que morreram, de todas as épocas, reunindo com a alma de cada um, e
mudar o corpo de todos os cristãos que estiverem vivos, dando assim,
ao mesmo tempo, a todos os cristãos um corpo ressurreto como o Seu.
Quais são os aspectos desta glorificação futura?
a) Haverá um novo corpo: “corpo espiritual”. (1 CORÍNTIOS 15:51;
FILIPENSES 3:21).
b) Haverá uma nova habitação: “Novo céu e nova terra”. (APOCALIPSE 21:1).
c) Haverá nova comunhão com Deus: “verão a sua face”. (APOCALIPSE 22:4).
d) Haverá libertação plena do pecado: os salvos serão moralmente perfeitos.
(APOCALIPSE 21:27).
A glorificação futura não é um produto da imaginação humana, mas sim,
uma realidade inconteste baseada nas Escrituras. O próprio Jesus, várias
vezes,
fez alusão a essa realidade que os filhos de Deus verão e viverão um dia. Esse
é
o acontecimento mais esperado e mais desejado por todos os salvos em Cristo
em todos os tempos. O nosso corpo mortal será transformado em corpo
glorioso
semelhante ao de Jesus.
TÓPICO 3 | A SEGURANÇA DA SALVAÇÃO
107
LEITURA COMPLEMENTAR
UMA VISÃO CRISTÃ UNIFICADORA DA EXPIAÇÃO
Os cristãos precisam novamente descobrir e valorizar a fé cristã
fundamental, essencial, acerca de Cristo e sua obra expiatória para a salvação
da humanidade. Nesta era, moderna e pós-moderna, da civilização e cultura
ocidentais, estão sendo levantadas muitas vozes, tanto contrárias a qualquer fé
tradicional sobre a expiação através da morte de Cristo na cruz, quanto
favoráveis
a elevar um modelo específico de expiação sobre todos os demais, até mesmo
excluindo outros. Alguns autodenominados teólogos da libertação e bastante
radicais - especialmente os chamados teólogos feministas – argumentam que
qualquer teoria tradicional da expiação tolera a violência e sanciona o abuso de
crianças. Esses revisionistas radicais gostariam de substituir a salvação-pela-
morte
(i.e., a morte expiatória de Cristo na cruz) por uma visão da crucificação de
Cristo
como um martírio e um símbolo daquilo que os poderosos líderes religiosos e
políticos, dentro de sistemas hierárquicos de dominação, sempre cometem
contra
os profetas. No outro extremo do espectro de reflexão teológica, encontram-se
certos teólogos declaradamente conservadores, os quais argumentam que
somente
a teoria da substituição penal reformada desenvolvida por Calvino e promovida
por teólogos como o professor de Princeton do século XIX, Charles Hodge, é
bíblica
e teologicamente correta. Muitos desses teólogos ultraconservadores insistem
em
que a morte de Cristo na cruz seja vista, por todos os verdadeiros cristãos,
como
propiciação ( apaziguamento) da ira de Deus, por meio de uma aplicação
vicária
da punição no Filho de Deus pelos pecados do mundo (ou unicamente pelos
dos
eleitos).
Nessa situação de conflito, é importante descobrir uma visão cristã
unificadora da obra salvadora de Cristo em favor da raça humana. O melhor
modo
de fazê-lo é retomar as fontes da reflexão cristã e recobrar a fé singela na vida,
morte e ressurreição redentoras de Cristo, as quais uniram os cristãos antigos
e os
reformadores protestantes, apesar do uso de diversos modelos para comunicá-
lo
e torná-lo inteligível dentro de seu próprio contexto cultural. A igreja antiga do
primeiro século cria que “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o
mundo”
e que de algum modo misterioso, além da compreensão humana plena, a
morte
de Cristo na cruz foi um sacrifício pelos pecados, uma conquista sobre poderes
malignos que escravizam, e um exemplo de amor perfeito para os discípulos de
Jesus seguirem...
UNIDADE 3 | DOUTRINA BÍBLICA DA SALVAÇÃO
108
Dito isso, também é importante afirmar agora que a fé na objetividade
da expiação de Cristo é absolutamente necessária para o próprio evangelho.
As
boas novas da revelação e proclamação cristãs são de que Deus agiu de modo
decisivo, objetivo, em Jesus Cristo e em sua morte, mudando por graça e com
poder a situação de alienação e corrupção espiritual que dilaceraram o mundo
com a queda da humanidade. O evangelho não pode ser reduzido a uma
expiação
meramente subjetiva em que Cristo oferece uma lição concreta do grande amor
de Deus. Uma lição subjetiva do significado da morte de Cristo pode ser
apenas
uma faceta e não o âmago da fé e proclamação cristãs. Infelizmente, muitos
cristãos contemporâneos – até mesmos muito que se consideram biblicamente
sérios e evangelicamente engajados – tendem a reduzir a fé na expiação de
Cristo
a um modelo subjetivo e negligenciar ou ignorar a realização objetiva de Deus
em
Cristo. Não é preciso obrigatoriamente esposar uma substituição penal acerca
da
obra de Cristo, para afirmar que aquilo que Cristo consumou por sua morte foi
uma transação sem igual que efetivamente reconciliou a justiça e o amor de
Deus
em vista da desobediência e rebelião humanas, tornando possível para Deus
perdoar a todos que vêm a ele por meio de Cristo com fé.
FONTE: OLSON, Roger. História das Controvérsias na Teologia Cristã. São
Paulo: Vida, 2004. p.
374-376.
109
Os resultados da salvação “em Cristo”:
l Quanto a Deus: temos paz com Deus. (ROMANOS 5:1).
l Quanto ao castigo eterno: fomos preservados da Ira de Deus e libertos
da
condenação eterna. (ROMANOS 5:9).
l Quanto ao fim: temos a certeza da glorificação escatológica.
(ROMANOS
8:30).
RESUMO DO TÓPICO 3
110
AUTOATIVIDADE
1 Aponte uma das evidências da salvação espiritual.
2 Cite três resultados da salvação espiritual no homem.
3 Qual a diferença básica entre santificação processual e glorificação?
111
REFERÊNCIAS
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