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INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
DEZEMBRO 2010
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE ECONOMIA
MONOGRAFIA DE BACHARELADO
_______________________________
JOÃO MENDES SUCCAR
Matrícula nº: 104.022.958
DEZEMBRO 2010
As opiniões expressas neste trabalho são de exclusiva responsabilidade do autor.
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família e aos meus amigos por todo apoio ao longo dos últimos
anos, sem o qual não seria possível realizar este trabalho. Agradeço também ao professor
Renato Cotta de Mello pela especial ajuda na condução deste estudo.
RESUMO
INTRODUÇÃO ......................................................................................................................8
CONCLUSÃO ..........................................................................................................47
ANEXO 1 .................................................................................................................51
ÍNDICE DE TABELAS, GRÁFICOS E FIGURAS
Neste trabalho será discutida a proposição de Rugman (1980) de uma maneira aplicada
a um caso real de internacionalização, o caso da empresa Medical Systems. Não faz parte dos
objetivos deste trabalho confrontar a proposição de Rugman (1980) sobre a teoria da
internalização ser ou não uma teoria geral para o investimento direto externo. Apesar disso,
uma maior ou menor aderência dessa teoria a este caso real de internacionalização via
investimento direto externo pode indicar se a teoria é plausível ou não.
Isto posto, coloca-se como objetivo primário deste trabalho, buscar entender em que
medida a teoria da internalização se aplica ou não à internacionalização da Medical Systems,
explicitando que outras teorias explicam esse movimento, senão no todo, ao menos em parte.
Este trabalho está dividido em três capítulos, além desta introdução e da conclusão. O
capítulo 1 tratará da proposição teórica de Rugman (1980), assim como de parte do referencial
teórico utilizado pelo autor. O objetivo primordial desse capítulo é apresentar seu artigo
seminal e também algumas das teorias que ele julga serem englobadas pela teoria da
8
internalização. No capítulo 2 é feita a compilação dos dados do macro setor de Tecnologia da
Informação, com enfoque especial nos segmentos de softwares e serviços relacionados. Neste
capítulo também é apresentada a empresa Medical Systems, objeto de estudo. Por fim, no
capítulo 3 será apresentado o processo de internacionalização da Medical Systems,
enfatizando-se as motivações para tal processo e as estratégias adotadas pela empresa. É
também nesse capítulo que se analisa os diversos aspectos da expansão internacional da
Medical Systems sob a ótica da teoria da internalização.
9
CAPÍTULO I – REFERENCIAL TEÓRICO
Este capítulo tratará da proposição teórica de Alan Rugman (1980) assim como de
parte do referencial teórico utilizado pelo autor para embasar seus argumentos, analisando a
Teoria da Internalização como uma teoria geral para o Investimento Direto no Exterior
(doravante IDE). Para isso, será utilizada uma estruturação similar àquela do artigo seminal,
procurando-se mostrar a linha argumentativa do autor.
10
modalidades básicas: i) exportação, ii) joint ventures ou alianças, iii) licenciamento e iv)
Investimento Externo Direto. Cada uma dessas modalidades de internacionalização apresenta
características específicas, vantagens e desvantagens, sendo mais ou menos adequada, de
acordo com as características do setor em que a empresa está inserida e dos objetivos e
restrições às quais está submetida. Uma apresentação didática das quatro modalidades pode
ser encontrada em Johnson et al (2005), capítulo 6.
Muitos autores têm estudado o fenômeno do IDE, explorando as razões que levam as
empresas a optar por essa modalidade de internacionalização, assim como suas implicações.
Em seu trabalho de 1980, Rugman pretende demonstrar que quase todas (senão todas) as
razões que levam às empresas a optarem pelo IDE são, na verdade, casos específicos de uma
motivação mais abrangente, que é a busca pela internalização. Como o título de seu trabalho
de 1980 sugere, Rugman propõe que a Teoria da Internalização pode ser encarada como uma
teoria geral para o IDE.
“Se o mundo fosse caracterizado por um modelo de livre comércio não haveria
necessidade de Empresas Multinacionais” (Rugman, 1980). É com essa frase que o autor
inicia seu artigo, ressaltando que num modelo Heckscher-Ohlin tradicional pressupõe-se
mercados perfeitos de bens e fatores, ausência de custos de transporte, gostos idênticos dos
consumidores, retornos constantes de escala, etc., e que, ao se relaxar cada uma dessas
suposições, se esvazia o modelo, que dá lugar, sob a ótica do autor, à segunda melhor solução:
a Empresa Multinacional (doravante EMN).
A EMN surge então, como resposta às imperfeições dos mercados de bens e fatores.
Sua existência não se justificaria em mercados perfeitos, pois, argumentam vários teóricos,
todos os benefícios que se pode extrair de uma organização desse tipo são provenientes, em
última análise, da mitigação dos efeitos de tais imperfeições ou da extração de vantagens
concorrenciais em mercados imperfeitos, notadamente, os de concorrência imperfeita.
A partir daí, do ponto de vista teórico, as vantagens específicas de uma nação – que
levam ao comércio entre países – são substituídas por uma vantagem específica da firma,
interna à empresa multinacional – que leva ao IDE. (Rugman, 1980).
11
Um dos autores mais importantes no que diz respeito ao desenvolvimento da teoria do
IDE e da idéia de vantagens específicas da firma é Stephen H. Hymer, uma das principais
referências de Rugman. Em sua tese de doutorado de 1960, publicada em 1976, Hymer
observa que as diferenças entre taxas de juros não parecem explicar por si só os movimentos
de Investimento Externo Direto. Ao analisar dados sobre investimentos realizados por
empresas norte-americanas no exterior, Hymer conclui que há indícios de que existem outras
motivações para tal investimento, possivelmente relacionadas às atividades domésticas dessas
empresas.
Apresentados os motivos para não haver IDE, ele identifica duas razões principais
para uma empresa controlar outra para além de suas fronteiras nacionais, que parecem
suplantar as desvantagens e custos da operação internacional.
É importante notar que as duas razões principais apontadas por Hymer são, antes de
tudo, oriundas de imperfeições de mercado. No primeiro caso, a explicação de Hymer gira em
torno da busca por maior participação de mercado para se extrair vantagens monopolísticas. O
autor condiciona essa possibilidade ao grau de imperfeição concorrencial existente no
mercado, como se evidencia no seguinte trecho:
“… pode ser lucrativo haver uma firma controlando todas as empresas ao invés
de haver firmas separadas em cada país. Em outras palavras, é lucrativo
substituir uma tomada de decisão descentralizada por uma tomada de decisão
12
centralizada. Se isso vai ou não ocorrer depende principalmente de os mercados
serem perfeitos ou não.” (Hymer, 1960, pág. 41).
No segundo caso, o autor introduz o conceito das vantagens específicas de cada firma,
que já pressupõe a distinção entre os ofertantes e a competição imperfeita entre eles.
Segundo Gonçalves (2002), dentre essas vantagens pode-se citar o uso de tecnologia
de produção mais eficiente, de um sistema de distribuição mais eficaz e a fabricação de um
produto diferenciado. Outras vantagens específicas relevantes são o melhor acesso a fatores
de produção e uma melhor capacidade de marketing. Ainda de acordo com esse autor, a
vantagem específica pode se dar não na fabricação de um produto específico, mas na
interação entre atividades, que irá influenciar a maneira como o produto é servido ao
mercado.
“... o sucesso de um novo produto está intimamente associado aos seus aspectos
mercadológicos, em termos não somente de publicidade mas também de
capacidade organizacional específica ao mercado deste novo produto. Isso
também é verdade no caso, por exemplo, de marcas. O retorno relativo do
pacote inteiro pode ser superior à soma dos retornos relacionados a cada um de
seus componentes.” (Gonçalves, 2002, pág. 395).
Ainda segundo este autor, pode-se verificar, através de uma análise da estrutura
industrial de um país, que uma possível conseqüência da criação de barreiras ao comércio,
como no exemplo acima, favorece o aumento relativo na participação de indústrias cujo
controle é estrangeiro. Essa constatação, embora não sirva como prova, evidencia que, de
fato, há uma relação entre a criação de uma barreira ao comércio e a conseqüente resposta das
empresas sob a forma de IDE.
14
empresas multinacionais são então, uma resposta a tais imperfeições, sejam elas criadas por
governos ou não.
Na linha teórica dos custos de transação, Rugman aponta que Coase (1937) “é o
primeiro a reconhecer que a operação em um mercado tem custos...” 1. Em outras palavras, só
o fato de participar de um determinado mercado gera custos para a empresa. Custos esses que
podem ser bem elevados em alguns casos e também são frutos de imperfeição dos mercados.
Alguns exemplos são: custos de procura e corretagem, de elaboração de contratos, taxas e
impostos, e quaisquer outros relacionados à assimetria de informação entre as partes. Na
teoria de Coase, a presença desses custos de transação é um dos fatores que impulsiona a
empresa para um processo de verticalização, na medida em que esta julga, dessa maneira,
poder evitá-los. Coase acrescenta que isso é tão mais provável quanto maiores forem os
custos.
1
Rugman, A. 1980.
15
Em suma, o fato de o mercado ser imperfeito gera custos de transação e dá margem ao
surgimento de vantagens competitivas específicas entre as firmas. A internalização dos
mercados externos imperfeitos, almejada pelas empresas em geral e pelas EMN em particular,
é a forma pela qual se diminuem drasticamente os custos de transação. Além disso, a
expansão geográfica do mercado interno à firma, submetido à sua hierarquia, se traduz em um
maior campo de exploração das vantagens competitivas específicas (de propriedade da firma e
de localização), extraindo-se mais retorno delas e minimizando-se o risco de perda das
mesmas.
2
Rugman, A. 1980.
16
internacional se torna então uma vantagem competitiva. Tendo criado esse mercado interno de
informação, a empresa se torna melhor preparada para ofertar produtos intensivos nesse fator.
Para demonstrar sua teoria, Rugman faz uma análise das principais teorias sobre IDE e
de como essas teorias podem ser explicadas pela ótica da internalização. Essas teorias serão
discutidas a seguir.
Segundo Rugman (1980), o modelo de ciclo de vida do produto pode ser considerado
um caso específico da internalização. Nesse modelo, Vernon (1966) apresenta uma forma de
generalização do processo de IDE, identificando três estágios de desenvolvimento de um
produto e associando cada estágio ao comércio entre três tipos diferentes de países.
Rugman (1980) argumenta que o modelo de ciclo de vida do produto proposto por
Vernon se enquadra no arcabouço teórico da teoria da internalização na medida em que a
motivação básica da pesquisa e desenvolvimento, geradora de novos produtos, nada mais é do
que a tentativa de construção de vantagens competitivas em mercados imperfeitos. A EMN é
a maneira pela qual a vantagem competitiva, conseguida através do processo dinâmico de
3
Para Vernon, os Estados Unidos.
18
inovação, é propagada sem ser erodida. E é desse processo dinâmico de inovação que surgirão
os diversos ciclos de produto.
19
Rugman aponta que, embora a escolha do local de produção pela EMN (entre vários
possíveis) possa ser determinada por economias derivadas da localização, a estrutura e a
operação como um todo da EMN serão determinados pelas vantagens específicas da firma.
Quanto aos efeitos gerados por diferenças cambiais, tema levantado por Aliber (1970),
Rugman também acredita que podem ser englobados pela teoria da internalização. Como
exemplificação, quando uma empresa norte-americana abre uma subsidiária em outro país,
pode usufruir de menores custos de captação de fundos quando comparados aos custos de
captação dos concorrentes locais. Isso pode se dar devido a um maior acesso a mercados
financeiros ou à percepção de que há um menor risco cambial associado à empresas cuja base
de receitas é o dólar ou outra moeda forte. A vantagem de custo na obtenção de fundos pode
então ser considerada uma vantagem específica da firma, que a empresa multinacional
procura reter, e que servirá de vantagem competitiva em mercados externos.
20
1.4.7. O Modelo Japonês de IDE
O modelo japonês de IDE defendido por Kojima (1978) sugere um IDE complementar
ao comércio internacional. Ele argumenta que o investimento é feito em recursos ou setores
onde o Japão não tem vantagem comparativa, enquanto que, os Estados Unidos o fazem onde
tem larga vantagem comparativa. No debate com Kojima (1978), Rugman (1980) defende que
o IDE realizado por empresas norte-americanas não é “destruidor de comércio” e sim uma
tentativa de restituição do livre comércio. Aponta que a produção dos Estados Unidos,
composta de produtos tecnologicamente mais avançados, sofre mais com restrições à sua
comercialização. Estas podem ser impostas exogenamente por governos, como proteção ao
mercado local, ou endogenamente, pelas próprias empresas multinacionais, com vistas a
garantir a manutenção do controle sobre seu know-how e suas informações. O IDE também
substituiria exportações, já que estas sofreriam com a imposição de tarifas, controles
governamentais e outras barreiras ao livre comércio. Daí a afirmativa de que, nesse caso, o
IDE é muito mais substituidor de comércio do que destruidor de comércio. Mais uma vez, a
tentativa de internalização emerge da existência de barreiras ao livre comércio.
21
“Para a internalização ser uma teoria geral ela precisa explicar a escolha de
hierarquias internas no lugar de mercados externos no caso das mais relevantes
imperfeições de mercado como as tarifas (alfandegárias).” (Parry, 1985, págs. 2
e 3)
Outra crítica de Parry (1985) à abordagem de Rugman se refere à maneira como este
privilegia o IDE como melhor forma de garantir a propriedade tecnológica. Argumenta que
diversas EMN preferem o licenciamento ou as joint ventures como formas menos arriscadas
de investimento. Acrescenta ainda que não é correta a afirmação de Rugman de que “não há
mercado para a informação criada pela EMN e que por isso não há preço para ela”. Afirma
que há sim mercado para tais informações, embora em algumas circunstâncias possa haver
dificuldades na definição de um preço de mercado.
Além disso, simplesmente dizer que é mais fácil ou menos custoso garantir a
preservação do conhecimento dentro do mercado interno à empresa parece ser algo simplista.
Parry (1985) argumenta que em muitos casos pode ser muito mais difícil impor controles
internos aos próprios funcionários do que a terceiros, no que diz respeito à preservação interna
do conhecimento; o que é agravado quando a atuação da EMN abrange diversos países.
Em relação às joint ventures, Parry (1985) pondera que a teoria da internalização não é
consistente com o grande crescimento desse tipo de organização produtiva. Essa modalidade
de internacionalização tem sido escolhida por um grande número de empresas, seja por
exigências legais dos países receptores, seja como meio de minimização de riscos. A
associação a uma empresa do país receptor pode garantir um melhor acesso ao mercado local
e a utilização da base de conhecimento e de operações desse parceiro. A utilização conjunta
dos ativos pode propiciar ganhos para ambas as partes.
Outro problema apontado quando se considera uma joint venture, é falta de definição
da fronteira entre o que está sendo internalizado e o que está submetido a contratos externos.
Existem casos em que a divisão de atividades é bem demarcada, inclusive submetida a
contratos formais, e casos cuja divisão é bem menos formalizada. Partindo-se disso, Parry
argumenta que a teoria da internalização, para ser considerada uma teoria geral, deveria
explicar que ativos devem estar submetidos à organização hierárquica da empresa
multinacional e que ativos podem estar submetidos a contratos externos entre a EMN e o
parceiro local.
22
Por fim, Parry (1985) levanta o problema da efetiva possibilidade de coordenação de
interesses e do monitoramento de atividades entre as várias empresas subsidiárias e a sede da
EMN. Ressalta que no caso de subsidiárias mais antigas, com pessoal mais experiente, a
independência em relação à hierarquia da empresa-sede pode atingir um grande número de
atividades. Esta última, muitas vezes, não é responsável por mais do que a definição de metas
gerais, restringindo muito o alcance do processo de internalização.
23
CAPÍTULO II – O SETOR DE SOFTWARES E A EMPRESA MEDICAL
SYSTEMS
Em relação à empresa, a maior parte das informações foi conseguida através de uma
entrevista com um dos sócios, Roberto Ribeiro da Cruz, que também é diretor técnico e
administrativo. Além disso foram utilizados como fontes da dados secundários o website da
empresa (www.medicalsystems.com.br) e matérias sobre a mesma veiculadas na imprensa.
Quanto aos dados e informações setoriais utilizados nesse capítulo, grande parte foi
extraída de relatórios elaborados pela Associação Brasileira das Empresas de Software. São
dados que ajudam a elucidar o mercado em âmbito nacional e internacional, contribuindo para
a contextualização da Medical Systems e para a melhor discussão de seu caso. Além disso, os
dados servirão para se confrontar com as impressões e opiniões do entrevistado, observando-
se em que medida tais dados corroboram a visão do empresário.
24
dinamismo, tem oferecido oportunidades a empresas de todos os tamanhos, desde as
microempresas até os grandes players globais.
25
Nesse setor, os Estados Unidos representam, de longe, o maior mercado, estimado em
488 bilhões de dólares para o ano de 2009. Em seguida vem o Japão com 113,4 bilhões de
dólares. O Brasil representa um mercado relativamente modesto, com 30,5 bilhões de
dólares4. No entanto, é um mercado que tem crescido muito, assim como acontece em outros
países em desenvolvimento, como a China.
4
ABES. Mercado Brasileiro de Softwares: Panorama e Tendências – 2010.
5
ABES. Mercado Brasileiro de Softwares: Panorama e Tendências – 2010.
26
2.2. O Setor de Softwares e Serviços Relacionados
27
No Anexo 1 encontra-se o mesmo ranking para os anos de 2004 até 2009. É
interessante observar que em todos os anos mostrados, os sete primeiros colocados não se
alteram. Também é possível perceber que esse mercado é altamente concentrado em países
desenvolvidos, nos três núcleos tradicionais: América do Norte, Europa e Japão. Apesar disso,
essa situação vem mudando lentamente e já é possível perceber a ascensão de países em
desenvolvimento como China e Brasil. Nota-se que os EUA vêm perdendo participação
relativa, que em 2004 era de 43,5% e em 2009, 39,7%. Também é possível perceber que esse
é um fenômeno que acontece em outros países desenvolvidos. O Japão, por exemplo, passou
de 9,8% para 8,14% de participação no mercado mundial.
No Brasil, esse setor movimentou, em 2009, cerca de 15,37 bilhões de dólares, o que
representou 1,02 % do PIB do país naquele ano. Para este resultado, os softwares
contribuíram com US$ 5,45 bilhões (35,5%) e os serviços com os outros US$ 9,91 bilhões
(64,5%). Esse resultado ainda é bastante tímido ao se comparar com os US$ 880,6 bilhões
movimentados no mundo, mas mesmo assim, o Brasil vem ganhando maior participação. Em
2004 ocupava a 15ª posição no mundo no que se refere ao tamanho do mercado interno, com
US$ 5,98 bilhões e em 2009 esse valor passou a US$ 15,00 bilhões, com o país ocupando a
12ª posição mundial.
28
Gráfico 2.3 – Evolução do Mercado Brasileiro de Software e Serviços: 2004-2009, em
bilhões de USD
A partir do gráfico 2.3 percebe-se que o crescimento desse segmento no Brasil tem
sido bastante expressivo. Para o período 2004 – 2009 o crescimento foi de pouco mais de
150%. A exceção é o ano de 2009 que, provavelmente devido à crise financeira global, teve
um crescimento mais modesto, de 2,25%, em relação a 2008. Mesmo assim é possível
verificar uma tendência de aumento para os próximos anos.
Além disso, apesar de pequena, a participação relativa brasileira cresceu quase 80%,
passando de 0,96% do mercado mundial em 2004 para 1,7% em 2009. A tabela abaixo mostra
essa evolução.
29
Tabela 2.2 – Participação Brasileira no Mercado Mundial de Softwares e Serviços de
2004 a 2009, em bilhões de USD.
Um dado muito importante é que o mercado brasileiro ainda é dominado por softwares
desenvolvidos fora do país. Em 2009 somente 29% dos programas eram desenvolvidos
internamente. Segundo dados da ABES, historicamente esse valor tem girado em torno de
30%. Observadores da indústria destacam que aumentar essa participação é um desafio que se
coloca ao setor no Brasil. Além disso, comparado a outros países, o montante exportado pelo
país ainda é ínfimo.
A tabela 2.3 a mostra a divisão do mercado brasileiro por origem dos softwares e dos
serviços, em 2009.
30
A tabela acima resume bem a situação do mercado brasileiro. Primeiramente, é
evidente o domínio de softwares importados, com mais de 70% de participação. A
predominância desses softwares se dá na categoria standard, ou seja, um software padrão,
sem adaptações ao cliente final, que pode instalá-lo sozinho, sem a necessidade de serviços
adicionais. Nota-se também a queda de 19,3% dos softwares sob encomenda. De acordo com
os dados da ABES, nos períodos de 2006 a 2007 e 2007 a 2008 o crescimento desse segmento
foi de 30,9% e 15,4% respectivamente. A forte queda de 2009 em relação à 2008 é,
provavelmente, conseqüência da crise econômica mundial do período, que tende a atingir
mais fortemente esse segmento. Esse tipo de software é feito exclusivamente para um cliente,
sendo adaptado às suas necessidades. Isso acarreta em altíssimos custos, referentes ao
desenvolvimento, treinamento e manutenção, uma vez que o cliente fica preso ao fornecedor
do programa.
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados dos relatórios “Mercado Brasileiro de Software: Panorama e
Tendência” de 2005 a 2010, publicados pela Associação Brasileira das Empresas de Software.
6
Inclui empresas públicas e privadas, bancos, empresas de seguros, cartões de crédito, corretora de valores e
todas as outras instituições financeiras.
7
Inclui todas as empresas de manufatura, sejam de manufatura discreta ou de transformação.
31
compradores de softwares no mercado brasileiro, incluindo programas desenvolvidos no país
e no exterior. O setor de serviços, segue como o terceiro maior comprador, atingindo US$ 667
milhões de faturamento em 2009. Esse setor inclui empresas da área de saúde, transportes,
educação, turismo, entretenimento e demais serviços. A participação relativa para o ano de
2009 é mostrada a seguir.
Por fim, é importante mostrar o perfil das empresas desse setor no Brasil. O número de
empresas vinha crescendo fortemente quando, em 2009, apresentou leve recuo. Mesmo assim,
é possível enxergar uma forte tendência de aumento nesse número. A evolução desses dados é
mostrada a seguir.
32
Gráfico 2.4 – Evolução do Número de Empresas atuando no Setor de Softwares e
Serviços no Brasil, 2004 a 2009
Fonte: Elaborado pelo autor com base em dados dos relatórios “Mercado Brasileiro de Software: Panorama e
Tendência” de 2005 a 2010, publicados pela Associação Brasileira das Empresas de Software.
Outro aspecto muito interessante é a composição do setor no que se refere ao porte das
empresas. Segundo a ABES, em 2009, 94% das empresas do setor eram classificadas como
micro ou pequenas empresas e menos de 1% eram consideradas grandes empresas. Um dos
motivos dessa fragmentação é a facilidade de se entrar no setor uma vez que os custos de
start-up podem ser relativamente baixos.
A Medical Systems é uma empresa brasileira do setor de softwares e serviços que atua
na área médica. Foi fundada em 1990 pelos sócios Rodolfo Sini e Roberto Ribeiro da Cruz,
dois engenheiros formados na Faculdade de Engenharia Industrial de São Bernardo do
Campo, na Grande São Paulo, cidade sede da empresa. Além da faculdade de engenharia,
Roberto Ribeiro possui uma pós-graduação em administração, cursada na Fundação Getúlio
Vargas de São Paulo.
33
Segundo o website8 da Medical Systems, a empresa conta atualmente com mais de 120
colaboradores diretos e indiretos. De acordo o sócio Roberto Ribeiro, sua firma é a líder em
seu segmento no mercado doméstico, tendo faturado cerca de R$ 5 milhões em 2007 e com
previsão de faturamento em torno de R$ 8 milhões em 2008.
Até 2006 os dois sócios não tinham nenhuma experiência com operações
internacionais. Tampouco tinham vivido fora do país. Todo seu contato físico com o exterior
se dava pela participação em feiras e congressos, a trabalho, e em viagens de lazer, que
aproveitavam para se inteirar do funcionamento de seu segmento no país visitado.
8
Disponível em www.medicalsystems.com.br. Acessado em 22/11/2010.
34
Figura 2.1 – Esquema de Funcionamento do Software X Clinic Hurricane
35
CAPÍTULO III - O PROCESSO DE INTERNACIONALIZAÇÃO DA
MEDICAL SYSTEMS: UMA ANÁLISE SOB A ÓTICA DA TEORIA DA
INTERNALIZAÇÃO
Na seção 3.1 será mostrado o que antecedeu à Expansão Internacional, a situação pré-
expansão. Na seção 3.2 serão mostradas as motivações que levaram a empresa a optar por
uma internacionalização. A seção 3.3 tratará do processo em si, com ênfase nas estratégias
adotadas e nos principais obstáculos encontrados. Por fim, a seção 3.4 fará uma análise do
processo de internacionalização sob a ótica da teoria da internalização.
Apesar de não ser uma empresa de grande porte, por volta dos anos 2001 e 2002 a
Medical Systems já gozava de liderança no mercado nacional. Essa posição serviu de alicerce
para que a empresa começasse a buscar oportunidades fora do país. Antes disso, a percepção
dos sócios era que o mercado brasileiro era bem grande e que ainda havia muito espaço para
crescimento. Isso talvez tenha sido um dos principais entraves à busca por iniciativas
internacionais. Sem a pressão exercida pelo esgotamento do mercado interno, a
internacionalização pode parecer um risco desnecessário.
Somado a isso, Roberto Ribeiro cita a própria questão cultural como entrave já que o
empresariado brasileiro é aparentemente receoso quando se trata de buscar mercados
36
externos. Nas palavras dele “... tinha essa miopia que eu acho que é característica do
empresário brasileiro de você ficar olhando para o próprio umbigo e cuidando só do Brasil”.
Segundo Roberto Ribeiro, um dos fatores mais importantes foi o puro senso de
oportunidade. Apesar de parecer uma motivação simples, é algo que talvez seja parte da
explicação de muitos processos de mudança corporativa, não só relacionados a processos de
internacionalização.
“Na América Latina, nas pesquisas que nós fizemos, por exemplo, no México, eles
compram software da Colômbia, da Espanha, do Chile, tudo de empresas muito
pequenas, inexpressivas. Qual é a principal empresa? Não existe a principal
empresa.”
Essa sensação de que o mercado latino-americano ainda não era bem atendido foi
fundamental para despertar nos sócios um interesse comercial pela região.
37
Ao se confrontar essa observação com os dados da ABES verifica-se que, de fato, as
micro e pequenas empresas de software são maioria e, mesmo no Brasil, o maior mercado da
América Latina, sua fatia é de cerca de 94% do total das empresas do setor. Do ponto de vista
da Medical Systems, líder no segmento, esse cenário de baixa concentração se traduz em boas
oportunidades de expansão sobre o mercado de empresas menores.
Outro fator citado por Roberto Ribeiro foi a ameaça das empresas multinacionais do
setor. Segundo ele, ao freqüentar feiras internacionais, percebia o aumento das atenções sobre
a América Latina. A presença de um competidor mundial no mercado latino-americano por
certo mudaria a dinâmica vigente até então. Esse concorrente poderia não só amealhar os
mercados hispânicos, mas também competir dentro do Brasil com a própria Medical Systems.
Dessa maneira, a expansão internacional é encarada como um movimento defensivo por parte
da empresa. Enquanto o mercado não apresenta competidores muito fortes, a Medical
Systems pode assumir uma parte considerável do mercado e tentar se tornar uma empresa de
referência, construindo uma marca reconhecida pelos seus consumidores e consumidores
potenciais.
Quanto a esse último aspecto, sua importância reside no fato de que uma vez que o
cliente passa a utilizar determinado software, haverá custos de transição associados a uma
mudança de fornecedor. Como exemplos desses custos pode-se citar o custo de transferência
dos bancos de dados, muitas vezes não compatíveis, os custos de adaptação ao novo sistema e
os custos de treinamento. Logo, é possível concluir que, uma vez consolidada a clientela, seja
por parte da Medical Systems, seja por parte da concorrência, será mais difícil ganhar (ou
perder) participação de mercado. Uma investida no mercado Latino-americano acaba sendo
uma forma de se defender da concorrência no futuro.
Por fim, Roberto cita a perspectiva de que uma operação internacional possa trazer
benefícios específicos no longo prazo. Isto é, espera-se que a experiência internacional ajude a
Medical Systems a se aperfeiçoar no próprio mercado interno, se utilizando das melhores
práticas aprendidas nos diferentes países. Esse aprendizado pode ser bem amplo, se refletindo
no desenvolvimento de melhores produtos, na adoção de novas práticas comerciais e até
mesmo ajudando na melhoria da gestão interna da própria empresa.
O próximo passo foi a escolha dos primeiros países receptores. Chile e Argentina
foram os selecionados, além do México, sendo que esse terceiro país seria objeto de atenção
por parte da empresa em uma possível segunda fase de internacionalização.
A questão da distância psicológica também foi citada por Roberto. Por questões
pessoais, da formação individual dos sócios, ou mesmo de pré-conceitos, acharam que o
mercado latino seria mais parecido com o brasileiro ou que seria, ao menos, mais acessível.
Além disso, a escolha de países latino-americanos pareceu mais natural já que os mercados
europeu e norte-americano, muito mais maduros, seriam possivelmente muito mais
competitivos e ofereceriam muito mais barreiras à entrada. Roberto ressalta que são mercados
muito mais exigentes e que o risco associado à operação seria muito maior.
“E o risco de uma operação é muito grande. (...) se o sistema fizer alguma coisa
errada, der algum problema, a possibilidade legal que eles têm de entrar na
justiça por perdas e danos é enorme. Então, você tem que ter um respaldo
financeiro um pouquinho maior pra iniciar uma operação nesses países...”
Em relação aos mercados americano e europeu, a visão dos empresários parece ser
coerente com os dados sobre o mercado de softwares e serviços apresentados no capítulo 2.
Percebe-se que mesmo uma empresa líder no mercado brasileiro seria provavelmente um
competidor pequeno nos Estados Unidos e na Europa. Diferenças culturais e sistêmicas mais
marcantes também fariam dessas regiões menos propícias ao início do processo de
internacionalização. No caso da Europa, por exemplo, a forte presença do Estado no setor de
saúde muda muito a forma como a população acessa os serviços médicos.
39
Para a escolha da Argentina, outro fator de peso era o fato de os empresários já terem
um contato no país, uma vez que já tinham atuado como representantes de uma empresa local.
Isso representava uma situação mais confortável já que a equipe da Medical Systems já tinha
mais familiaridade com a operação lá utilizada.
Quanto à escolha do Chile, ela se deu pela visão de que neste país haveria uma maior
maturidade tecnológica – uma maior cultura de emprego de tecnologia e de valorização do
uso da mesma. Segundo Roberto Ribeiro, essa maior valorização tecnológica permitia à
empresa cobrar preços bem mais altos nesse país. Na explicação do sócio:
Por fim, o Chile contava com estabilidade econômica e uma renda per capita maior do
que a brasileira, o que reforçava a imagem de ser um bom lugar para se investir.
A escolha de realizar IDE nos mercados prioritários da América Latina era vista como
fundamental pelos sócios. Segundo eles, os clientes valorizam muito a existência de um
endereço físico em seu país, onde possam estar amparados por suas leis e onde possam ter
acesso ao suporte e à manutenção em sua língua materna. Nesse caso, a manutenção on-line é
até viável, mas é vista como bastante inferior em termos de qualidade de serviço. A
constituição de uma empresa local seria assim, a forma mais adequada de quebrar a
resistência dos consumidores locais e de agregar valor ao produto. De outra forma, as chances
de sucesso para um software da Medical Systems seriam muito pequenas.
40
Quanto aos sócios, a expectativa é que podiam ser mais do que somente um ponto de
apoio. Tendo experiência no setor, eles poderiam agregar aos produtos conhecimentos
específicos dos mercados locais:
“...a forma pela qual você tem que se comunicar com o cliente chileno ou com o
cliente argentino, é diferente da forma que você se comunica com o brasileiro.
São pequenas sutilezas que comercialmente acabam fazendo a diferença.”
Além disso, esses sócios seriam fundamentais na construção de uma base sólida de
clientes. As redes de relacionamentos desses parceiros, construídas ao longo de muitos anos,
seriam fundamentais para isso.
É importante frisar que essa escolha de atuação só valeria, num primeiro momento,
para Argentina, Chile e México. Em outros mercados como Venezuela, Colômbia, Paraguai,
Uruguai, entre outros, a estratégia pretendida, seria o acesso via representantes comerciais,
com suporte fornecido do Brasil.
Segundo Roberto Ribeiro, esses últimos representariam mercados tão pequenos que
não justificariam IDE. Como exemplo, cita o fato de a população uruguaia ser pouco maior do
que 3 milhões de habitantes e que nesse país deveria haver algo como 30 equipamentos de
ressonância magnética, enquanto que, só na região do ABC paulista, estimaria em 45
equipamentos desse tipo. Mais uma vez, a visão do empresário é corroborada pelos dados
apresentados no capítulo 2.
Do ponto de vista operacional, a estratégia era estabelecer uma base local, adaptar o
software para o mercado e começar a busca por clientes que pudessem servir de referência.
Esse processo de adaptação, no entanto, acabou se revelando mais custoso e demorado do que
os sócios tinham imaginado, o que resultou numa desaceleração no ritmo da
internacionalização. Na próxima seção serão discutidos alguns obstáculos encontrados.
41
3.3.2. Os Principais Obstáculos Encontrados
O primeiro obstáculo foi a própria tradução dos softwares. Segundo Roberto, foi
contratada uma empresa que utilizou o que podemos chamar de espanhol “standard”. Quanto
a isso não houve problema, mas o produto acabava não levando em conta as especificidades
lingüísticas locais, o que fazia com que se tornasse estranho aos olhos do consumidor.
Além da barreira linguística, o próprio modus operandi de cada país teve que ser
pesquisado para posterior customização do produto. Por se tratarem de softwares de gestão,
deveriam levar em conta os costumes, hábitos e legislação locais. Em se tratando da área de
saúde, cada país apresenta uma maneira diferente de relacionamento entre os agentes
envolvidos. Nesse caso, o relacionamento e as interações entre médicos, pacientes, clinicas,
planos de saúde e convênios pode variar bastante de um país para outro.
Outro problema que sempre surge nesse tipo de expansão é a busca pelo sócio local.
Salvo algumas exceções, esse é um processo complicado e demorado, uma vez que a empresa
está disposta a ceder parte do controle e dos lucros para o escolhido. É preciso então, buscar
alguém que seja capaz de impulsionar a empresa, que agregue valor ao empreendimento e
que, sobretudo, tenha os interesses bastante alinhados aos da matriz. Caso contrário, o risco de
fracasso é bastante alto.
42
Em relação a isso, pode-se notar que a realidade do mercado de softwares, tanto
mundial como local, se afasta bastante de um modelo de concorrência perfeita e de livre
comércio, observando-se a existência de grandes imperfeições de mercado.
Uma das características desse mercado que pode afetar bastante a questão
concorrencial é a existência de grandes possibilidades de diferenciação entre os produtos.
Nesse caso, uma comoditização se torna improvável, assim como uma equalização de preços.
É comum, nesse setor, a existência inclusive de softwares personalizados, feitos
exclusivamente para um determinado cliente e para suas necessidades.
Comparando-se o cenário desenhado acima com o que propõe Rugman (1980) em seu
artigo, pode-se dizer que são preenchidas as condições básicas para a existência de empresas
multinacionais no setor de softwares e serviços relacionados.
43
3.4.1. Aplicabilidade da Teoria da Internalização no Caso da Medical Systems
Antes de iniciar sua expansão internacional a Medical Systems já era líder em seu
mercado, tendo acumulado à época, dezesseis anos de experiência no mercado nacional.
Pode-se dizer que nessas condições a empresa já tinha bastante know-how acumulado. Pode-
se supor também que tanto em termos de desenvolvimento de produto quanto em termos de
operação do negócio a empresa já detinha tecnologia e conhecimento próprios. Essa bagagem,
construída no maior mercado da América Latina ao longo de vários anos, sem dúvida, pode
ser considerada uma vantagem específica da firma, difícil de ser imitada e difícil de ser
precificada.
Também em relação à preferência pelo IDE à simples exportação, fica claro que há
uma criação de valor aos olhos do consumidor. Nesse sentido, a constituição de uma
subsidiária permite que o produto seja mais bem aceito no mercado e que seja vendido por
preços maiores. Essa geração de lucros “extras” acaba sendo apropriada pela empresa matriz.
É também um caso típico de internalização.
44
3.4.1.2. A Internalização de Vantagens Derivadas de Localização
Quando a empresa decide realizar IDE no Chile, argumenta que esse país, além de ter
uma renda per capita maior do que a do Brasil, apresenta uma maturidade tecnológica mais
elevada; e vai além quando diz que essa maturidade tecnológica se traduz em uma maior
rentabilidade para seus produtos.
45
Ao se deparar com novas situações de mercado, com novos concorrentes e com novos
desafios, há grande possibilidade de que se acumule ainda mais conhecimento à empresa
matriz por meio de suas subsidiárias. Dessa maneira, há expectativa de que a operação
internacional também possa trazer benefícios específicos no longo prazo. Esses benefícios
acabam sendo internalizados quando a empresa internaliza os mercados externos a ela.
Uma única ressalva deve ser feita quanto à aplicabilidade da teoria da internalização
na explicação para a expansão internacional da Medical Systems. É o caso mencionado por
Parry (1985) a cerca das joint ventures.
Tendo isso em vista, parece que a teoria da internalização não se aplica perfeitamente
no caso da constituição de uma sociedade no país hospedeiro do IDE. De uma maneira
paradoxal, quando se realiza IDE com constituição de uma sociedade, há uma internalização
de novos mercados, porém, sem a submissão a uma regime hierárquico único. Se por um lado
há aumento da “área de controle”, por outro há diminuição no grau desse controle.
46
CONCLUSÃO
Em seu artigo, Rugman (1980) não deixa claro se sua proposta de encarar a teoria da
internalização como teoria geral para o IDE, englobaria um caso como o da Medical Systems,
47
onde o IDE está acompanhado de uma joint venture. De qualquer maneira, independente da
teoria da internalização ser ou não uma teoria geral do IDE, pode-se concluir que é um
instrumento útil para explicar a expansão internacional de uma pequena empresa brasileira do
setor de software.
48
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
COASE, R. H. The Nature of the Firm. Economica, Londres, v. 4, n. 16, p. 386-405, 1937.
49
GONÇALVES, R. A Empresa Transnacional. In: HASENCLEVER, L.; KUPFER, D. (Org.).
Economia Industrial: Fundamentos Teóricos e Práticas no Brasil. Rio de Janeiro:
Elsevier, 2002. p. 389-411.
VERNON, R. International Investment and International Trade in the Product Cycle. The
Quarterly Journal of Economics, v. 80, p. 190-207, 1966.
50
ANEXO 1 – Ranking dos maiores mercados de Tecnologia da Informação, considerando-
se apenas o mercado interno, sem a produção para exportação: 2004–2009.
2004 2005
País Volume Participação País Volume Participação
(em bilhões de USD) Relativa (em bilhões de USD) Relativa
USA 268,5 43,50% USA 287,5 43,4%
Japão 61 9,80% Japão 63,2 9,5%
UK 47,4 7,60% UK 59,5 9,0%
Alemanha 43,9 7,10% Alemanha 41,3 6,2%
França 35,6 5,70% França 36,8 5,5%
Canadá 17,2 2,80% Canadá 17,9 2,7%
Itália 16,7 2,70% Itália 16,9 2,5%
Austrália 11,3 1,80% Austrália 16,2 2,4%
Holanda 10,9 1,70% Espanha 11,6 1,7%
Espanha 8,2 1,30% Suécia 10,1 1,5%
Suécia 8 1,30% Holanda 9,5 1,43%
Suíça 7,8 1,20% Brasil 7,23 1,09%
China 7,1 1,20% Suíça 6,9 1,05%
Bélgica 6,2 1,00% China 6,9 1,05%
Brasil 5,98 0,96% Bélgica 6,3 0,95%
Resto do Mundo 61,22 9,90% Resto do Mundo 64,17 9,80%
Total 617 100% Total 662 100,0%
51
ANEXO 1 – Continuação
2006 2007
País Volume Participação País Volume Participação
(em bilhões de USD) Relativa (em bilhões de USD) Relativa
USA 303 42,50% USA 315 41,60%
Japão 64,4 9,02% Japão 63,8 8,43%
UK 56 7,84% UK 60,3 7,98%
Alemanha 48,2 6,75% Alemanha 51,8 6,86%
França 39,3 5,50% França 41,6 5,50%
Canadá 21,1 2,95% Canadá 22 2,91%
Itália 18,1 2,53% Itália 19,3 2,56%
Austrália 13,1 1,83% Holanda 13,6 1,79%
Holanda 12,5 1,76% Austrália 13 1,71%
Espanha 10,3 1,45% Espanha 11,5 1,52%
China 9,57 1,34% China 11,5 1,52%
Suécia 9,21 1,29% Brasil 10,81 1,43%
Brasil 9,05 1,27% Suécia 9,85 1,30%
Suíça 8,77 1,23% Suíça 9,25 1,22%
Coréia 7,09 0,99% Coréia 7,92 1,05%
Resto do Mundo 84 11,80% Resto do Mundo 95,2 12,50%
Total 713,1 100,00% Total 756,5 100%
2008 2009
País Volume Participação País Volume Participação
(em bilhões de USD) Relativa (em bilhões de USD) Relativa
USA 339,6 38,90% USA 349,7 39,71%
Japão 71,7 8,21% Japão 71,7 8,14%
UK 67,1 7,69% UK 69,4 7,88%
Alemanha 62,6 7,17% Alemanha 59,8 6,79%
França 49,8 5,71% França 47,4 5,38%
Canadá 24,8 2,84% Canadá 24,5 2,78%
Itália 24,1 2,76% Itália 22,9 2,60%
Espanha 19,8 2,27% Holanda 19,9 2,25%
Holanda 18,2 2,08% Espanha 18,7 2,12%
Austrália 15,6 1,79% Austrália 16,5 1,87%
China 15,2 1,74% China 15,5 1,76%
Brasil 14,67 1,68% Brasil 15 1,70%
Suécia 11,6 1,33% Suécia 11,4 1,29%
Suíça 11,25 1,29% Suíça 10,7 1,21%
Coréia 8,1 0,93% Coréia 8,4 0,95%
Resto do Mundo 118,7 13,60% Resto do Mundo 119,1 13,52%
Total 872,8 100,00% Total 880,6 100,00%
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