UNI01 TTransversais
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Direitos Humanos e
Questão da Diversidade
Objetivo da Unidade:
✌ Contextualização
🏳🌈 Material Teórico
📚 Material Complementar
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✌ Contextualização
1/4
Videoaula
Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele,
você terá algumas questões reflexivas.
humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua
proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas
de vida e desenvolvimento da personalidade humana.”
- Alexandre de Moraes
Vídeo
O que são Direitos Humanos?
ASSISTA
🏳🌈 Material Teórico
2/4
Introdução
“Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que
os distinguem entre si, merecem igual respeito, como único sentes no mundo
- COMPARATO
No entanto, é certo que a história da humanidade está marcada justamente pela reação ao
diferente que, em geral, consiste no desejo de eliminação daquele que não se enquadra nos
padrões socialmente estabelecidos.
Aliás, é exatamente como elemento dessa realidade social que a diversidade se faz presente nas
raças, etnias, culturas, valores, crenças, enfim, nas peculiaridades que distinguem e
Ocorre que, não raro, a essas particularidades é atribuído um caráter depreciativo que, além de
gerar intolerância e exclusões sociais, impõe a ideia segundo a qual o diferente é sempre inferior
ao igual.
Por isso, em respeito à dignidade humana, se faz necessário o desenvolvimento da tolerância,
como forma de aceitação das diferenças, pois somente o diálogo será capaz de despertar a
capacidade de compreensão do outro, em seus direitos e acima de tudo, em suas diferenças.
Analisemos, então, como se dá a relação entre os direitos inerentes a cada ser humano e
atemática da diversidade, em seus aspectos mais relevantes.
Direitos Humanos
Conceito
direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria
natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam
de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade
- HERKENHOFF
O conceito de Direitos Humanos pode ser considerado sob dois ângulos (SORONDO):
Constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as nações, seria
então um sistema de valores;
inviolabilidade: esses direitos não podem ser violados por pessoas ou autoridades;
Pois bem, com o Iluminismo (período havido entre a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução
Francesa de 1789) foram ressaltados o espírito crítico, a razão e a fé na ciência, com o fim de
atingir a compreensão acerca das origens da humanidade e da ciência das pessoas e das coisas.
O princípio da igualdade foi estabelecido sob o prisma de que todo homem tem direitos
resultantes de sua própria natureza.
Já a Revolução Francesa deu origem aos ideais representativos dos direitos humanos, a
liberdade, a igualdade e a fraternidade: os homens tinham plena liberdade, eram iguais, ao menos
em relação à lei e deveriam ser fraternos, auxiliando uns aos outros.
Por outro lado, com o fim da Segunda Grande Guerra, os homens se conscientizaram da
necessidade de não permitir que aquelas atrocidades ocorressem novamente, o que culminou na
criação da Organização das Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais
de Direitos Humanos, dentre os quais se destaca a “Declaração Universal dos Direitos do
Homem”, analisada a seguir.
Unidas (ONU), em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a dignidade
humana inerente às pessoas, titulares de direitos iguais e inalienáveis, servindo de base da luta
universal contra a opressão e a discriminação.
De acordo com Kumpel, tal documento relaciona em seu texto, direitos civis e políticos (que são
chamados de direitos de primeira geração e traduzem o valor da liberdade), como direitos sociais,
econômicos e culturais (que são denominados direitos de segunda geração e traduzem o valor
da igualdade) e contempla, ainda, a fraternidade como valor universal (contempla, pois, os
chamados direitos de terceira geração, que compreendem o direito à paz, ao meio ambiente, ao
Desde sua adoção, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi traduzida em mais de360
idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados
e democracias recentes.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em conjunto com o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e
sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e
seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos (ONU).
É inegável que esse documento “... significou um divisor de águas na história da evolução e
efetivação dos direitos e das garantias fundamentais da pessoa humana, porque a partir dela
estabeleceu-se a concepção dos direitos humanos sob o enfoque da especialização dos direitos
e dos sujeitos a que se destinam.” (SOARES FILHO).
Diversidade e Tolerância
subjetivado no cotidiano das relações e da vida social, cuja (re)produção aponta para o
- BROTTO
Ora, todos sabemos que o Brasil é o país da diversidade e por isso seria natural que, em nosso
território, a tolerância fosse prática constante, o que, infelizmente, não ocorre.
FIGURA 1
Fonte: Thinkstock.com
Mas, afinal, o que é tolerância? Pois bem, o artigo1° da Declaração de Princípios sobre a
Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 16 de novembro de 1995, descreve seus diferentes
significados:
“1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das
significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer
concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre
pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-
se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser
tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.”
Como se vê, em que pese a tolerância ser um dever de ordem ética e uma necessidade política e
jurídica, ainda assim as violações aos direitos fundamentais, por meio da violência gerada pela
discriminação e preconceito são rotineiras, mas devem ser enfrentadas tanto pelo Estado quanto
à sociedade, como forma de garantia da dignidade da pessoa humana.
ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e
oportunidades para serem aquilo que desejam ser. Diferentemente da perspectiva do
recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano
- PNUD
E são justamente esses elementos que constituem a base do IDH – Índice de Desenvolvimento
Humano, que restou desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbud Ul Haq auxiliado pelo
economista indiano Amartya Sen, sendo utilizado, desde 1993, pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD). Atualmente o IDH é composto por três importantes áreas do
desenvolvimento humano, a saber:
O padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita
expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005
como ano de referência.
Em 2013, “a primeira colocação no ranking mundial permanece com a Noruega (0,955), seguida
por Austrália (0,938) e Estados Unidos (0,937). Os três piores colocados são Moçambique
(0,327), Congo (0,304) e Niger (0,304). Conforme abaixo evidenciado, o Brasil registrou melhora
no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em relação ao ano anterior, mas manteve-se
ocupando o 85º lugar no ranking mundial. O país apresentou progresso em renda, educação e
saúde nos últimos 20 anos e [...] está entre os 15 países que mais reduziram a diferença, desde
1990, entre o patamar do IDH e o máximo verificado pela ONU.” (G1).
O Brasil foi um dos países pioneiros ao adaptar e calcular o IDH para todos os municípios
brasileiros, criando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), em 1998. O IDHM
ajusta o IDH para a realidade dos municípios e reflete as especificidades e desafios regionais no
alcance do desenvolvimento humano no Brasil.
Por fim vale mencionar que os dados obtidos por meio do dessa forma de monitoramento são de
suma importância para a elaboração de políticas públicas que respeitem os direitos e atendam às
Algumas minorias apresentam certo grau de autonomia e em outras ocorre justamente o inverso;
algumas têm um forte sentido de identidade coletiva, ao passo que em outras essa situação não
se verifica; umas podem ser localizadas em áreas definidas, separadas da parte dominante da
população, enquanto que outras se encontram dispersas.
Vale lembrar que nem mesmo a Organização das Nações Unidas logrou êxito em estabelecer um
conceito universal de minoria, tendo em vista que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos de 1966 estabeleceu apenas que “nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas
ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito
deter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar
e praticar sua própria religião e usar sua própria língua" (PIDCP ONU, 1966).
Não obstante tais diferenças, podemos entender por minoria um “grupo não dominante de
indivíduos que partilham certas características nacionais, étnicas, religiosas ou linguísticas,
Já o conjunto de pessoas que por questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência
e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos é conhecido como
grupo vulnerável (SENASP, 2009).
Tabela 1
Minorias Grupos Vulneráveis
Cidadania. Cidadania.
De qualquer forma, minoria ou grupo vulnerável, não importa, o fato é que esses conjuntos
específicos de pessoas devem ser protegidos, pois seus direitos são mais suscetíveis de serem
violados. Assim, vejamos:
Crianças e Adolescentes
É certo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, acima mencionada, põe a salvo os
direitos desses grupos específicos ora tratados, ao estabelecer que: “A maternidade e a infância
têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do
matrimônio, gozarão da mesma proteção social” (inciso 2 do artigo XXV).
Não obstante essas disposições legais, a violência contra a criança e os adolescentes tornou-se
um preocupante fenômeno mundial, a Youth for Human Rights International alerta sobre as
violações à dignidade e à vida, das crianças e adolescentes, alvos fáceis dessas práticas:
Violência de Gangs: 100% das cidades com população igual ou superior a 250 mil
relatam a atividade de gangs. (Ministério da Justiça dos EUA);
Trabalho infantil: 246 milhões de crianças, uma em cada seis crianças com
idades entre 5 a 17 anos, estão envolvidas em trabalho infantil. (Organização
Internacional do Trabalho, 2002);
Mulheres
Certamente, em razão das diferenças biológicas havidas entre homens e mulheres, esta foi a
primeira diversidade percebida entre os seres humanos. Vale mencionar que, ao longo dos
séculos as mulheres têm sido privadas do exercício dos direitos humanos, sendo submetidas à
Sensível a essa situação, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período havido
entre 1976 e 1985, como a “Década da Mulher”, sendo certo que ao longo desse lapso temporal
foram elaboradas propostas com o fim de tutelar os direitos humanos das mulheres, dentre as
quais se destaca a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (Convenção da Mulher), instrumento legal de padrões internacionais que articula direitos
iguais de homens e mulheres.
Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua
vida: As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência
doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com
dados do Banco Mundial;
Violência praticada pelo parceiro íntimo: Diversas pesquisas mundiais apontam que
metade de todas as mulheres vítimas de homicídio é morta pelo marido ou parceiro,
atual ou anterior. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em
11 países constatou que a porcentagem de mulheres submetidas à violência sexual
por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia;
Violência sexual: Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se
tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. A prática
do matrimônio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o
mundo, especialmente na África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes
forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta riscos para a saúde,
inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola. Um dos
efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do
rompimento severo dos tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e
indesejável socialmente;
Tráfico de pessoas: Entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente
em situações incluindo prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão,
segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas
detectadas;
No âmbito do direito pátrio, importante avanço foi conquistado pelas mulheres, com a edição da
Lei n° 11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha que“... cria mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”).
Amplia o conceito de violência contra a mulher, compreendendo tal violência como “qualquer
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou
psicológico e dano moral ou patrimonial”, que ocorra no âmbito da unidade doméstica, no âmbito
da família ou em qualquer relação íntima de afeto” (PIOVESAN, 2012).
Vale mencionar que esses laços começaram a se afrouxar com o advento da Lei n° 6.515/77 que
instituiu a dissolubilidade do vínculo matrimonial, pelo divórcio.
“Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica
(casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de
pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae ). Em outras palavras, o ordenamento
jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros
enxergam uns aos outros como seu familiar” (ALVES, 2006), ainda que se trate de união, por
Acerca da união homoafetiva é necessário mencionar que o Colendo Supremo Tribunal Federal já
reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões estáveis
constituídas por pessoas de mesmo sexo (ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF), tendo seguido
idêntica orientação, o Superior Tribunal de Justiça, ao decidir acerca da inexistência de óbices
legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo (RESP 1.183.378/RS).
Tais julgados, por sua vez, embasam a Resolução 175, de 14 de maio de 2013, do Conselho
Nacional de Justiça, que determina ser “... vedada às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre
pessoas de mesmo sexo” (CNJ, 2013).
Ora, ainda que essas decisões não tenham caráter vinculativo e que a constitucionalidade da
referida resolução esteja sendo questionada, não se pode negar que elas representam um
caminho à efetiva proteção “do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da
Povos Indígenas
É certo que na esfera internacional, vários diplomas tratam dos direitos dos povos indígenas,
sendo o mais importante a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 13 de setembro de 2007.
FIGURA 4
Fonte: Adaptada de Getty Images
Nos mesmos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse documento reconhece
que os povos indígenas são iguais a todos os demais povos e detém o direito de serem
diferentes e a serem respeitados em suas diferenças. Afirma, ainda, que todos os povos
contribuem para a diversidade e a riqueza das civilizações e culturas, que constituem patrimônio
comum da humanidade.
No âmbito da legislação pátria, o Estatuto do Índio (Lei n° 6.001/1973), estende aos povos e as
comunidades indígenas, a proteção das leis do país, nos mesmos termos em que se aplicam aos
O Brasil tem 896,9 mil indígenas em todo o território nacional, somando a população residente
tanto em terras indígenas (63,8%) quanto em cidades (36,2%), de acordo com o Censo 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O país tem, ainda, 505 terras indígenas,
que representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residem 517,4
mil indígenas (57,7%), dos quais 251,9 mil (48,7%) estão na região Norte. Apenas seis terras têm
mais de 10 mil indígenas; 107 têm entre mais de 1 mil e 10 mil; 291 têm entre mais de cem e 1 mil,
e em 83 residem até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, no
Vale esclarecer que a ocorrência de atos violentos contra os índios brasileiros, como
assassinatos (e tentativas), ameaças de morte, lesões corporais e estupros, cresceram 237% em
2012, segundo o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas, divulgado pelo Conselho
Indigenista Missionário (ÉPOCA, 2013). O aumento da violência, em grande parte, se deu em
razão dos conflitos fundiários envolvendo produtores rurais e grupos indígenas.
Afrodescendentes
É inegável que a Declaração Universal dos Direitos Humanos refletiu a necessidade de proteção
específica de certas populações, grupos e indivíduos que ao longo dos tempos foram violados
em seus direitos, sendo este justamente o caso dos afrodescendentes, usualmente, vítimas de
preconceito e racismo.
Aliás, nesse sentido surgiu a Convenção sobre a Eliminação de Todas das Formas de
Discriminação Racial adotada pela Organização das Nações Unidas em 21 de dezembro de 1965 e
ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, a qual integra o denominado sistema especial de
proteção dos direitos humanos que, ao contrário do sistema geral, é endereçado a um sujeito de
direito concreto, visto em sua especificidade e na concreticidade de suas diversas relações. Daí
apontar-se não mais ao indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
especificado, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça [...]
(PIOVESAN).
Assim, visando eliminar e combater doutrinas e práticas racistas, a Convenção estabelece que,
por discriminação racial entende-se qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência,
baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que têm por objetivo ou
efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em
igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública (ICERD, art. 1º).
Por outro lado, a Constituição Federal de 1988, reafirma que um dos objetivos principais da
República Federativa do Brasil é combater o preconceito e qualquer forma de discriminação
(inciso IV do artigo 3°), devendo ser punida qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais (inciso XLI do artigo 5°), em especial a prática do racismo, crime
inafiançável e imprescritível (inciso XLII do artigo 5°).
Nessa esteira merecem destaque na legislação infraconstitucional pátria:
§3° do artigo 140 do Código Penal: define o crime de injúria racial – "Se a injúria
consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou
a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Pena – reclusão de um a três anos e multa".
No entanto, em que pese tal proteção, é fato que as pessoas com deficiência estão mais
vulneráveis a situações de violência, razão pela qual a Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU) aprovou, em 13 de dezembro de 2006, a Convenção sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência.
O referido tratado foi assinado pelo Brasil em 30 de março de 2007 e entrou em vigor,
juntamente com seu protocolo Facultativo, em 3 de maio de 2008, valendo mencionar que a
Convenção não cria direitos, sendo um facilitador para a concretização de todos os direitos da
pessoa com deficiência, sejam os universais, sejam os referentes à grupos específicos.
Cerca de 10% da população mundial, aproximadamente 650 milhões de pessoas, vivem com uma
deficiência. São a maior minoria do mundo, e cerca de 80% dessas pessoas vivem em países em
desenvolvimento. Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% têm algum tipo de deficiência.
Mulheres e meninas com deficiência são particularmente vulneráveis a abusos. Pessoas com
deficiência são mais propensas a serem vítimas de violência ou estupro, e têm menor
probabilidade de obter ajuda da polícia, a proteção jurídica ou cuidados preventivos. Cerca de
30% dos meninos ou meninas de rua têm algum tipo de deficiência, e nos países em
desenvolvimento, 90% das crianças com deficiência não frequentam a escola (ONU).
No Brasil, de acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE),
quase ¼ da população (23,9%) apresenta algum tipo de deficiência, o que significa cerca de 45,6
milhões de pessoas, sendo 26,5% mulheres e 21,2% homens, apresentando deficiência visual
(35.774.392), auditiva (9.717.318), motora (13.265.599), mental e intelectual (IBGE).
Pode parecer incrível, mas em pleno século XXI essa prática tão vergonhosa e merecedora de
repúdio ainda persiste no mundo inteiro, especialmente nos países em desenvolvimento.
Aliás, em 1926 a Convenção sobre a Escravatura da Organização das Nações Unidas (ONU) já
alertava sobre os perigos da escravidão, entendida esta como o estado e a condição de um
indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito
de propriedade.
Por outro lado, Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência das Nações Unidas que tem
por missão promover o acesso a um trabalho decente e produtivo, estabelece que a expressão
trabalho forçado ou obrigatório, designa todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo, sob
ameaça de qualquer qualidade, e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade (OIT
art. 2º, 1930).
Daqueles que são explorados por indivíduos ou empresas, 4,5 milhões são vítimas de
exploração sexual forçada;
relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, direito ao salário
mínimo, fundo de garantia do tempo de serviço; irredutibilidade salarial, décimo terceiro salário
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança,
entre outros.
Nesse contexto, o Código Penal brasileiro traz inúmeras disposições referentes aos crimes
ligados à organização do trabalho, merecendo especial destaque o artigo 149 que repudia a
prática do trabalho escravo, ao considerar como crime a conduta de “reduzir alguém a condição
análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua
locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”, incorrendo nas mesmas
penas de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência, aquele
que cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho; mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de
Por constituir uma grave violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, a tortura
é vedada em todo o mundo sendo certo que “a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Artigo 5º), o Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 7º), a Convenção contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,a Convenção
Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Artigo 3º), a
Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Artigo 5º), a Carta Africana sobre os Direitos
Humanos e dos Povos (Artigo 5º) e a Carta Árabe sobre os Direitos Humanos (Artigo 8º), todas
contêm disposições sobre essa proibição” (CICV).
No Brasil, a Constituição Federal dá conta de que ninguém será submetido à tortura nem ao
tratamento desumano ou degradante (inciso III art. 5º), sendo a tortura crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia (inciso XLIII artigo 5°), além de constituir crime expressamente
previsto na Lei 9445/97, a saber:
pessoa;
II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência
ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo
§ 1º. Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita amedida de
segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto
§ 2º. Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las
A prática de maus tratos também é considerada crime no artigo 136 do Código Penal, que assim
estabelece:
“Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou
custódia, haverá maus tratos, ao passo que caracterizará tortura quando a conduta é
praticada como forma de castigo pessoal, objetivando fazer sofrer, por prazer, por
Cabe esclarecer que essas formas de violências podem ser dirigidas a todos, sendo mais
comumente verificada quando praticada contra mulheres, crianças, idosos e presos, em que
pese a existência de legislação específica que os protege (Lei 11.3400/06; Lei 8069/90; Lei
10.741/03).
Segundo a Anistia Internacional foi constatado que em 159 países e territórios a prática de
tortura está presente em 112 deles, equivalente a 70% do total. O aludido órgão a aponta
repressão do direito à liberdade de expressão em 101 deles (64%); julgamentos injustos, em 80
(50%); em 57 países (36%), prisioneiros de consciência (pessoa detida devido à sua crença
religiosa, posicionamento político, origem étnica, sexo, cor, língua, situação econômica e social e
orientação sexual); e em 21 (13%), execuções. O levantamento constatou ainda que forças de
segurança cometeram homicídios ilegais em 50 países (31%) e remoções forçadas ocorreram em
36 (23%) (UOL).
Diante desse lamentável quadro, atenção especial tem sido destinada à população carcerária,
que sofre graves violações em seus direitos, justamente em razão da crença de que os presos
não os detêm.
Importante avanço foi trazido pela Lei 12.847 de 2 de agosto de 2013, que institui o Sistema
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura; cria o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.
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Filmes
Bagram, por consequência dos ferimentos causados por soldados norte-americanos. Meses de
investigação levam uma jornalista do New York Times até a vila remota da vítima. Lá, encontra o
atestado de óbito em inglês, entregue pelo Exército Americano para a família da vítima, que só
fala Pashtu. Causa oficial da morte: homicídio. Documentos oficiais revelam como o exército
norte-americano e o FBI gastaram meses de pesquisa aperfeiçoando seus métodos para “dobrar”
os prisioneiros.
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☕ Referências
4/ 4
BRASIL. Brasil tem quase 900 milindios de 305 etnias e 274 idiomas. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/08/10/brasil-tem-quase-900-milindios-de-305-
etnias-e-274-idiomas>.
________. Lei 11.3400/06 (Lei Maria da Penha), Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do
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COMPARATO, F. K. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. 2. ed. São Paulo: Saraiva. p. 1.
ÉPOCA. Violência Contra Índios Cresceu 237 em 2012 Diz Relatório. Disponível em:
<http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/noticia/2013/06/violencia-contra-indios-cresceu-237-
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G1. Brasil Melhora IDH, mas mantem 85 Posição no Ranking Mundial. 2013. Disponível em:
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________. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos da Organização das Nações Unidas,
1966.
________. Declaração Universal dos Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas, 1948.
________. A Proteção Internacional dos Direitos Humanos das Mulheres. R. EMERJ, Rio de
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________. Anistia Internacional Pública Relatório com Dados Sobre Tortura e Violencia no
________. São Caetano do Sul (SP) mantém 1ª posição no ranking do IDH. Disponível em:
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posicao-no-ranking-do-idh.shtml>.