Semiótica Unidade 5
Semiótica Unidade 5
Semiótica Unidade 5
Material Teórico
Crítica de Imagem
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Crítica de Imagem
• Introdução;
• Gutenberg e Benjamim;
• Segunda Realidade;
• As Imagens Vivem mais que os Humanos;
• A Presença de uma Ausência;
• Uma História da Imagem;
• A Era da Iconofagia;
• Mídia e Pânico.
OBJETIVOS DE APRENDIZADO
• Conhecer a Semiótica da Cultura e da Mídia sob as óticas alemã e brasileira;
• Fundamentar os conceitos de imagem, segunda realidade e iconofagia;
• Compreender o processo iconofágico;
• Identificar contribuições da crítica de imagem para a produção fotográfica.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.
Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.
Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.
Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;
No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você tam-
bém encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão sua
interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;
Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE Crítica de Imagem
Introdução
O ciclo de estudos de Semiótica para o curso de Fotografia se encerra nesta uni-
dade. O percurso que traçamos procurou trazer em linhas muito gerais conceitos
das principais referências dessa nova ciência. Ressaltamos o caráter introdutório
deste estudo, pois a Semiótica tem crescido muito e ocupado cada vez mais espaço
nas universidades e pesquisas acadêmicas.
Gutenberg e Benjamim
Os registros de grande parte de nossa história provêm de documentos únicos ou
escassos. Certas informações foram registradas em apenas um suporte. A criação
de cópias era um processo trabalhoso e por isso não era algo regular no mundo
pré-moderno.
O termo foi cunhado por Walter Benjamim (1892-1940) na obra “A obra de arte
na era de sua reprodutibilidade técnica” (BENJAMIM, 2018), escrita na década de
1930, e marca o início de uma nova era. Benjamim percebeu que a circulação de
informações (e signos dos mais variados tipos) era completamente diferente de toda
história humana pregressa. O público com o qual as imagens reproduzidas tecnica-
mente estabeleciam relação era a massa, ou seja, um público geral não homogêneo
– veja mais em Miguel, (2018), nos Materiais Complementares.
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Após Gutenberg, projetos de alfabetização da população começam a surgir1.
Assistimos o nascimento do jornal, do mercado editorial, da fotografia, do cinema,
do rádio, da publicidade... uma explosão de novos meios para a comunicação.
A palavra “meio” deriva do latim “medium”, cujo plural é “media”. A língua inglesa
utiliza a palavra “media” para se referir aos meios de comunicação e sua sonoridade
se desdobrará na palavra aportuguesada “mídia”.
Segunda Realidade
A história da imagem é quase tão antiga quanto a cultura humana. Mas, afinal, o
que é “cultura”? A palavra se refere a cultivo, por isso dizemos a cultura da batata,
a cultura do feijão, a rizicultura (do arroz) etc.
O corpo, nossa mídia primária, habitante de uma realidade biótica (e abiótica) foi
capaz de criar uma segunda realidade:
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Destaca-se o movimento de alfabetização organizado na Suécia protestante do século XVII. Apesar do direciona-
mento dos alfabetizadores europeus para a leitura das sagradas escrituras, uma vez aprendendo a arte da leitura, a
população passou a procurar outros textos fora do contexto religioso (BURKE, 2002).
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A religião, por exemplo, nas sociedades arcaicas.
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A Presença de uma Ausência
A palavra “imagem” tem sua origem na palavra latina “imago” e aponta para
a imagem de uma pessoa falecida (imago mortis). Temos nessa relação a ambiva-
lente característica da imagem em ser a presença de uma ausência (e a ausência
de uma presença).
Na imagem, a “coisa real”, física, não está presente, mas representada. É o que
nos mostra René Magritte em sua obra “A traição das imagens” (1929), na qual a
pintura de um cachimbo vem acompanhada da frase “isto não é um cachimbo”.
Por essa razão, as imagens apenas têm vida (enquanto imagens) na segunda reali-
dade, o que levou Aby Warburg (1866-1929) a teorizar sobre a pós-vida (Nachleben,
no original em alemão) das imagens. As ausências presentes em uma imagem
apontam para o arcaico, aos primórdios da cultura, ao mesmo tempo em que se
reporta ao passado, no presente, aponta um futuro (BAITELLO JUNIOR, 2010,
pp. 69-80).
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A Era da Iconofagia
“Como imagens os homens seriam imortais, sem imagens talvez pudessem ser
mortais” (KAMPER, 2002, p. 10).
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é uma mudança de status iconofágico, isto é, da devoração das imagens e pelas
imagens. Com o avanço da reprodutibilidade técnica, mais acentuadamente pela
atual proliferação digital de imagens, passamos a viver em um mundo não apenas
povoado de imagens, mas comandado por elas. As imagens não mais devoram a si
mesmas, mas também os corpos que as geram e nos quais transitam3.
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É interessante notar como, pelo viés da biologia, Richard Dawkins estabelecerá as bases de uma crítica cultural por
meio do conceito de “meme”, palavra atualmente popular, mas distorcida de seu significado original. Veja mais, em
Dimarch (2012), nos Materiais Complementares.
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Há também a associação de sentimentos como prazer, felicidade e poder por meio da visualidade como sedução
do imaginário e da vontade.
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Um fetichismo visual, no sentido de Massimo Canevacci, de uma parte que promete um outro, sem que se possa
identificar a origem. Veja mais nos Materiais Complementares.
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Mídia e Pânico
Encarramos esta unidade com o capítulo cujo título homônimo faz referência
aos estudos de Malena Segura Contrera (2008) no contexto da Semiótica da Mídia.
A imagem, entretanto, não atesta verdades (não é garantia de retratar algo tal e
qual). “Dar a ver” por meio de uma imagem não necessariamente reduz distâncias
ou apaga ilusões. Antes as criam. As escolhas do plano, do enquadramento, do
close já falseiam a realidade, sem mencionar as múltiplas possibilidades de edição.
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Certa vez, quando o noticiário noturno diário se viu alijado de “más notícias”, precisou recorrer ao arquivo da
emissora e “relembrar” aos telespectadores um trágico caso ocorrido três anos atrás.
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Em Síntese Importante!
Ora, se as imagens têm se sobreposto aos corpos e não exigem mais que se dirija até
elas, que as busque, dada a sua quase onipresença, é natural presenciarmos crises dos
corpos, dos movimentos e da presença. “Nós estamos criando um ambiente inóspito, de
vazios, de coisas que esquecemos no minuto seguinte. É preocupante. Há uma redução
de complexidade, e que significa uma redução na capacidade de pensar, também”, criti-
cou Norval Baitello Junior para a Revista E (link nos Materiais Complementares). Ao me-
nos duas das maiores redes sociais difundem imagens em frenética atualização vertical
(timeline) e horizontal (stories). É imperativo estar atualizado! Sinais de alerta, novidades,
propagandas, mais imagens, mais possibilidades, mais desejos, um imperativo do gozo
(SAFATLE in DUNKER e PRADO, 2005) distante apenas a um clique de sua vontade.
A consequência não haveria de ser outra que não a ansiedade, o único demônio que
Fausto não pôde vencer (DIMARCH, 2007, pp. 30-41). Não sendo possível digerir ou ao
menos engolir parte daquilo que está disponível para nós, teremos como um segun-
do da ansiedade a angústia e então a depressão. O corpo, cada vez mais destituído de
competências que lhe permitam resistir aos imperativos da atualidade, passa a desejar
a anestesia (CONTRERA, 2008). Não combatemos as causas da depressão, procuramos,
antes, anestesiá-la e assim manter o curso das coisas como estão. Até mesmo nosso pen-
samento está demasiadamente “sentado” (BAITELLO JUNIOR, 2012).
É preciso aproveitar o paradoxo da mídia e criticá-la também por meio dela. Se isso, por
um lado, pode fortalecê-la, por outro, pode impulsionar o corpo a resistir e sentir. O que
você, enquanto profissional da imagem, está criando? Quais valores e ideias estão enre-
dados em sua produção fotográfica? Quais oportunidades ela oferece ao público que está
tomando contato com elas? Afinal, a potencialidade da fotografia é ampla e pode tam-
bém impulsionar relações mais profundas, significativas e heterogêneas com o mundo.
Um feliz acontecimento no âmbito da educação básica brasileira foi certa dimensão do en-
sino de Arte chamada estesia. A Base Comum Curricular Nacional (BRASIL, 2018) colocou
essa como uma das diretrizes para o trabalho dos professores nas escolas. E o que é a este-
sia se não o oposto da anestesia? Parece-nos que a defesa de João-Francisco Duarte Junior
(2000) foi conhecida, sentida e afirmada. Nossa sociedade arrisca a perda dos sentidos,
arrisca a atrofia do corpo e a própria Arte é chamada a ativá-lo, a estimular a qualidade
do modo como vemos, ouvimos, tocamos, cheiramos, saboreamos, nos movimentamos.
Um percurso pelo estudo do signo, na forma de diferentes linhas da Semiótica, haveria
de considerar, ao menos em parte, aspectos críticos. Eles estão presentes nos diferentes
estudos da Semiótica da Cultura (independentemente de seu local de origem e desen-
volvimento), da Mídia e das diferentes semióticas especiais (no sentido peirciano do ter-
mo). Aqui apresentamos uma pequena parte das muitas contribuições da Semiótica para
a crítica de imagem.
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Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Mediosfera: Meios, Imaginário e Desencantamento do Mundo
CONTRERA, M. S. Mediosfera: meios, imaginário e desencantamento do mundo.
São Paulo: Annablume, 2010.
Vídeos
Entrelinhas – Fetiches Urbanos
Entrevista com Massimo Canevacci para o programa Entrelinhas, TV Cultura de
São Paulo.
https://bit.ly/2kk5RV4
Leitura
A Respeito dos Novos Fetichismos Visuais
Matéria de Cultura e Mercado sobre o filósofo italiano Massimo Canevacci publicada
em 10 de março de 2008.
https://bit.ly/2lQySZ4
Gutenberg: Primeiras Impressões
Matéria da revista Superinteressante publicada em 31 de outubro de 2016.
https://bit.ly/2Vlz9TX
Revista E – Norval Baitello Junior
Entrevista com Norval Baitello Junior para a Revista E, número 234.
https://bit.ly/2mkuku8
Problemas Causados por Gutenberg: A Explosão da Informação nos Primórdios da Europa Moderna
Estudos avançados, volume 16, número 44. São Paulo: IEA-USP, 2002.
https://bit.ly/2mhumCV
O Nascimento dos Memes: Quando a Biologia pensa a Cultura
Matéria para a editoria de Educação da TV Cultura de São Paulo.
https://bit.ly/2mhxVsN
O Corpo na Era da Reprodutibilidade Técnica
Kriterion volume 59, número 139. Belo Horizonte: UFMG, 2018.
https://bit.ly/2mkHgAc
O Corpo-Imagem na “Cultura Do Consumo”: Uma Análise Histórico-Social sobre a Supremacia da Aparência no
Capitalismo Avançado
Dissertação (mestrado). Marília: UNESP-FFC, 2008.
https://bit.ly/2lTtzbj
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UNIDADE Crítica de Imagem
Referências
BAITELLO JUNIOR, N. O animal que parou os relógios: ensaios sobre comuni-
cação, cultura e mídia. São Paulo: Annablume, 1999.
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