O Processo de Construção Da Saúde Mental
O Processo de Construção Da Saúde Mental
O Processo de Construção Da Saúde Mental
DA SAÚDE MENTAL
Por que precisamos falar sobre saúde mental e sua interface com a família?
Como podemos ampliar o debate para que possamos tecer redes de cuidado
que vão além das especialidades?
(Nunes, 2019)
A CONTRARREFORMA PSIQUIÁTRICA EM CURSO...
• As Contrarreformas configuram efeitos paradoxais, isto é, inesperados pelas forças sociais que idealizaram,
conquistaram e implementaram a RP em questão;
• Nos casos mais extremos, contam com o reaparecimento do manicômio, ou função manicômio, operando no
centro do modelo de atenção e a hegemonia do modelo biomédico, com ênfase na explicação biológica do
adoecimento e nas terapêuticas correlatas;
• A Contrarreforma pode ser entendida como um processo sociopolítico e cultural complexo que evidencia
uma correlação de forças e interesses que tensionam e até revertem as transformações produzidas pelas RP
nas quatro dimensões propostas por Amarante (2003): epistemológica, técnico-assistencial, político-jurídica
e sociocultural.
(Nunes, 2019)
Alguns conceitos para (des)bussolar
a caminhada de produção de cuidado(s)
Uma ferramenta analítica necessária:
a MEDICALIZAÇÃO DA VIDA
• Na contramão do paradigma neoliberal, tem-se a autonomia como capacidade de estabelecer, em um plano comum de
coexistência, relações de interdependência para a construção das escolhas e decisões de modo ético, isto é, decisões que
podem ser apoiadas e cujos efeitos considerem sua existência na relação com os demais que o cercam;
• O fato de as relações das pessoas diagnosticadas com transtorno mental serem geralmente muito restritas é o que as
tornam menos autônomas;
• “Somos mais autônomos quanto mais dependentes de tantas coisas pudermos ser, pois isto amplia nossas possibilidades
para o estabelecimento de novas normas, novos ordenamentos para a vida” (Kinoshita, 2016).
• Autonomia não é antônimo de dependência, nem “liberdade absoluta” – devido à sua aproximação à compreensão
individualista/liberal. Ao contrário, entende-se autonomia como a capacidade do sujeito, em sua relação com o corpo
social, de construir redes de dependências: de apoio, proteção, afetos.
Uma ferramenta analítica necessária: a INTERSECCIONALIDADE
• “Em determinada sociedade, em determinado período, as relações de poder que envolvem raça, classe e
gênero, por exemplo, não se manifestam como entidades distintas e mutuamente excludentes. De fato, essas
categorias se sobrepõem e funcionam de maneira unificada” (Patrícia Hill Collins & Sirma Bilge, 2020);
• O sofrimento ético-político diz respeito ao sentimento que parte do indivíduo dentro de um contexto político,
econômico, social e cultural. Aflige aquele que percebe, de alguma forma, sua condição excluída, desalojada, a
dor individual e coletiva da desigualdade e os seus impactos na vida cotidiana. O sofrimento ético-político nos
conta os efeitos dilacerantes de um sistema grosseiro e desumano;
• O sofrimento ético-político diz respeito a um sentimento que não é individual, ou seja, sentido apenas pelo
indivíduo em si mesmo, mas de sua percepção do todo, da percepção da desigualdade coletiva que o inclui,
estando em coesão com a lógica excludente à sua volta;
(Sawaia, 2014)
Uma ferramenta analítica necessária:
A CONTRAFISSURA E A PLASTICIDADE PSÍQUICA
• “Esse fenômeno de desespero, de fissura por resolver imediatamente, se manifesta na prática de internações
forçadas muitas vezes de adolescentes que tiveram seu primeiro contato com alguma droga ilegal. A esse afã
por resolver imediatamente e de modo simplificado problemas de tamanha complexidade chamamos
contrafissura” (p. 30);
• A contrafissura também se manifesta em cada cuidador e terapeuta que imagina salvar a vida das pessoas, que
pelas razões mais complexas está habitando as bocadas e zonas de uso ou simplesmente de pessoas que
procuram ajuda.
(Lancetti, 2015)
Uma ferramenta analítica necessária:
A CONTRAFISSURA E A PLASTICIDADE PSÍQUICA
• A plasticidade psíquica pode ser entendida como uma ruptura com a rigidez psíquica;
• “O trabalho dos terapeutas, ou seja, de todos os membros da equipe de Caps AD exige uma plasticidade
psíquica extraordinária, daí a importância de artistas na equipe” (p. 60);
• “A constante mudança de situações, ora repetitivas, ora explosivas, as diversas crises que os profissionais
acolhem, o encontro com histórias de vida terrificantes ou situações de horror tornadas habituais ou
banalizadas, exigem plasticidade psíquica e outro olhar” (p. 62).
• A plasticidade psíquica nos dá aparato para mergulharmos “na biografia de pessoas silenciadas”.
(Lancetti, 2015)
Valorização e interface família na saúde mental
COMPREENSÃO DE FAMÍLIA:
INDO ALÉM DA ESTRUTURA CIS-HÉTERO-PATRIARCAL E ASSUMINDO A
PLURALIDADE NA/DA CONTEMPORANEIDADE
• Nessa relação entre o sujeito e sua família, a Política Nacional de Saúde Mental (PNSM), fruto da reforma
psiquiátrica brasileira, redirecionou os modos de produção de cuidado em saúde mental, no sentido de
conceber e entender o papel da família no cuidado dos sujeitos;
• Se, antes, o tratamento se dava por meio do isolamento do indivíduo do seio familiar e comunitário, agora, ele
deve ser realizado em serviços de base territorial, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), e na Atenção
Básica à Saúde (ABS), por meio da equipe de saúde da família, entre outros;
• Fruto da Reforma Psiquiátrica: as pessoas em sofrimento psíquico grave passam a ter o direito de convívio com a
família garantido – assim como passa a circular pelo território e estabelecer relações com as redes sociais e de
apoio que a comunidade oferece;
(Brasil, 2013; Ferreira, T., Sampaio, J., Oliveira, I., & Gomes L., 2019)
O LUGAR DA FAMÍLIA NA PRODUÇÃO
DO CUIDADO EM SAÚDE MENTAL: UMA NOVA PERSPECTIVA
• A família como parceira dos novos serviços e reafirmada como um dos possíveis espaços do provimento de
cuidado, podendo ser necessária e aliada no cuidado de seu familiar em sofrimento psíquico;
• A família passa a ser convocada a integrar as redes de apoio do usuário, e, como tal, deve ser considerada na
produção do cuidado, de modo que não seja apenas acionada para o atendimento do sujeito, mas também
possa fazer parte das ações;
(Ferreira, T., Sampaio, J., Oliveira, I., & Gomes L., 2019)
INTERFACE FAMÍLIA E SAÚDE MENTAL
Atribuições/funções e tarefas da família:
transformações são produzidas pelas alterações no modelo assistencial em saúde mental
advindas da Reforma Psiquiátrica brasileira.
• Caráter indenizatório àqueles que, por falta de alternativas, foram submetidos a tratamentos aviltantes e
privados de seus direitos básicos de cidadania;
• Assume o objetivo de contribuir efetivamente para o processo de reinserção social dessas pessoas, incentivando
a organização de uma rede ampla e diversificada de recursos assistenciais e de cuidados, facilitadora do convívio
social, capaz de assegurar o bem-estar global e estimular o exercício pleno de seus direitos civis, políticos e de
cidadania;
• TRIPÉ: PVC, Programa de Redução de Leitos Hospitalares e os Serviços Residenciais Terapêuticos – essencial
para o efetivo processo de desinstitucionalização e resgate da cidadania das pessoas com graves
acometimentos psíquicos submetidas à privação da liberdade nos HP’s brasileiros.
“Há um consenso de que fatores familiares, valores sociais e sistema cultural têm
influência no processo saúde-doença. No fim da década de 1950, a família era considerada
a causadora da doença no indivíduo, notando-se que esse fator exerce influência até hoje
na relação entre os profissionais e familiares”
(Duarte, Souza, Kantorski & Pinho, 2007, p. 67)
A concepção de família é singular
“Cada indivíduo tem sua concepção de família, seja ela constituída de pai,
mãe e filhos ou, simplesmente, de pessoas que se veem unidas por relações
afetivas, independentemente de seus laços consanguíneos. Esse núcleo social
é o primeiro a se mobilizar numa situação de enfermidade e é um elemento
fundamental no processo de reabilitação do usuário, tornando-se, assim, um
referencial para os serviços de saúde”
• Em alguns casos, a família é vista como ‘quem atrapalha o cuidado’, ou ‘quem não coopera para a melhora do
sujeito’;
• “Em alguns momentos, como, por exemplo, na elaboração de um plano de cuidado para o seu membro, a
família pode não integrar o seu planejamento, ou porque a equipe de saúde não reconhece o seu saber e
suas contribuições no cuidado ou porque essa família não se visualiza como participante desse processo”;
• “A família pode assumir diferentes papéis no cuidado de seu parente que vivencia sofrimento psíquico, visto
que essa, algumas vezes, é responsabilizada pelo usuário e pela sua melhora, todavia, ao mesmo tempo, não
é vista como aquela que pode opinar e auxiliar na elaboração do projeto terapêutico do sujeito, buscando
estratégias de inserção deste na comunidade, e assim por diante”;
• “O deslocamento das ações de cuidado do hospital para o domicílio desloca, também, os próprios
trabalhadores da saúde, que precisam repensar suas práticas, desterritorializar-se/reterritorializar-se dos seus
saberes técnicos adquiridos, para encontrarem-se com o outro, que agora encontra-se na sua residência,
ocupando espaços singulares e de produção da sua subjetividade”.
(Ferreira, T., Sampaio, J., Oliveira, I., & Gomes L., 2019, p. 445)
ALGUMAS REFLEXÕES NECESSÁRIAS...
• É necessário que levemos em consideração que a família também é atravessada por processos de
adoecimento e necessita fazer parte dos planos de cuidado;
• Num contexto familiar adoecido, não raras vezes, o ambiente pode se tornar um “espaço de agudização” do
sofrimento psíquico de determinado usuário: tal questão precisa ser levada em consideração pela equipe de
profissionais;
• Atentar para a necessidade do cuidado familiar e não somente do indivíduo – atentemos: individualizar o
sofrimento é abrir mão da complexidade a ele inerente;
• Quando atentamos para a importância de conhecermos as pessoas que constituem o ambiente familiar, assim
como suas particularidades – compreendo quem são e como se organizam naquele lugar – o cuidado integral
torna-se uma possibilidade real. Ou seja, a família poderá ser integrada ao projeto terapêutico;
• “A integralidade do cuidado ao indivíduo envolve, também, sua família, uma vez que esta traz em si as suas
experiências e os modos de viver a vida, que são singulares e interferem nos modos de lidar com os processos
saúde-doença de seus membros” (p. 446).
(Ferreira, T., Sampaio, J., Oliveira, I., & Gomes L., 2019, p. 445)
ALGUMAS REFLEXÕES NECESSÁRIAS...
“Pelo fato de a família constituir as redes primárias do indivíduo, elas devem ser vistas como
fundamentais no processo de trabalho/cuidado. Na elaboração dos projetos terapêuticos, é
fundamental que os profissionais de saúde considerem as famílias nas suas singularidades, já
que estas apresentam demandas das mais variadas ordens. Entre as quais, Colvero et al. cita: a
dificuldade de lidar com as situações de crise, com os conflitos familiares emergentes, com a
culpa, com o pessimismo por não conseguir vislumbrar saídas para os problemas, com o
isolamento social a que ficam sujeitos, as dificuldades materiais da vida cotidiana, as
complexidades do relacionamento com esse familiar, a expectativa frustrada de cura
ou o desconhecimento da doença propriamente dita.
(...) Estar atento à história que envolve o passado da família, o seu presente e aquilo que esta
projeta para o futuro, sem dúvidas, é uma importante aposta das equipes de saúde na
produção do cuidado que reconheça e legitime o ambiente familiar como espaço de cuidado”
(p. 446).
(Ferreira, T., Sampaio, J., Oliveira, I., & Gomes L., 2019, p. 445)
Abordagem à família em saúde mental
• “Focando a atuação na família, amplia-se a noção de atendimento integral à saúde, em que, a partir de
um cliente, as ações são desdobradas para o grupo, com a organização de práticas preventivas coletivas e
de promoção de saúde” (Santos et al., 2015);
• Na Estratégia Saúde da Família (ESF), mesmo com todos os retrocessos aos quais foi exposta, a equipe
multiprofissional de saúde é levada a conhecer a realidade das famílias pelas quais é responsável, por
meio do cadastramento e da identificação de suas características, tornando-se mais sensível às suas
necessidades;
• A partir da relação direta com a família, vínculos são criados – “que facilita a identificação e o
atendimento dos problemas de saúde da comunidade”;
• Para alcançar esses objetivos, com um cuidado em saúde que alcance resultados satisfatórios e seja eficaz
no cuidado à família, faz-se necessário a utilização das ferramentas de família.
Genograma: permite uma visualização rápida com informações relevantes com relação à família,
para um melhor conhecimento da mesma. É uma ferramenta de representação gráfica da família
por meio da qual são representados cada um dos seus membros, seus relacionamentos e questões
como, por exemplo, possíveis morbidades, podendo ainda ser acrescentadas outras informações
relevantes como escolaridade, hábitos, etc.;
Ecomapa: É uma ferramenta que complementa o genograma, pois é a representação da rede social
da família e envolve as relações intrafamiliares e com o meio externo – levando em conta o vínculo
com o trabalho, amigos, serviços de saúde e assistência e a própria comunidade (Exemplo: Louro
José)
(Santos, et al. 2015)
Exemplo de Genograma
Exemplo de Ecomapa
Abordagem à família em saúde mental
Ciclo de vida: ferramenta que divide a história da família em estágios de desenvolvimento (jovens
adultos saindo de casa; casamento; famílias com filhos pequenos; famílias com filhos
adolescentes; lançando os filhos e seguindo em frente; famílias em estágio avançado de vida). Os
estágios são caracterizados por tarefas específicas e crises evolutivas e/ou previsíveis, que exigem
processos singulares de cada membro que os vivencia (Santos, et al. 2015);
Conferência familiar: momento de troca e diálogo que pode (de preferência) acontecer no domicílio
da família. Espaço para exposição dos problemas familiares no qual é garantida a voz de todas as
pessoas presentes. Após a conferência, pode ser realizada a pós-conferência (Santos, et al. 2015);
Grupos “de família”: atividades que costumam acontecer nos serviços, mas que podem ir além
sendo propostas, por exemplo, rodas de terapia comunitária em outros espaços da comunidade –
participação da rede: CRAS, CREAS, UBSF, CAPS.
Vídeo:
Saúde Mental e a importância da família
nos grupos de ajuda
Um breve relato de caso - Berê e sua mãe: quem cuida de quem cuida?
• Em uma das salas de espera, presenciamos uma discussão entre Berê, uma usuária do serviço, e a sua
mãe. Na ocasião, a mãe de Berê estava visivelmente incomodada por ter que estar esperando a consulta.
Segundo a mesma, ela já não aguentava mais ter que ir ao serviço, afirmando que é uma mulher idosa e
que sua filha já tinha condições de cuidar de si. Em alguns momentos ela afirmava que já estava cansada.
Foi nessa situação, em que mãe e filha discutiam, que emergiram falas sobre a usuária ser uma pessoa
“agressiva e nervosa”.
Nesse momento, a mãe de Berê começa a falar sobre algumas situações vividas com a filha. Conta que
Berê “sempre deu trabalho” diante do uso de substâncias e sempre recorreu à mãe para pedir ajuda,
pois as pessoas foram cansando com o passar do tempo. A mãe conta que quando a filha “arruma
alguém”, fica mais tranquila, mas logo acaba e “vira problema de novo”. Menciona que a filha “tem as
relações dela com mulher” e que ela não se preocupa com isso, porque o que importa é que ela “deixe
de dar trabalho”. [...] A mãe de Berê continua falando. Diz que a filha é agressiva e nervosa e, por isso,
já passou por relações que terminaram muito mal. Sua mãe diz que a filha já colocou fogo na casa de
uma ex, assim como já esteve presa por tentativa de homicídio. Berê diz: “A senhora sabe que eu sou
assim. Que eu fico nervosa”. Berê fala que depois de viver muitas relações problemáticas, prefere ficar
sozinha sem ninguém pra lhe “aperrear”. Em seguida, a usuária é chamada para a consulta e a mãe
segue na sala de espera...
Um breve relato de caso - Berê e sua mãe: quem cuida de quem cuida?
• Momento em que a mãe se nega a retornar para o CAPS: grupos “de família”?
• Reconciliação.
OS GRUPOS DE FAMÍLIA
• Os grupos de familiares (ou grupos de ajuda) costumam ser compostos, principalmente, por mães,
irmãs, companheiras e avós de usuários: uma questão de gênero;
• Objetivo: oferecer suporte aos familiares, tanto no sentido de ser um espaço para tirar dúvidas
sobre o cuidado e o manejo do tratamento junto ao usuário, como um momento para que o
familiar cuidador possa desabafar, falar das suas angústias e do seu cansaço, mas também falar de
si mesmo enquanto pessoa, não somente enquanto cuidador;
• Para Pontes (2009), nos grupos de familiares ou nos atendimentos de família, é comum que as
discussões girem em torno dos sintomas, e é importante que o profissional que media o grupo
fique atento às possibilidades e ao conjunto de recursos que a família apresenta e como cada um
se apropria deles ou como fica paralisado diante do momento vivido;
OS GRUPOS DE FAMÍLIA
• Um grupo de familiares pode funcionar como um espaço de acolhimento das experiências de vida
dos seus participantes. O estímulo às trocas de experiências tem se revelado uma importante
ferramenta para ampliar a capacidade de lidar com os problemas, assim como tem permitido que
um familiar possa se abrir para o discurso do seu companheiro (Melman, 2008).
Sluski (1997), citado por Melman (2008), usa o termo Rede Social de Sustentação para
definir a soma de todas as relações que um indivíduo percebe como importantes ou
diferenciadas da massa anônima da sociedade. A rede social coloca o indivíduo e sua família
em um determinado território social e favorece que os serviços de saúde mental ampliem
seu território de intervenção” (Santin & KlafkeII, 2011).
MODALIDADES DE ATENDIMENTO PENSADAS PARA A PARTICIPAÇÃO DAS
FAMÍLIAS: EXEMPLO DE UM HOSPITAL DIA
Existem no Hospital Dia quatro modalidades de atendimento especificamente pensadas para a
participação das famílias no tratamento:
• Os familiares descrevem sua participação como sendo uma forma de se sentirem acolhidos,
cuidados e apoiados mediante as situações colocadas com o adoecimento de seu familiar;
• A família também se sente cuidada ao se ver acompanhada por profissionais qualificados, que têm
o conhecimento necessário para sua atuação. Isso gera um sentimento de segurança nos
familiares, que finalmente se sentem amparados.
• Espaço de aprendizado sobre o adoecimento psíquico e maneiras de lidar com o mesmo: por meio
do contato com a equipe profissional e com os outros familiares, os espaços de acolhimento aos
familiares torna-se um espaço de referência para obter informações e recursos técnicos
relacionados ao quê e a como fazer ao enfrentar determinadas situações com seu familiar
adoecido;
• “O aprendizado sobre a doença e seus efeitos benéficos para as famílias acontecem no cotidiano
do tratamento dessas famílias, por meio do diagnóstico e aceitação da doença, do recebimento de
informações sobre a doença e como lidar com situações advindas da mesma”.
• Utilização de estratégias de psicoeducação como benéficas para os familiares (Aman, 2005; Rose &
Shelton, 2006) – nos deslocamos da lógica manicomial que concentra o conhecimento nas mãos de
um só profissional: eis um movimento que nos leva a refletir sobre a desmedicalização do
cuidado;
• O acesso às informações auxilia no manejo de situações cotidianas, assim como propicia uma
melhora na relação familiar, pois as pessoas passam a compreender determinados
comportamentos e podem pensar estratégias para a lida com o familiar em condição de
adoecimento: desloca-se da culpabilização do sujeito.
• Considera a historicidade e as necessidades individuais do usuário que se encontra inserido num contexto;
• Seu planejamento deve incluir ações que favoreçam a participação ativa do usuário e de sua família,
promovendo maior autonomia e compartilhamento de informações e saberes;
• “A construção de um projeto terapêutico singular deve ser compreendida como estratégia que, em sua
proposição e desenvolvimento, envolve a pessoa com transtorno mental, seus familiares e a rede social, num
processo contínuo, integrado e negociado de ações voltadas à satisfação de necessidades e produção de
autonomia, protagonismo, inclusão social” (Boccardo, Zane, Rodrigues & Mângia, 2011, p. 87);
• A possibilidade de construção e fortalecimento de vínculo da família com os serviços que compõem a Rede de
Atenção Psicossocial;
• Intervenções possíveis do/no PTS: acolhimento de demandas e crenças, acesso à história em sua totalidade,
reorganização de contratos de participação nos serviços, compreensão dos “comportamentos difíceis”,
convivências – aproximação a partir das preferências e do universo da pessoa usuária: música, pintura, dança,
por exemplo – atendimento individual, grupo terapêutico, visitas a espaços frequentados pela pessoa usuária,
grupo voltado para familiares, “grupo de medicação”, diálogo com a rede de cuidado, visita domiciliar, etc.;
“Acolhida das estranhezas e das singularidades do modo de vida que ali se expressam,
bem como o da escuta dessas expressões, não pelo viés patológico (com seus diagnósticos
e tratamentos), mas colocando-se ao lado do anômalo, do rugoso – como propõe
Canguilhem (2002), quando quer desmontar a ideia de anormalidade, trabalhando com a
positividade e legitimidade da diferença – para “fazer nascer ali um mundo”, “fazer nascer
uma criança”. Daí a enorme importância de sustentar um espaço tempo para que uma
experiência um tanto desordenada ganhasse sentido” (p. 167).
• “Pode-se dizer que o objetivo primordial da visita domiciliar é buscar a capacitação das famílias para
que estas possam utilizar recursos próprios, a fim de resolverem os seus problemas, incluindo-as no
processo de tratamento“;
• A partir do momento que o usuário se desloca/é deslocado da instituição total (Goffman, 2003) e
torna-se presente na sua comunidade, um acompanhamento comunitário e familiar se faz necessário;
• A comunidade, bem como a “família nuclear”, tornam-se importantes (quando não os principais)
espaços de acolhimento do sujeito. Assim, para que seja garantido o acompanhamento da rede social
do usuário, emergem enquanto importantes dispositivos a visita domiciliar, mais focada no trabalho
com o sistema familiar, e a terapia comunitária, focada no trabalho com a comunidade em geral;
• VALORIZAÇÃO DAS SAÍDAS QUE A PRÓPRIA FAMÍLIA ENCONTRA PARA OS IMPASSES SUSCITADOS;
[email protected]
REFERÊNCIAS
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de Ações Programáticas Estratégicas. (2013). Cadernos de atenção básica em saúde mental. Brasília, DF: Ministério da Saúde.
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