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Unidade 1:

Direitos Humanos e
Questão da Diversidade

Conteudista: Prof. Me. Paulo Celso Sanvito


Revisão Textual: Prof.ª M.ª Magnólia Gonçalves Mangolini

Objetivo da Unidade:

Discutir a origem do conceito de direitos humanos, sua trajetória histórica, com


especial ênfase à Declaração Universal dos Direitos Humanos e suas relações com
as seguintes temáticas: tolerância; minorias; crianças e adolescentes; mulheres;
casamento e constituição das famílias; povos indígenas, afrodescendentes; pessoas
com deficiência; trabalho escravo e práticas análogas e proteção contra tortura e
maus tratos.

✌ Contextualização
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✌ Contextualização
1/4

Videoaula
Veja, no vídeo a seguir, os assuntos abordados nesta unidade. Atente-se, pois, ao longo dele,
você terá algumas questões reflexivas.

 Atenção, estudante! Aqui, reforçamos o acesso ao conteúdo online para que


você assista à videoaula. Será muito importante para o entendimento do
conteúdo.
“Direitos Humanos é o conjunto institucionalizado de direitos e garantias do ser

humano que tem por finalidade básica o respeito à sua dignidade, por meio de sua
proteção contra o arbítrio do poder estatal e o estabelecimento de condições mínimas
de vida e desenvolvimento da personalidade humana.”

- Alexandre de Moraes

Vídeo
O que são Direitos Humanos?

Assista ao vídeo “O que são Direitos Humanos” e conheça um pouco


mais acerca desses direitos universais.

Clique no botão para conferir o vídeo indicado.

ASSISTA
🏳‍🌈 Material Teórico
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Introdução

“Todos os seres humanos, apesar das inúmeras diferenças biológicas e culturais que

os distinguem entre si, merecem igual respeito, como único sentes no mundo

capazes de amar, descobrir a verdade e criar a beleza. [...]”

- COMPARATO

No entanto, é certo que a história da humanidade está marcada justamente pela reação ao

diferente que, em geral, consiste no desejo de eliminação daquele que não se enquadra nos
padrões socialmente estabelecidos.

Aliás, é exatamente como elemento dessa realidade social que a diversidade se faz presente nas
raças, etnias, culturas, valores, crenças, enfim, nas peculiaridades que distinguem e

individualizam cada um de nós.

Ocorre que, não raro, a essas particularidades é atribuído um caráter depreciativo que, além de
gerar intolerância e exclusões sociais, impõe a ideia segundo a qual o diferente é sempre inferior
ao igual.
Por isso, em respeito à dignidade humana, se faz necessário o desenvolvimento da tolerância,
como forma de aceitação das diferenças, pois somente o diálogo será capaz de despertar a
capacidade de compreensão do outro, em seus direitos e acima de tudo, em suas diferenças.

Analisemos, então, como se dá a relação entre os direitos inerentes a cada ser humano e
atemática da diversidade, em seus aspectos mais relevantes.

Direitos Humanos

Conceito

“Por direitos humanos ou direitos do homem são, modernamente, entendidos aqueles

direitos fundamentais que o homem possui pelo fato de ser homem, por sua própria

natureza humana, pela dignidade que a ela é inerente. São direitos que não resultam
de uma concessão da sociedade política. Pelo contrário, são direitos que a sociedade

política tem o dever de consagrar e garantir.”

- HERKENHOFF

O conceito de Direitos Humanos pode ser considerado sob dois ângulos (SORONDO):

Constituindo um ideal comum para todos os povos e para todas as nações, seria
então um sistema de valores;

Este sistema de valores, enquanto produto de ação da coletividade humana,


acompanha e reflete sua constante evolução e acolhe o clamor de justiça dos povos.
Por conseguinte, os Direitos Humanos possuem uma dimensão histórica.
A doutrina ressalta algumas características próprias desses direitos (KUMPEL; SOUZA):

universalidade: todo ser humano é sujeito desses direitos;

inviolabilidade: esses direitos não podem ser violados por pessoas ou autoridades;

indisponibilidade: são direitos que não podem ser renunciados;

imprescritibilidade: têm caráter eterno;

complementariedade: inexiste hierarquia entre esses direitos, que devem ser


interpretados em conjunto.

A Evolução dos Direitos Humanos


É certo que o conceito de Direitos Humanos é resultado da evolução do pensamento filosófico,
jurídico e político, da qual podemos destacar três ápices: o Iluminismo, a Revolução Francesa e o
término da Segunda Guerra Mundial.

Pois bem, com o Iluminismo (período havido entre a Revolução Inglesa de 1688 e a Revolução
Francesa de 1789) foram ressaltados o espírito crítico, a razão e a fé na ciência, com o fim de
atingir a compreensão acerca das origens da humanidade e da ciência das pessoas e das coisas.
O princípio da igualdade foi estabelecido sob o prisma de que todo homem tem direitos
resultantes de sua própria natureza.

Já a Revolução Francesa deu origem aos ideais representativos dos direitos humanos, a
liberdade, a igualdade e a fraternidade: os homens tinham plena liberdade, eram iguais, ao menos
em relação à lei e deveriam ser fraternos, auxiliando uns aos outros.

Por outro lado, com o fim da Segunda Grande Guerra, os homens se conscientizaram da

necessidade de não permitir que aquelas atrocidades ocorressem novamente, o que culminou na
criação da Organização das Nações Unidas e na declaração de inúmeros Tratados Internacionais
de Direitos Humanos, dentre os quais se destaca a “Declaração Universal dos Direitos do
Homem”, analisada a seguir.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos


Proclamada em 10 de dezembro de 1948, pela Assembleia Geral da Organização das Nações

Unidas (ONU), em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos reconhece a dignidade
humana inerente às pessoas, titulares de direitos iguais e inalienáveis, servindo de base da luta
universal contra a opressão e a discriminação.

De acordo com Kumpel, tal documento relaciona em seu texto, direitos civis e políticos (que são

chamados de direitos de primeira geração e traduzem o valor da liberdade), como direitos sociais,
econômicos e culturais (que são denominados direitos de segunda geração e traduzem o valor
da igualdade) e contempla, ainda, a fraternidade como valor universal (contempla, pois, os
chamados direitos de terceira geração, que compreendem o direito à paz, ao meio ambiente, ao

desenvolvimento, à comunicação, etc.).

Desde sua adoção, a Declaração Universal dos Direitos Humanos foi traduzida em mais de360
idiomas – o documento mais traduzido do mundo – e inspirou as constituições de muitos Estados
e democracias recentes.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, em conjunto com o Pacto Internacional dos
Direitos Civis e Políticos e seus dois Protocolos Opcionais (sobre procedimento de queixa e
sobre pena de morte) e com o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais e
seu Protocolo Opcional, formam a chamada Carta Internacional dos Direitos Humanos (ONU).

É inegável que esse documento “... significou um divisor de águas na história da evolução e

efetivação dos direitos e das garantias fundamentais da pessoa humana, porque a partir dela
estabeleceu-se a concepção dos direitos humanos sob o enfoque da especialização dos direitos
e dos sujeitos a que se destinam.” (SOARES FILHO).
Diversidade e Tolerância

“É possível demarcar a diversidade como um fenômeno concreto, objetivado e

subjetivado no cotidiano das relações e da vida social, cuja (re)produção aponta para o

processo de interação entre os indivíduos. É possível entendê-la como o conjunto de

peculiaridades e diferenças entre os indivíduos, impossíveis de serem padronizadas

devido às características singulares de cada ser.”

- BROTTO

Ora, todos sabemos que o Brasil é o país da diversidade e por isso seria natural que, em nosso
território, a tolerância fosse prática constante, o que, infelizmente, não ocorre.
FIGURA 1
Fonte: Thinkstock.com

#ParaTodosVerem: Foto de 4 pessoas. Imagem focaliza as mãos e os


antebraços. A mão da primeira pessoa segura o pulso da segunda pessoa, a
segunda segura o pulso da terceira e a terceira segura o pulso da quarta e a
quarta segura o pulso da primeira, formando um elo em círculo. As cores das
peles das pessoas são variadas, há duas com tons mais claros, uma com tom
moreno um pouco mais escuro e uma pessoa com a pele negra. Fim da
descrição.

Mas, afinal, o que é tolerância? Pois bem, o artigo1° da Declaração de Princípios sobre a

Tolerância, aprovada pela Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura (UNESCO), em 16 de novembro de 1995, descreve seus diferentes
significados:
“1.1 A tolerância é o respeito, a aceitação e o apreço da riqueza e da diversidade das

culturas de nosso mundo, de nossos modos de expressão e de nossas maneiras de

exprimir nossa qualidade de seres humanos. É fomentada pelo conhecimento, a

abertura de espírito, a comunicação e a liberdade de pensamento, de consciência e

de crença. A tolerância é a harmonia na diferença. [...];

1.2 A tolerância não é concessão, condescendência, indulgência. A tolerância é, antes

de tudo, uma atitude ativa fundada no reconhecimento dos direitos universais da


pessoa humana e das liberdades fundamentais do outro. [...];

1.3 A tolerância é o sustentáculo dos direitos humanos, do pluralismo(inclusive o


pluralismo cultural), da democracia e do Estado de Direito.[...];

1.4 Em consonância ao respeito dos direitos humanos, praticar a tolerância não

significa tolerar a injustiça social, nem renunciar às próprias convicções, nem fazer

concessões a respeito. A prática da tolerância significa que toda pessoa tem a livre

escolha de suas convicções e aceita que o outro desfrute da mesma liberdade.

Significa aceitar o fato de que os seres humanos, que se caracterizam naturalmente

pela diversidade de seu aspecto físico, de sua situação, de seu modo de expressar-
se, de seus comportamentos e de seus valores, têm o direito de viver em paz e de ser

tais como são. Significa também que ninguém deve impor suas opiniões a outrem.”

- UNESCO | Fonte: https://bit.ly/3ON2KNP

Como se vê, em que pese a tolerância ser um dever de ordem ética e uma necessidade política e
jurídica, ainda assim as violações aos direitos fundamentais, por meio da violência gerada pela
discriminação e preconceito são rotineiras, mas devem ser enfrentadas tanto pelo Estado quanto
à sociedade, como forma de garantia da dignidade da pessoa humana.

Os Direitos Humanos e as Minorias

“O conceito de desenvolvimento humano nasceu definido como um processo de

ampliação das escolhas das pessoas para que elas tenham capacidades e
oportunidades para serem aquilo que desejam ser. Diferentemente da perspectiva do

crescimento econômico, que vê o bem-estar de uma sociedade apenas pelos

recursos ou pela renda que ela pode gerar, a abordagem de desenvolvimento humano

procura olhar diretamente para as pessoas, suas oportunidades e capacidades.”

- PNUD

E são justamente esses elementos que constituem a base do IDH – Índice de Desenvolvimento

Humano, que restou desenvolvido pelo economista paquistanês Mahbud Ul Haq auxiliado pelo
economista indiano Amartya Sen, sendo utilizado, desde 1993, pelo Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD). Atualmente o IDH é composto por três importantes áreas do
desenvolvimento humano, a saber:

Vida longa e saudável (longevidade), medida pela expectativa de vida;

O acesso ao conhecimento (educação) é medido por: i) média de anos de educação


de adultos, que é o número médio de anos de educação recebidos durante a vida
por pessoas a partir de 25 anos; e ii) a expectativa de anos de escolaridade para
crianças na idade de iniciar a vida escolar, que é o número total de anos de
escolaridade que uma criança na idade de iniciar a vida escolar pode esperar receber
se os padrões prevalecentes de taxas de matrículas específicas por idade
permanecerem os mesmos durante a vida da criança;

O padrão de vida (renda) é medido pela Renda Nacional Bruta (RNB) per capita
expressa em poder de paridade de compra (PPP) constante, em dólar, tendo 2005
como ano de referência.

Em 2013, “a primeira colocação no ranking mundial permanece com a Noruega (0,955), seguida
por Austrália (0,938) e Estados Unidos (0,937). Os três piores colocados são Moçambique
(0,327), Congo (0,304) e Niger (0,304). Conforme abaixo evidenciado, o Brasil registrou melhora
no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em relação ao ano anterior, mas manteve-se

ocupando o 85º lugar no ranking mundial. O país apresentou progresso em renda, educação e
saúde nos últimos 20 anos e [...] está entre os 15 países que mais reduziram a diferença, desde
1990, entre o patamar do IDH e o máximo verificado pela ONU.” (G1).

FIGURA 2 | IDH no Brasil


Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem: Imagem de um infográfico. Na parte superior há um quadro


com as seguintes informações acerca do IDH no Brasil: Posição – 84ª, IDH –
0,718, Esperança de vida – 73,5 anos, média de anos de escolaridade – 7,2 anos,
anos de escolaridade esperados – 13,8 anos, renda nacional bruta per capita
(PPC em dólar americano) – 10,162. Abaixo há um gráfico que mostra os dados de
IDH no Brasil por décadas: em 1980 – 0,549, em 1990 – 0,6, em 2000 – 0,665, em
2009 – 0,708, em 2010 – 0,715 e em 2011 – 0,718. À direita há um quadro que
explica o índice de pobreza multidimensional (IPM) e porcentagem desses
índices no Brasil em 2011: População em pobreza multidimensional – 5,075
milhões, população vulnerável à pobreza – 7%, população em pobreza grave –
0,2%, população multidimensionalmente pobre sem água potável – 1%, população
pobre sem saneamento melhorado – 1,1% e população abaixo do limiar da
pobreza do rendimento de 1 dólar e 25 centavos por dia – 3,8%. Fim da
descrição.

O Brasil foi um dos países pioneiros ao adaptar e calcular o IDH para todos os municípios
brasileiros, criando o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM), em 1998. O IDHM
ajusta o IDH para a realidade dos municípios e reflete as especificidades e desafios regionais no
alcance do desenvolvimento humano no Brasil.

O Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013 é uma plataforma de consulta ao Índice de


Desenvolvimento Humano Municipal – IDHM – de 5.565 municípios brasileiros, e a mais de 180
indicadores de população, educação, habitação, saúde, trabalho, renda e vulnerabilidade, com
dados extraídos dos Censos Demográficos de 1991, 2000 e 2010 (PNUD):
FIGURA 3 | IDHM melhores e piores cidades do Brasil
Fonte: Reprodução

#ParaTodosVerem: Imagem de um mapa. À esquerda, na parte superior há o


título IDHM Melhores e piores cidades do Brasil. À direita há um mapa do Brasil
mostrando 10 cidades espalhadas por todas as regiões do país. 5 delas estão
escritas em azul e as outras 5 em vermelho. À esquerda, ao lado do mapa, há um
quadro que explica as cidades mostradas no mapa: Melhores IDHM: No Brasil:
São Caetano do Sul (SP) 0,862, Região Norte: Palmas (TO) 0,788, Região
Nordeste: Fernando de Noronha 0,788, Região centro-oeste: Brasília (DF) 0,824,
região sudeste: São Caetano do Sul (SP) 0,862 e região sul: Florianópolis (SC)
0,847. Abaixo há um quadro que explica os piores IDHM das cidades mostradas
no mapa: Brasil: Melgaço (PA) 0,418, região Norte: Melgaço (PA) 0,418, região
nordeste: Fernando Falcão (MA) 0,443, Região centro-oeste: Japorã (MS) 0,526,
Região Sudeste: São João das Missões (MG) 0,529 e região Sul: Doutor Ulysses
(PR) 0,546. Fim da descrição.

Por fim vale mencionar que os dados obtidos por meio do dessa forma de monitoramento são de
suma importância para a elaboração de políticas públicas que respeitem os direitos e atendam às

necessidades de todos, façam estes parte da maioria ou não.


Mas, então, o que são minorias? Apesar de inúmeras tentativas, até hoje não foi possível
estabelecer um conceito satisfatório acerca dessa expressão, justamente em razão da
diversidade de situações em que estas se colocam.

Algumas minorias apresentam certo grau de autonomia e em outras ocorre justamente o inverso;
algumas têm um forte sentido de identidade coletiva, ao passo que em outras essa situação não
se verifica; umas podem ser localizadas em áreas definidas, separadas da parte dominante da
população, enquanto que outras se encontram dispersas.

Vale lembrar que nem mesmo a Organização das Nações Unidas logrou êxito em estabelecer um
conceito universal de minoria, tendo em vista que o Pacto Internacional dos Direitos Civis e
Políticos de 1966 estabeleceu apenas que “nos Estados em que haja minorias étnicas, religiosas
ou linguísticas, as pessoas pertencentes a essas minorias não poderão ser privadas do direito
deter, conjuntamente com outros membros de seu grupo, sua própria vida cultural, de professar
e praticar sua própria religião e usar sua própria língua" (PIDCP ONU, 1966).

Não obstante tais diferenças, podemos entender por minoria um “grupo não dominante de
indivíduos que partilham certas características nacionais, étnicas, religiosas ou linguísticas,

diferentes das características da maioria da população” (GDDC n.º 18, 2008).

Já o conjunto de pessoas que por questões ligadas a gênero, idade, condição social, deficiência
e orientação sexual, tornam-se mais suscetíveis à violação de seus direitos é conhecido como
grupo vulnerável (SENASP, 2009).

Nesse sentido, a doutrina aponta os seguintes elementos caracterizadores das minorias e


grupos vulneráveis (SÉGUIN apud. BRITO):

Tabela 1
Minorias Grupos Vulneráveis

Por vezes, se apresentam como


Numérico. grande contingente, como as
mulheres, as crianças, os idosos.

Não dominância. São destituídos de poder.

Cidadania. Cidadania.

Acima de tudo, não têm


Solidariedade entre seus
consciência de que estão sendo
membros, tudo com vistas à
vítimas de discriminação e
preservação de sua cultura,
desrespeito; não sabem que têm
tradições, religião e idioma.
direitos.

De qualquer forma, minoria ou grupo vulnerável, não importa, o fato é que esses conjuntos
específicos de pessoas devem ser protegidos, pois seus direitos são mais suscetíveis de serem
violados. Assim, vejamos:

Crianças e Adolescentes
É certo que a Declaração Universal dos Direitos Humanos, acima mencionada, põe a salvo os
direitos desses grupos específicos ora tratados, ao estabelecer que: “A maternidade e a infância
têm direito a cuidados e assistência especiais. Todas as crianças nascidas dentro ou fora do
matrimônio, gozarão da mesma proteção social” (inciso 2 do artigo XXV).

Nesse mesmo sentido, a Constituição Federal de 1988, antecipando-se à Assembleia Geral da


Organização das Nações Unidas, que em 1989 realizou a Convenção Internacional dos Direitos da
Criança, reconhece: “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao
adolescente, com absoluta prioridade, o direito à saúde, à alimentação, à cultura, à dignidade, ao
respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão” (artigo 227).

Na esfera infraconstitucional, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n° 8069/90)


reconhece que esses grupos específicos de pessoas gozam de todos os direitos fundamentais
inerentes à pessoa humana e assegura-lhes oportunidades e facilidades com o fim de alcançar o
desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de
dignidade.

Não obstante essas disposições legais, a violência contra a criança e os adolescentes tornou-se
um preocupante fenômeno mundial, a Youth for Human Rights International alerta sobre as
violações à dignidade e à vida, das crianças e adolescentes, alvos fáceis dessas práticas:

Abuso infantil: 40 milhões de crianças com menos de 15 anos sofrem de abusos


e negligência. (Fundação das Nações Unidas para a Infância, 2008);

Violência de Gangs: 100% das cidades com população igual ou superior a 250 mil
relatam a atividade de gangs. (Ministério da Justiça dos EUA);

Trabalho infantil: 246 milhões de crianças, uma em cada seis crianças com
idades entre 5 a 17 anos, estão envolvidas em trabalho infantil. (Organização
Internacional do Trabalho, 2002);

Crianças-soldados: A UNICEF estima que mais de 300 mil crianças menores de


18 anos estão atualmente a ser exploradas em mais de 30 conflitos armados em
todo o mundo. A maioria das crianças-soldados tem entre 15 e 18 anos, alguns
são tão jovens quanto 7 ou 8 anos de idade. (Departamento de Estado dos EUA,
2005);

Tráfico de seres humanos: estima–se que existem 27 milhões de pessoas no


mundo que estão escravizadas. Anualmente entre 600 mil e 800 mil pessoas são
traficadas através das fronteiras internacionais. (Relatório de Tráfico de Pessoas
do Departamento de Estado dos EUA, 2006).

- YHRI | Fonte: https://bit.ly/3b9WFNl

Mulheres
Certamente, em razão das diferenças biológicas havidas entre homens e mulheres, esta foi a
primeira diversidade percebida entre os seres humanos. Vale mencionar que, ao longo dos
séculos as mulheres têm sido privadas do exercício dos direitos humanos, sendo submetidas à

violência, sob as mais diversas formas – física, sexual, psicológica e econômica.

Sensível a essa situação, a Organização das Nações Unidas (ONU) declarou o período havido
entre 1976 e 1985, como a “Década da Mulher”, sendo certo que ao longo desse lapso temporal
foram elaboradas propostas com o fim de tutelar os direitos humanos das mulheres, dentre as
quais se destaca a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (Convenção da Mulher), instrumento legal de padrões internacionais que articula direitos
iguais de homens e mulheres.

Nesse sentido, alerta a Organização das Nações Unidas:

Cerca de 70% das mulheres sofrem algum tipo de violência no decorrer de sua
vida: As mulheres de 15 a 44 anos correm mais risco de sofrer estupro e violência
doméstica do que de câncer, acidentes de carro, guerra e malária, de acordo com
dados do Banco Mundial;

Violência praticada pelo parceiro íntimo: Diversas pesquisas mundiais apontam que
metade de todas as mulheres vítimas de homicídio é morta pelo marido ou parceiro,
atual ou anterior. Um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) realizado em
11 países constatou que a porcentagem de mulheres submetidas à violência sexual
por um parceiro íntimo varia de 6% no Japão a 59% na Etiópia;

Violência sexual: Calcula-se que, em todo o mundo, uma em cada cinco mulheres se
tornará uma vítima de estupro ou tentativa de estupro no decorrer da vida. A prática
do matrimônio precoce – uma forma de violência sexual – é comum em todo o
mundo, especialmente na África e no Sul da Ásia. As meninas são muitas vezes
forçadas a se casar e a manter relações sexuais, o que acarreta riscos para a saúde,
inclusive a exposição ao HIV/AIDS e a limitação da frequência à escola. Um dos
efeitos do abuso sexual é a fístula traumática ginecológica: uma lesão resultante do
rompimento severo dos tecidos vaginais, deixando a mulher incontinente e
indesejável socialmente;

Violência sexual em conflitos: Trata-se, com frequência, de uma estratégia


deliberada empregada em larga escala por grupos armados a fim de humilhar os
oponentes, aterrorizar as pessoas e destruir as sociedades. Mulheres e meninas
também podem ser submetidas à exploração sexual por aqueles que têm a obrigação
de protegê-las;

“Homicídio em defesa da honra”: Em muitas sociedades, vítimas de estupro,


mulheres suspeitas de praticar sexo pré-matrimonial e mulheres acusadas de
adultério têm sido assassinadas por seus parentes, porque a violação da castidade
da mulher é considerada uma afronta à honra da família. O Fundo de População das
Nações Unidas (UNFPA) estima que o número anual mundial do chamado “homicídio
em defesa da honra” pode chegar a 5 mil mulheres;

Tráfico de pessoas: Entre 500 mil e 2 milhões de pessoas são traficadas anualmente
em situações incluindo prostituição, mão de obra forçada, escravidão ou servidão,
segundo estimativas. Mulheres e meninas respondem por cerca de 80% das vítimas
detectadas;

Discriminação e violência: Muitas mulheres enfrentam múltiplas formas de


discriminação e um risco cada vez maior de violência física, em comparação a um
terço das mulheres sem deficiência. A violência contra as mulheres detidas pela
polícia é comum e inclui violência sexual, vigilância inadequada, revistas com
desnudamento realizadas por homens e exigência de atos sexuais em troca de
privilégios ou necessidades básicas (ONU).

No âmbito do direito pátrio, importante avanço foi conquistado pelas mulheres, com a edição da
Lei n° 11.340/06, conhecida como “Lei Maria da Penha que“... cria mecanismos para coibir a
violência doméstica e familiar contra a mulher em conformidade com a Convenção Interamericana
para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (“Convenção de Belém do Pará”).
Amplia o conceito de violência contra a mulher, compreendendo tal violência como “qualquer
ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou

psicológico e dano moral ou patrimonial”, que ocorra no âmbito da unidade doméstica, no âmbito
da família ou em qualquer relação íntima de afeto” (PIOVESAN, 2012).

Casamento e Constituição da Família


Em razão da influência exercida pela Igreja, por muito tempo o Brasil teve como base da formação
da família o casamento religioso.

Vale mencionar que esses laços começaram a se afrouxar com o advento da Lei n° 6.515/77 que
instituiu a dissolubilidade do vínculo matrimonial, pelo divórcio.

No entanto, foi a Constituição Federal de 1988 que produziu importantes inovações ao


reconhecer como entidade familiar, tanto a união estável entre o homem e a mulher (§ 3°, art.
226), quanto a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes, sendo todas
merecedoras de especial proteção do Estado (§ 4°, art. 226).

“Nessa esteira, observa-se que a entidade familiar ultrapassa os limites da previsão jurídica
(casamento, união estável e família monoparental) para abarcar todo e qualquer agrupamento de
pessoas onde permeie o elemento afeto (affectio familiae ). Em outras palavras, o ordenamento
jurídico deverá sempre reconhecer como família todo e qualquer grupo no qual os seus membros
enxergam uns aos outros como seu familiar” (ALVES, 2006), ainda que se trate de união, por

vínculo de afeto, entre pessoas do mesmo sexo.

Acerca da união homoafetiva é necessário mencionar que o Colendo Supremo Tribunal Federal já
reconheceu a inconstitucionalidade de distinção de tratamento legal às uniões estáveis
constituídas por pessoas de mesmo sexo (ADPF 132/RJ e da ADI 4277/DF), tendo seguido
idêntica orientação, o Superior Tribunal de Justiça, ao decidir acerca da inexistência de óbices
legais à celebração de casamento entre pessoas de mesmo sexo (RESP 1.183.378/RS).
Tais julgados, por sua vez, embasam a Resolução 175, de 14 de maio de 2013, do Conselho
Nacional de Justiça, que determina ser “... vedada às autoridades competentes a recusa de
habilitação, celebração de casamento civil ou de conversão de união estável em casamento entre
pessoas de mesmo sexo” (CNJ, 2013).

Ora, ainda que essas decisões não tenham caráter vinculativo e que a constitucionalidade da
referida resolução esteja sendo questionada, não se pode negar que elas representam um
caminho à efetiva proteção “do direito à preferência sexual como direta emanação do princípio da

“dignidade da pessoa humana”: direito a autoestima no mais elevado ponto da consciência do


indivíduo. Direito à busca da felicidade” (ADPF 132/RJ).

Povos Indígenas
É certo que na esfera internacional, vários diplomas tratam dos direitos dos povos indígenas,
sendo o mais importante a Declaração Universal dos Direitos dos Povos Indígenas, aprovada pela
Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU), em 13 de setembro de 2007.

FIGURA 4
Fonte: Adaptada de Getty Images

#ParaTodosVerem: Foto montagem com 5 indígenas. À esquerda, imagem de um


indígena, aparenta ser idoso, usa grandes alargadores brancos nas orelhas que
pendem até o seu ombro. Utiliza também variados colares em tom bege,
vermelho e preto. No centro, na parte superior, imagem de uma menina indígena,
olhando para baixo, aparenta ser adolescente, tem cabelo liso e preto na altura
dos ombros, pele bronzeada e apresenta uma pintura indígena em tom preto ao
redor da boca e nas bochechas. No centro, na parte inferior, um homem indígena
com a cabeça erguida, aparenta ser jovem adulto, está usando na cabeça um
cocar com penas azuis e amarelas; o rosto está pintado de vermelho. À direita,
na parte superior, imagem de um homem indígena, aparenta ser adulto e está de
perfil; utilizar um cocar na cabeça com penas azuis e vermelhas; o rosto está
pintado de preto e vermelho. À esquerda na parte inferior, há uma imagem de
uma menina indígena, aparenta pouca idade. O rosto está virado para frente e os
olhos virados para a esquerda; usa na cabeça um acessório de penas amarelas,
pretas e vermelhas. O rosto está pintado de vermelho nas bochechas. Fim da
descrição.

Nos mesmos moldes da Declaração Universal dos Direitos Humanos, esse documento reconhece
que os povos indígenas são iguais a todos os demais povos e detém o direito de serem
diferentes e a serem respeitados em suas diferenças. Afirma, ainda, que todos os povos
contribuem para a diversidade e a riqueza das civilizações e culturas, que constituem patrimônio
comum da humanidade.

No âmbito da legislação pátria, o Estatuto do Índio (Lei n° 6.001/1973), estende aos povos e as
comunidades indígenas, a proteção das leis do país, nos mesmos termos em que se aplicam aos

demais brasileiros, resguardados os usos, costumes e tradições indígenas.

O Brasil tem 896,9 mil indígenas em todo o território nacional, somando a população residente
tanto em terras indígenas (63,8%) quanto em cidades (36,2%), de acordo com o Censo 2010, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE). O país tem, ainda, 505 terras indígenas,
que representam 12,5% do território brasileiro (106,7 milhões de hectares), onde residem 517,4
mil indígenas (57,7%), dos quais 251,9 mil (48,7%) estão na região Norte. Apenas seis terras têm
mais de 10 mil indígenas; 107 têm entre mais de 1 mil e 10 mil; 291 têm entre mais de cem e 1 mil,
e em 83 residem até cem indígenas. A terra com maior população indígena é Yanomami, no

Amazonas e em Roraima, com 25,7 mil indígenas (BRASIL, 2013).

Vale esclarecer que a ocorrência de atos violentos contra os índios brasileiros, como
assassinatos (e tentativas), ameaças de morte, lesões corporais e estupros, cresceram 237% em
2012, segundo o Relatório de Violência Contra os Povos Indígenas, divulgado pelo Conselho
Indigenista Missionário (ÉPOCA, 2013). O aumento da violência, em grande parte, se deu em
razão dos conflitos fundiários envolvendo produtores rurais e grupos indígenas.

Afrodescendentes
É inegável que a Declaração Universal dos Direitos Humanos refletiu a necessidade de proteção
específica de certas populações, grupos e indivíduos que ao longo dos tempos foram violados
em seus direitos, sendo este justamente o caso dos afrodescendentes, usualmente, vítimas de
preconceito e racismo.

Aliás, nesse sentido surgiu a Convenção sobre a Eliminação de Todas das Formas de
Discriminação Racial adotada pela Organização das Nações Unidas em 21 de dezembro de 1965 e
ratificada pelo Brasil em 27 de março de 1968, a qual integra o denominado sistema especial de
proteção dos direitos humanos que, ao contrário do sistema geral, é endereçado a um sujeito de
direito concreto, visto em sua especificidade e na concreticidade de suas diversas relações. Daí
apontar-se não mais ao indivíduo genérica e abstratamente considerado, mas ao indivíduo
especificado, considerando-se categorizações relativas ao gênero, idade, etnia, raça [...]
(PIOVESAN).

Assim, visando eliminar e combater doutrinas e práticas racistas, a Convenção estabelece que,
por discriminação racial entende-se qualquer distinção, exclusão, restrição ou preferência,
baseadas em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica que têm por objetivo ou
efeito anular ou restringir o reconhecimento, gozo ou exercício em um mesmo plano (em
igualdade de condição) de direitos humanos e liberdades fundamentais no domínio político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro domínio de vida pública (ICERD, art. 1º).

Por outro lado, a Constituição Federal de 1988, reafirma que um dos objetivos principais da
República Federativa do Brasil é combater o preconceito e qualquer forma de discriminação
(inciso IV do artigo 3°), devendo ser punida qualquer discriminação atentatória dos direitos e
liberdades fundamentais (inciso XLI do artigo 5°), em especial a prática do racismo, crime
inafiançável e imprescritível (inciso XLII do artigo 5°).
Nessa esteira merecem destaque na legislação infraconstitucional pátria:

Lei 7716/89: define os diversos crimes resultantes de preconceito de raça e de cor,


o Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10) que visa garantir à população negra
a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos
individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às demais formas de
intolerância étnica;

§3° do artigo 140 do Código Penal: define o crime de injúria racial – "Se a injúria
consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou
a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência.
Pena – reclusão de um a três anos e multa".

Lei 12.711/12 e Decreto 7.824/12: A chamada “Lei de Cotas” garante percentuais


mínimos de vagas nas universidades federais e nas instituições federais de ensino
técnico e de nível médio para estudantes pretos, pardos, indígenas e também para
aqueles de famílias de rendas menores egressos das escolas públicas.

Eis um retrato da demografia racial no Brasil:


Figura 5
Fonte: CONEPIR

#ParaTodosVerem: Imagem de um infográfico. Na parte superior à esquerda há o


título Demografia Racial no Brasil. Há 6 gráficos com informações diversas. O
primeiro é sobre o número da população brasileira em milhões por décadas: em
2000, a população de brancos era de 91 milhões; e a de negros, 76 milhões. Em
2010, a população de brancos era de 91 milhões; e a de negros, 97 milhões. Ao
lado direito, há duas informações: mulheres brancas que criavam seus filhos
sozinhas – 14,3%, e mulheres negras que criavam seus filhos sozinhas – 17,7%.
No centro da imagem, na imagem à esquerda o gráfico informa óbitos masculinos
por causas externas: Homens brancos: em 2001 – homicídios: 36,2%, em 2007 –
30%; acidentes de trânsito: em 2001 - 50%, em 2007 – 35,3%. Homens negros:
em 2001 – homicídios: 50%, em 2007: 48%. Acidentes de trânsito: em 2001 –
20%, em 2007: 24%. No centro à direita, há um gráfico que informa a
contribuição das mulheres para a renda: em 1999: brancas – 32,3, negras –
24,3%; em 2009: brancas – 36,1% e negras - 28-5%. Na parte inferior à
esquerda, há um gráfico de taxa de fecundidade: em 1999, pessoas negras
tinham taxa de fecundidade de 2,7, enquanto pessoas brancas de 2,2. Em 2009,
pessoas negras tem taxa de 2,1 enquanto pessoas brancas tem taxa de 1,6. Na
parte inferior à direita, há um gráfico que mostra horas semanais dedicadas ao
trabalho doméstico: brancos – 20,3 horas; negros – 22 horas. Fim da descrição

Pessoas com Deficiência


“Pessoas com deficiência são aquelas que têm impedimentos de natureza física, intelectual ou
sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade com as demais pessoas” (NOGUEIRA, 2008). Ora, pode parecer óbvio, mas
é importante lembrar que essas pessoas são seres humanos e por isso seus direitos
fundamentais já são resguardados pela Declaração Universal dos Direitos Humanos.

No entanto, em que pese tal proteção, é fato que as pessoas com deficiência estão mais
vulneráveis a situações de violência, razão pela qual a Assembleia Geral da Organização das
Nações Unidas (ONU) aprovou, em 13 de dezembro de 2006, a Convenção sobre os Direitos da
Pessoa com Deficiência.

O referido tratado foi assinado pelo Brasil em 30 de março de 2007 e entrou em vigor,
juntamente com seu protocolo Facultativo, em 3 de maio de 2008, valendo mencionar que a
Convenção não cria direitos, sendo um facilitador para a concretização de todos os direitos da
pessoa com deficiência, sejam os universais, sejam os referentes à grupos específicos.

Cerca de 10% da população mundial, aproximadamente 650 milhões de pessoas, vivem com uma
deficiência. São a maior minoria do mundo, e cerca de 80% dessas pessoas vivem em países em
desenvolvimento. Entre as pessoas mais pobres do mundo, 20% têm algum tipo de deficiência.
Mulheres e meninas com deficiência são particularmente vulneráveis a abusos. Pessoas com
deficiência são mais propensas a serem vítimas de violência ou estupro, e têm menor
probabilidade de obter ajuda da polícia, a proteção jurídica ou cuidados preventivos. Cerca de
30% dos meninos ou meninas de rua têm algum tipo de deficiência, e nos países em
desenvolvimento, 90% das crianças com deficiência não frequentam a escola (ONU).

No Brasil, de acordo com o Censo 2010, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE),
quase ¼ da população (23,9%) apresenta algum tipo de deficiência, o que significa cerca de 45,6

milhões de pessoas, sendo 26,5% mulheres e 21,2% homens, apresentando deficiência visual
(35.774.392), auditiva (9.717.318), motora (13.265.599), mental e intelectual (IBGE).

Trabalho Escravo e Práticas Análogas

“Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráficode

escravos serão proibidos em todas as suas formas.”

- Art. 4º. DUDH ONU, 1948

Pode parecer incrível, mas em pleno século XXI essa prática tão vergonhosa e merecedora de
repúdio ainda persiste no mundo inteiro, especialmente nos países em desenvolvimento.

Aliás, em 1926 a Convenção sobre a Escravatura da Organização das Nações Unidas (ONU) já
alertava sobre os perigos da escravidão, entendida esta como o estado e a condição de um
indivíduo sobre o qual se exercem, total ou parcialmente, alguns ou todos os atributos do direito
de propriedade.
Por outro lado, Organização Internacional do Trabalho (OIT), agência das Nações Unidas que tem
por missão promover o acesso a um trabalho decente e produtivo, estabelece que a expressão
trabalho forçado ou obrigatório, designa todo trabalho ou serviço exigido de um indivíduo, sob

ameaça de qualquer qualidade, e para o qual ele não se ofereceu de espontânea vontade (OIT
art. 2º, 1930).

A Organização Internacional do Trabalho apresenta o triste retrato mundial, acerca dessa


repugnante prática:

Quase 21 milhões de pessoas são vítimas de trabalho forçado: 11,4 milhões de


mulheres e meninas e 9,5 milhões de homens e meninos;

Os menores de 18 anos representam 26% (5,5 milhões) de todas as vítimas de


trabalho forçado;

Cerca de 19 milhões de vítimas são exploradas por indivíduos ou empresas privadas


e mais de 2 milhões pelo Estado ou grupos rebeldes;

Daqueles que são explorados por indivíduos ou empresas, 4,5 milhões são vítimas de
exploração sexual forçada;

Os que impõem ou promovem o trabalho forçado conseguem enormes ganhos


ilegais;

O trabalho doméstico, a agricultura, a construção, a indústria e o entretenimento se


encontram entre os setores mais afetados;

Os trabalhadores migrantes e os povos indígenas são especialmente vulneráveis ao


trabalho forçado (OIT).

No Brasil, onde é utilizada a expressão “trabalho escravo”, proíbe-se o tratamento desumano ou


degradante, por meio do livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, do direito à

relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, direito ao salário
mínimo, fundo de garantia do tempo de serviço; irredutibilidade salarial, décimo terceiro salário
redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança,
entre outros.

Nesse contexto, o Código Penal brasileiro traz inúmeras disposições referentes aos crimes

ligados à organização do trabalho, merecendo especial destaque o artigo 149 que repudia a
prática do trabalho escravo, ao considerar como crime a conduta de “reduzir alguém a condição
análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer
sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua

locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto”, incorrendo nas mesmas
penas de reclusão, de dois a oito anos, e multa, além da pena correspondente à violência, aquele
que cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo
no local de trabalho; mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de

documentos ou objetos pessoais do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho.


Nestes casos a pena é aumentada de metade, se o crime é cometido contra criança ou
adolescente ou por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.

Proteção Contra Tortura e Maus Tratos


Pode-se afirmar que a tortura e os maus tratos acompanham a história das civilizações, como
práticas destinadas à submissão pelo uso do poder e da força física por meio de diferentes
formas de violência.

Por constituir uma grave violação dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, a tortura
é vedada em todo o mundo sendo certo que “a Declaração Universal dos Direitos Humanos
(Artigo 5º), o Pacto Internacional Sobre Direitos Civis e Políticos (Artigo 7º), a Convenção contra a
Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes,a Convenção
Europeia para a Proteção dos Direitos Humanos e Liberdades Fundamentais (Artigo 3º), a

Convenção Americana sobre os Direitos Humanos (Artigo 5º), a Carta Africana sobre os Direitos
Humanos e dos Povos (Artigo 5º) e a Carta Árabe sobre os Direitos Humanos (Artigo 8º), todas
contêm disposições sobre essa proibição” (CICV).

No Brasil, a Constituição Federal dá conta de que ninguém será submetido à tortura nem ao

tratamento desumano ou degradante (inciso III art. 5º), sendo a tortura crime inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia (inciso XLIII artigo 5°), além de constituir crime expressamente
previsto na Lei 9445/97, a saber:

“Art. 1º. Constitui crime de tortura:

I – constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça, causando-lhe

sofrimento físico ou mental:

a) com o fim de obter informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira

pessoa;

b) para provocar ação ou omissão de natureza criminosa;

c) em razão de discriminação racial ou religiosa.

II – submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência

ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo

pessoal ou medida de caráter preventivo.

Pena – reclusão, de dois a oito anos.

§ 1º. Na mesma pena incorre quem submete pessoa presa ou sujeita amedida de

segurança a sofrimento físico ou mental, por intermédio da prática de ato não previsto

em lei ou não resultante de medida legal.

§ 2º. Aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evitá-las

ou apurá-las, incorre na pena de detenção de um a quatro anos.


§ 3º. Se resulta lesão corporal de natureza grave ou gravíssima, a pena é de reclusão

de quatro a dez anos; se resulta morte, a reclusão é de oito a dezesseis anos.”

A prática de maus tratos também é considerada crime no artigo 136 do Código Penal, que assim
estabelece:

“Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade, guarda ou

vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de

alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou

inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina:

Pena – detenção, de dois meses a um ano, ou multa.”


“A distinção entre os crimes de maus tratos e de tortura deve ser encontrada não só

no resultado provocado na vítima, como no elemento volitivo do agente; assim, se

[alguém] abusa do direito de corrigir para fins de educação, ensino, tratamento e

custódia, haverá maus tratos, ao passo que caracterizará tortura quando a conduta é

praticada como forma de castigo pessoal, objetivando fazer sofrer, por prazer, por

ódio ou qualquer outro sentimento vil.”

- MACHADO, Lei 9455/97

Cabe esclarecer que essas formas de violências podem ser dirigidas a todos, sendo mais
comumente verificada quando praticada contra mulheres, crianças, idosos e presos, em que
pese a existência de legislação específica que os protege (Lei 11.3400/06; Lei 8069/90; Lei
10.741/03).

Segundo a Anistia Internacional foi constatado que em 159 países e territórios a prática de
tortura está presente em 112 deles, equivalente a 70% do total. O aludido órgão a aponta
repressão do direito à liberdade de expressão em 101 deles (64%); julgamentos injustos, em 80
(50%); em 57 países (36%), prisioneiros de consciência (pessoa detida devido à sua crença

religiosa, posicionamento político, origem étnica, sexo, cor, língua, situação econômica e social e
orientação sexual); e em 21 (13%), execuções. O levantamento constatou ainda que forças de
segurança cometeram homicídios ilegais em 50 países (31%) e remoções forçadas ocorreram em
36 (23%) (UOL).

Diante desse lamentável quadro, atenção especial tem sido destinada à população carcerária,
que sofre graves violações em seus direitos, justamente em razão da crença de que os presos
não os detêm.

Importante avanço foi trazido pela Lei 12.847 de 2 de agosto de 2013, que institui o Sistema
Nacional de Prevenção e Combate à Tortura; cria o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à
Tortura e o Mecanismo Nacional de Prevenção e Combate à Tortura.
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Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

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Taxi to the Dark Side


Um taxista afegão, preso por líderes militares locais, morre 4 dias depois na Base Aérea de

Bagram, por consequência dos ferimentos causados por soldados norte-americanos. Meses de
investigação levam uma jornalista do New York Times até a vila remota da vítima. Lá, encontra o
atestado de óbito em inglês, entregue pelo Exército Americano para a família da vítima, que só
fala Pashtu. Causa oficial da morte: homicídio. Documentos oficiais revelam como o exército
norte-americano e o FBI gastaram meses de pesquisa aperfeiçoando seus métodos para “dobrar”
os prisioneiros.

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A Rota do Escravo – A Alma da Resistência

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O Enigma: ONU Contra a Homofobia

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Homem de Verdade não Bate em Mulher

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☕ Referências
4/ 4

ALVES, L. B. M. O reconhecimento legal do conceito moderno de família: o art. 5º, II e parágrafo


único, da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). JusNavigandi, Teresina, ano 11, n. 1225, 8 nov.
2006.

BRASIL. Brasil tem quase 900 milindios de 305 etnias e 274 idiomas. Disponível em:
<http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2012/08/10/brasil-tem-quase-900-milindios-de-305-

etnias-e-274-idiomas>.

________. Artigo 1° da Convenção sobre a Eliminação de Todas das Formas de Discriminação


Racial.

________. Lei 11.3400/06 (Lei Maria da Penha), Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do

Adolescente), Lei 10.741/03 (Estatuto do Idoso).

BROTTO, M. E. Diversidade: Na busca pela garantia da Cidadania e de Direitos Humanos. Este


artigo é fruto dasreflexões desenvolvidas e apresentadas na disciplina “Cidadania e Direitos.

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CNJ. Resolução n.º 175 de 14 de maio 2013. Disponível em: <http://www.cnj.jus.br/atos-


administrativos/atos-da-presidencia/resolucoespresidencia/24675-resolucao-n-175-de-14-de-
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