Memória de Trabalho, Consciência Fonológica e Hipótese de Escrita
Memória de Trabalho, Consciência Fonológica e Hipótese de Escrita
Memória de Trabalho, Consciência Fonológica e Hipótese de Escrita
2007
Gigiane Gindri*
Márcia Keske-Soares**
Helena Bolli Mota***
Introdução
ocorre para que o indivíduo possa se concentrar na Ciasca, 2000; Santamaria et al., 2004). As atividades
forma em detrimento ao conteúdo, seja na fala, seja de consciência fonológica contribuem para melhorar
na escrita. Magnusson (1990) afirma que o papel da o desempenho da criança, durante a fase inicial do
consciência fonológica é mais evidente para o aprendizado da leitura, repercutindo, positivamente,
desenvolvimento da linguagem escrita do que para a em estágios mais avançados do processo, assim
fala. Gombert (1992) e Flores (1992) concordam que, como o treinamento e a terapia são fatores que
para a aquisição da língua oral e escrita, esta facilitam a aquisição do código escrito (Lazarrotto e
habilidade é importante. Cielo, 2002; Capovilla et al., 2004).
Yavas (1989) destaca que a consciência O processo de aquisição da língua escrita
fonológica mostra melhora com a idade, embora ultrapassa o automatismo. Santos e Navas (2002)
alguns níveis requeiram contato com a instrução acrescentam que a escrita é uma forma de expressão
alfabética. Morais et al. (1998) e Moojen et al. (2003) da linguagem, sendo uma das suas funções
consideram apropriada a hipótese de uma relação de principais a comunicação simbólica. As habilidades
causalidade recíproca entre o aprendizado do código necessárias para a aquisição da escrita dependem
escrito e o desenvolvimento das habilidades de do nível em que o processo se encontra, o qual se
consciência fonológica. Maluf e Barrera (1997), a relaciona a diferentes fatores internos e externos
partir da perspectiva psicogenética, mostraram haver ao sujeito (Dockrell e McShane, 1997; Morais et
correlação significativa entre os níveis de consciência al., 1998; Etchepareborda e Abad-Mas, 2005).
fonológica e de aquisição da linguagem escrita, Ferreiro e Teberosky (1999) propõem que a
independente do gênero. Capellini e Ciasca (2000) e construção da escrita é resultante de um processo
Santamaria et al. (2004) pontuam que a consciência gradual, em que são contrastadas situações de
fonológica pode ser desenvolvida também em desenhar com situações de escrever,
concomitância com o processo de alfabetização. experimentação e experiências. Quatro hipóteses
A introdução de um sistema alfabético auxilia de escritas fundamentais são definidas: pré-
no desenvolvimento da consciência fonológica, silábica, silábica, silábica-alfabética e alfabética.
ressaltando-se sua importância para as habilidades Na hipótese pré-silábica, a criança acredita que
fonêmicas (Demont, 1997; Capovilla et al., 2004). escrever é desenhar o objeto. Aparecem tentativas
A consciência fonológica se desenvolve em um de correspondência entre a escrita e o objeto referido
continuum de padrões de complexidade, em etapas (realismo nominal). Outras características são: os
evolutivas sucessivas, não necessariamente diferentes estilos, utilizados nesta fase inicial da
lineares, integrando um processo continuado. escrita; as problemáticas quanto à orientação espacial
Roazzi e Dowker (1989) explicam que os resultados da escrita; a dificuldade em estabelecer diferença entre
de desempenho, nas tarefas de consciência as atividades de escrever e desenhar (ora a escrita é
fonológica, diferenciam-se pelo grau de experiência representada por letras, ora por desenhos, ou por
cognitiva que cada uma exige, isto é, pela capacidade ambos); a quantidade mínima de caracteres exigidos;
de processamento de informação que solicitam. a variedade desses caracteres. Desta maneira, cada
As habilidades de consciência silábica precedem um só pode interpretar a sua própria escrita e não a
à capacidade de a criança tomar os fonemas como dos outros. A maioria das crianças, na faixa dos seis
unidades lingüísticas (Magnusson, 1990; Capellini anos, faz corretamente a distinção entre texto e
e Ciasca, 2000). Considerando-se as diferenças desenho, sabendo que o que se pode ler é aquilo que
quanto às dificuldades observadas entre a análise contém letras. Algumas, no entanto, ainda persistem
silábica e a análise fonêmica, Coimbra (1997) sugere na hipótese de que se pode ler tanto as letras quanto
que as habilidades de síntese, tanto silábica quanto os desenhos. Respeitam duas exigências básicas: a
fonêmica, aparecem primeiro, antecedendo as quantidade de letras (nunca inferior a três) e a
habilidades de segmentação e de manipulação variedade entre elas (não podem ser repetidas).
silábicas e fonêmicas, que são intermediárias. A A hipótese silábica tem como principal
última habilidade a se desenvolver é a de característica a tentativa de associar um valor sonoro
transposição, tanto de sílabas quanto de fonemas. a cada uma das letras que compõem a escrita. Nesta
Vários estudos apontam que crianças que têm etapa, a criança passa pelo período de maior
consciência dos fonemas avançam de forma mais importância evolutiva, em que cada letra vale por uma
fácil e produtiva na escrita e na leitura (Santos e sílaba. A criança avança muito qualitativamente, pois
Navas, 2002; Ferreiro, 2004), enquanto as que não supera a correspondência global entre a forma escrita
têm estas habilidades correm risco de não e a expressão oral, para fazer a correspondência entre
conseguirem aprender a ler e a escrever (Capellini e as partes do texto, que são as letras, e as partes das
impressões orais, representadas pelo recorte silábico metafonológicas como auxiliares para a aquisição do
do nome. A criança considera que a escrita representa código escrito (Capovilla et al., 2004).
as partes sonoras da fala. Cada grafia traçada Há estudos relacionando a memória de trabalho
corresponde a uma sílaba pronunciada, podendo ser com a escrita, a consciência fonológica com a escrita,
usadas letras ou outro tipo de grafia. bem como a memória de trabalho com a consciência
A transição entre a hipótese silábica e a alfabética fonológica, mas não o cruzamento dos três aspectos.
caracteriza a hipótese silábico-alfabética. A criança Neste sentido, esta pesquisa tem por objetivo verificar
abandona a primeira e descobre que necessita analisar a relação entre a memória de trabalho, a consciência
outras possibilidades de escrita. Nesta etapa, duas fonológica e a hipótese de escrita de alunos de pré-
características importantes da escrita anterior tendem escola e primeira série, da rede estadual de ensino da
a desaparecer: a de quantidade mínima (uma exigência zona urbana de Santa Maria - Rio Grande do Sul.
interna da própria criança) e a de variedade de
caracteres (o número mínimo de grafias). A criança, Método
então, começa a perceber que escrever é representar,
progressivamente, as partes sonoras das palavras, Inicialmente a pesquisa foi submetida ao Comitê
ainda que não o faça corretamente. de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde,
A hipótese alfabética é a etapa final da evolução da Universidade Federal de Santa Maria, tendo sido
desta psicogênese. Ao chegar nesta fase, a criança o projeto aprovado sob o número 097/04.
compreende que cada um dos caracteres da escrita Nas escolas visitadas da zona urbana que
corresponde a valores sonoros menores que a concordaram com a realização da pesquisa em suas
sílaba. Realiza, sistematicamente, a análise sonora dependências, os responsáveis assinaram o Termo
dos fonemas das palavras que necessita escrever. de Consentimento Informado Institucional.
Santos e Navas (2002) propõem que a linguagem Posteriormente, após esclarecimentos sobre a
escrita tem relação íntima com a oral. Apesar de ser pesquisa, foi solicitado o consentimento dos pais
relativamente fácil, para a maioria das crianças, e/ou responsáveis através da assinatura do Termo
aprender a ler e a escrever, as habilidades lingüísticas de Consentimento Livre e Esclarecido.
e cognitivas básicas, necessárias para que a Realizou-se, para delimitação da amostra,
aprendizagem possa ocorrer, são numerosas e estudo estatístico apenas com os alunos
complexas. É aceito que as habilidades da linguagem autorizados. Devido às dificuldades metodológicas
falada constituem a base para a aquisição da leitura e quanto ao consentimento para a realização da
da escrita (Flores, 1992; Demont, 1997; Ferreiro, 2004). pesquisa, muitos alunos deixaram de ser incluídos,
As atividades cognitivas - como a aprendizagem por não possuírem autorização dos responsáveis,
formal de leitura e escrita, a compreensão e o raciocínio embora a escola desejasse as avaliações. Isto
- são realizadas com aporte da memória de trabalho. determinou uma amostra por conveniência.
O processo de ensino-aprendizagem solicita Utilizando-se de amostragem aleatória simples
constantemente o uso da memória (Morgado, 2005; em cada grupo, foram selecionados, através de
Etchepareborda e Abad-Mas, 2005). sorteio, efetuado na presença de um juiz, os alunos
O conhecimento alfabético requer uma série de autorizados da pré-escola e da primeira série. Este
habilidades fonológicas especializadas. procedimento foi repetido até que, preenchendo
Inicialmente, a consciência fonológica, que é a as variáveis necessárias, atingiu-se o número
capacidade de detectar sons de fala similares nas esperado para estudo significativo estatisticamente
palavras, permite às crianças representar os e representativo das sete áreas geográficas da zona
segmentos de som na linguagem escrita. Aprender urbana de Santa Maria - Rio Grande do Sul.
a ler, no entanto, solicita tipos mais avançados de Os alunos que fizeram parte do estudo
consciência fonológica. À medida que as crianças preencherem os seguintes requisitos: ter autorização
tomam consciência de tipos diferentes de unidades dos pais e/ou responsáveis para a participação na
fonológicas, ou seja, de sílabas, rimas e fonemas, e pesquisa; apresentar desenvolvimento
aprendem a manipulá-las, há concomitante evolução neuropsicomotor normal; apresentar
da leitura (Morais et al., 1998; Santamaria et al. 2004). desenvolvimento típico de fala; ter ausência de
As implicações educacionais da relação entre repetência em seu histórico escolar; não apresentar
memória de trabalho, consciência fonológica e escrita deficiência auditiva ou visual; não apresentar suspeita
são bastante expressivas (Santos e Siqueira, 2002), de alterações psicológicas e neurológicas; não
embora atualmente os programas de alfabetização apresentar alterações fonoaudiológicas, como
ainda dêem pouca importância ao uso das habilidades dificuldade de aprendizagem, retardo de linguagem,
desvio fonético e/ou fonológico e respiração oral; mantendo distância aproximada de 50 centímetros
não estar em ou ter antecedente de terapia do pavilhão auricular, como recomendado pelo
fonoaudiológica; não estar em atendimento padrão ANSI, 1969 (Northern e Downs, 1989).
psicopedagógico, reforço escolar ou Os alunos com suspeita de alterações de
acompanhamento pedagógico. linguagem, motricidade oral, audição, neurológicas,
Contou-se com uma amostra de noventa oftalmológicas e psicológicas foram encaminhados
alunos, sendo quarenta de pré-escola e cinqüenta para avaliações complementares
de primeira série. A média de idade dos alunos da (otorrinolaringológica, audiológica, neurológica,
pré-escola foi de seis anos e cinco meses e dos oftalmológica e psicológica) e excluídos da pesquisa.
alunos de primeira série, de sete anos e dois meses. Os alunos selecionados para o estudo foram
Quanto ao sexo, na pré-escola havia catorze alunos submetidos às avaliações específicas de hipótese
do sexo masculino e vinte e seis do feminino, de escrita, do componente fonológico da memória
enquanto na primeira série havia vinte e seis do de trabalho e de consciência fonológica.
sexo masculino e vinte e quatro do feminino.
Os procedimentos constantes para o estudo Avaliação da hipótese de escrita
foram realizados no ambiente escolar, em sala
silenciosa, com cada aluno individualmente, durante Na avaliação da hipótese de escrita, solicitou-
o mesmo período de suas aulas. As avaliações foram se a escrita do próprio nome e de uma amostra de
realizadas, a viva voz, em intensidade de palavras e frase, utilizando-se o proposto pelo teste
conversação, pela pesquisadora, durante o mesmo CONFIAS - o aluno escreve "castelo", "esqueleto"
período letivo na pré-escola e primeira série. Ainda e "O fantasma abriu a porta" ( Moojen et al., 2003).
foram realizados os devidos registros, com A fim de motivar o aluno para esta tarefa, procurou-
anotações nos protocolos específicos. se criar uma situação de haver um castelo, no qual
A fim de conhecer a história individual e verificar morava um esqueleto e, em certo momento, um
os quesitos necessários para a participação na fantasma chegou e abriu a porta. Além disso, os
pesquisa, realizou-se a anamnese fonoaudiológica trabalhos dos alunos, especialmente os
abordando aspectos relacionados a relacionados com a escrita, foram observados em
desenvolvimento neuropsicomotor, de linguagem sala de aula, tendo sido constatado que os mesmos
e fala; voz; hábitos orofaciais; antecedentes guardaram relação com o obtido quando da
fisiopatológicos e familiares; escolarização e aplicação da avaliação.
aprendizagem. Considerando-se a produção como um todo, isto
A triagem fonoaudiológica foi realizada a fim de é, com as palavras e a frase componentes,
verificar se a criança podia fazer parte do estudo e caracterizou-se a escrita com base nas hipóteses de
envolveu linguagem, aspectos da motricidade oral escrita propostas por Ferreiro e Teberosky (1999) -
e audição. A linguagem foi observada de maneira pré-silábica, silábica, silábica-alfabética e alfabética.
informal, utilizando a figura "circo" proposta por
Hernandorena e Lamprecht (1997), através de fala Avaliação do componente fonológico da memória
espontânea. Nessa avaliação, foram observados os de trabalho
componentes fonológico, semântico, sintático e
pragmático da linguagem. Na oportunidade, ainda Na avaliação do componente fonológico da
se observaram fala, fluência e voz. Os alunos sem memória de trabalho, utilizou-se o subteste cinco
alteração no desenvolvimento da linguagem oral e, de memória seqüencial auditiva, do Illinois Test of
portanto, com desenvolvimento lingüístico típico, Psycholinguistic Abilities (ITPA), com adaptação
foram selecionados. brasileira de Bogossian e Santos (1977), e a prova
No que concerne à motricidade oral, foram de repetição de palavras sem significado (Anexo),
observados aspecto, tônus, postura e mobilidade elaborada por Kessler (1997), pois estes têm sido
dos órgãos fonoarticulatórios e as funções amplamente empregados em estudos recentes na
neurovegetativas (Marchesan, 2005). literatura brasileira e estrangeira (Kessler, 1997;
Para excluir possíveis alterações auditivas, Linassi et al., 2001; Gindri et al., 2005).
realizou-se screenig auditivo, precedido por O subteste cinco do ITPA consiste na repetição
meatoscopia. O screenig auditivo foi realizado com de 28 seqüências de dígitos, distribuídas de dois a
Audiômetro Pediátrico Interacoustics PA2, com sete dígitos, enunciados fora de ordem, com número
tons puros, nas freqüências de 500Hz, 1KHz, 2KHz variado de seqüências para cada quantidade de
e 4KHz, e intensidade de referência de 20dB NA, dígitos, imediatamente após o examinador enunciá-
las. As seqüências foram apresentadas oralmente, ponto e as incorretas valem zero. Na sílaba, o
em ritmo uniforme de dois dígitos por segundo. A máximo de pontuação são 40 pontos e nos
soma dos pontos levou à obtenção do escore bruto, fonemas, o máximo são 30, totalizando 70 pontos.
que foi convertido em escore escalar, de acordo com Após a coleta dos dados, os resultados foram
a faixa etária e correspondente à idade cronológica tabulados e analisados, por meio de procedimento
individual. O desempenho médio do grupo de estatístico com uso do Software Estatístico SPSS -
referência equivale, para idade em estudo, ao escore versão 8.0 (Barbetta, 2003). O teste x2, com p < 0,001,
de 36 pontos, podendo variar em seis pontos, para complementado pela análise de resíduos ajustados,
mais ou para menos. O escore escalar esperado com p < 0,05, foi utilizado para verificar a associação
variou entre 30 e 42 pontos. Além do escore escalar, entre o nível de hipótese de escrita dos alunos em
foi realizada a análise do número máximo de dígitos relação à escolaridade. Os resultados obtidos quanto
repetidos corretamente. ao componente fonológico da memória de trabalho e
O subteste cinco, memória seqüencial auditiva, à consciência fonológica foram analisados através
foi realizado no início da avaliação de cada aluno, do Teste T de Student, considerando-se p < 0,001.
a fim de reduzir o efeito da fadiga.
A prova de repetição de palavras sem significado Resultados e Discussão
consiste na repetição de palavras formadas por
seqüências fonológicas desprovidas de significado. O desempenho de alunos de pré-escola e
Ela é composta por 30 palavras sem significado, primeira série quanto à hipótese de escrita são
constituídas por estrutura silábica simples, do tipo apresentados na Tabela 1.
consoante-vogal, seguindo a estrutura fonológica do Verificou-se que os alunos de pré-escola estão
Português. As palavras são dispostas em seis listas, localmente associados aos níveis de escrita pré-
cada qual com cinco palavras sem significado, silábica e silábica e os de primeira série ao nível
conforme o número de sílabas, que varia de uma a seis. alfabético de escrita, havendo diferenças
Na aplicação da referida prova, o aluno foi significativa entre os grupos quanto à hipótese de
convidado a brincar de falar uma língua diferente, escrita (Tabela 1). Esta constatação encontra
com palavras que ele não conhecia, mas deveria respaldo em Ferreiro e Teberosky (1999), pois a
repetir, imediatamente, após o modelo. Nesta tarefa, criança pode iniciar seus conhecimentos no mundo
o parâmetro considerado é de um ponto quando o da escrita muito antes que qualquer tentativa formal
aluno consegue repetir o item, tal qual foi apresentado. de ensino seja proposta. Isto explica por que alunos
A tentativa é considerada incorreta quando o aluno de pré-escola estavam adiantados, em relação aos
omite, substitui, não produz nenhum fonema ou da primeira série, quanto à hipótese de escrita.
quando não consegue reproduzir o item, como este Apesar de não estar recebendo instrução formal
foi apresentado pelo examinador. Nestes casos, não para aquisição da escrita, alfabetização, 11 pré-
é atribuído ponto. Na análise das respostas por lista, escolares mostravam aquisições quanto à escrita.
foi considerada aquela de maior número de sílabas,
em que houve a repetição correta dos cinco itens.
Avaliação da consciência fonológica TABELA 1. Desempenho quanto à hipótese de escrita de alunos de pré-
escola e primeira série.
Constatando que houve diferença significativa variável nível de escrita, porque se observaram
quanto à hipótese de escrita entre a pré-escola e a poucos casos nos níveis silábico e silábico-
primeira série, concorda-se com Morgado (2005), alfabético. Os níveis pré-silábico e silábico de escrita
aprendizagem e memória são processos complexos mostraram-se associados à pré-escola e os níveis
implicados entre si. silábico-alfabético e alfabético, à primeira série.
Para ser possível a comparação das médias de O desempenho no componente fonológico da
desempenho dos alunos de pré-escola e primeira série memória de trabalho, quanto à seqüência de dígitos,
na avaliação do componente fonológico da memória pontuação e escore escalar correspondentes, bem
de trabalho e de consciência fonológica quanto à como número de sílabas e sua pontuação, em
hipótese de escrita, foram associados os níveis de relação à hipótese de escrita dos alunos são
escrita pré-silábico e silábico e os níveis silábico- mostrados na Tabela 2.
alfabético e alfabético em função da distribuição da
TABELA 2. Desempenho em memória de trabalho quanto à seqüência de dígitos, pontuação e escore escalar correspondentes e número
de sílabas e sua pontuação, em relação à hipótese de escrita de alunos de pré-escola e primeira série.
Hipótese de Escrita
Pré-Silábico e Silábico Silábico-Alfabético e Alfabético P
Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão Mínimo Máximo
seqüência de dígitos 4,80 0,61 4 6 5,06 0,55 4 6 0,036
pontuação em seqüência de dígitos 21,95 5,23 11 34 24,86 4,32 16 35 0,005
escore escalar em seqüência de
36,48 3,95 30 46 37,12 2,94 31 43 0,393
dígitos
número de sílabas 4,30 0,52 4 6 4,56 0,61 4 6 0,031
pontuação em número de sílabas 21,50 2,58 20 30 22,80 3,06 20 30 0,031
p < 0,05
Tanto os alunos de pré-escola como os de primeira memória de trabalho com a idade, como propõe
série demonstraram capacidade de repetir seqüência Baddeley (2003), que afirma que ela está relacionada
de quatro a seis dígitos e de quatro a seis sílabas de com o aumento nas habilidades de fala e linguagem.
palavras sem significado, embora a média dos As diferenças observadas no desempenho médio
resultados demonstre diferença significativa entre os entre os alunos de pré-escola e primeira série são
dois níveis quanto aos testes, concordando com significativas em favor dos alunos de primeira série,
Miller (1956), Gathercole (1995) e Baddeley (2003). que são aqueles com idade superior e que
Gindri et al. (2005) compararam o desempenho apresentaram, em sua maioria, escrita alfabética,
de pré-escola e primeira série quanto à memória de enquanto os alunos de pré-escola têm idade inferior
trabalho. Os alunos de pré-escola foram capazes de e apresentaram, em sua maioria, escrita pré-alfabética.
repetir seqüências de três a cinco dígitos e palavras O desempenho semelhante nas tarefas de
sem significado com quatro a seis sílabas, enquanto repetição de dígitos e de sílabas sem significado
os de primeira série repetiram seqüências de quatro corrobora a hipótese de que estas tarefas podem
a seis dígitos e palavras sem significado com quatro ser comparadas, como apontam Hulme et al. (1984),
a seis sílabas. Os resultados do presente estudo Adams e Gathercole (1995).
são semelhantes. Concordam, ainda, com Kessler Alloway et al. (2004) propõem que os traços da
(1997) que, estudando pré-escolares, obteve média memória de trabalho servem de importante base para
de repetição de seqüências de quatro dígitos e de representações mais duradouras de novas palavras.
quatro sílabas de palavras sem significado. As relações entre memória de trabalho e conhecimento
Observou-se expansão da capacidade de fonológico tornam-se mais complexas a partir dos
cinco anos, como se observa na Tabela 2.
TABELA 3. Média e desvio-padrão, na avaliação de consciência fonológica ao nível de sílaba, de fonema e resultado total relação à
hipótese de escrita de alunos de pré-escola e primeira série.
Hipótese de Escrita
Consciência Fonológica Pré-Silábico e Silábico Silábico-Alfabético e Alfabético
P
Média Desvio-Padrão Média Desvio-Padrão
nível de sílaba 18,44 3,85 30,82 5,25 < 0,001
nível de fonema 7,35 2,62 16,11 4,81 < 0,001
TOTAL 26,09 5,45 46,91 8,85 < 0,001
Conclusão
Anexo
Prova de repetição de palavras sem significado (Kessler, 1997).
Referências Bibliográficas