Santos Et Al. - Análise Sobre A Fitoterapia Como Prática Integrativa No SUS

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486 REVISÃO

Análise sobre a fitoterapia como prática integrativa no Sistema Único de Saúde

SANTOS, R.L.*; GUIMARAES, G.P.; NOBRE, M.S.C.; PORTELA, A.S.


Departamento de Farmácia, Universidade Estadual da Paraíba, Avenida das Baraúnas, 351, Campus Universitário,
Bodocongó, CEP: 58109-753, Campina Grande-Brasil *[email protected]

RESUMO: É notável o crescente uso da fitoterapia como prática médica integrativa em diversos
países. A utilização de plantas medicinais no Brasil tem como facilitadores a grande diversidade
vegetal e o baixo custo associado à terapêutica, o que vem despertando a atenção dos programas de
assistência à saúde e profissionais. O Ministério da Saúde, com a finalidade de evitar o uso inadequado
desta prática medicinal, tem demonstrado interesse por meio do incentivo de pesquisas relacionadas
ao assunto, favorecendo a implantação de programas de saúde visando à distribuição e utilização
destes medicamentos de forma racional. Baseado neste contexto foi realizado levantamento de
como esta temática vem sendo abordada e implementada no Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-
se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado através de levantamento bibliográfico
em bases de dados relacionado ao tema “medicamentos fitoterápicos no sistema único de saúde”.
Os descritores utilizados durante toda a pesquisa foram fitoterapia, medicamentos fitoterápicos, medicina
integrativa, medicamentos, medicina herbária, fitoterapia no SUS, medicina integrativa e sistemas
públicos de saúde. Observou-se que o governo tem demonstrado interesse no desenvolvimento de
políticas que associem o avanço tecnológico ao conhecimento popular em prol de procedimentos
assistenciais em saúde que apresentem eficácia, abrangência, humanização e menor dependência
com relação à indústria farmacêutica. Nas duas últimas décadas, alguns estados e municípios brasileiros
vêm realizando a implantação de Programas de Fitoterapia na atenção primária à saúde, com o
intuito de suprir as carências medicamentosas de suas comunidades. Apesar da crescente busca
por integrativas medicamentosas, os estudos acerca da fitoterapia ainda são precários no Brasil,
fazendo-se ainda necessárias pesquisas nesta área, de modo a ampliar o conhecimento dos profissionais
e estudantes da saúde, auxiliando e tornando mais sólidas as bases de segurança e eficácia para
implementação das praticas fitoterápicas no SUS.

Palavras-chave: medicina integrativa, sistema único de saúde, fitoterapia

ABSTRACT: Analysis about phytotherapy as an integrating practice in the Brazilian Unified


Health System (UHS). The growing use of phytotherapy as an integrating medical practice in several
countries has been remarkable. The use of medicinal plants in Brazil is facilitated by the plant diversity
and low cost associated with therapeutics, which has called the attention of health assistance programs
and professionals. The Brazilian Ministry of Health, in order to avoid misuse of this medical practice, has
demonstrated interest, developing policies that encourage research related to this issue and favoring the
establishment of health programs focused on the distribution and use of these drugs in a rational way.
Based on this context, a survey about how this issue has been addressed and implemented in the
Unified Health System (UHS) was carried out. This was a descriptive study of qualitative approach,
performed through a literature review in databases, related to the theme “phytotherapic medicines in the
unified health system”. The key words used throughout the study were: phytotherapy, phytomedicines,
integrating medicine, medicines, herbal medicine, phytotherapy in the UHS, integrating medicine and
public health systems. The government has shown interest in developing policies which combine
technological advances with common knowledge for the sake of assistance health procedures that show
effectiveness, coverage, humanization and less dependence on the pharmaceutical industry. In the last
two decades, some Brazilian states and municipalities have implemented Phytotherapy Programs in
primary health care in order to meet the drug needs of their communities. Despite the growing search for
integrating drugs, studies about phytotherapy are still limited in Brazil, with the need of research in this
area in order to increase the knowledge of health professionals and students, helping and making more
solid the safety and efficacy bases for the implementation of phytotherapic practices in the UHS.

Key words: integrating medicine, unified health system, phytotherapy

Recebido para publicação em 11/12/2009


Aceito para publicação em 07/07/2011

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A Organização Mundial de Saúde (OMS) Trata-se de estudo descritivo com abordagem


constatou que práticas não convencionais de saúde, qualitativa, realizado através de levantamento
tais como acupuntura, fitoterapia e técnicas manuais bibliográfico relacionado ao tema “A fitoterapia como
estão em desenvolvimento, ganhando espaço de modo medicina integrativa no Sistema Único de Saúde”. Os
complementar às terapias medicamentosas alopáticas descritores utilizados durante toda a pesquisa foram
(OMS, 2008). fitoterapia, medicamentos fitoterápicos, medicina
Para grande parte da população o uso de integrativa, medicamentos, medicina herbária,
plantas medicinais é visto como uma integrativa fitoterapia no SUS, medicina integrativa e sistemas
histórica à utilização de medicamentos sintéticos, visto públicos de saúde e planta medicinal.
que os últimos são considerados mais caros e
agressivos ao organismo. A disseminação do uso de Importância da fitoterapia
plantas medicinais, assim como a automedicação A revitalização das práticas médicas antigas,
deve-se principalmente ao baixo custo e fácil acesso hoje consideradas medicina integrativa, é um fenômeno
à grande parcela da população (OMS, 2008). que contribui para a forma hegemônica gradual destas
Visando o custo de desenvolvimento dessa modalidades, uma vez que sua organização mais ampla
categoria de produtos, os países subdesenvolvidos e integrada permite respostas mais apropriadas aos
como o Brasil oferecem integrativa terapêutica bastante problemas gerados pela mecanicista especialização
promissora para a população. O país é visto em destaque excessiva dos métodos médicos convencionais(Queiroz,
por possuir um terço da flora mundial, além de ser a 2000).
Amazônia a maior reserva de produtos naturais com A fitoterapia vem sendo a medicina integrativa
ação fitoterápica do planeta. Esta intensa presença que mais cresce ao logo dos anos. No mercado mundial
vegetal faz com que as pesquisas e o próprio de medicamentos a comercialização de fitofármacos gira
desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos possam em torno de 15 bilhões de dólares. O fator mais relevante
ocorrer como destaque no cenário científico mundial para tal crescimento se resume na evolução dos estudos
(Yunes et al., 2001; França et al., 2008). científicos, em destaque a descoberta da eficácia de
Desde a década de 80, vários documentos vêm plantas medicinais, principalmente as utilizadas pela
sendo elaborados a fim de enfatizar o uso de fitoterápicos população com finalidade terapêutica, através dos estudos
na atenção básica no sistema de saúde pública com o químicos e farmacológicos (Cechinel-Filho & Yunes,
intuito de priorizar a melhoria dos serviços, o aumento 1998).
da resolutividade e o incremento de diferentes A população em geral confunde a fitoterapia com
abordagens (Matos, 1998). o uso de plantas medicinais. A Agência Nacional de
O Ministério da Saúde através da Portaria no Vigilância Sanitária (ANVISA) considera como
971 de 3 de maio de 2006 disponibiliza opções medicamento fitoterápico aquele obtido exclusivamente
terapêuticas e preventivas aos usuários do SUS, dentre de matérias-primas de origem vegetal, com qualidade
elas o uso de plantas medicinais e medicamentos constante e reprodutível e que tantos os riscos quanto à
fitoterápicos alem de afirmar, baseado em levantamento eficácia seja caracterizada por levantamentos
realizado em 2004, que 116 municípios de 22 estados etnofarmacológicos, documentações técnico científicas
brasileiros fazem uso da fitoterapia (Brasil, 2006a). em publicações ou ensaios clínicos (Nicoletti et al., 2007).
Portanto, os tratamentos medicinais de origem As profundas raízes culturais da população
vegetal são amplamente utilizados no Brasil como brasileira facilitaram a sobrevida da Fitoterapia até os
integrativa terapêutica, em destaque por aqueles que dias atuais, uma vez que a consciência popular reconhece
estão em tratamento de doenças crônicas e fazendo a eficácia e legitimidade desta modalidade terapêutica
uso de outros medicamentos (Alexandre et al., 2008). (Sacramento, 2000). A crença popular em Curandeiros,
Embora existam vários estudos a respeito do raizeiros, parteiras, médiuns e a própria tradição oral
uso, da toxicidade e da eficácia das plantas medicinais, ancestral transforma o uso de plantas medicinais em
a literatura científica ainda é precária no sentido de se verdadeiro sincretismo de concepções (Santos et al.,
conhecer como elas estão sendo usadas, quais são 1995).
os benefícios e como se poderá capacitar os Além disso, a fitoterapia faz com que o ser
profissionais para o aconselhamento da utilização como humano volte a se conectar com a natureza e assim
medicina integrativa no SUS. buscar na vegetação uma forma de ajudar o organismo
Diante desta abordagem, o objetivo desta em vários sentidos, como a restaurar a imunidade
pesquisa é fazer levantamento bibliográfico, a respeito enfraquecida, normalizar funções fisiológicas, desintoxicar
dos temas como importância da fitoterapia; como ela órgãos e até mesmo para rejuvenescer (França et al.,
está sendo usada; benefícios que a mesma oferece 2008).
ao Sistema Público de Saúde; capacitação dos
profissionais nesta área e programas e leis para a Como a fitoterapia está sendo usada
implementação no SUS. Desde a antiguidade as pessoas utilizam

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plantas com a finalidade de tratar e curar enfermidade. operacional da utilização de plantas medicinais nos
Hoje podemos encontrar nas grandes e pequenas programas de atenção primária à saúde, pode-se
cidades brasileiras a comercialização de plantas considerar uma integrativa terapêutica muito útil e
medicinais livremente em feiras livres, mercados importante. A facilidade para adquirir essas plantas e
populares, quitandas residenciais e em outros a compatibilidade cultural são fatores de extrema
estabelecimentos (Maciel et al., 2002). Esses relevância para o progresso dessa medicina,
produtos são comercializados por ervanários e principalmente no Nordeste brasileiro onde na cultura
raizeiros que não cumprem com os critérios de é comum o uso das mesmas na preparação de
adequação à saúde nem atendem ao binômio remédios caseiros para tratar varias enfermidades.
segurança e eficácia exigidos nos demais produtos, Além disso, o fato de plantas medicinais poderem
mostrando assim uma comercialização inadequada ser usadas através de formulações caseiras, de fácil
e consequentemente má utilização das plantas preparo, se reveste de grande importância, pois ela
medicinais, já que essas, neste caso, não passam pode suprir a crônica falta de medicamentos nos
por sistemas de qualificação da farmacovigilância serviços de saúde (Matos, 1998).
(Brandão et al., 1998). Essa idéia vem sendo desenvolvida já algum
Rang et al. (2007) relatam que “A utilização tempo. Segundo Boas e Gadelha (2007), o relatório
de chás, de forma indiscriminada, em crianças final da 10a Conferência Nacional de Saúde, em 1998,
portadoras de enfermidades hepáticas, renais ou determina que os gestores do SUS devam estimular
outras doenças, poderá lhes trazer sérias e ampliar pesquisas realizadas em parceria com
conseqüências para sua saúde se não houver universidades públicas, promovendo ao lado de outras
acompanhamento médico”. Wong (2003) afirma que terapias complementares a fitoterapia.
a utilização indiscriminada de remédios e associação No Brasil, diretrizes do Ministério da Saúde
de fármacos aumenta em toda a população o risco determinaram prioridades na investigação das plantas
de morbimortalidade causados pelos efeitos adversos medicinais e implantando a fitoterapia como prática
e toxicidade provocada por estes produtos. oficial da medicina, orientando as Comissões
Antes de serem utilizadas pela população é Interinstitucionais de Saúde (CIS) a buscarem sua
necessário que as plantas medicinais passem por inclusão no SUS. Para que essa inclusão ocorra é
vários processos que no final vão chegar a formulações essencial que os profissionais da área de saúde
com indicações de uso seguro e adequado para assim conheçam as atividades f armacológicas e a
fornecer resultados desejados a quem for utilizá-la. toxicidade das plantas medicinais de cada bioma
Tais processos englobam a química orgânica, brasileiro, de acordo com os costumes, tradições e
fitoquímica (onde ocorre o isolamento, purificação e condição sócio-econômica da população. Alguns
caracterização de princípio ativo), a farmacologia trabalhos já são realizados em estados como o Ceará
(investigando farmacologicamente os extratos e os com o objetivo de desvendar o uso de plantas
constituintes químicos isolados), a química orgânica medicinais pela população, encontrando alta
sintética (fazendo as transformações químicas de prevalência de uso (Silva et al., 2006).
princípios ativos) a química medicinal e farmacológica
(estudando a relação estrutura/atividade e os Como capacitar profissionais para a fitoterapia
mecanismos de ação dos princípios ativos) e por fim Embora a área de fitoterápicos esteja cada
a preparação de formulações para a produção do vez mais conhecida e desenvolvida, a disponibilidade
fitoterápico (Maciel et al., 2002). de produtos fitoterápicos no mercado brasileiro ainda
é bastante preocupante na visão do controle de
Os benefícios da fitoterapia para o Sistema qualidade desde a produção até a comercialização e
Público de Saúde uso pela população, pois a capacitação de
No ocidente, considera-se a Alemanha como profissionais nesta área ainda é escassa (Calixto,
primeiro e maior incentivador das terapias naturais, 2000).
notadamente a Fitoterapia, uma vez que no receituário Guiados pela mídia, as pessoas utilizam os
alemão os produtos florais chegam a ocupar cerca produtos provenientes do reino vegetal sob a forma
de 40% das prescrições. Há também países como a de complementos e suplementos alimentares, sem
França, Bélgica, Suécia, Suíça, Japão e Estados levar em consideração o potencial curativo destes
Unidos onde se enfatiza a técnica fitoterápica e onde medicamentos. Outros fatores que influenciam na pré-
os trabalhos científicos sobre o tema são publicados. concepção mistificadora ocidental é a associação
A China é campeã na utilização de medicamentos direta dos fármacos fitoterápicos com práticas
naturais. Naquele País só se recorre à alopatia quando integrativas de medicina, como a Medicina Chinesa,
não se encontra um substituto de tal medicamento a Medicina Holística, Macrobiótica entre outras
na flora chinesa (Leão & Ribeiro, 1999). (Camargo, 1985).
Visando a ef icácia e o baixo custo A fitoterapia é considerada pela OMS uma

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prática da medicina tradicional (Simon, 2001). Todavia, Programa Nacional de Telessaúde; o Programa de
o uso deve ser precedido por criteriosa identificação e Educação Permanente pelo Trabalho para a Saúde;
classificação botânica a fim de evitar a indução de erros Cursos de Especialização e Mestrado Profissionalizante;
e problemas durante a utilização. Muitas vezes os entre outros. Alem de contar com essas estratégias o
profissionais de saúde associam o uso destes Ministério da Saúde tem incentivado a inclusão de
medicamentos com os medicamentos alopáticos disciplinas de interesse do SUS nos currículos dos
(França et al., 2008), o que pode gerar riscos, uma cursos de graduação na área da saúde e inserido
vez que diversas interações têm sido descritas entre disciplinas sobre fitoterapia e outras práticas integrativas
fitoterápicos e fármacos quimicamente definidos, e complementares nos cursos de especialização que
algumas associadas à modulação da atividade por eles são financiados (Simoni, 2010).
enzimática no sítio de atuação (Franco, 2003).
Há preocupação ainda maior quanto aos Medidas para implantação da fitoterapia no SUS
herbolários (pessoas que comercializam plantas Com o cresci mento da uti li zação e
medicinais), pois estes obtêm os conhecimentos desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos, a
geralmente advindos da tradição oral, sem o OMS tem demonstrado crescente interesse em
adequado respaldo científico. Muitos deles não estão melhorar as condições que garantam qualidade,
preparados para avaliar critérios importantes no segurança e eficácia destes produtos, focando
tratamento medicamentoso como o armazenamento, especialmente o seu uso em países em vias de
uso, indicações e contra-indicações das plantas desenvolvimento (BRASIL, 2000). Com o objetivo de
medicinais. Em estudo realizado na cidade de evitar efeitos irracionais e danos que possam ser
Campina Grande - Paraíba foi demonstrado que causados pelo mau uso desta modalidade terapêutica,
poucos herbolários associam o conhecimento o Ministério da Saúde tem estabelecido políticas que
adquirido com a tradição oral à literatura acerca do encorajam o desenvolvimento de estudos com plantas
tema (França et al., 2008). medicinais objetivando colocar em prática os
Os profissionais de saúde devem levar em benefícios advindos destas pesquisas (Franco, 2003).
conta que uma gama de fatores interfere na atuação O governo tem mostrado interesse no
do complexo ativo obtido diretamente dos vegetais. desenvolvimento de políticas e programas que
Aspectos genéticos dos indivíduos podem expressar associem o conhecimento popular com o científico,
diferentes atividades das substâncias bioativas assim ao longo de vários anos vem sendo criado
presentes, e estes podem ser afetados também por portarias e programas relacionada a plantas
condições climáticas como luminosidade, índice medicinais e fitoterápicos no SUS. Dentre estes
pluviométrico, condições do solo e outros fatores. merecem destaques:
Faz-se necessário conhecer mais acerca da · O Programa de Pesquisa de Plantas
taxonomia do material botânico a ser utilizado, uma Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos
vez que os fitoterápicos apresentam altos risco de (CEME), criado pelo ministério da saúde e vigente
efeitos colaterais e intoxicações (França et al., 2008). durante 15 anos (1982 e 1997), teve como objetivo
Segundo a Política Nacional de Práticas principal estudar 55 plantas medicinais com o intuito
Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, a de determinar a ação terapêutica, que estas plantas
capacitação, na área de “Plantas medicinais e tinham segundo a população, a partir de estudos
Fitoterapia”, deve ser realizada através de curso básico científicos e assim desenvolver uma terapia
interdisciplinar comum a toda a equipe, visando à alternativa e complementar (Simoni, 2010). Cinco
sensibilização dos profissionais a respeito dos anos após a PPPM iniciar, foi criado a Resolução
princípios e diretrizes do SUS, das políticas de saúde, da Comissão Interministerial de Planejamento e
das Práticas Integrativas no SUS, das normas e Coordenação (CIPLAN) no 08, em 08 de março de
regulamentação e dos cuidados gerais com as plantas 1988, que determinava procedimentos e rotinas
medicinais e fitoterápicos; cursos específicos para relativas à prática da Fitoterapia nas Unidades
profissionais de saúde de nível universitário, detalhando Assistenciais Médicas e consequentemente
os aspectos relacionados à manipulação, fitoterápicos, regulamentava a prática de Fitoterapia nos serviços
de acordo com as categorias profissionais e cursos de saúde (Brasil, 1988).
específicos para profissionais da área agronômica · No ano de 1998 foi aprovado a Política
detalhando os aspectos relacionados a toda cadeia Nacional de Medicamentos, Portaria no 3916, que
produtiva de plantas medicinais (Brasil, 2006a). estabelecia a expansão do apoio às pesquisas
A fim de seguir as recomendações da PNPIC, destinadas a fitoterápicos, visando o potencial
o Ministério da Saúde, responsável pela Política de terapêutico da flora e fauna nacionais, uma vez que
Educação na Saúde, conta com estratégias para o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta
formação e educação dos profissionais de saúde, como (Brasil, 1998). Em meados de em 2001, o Ministério
o Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS); o da Saúde realizou um Fórum para formulação da

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proposta da Política Nacional de Plantas Medicinais medicamentos fitoterápicos acessíveis à população


e Medicamentos Fitoterápicos, porém esta só foi (Matos, 1998) e realizar todas as etapas do cultivo,
aprovada no ano de 2006 pelo decreto Presidencial coleta, processamento, armazenamento de plantas
no 5.813, de 22 de junho de 2006 (Brasil, 2006b). A medicinais, manipulação, dispensação de
fim de definir e pactuar as ações que visam o uso de preparações magistrais até oficinas de plantas
plantas medicinais e fitoterápicos no processo de medicinais e produtos fitoterápicos (Simoni, 2010).
atenção à saúde, respeitando desde o conhecimento Nas duas últimas décadas, alguns estados
tradicional até o uso da biodiversidade do país, o e municípios brasileiros vêm realizando a implantação
Conselho Nacional de Saúde em 2004 aprovou a desses programas e portarias na atenção primária à
Política Nacional de Assistência Farmacêutica com saúde, com o intuito de suprir as carências
a resolução no 338. medicamentosas de comunidades, e muitos desses
· 1ª Conferência Nacional de Medicamentos e programas estão, atualmente, vinculados ao programa
Assistência Farmacêutica no ano de 2005 aprovou 48 saúde da família (Ogava et al., 2003; Michilis, 2004).
recomendações, e entre elas a implantação de
programas para uso de medicamentos fitoterápicos nos Considerações finais
serviços de saúde, diante disto em 2006, através da Diante da biodiversidade do Brasil e do objetivo
portaria MS no 971, foi aprovada a Política Nacional de de melhorar a saúde da população, o Ministério da Saúde
Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) no vem inv estindo no uso da f itoterapia como
SUS, que trata das diretrizes, ações e responsabilidades complemento para o SUS. Entretanto, para que isso
dos três governos, federal, estadual e municipal, os quais ocorra de forma correta e, principalmente, segura é
devem ofertar nos serviços de saúde: serviços e produtos necessário profissionais capacitados, que compreendam
homeopáticos, plantas medicinais e fitoterápicos, a química, toxicologia e farmacologia das plantas
medicina tradicional chinesa/acupuntura, entre outros. medicinais e princípios ativos sem desconsiderar o
Deve ficar claro que a essa política tem o objetivo de conhecimento popular.
ampliar o acesso a opções de tratamentos com produtos Existem diversos programas de fitoterapia
e serviços seguros, eficazes e de qualidade, de forma implantados ou em fase de implantação, em todas as
integrativa e complementar e não em substituição ao regiões do Brasil. Isto se deve a busca das Secretarias
modelo convencional, por tanto estes programas devem Municipais de Saúde em facilitar o acesso da população
dispor de profissionais devidamente capacitados, e os às plantas medicinais/fitoterápicos visando o uso correto
produtos devem atender obrigatoriamente os critérios das mesmas. Está pratica está sendo, à priori,
de segurança, qualidade e eficácia terapêutica (Simoni, implantada no Programa Saúde da Família (PSF) de
2010). diversos estados.
· A Política Nacional de Plantas Medicinais Apesar da crescente busca por integrativas
e Fitoterápicos, aprovada pelo Decreto Presidencial medicamentosas, os estudos acerca da fitoterapia
no 5.813, de 22/06/2006, foi elaborada por Grupo de ainda são precários no Brasil, sendo necessário o
Trabalho Interministerial (GTI) o qual contempla desenvolvimento de pesquisas nesta área, que
diretrizes que vão desde a cadeia produtiva de plantas enriqueceriam o conhecimento dos profissionais e
medicinais ate os produtos fitoterápicos (Brasil, estudantes da saúde, auxiliando e tornando mais
2006b). Essa política fez surgir um novo GTI para seguras e eficazes a implementação das práticas
elaborar o Programa Nacional de Plantas Medicinais fitoterápicas no SUS.
e Fitoterápicos cuja proposta foi submetida à consulta
pública e aprovado em 09/12/2008, por meio da
Portaria Interministerial no 2.960, que além de criar REFERÊNCIA
essa GTI, criou o Comitê Nacional de Plantas
Medicinais e Fitoterápicos com a missão de ALEXANDRE, R.F.; BAGATINI, F.; SIMÕES, C.M.O.
monitorar e avaliar a implantação da Política Nacional. Interações entre fármacos e medicamentos fitoterápicos
· Com a finalidade de instituir o programa à base de ginkgo ou ginseng. Revista Brasileira de
Farmácia Viva no Sistema Único de Saúde (SUS) Farmacognosia, v.18, n.1, p.117-26, 2008.
em 2010 foi aprovada a Portaria no 886/GM/MS. O BOAS, G.K.V.; GADELHA, C.A.G. Oportunidades na
indústria de medicamentos e a lógica do desenvolvimento
programa Farmácia Viva foi criado pelo professor
local baseado nos biomas brasileiros: bases para a
Francisco José de Abreu Matos da Universidade discussão de uma política nacional. Caderno de Saúde
Federal do Ceará, que estudou por mais de 50 anos Pública, v.23, n.6, p.1463-71, 2007.
plantas medicinais e originou vasta e reconhecida BRANDÃO, M.G.L.; FREIRE, N.; VIANNA-SOARES, C.D.
literatura científica sobre estas plantas e uso. O Vigilância de fitoterápicos em Minas Gerais. Verificação
programa foi o primeiro de assistência farmacêutica da qualidade de diferentes amostras comerciais de
baseado no emprego científico de plantas medicinais camomila. Caderno de Saúde Pública, v.14, n.3, p.613-
desenvolvido no Brasil, tendo por objetivo produzir 16, 1998.

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