Revolucion Á Rios
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Revolucion Á Rios
REVOLUCIONÁRIOS
PORTUGAL
GUERRA COLONIAL E REVOLUÇÃO
ÍNDICE
II . Revolução
III. Contra-revolução
Ficha Técnica:
Edição:
Tiragem:
SÍNTESE
I. Guerra Colonial
27
Inesperadamente mandaram-nos a Marromeu a mais de
300 Km para Norte, junto ao poderoso rio Zambeze que
neste local se espraia pela pela planície formando uma
espécie de delta com inúmeras ilhas e canais. A povoação,
sede da Sena Sugar é ligada à Beira por caminho de ferro,
uma criação da Companhia de Moçambique, tudo em redor é
um mar de cana de açúcar ondulante. O percurso foi feito em
estrada de terra, conhecida por “picada”, porcos do mato
acompanharam o jipe durante algum tempo, numa curva
surgiu-nos uma família de babuínos mais conhecidos por
macaco cão. O chefe da família estava sentado na picada a
comer e continuou impávido. As fêmeas do harém e juvenis
andavam por ali confiantes sob o olhar protetor do macho. O
seu tamanho e as presas impunham temor e resolvemos
sensatamente esperar, diziam-nos que esta espécie de
macacos atiravam pedras com pontaria certeira. Finalmente
abalaram. Uma placa pendurada numa árvore reproduzia o
aviso de uma autoestrada “Mais vale perder um minuto na
vida do que a vida num minuto”, de repente a picada
terminava num canal do Zambeze. Uma barcaça assegurava
a passagem, as margens em declive e enlameadas
obrigavam-nos a descer com muita cautela apontando o jipe
ao barco, um erro era a
morte do artista. Passavam ilhas flutuantes arrancadas pela
força da corrente, na margem estacionavam crocodilos.
Contaram-nos que meses antes,(21Jun69) mais para
Norte, na passagem de Chupanga para Mopeia, 101 homens
do exército tinham morrido afogados e 30 viaturas
perdidas porque o batelão de repente começou a meter água.
Dormimos em instalações da Sena Sugar, assim chamada
por conta da etnia local, o povo Sena. O sargento fez o que
tinha vindo fazer na Companhia e retornámos, sem antes nos
alambazarmos com um churrasco de costeleta da excelente
vitela local, oferecido por um português do “puto”que
trabalhava para a empresa produtora de açúcar e que passou
o tempo do repasto a resmungar contra tudo e contra todos.
II. Revolução!
Quando um militar é desmobilizado do serviço, trás
consigo uma Caderneta Militar, nela é descrito
sumariamente os atos mais marcantes da carreira. As penas
de prisão, a condecoração das campanhas em África, a
despromoção a soldado por insubordinação, emolduram o
meu percurso, justificando a proibição de voltar a
incorporar as Forças Armadas, deles. Há homens que não
entendem “que todo o mundo é composto de mudança”,
citando Camões, julgam que o poder é divino e eterno. Por
isso escreveram sentenças que julgavam ser para toda a
minha existência, não concebiam, não percecionavam que
uma derrocada histórica estava a caminho e que mudaria
o paradigma da vida. O que julgavam um anátema tornou-
se, pelo menos para mim, num motivo de orgulho. Tínhamos
desafiado o aparelho da ditadura, não só a instituição militar
do regime, mas também a ideologia fascista, déspota,
repressiva, que dominava as consciências. Entretanto a
juventude de Portugal e os moçambicanos continuavam a
morrer numa guerra que nunca deveria ter acontecido.
O desespero, o racismo levou à ignomínia do
massacre da população civil em Wiriyamu e aldeias
próximas. Ainda hoje os sobreviventes e herdeiros políticos
do regime fascista, autodenominados democratas, de última
hora, papagueiam “direitos humanos” quando esconderam e
até defenderam os responsáveis. Digamos que estamos todos
no mesmo barco da Grande Democracia Ocidental, ou lá o
que isso seja e fazemos o favor dos povos colonizados serem
nossos amigos!
113
Depois do 25 de Abril, o poder económico e o poder
político deixaram de ser coincidentes.O poder político
estava nas mãos de forças democráticas que prosseguia uma
política voltada para a defesa dos interesses do povo e do
País, mas o poder económico continuava nas mãos dos
monopólios e latifúndiários. Esta situação não podia
manter-se por muito tempo. Ou as forças democráticas
punham fim a este conflito ou a base conspirativa contra a
democracia acabaria por instaurar uma nova ditadura.
A participação nos acontecimentos em Portugal
ensinava-nos que quando se consideram os comunistas uma
pretensa ameaça à democracia, é um pretexto para os
próprios acusadores esconderem as suas intenções de
acabar ou limitar as liberdades.
FONTES E BIBLIOGRAFIA
. “As lutas de classes em Portugal nos fins da Idade Média”. Álvaro Cunhal.
Editorial Caminho, 1ª.Edição, 1975.
. “O PCP nunca tentou fazer um golpe”. Raquel Varela, entrevista por Maria
José Oliveira, Público, 25/4/2011.