Santos Et Al. - Análise Sobre A Fitoterapia Como Prática Integrativa No SUS
Santos Et Al. - Análise Sobre A Fitoterapia Como Prática Integrativa No SUS
Santos Et Al. - Análise Sobre A Fitoterapia Como Prática Integrativa No SUS
RESUMO: É notável o crescente uso da fitoterapia como prática médica integrativa em diversos
países. A utilização de plantas medicinais no Brasil tem como facilitadores a grande diversidade
vegetal e o baixo custo associado à terapêutica, o que vem despertando a atenção dos programas de
assistência à saúde e profissionais. O Ministério da Saúde, com a finalidade de evitar o uso inadequado
desta prática medicinal, tem demonstrado interesse por meio do incentivo de pesquisas relacionadas
ao assunto, favorecendo a implantação de programas de saúde visando à distribuição e utilização
destes medicamentos de forma racional. Baseado neste contexto foi realizado levantamento de
como esta temática vem sendo abordada e implementada no Sistema Único de Saúde (SUS). Trata-
se de estudo descritivo com abordagem qualitativa, realizado através de levantamento bibliográfico
em bases de dados relacionado ao tema “medicamentos fitoterápicos no sistema único de saúde”.
Os descritores utilizados durante toda a pesquisa foram fitoterapia, medicamentos fitoterápicos, medicina
integrativa, medicamentos, medicina herbária, fitoterapia no SUS, medicina integrativa e sistemas
públicos de saúde. Observou-se que o governo tem demonstrado interesse no desenvolvimento de
políticas que associem o avanço tecnológico ao conhecimento popular em prol de procedimentos
assistenciais em saúde que apresentem eficácia, abrangência, humanização e menor dependência
com relação à indústria farmacêutica. Nas duas últimas décadas, alguns estados e municípios brasileiros
vêm realizando a implantação de Programas de Fitoterapia na atenção primária à saúde, com o
intuito de suprir as carências medicamentosas de suas comunidades. Apesar da crescente busca
por integrativas medicamentosas, os estudos acerca da fitoterapia ainda são precários no Brasil,
fazendo-se ainda necessárias pesquisas nesta área, de modo a ampliar o conhecimento dos profissionais
e estudantes da saúde, auxiliando e tornando mais sólidas as bases de segurança e eficácia para
implementação das praticas fitoterápicas no SUS.
plantas com a finalidade de tratar e curar enfermidade. operacional da utilização de plantas medicinais nos
Hoje podemos encontrar nas grandes e pequenas programas de atenção primária à saúde, pode-se
cidades brasileiras a comercialização de plantas considerar uma integrativa terapêutica muito útil e
medicinais livremente em feiras livres, mercados importante. A facilidade para adquirir essas plantas e
populares, quitandas residenciais e em outros a compatibilidade cultural são fatores de extrema
estabelecimentos (Maciel et al., 2002). Esses relevância para o progresso dessa medicina,
produtos são comercializados por ervanários e principalmente no Nordeste brasileiro onde na cultura
raizeiros que não cumprem com os critérios de é comum o uso das mesmas na preparação de
adequação à saúde nem atendem ao binômio remédios caseiros para tratar varias enfermidades.
segurança e eficácia exigidos nos demais produtos, Além disso, o fato de plantas medicinais poderem
mostrando assim uma comercialização inadequada ser usadas através de formulações caseiras, de fácil
e consequentemente má utilização das plantas preparo, se reveste de grande importância, pois ela
medicinais, já que essas, neste caso, não passam pode suprir a crônica falta de medicamentos nos
por sistemas de qualificação da farmacovigilância serviços de saúde (Matos, 1998).
(Brandão et al., 1998). Essa idéia vem sendo desenvolvida já algum
Rang et al. (2007) relatam que “A utilização tempo. Segundo Boas e Gadelha (2007), o relatório
de chás, de forma indiscriminada, em crianças final da 10a Conferência Nacional de Saúde, em 1998,
portadoras de enfermidades hepáticas, renais ou determina que os gestores do SUS devam estimular
outras doenças, poderá lhes trazer sérias e ampliar pesquisas realizadas em parceria com
conseqüências para sua saúde se não houver universidades públicas, promovendo ao lado de outras
acompanhamento médico”. Wong (2003) afirma que terapias complementares a fitoterapia.
a utilização indiscriminada de remédios e associação No Brasil, diretrizes do Ministério da Saúde
de fármacos aumenta em toda a população o risco determinaram prioridades na investigação das plantas
de morbimortalidade causados pelos efeitos adversos medicinais e implantando a fitoterapia como prática
e toxicidade provocada por estes produtos. oficial da medicina, orientando as Comissões
Antes de serem utilizadas pela população é Interinstitucionais de Saúde (CIS) a buscarem sua
necessário que as plantas medicinais passem por inclusão no SUS. Para que essa inclusão ocorra é
vários processos que no final vão chegar a formulações essencial que os profissionais da área de saúde
com indicações de uso seguro e adequado para assim conheçam as atividades f armacológicas e a
fornecer resultados desejados a quem for utilizá-la. toxicidade das plantas medicinais de cada bioma
Tais processos englobam a química orgânica, brasileiro, de acordo com os costumes, tradições e
fitoquímica (onde ocorre o isolamento, purificação e condição sócio-econômica da população. Alguns
caracterização de princípio ativo), a farmacologia trabalhos já são realizados em estados como o Ceará
(investigando farmacologicamente os extratos e os com o objetivo de desvendar o uso de plantas
constituintes químicos isolados), a química orgânica medicinais pela população, encontrando alta
sintética (fazendo as transformações químicas de prevalência de uso (Silva et al., 2006).
princípios ativos) a química medicinal e farmacológica
(estudando a relação estrutura/atividade e os Como capacitar profissionais para a fitoterapia
mecanismos de ação dos princípios ativos) e por fim Embora a área de fitoterápicos esteja cada
a preparação de formulações para a produção do vez mais conhecida e desenvolvida, a disponibilidade
fitoterápico (Maciel et al., 2002). de produtos fitoterápicos no mercado brasileiro ainda
é bastante preocupante na visão do controle de
Os benefícios da fitoterapia para o Sistema qualidade desde a produção até a comercialização e
Público de Saúde uso pela população, pois a capacitação de
No ocidente, considera-se a Alemanha como profissionais nesta área ainda é escassa (Calixto,
primeiro e maior incentivador das terapias naturais, 2000).
notadamente a Fitoterapia, uma vez que no receituário Guiados pela mídia, as pessoas utilizam os
alemão os produtos florais chegam a ocupar cerca produtos provenientes do reino vegetal sob a forma
de 40% das prescrições. Há também países como a de complementos e suplementos alimentares, sem
França, Bélgica, Suécia, Suíça, Japão e Estados levar em consideração o potencial curativo destes
Unidos onde se enfatiza a técnica fitoterápica e onde medicamentos. Outros fatores que influenciam na pré-
os trabalhos científicos sobre o tema são publicados. concepção mistificadora ocidental é a associação
A China é campeã na utilização de medicamentos direta dos fármacos fitoterápicos com práticas
naturais. Naquele País só se recorre à alopatia quando integrativas de medicina, como a Medicina Chinesa,
não se encontra um substituto de tal medicamento a Medicina Holística, Macrobiótica entre outras
na flora chinesa (Leão & Ribeiro, 1999). (Camargo, 1985).
Visando a ef icácia e o baixo custo A fitoterapia é considerada pela OMS uma
prática da medicina tradicional (Simon, 2001). Todavia, Programa Nacional de Telessaúde; o Programa de
o uso deve ser precedido por criteriosa identificação e Educação Permanente pelo Trabalho para a Saúde;
classificação botânica a fim de evitar a indução de erros Cursos de Especialização e Mestrado Profissionalizante;
e problemas durante a utilização. Muitas vezes os entre outros. Alem de contar com essas estratégias o
profissionais de saúde associam o uso destes Ministério da Saúde tem incentivado a inclusão de
medicamentos com os medicamentos alopáticos disciplinas de interesse do SUS nos currículos dos
(França et al., 2008), o que pode gerar riscos, uma cursos de graduação na área da saúde e inserido
vez que diversas interações têm sido descritas entre disciplinas sobre fitoterapia e outras práticas integrativas
fitoterápicos e fármacos quimicamente definidos, e complementares nos cursos de especialização que
algumas associadas à modulação da atividade por eles são financiados (Simoni, 2010).
enzimática no sítio de atuação (Franco, 2003).
Há preocupação ainda maior quanto aos Medidas para implantação da fitoterapia no SUS
herbolários (pessoas que comercializam plantas Com o cresci mento da uti li zação e
medicinais), pois estes obtêm os conhecimentos desenvolvimento de medicamentos fitoterápicos, a
geralmente advindos da tradição oral, sem o OMS tem demonstrado crescente interesse em
adequado respaldo científico. Muitos deles não estão melhorar as condições que garantam qualidade,
preparados para avaliar critérios importantes no segurança e eficácia destes produtos, focando
tratamento medicamentoso como o armazenamento, especialmente o seu uso em países em vias de
uso, indicações e contra-indicações das plantas desenvolvimento (BRASIL, 2000). Com o objetivo de
medicinais. Em estudo realizado na cidade de evitar efeitos irracionais e danos que possam ser
Campina Grande - Paraíba foi demonstrado que causados pelo mau uso desta modalidade terapêutica,
poucos herbolários associam o conhecimento o Ministério da Saúde tem estabelecido políticas que
adquirido com a tradição oral à literatura acerca do encorajam o desenvolvimento de estudos com plantas
tema (França et al., 2008). medicinais objetivando colocar em prática os
Os profissionais de saúde devem levar em benefícios advindos destas pesquisas (Franco, 2003).
conta que uma gama de fatores interfere na atuação O governo tem mostrado interesse no
do complexo ativo obtido diretamente dos vegetais. desenvolvimento de políticas e programas que
Aspectos genéticos dos indivíduos podem expressar associem o conhecimento popular com o científico,
diferentes atividades das substâncias bioativas assim ao longo de vários anos vem sendo criado
presentes, e estes podem ser afetados também por portarias e programas relacionada a plantas
condições climáticas como luminosidade, índice medicinais e fitoterápicos no SUS. Dentre estes
pluviométrico, condições do solo e outros fatores. merecem destaques:
Faz-se necessário conhecer mais acerca da · O Programa de Pesquisa de Plantas
taxonomia do material botânico a ser utilizado, uma Medicinais (PPPM) da Central de Medicamentos
vez que os fitoterápicos apresentam altos risco de (CEME), criado pelo ministério da saúde e vigente
efeitos colaterais e intoxicações (França et al., 2008). durante 15 anos (1982 e 1997), teve como objetivo
Segundo a Política Nacional de Práticas principal estudar 55 plantas medicinais com o intuito
Integrativas e Complementares (PNPIC) no SUS, a de determinar a ação terapêutica, que estas plantas
capacitação, na área de “Plantas medicinais e tinham segundo a população, a partir de estudos
Fitoterapia”, deve ser realizada através de curso básico científicos e assim desenvolver uma terapia
interdisciplinar comum a toda a equipe, visando à alternativa e complementar (Simoni, 2010). Cinco
sensibilização dos profissionais a respeito dos anos após a PPPM iniciar, foi criado a Resolução
princípios e diretrizes do SUS, das políticas de saúde, da Comissão Interministerial de Planejamento e
das Práticas Integrativas no SUS, das normas e Coordenação (CIPLAN) no 08, em 08 de março de
regulamentação e dos cuidados gerais com as plantas 1988, que determinava procedimentos e rotinas
medicinais e fitoterápicos; cursos específicos para relativas à prática da Fitoterapia nas Unidades
profissionais de saúde de nível universitário, detalhando Assistenciais Médicas e consequentemente
os aspectos relacionados à manipulação, fitoterápicos, regulamentava a prática de Fitoterapia nos serviços
de acordo com as categorias profissionais e cursos de saúde (Brasil, 1988).
específicos para profissionais da área agronômica · No ano de 1998 foi aprovado a Política
detalhando os aspectos relacionados a toda cadeia Nacional de Medicamentos, Portaria no 3916, que
produtiva de plantas medicinais (Brasil, 2006a). estabelecia a expansão do apoio às pesquisas
A fim de seguir as recomendações da PNPIC, destinadas a fitoterápicos, visando o potencial
o Ministério da Saúde, responsável pela Política de terapêutico da flora e fauna nacionais, uma vez que
Educação na Saúde, conta com estratégias para o Brasil é o país de maior biodiversidade do planeta
formação e educação dos profissionais de saúde, como (Brasil, 1998). Em meados de em 2001, o Ministério
o Sistema Universidade Aberta do SUS (UNA-SUS); o da Saúde realizou um Fórum para formulação da