Jose Andre Cavalcanti Dasilva
Jose Andre Cavalcanti Dasilva
Jose Andre Cavalcanti Dasilva
Rio de Janeiro
Outubro de 2012
Silva, José André Cavalcanti da
Obtenção de um Lubrificante Biodegradável a par-
tir de Ésteres do Biodiesel da Mamona via Catálise Enzi-
mática e Estudos de Estabilidades Oxidativa e Térmica/
José André Cavalcanti da Silva. - Rio de
Janeiro: UFRJ/COPPE, 2012.
XIX, 169 p. : il. ; 29,7 cm.
Orientadores : Alberto Cláudio Habert
Denise Maria Guimarães Freire
Tese (doutorado) – UFRJ/ COPPE/ Programa
de Engenharia Química, 2012.
Referências Bibliográficas : p. 155-166.
1. Biolubrificantes. 2. Transesterificação. 3.
Catálise Enzimática. I. Habert, Alberto Cláudio,
et al. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro,
COPPE, Programa de Engenharia Química. III. Titulo.
iii
Agradecimentos
Aos meus pais, Ângela e Roberto, pelo apoio, mesmo à distância, e incentivo à
realização deste projeto, sobretudo nos períodos mais turbulentos.
Aos meus tios, Plácido, Leda e Zita, e a minha avó Pizinha, cuja incansável dedicação
continua me ajudando a realizar um número cada vez maior de sonhos.
À Shirley, pelo carinho, amor e compreensão dedicados na reta final deste trabalho, os
quais muito contribuíram e contribuem para que eu mantenha calma e discernimento
nas minhas atitudes.
À Vânia Periquito, grande incentivadora e facilitadora deste meu sonho, e sem o apoio
da qual o mesmo não seria possível. Além da amizade e conselhos que me auxiliam
continuamente no meu desenvolvimento.
Ao meu amigo Luiz Fernando Lastres pela compreensão da minha falta de tempo para
outras atividades em certos períodos e pelas “dicas” de comportamento e
relacionamento tão importantes ao meu desenvolvimento profissional.
À Magali, cujos ensaios e reações realizadas contribuíram muito para o sucesso deste
projeto. A sua ajuda foi e é decisiva para o desenvolvimento deste desafio.
À Jussara e Flávia, pelo apoio operacional e administrativo, e pela paciência para com
as minhas “super” urgências nas compras de material.
iv
Ao colega João Augusto, da PBIO, um dos primeiros a me incentivar e acreditar na
viabilidade deste trabalho.
Ao grandes amigos da ISU, José Gerde, Juliana Nóbrega e Neiva Almeida, cujo apoio
na forma de discussões técnicas e não técnicas (as melhores) e empréstimos de
reagentes e materiais quando da minha estada em Ames foram de extrema
importância para a minha rápida adaptação aos EUA e para que grande parte dos
resultados aqui apresentados fossem atingidos.
Aos professores Habert, Tong Wang, Dr. Hammond e Linxing, pelas discussões
altamente construtivas, pelas sugestões na elaboração de relatórios e seminários,
pelas formas de fazer correções e, acima de tudo, pela orientação a mim dispensada.
v
Resumo da Tese apresentada à COPPE/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Doutor em Ciências (D. Sc.)
Outubro/2012
vi
Abstract of Thesis presented to COPPE/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Doctor of Science (D. Sc.)
October/2012
vii
ÍNDICE GERAL
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 1
1. OBJETIVOS...................................................................................................... 4
2. LUBRIFICANTES E BIOLUBRIFICANTES ...................................................... 5
2.1 Lubrificantes................................................................................................ 5
2.2 Biolubrificantes ........................................................................................... 8
2.3 Química da Obtenção dos Biolubrificantes............................................. 14
2.3.1 Reações nos grupos carboxila dos óleos vegetais............................... 17
2.3.1.1 Transesterificação........................................................................ 17
2.3.2 Reações envolvendo a cadeia de hidrocarboneto nos óleos vegetais . 20
2.3.2.1 Hidrogenação............................................................................... 20
2.3.2.2 Epoxidação .................................................................................. 21
2.4 Propriedades Físico-Químicas e de Desempenho de Óleos Lubrificantes
.................................................................................................................... 21
2.4.1 Propriedades físicas ............................................................................ 23
2.4.1.1 Viscosidade e IV .......................................................................... 23
2.4.1.2 Fluidez em baixas temperaturas .................................................. 24
2.4.2 Propriedades de desempenho ............................................................. 25
2.4.2.1 Lubricidade, EP (extrema pressão) e comportamento antidesgaste.
.................................................................................................... 25
2.4.2.2 Eficiência energética .................................................................... 25
2.4.2.3 Poder de solvência e compatibilidade .......................................... 26
2.4.3 Propriedades químicas ........................................................................ 26
2.4.3.1 Estabilidade térmica e oxidativa ................................................... 26
2.4.3.2 Estabilidade hidrolítica ................................................................. 32
2.4.3.3 Biodegradabilidade ...................................................................... 33
2.5 Oxidação de Superfície............................................................................. 34
2.6 Estabilidade Térmica................................................................................. 35
2.7 Aplicações e Usos dos Biolubrificantes.................................................. 36
3. LIPASES E BIOLUBRIFICANTES.................................................................. 41
3.1 Aplicações das Lipases ............................................................................ 47
3.1.1 Uso de lipases na síntese de biodiesel ................................................ 52
3.1.2 Uso de lipases na síntese de ésteres biolubrificantes.......................... 53
4. MATÉRIAS PRIMAS PARA OS BIOLUBRIFICANTES .................................. 59
4.1 A Mamona e seus Derivados .................................................................... 59
4.2 A Soja ......................................................................................................... 62
viii
4.3 O Pinhão Manso ........................................................................................ 63
5. METODOLOGIA ............................................................................................. 65
5.1 Materiais..................................................................................................... 65
5.2 Aparelhagem e Condições Reacionais das Reações Enzimáticas ........ 66
5.3 Determinação das Atividades Enzimáticas ............................................. 68
5.3.1 Atividade de hidrólise........................................................................... 68
5.3.2 Atividade de esterificação .................................................................... 69
5.4 Síntese e Purificação do Éster Ricinoleato de Metila (MeR) (empregado
na etapa de estudo da estabilidade oxidativa)..................................................... 70
5.5 Síntese e Purificação do Éster 12-Acetilricinoleato de metila (12Ac).... 71
5.6 Síntese e Purificação do Acetil-TMP (Trimetilolpropano)....................... 71
5.7 Metodologia Analítica ............................................................................... 72
5.7.1 Viscosidade cinemática - ASTM D 445 ................................................ 72
5.7.2 Índice de viscosidade – ASTM D 2270 ................................................ 73
5.7.3 Ponto de fluidez – ASTM D 97............................................................. 73
5.7.4 Estabilidade oxidativa pela bomba rotatória (RPVOT) – ASTM D 227274
5.7.5 Análise de termogravimetria (TGA)...................................................... 75
5.7.6 Cromatografia líquida de alta performance (HPLC) ............................. 75
5.7.7 Cromatografia líquida de camada fina (TLC) ....................................... 77
5.7.8 Cromatografia gasosa (GC)................................................................. 77
5.7.9 Ressonância magnética nuclear (RMN)............................................... 77
5.8 Oxidação de Superfície............................................................................. 77
5.9 Purificação da Sílica Gel ........................................................................... 78
5.10 Índice de Peróxido (IP) – AOCS Cd 8-53 .................................................. 78
5.11 Índice de Estabilidade Oxidativa (OSI) – AOCS Cd 12b-92..................... 79
5.12 Estabilidade Térmica................................................................................. 79
5.13 Análise de Tocoferol ................................................................................. 80
5.14 Metodologia de Análise de Dados............................................................ 80
6. RESULTADOS e DISCUSSÃO....................................................................... 89
6.1 Seleção da Enzima .................................................................................... 89
6.2 Reações Preliminares ............................................................................... 89
6.3 Planejamento Experimental.................................................................... 109
6.4 Síntese e Caracterização das Estabilidades Oxidativa e Térmica do
Biolubrificante...................................................................................................... 118
6.4.1 Síntese e purificação do ricinoleato de metila (matéria-prima para
síntese do biolubrificante) ...................................................................................... 119
6.4.2 Síntese e purificação do 12-acetilricinoleato de metila (12Ac) ........... 121
ix
6.4.3 Oxidação de superfície ...................................................................... 124
6.4.4 Índice de estabilidade oxidativa - OSI ................................................ 140
6.4.5 Estudos de estabilidade térmica e sua relação com o hidrogênio β ... 141
7. CONCLUSÕES............................................................................................. 151
8. TRABALHOS PUBLICADOS E PATENTES GERADAS.............................. 153
9. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS ................................ 154
10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................. 155
11. ANEXO 1 ...................................................................................................... 167
x
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1: Estrutura da composição dos óleos minerais. ......................................... 6
Figura 2: Moléculas dos ácidos oléico e linolênico. .............................................. 11
Figura 3: Molécula genérica de um “estolide”........................................................ 12
Figura 4: Esquema da reação de esterificação de um ácido carboxílico e um
álcool. ................................................................................................................ 17
Figura 5: Mecanismo de uma reação de esterificação. .......................................... 18
Figura 6: Reação de transesterificação de um éster com um álcool. ................... 19
Figura 7: Estruturas Moleculares de Ésteres de Poliol derivados do Ácido
Ricinoléico......................................................................................................... 20
Figura 8: a) Decomposição térmica de ésteres com um átomo de hidrogênio no
carbono beta da parte alcoólica; b) Decomposição via radicais livres de
ésteres sem hidrogênio beta............................................................................ 35
Figura 9: Moléculas dos compostos Triacetina e Acetil-TMP................................ 36
Figura 10: Mecanismo geral esquemático de reações catalisadas por lipases,
considerando uma reação de transesterificação (tríade catalítica numerada
como CaL-B, ou seja, Ser105-His224-Asp187; primeiro substrato = EtOAc,
segundo substrato = ROH) (adaptado de SIMAS et al, 2011)......................... 44
Figura 11: Esquema das conformações fechada – E (A) e aberta – E*S (B), com a
indicação da estrutura secundária, da lipase de Rhizomucor miehei
(adaptado de JÄÄSKELÄINEN et al, 1998). ..................................................... 46
Figura 12: Representação esquemática das reações catalisadas pelas lipases.. 48
Figura 13: Hidrólise sequencial dos grupos acila no glicerídeo, catalisada por
lípases................................................................................................................ 51
Figura 14: Estrutura molecular do Óleo de Mamona (Ricinus communis). .......... 60
Figura 15: Aparato utilizado nas reações de transesterificação. .......................... 67
Figura 16: Reação de transesterificação do ricinoleato de metila com TMP em
presença de catalisador enzimático. ............................................................... 68
Figura 17: Reação de transesterificação do óleo de mamona com metanol........ 70
Figura 18: Reação de acetilação do ricinoleato de metila com acetato de metila.
............................................................................................................................ 71
Figura 19: Reação de síntese do acetil-TMP........................................................... 72
Figura 20: Equipamentos para medição da viscosidade cinemática. ................... 72
Figura 21: Equipamento para medição do ponto de fluidez. ................................. 74
Figura 22: Esquema do Equipamento Bomba Rotatória........................................ 75
Figura 23: Equipamento para determinação do OSI. ............................................. 79
Figura 24: Aparato para decomposição térmica por refluxo. ................................ 80
xi
Figura 25: Placa de TLC mostrando os produtos das reações de
transesterificação com TMP............................................................................. 90
Figura 26: Reação de transesterificação entre biodiesel metílico de mamona e
TMP com enzima Lipomod 34P (Biod/TMP=4,5:1, T=42°C, Cágua=12%,
Cenzima=0,8%, Pressão reduzida=0,01bar)......................................................... 91
Figura 27: Placa de TLC mostrando a reação de transesterificação entre
biodiesel metílico de mamona e TMP com enzima Lipomod 34P
(Biod/TMP=4,5:1, T=42°C, C água=12%, Cenzima=0,8%, Pressão
reduzida=0,01bar). ............................................................................................ 92
Figura 28: Reação de transesterificação entre biodiesel metílico de soja e TMP
com enzima Lipomod 34P (Biod/TMP=4,5:1, T=42°C, C água=12%, Cenzima=0,8%,
Pressão reduzida=0,01bar)............................................................................... 92
Figura 29: Placa de TLC mostrando a reação de transesterificação entre
biodiesel metílico de soja e TMP com enzima Lipomod 34P (Biod/TMP=4,5:1,
T=42°C, C água=12%, Cenzima=0,8%, Pressão reduzida=0,01bar)........................ 93
Figura 30: Reação de transesterificação entre biodiesel metílico de pinhão
manso e TMP com enzima Lipomod 34P (Biod/TMP=4,5:1, T=42°C,
Cágua=12%, Cenzima=0,8%, Pressão reduzida=0,01bar)...................................... 93
Figura 31: Placa de TLC mostrando a reação de transesterificação entre
biodiesel metílico de pinhão manso e TMP com enzima Lipomod 34P
(Biod/TMP=4,5:1, T=42°C, C água=12%, Cenzima=0,8%, Pressão
reduzida=0,01bar). ............................................................................................ 94
Figura 32: Cromatogramas das reações de transesterificação com enzima
Lipomod 34P: Pinhão manso 96h 1500ppm (vermelho), Mamona 120h
1430ppm (verde) e Soja 96h 1488ppm (azul) (Biod/TMP=4,5:1, T=42°C,
Cágua=12%, Cenzima=0,8%, Pressão reduzida=0,01bar)...................................... 95
Figura 33: Placa de TLC mostrando produtos formados pela reação do biodiesel
metílico de soja com TMP utilizando a enzima Lipomod 34P, sem o uso de
vácuo (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%)........................ 97
Figura 34: Cromatograma da reação do biodiesel de pinhão manso com TMP,
empregando a lipase Lipomod 34P. 48h (preto) e 72h (azul) (Biod/TMP=4,5:1,
T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%). ............................................................... 99
Figura 35: Cromatograma da reação do biodiesel de pinhão manso com TMP,
empregando a lipase Lipozyme RM IM. 48h (preto) e 72h (azul)
(Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%)................................... 99
xii
Figura 36: Cromatograma da reação do biodiesel de pinhão manso com TMP,
empregando a lipase Novozym 435. 48h (preto) e 72h (azul) (Biod/TMP=4,5:1,
T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%). ............................................................. 100
Figura 37: Curva de conversão x tempo para a reação de transesterificação do
biodiesel de mamona e TMP (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, Cágua=14,85%,
Cenzima=4,0%), empregando a enzima Lipomod 34P. ..................................... 101
Figura 38: Cromatogramas da reação de transesterificação do biodiesel de
mamona e TMP (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%),
empregando a enzima Lipomod 34P. ............................................................ 102
Figura 39: Curva de conversão x tempo para a reação de transesterificação do
biodiesel de pinhão manso e TMP (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%,
Cenzima=4,0%), empregando a enzima Novozym 435...................................... 103
Figura 40: Cromatogramas da reação de transesterificação do biodiesel de
pinhão manso e TMP (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%),
empregando a enzima Novozym 435. ............................................................ 104
Figura 41: Curva de conversão x tempo para a reação de transesterificação do
biodiesel de mamona e TMP (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, Cágua=14,85%,
Cenzima=4,0%), empregando a enzima Lipomod 34P, sob vácuo................... 105
Figura 42: Cromatogramas da reação de transesterificação do biodiesel de
mamona e TMP (Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%),
empregando a enzima Lipomod 34P, sob vácuo. ......................................... 106
Figura 43: Gráfico de Pareto para os experimentos com 72 horas. .................... 112
Figura 44: Gráfico de Pareto para os experimentos com 100 horas. .................. 116
Figura 45: Evolução da conversão da reação 19 (Biod/TMP=3,915:1, T=40°C,
Cágua=1,0%, Cenzima=4,0%) ao longo do tempo................................................ 117
Figura 46: Determinação da taxa de conversão da reação 19 (Biod/TMP=3,915:1,
T=40°C, C água=1,0%, Cenzima=4,0%) ao longo do tempo.................................. 118
Figura 47: Distribuição de massa média do ricinoleato de metila nas 12 frações.
.......................................................................................................................... 120
Figura 48: Diagrama do método de extração contracorrente com as fases
hexano. ............................................................................................................ 123
Figura 49: Diagrama do método de extração contracorrente com as fases
metanol. ........................................................................................................... 123
Figura 50: Cromatograma do produto referente ao primeiro dia da oxidação do
MeLi através de oxidação de superfície. ....................................................... 126
Figura 51: Valores de IP da amostra contendo MeR + MeLi (1:1) ao longo do
tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC..................................... 127
xiii
Figura 52: Valores de IP da amostra contendo 12Ac + MeLi (1:1) ao longo do
tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC..................................... 127
Figura 53: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
MeR + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC.................................................................................................................. 128
Figura 54: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
12Ac + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC.................................................................................................................. 128
Figura 55: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo MeR + MeLi (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC... 130
Figura 56: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo 12Ac + MeLi (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC.. 131
Figura 57: Valores de IP da amostra contendo MeR + MeLi (1:1) ao longo do
tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por 56 horas............... 132
Figura 58: Valores de IP da amostra contendo 12Ac + MeLi (1:1) ao longo do
tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por 72 horas............... 133
Figura 59: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
MeR + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC por 56 horas............................................................................................ 133
Figura 60: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
12Ac + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC por 72 horas............................................................................................ 134
Figura 61: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo MeR + MeLi (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por
56 horas. .......................................................................................................... 135
Figura 62: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo 12Ac + MeLi (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por
72 horas. .......................................................................................................... 135
Figura 63: Valores de IP da amostra contendo MeR + MeO (1:1) ao longo do
tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por 44 dias. ................ 137
Figura 64: Valores de IP da amostra contendo 12Ac + MeO (1:1) ao longo do
tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por 44 dias. ................ 137
Figura 65: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
MeR + MeO (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC por 44 dias. ............................................................................................. 138
xiv
Figura 66: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
12Ac + MeO (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC por 44 dias. ............................................................................................. 138
Figura 67: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo MeR + MeO (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por
44 dias.............................................................................................................. 139
Figura 68: Moléculas dos compostos Triacetina e Acetil-TMP............................ 141
Figura 69: Espectro de RMN do Acetil-TMP (Anidrido Acético/TMP=6,125:1,
T=140°C, 2 horas) em CDCl 3 ........................................................................... 142
Figura 70: Curva TGA – Massa x Tempo para o composto Triacetina................ 143
Figura 71: Curva TGA – Massa x Temperatura para o composto Triacetina. ..... 143
Figura 72: Curva TGA – Derivada Massa x Temperatura para o composto
Triacetina. ........................................................................................................ 144
Figura 73: Curva TGA – Massa x Tempo para o composto Acetil-TMP. ............. 144
Figura 74: Curva TGA – Massa x Temperatura para o composto Acetil-TMP. ... 145
Figura 75: Curva TGA – Massa x Temperatura para os compostos
Triacetina/Acetil-TMP...................................................................................... 145
Figura 76: Curva TGA – Massa x Tempo para o composto Triacetina a 160oC. . 146
Figura 77: Curva TGA – Massa x Temperatura para o composto Triacetina a
160oC................................................................................................................ 147
Figura 78: Curva TGA – Derivada Massa x Temperatura para o composto
Triacetina a 160oC. .......................................................................................... 147
Figura 79: Curva de decomposição térmica da Triacetina a 170°C..................... 149
Figura 80: Curva de decomposição térmica do Acetil-TMP a 170°C. .................. 149
xv
ÍNDICE DE TABELAS
xvi
Tabela 27: Coeficientes de regressão para os experimentos com 100 horas. ... 116
Tabela 28: Rendimentos e grau de pureza das cinco bateladas de ricinoleato de
metila. .............................................................................................................. 119
Tabela 29: Composição das fases para cada etapa da extração (a fase hexano da
primeira separação foi conduzida para os funis de separação
subseqüentes)................................................................................................. 121
Tabela 30: Composição das fases para cada etapa da extração (a fase metanol
da primeira separação foi conduzida para os funis de separação
subseqüentes)................................................................................................. 122
Tabela 31: Valores de IP das amostras oxidadas ao longo do tempo. ............... 124
Tabela 32: IP e teor de linoleato de metila não oxidado das amostras oxidadas ao
longo do tempo. .............................................................................................. 125
Tabela 33: IP e teor de linoleato de metila não oxidado das amostras oxidadas ao
longo do tempo, empregando-se sílica gel purificada. ................................ 125
Tabela 34: Estabilidade oxidativa relativa dos compostos MeLi e 12Ac. ........... 131
Tabela 35: Estabilidade oxidativa relativa dos compostos MeLi e 12Ac. ........... 136
Tabela 36: Horas OSI a 110°C para amostras replicad as de ésteres metílicos
puros e em combinações. .............................................................................. 140
xvii
ÍNDICE DE ABREVIATURAS
12Ac: 12-Acetilricinoleato de metila
AGRICE: Agriculture pour la Chimie et L’Energie
ANOVA: Análise de variância
AOCS: American Oil Chemists’ Society
API: American Petroleum Institute
Asp: Ácido aspártico
ASTM: American Society for Testing and Materials
BHT: 2,6-di-tert-butil-1-4-metilfenol
Cágua: Concentração de água
CaL-B: Lipase B de Candida antarctica
CEC: Co-Ordinating European Council
CENPES: Centro de Pesquisas
Cenzima: Concentração de enzima
CMMO : Chemically Modified Mineral Oil
CMVO: Chemically Modified Vegetable Oil
DNA: Ácido desoxirribonucléico
DSC: Differential Scanning Calorimetry
DTA: Análise térmica diferencial
DTG: Termogravimetria derivada
E.C.: Enzyme Commission
EP: Extrema Pressão
EUA: Estados Unidos da América
FAME: Fatty Acid Methyl Ester
FDA: Foods and Drugs Administration
FZG: Forschungsstelle für Zahnräder und Getriebebau
GC: Cromatografia gasosa
GC-MS: Cromatografia gasosa acoplada a um detector de massa
His: Histidina
HOSO: High Oleic Soybean Oil
HPE: Hidrorefino e Processos Especiais
HPLC: High Performance Liquid Chromatography
IAT : Índice de acidez total
IENICA: Interactive European Network for Industrial Crops and their Applications
IP: Índice de Peróxido
IQ: Instituto de Química
ISO: International Organization for Standardization
xviii
IT: Intermediário tetraédrico
IV: Índice de Viscosidade
LabIM: Laboratório de Biotecnologia Microbiana
LPE: Lubrificantes e Produtos Especiais
MeLi: Linoleato de metila
MeO: Oleato de metila
MeR: Ricinoleato de metila
NABL: National Agriculture Based Lubricants Center
Nox: Material não oxidado
NPG: Neopentilglicol
OECD: Organization for Economic Cooperation and Development
OSI: Oxidation stability index
OT: Oxidation time
PAO: Polialfaolefina
PDSC: Pressurized Differential Scanning Calorimetry
PE: Pentaeritritol
PEG: Polietilenoglicol
PIO : Poly Internal olefin
PPD: Pour point depressant
PVC: Pressure-viscosity coefficient
RMe: Biodiesel metílico
RmL: Lipase de Rhizomucor miehei
RMN: Ressonância magnética nuclear
RPVOT: Rotary Pressure Vessel Oxidation Test
Ser: Serina
SNCF : Societé Nationale des Chemins de Fer
TFOUT: Thin Film Oxygen Uptake
TG: Termogravimetria
TGA: Análise termogravimétrica
TLC: Thin layer chromatography
TMP: Trimetilolpropano
UFRJ: Universidade Federal do Rio de Janeiro
USDA: United States Department of Agriculture
UTTO: Universal Tractor Transmission Oil
UV: Ultravioleta
xix
INTRODUÇÃO
1
também será dificultada. Assim, o grande desafio reside no fato de se tentar encontrar
um equilíbrio, ou seja, uma molécula que tenha alta resistência à oxidação e seja
biodegradável (KOLWZAN e GRYGLEWICZ, 2003).
O desenvolvimento desta tese de doutorado tem como grande motivação a
crescente valorização da biomassa como matéria-prima no Brasil e os bons resultados
obtidos em reações idênticas de transesterificação de biodiesel para a síntese de
biolubrificantes, empregando-se catálise química (SILVA, 2006). A escolha do
ricinoleato de metila (biodiesel do óleo de mamona) como reagente de partida se fez
em função de que, na época do inicio desta tese (2007), já existia um programa de
produção de biodiesel a partir do óleo de mamona, além do fato deste composto ser
mais facilmente transesterificado quando comparado ao óleo de mamona e ter
apresentado resultados mais promissores do que os biodieseis de soja e de pinhão
manso. A oferta deste produto e a sua valorização justificaram o seu uso como
matéria-prima.
A partir dos resultados promissores da dissertação desenvolvida pelo autor em
seu mestrado, tornou-se evidente que novas alternativas e oportunidades se
delinearam para a produção de um biolubrificante.
Os ésteres do ácido ricinoléico têm sido sugeridos como potenciais
biolubrificantes (AZEVEDO e LIMA, 2001; RUDNICK, 2006; BIROVÁ et al, 2002),
porém a sua estabilidade oxidativa tem sido questionada, e os mesmos podem ser
significativamente menos estáveis do que o oleato de metila (KNOTHE, 2008).
Trabalhos preliminares confirmaram que o ricinoleato de metila é significativamente
menos estável do que ésteres monoinsaturados, porém, se o grupo OH do carbono 12
do mesmo for esterificado, este éster pode ser consideravelmente mais estável à
oxidação (YAO et al, 2010).
Os conhecimentos científico-tecnológicos sobre a produção e a utilização de
lipases, acumulado nos laboratórios de biotecnologia microbiana (LabIM) do IQ/UFRJ,
e sobre lubrificantes, da Gerência de Lubrificantes e Produtos Especiais (LPE) do
CENPES/Petrobras, complementaram-se e forneceram ao autor referências seguras
para a realização da sua tese.
2
A metodologia utilizada para a realização das reações de síntese de
biolubrificantes e caracterização físico-química dos mesmos;
Os resultados obtidos;
As conclusões;
Os trabalhos publicados e as patentes geradas;
As recomendações para trabalhos futuros.
3
1. OBJETIVOS
4
2. LUBRIFICANTES E BIOLUBRIFICANTES
2.1 Lubrificantes
5
Tipo de Óleo Tipo de cadeias de carbono
Parafínicos
Naftênicos
Aromáticos
6
de hidrocraqueamento, onde as moléculas são craqueadas, saturadas e isomerizadas,
obtendo-se produtos de elevada estabilidade e índice de viscosidade (DO BRASIL et
al, 2011).
Por outro lado, os óleos básicos sintéticos são produzidos por meio de reações
químicas, onde se busca obter produtos com propriedades adequadas às funções
lubrificantes. Cerca de 80% do mercado mundial de lubrificantes sintéticos é composto
por: polialfaolefinas (45%), ésteres orgânicos (25%) e poliglicóis (10%) (MURPHY et
al, 2002). Dentre os básicos sintéticos empregados, o de maior uso é a polialfaolefina,
e, em geral, os básicos sintéticos têm como vantagens sobre os básicos minerais, as
maiores estabilidades térmica e oxidativa, melhores propriedades a baixas
temperaturas e menor volatilidade. Em contrapartida, os básicos minerais apresentam
menor custo comparativamente aos sintéticos.
Nas aplicações em que se necessita que o produto apresente um elevado nível
de biodegradabilidade, este requisito só pode ser atingido através do uso de bases
sintéticas de origem vegetal.
Com relação aos óleos automotivos, o American Petroleum Institute, API,
classifica os óleos básicos em cinco categorias, conforme ilustrado na Tabela 1.
7
aumento de viscosidade, consumo elevado, aprisionamento de peças, corrosão e
desgaste (ARAÚJO, 2003).
A formação de depósitos ocorre quando o poder detergente/dispersante do
óleo lubrificante não é suficiente para manter os contaminantes em suspensão. Já o
espessamento do óleo é, em geral, resultante da oxidação do lubrificante e do
acúmulo dos materiais insolúveis. A viscosidade aumenta devido à polimerização de
compostos oxigenados e à manutenção em suspensão de produtos insolúveis,
derivados da queima não completa de combustíveis. O teor de enxofre presente no
óleo diesel pode causar corrosão e desgaste corrosivo de cilindros e anéis, em função
do ataque de ácidos do enxofre ou de ácidos orgânicos às superfícies ferrosas. Este
tipo de desgaste é controlado pela utilização de lubrificantes com uma boa reserva
alcalina (quantidade de aditivos de caráter básico necessários para neutralização de
compostos ácidos que estejam presentes no lubrificante) (LASTRES, 2003).
Para minimizar tais inconvenientes, os óleos lubrificantes são obtidos através
da mistura de óleos básicos e aditivos com funções antioxidante, antidesgaste,
detergente/dispersante, dentre outras. Deste modo, projetar um lubrificante para
executar estas funções é uma tarefa complexa, envolvendo uma avaliação cuidadosa
das propriedades do óleo básico e dos aditivos que serão empregados.
2.2 Biolubrificantes
8
primeiro óleo de motor sintético contendo ésteres foi lançado em 1977, sendo
constituído principalmente por polialfaolefinas. O primeiro óleo de motor náutico 2
tempos baseado em ésteres sintéticos foi lançado em 1982 na Suíça e no sul da
Alemanha. O fluido base principal era neopentil-poliolésteres de ácidos graxos
ramificados (LÄMSA, 1995).
Um biolubrificante significa um lubrificante que é biodegradável. Por sua vez,
uma substância ser biodegradável significa que a mesma tem a capacidade
comprovada de ser decomposta, em um intervalo de até 1 ano, por meio de processos
biológicos naturais em terra carbonácea, água ou dióxido de carbono (WHITBY, 2005).
Em termos gerais, biodegradabilidade significa a tendência de um lubrificante
ser metabolizado por microrganismos em até 1 ano. Quando ela é completa, significa
que o lubrificante retornou essencialmente à natureza, e quando é dita parcial, indica
que um ou mais componentes do lubrificante não são degradáveis.
As normas e padrões de biodegradabilidade e toxicidade são diferentes nos
países. Por exemplo, na Alemanha as especificações para lubrificantes
biodegradáveis são bem mais rigorosas do que na Suíça. A biodegradabilidade resulta
em auto-decomposição por meio de micro-organismos em produtos não tóxicos (CO2 e
água). A forma pela qual os micro-organismos executam isto depende largamente das
suas estruturas. A maior parte dos fluidos hidráulicos com base vegetal é prontamente
biodegradável. A biodegradabilidade relativa de lubrificantes é medida pelo método
CEC-L-33-A-94. Os óleos vegetais são tipicamente 99% biodegradáveis, caindo,
usualmente, para 90-98% após a mistura com aditivos. Por outro lado, a
biodegradabilidade dos óleos minerais é de apenas 20% (MAKKONEN, 1994).
As primeiras leis sobre lubrificantes biodegradáveis foram publicadas em
Portugal em 1991 pelo Ministério de Meio Ambiente. Elas obrigavam o uso destes
lubrificantes em óleos de motores náuticos 2 tempos, cuja biodegradabilidade deveria
ser de no mínimo 66%, de acordo com o teste CEC-L-33-T-82. Este teste foi o primeiro
desenvolvido para biodegradação de lubrificantes. Testes OECD também têm sido
utilizados desde o início dos anos 90 (LÄMSA, 1995).
A etapa seguinte, a partir dos óleos para motor 2 tempos, foi o
desenvolvimento de óleos biodegradáveis para motosserras. Estes foram lançados em
meados da década de 80. Os primeiros produtos eram baseados em ésteres naturais,
triglicerídeos de óleo de canola. A partir desta década, surgiram outras aplicações
para estes produtos, sendo as principais: fluidos hidráulicos, fluidos de corte, óleos
para rolamentos, óleos de turbina, óleos para engrenagens industriais e óleos para
compressores. Outras áreas de aplicação são indústrias de cosméticos, têxteis e
fibras, líquidos de troca térmica e indústrias de plásticos. Os ácidos graxos para os
9
ésteres sintéticos eram oriundos de óleos vegetais ou de gordura animal. Ácidos
graxos puros ou purificados eram obtidos a partir de fracionamento, destilação,
craqueamento, desparafinação, etc. Já os alcoóis podem variar de alcanóis de cadeia
curta até polióis. Em 1989, foi inventado o primeiro óleo de turbina baseado em
trimetilolpropano e monoeritrol (LÄMSA, 1995).
Nos anos 90, várias companhias americanas seguiram uma tendência já
existente na Europa de estarem em acordo com as regulações ambientais (HONARY,
2009). Entre elas se destaca a Lubrizol Co, de Ohio, a qual investiu quantidades
significativas de pesquisa e desenvolvimento para criar uma série de aditivos
altamente efetivos, obtidos a partir de óleo de girassol com alto teor de ácido oléico.
Nesta mesma época, foi criado o centro de pesquisas especializado em
biolubrificantes da University of Northern Iowa, o NABL (National Ag-Based Lubricants
Center), resultando no desenvolvimento e patente do primeiro fluido hidráulico de
trator com base em óleo de soja.
Durante vários anos, a ASTM (American Society for Testing and Materials)
esteve envolvida em tentativas de definir o termo biodegradabilidade, uma vez que
este era o foco principal destes produtos. Isto resultou em um atraso no
desenvolvimento de padrões. Além disso, a ênfase em compatibilidade ambiental
significava menos ênfase nos aspectos econômicos destes produtos, e, em alguns
casos, no seu desempenho. Como resultado, os primeiros produtos apresentaram
custo elevado e/ou baixo desempenho. Mesmo assim, os mesmos encontravam um
nicho de mercado. No final dos anos 90, entretanto, muitas companhias americanas
reduziram ou eliminaram os seus projetos “verdes” e as pesquisas continuaram
apenas em laboratórios acadêmicos e governamentais.
A tecnologia inicial para biolubrificantes foi baseada em óleos vegetais, os
quais foram submetidos a mínimos tratamentos químicos e aos quais foram
adicionados aditivos para aumento de desempenho. Talvez o mais importante
desenvolvimento para os biolubrificantes norte-americanos foi a introdução da soja
com alto teor de ácido oléico pela Dupont Co., no início dos anos 90. O óleo desta soja
geneticamente modificada tinha um perfil de ácidos graxos consideravelmente superior
ao dos óleos de soja convencionais (mais rico em ácido oléico). O óleo de soja com
alto teor de ácido oléico, por exemplo, tinha teores de ácido oléico, em massa,
superiores a 80% e de linolênico menores que 3%, quando comparado com 20% de
ácido oléico e 8% de linolênico, respectivamente, de óleos de soja típicos (HONARY,
2009). As estruturas destes ácidos graxos podem ser vistas na Figura 2.
10
Figura 2: Moléculas dos ácidos oléico e linolênico.
11
Figura 3: Molécula genérica de um “estolide”.
12
A demanda por lubrificantes biodegradáveis é devida a uma conscientização
crescente do impacto das tecnologias sobre o meio ambiente. Esta conscientização
está ocorrendo tanto como um resultado de uma combinação de regulações locais e
nacionais, quanto como um resultado da influência dos consumidores. Países
europeus, especificamente Alemanha, Áustria e os países da Escandinávia, têm
conduzido grandes esforços nesta área.
Há um grande esforço na Europa no sentido de se explorar materiais de origem
agrícola. A IENICA (Rede Interativa para Culturas Agrícolas e Aplicações) é composta
por 14 países com o objetivo de criar uma sinergia com a indústria de culturas
agrícolas industriais da União Européia, desenvolvendo oportunidades científicas,
industriais e de mercado para aplicações destas culturas (HONARY, 2009). Uma das
principais áreas de aplicação atendidas por estes esforços é a de lubrificantes. A
natureza ambientalmente compatível dos lubrificantes com base em óleos vegetais e
os seus benefícios de marketing têm provocado o envolvimento de várias companhias.
Por exemplo, a Mobil Chemical implementou uma linha limpa de produção de
lubrificantes como parte do programa AGRICE (Agricultura para Química e Energia). A
Shell e a British Petroleum firmaram um acordo com a SNCF (Companhia de Trens da
França) para o desenvolvimento de lubrificantes biodegradáveis. Esforços adicionais
foram feitos no desenvolvimento de aplicações de óleos vegetais na desmoldagem de
concreto. Em 2002, o mercado total de lubrificantes da Europa Ocidental era de
5.020.000 t/ano, das quais 50.000 t/ano eram baseados em óleos vegetais. Por outro
lado, o mercado norte americano de lubrificantes é de 8.250.000 t/ano e apenas
25.000 t/ano são baseados em óleos vegetais (HONARY, 2009).
A diminuição nas reservas mundiais de petróleo, bem como as incertezas no
tocante ao seu suprimento devido a razões políticas e econômicas, estimularam a
busca por fontes de energia alternativas. Recentemente, a conscientização com o
meio ambiente e a poluição tem se tornado um tópico de grande importância devido a
perdas acidentais ou deliberadas de lubrificante para o meio ambiente, incluindo
evaporação, vazamentos e derramamentos. Desta forma, especificações mais rígidas
em vários assuntos ambientais, tais como biodegradabilidade, toxicidade, saúde
ocupacional e segurança e emissões, têm se tornado mandatórias em certas áreas de
aplicação (RUDNICK, 2006).
Os óleos vegetais já são utilizados como lubrificantes, devido a sua lubricidade
superior, boas propriedades anticorrosivas, melhores características viscosidade-
temperatura e baixa evaporação, em aplicações industriais como enrolamentos,
cortes, desenhos e operações de “quenching”, tanto puros como em mistura com
óleos minerais. Além disso, estes óleos são prontamente biodegradáveis e
13
ambientalmente seguros, quando comparados aos óleos minerais, devido aos ácidos
graxos em sua composição. Algumas outras vantagens dos óleos vegetais incluem o
fato de serem obtidos de fontes renováveis e de não apresentar dependência de óleos
estrangeiros. Do ponto de vista ambiental, a importância deles é evidente, sobretudo
em áreas de lubrificação com perda total, aplicações militares, e em atividades ao ar
livre, como áreas florestais, mineração, estradas de ferro, pesca, escavações e
sistemas hidráulicos agrícolas. Entretanto, o uso extensivo de óleos vegetais é restrito
devido ao seu desempenho ineficiente em baixas temperaturas e baixas estabilidades
hidrolítica e termo-oxidativa, as quais podem ser mitigadas por meio de modificações
na estrutura do óleo (GOYAN et al, 1998).
Óleos básicos sintéticos oferecem melhores características de estabilidade e
desempenho do que óleos minerais. A maioria dos óleos sintéticos biodegradáveis são
ésteres químicos que oferecem estabilidades térmica e oxidativa superiores. Os
preços para este nicho de produtos são maiores do que o dos óleos vegetais e
significativamente maiores do que os dos lubrificantes de base mineral. Apesar do
custo dos lubrificantes com base em óleos vegetais ser maior do que o dos de base
mineral, vantagens ambientais em curto, médio e longo prazo podem balancear esta
diferença de custo. Além disso, a escolha de biolubrificantes contribui para a imagem
pública da companhia (ISO 14000) e com isto abre a possibilidade da conquista de
novos mercados (GUNDERSON e HART, 1962; RUDNICK e SHUBKIN, 1999).
14
exemplo, os ácidos azelaico, sebácico e málico são bastante utilizados como diácidos.
Já os alcoóis mais utilizados são 2-etilhexanol, álcool iso-tridecílico e uma mistura de
alcoóis de C8 a C10. Os diésteres são utilizados em turbinas a gás, compressores,
fluidos hidráulicos e óleos de motor 2 tempos. Os primeiros lubrificantes utilizados em
turbinas a gás foram os dioctilsebacatos. Em seguida, estes foram substituídos por
azelatos e adipatos, e mais recentemente, por poliolésteres. Os diésteres apresentam
excelentes propriedades a baixas temperaturas e alto índice de viscosidade (LÄMSA,
1995).
Os poliolésteres são produzidos na reação entre alcoóis polihídricos e ácidos
mono ou dicarboxílicos. Eles também são denominados ésteres impedidos. Esta
classe de produtos oferece extraordinária estabilidade devido à ausência de um
hidrogênio secundário na posição β e à presença de um átomo central de carbono
quaternário (WAGNER et al, 2001). Os polialcoóis mais utilizados são trimetilolpropano
(TMP), neopentilglicol e pentaeritritol. Os ácidos utilizados na síntese de poliolésteres
podem ser de cadeia longa ou curta, saturada ou insaturada e linear ou ramificada. As
seguintes características dos reagentes de partida afetam as propriedades do éster
resultante: massa molar, o tamanho dos grupos acila, a funcionalidade dos polióis e o
método de preparação do éster ou da mistura de ésteres. Os poliolésteres são
utilizados em turbinas de aviões e na formulação de óleos para motores automotivos.
Segundo RUDNICK, 2006, os ácidos graxos são essencialmente ácidos
alifáticos de cadeia longa, não ramificada, com os átomos de carbono ligados a
hidrogênio e outros grupos, e com a cadeia terminando com um ácido carboxílico. Os
ácidos graxos mais comuns na natureza têm um número par de átomos de carbono
em sua cadeia linear, variando de 14 a 22, sendo os com 16 ou 18 os mais
abundantes. O grupo polar COOH é suficiente para fazer com que os ácidos graxos de
cadeia curta sejam miscíveis em água. À medida que a cadeia aumenta, o ácido graxo
se torna progressivamente menos miscível em água, assumindo características mais
anfifílicas. Em pontos onde átomos de carbono adjacentes perdem átomos de
hidrogênio, estes apresentam uma dupla ligação ao invés de uma ligação simples. Se
estas ligações duplas ocorrem em múltiplos carbonos (até um máximo de 6) o ácido
graxo é poliinsaturado. Ácidos graxos insaturados têm menores pontos de fusão do
que saturados, e são mais abundantes nos organismos vivos.
Se três ácidos graxos se ligam a três grupos OH de um álcool (como da
glicerina), o composto resultante é conhecido como triacilglicerol. Similarmente,
quando um ou dois grupos de OH são esterificados com álcool, monoacilgliceróis e
diacilgliceróis são formados, respectivamente. Óleos vegetais são constituídos por
15
triacilgliceróis (98%), com pequenas quantidades de diacilgliceróis (0,5%), ácidos
graxos livres (0,1%), esteróis (0,3%) e tocoferóis (0,1%) (LAVATE et al, 1997).
Há uma relação entre o grau de linearidade da estrutura do ácido graxo e as
propriedades e desempenho desta estrutura. É uma consequência direta da estrutura
curva exibida por um ácido graxo que contém insaturação cis (como no caso dos óleos
vegetais), o que contribui para a natureza líquida do óleo. Um óleo vegetal que contém
apenas ácidos graxos saturados lineares ou uma alta porcentagem dos mesmos é, em
geral, sólido à temperatura ambiente. Uma consequência disto é que estes materiais
não apresentam benefícios como lubrificantes que necessitem ser utilizados em
aplicações que apresentem uma ampla variação de temperatura.
Isto não ocorre apenas com óleos vegetais e ácidos graxos. Outros
lubrificantes, como polialfaolefinas, têm suas propriedades a baixas temperaturas
derivadas do fato de que estes fluidos são misturas de várias isoparafinas. Uma
mistura similar de parafinas não ramificadas (lineares) não apresentaria boas
propriedades a baixas temperaturas, pois as mesmas solidificam ou gelificam em
baixas temperaturas (RUDNICK e SHUBKIN, 1999).
Por exemplo, se os ácidos graxos predominantes em um óleo vegetal particular
são saturados, o desempenho em baixas temperaturas será pior em relação a óleos
vegetais que contenham predominantemente ácidos graxos mono ou poliinsaturados.
O óleo de soja ocupa a primeira colocação na produção mundial de óleos
vegetais (29%) e representa uma importante fonte renovável. Nos EUA, a sua
produção é de 2,5 bilhões de galões por ano, enquanto que a produção mundial é de
cerca de 6 bilhões de galões por ano. O óleo de soja cru tem uma viscosidade próxima
a de um óleo mineral (29 cSt a 40°C), um alto ponto de fulgor (325°C) e um alto IV
(246). Todos os óleos vegetais crus contêm alguns elementos naturais, tais como
matéria não saponificada, goma e matéria graxa, os quais podem interferir na
estabilidade, na solubilidade em hidrocarbonetos, nas reações químicas e no ponto de
fluidez. Desta forma, é necessária uma etapa de purificação para a obtenção de óleos
vegetais refinados. Entretanto, para modificar a cadeia do ácido graxo do óleo vegetal,
é necessário conhecer com exatidão a composição do mesmo, além de suas
estabilidades térmica e oxidativa. A estrutura de triacilglicerol forma a espinha dorsal
da maioria dos óleos vegetais, estando as mesmas associadas com as diferentes
cadeias de ácidos graxos. A presença de insaturações na molécula de triacilglicerol
(ácido oléico, linoléico e linolênico), funciona como sítios ativos para várias reações de
oxidação. Ácidos graxos saturados têm uma estabilidade oxidativa relativamente mais
alta (RUDNICK, 2006).
16
Mais de 90% das modificações químicas ocorrem nos grupos carboxílicos dos
ácidos graxos, enquanto menos de 10% envolvem reações na cadeia do ácido graxo.
Sem sacrificar as características favoráveis de viscosidade-temperatura e de
lubricidade, óleos vegetais insaturados podem ser convertidos em produtos estáveis
termo-oxidativamente, por meio da saturação das duplas ligações carbono-carbono
utilizando reações de arilação, alquilação, ciclização, hidrogenação, epoxidação, entre
outras. Modificações químicas no grupo carboxila dos óleos vegetais incluem reações
de interesterificação, transesterificação e hidrólise (RICHTLER e KNAUT, 1984).
2.3.1.1 Transesterificação
Segundo SOLOMONS (1983), os ácidos carboxílicos reagem com os álcoois
formando ésteres, através de uma reação de condensação conhecida como
esterificação (Figura 4). Esta reação é catalisada por ácidos e o equilíbrio é alcançado
em poucas horas, quando um álcool e um ácido são aquecidos sob refluxo com uma
pequena quantidade de ácido sulfúrico concentrado ou com ácido clorídrico. Uma vez
que a constante do equilíbrio controla a quantidade do éster formado, o uso de um
excesso, seja do ácido carboxílico ou do álcool, aumenta o rendimento em éster. O
componente a ser escolhido para uso em excesso dependerá da sua disponibilidade e
do custo. O rendimento de uma reação de esterificação também pode ser aumentado
por meio da remoção de um dos produtos da mistura reacional, a água, na medida em
que ela é formada (Princípio de Le Châtelier).
O O
+
H
+ R' OH + H2O
R C OH R C OR'
17
H
H O
O O
+ R' OH
+ H+
R C R C R C OH
- H+ - R' OH
O H O H
H O R'
H
H O H
O O
+ H+ + H2 O
R C R C
- H+ - H2O R C O H
O R' O R'
O R'
18
biodiesel, devido ao seu uso como combustível diesel. Um grande número de reações
de transesterificação tem sido reportado com alcoóis como metanol, etanol e
isopropanol, para a obtenção de ésteres de usos comerciais como biodiesel,
cosméticos e lubrificantes (ANAND et al, 1998).
19
O
O
O O
O O C17H33O
O C 17 H 33 O
CH 2
OC17H33 O CH2 O C 17 H33O
O C 17H 33 O
O C 17 H 33 O O C17H33O
O O
O C17H33O
H3C CH3
O C17H33O
Através deste tipo de reação, as duplas ligações, muito reativas, podem ser
eliminadas, levando a produtos com melhores estabilidades à oxidação.
2.3.2.1 Hidrogenação
Alguns óleos vegetais como os óleos de soja, de linhaça e de canola
apresentam um alto grau de insaturação, dependendo da quantidade de derivados de
ácidos linoléico e linolênico. Como resultado, a estabilidade termo-oxidativa destes
óleos é pobre e conduz à polimerização, resultando em produtos mais viscosos e
resinosos em temperaturas elevadas. O seu uso como lubrificante, sem redução da
20
insaturação, pode causar a formação de depósitos, ação corrosiva e danos aos
equipamentos, em um intervalo de tempo bastante curto. Uma das várias formas de
reduzir a insaturação é parcialmente hidrogenar e ciclizar estes óleos vegetais para
melhorar suas vidas úteis sem afetar as suas propriedades em baixas temperaturas. A
completa hidrogenação, realizada industrialmente com catalisador de níquel, não é
desejada, pois afeta de sobremaneira as propriedades em baixas temperaturas. No
entanto, a hidrogenação parcial consiste em um problema parcialmente resolvido.
Alguns catalisadores como níquel cromo-modificado têm sido utilizados para este fim,
com resultados bastante promissores. Catalisadores homogêneos baseados em
complexos de metais preciosos poderiam oferecer uma solução para este problema,
desde que um método para recuperação e reciclagem destes catalisadores de elevado
custo pudesse ser encontrado. Algumas possibilidades têm sido investigadas, como
imobilização dos catalisadores homogêneos em um suporte ou o uso de sistemas de
catalisadores microdispersados como colóides, “clusters” e quelatos poliméricos
solúveis (BAYER et al, 1986).
2.3.2.2 Epoxidação
A epoxidação é um dos métodos mais convenientes para melhorar a pobre
estabilidade termo-oxidativa dos óleos vegetais, causadas pelas duplas ligações.
Consiste em uma reação de adição à dupla ligação presente nos ésteres lubrificantes,
produzindo em seu lugar um anel epóxido. Os reagentes mais utilizados neste
processo são os ácidos perfórmico e peracético.
Outras reações químicas com o objetivo de melhorar as propriedades dos
óleos vegetais, as quais atuam nas duplas ligações, são: cisão oxidativa, carboxilação,
ciclização, alquiarilação, acetilação, quebra catalítica, polimerização, entre outras
(RUDNICK, 2006).
21
proteção antidesgaste, capacidade de carga, prevenção à corrosão, espuma e
demulsificação são similares aos óleos minerais, podendo ser melhoradas com o uso
de aditivos. Outras características também podem ser consideradas críticas, como
detergência, compatibilidade com outros óleos básicos, homogeneidade durante longo
período de estocagem, estabilidade hidrolítica, acidez, volatilidade e compatibilidade
com elastômeros. Sabe-se que a estabilidade oxidativa dos óleos vegetais depende
dos ácidos graxos que o compõem. Quanto maior a insaturação na cadeia, menor será
a estabilidade. O comprimento da cadeia linear, a presença de ramificações na mesma
e a presença de insaturações também afetam diferentes propriedades.
Esta relação propriedade-estrutura pode ser explicada da seguinte forma. Os
óleos vegetais e os aditivos têm estruturas similares. Ambos podem ser representados
por uma estrutura química básica comum “R-P”, onde R representa um grupo orgânico
não-polar, geralmente linear, e P representa um grupo pequeno e relativamente polar.
O grupo orgânico R determina o tamanho e a forma da molécula, além de
propriedades físicas, tais como viscosidade, densidade, índice de viscosidade (IV),
volatilidade e ponto de congelamento. Este grupamento também determina a
miscibilidade da molécula em vários líquidos, particularmente naqueles com tamanho
molecular e estrutura química similares. Qualquer modificação no grupo R afetará as
propriedades acima mencionadas. O grupo P induz polarização na molécula e
determina a interação da mesma com outras moléculas, tais como superfícies
metálicas eletropositivas, e a interação entre moléculas similares adsorvidas em
partículas coloidais, ou cristais de parafina relativamente não polares. Na estrutura “R-
P”, se o grupo P é levemente polar como amina, amida, sulfonato, etc., o mesmo pode
agir como um aditivo detergente-dispersante. Se P é fortemente polar na estrutura “R-
P” e forma uma forte ligação com uma superfície metálica eletropositiva, então o
mesmo age como um típico aditivo EP (extrema pressão). Uma modificação química
no grupo P para um grupo menos polar (ex. éster de cadeia longa ou álcool
ramificado) fará com que a estrutura “R-P” funcione como um lubrificante, enquanto
que para um grupo mais polar (ex. amina, amida, sulfonato) ajudará a estrutura “R-P”
a funcionar como um aditivo (PATIL et al, 1998).
Quanto maior o grau de ramificação da molécula de um biolubrificante, melhor
a fluidez à baixa temperatura, maior a estabilidade hidrolítica e menor o IV. O oposto
se verifica em relação à linearidade. No caso de duplas ligações, quanto maior a
saturação, melhor a estabilidade oxidativa e pior a fluidez (WAGNER et al, 2001).
Básicos sintéticos obtidos a partir de álcoois superiores (trimetilolpropano, pentaeritritol
e neo-pentilglicol) com outros óleos vegetais, que não o óleo de mamona, podem ser
22
facilmente encontrados no mercado, com excelente desempenho, como, por exemplo,
o produto da empresa norte americana Hatco denominado Hatcol 2938.
2.4.1.1 Viscosidade e IV
O comportamento viscométrico dos fluidos é caracterizado por viscosidade,
índice de viscosidade (IV), fluidez em baixas temperaturas e compressibilidade. A
viscosidade dos óleos lubrificantes é a propriedade mais importante desses fluidos,
pois está relacionada diretamente à formação da película que irá proteger as
superfícies metálicas dos diversos ataques. Em essência, a viscosidade de um fluido é
a sua resistência ao escoamento, a qual é função da força necessária para haver
deslizamento entre suas camadas internas de moléculas. Para os biolubrificantes não
há um valor pré-definido, entretanto, por razões de mercado, a faixa de 8 a 15 cSt a
100°C é a que encontra um maior número de aplicaçõe s. A dependência da
viscosidade com a temperatura de CMVO’s (óleos vegetais quimicamente
modificados) é mais favorável quando o IV se aproxima de 200. CMVO’s são
superiores aos óleos minerais no tocante ao IV. Outras reações como oxidação,
polimerização ou oligomerização, favorecem a produção de lubrificantes com um
amplo limite de viscosidades (10 a 10000 cSt a 40°C ). Além da oxidação e da
oligomerização, pode ser obtido um aumento de viscosidade modificando-se o
comprimento da cadeia dos grupos acila ou através de ramificações. A viscosidade
aumenta com o aumento do comprimento da cadeia do grupo acila. Em grupos acila
isolados, ramificações resultam em uma diminuição da viscosidade. No entanto, a
viscosidade aumenta se ocorrem “cross-linking” em grupos acil ramificados. “Cross-
linking” podem ocorrer via ligações carbono, éter ou sulfeto. A viscosidade também
aumenta com o aumento da massa molar e do tamanho da cadeia do álcool. O índice
de viscosidade aumenta com o aumento do comprimento da cadeia do ácido graxo ou
do álcool utilizado na transesterificação do óleo vegetal. O mesmo diminui com a
introdução de ramificações e grupos cíclicos em CMVO’s (HWANG et al, 2003;
ERHAN et al, 2002).
O índice de viscosidade é um número adimensional arbitrário utilizado para
caracterizar a variação da viscosidade cinemática de um produto derivado do petróleo
com a temperatura. Um elevado índice de viscosidade significa uma pequena
diminuição da viscosidade de um produto com o aumento da temperatura.
Normalmente, o valor do índice de viscosidade é determinado através de cálculos
(descritos no método ASTM D2270) que levam em consideração as viscosidades do
23
produto a 40°C e a 100°C. As duplas ligações e a al ta linearidade permitem aos
triglicerídeos manter fortes interações intermoleculares com o aumento da
temperatura, quando comparados a hidrocarbonetos ou ésteres mais ramificados. Isto
confere um maior IV aos óleos vegetais do que os óleos de base mineral
(ASADAUSKAS et al, 1997)
24
2.4.2 Propriedades de desempenho
25
molibdênio, os quais têm grande efeito na redução de coeficiente de fricção, podem
ser adicionados às formulações.
26
A transesterificação melhora a estabilidade oxidativa dos óleos vegetais.
Cálculos de energia de ligação predizem que a ligação éster é termicamente mais
estável do que a ligação C-C. Uma baixa estabilidade termo-oxidativa de certos
CMVO’s é atribuída ao hidrogênio ligado ao carbono β do glicerol, a qual pode ser
melhorada pelo uso de polióis. Cadeias de ácidos graxos lineares são mais estáveis
termicamente do que cadeias ramificadas, devido às estabilidades relativas de CH3 >
CH2 > CH, onde CH3 é o mais estável. Moléculas aromáticas são mais estáveis à
degradação por oxidação (ADHVARYU et al, 2002; HONARY, 1996).
A tendência à formação de depósitos depende da estabilidade do lubrificante,
dos aditivos e da polaridade da molécula, afetando a detergência e a dispersância
(HONARY, 1996).
De acordo com HONARY e RICHTER, 2011, a estabilidade oxidativa se refere
à habilidade do óleo em manter suas propriedades, principalmente a viscosidade,
quando exposto a condições operacionais específicas. Como óleos vegetais são o
principal ingrediente da indústria alimentícia, a maior parte dos métodos de
determinação da estabilidade oxidativa foram criados por esta indústria e, por
associação, pela indústria química. Os métodos para estabilidade oxidativa utilizados
pela indústria de lubrificantes são baseados em óleos derivados do petróleo (óleos
minerais) e, em geral, não são freqüentemente adequados aos óleos vegetais.
Pesquisadores que trabalham com biolubrificantes preferem utilizar padrões criados
pela “American Oil Chemists’ Society” (AOCS), além de versões modificadas de
padrões criados pela “American Society for Testing and Materials” (ASTM). Dois
métodos da AOCS foram utilizados neste estudo (OSI e índice de peróxido), os quais
serão descritos no capítulo 5 (Metodologia).
Para lubrificantes de base vegetal, é mais apropriado o uso de testes de
estabilidade oxidativa desenvolvidos para óleos vegetais. O conceito errado (muito
comum) de que óleos vegetais devam apresentar um desempenho igual aos óleos
minerais, em testes desenvolvidos para estes últimos, pode resultar na eliminação de
alguns óleos de base vegetal de elevado desempenho. Por exemplo, o ensaio “Thin
Film Oxygen Uptake” (TFOUT) é comumente utilizado para avaliação de óleos básicos
de base mineral para formulação de lubrificantes para motores automotivos. Este
ensaio não consegue diferenciar óleos vegetais com diferentes estabilidades
oxidativas. Da mesma forma, óleos de base mineral não apresentam o mesmo
desempenho dos de base vegetal no ensaio OSI. Desta forma, o ensaio OSI não é útil
para a avaliação de lubrificantes de base mineral (HONARY e RICHTER, 2011). O
ensaio mais comumente empregado para a determinação da estabilidade oxidativa de
óleos de base mineral é a bomba rotatória (RPVOT), o qual também vem ganhando
27
popularidade na avaliação de óleos de base vegetal. No entanto, as modificações nos
lubrificantes resultantes deste método nem sempre são associadas à oxidação do
lubrificante. Algumas modificações ocorrem devido à degradação térmica ou à
hidrólise do lubrificante.
O processo de auto-oxidação envolve radicais livres. Desta forma, os estudos
realizados com o objetivo de retardar o processo de oxidação utilizam antioxidantes de
quebra de cadeia isentos de radicais livres (antioxidantes primários) e decompositores
de hidroperóxidos (antioxidantes secundários), ou ainda combinações de ambos
(RUDNICK, 2003).
Os óleos minerais sofrem oxidação quando expostos ao ar e ao calor. Como
uma regra geral, a taxa de reação com o oxigênio dobra a cada aumento de 10°C de
temperatura. A oxidação de óleos vegetais ocorre em dois estágios, primário e
secundário. O primeiro estágio envolve a formação de radicais livres de hidroperóxidos
nas porções de ácido graxo das moléculas, enquanto no segundo estágio, após
crescimento suficiente da concentração de hidroperóxido, há a decomposição para
formar alcoóis, aldeídos e cetonas, juntamente com produtos voláteis de
decomposição (FOX e STACHOWIAK, 2003).
Usando-se um esquema básico das reações de auto-oxidação, as seguintes
etapas podem ser consideradas para análise do mecanismo de oxidação:
• Sob condições de alta temperatura, formam-se radicais livres.
RH → R· (1)
R· + O2 → RO2· (2)
R· + R· → RR (4)
28
RO2· + R· → RO2R (5)
Como visto, a formação dos hidroperóxidos ocorre por meio de uma reação
autocatalítica entre oxigênio e óleos insaturados, envolvendo radicais livres. A reação
se inicia com a formação dos radicais livres (iniciação). Cada radical livre pode se
combinar com oxigênio e um grupo insaturado para produzir um hidroperóxido e outro
radical livre, iniciando uma reação em cadeia (propagação). Este processo continua
até os radicais livres serem destruídos, usualmente pela combinação para formação
de moléculas não reativas (terminação). Na prática, isto resulta em uma lenta taxa
inicial de reação durante o período denominado período de indução, seguida de uma
súbita e muito mais rápida taxa de formação de hidroperóxidos. A extensão do período
de indução é utilizada freqüentemente como uma medição da estabilidade oxidativa do
óleo (GUNSTONE e PADLEY, 1997).
O tipo do óleo, em particular o grau de insaturação, apresenta um efeito
importante no período de indução e na taxa de reação. Duplas ligações conjugadas
são particularmente susceptíveis à oxidação, e também tendem a ser formadas como
um resultado da oxidação. A temperatura tem um efeito até mais importante do que o
tipo de óleo, pois a mesma tem um efeito muito forte na taxa de oxidação. A
concentração de oxigênio também tem um efeito direto na taxa de formação de
hidroperóxidos.
Outro fator que acelera a oxidação é a radiação, incluindo a luz solar e a
artificial. A luz promove a formação de radicais livres, influenciando a iniciação da
auto-oxidação. A foto-oxidação ocorre por um mecanismo diferente envolvendo
oxigênio singleto em taxas 1000 ou mais vezes mais rápidas do que a auto-oxidação.
Ela é promovida por sensibilizadores como a clorofila e é inibida por “quenchers” de
oxigênio singleto, como caroteno.
Alguns metais são pró-oxidantes mesmo em níveis muito baixos. Estes metais
catalisam a formação de radicais livres, por exemplo, via decomposição de
hidroperóxidos (LUNDBERG, 1962). No caso de metais como Cu, Fe e Ni, os valores
29
recomendados para se evitar o efeito pró-oxidante são 0,01, 0,1 e 0,1 ppm,
respectivamente.
Os antioxidantes naturais, tais como tocoferóis, caroteno, lecitina e gossipol,
estão presentes naturalmente nos óleos vegetais. Os antioxidantes evitam ou reduzem
a formação de radicais livres, promovendo reações de terminação. Muitos
antioxidantes naturais também sofrem oxidação. Outro mecanismo de atuação dos
antioxidantes é através da formação de uma película sobre a superfície metálica,
evitando assim o contato da mesma com o óleo. Muitos antioxidantes sintéticos têm
sido desenvolvidos e testados em óleos vegetais (PATTERSON, 1989), como, por
exemplo, produtos fenólicos e aminas. O produto mais conhecido, BHT (2,6-di-tert-
butil-1-4-metilfenol) é efetivo em ésteres e óleos vegetais em baixas temperaturas.
Tem a vantagem de estar na categoria 1 de poluição de água e ser aprovado pelo
FDA. Outros produtos fenólicos com estas vantagens em temperaturas mais elevadas
são conhecidos (FESSENBECKER e KORFF, 1994).
A umidade também exerce influência nas reações de oxidação. Em um nível de
atividade de água de 0,5 ± 0,2 (um teor de água de aproximadamente 50% da
solubilidade de saturação), a água tende a estabilizar os hidroperóxidos e facilitar as
reações de terminação dos radicais livres. Em níveis inferiores, esta “hidroproteção” é
negligenciável, conduzindo a altas taxas de oxidação. Já em níveis mais elevados,
ocorre o risco de formação de ácidos graxos livres (os quais oxidam mais rápido do
que os glicerídeos), rancidez hidrolítica, ataque enzimático e lixiviação de ferro.
Qualquer que seja a causa, as taxas de oxidação tendem a serem maiores em teores
de umidade próximos ou superiores à saturação.
A decomposição dos hidroperóxidos pode produzir uma variedade de
compostos, incluindo aldeídos, cetonas, ésteres, alcoóis, ácidos, hidrocarbonetos e
polímeros. A decomposição inicial envolve freqüentemente a fissão na posição
hidroperóxido, dando origem a um aldeído de baixo peso molecular (relativamente
volátil) e a um resíduo aldeídico de triglicerídeo de alto peso molecular (não volátil).
Pouca atenção tem sido dada à etapa de absorção de oxigênio, a qual é
provavelmente a mais importante no processo de oxidação. A oxidação só ocorre se
houver oxigênio dissolvido no óleo. Se esta absorção é prevenida ou minimizada, a
oxidação não ocorre ou é limitada (GUNSTONE e PADLEY, 1997).
O método analítico mais utilizado para determinação do grau de extensão da
oxidação de óleos vegetais é o índice de peróxido (IP), o qual será descrito com mais
detalhes no capítulo de metodologia. Um baixo valor de IP em uma amostra analisada
pode ser o resultado de uma rápida decomposição dos hidroperóxidos, ao invés de
uma lenta formação dos mesmos.
30
Com já citado, a oxidação ocorre apenas com oxigênio dissolvido ou absorvido.
A solubilidade e a taxa de difusão do oxigênio no óleo são, deste modo, relevantes
para o entendimento da taxa e da extensão da oxidação. A solubilidade do nitrogênio
também é importante, pois o mesmo é freqüentemente utilizado para proteger os óleos
da oxidação. A resistência à difusão especifica [= 1/(difusividade x solubilidade)] do
óleo de oliva e da trioleína é aproximadamente a mesma, enquanto a do tributirin é
aproximadamente 50% menor, sugerindo que a solubilidade e/ou difusividade do
oxigênio em óleos é dependente do comprimento da cadeia do triglicerídeo
(GUNSTONE e PADLEY, 1997). A difusividade do oxigênio no óleo também depende
da temperatura. Com base em medidas das freqüências de colisões bimoleculares do
oxigênio em óleo de oliva nas temperaturas 5-60°C, SUBCZYNSKI e HYDE, 1984,
concluíram que a difusividade depende aproximadamente da raiz quadrada do valor
da temperatura absoluta dividido pela viscosidade.
A taxa de absorção de oxigênio é dada pela equação:
= KA(C 0 − C )
dC
Q O2 = V (7)
dt
onde: Q O 2 = taxa de absorção de oxigênio (mol/s);
31
O consenso geral em termos da estabilidade oxidativa de óleos vegetais é o de
que os mesmos degradam mais rapidamente do que os óleos minerais, e em geral, a
estabilidade é inversamente proporcional ao grau de insaturação. Isto ocorre devido à
facilidade de reação dos hidrogênios alílicos adjacentes a múltiplas duplas ligações
carbono-carbono nestas estruturas. Devido à necessária insaturação nos óleos
vegetais requerida pelas propriedades a baixas temperaturas, a sua estabilidade
oxidativa será, geralmente, menor do que o de fluidos sintéticos totalmente saturados,
como PAO, PIO, éster sintético, etc. Isto significa que para atingir desempenho
comparável com estes produtos, as formulações com óleos vegetais requerem
grandes quantidades de antioxidantes (ERHAN e PEREZ, 2002).
Ésteres de ácidos graxos com grupamentos no carbono 12, como, por
exemplo, o éster 12-acetilricinoleato de metila (derivado do óleo de mamona),
apresentam melhores estabilidades oxidativas (YAO et al, 2010). Isto ocorre em
função do impedimento estérico imposto pelo grupamento, o qual está situado no
carbono adjacente à dupla ligação. Desta maneira, torna-se mais difícil a eliminação
dos hidrogênios alílicos adjacentes a esta dupla ligação. O estudo experimental desta
estabilidade é um dos objetivos deste trabalho e será discutido em detalhes mais
adiante.
32
2.4.3.3 Biodegradabilidade
Os produtos baseados em óleos vegetais são os que melhor atendem os
requisitos de lubrificantes ambientalmente compatíveis. A sua biodegradabilidade
resulta da decomposição por micro-organismos em produtos não tóxicos (CO2 e água).
A forma como os micro-organismos executam esta tarefa depende da estrutura,
particularmente da extensão da cadeia ramificada. A extensão da biodegradabilidade é
afetada pelos seguintes aspectos (KITAMURA, 1993):
• Composição química: aminoácidos, ácidos graxos, etc., que, em geral,
são prontamente biodegradáveis, e hidrocarbonetos;
• Compostos aromáticos são geralmente resistentes à biodegradação.
Um benzeno possuindo -OH, -COOH, -NH2, -CH, -CH3 ou -OCH3 é mais
biodegradável, porém estruturas contendo halogênios, -NO2 e -SO3H
são mais resistentes;
• A biodegradação de hidrocarbonetos lineares ocorre mais rapidamente
do que de ramificados (ERHAN e KLEIMAN, 1997);
• Ligações éster em CMVO’s protegidas por impedimentos estéricos
diminuem a biodegradabilidade;
• A biodegradabilidade de produtos derivados de transesterificação de
óleos vegetais diminui com o comprimento das cadeias acílicas e do
álcool.
33
2.5 Oxidação de Superfície
34
2.6 Estabilidade Térmica
35
O
O
O
β O
O
O
O H
O
O
O
O
O
Triacetina Acetil-TMP
36
Os benefícios dos óleos vegetais, por serem biodegradáveis e renováveis, têm
propiciado um incentivo na busca por aplicações para os mesmos como lubrificantes
para moto-serras, para motores náuticos, fluidos de perfuração e em aplicações com
perda parcial, como fluidos hidráulicos e graxas.
A demanda mundial por equipamentos geradores de energia ao ar livre (ex.
turbinas eólicas) aumentou para U$ 14 bilhões em 2002. As vendas mundiais de
cortadores de grama a gasolina em 2002 alcançaram 5 milhões de unidades, duas
vezes o número de unidades vendidas em 1997. O mesmo ocorreu com moto-serras e
ventiladores e compressores a gasolina. Este crescimento na venda de equipamentos
também se refletiu em um aumento na demanda de lubrificantes para reposição no
sistema “faça você mesmo”. Uma parte significativa disto veio da indústria de motores
dois ciclos, onde o usuário mistura lubrificante e combustível para produzir a mistura
que queima e move o equipamento. O destino de muitos destes óleos é desconhecido.
Se os mesmos são reciclados, então o impacto ambiental pode ser minimizado,
entretanto, se os mesmos são descartados no local de uso, ou mesmo em contêineres
que se tornarão aterros sanitários, estes fluidos se tornarão poluentes. O uso de
fluidos mais ambientalmente compatíveis nestas áreas de aplicação tem o potencial de
reduzir significativamente o impacto causado pelo uso destes equipamentos no meio
ambiente (GLENN, 2003).
Os óleos vegetais custam aproximadamente duas vezes mais que os óleos
minerais, porém são biodegradáveis e renováveis. Além disso, eles podem apresentar
características biodegradáveis geralmente apresentadas por ésteres sintéticos, mas
com um custo substancialmente inferior. Os óleos vegetais são, em geral, deficientes
em relação aos óleos minerais e aos óleos minerais quimicamente modificados
(CMMOs) em termos de estabilidade térmica e oxidativa. Há também, em alguns
casos, sérias limitações ao uso de óleos vegetais em aplicações que requeiram
operação em baixas temperaturas.
A chave para o uso de lubrificantes baseados em óleos vegetais é a de que
eles não servem para todas as aplicações. Não há óleo vegetal produzido em
quantidade suficiente no mundo anualmente. A produção total de óleo vegetal não é
utilizada na produção de lubrificantes. Assim, torna-se útil considerar o uso de óleos
vegetais em aplicações lubrificantes onde as propriedades e o desempenho sejam
mais bem relacionados. No caso de óleos vegetais, isto ocorre em aplicações onde as
máximas temperaturas de operação sejam inferiores a 120°C. Por outro lado, estão as
propriedades a baixas temperaturas dos óleos vegetais, em comparação com
lubrificantes sintéticos, óleos minerais e CMMO’s. Muitos destes lubrificantes têm
excelentes propriedades a baixas temperaturas e podem ser utilizados em condições
37
árticas por extensos períodos de tempo. Já os óleos vegetais devem ser empregados
em aplicações onde a temperatura ambiente permaneça acima de -40°C (RUDNICK,
2006).
Os lubrificantes podem ser classificados em duas categorias principais:
automotivos e industriais. Mais de 70% do volume total de lubrificantes é utilizado
como óleo de motor automotivo, com o restante servindo às aplicações industriais. As
vantagens em termos de propriedades dos CMVO’s, como alto IV, baixa perda por
evaporação, bom desempenho à baixa temperatura, e liberação de produtos inócuos
durante a operação, torna-os forte candidatos ao uso como lubrificantes. Devido ao
seu custo elevado, as melhores áreas de aplicação para lubrificantes de base vegetal
são aquelas onde as suas vantagens ambientais possam ser exploradas ao máximo
(RUDNICK, 2006).
A viscosidade à baixa temperatura é a característica técnica mais importante
dos lubrificantes modernos para motores automotivos. A partida a frio resulta em
desgaste para o motor, o qual pode ser superado pelo uso de produtos que propiciem
uma lubrificação efetiva imediata. Para atender a estas especificações relacionadas à
eficiência energética, óleos de baixa viscosidade e baixa perda por evaporação têm
sido introduzidos no mercado. Óleos vegetais transesterificados são bons candidatos a
serem utilizados como óleo de motor devido a sua superior estabilidade térmica em
relação ao óleo vegetal correspondente, baixa viscosidade, baixa formação de
depósitos (intervalo de troca maior, sistemas mais limpos) e melhores propriedades
em baixas temperaturas. Entretanto, os óleos vegetais apresentam algumas
desvantagens para esta aplicação, como: aumento de viscosidade com o uso, pela
oxidação, reduzindo os intervalos de troca; incompatibilidade com óleos minerais,
devendo se purgar o motor antes da troca; e limitações em baixas temperaturas para
algumas formulações. Os fabricantes de motores não estão inclinados a aceitar um
óleo de motor com um curto intervalo de troca. Entretanto, os motores atuais são
projetados para o uso de óleos de base mineral. As suas bombas e passagens são
dimensionadas para óleos que se tornem mais espessos. A sua capacidade de óleo é
calculada para um peso mínimo de forma a economizar combustível, e não em função
de se ter um atrito mínimo (RUDNICK, 2006).
Um bom fluido hidráulico tem as seguintes características: poder de
transmissão com um mínimo de perdas, lubrificação de superfícies deslizantes e
proteção contra corrosão. A tendência ao uso de biolubrificantes nesta área é
crescente devido a sua biodegradabilidade, reciclabilidade, resistência ao fogo,
estabilidade térmica, bom desempenho em termos de desgaste e desempenho em
altas e baixas temperaturas. Os óleos vegetais apresentam muitas das propriedades
38
necessárias a fluidos hidráulicos, exceto o seu pobre desempenho em baixas
temperaturas e baixas estabilidades à oxidação e hidrolítica, os quais podem ser
superados por meio de modificações químicas adequadas (BARTZ, 2000).
Um estudo extensivo sobre a utilidade de fluidos hidráulicos com base em óleo
de canola consistiu em testes de longo prazo, utilizando 37 máquinas agrícolas, as
quais utilizavam um fluido hidráulico formulado com base neste óleo (REMMELE e
WIDEMANN, 1999). Várias máquinas foram monitoradas. Os fluidos foram avaliados
por meio de sua viscosidade cinemática e de seu número de neutralização (IAT). Os
resultados mostraram que os fluidos hidráulicos baseados em óleo de canola foram
adequados para o uso em tais máquinas. Além disso, a baixa ecotoxicidade e a alta
biodegradabilidade também foram observadas neste estudo.
Uma quantidade significativa de calor é gerada no processo de usinagem de
metais. Este calor é usualmente removido em parte pelos lubrificantes, denominados
de “rolling fluids”, ou fluidos de laminação. Estes fluidos não apenas reduzem o calor
no metal sendo laminado, mas também servem para reduzir o atrito entre os cilindros,
que são empregados no processo de laminação, e o metal sendo usinado. Isto é
importante não apenas para proteger o equipamento, mas também para diminuir a
força de laminação, melhorando a lubricidade do fluido. Os óleos vegetais são
excelentes lubrificantes e têm sido utilizados com sucesso na formulação de fluidos de
laminação (RUDNICK, 2006).
A variedade de estruturas químicas utilizadas para melhorar as propriedades e
desempenho de lubrificantes é imensa. O objetivo no desenvolvimento de óleos
totalmente formulados com básicos biodegradáveis consiste em empregar aditivos que
sejam compatíveis com os lubrificantes e que sejam não tóxicos e biodegradáveis.
Freqüentemente, o destino dos aditivos no meio ambiente é desconhecido e a sua
escolha é quase sempre baseada em desempenhos anteriores com óleo mineral ou
com formulações sintéticas (RUDNICK, 2003).
Tanto a estrutura do antioxidante quanto a sua concentração afetam o seu
desempenho, e o desempenho dos óleos vegetais é mais próximo dos óleos minerais
do que de ésteres sintéticos, apesar das estruturas serem diferentes. Isto se deve aos
antioxidantes naturais presentes nos óleos minerais. Os mais novos CMMO’s são
severamente hidrotratados, tornando-se desprovidos de estruturas que anteriormente
lhes conferiam uma inerente estabilidade oxidativa (MILES, 1998).
Lubrificantes acabados de transmissão/hidráulicos comercialmente disponíveis,
baseados em óleo de canola, foram avaliados em termos de desempenho de atrito e
desgaste. Um dos três óleos analisados foi um óleo universal de transmissão para
tratores (UTTO). O mesmo foi comparado com um óleo mineral de mesma viscosidade
39
na temperatura inicial do teste. Quando comparado com óleos acabados de base
mineral, foram obtidos, em geral, coeficientes de atrito mais baixos e melhor
resistência a “pitting” para os óleos acabados de base vegetal (óleo de canola). Foi
examinada a resistência à carga de desgaste (“scuffing”) dos óleos testados utilizando
o ensaio padrão FZG A/8.3/90. Os dados foram obtidos a 90°C. As temperaturas de
operação observadas foram menores para os óleos com base em canola, devido às
menores tensões de cisalhamento durante o contato e ao maior IV destes fluidos. Este
estudo mostrou que a resistência à carga de desgaste dos óleos de
transmissão/hidráulicos com base em canola foi equivalente ao óleo de base mineral
de mesma viscosidade (ARNSEK e VIZINTIN, 1999).
Os óleos que apresentam baixa estabilidade oxidativa podem ser utilizados em
aplicações tais como óleo supressor de poeira e em tratamento de madeira. No
primeiro caso, o óleo deve permanecer líquido e estável até a aplicação do mesmo na
área que necessita controle de poeira. Em seguida, a oxidação ou polimerização do
mesmo se torna uma vantagem, uma vez que forma uma fina película sobre a poeira.
Como já foi discutido, em aplicações como fluidos hidráulicos, é necessário um óleo
muito mais estável à oxidação, devido ao mesmo estar em um sistema por um longo
período, além de estar exposto a vários possíveis catalisadores, os quais acelerariam
o processo de oxidação (HONARY e RICHTER, 2011).
O departamento de agricultura do governo norte-americano (USDA) propôs a
implementação de um conjunto de regulamentações o qual exigiria que as agências
federais utilizassem preferencialmente bioprodutos, incluindo biolubrificantes. Estes
esforços ajudarão os Estados Unidos a se tornarem menos dependentes da
importação de óleos estrangeiros e, ao mesmo tempo, incentivaria o uso de produtos
compatíveis com o meio ambiente. Esta regulamentação ajudará também no
crescimento do volume de biolubrificantes, tornando-os mais viáveis economicamente.
Este programa, se implementado como proposto, fará com que as agências federais
aumentem significativamente o seu uso de bioprodutos. Ele obrigará que estas
agências adquiram estes produtos, onde quer que os mesmos estejam disponíveis,
desde que o custo não seja significativamente maior do que um produto similar não
biodegradável. Estes produtos também deverão apresentar desempenho similar ao
dos produtos convencionais. A USDA está planejando assegurar que cada bioproduto
contenha uma quantidade mínima de componentes biodegradáveis, para que o
mesmo seja incluído em uma determinada categoria. Esta regulamentação proposta
fará com que as agências governamentais comprem lubrificantes, o que inclui óleo de
motor, fluido de corte e uma variedade de fluidos hidráulicos, fabricados com
componentes biodegradáveis (RUDNICK, 2006).
40
3. LIPASES E BIOLUBRIFICANTES
41
de efluentes ricos em óleos e graxas. As lipases vêm, deste modo, conquistando uma
faixa crescente do mercado de enzimas industriais (FREIRE e CASTILHO, 2008).
As lipases são enzimas classificadas como hidrolases (glicerol éster hidrolases,
E.C. 3.1.1.3) e atuam sobre a ligação éster de vários compostos, sendo os acilgliceróis
seus melhores substratos (JAEGER e REETZ, 1998). São comumente encontradas na
natureza, podendo ser obtidas a partir de fontes animais, vegetais e microbianas,
porém os micro-organismos são a fonte preferida, uma vez que são produzidas com
altos rendimentos e produtividades, possuem grande versatilidade e maior
simplicidade na manipulação ambiental e genética de sua capacidade produtiva.
Lipases de diferentes origens se encontram disponíveis atualmente no mercado e,
desde 1979, já ocorre o emprego em larga escala de lipases como catalisadores de
processos. Inicialmente, elas eram obtidas a partir de pâncreas de animais e usadas
como auxiliar digestivo para consumo humano. Em função do baixo rendimento do
processo fermentativo, as lipases microbianas tinham também um custo bem mais
elevado quando comparado com outras hidrolases, como proteases e carboxilases.
Entretanto, os avanços registrados na tecnologia do DNA têm permitido aos
fabricantes de enzimas colocarem no mercado lipases microbianas com atividade bem
elevada, a um custo bem mais acessível (VULFSON, 1994). Atualmente, lipases
microbianas são produzidas por diversas indústrias, como Novozymes, Amano, Gist
Brocades, entre outras (CASTRO et al, 2004).
Dependendo da fonte, as lipases podem ter massa molecular variando entre 20
a 75 kDa, atividade em pH na faixa entre 4 a 9 e em temperaturas variando desde a
ambiente até 70 °C. Lipases são usualmente estáveis em soluções aquosas neutras à
temperatura ambiente apresentando, em sua maioria, uma atividade ótima na faixa de
temperatura entre 30 e 40 °C. Contudo, sua termoest abilidade varia
consideravelmente em função da origem, sendo as lipases microbianas as que
possuem maior estabilidade térmica (CASTRO et al, 2004).
As lipases são biocatalisadores que têm muitas aplicações, razão pela qual a
sua participação no mercado mundial de enzimas industriais cresce significativamente.
Estima-se que, no futuro, elas terão importância industrial comparável à das
peptidases, que hoje representam 25-40% das vendas de enzimas industriais. As
lipases atuam, por definição, na interface orgânico-aquosa, catalisando a hidrólise de
ligações ésteres carboxílicas para liberarem ácidos e alcoóis orgânicos. Entretanto, em
ambientes com restrição de água, pode ocorrer a reação inversa (esterificação) ou,
também, diversas reações de transesterificação. Sua capacidade de catalisar estas
reações com elevada eficiência e estabilidade, assim como as suas propriedades
42
quimio-, régio- e/ou enantiosseletivas, tornam estas enzimas muito atraentes e
versáteis (FREIRE e CASTILHO, 2008).
Atualmente, as pesquisas em lipases se concentram na caracterização
estrutural e na elucidação do mecanismo de ação, na exploração e no aprimoramento
de suas propriedades enantiosseletivas, assim como na clonagem e expressão de
genes de lipases de características interessantes em organismos de fácil cultivo, em
larga escala. Com o auxílio da biofísica, da cristalografia e da modelagem molecular,
cresce o grau de conhecimento sobre a estrutura e a relação estrutura-função das
lipases (REETZ, 2002).
Verifica-se, em muitas lipases de diferentes origens, o aumento da atividade
enzimática na presença de interfaces orgânico-aquosas. Isto foi primeiramente
documentado para a lipase pancreática pelos pesquisadores SARDA e DESNUELLE
(1958), que verificaram que a enzima era mais eficiente na superfície bidimensional de
micelas. Eles sugeriram que a adsorção da lipase pancreática em uma interface água-
lipídeo provoca a ativação da enzima e que isto está associado às alterações
conformacionais da mesma. Este fenômeno, denominado “ativação interfacial”, foi
empregado, por muito tempo, na distinção entre lipases e esterases.
Na década de 90, observou-se que várias lipases não são passíveis de
ativação interfacial. Por esta razão, a caracterização de lipases com base no conceito
de ativação interfacial foi substituída pela definição de que lipases são
carboxilesterases capazes de catalisar a hidrólise de acilgliceróis de cadeias média e
longa. Mesmo assim, o fato de a maioria das lipases conhecidas ser ativada na
interface orgânico-aquosa, propiciou o desenvolvimento de diversas metodologias de
estudo da ativação interfacial. Estes estudos bioquímicos e biofísicos forneceram
dados interessantes sobre a estereosseletividade de lipases, assim como sobre a
influência de propriedades macroscópicas do meio. Foram, porém, os estudos
cristalográficos que mostraram, pela primeira vez, o rearranjo conformacional que
ocorre na interface água-lipídeo (VERGER, 1997).
A estrutura tridimensional da lipase fúngica de Rhizomucor miehei e da lipase
pancreática foram determinadas em 1990. Desde então, mais de onze estruturas de
lipases já foram determinadas, das quais, com exceção da lipase pancreática, todas
são de origem microbiana. Estas enzimas mostram uma característica padrão
conhecida como o dobramento de α/β hidrolase (JAEGER e REETZ, 1998).
No sítio ativo, há uma tríade catalítica composta de um resíduo nucleofílico
(serina) e dois resíduos (ácido aspártico ou glutâmico e histidina) desempenhando o
papel de um sistema de liberação de carga. O sítio ativo é estabilizado por redes de
ligações de hidrogênio, para cada enzima em particular, e a cavidade do oxiânion é
43
usualmente formada por dois átomos de nitrogênio do “esqueleto peptídico” da rede
(NH dos grupos amida) próximos ao nucleófilo. A maioria das lipases, como as de
Rhizomucor miehei (RmL) (mas não as lipases B de Candida antarctica (CaL-B))
apresentam a estrutura em α hélice denominada tampa, a qual cobre o sítio ativo e
possui um papel importante na atividade da enzima, e um túnel para reconhecimento
do substrato, o qual se inicia perto da serina catalítica e se extende até as cercanias
da tampa hélice (SIMAS et al, 2011).
O mecanismo de reação tipo Ping-Pong Bi-Bi, considerando uma reação de
transesterificação, é apresentado esquematicamente na Figura 10 (em CaL-B e RmL,
os resíduos da tríade catalítica são numerados como Ser105-His224-Asp187 e
Ser144-His257-Asp203, respectivamente), onde EtOAc representa o primeiro
substrato e um álcool (ROH), o segundo substrato. Esta reação também envolve dois
complexos intermediários tetraédricos (IT), os quais são relacionados aos seus
estados de transição correspondentes. O primeiro complexo IT resulta do ataque
nucleofílico da serina catalítica ao primeiro substrato, e o segundo complexo IT resulta
do ataque nucleofílico do segundo substrato ao complexo acil-enzima (ou seja, o
primeiro complexo IT).
His224 His224
Asp187 Ser105 Asp187 Ser105
1a etapa
+
N N N N H CH3
O O H H O CH3 O O H O
O
O O O
Et
O CH3
Et Et O 2a
R 4a H etapa cavidade
O etapa 1o produto do oxiânion
o
2 produto 1o IT
1o substrato
His224 His224
Asp187 Asp187
Ser105 3a etapa Ser105
+
O H N N H O CH3 O O H N N O
CH3
O H
O cavidade O O
2o IT O 2o substrato
R do oxiânion R
44
A determinação da estrutura tridimensional da lipase fornece uma explicação
elegante para a ativação interfacial. Como afirmado anteriormente, o sítio ativo das
lipases é coberto por uma estrutura em α hélice, denominada de tampa (ou borda).
Embora as lipases tenham competência catalítica na forma cristalina, seus sítios
ativos, formados pela tríade serina-histidina-aspartato/glutamato, não estão expostos
na superfície da proteína e são inacessíveis diretamente ao substrato. Quando a
enzima é submetida a meios aquosos, a exposição do sítio é termodinamicamente
desfavorável, permanecendo então na conformação “fechada” ou inativa (Figura 11).
No entanto, na presença de substratos hidrofóbicos (interfaces) observa-se uma
mudança na estrutura da enzima para a conformação ativa ou “aberta”, tornando o
sítio ativo da enzima totalmente acessível ao substrato, explicando assim o fenômeno
de ativação interfacial. Já foi verificado, no entanto, que algumas lipases não
apresentam esta “tampa”, como a lipase B de Candida antarctica (JAEGER e REETZ,
1998).
45
Figura 11: Esquema das conformações fechada – E (A) e aberta – E*S (B), com a
indicação da estrutura secundária, da lipase de Rhizomucor miehei (adaptado de
JÄÄSKELÄINEN et al, 1998).
46
duas diferentes condições, mostra, respectivamente, o sítio recoberto e o sítio
exposto.
De forma geral, quando a enzima é cristalizada na presença de inibidores ou
co-fatores, a estrutura obtida está sempre na conformação aberta. No caso de lipases
não complexadas, o estado conformacional da estrutura cristalina depende da
composição e das propriedades microscópicas da solução. Em polietileno glicol (PEG),
por exemplo, obtém-se geralmente a conformação fechada, enquanto que na
presença de alcoóis e detergentes, obtém-se a forma aberta. Assim, as estruturas de
lipases até hoje determinadas são geralmente divididas em duas categorias: as que
têm o sítio ativo acessível ao solvente (estrutura aberta) e as que têm o sítio ativo
inacessível ao solvente (estrutura fechada). No caso de algumas lipases, ambas as
estruturas foram observadas, levantando a questão da relevância destas formas para
a atividade destas enzimas. O fato de se observar as conformações aberta e fechada
de uma família de lipases homólogas, e dentre diferentes famílias, sugere que estes
estados são importantes para a função destas enzimas. A baixa atividade lipolítica
observada na ausência de interfaces, por um lado, indica que em meios aquosos as
estruturas fechadas predominam, mas que, por outro lado, as estruturas abertas
também estão presentes, ao menos de forma transiente (FREIRE e CASTILHO, 2008).
A superfície de muitas lipases tem caráter mais hidrofóbico na região que
contém a tampa. A abertura da tampa para expor o sítio ativo reforça este caráter, pois
expõe uma grande superfície hidrofóbica que recobre, simultaneamente, a superfície
hidrofílica antes exposta. O caráter mais hidrofóbico da face que contém o sítio ativo
também pode ser verificado em cutinases, uma classe de enzimas que não tem
ativação interfacial (PROMPERS et al, 1999).
As estruturas tridimensionais das lipases conhecidas até hoje mostram que o
grau de mobilidade da “tampa” varia fortemente, encontrando-se desde casos em que
parece haver dois estados extremos – aberto e fechado – com estados de energia
significativamente inferiores aos dos estados de transição, até casos com tampas
muito móveis, com vários estados intermediários de energias comparáveis (FREIRE e
CASTILHO, 2008).
47
para originar produtos opticamente ativos (ésteres ou amidas), ampliando
consideravelmente as possibilidades de aplicações comerciais destas enzimas. Por
isso, as lipases são excelente alternativa para as sínteses químicas clássicas, com
aplicação nas indústrias de alimentos, de detergentes, oleoquímica, farmacêutica, de
química fina, de cosméticos e fragrâncias, de polpa e papel, de couro, de biossensores
e no tratamento de efluentes ricos em óleos e graxas (FREIRE e CASTILHO, 2008).
As lipases catalisam uma série de diferentes reações. Além de quebrar as
ligações de éster de triacilgliceróis com o consumo de moléculas de água (hidrólise),
as lipases são também capazes de catalisar a reação reversa sob condições
microaquosas, como por exemplo, a formação de ligações éster, a partir de um álcool
e ácido carboxílico (síntese de éster). Estes dois processos básicos podem ser
combinados numa seqüência lógica para resultar em reações de interesterificação
(acidólise, alcoólise e transesterificação), dependendo dos reagentes de partida
empregados (Figura 12) (CASTRO et al, 2004).
48
Outros compostos, além de água e álcool, podem ser utilizados como
nucleófilos em reações catalisadas por estas enzimas. Desta forma, as lipases podem
participar de reações como aminólises, tiotransesterificações e oximólises, em
solventes orgânicos, com elevada seletividade (FABER, 1997).
Para aplicação industrial, a especificidade da lipase é um fator crucial. A
enzima pode ser específica com relação à molécula ácida ou alcoólica do substrato.
As lipases são divididas em 3 grupos baseados em sua especificidade (FACCIO,
2004). Lipases não específicas (ex: produzidas por Candida rugosa, Candida
antarctica, Staphylococcus aureus, Chromobacterium viscosum e Pseudomonas sp.)
quebram as moléculas de acilglicerol na posição randômica, produzindo ácidos graxos
livres, glicerol, monoacilgliceróis e diacilgliceróis como intermediários. Neste caso, os
produtos são similares àqueles produzidos por catálise química, porém com menor
grau de termodegradação, devido à temperatura empregada ser bem inferior
(KAZLAUSKAS e BORNSCHEUER, 1998).
Lipases 1,3 específicas (ex: de Rhizomucor miehei, Aspergillus niger, Mucor
javanicus, Humicola lanuginosa, Rhizopus delemar, Rhizopus oryzae, Candida
lipolytica, Rhizopus niveus e Penicillium roquefortii) liberam ácidos graxos das
posições 1 e 3 e formam, por esta razão, produtos com composições diferentes
daquelas obtidas pelas lipases não-regiosseletivas, ou mesmo por catalisadores
químicos. Lipases ácido graxo específicas são enzimas com ação específica na
hidrólise de ésteres, cujos ácidos graxos são de cadeia longa insaturada com duplas
ligações, em cis no carbono 9. Ésteres com ácidos graxos insaturados, ou sem
insaturação no carbono 9, são lentamente hidrolisados. Este tipo de especificidade
não é comum entre as lipases e o exemplo mais estudado até hoje é a lipase de
Geotrichum candidum. Esta habilidade de produzir novos tipos de misturas de
triacilglicerídeos utilizando lipases regioespecíficas é uma das características mais
interessantes para a aplicação no setor de óleos e gorduras (CASTRO et al, 2004).
O progresso de reações de transesterificação entre óleos vegetais e ácidos
graxos ou ésteres de ácidos graxos pode ser acompanhado por meio das mudanças
nas composições dos ácidos graxos das várias espécies. A composição dos ésteres
de ácidos graxos transesterificados pode ser avaliada por cromatografia líquida
(HPLC) ou cromatografia gasosa (GC). Para muitas lipases, um modelo cinético muito
simples de pseudo-primeira ordem, baseado em análises de ésteres metílicos de
ácidos graxos (FAME) dos óleos vegetais ou dos ácidos graxos livres, pode ser
utilizado para o cálculo das taxas de reação de transesterificação e da atividade
catalítica. Este modelo simples se adequa bastante bem para lipases 1,3-
49
regioespecíficas ou para completamente não seletivas, mas não pode ser utilizado
para lipases ácido graxo ou regio ou estereoseletivas. Para estes tipos de
catalisadores são necessários modelos cinéticos mais complexos. Modelos cinéticos
de variada complexidade e sofisticação têm sido desenvolvidos por vários grupos para
a descrição dos processos de transesterificação enzimática (GUNSTONE e PADLEY,
1997). Estes modelos podem ser aplicados em reações catalisadas por diferentes
tipos de lipases e utilizados na simulação e na predição de efeitos de parâmetros tais
como concentração de água e de diacilgliceróis, concentração dos reagentes,
limitações de transferência de massa e atividade do catalisador, na taxa de reação e
no rendimento do produto. Em uma reação de primeira ordem a velocidade é
diretamente proporcional à concentração do reagente, e esta é a realidade da maioria
das reações catalisadas por lipases.
A versatilidade das lipases tem sido explorada ou para substituir processos
existentes, ou para produzir uma série de compostos considerados praticamente
inviáveis de serem obtidos por via química convencional. Esta habilidade catalítica tem
sido aplicada na hidrólise de gorduras para produção de ácidos graxos, esterificação
ou interesterificação de gorduras e outros lipídeos para preparação de produtos
alimentícios ou não alimentícios (CASTRO et al, 2004).
A reação típica catalisada pelas lipases em meio aquoso é a hidrólise de éster.
Esta reação ocorre via hidrólise sequencial dos grupos acila no glicerídeo, de tal forma
que, num dado momento, a mistura reacional contém não somente triglicerídeo, água,
glicerol e ácidos graxos, como também diacilgliceróis e monoacilgliceróis (Figura 13).
O processo enzimático não somente reduz os requerimentos energéticos como
também previne a decomposição de alguns ácidos graxos.
50
Figura 13: Hidrólise sequencial dos grupos acila no glicerídeo, catalisada por
lípases.
51
utilizando uma preparação de lipase imobilizada numa temperatura entre 50-70 ºC. A
água gerada durante a reação de esterificação é removida por destilação a vapor. O
processo permite a recuperação da preparação enzimática e sua reutilização em
bateladas subseqüentes (CASTRO et al, 2004).
A interesterificação é o processo mais usado para a obtenção de óleos e
gorduras com funções desejáveis na manufatura de produtos específicos. Esse
processo consiste em um rearranjo na molécula de glicerol possibilitando modificações
das propriedades dos óleos e gorduras, por meio de um catalisador que, em sua forma
ativa, promove a separação dos ácidos graxos da cadeia inicial.
Uma área que ganhou relevância nos últimos anos é o emprego de lipases na
produção de biodiesel, por meio da transesterificação de triglicerídeos com alcoóis de
cadeia curta. Os ésteres de ácidos graxos de cadeia longa produzidos na reação
podem ser empregados como combustível, com a vantagem de não acarretar a
geração de óxidos de enxofre e de particulados. No entanto, apesar das vantagens do
uso de enzimas, plantas de produção de biodiesel utilizando lipases em escala
industrial ainda não são uma realidade. A razão para isso reside na existência de
alguns desafios os quais ainda não foram superados antes que estes biocatalisadores
se tornem viáveis para a produção de biodiesel, tais como custo elevado, baixa
produtividade e inibição por reagentes e produtos (FREIRE et al, 2011).
Diversas lipases e óleos vegetais, como óleos de mamona, de girassol e de
soja, estão sendo utilizados como substrato para a reação de transesterificação
(ZHENG et al, 2009; ROSA et al, 2008). OLIVEIRA et al (2004) investigaram o
emprego de duas diferentes lipases comerciais em meio orgânico contendo n-hexano.
Por meio de planejamento estatístico de experimentos, os autores estudaram a
influência da razão molar óleo de mamona/etanol, da temperatura e das
concentrações de enzima e de água sobre a conversão, a qual atingiu o nível máximo
de 98% quando uma enzima comercial de Rhizomucor miehei (Lipozyme® IM) foi
usada.
Há alguns fatores que influenciam a conversão em uma transesterificação
enzimática, tais como o substrato utilizado (óleo vegetal ou álcool), a razão molar entre
os substratos, o teor de água no meio reacional, a utilização ou não de solventes, a
temperatura, se a enzima é em pó ou imobilizada, a concentração de lipase, entre
outros. Apesar de muitos trabalhos na literatura descreverem a síntese de biodiesel
utilizando diferentes lipases, é difícil fazer qualquer generalização a respeito das
52
condições ótimas de reação, uma vez que lipases de fontes diferentes tendem a
responder de forma distinta a mudanças no meio reacional (FREIRE et al, 2011).
Para tornar economicamente viável o uso de lipases como catalisadores de
processos industriais, diversas técnicas podem ser utilizadas. Como micro-organismos
selvagens produzem, freqüentemente, níveis baixos de enzimas, uma técnica muito
promissora é a evolução dirigida. Trata-se de uma técnica baseada na metodologia
tradicionalmente empregada em vários campos da microbiologia, de promover
mutações em micro-organismos e selecionar as cepas mutantes mais produtivas, que
nos anos recentes foi automatizada (high-throughput screening). Por meio da evolução
dirigida, além das cepas mais produtivas, pode-se obter cepas produtoras de lipases
com novas especificidades ou capazes de atuar sobre substratos não usuais (FREIRE
et al, 2011).
Com o desenvolvimento dos conhecimentos e das técnicas associadas à
biologia molecular, observa-se, cada vez mais, a tendência de expressar genes que
codificam lipases de características interessantes em micro-organismos de mais fácil
cultivo em larga escala.
Outra área que pode contribuir para a obtenção de enzimas com os requisitos
necessários para o uso como catalisadores industriais é a engenharia de proteínas,
em que se alteram as propriedades das proteínas de forma aleatória ou através de
mutagênese sítio-dirigida.
Embora estas técnicas forneçam resultados promissores no sentido de gerar
lipases com características mais apropriadas a sua utilização como catalisadores de
processos industriais, muito esforços também devem ser empregados no
desenvolvimento de novos biocatalisadores imobilizados, sistemas de reação
multifásicos e processos mais econômicos de produção e purificação de lipases.
53
Também se procedeu o acompanhamento das reações por meio de
cromatografia em camada fina (TLC), realizando-se a comparação entre os ésteres
obtidos por alcoólise com aqueles obtidos diretamente por esterificação enzimática.
Além disso, determinou-se as seguintes propriedades: ponto de fusão, índice de
saponificação, densidade, índice de refração, índice de iodo e viscosidade cinemática.
A conversão máxima atingida foi cerca de 90% após 240 minutos de tempo de
reação para a reação de esterificação enzimática, enquanto para a reação de alcoólise
do óleo de mamona a conversão foi de 65%.
Os ésteres obtidos foram: decil ricinoleato, dodecil ricinoleato, tetradecil
ricinoleato, hexadecil ricinoleato e octadecil ricinoleato.
A alcoólise dos ácidos graxos do óleo de mamona por uma enzima específica,
como a Mucor miehei, produz monoglicerídeos como subprodutos, os quais
apresentam várias aplicações industriais.
LINKO et al (1998) estudaram o uso de lipases na síntese de ésteres de
trimetilolpropano com óleo de canola. A transesterificação para a síntese de tri-ésteres
de trimetilolpropano a partir de ácidos graxos do óleo de canola foi conduzida tanto à
pressão atmosférica em tubos fechados ou abertos de 13 mL quanto à pressão
reduzida (2,0 – 13,3 kPa). Após a reação, a amostra foi extraída com acetona e a
enzima precipitada foi removida por centrifugação. Os experimentos foram
acompanhados por cromatografia em camada fina (TLC) e cromatografia líquida
(HPLC).
Lipases comerciais são vendidas com base em sua atividade hidrolítica, não
havendo garantia no que diz respeito a sua atividade de esterificação. WU et al, 1996,
demonstraram que lipases oriundas de mesmos micro-organismos, em diferentes
bateladas de fermentação, de similar atividade hidrolítica, podem variar largamente no
que se refere as suas atividades de esterificação. Conseqüentemente, é necessário se
testar lipases em diversas condições de processo para se determinar sua atividade
sintética desejada. Após testar 25 lipases comerciais na ausência de solventes
orgânicos adicionais e utilizando a síntese do oleato de butila como sistema modelo,
os autores encontraram que os maiores rendimentos foram obtidos com as lipases de
Candida rugosa, Chromobacterium viscosum, Rhizomucor miehei e Pseudomonas
fluorescens. O rendimento de éster foi afetado pelo teor inicial de água no sistema,
pela quantidade de lipase, e pela razão molar entre 1-butanol e ácido oléico.
Ao contrário da síntese do oleato de butila, a reação do óleo de canola com 2-
etil-1-hexanol apresentou baixa conversão com o uso de um excesso do álcool.
Empregando-se a lipase de C.rugosa, uma conversão de 98% do óleo de canola foi
atingida em 24 h sem a presença de óleo de canola residual e praticamente isento de
54
subprodutos. Altos rendimentos também foram obtidos com lipases de Ch. viscosum e
P. fluorescens. C. rugosa foi escolhida para estudos posteriores devido a sua
superioridade em catalisar ambas as reações de esterificação e transesterificação,
além de sua disponibilidade comercial em grandes quantidades em um custo
relativamente baixo.
A importância do controle do teor de água (atividade de água) em sínteses de
ésteres catalisadas por lipases tem sido bastante enfatizada (WU et al, 1996; LÄMSA,
1995). A água é essencial para as reações enzimáticas. Normalmente, uma
quantidade mínima de água é necessária para a catálise enzimática ocorrer, sendo a
síntese de ésteres favorecida sob disponibilidade restrita de água (baixa atividade de
água). A síntese de ésteres e a hidrólise são processos reversíveis, e o equilíbrio entre
eles pode ser deslocado em direção a síntese tanto por um excesso de um dos
substratos quanto pelo controle do teor de água do sistema. A água é essencial para a
lipase, a qual se torna inativa devido a mudanças estruturais na ausência da mesma.
Assume-se que em um ambiente com atividade de água muito baixa, o espaço
conformacional da enzima é restrito. Em ambientes completamente anidros, não há
espaço para as mudanças conformacionais necessárias à ligação ao substrato. O
autor (LÄMSA, 1995) utilizou 3% de água obtendo uma conversão de 90% na reação
entre óleo de canola e 2-etil-1-hexanol, catalisada por C. rugosa.
Na reação de transesterificação do trimetilolpropano (TMP) e éster metílico do
óleo de canola (RMe), o autor (LÄMSA, 1995) utilizou inicialmente a lipase imobilizada
comercial R. miehei Lipozyme IM 20, obtendo conversão de ésteres de TMP da ordem
de 90% sem a adição de água. Em seguida, utilizou a lipase em pó de C. rugosa sem
nenhum solvente orgânico adicional. A ausência de solvente permite maiores
concentrações de substrato e produto, simplifica os processos pós-reação e melhora a
segurança. Com uma temperatura de 47°C e 15% de águ a adicionada, foi obtida uma
conversão em tri-éster de TMP de 75% em 24h e de 98% em 68h, com a não
formação de subprodutos nem a presença de RMe residual.
UOSUKAINEN et al (1998) também estudaram a transesterificação química e
enzimática do TMP com éster metílico do óleo de canola (RMe). Na catálise química
foi utilizado o metilato de sódio (0,7% em peso) e a reação ocorreu a uma temperatura
de 120°C por 10 horas, com uma conversão de 98% em tri-ésteres de TMP. Já na
catálise enzimática, foi utilizada a lipase de Candida rugosa em pó, para a qual foram
testados vários suportes de imobilização. As condições reacionais foram mais
brandas, sob vácuo e com temperatura de 47°C. Após 68 horas, obteve-se uma
conversão em tri-ésteres de TMP de 95%.
55
Em função de estudos anteriores que apontavam claramente que a conversão
de RMe em ésteres de TMP poderia aumentar com o uso de uma lipase imobilizada,
foram investigados vários materiais suportes para imobilização da C. rugosa. As
conversões mais altas em ésteres de TMP, da ordem de 95%, foram obtidas com a
lipase imobilizada em Celite R-630. Com outros suportes (Duolites ES-561 e ES-762,
GDC 200, GCC e HPA 25) foram obtidas conversões de aproximadamente 70%. Os
autores também testaram a lipase comercial imobilizada Rhizomucor miehei Lipozyme
IM 20, obtendo conversões de 90%.
GHOSH e BHATTACHARYYA (1998) realizaram a esterificação entre ácido
hidroxi-esteárico e alcoóis alifáticos de cadeia longa, como octanol, dodecanol, entre
outros. Para tal utilizaram a lipase comercial imobilizada Rhizomucor miehei Lipozyme
IM 20. Estas reações apresentaram conversões máximas a 65°C, sob vácuo de 2-5
mm de Hg, sem solvente, com 10% em peso de lipase e com tempo de duração de
360 minutos. A lipase utilizada foi bastante específica, evitando reações indesejáveis
de formação de éster através do grupamento hidroxila do ácido. Desta forma, a
enzima permitiu que não houvesse a deformação das estruturas básicas do hidroxi-
ácido e do álcool utilizados na reação.
Segundo MARTY et al (2002) a reação de transesterificação do óleo de
girassol com alto teor de ácido oléico (HOSO) com butanol, catalisada pela lipase
comercial imobilizada Rhizomucor miehei Lipozyme, pode ser estudada através de um
modelo cinético simplificado, baseado em Ping Pong Bi Bi com mecanismo de inibição
competitiva de álcool.
Foi utilizado um sistema sem solvente, o qual apresenta as vantagens de
oferecer maior segurança, redução nos custos de extração do solvente, aumento na
concentração dos reagentes e não uso de solventes inflamáveis, tóxicos e caros. A
transesterificação do HOSO com butanol teve uma conversão de 94%.
A inibição da lipase pelo álcool é geralmente observada em reações de
esterificação e transesterificação. Muitos autores têm demonstrado que para estes
tipos de reações o mecanismo cinético é do tipo Ping Pong Bi Bi com inibição
competitiva do álcool. Na reação discutida neste trabalho, o mecanismo é de fato
muito complexo devido à presença de três reações consecutivas desde o triglicerídeo
até os produtos. Entretanto, os autores propuseram simplificar o problema através de
uma aproximação macroscópica, consistindo em reduzir a reação a uma única reação:
uma molécula de triglicerídeo é convertida em três moléculas de ésteres. Este modelo
mais simples favorece a obtenção de uma equação de velocidade que permita o
aumento de escala para um reator industrial batelada ou para um contínuo. A equação
8 descreve este modelo.
56
Vmax∗ [Trigly]∗ [But ]
Vi = (eq. 8)
[But ]
Kmtrigly ∗[But]* 1+ + Kmbut [Trigly] + [Trigly]* [But ]
Ki
onde:
[Trigly] e [But] são as concentrações molares iniciais de HOSO e butanol (mM);
Km(trigly) e Km(but) as constantes de Michaelis aparentes (mM);
Ki a constante aparente de inibição do butanol (mM);
Vmax a velocidade máxima inicial da reação (µmol·min-1·g-1)
Comparações entre dados modelados e experimentais foram realizadas com
excelentes concordâncias entre os mesmos (desvios inferiores a 10%).
DOSSAT et al (2002) mostraram as diferenças entre os sistemas com e sem
solvente para a reação de transesterificação do óleo de girassol com alto teor de ácido
oléico (HOSO) com butanol. Esta reação foi estudada em um reator contínuo “plug
flow”, utilizando um sistema sem solvente com a lipase comercial Rhizomucor miehei,
imobilizada em resina aniônica macroporosa Duolite A568 (Lipozyme). Ao contrário do
que foi observado empregando-se n-hexano como solvente, foi obtido um estado
estacionário com uma mistura contendo éster butílico (65%), monoglicerídeo (26%),
diglicerídeo (6%) e triglicerídeo residual (3%). A principal diferença entre o processo
sem solvente e o processo com n-hexano está no fato de que após um período de
transição não ocorre mais a formação de glicerol. Com n-hexano, o glicerol produzido
é inteiramente absorvido no suporte da enzima, levando a um obstáculo hidrofílico
para o transporte de lipídeos. O processo estudado favoreceu o desenvolvimento de
um reator “plug flow” que operou por 3 meses sem apresentar qualquer perda de
atividade. Foi construída uma planta piloto utilizando 50g de enzima com desempenho
idêntico ao obtido pelo reator de laboratório.
LÄMSA (1995) realizou a síntese química do éster 2-etil-hexil do óleo de
canola, utilizando catalisadores alcalinos e ácidos. O progresso da reação foi
acompanhado por TLC e HPLC e o produto obtido foi neutralizado com água ácida ou
alcalina, dependendo do catalisador utilizado, e lavado três vezes com água a 50°C.
Esta mesma síntese também foi realizada com catalisador enzimático por 72 horas,
com a lipase (Candida rugosa) sendo separada por centrifugação. Com 3,3% de lipase
obteve-se uma conversão de 80% em 3 horas e com 14,6% de lipase a conversão foi
de 100% em 1 hora. Além da Candida rugosa foram testadas as lipases M. miehei,
Pseudomonas fluorescens e Chromobacterium viscosum, todas imobilizadas em
Amberlyte XAD-7.
O autor procedeu também a síntese química do éster de trimetilolpropano com
óleo de canola da seguinte forma: o éster metílico do óleo de canola foi reagido com
57
TMP a 120°C por 8 horas, utilizando metilato de sód io como catalisador. Após esfriar,
o produto foi neutralizado com água ácida, lavado com água quente (50°C) e seco
com sulfato de sódio anidro. O acompanhamento foi feito com TLC e HPLC. Esta
mesma síntese também foi realizada com lipase, sendo que neste caso além do éster
metílico e do TMP, houve a adição de água (10% m/m) e da lipase (40% m/m), com
uma temperatura de reação de 42°C. Todas as reações ocorreram sob pressão
reduzida (3,3MPa). A melhor conversão (80%) foi obtida após 24 horas de reação.
Durante as sínteses foi feito um planejamento experimental, com base na conversão
obtida, para escolha do melhor catalisador, quantidade de catalisador, razão molar
éster metílico / TMP, temperatura, tempo de reação e pressão. No caso da catálise
enzimática, além da escolha da lipase (Candida rugosa apresentou os melhores
resultados), estudou-se também a quantidade de água a ser adicionada.
Em síntese, a maior parte dos trabalhos encontrados na literatura evidenciou a
viabilidade do uso de lipases como biocatalisadores na síntese de ésteres a partir de
óleos vegetais, tanto para uso como biodiesel, como para lubrificantes. A experiência
adquirida nestes trabalhos anteriores foi de grande importância na definição das
variáveis de processo adotadas na elaboração desta tese de doutorado, a qual trouxe
como inovação a utilização da lipase de Candida rugosa em reações de síntese de
biolubrificantes derivados do óleo de mamona.
58
4. MATÉRIAS PRIMAS PARA OS BIOLUBRIFICANTES
59
O OH
O O
O
OH
60
Tabela 3: Características Físico-Químicas Típicas do Óleo de Mamona.
Propriedade Valor
IV (Índice de Viscosidade) 90
61
4.2 A Soja
A soja hoje cultivada é muito diferente dos seus ancestrais, que eram plantas
rasteiras que se desenvolviam na costa leste da Ásia, principalmente ao longo do rio
Yangtse, na China. Sua evolução começou com o aparecimento de plantas oriundas
de cruzamentos naturais entre duas espécies de soja selvagem que foram
domesticadas e melhoradas por cientistas da antiga China (http://
http://www.cnpso.embrapa.br - acesso em 29/08/2012).
As primeiras citações do grão aparecem no período entre 2883 e 2838 AC,
quando a soja era considerada um grão sagrado, ao lado do arroz, do trigo, da cevada
e do milheto. Um dos primeiros registros do grão está no livro "Pen Ts’ao Kong Mu",
que descrevia as plantas da China ao Imperador Sheng-Nung. Para alguns autores, as
referências à soja são ainda mais antigas, remetendo ao "Livro de Odes", publicado
em chinês arcaico.
Até aproximadamente 1894, término da guerra entre a China e o Japão, a
produção de soja ficou restrita à China. Apesar de ser conhecida e consumida pela
civilização oriental por milhares de anos, só foi introduzida na Europa no final do
século XV, como curiosidade, nos jardins botânicos da Inglaterra, França e Alemanha.
Na segunda década do século XX, o teor de óleo e proteína do grão começa a
despertar o interesse das indústrias mundiais. No entanto, as tentativas de introdução
comercial do cultivo do grão na Rússia, Inglaterra e Alemanha fracassaram,
provavelmente, devido às condições climáticas desfavoráveis (http://
http://www.cnpso.embrapa.br - acesso em 29/08/2012).
A soja é um grão muito versátil que dá origem a produtos e subprodutos muito
usados pela agroindústria, indústria química e de alimentos. Na alimentação humana,
a soja entra na composição de vários produtos embutidos, em chocolates, temperos
para saladas, entre outros produtos.
A proteína de soja é a base de ingredientes de padaria, massas, produtos de
carne, cereais, misturas preparadas, bebidas, alimentação para bebês e alimentos
dietéticos. A soja também é muito usada pela indústria de adesivos e nutrientes,
alimentação animal, adubos, formulador de espumas, fabricação de fibra,
revestimento, papel, emulsão de água para tintas.
Seu uso mais conhecido, no entanto, é como óleo refinado, obtido a partir do
óleo bruto. Nesse processo, também é produzida a lecitina, um agente emulsificante
(substância que faz a ligação entre a fase aquosa e oleosa dos produtos), muito usada
na fabricação de salsichas, maioneses, achocolatados, entre outros produtos.
Recentemente, a soja vem crescendo também como fonte alternativa de
62
combustível. Desde 2005, o biodiesel de soja vem sendo testado por instituições de
pesquisa, como a Embrapa, além de estar sendo testado em diferentes cidades
brasileiras ((http:// http://www.cnpso.embrapa.br - acesso em 29/08/2012).
Os maiores produtores de soja do mundo, segundo dados de 2010 (http://
http://www.soystats.com - acesso em 29/08/2012), são os Estados Unidos (35%),
seguidos do Brasil (27%), Argentina (19%), República Popular da China (6%) e Índia
(4%). A produção mundial de soja em 2010 foi de 258,4 milhões de toneladas.
O óleo de soja é rico nos ácidos oléico e linoléico, conforme pode ser visto na
Tabela 4. O elevado teor de ácido linoléico confere uma menor estabilidade oxidativa
do óleo de soja quando comparado ao óleo de mamona.
63
Nos países importadores, basicamente Portugal e França, as sementes de
pinhão manso sofrem o mesmo tratamento industrial que as bagas de mamona, isto é,
cozimento prévio e esmagamento subsequente em prensas tipo “expeller”, para
extração do óleo, que em seguida é filtrado, centrifugado e clarificado, resultando em
um produto mais livre de impurezas. A torta, que contém ainda aproximadamente 8%
de óleo, é re-extraída com solventes orgânicos, geralmente hexano, sendo o farelo
residual ensacado para aproveitamento como fertilizante natural, em virtude dos teores
elevados de nitrogênio, fósforo e potássio. Até antes da II Guerra Mundial (1939), o
principal emprego do óleo de pinhão manso era na saboaria e na fabricação de
estearina, mas, devido às necessidades militares, outras possíveis utilizações
começaram a ser estudadas. Não pode, contudo, ser utilizado como lubrificante,
devido a sua baixa viscosidade e grande porcentagem de ácido linoléico, o que pode
provocar rápida resinificação. No entanto, pesquisas levaram à conclusão de que esse
óleo pode também ser utilizado como biodiesel sem qualquer tratamento prévio
especial e com quase igual potência às conseguidas com o diesel. Apesar de também
ser utilizado na indústria de fiação de lã, de tinta para escrever, tinta de impressão e
tintas para pintura, além de ser utilizado como óleo de lustrar e quando cozido,
misturado com óxido de ferro, utilizado para envernizar móveis, seu maior emprego
ainda é nas saboarias (http://www.pinhaomanso.com.br – acesso em 16/03/2012).
O óleo de pinhão manso é rico nos ácidos oléico e linoléico, conforme pode ser
visto na Tabela 5. Esta característica, teoricamente, confere uma menor estabilidade
oxidativa do mesmo quando comparado ao óleo de mamona.
64
5. METODOLOGIA
5.1 Materiais
65
Tabela 7: Propriedades típicas da enzima Novozym 435 (Novozymes)
Propriedades Valores
Atividade 10 000 como Lipase U/g (típica)
Fonte Biológica Candida antarctica
Forma Granulado imobilizado
pH de operação -
Temperatura de operação -
66
Figura 15: Aparato utilizado nas reações de transesterificação.
67
OH O
OH
3 OMe +
OH
OH
Ricinoleato de Metila
Trimetilolpropano
Catalisador
Enzimático
O OH
O OH
3CH3OH + O
CH2
Metanol O O
O OH
Biolubrificante (Ricinoleato de Trimetilolpropila)
68
Atividade (U/mL) = (va – vb).M.1000 (eq. 9)
t. v. m
onde; va = volume NaOH gasto de amostra (mL)
vb = volume de NaOH gasto no branco (mL)
M = molaridade do NaOH (mmol/mL)
t = tempo de reação (min)
v = volume da amostra (mL)
m = massa da enzima (g)
69
5.4 Síntese e Purificação do Éster Ricinoleato de Metila (MeR) (empregado na
etapa de estudo da estabilidade oxidativa)
O óleo de mamona (80g) foi misturado a um excesso de metanol (342,9 moles), com
o objetivo de se evitar a formação do dímero do ricinoleato de metila (YAO et al, 2010).
Utilizou-se como catalisador o metóxido de sódio 0,5M (0,5% m/m). O metanol foi
submetido a refluxo por 10 minutos para liberar o dióxido de carbono. A reação foi
conduzida por 18 horas à temperatura ambiente para evitar a formação do “estolide”
(dímero). Ao final da reação, o produto foi extraído com hexano e uma solução aquosa de
ácido acético 2%, apresentando uma massa de 70-75g após a remoção do solvente. A
Figura 17 ilustra a reação descrita.
O
O C17H33O OH
O + 3 CH3OH
OH +
C17H33O O
O C17H33O OH
OH O
3
OCH3
O ricinoleato de metila foi separado dos ésteres metílicos de ácidos graxos (FAME)
não-hidroxilados por meio de método de fracionamento contracorrente (YAO et al, 2010). O
ricinoleato de metila bruto (75g) foi submetido à agitação com 500mL de hexano e 250mL
de uma solução metanol/água/ácido acético (90:10:0,5% v/v.) em um funil de separação.
Após a separação das fases, a fase rica em metanol foi transferida sequencialmente
através de mais dois funis de separação, cada um contendo 500mL de hexano, sendo a
fase final de metanol coletada como amostra número 1. A fase hexano remanescente no
primeiro funil foi lavada com 250mL de uma nova solução metanol/água/ácido acético. Este
procedimento foi repetido até serem coletadas 12 amostras das fases metanol. Para
analisar estas amostras no cromatógrafo a gás (GC), foi estabelecido o seguinte
procedimento para preparação das mesmas: 7mL de água destilada foram misturados a
2mL de hexano e a 2mL da amostra. Este procedimento foi necessário para proteger a
coluna do GC (apolar) do contato com o metanol (polar).
70
5.5 Síntese e Purificação do Éster 12-Acetilricinoleato de metila (12Ac)
OH O
NaOCH 3
+ CH 3COOCH 3
OCH 3
O O
NaOCH3
CH 3OH +
OCH3
71
formado e do excesso de anidrido, e seco com sulfato de sódio anidro. A conversão após
purificação foi de 12,9%. A Figura 19 ilustra a reação descrita.
72
5.7.2 Índice de viscosidade – ASTM D 2270
O Índice de viscosidade (IV) é um número adimensional utilizado para
caracterizar a variação da viscosidade cinemática de um produto derivado do petróleo
com a temperatura. Um elevado índice de viscosidade significa uma pequena
diminuição da viscosidade de um produto com o aumento da temperatura.
Normalmente, o valor do índice de viscosidade é determinado através de cálculos que
levam em consideração as viscosidades do produto a 40°C e a 100°C. Estes cálculos
estão descritos na norma ASTM D 2270. Em resumo, existem dois procedimentos: A,
para valores de IV até e inclusive 100, e B, para valores maiores que 100. Ambos os
procedimentos se baseiam na medição prévia das viscosidades a 40°C e a 100°C da
amostra.
Pelo procedimento A, calcula-se o IV pela equação 11:
onde: L e H são parâmetros que podem ser extraídos de uma tabela, dependendo do
valor da viscosidade a 100ºC da amostra, ou podem ser calculados (cSt); e U é a
viscosidade cinemática a 40°C da amostra (cSt).
Pelo procedimento B, calcula-se o IV pelas equações 12 e 13:
onde: L e H são parâmetros que podem ser extraídos de uma tabela, dependendo do
valor da viscosidade a 100ºC da amostra, ou podem ser calculados (cSt); e U é a
viscosidade cinemática a 40°C da amostra (cSt).
Neste trabalho, foi utilizado o programa “CALTUDO”, desenvolvido em
VisualBasic e otimizado em 2004 pelo autor desta tese, o qual fornece o IV de um
lubrificante a partir das suas viscosidades a 40 e 100°C.
73
observada em intervalos de 3ºC para avaliar as características do escoamento (Figura
21). A menor temperatura na qual se observa movimento no óleo foi reportada como o
Ponto de Fluidez.
74
Figura 22: Esquema do Equipamento Bomba Rotatória.
75
Bomba e Injetor: Waters 2695 – Alliance Separations Module
Detetor: Evaporation Light Scattering Detector – ELSD 2000ES – Alltech
Condições de detector:
Temperatura de tubo: 40°C
Fluxo de N2: 1,6 L/min
Ganho: 1
Tempo de corrida: 45 minutos
Sistema de aquisição de dados: Empower Software Waters
Fase Estacionária: Três colunas Waters Ultrastyragel, 300 x 7,8 mm, 5 µm, sendo
duas de 500 Ǻ e outra de 100 Ǻ.
Fluxo: 0,6 mL/min
Volume de injeção: 20 µL
Fase Móvel: tetrahidrofurano (THF) grau HPLC (Tedia, sem estabilizante) recém-
destilado, filtrado em membrana Millipore de PTFE (0,45µm) e degasado com
ultrassom e vácuo por 5 min (isocrático)
Soluções em torno de 1500 mg/L de amostra foram preparadas em THF,
filtradas em Millex de 15 mm (Millipore; membrana de PTFE de 0,25 µm de diâmetro
de poro) e injetadas em seguida. Os cromatogramas obtidos foram integrados.
Calibração: padrões de poliestireno.
As amostras foram diluídas em 90% hexano / 10% THF e filtradas por membrana de
0,45 µm.
Volume de injeção: 20,0 µL
Tempo de corrida: 30 min.
Nestas condições, o tempo de retenção do ricinoleato de metila é de 30 minutos.
O cálculo do percentual de conversão do ricinoleato de metila foi realizado com
base nos cromatogramas obtidos no citado equipamento. Após a integração dos picos,
foram calculadas as áreas correspondentes a cada pico (componente). Foi atribuído o
valor de 100% para a soma das áreas, e à área correspondente ao ricinoleato foi
atribuído o seu percentual. A equação 14 abaixo descreve o cálculo da conversão:
Ar
% X = 100 - x 100 (eq. 14)
At
onde: Ar = Área do pico referente ao ricinoleato de metila (mm2);
At = Área total de todos os picos referentes a todos os compostos presentes no
produto final (mm2).
Desta forma, acompanhando a redução da área do ricinoleato de metila nas
alíquotas retiradas a cada 24 horas da reação, foi possível calcular a sua conversão.
76
Não foi utilizada uma curva de calibração em função da não existência no mercado de
um padrão do produto obtido.
77
procedimento (TEKIN e HAMMOND, 2004): dissolveu-se, em hexano, 1,5g de linoleato
ou oleato de metila e 1,5g de ricinoleato ou 12-acetilricinoleato de metila, juntamente
com 160mg de palmitato de metila como padrão interno. Em seguida, foram
adicionados 12g de sílica gel H. Após 2 minutos de agitação, o hexano foi evaporado.
Foi coletado 1g de amostra para análise de índice de peróxido (IP), sem extração.
Posteriormente, a sílica gel foi removida da fase ácido acético-clorofórmio por filtração,
sendo o filtrado lavado três vezes com água destilada para remoção do ácido acético.
A seguir, a fase clorofórmio foi seca com sulfato de sódio anidro e evaporada. A
amostra foi então dissolvida em hexano para injeção no cromatógrafo a gás (coluna
não polar). O restante das amostras com sílica foram colocadas em uma estufa a
60°C, sendo coletadas amostras de 1g em intervalos regulares, para análises de IP e
GC.
O índice de peróxido das amostras foi analisado de acordo com o método oficial
da AOCS (Cd 8-53), o qual se baseia na titulação da amostra com tiosulfato de sódio.
78
5.11 Índice de Estabilidade Oxidativa (OSI) – AOCS Cd 12b-92
79
material foi então aquecido a 160°C sob agitação. E m intervalos regulares, foram
coletadas amostras de 39µL do material decomposto para análises de GC. Foi
preparada 25mL de uma solução de palmitato de metila em acetona (25mg/mL), como
padrão interno. Foram preparadas soluções (10mL) com os 39µL da amostra
decomposta e 1mL da solução de palmitato de metila e acetona. Finalmente, a
decomposição da amostra foi acompanhada por GC.
80
variância dos dados observados, mediante sua decomposição em diversas
componentes, cada uma das quais pode ser atribuída a uma fonte específica de
variação ou a um fator de variabilidade. A aplicação da técnica ANOVA só é possível a
partir de um planejamento experimental adequado.
Hipóteses a testar:
H0: στ2 = 0
H1: στ2 ≠ 0
Procedimento para o teste: partição da variação total nas componentes relativas ao
efeito do fator e erro aleatório.
81
Pode-se escrever: SQT = SQE + SQF (eq. 17)
onde: SQT = Soma de quadrados total ou variação total.
SQE = Soma dos quadrados devido ao erro
SQF = Soma dos quadrados devido ao fator.
∑∑ (y )
2
a n a n
y 2 ..
− y.. = ∑∑ y ij −
2
SQT = ij
i =1 j =1 i =1 j =1 N (eq. 18)
∑ (y )
2
a
1 a 2 y 2 ..
SQF = n
i =1
i − y.. = ∑ yi − N
n i =1 (eq. 19)
∑∑ (y )
a n 2
a
∑
2
ni
1
n= N − i =1
a −1 N
(eq. 21)
82
O intervalo de 100(1-α)% de confiança para σ2 pode ser estimado por:
QME QME
(N – a) ≤ σ 2 ≤ ( N − a)
χ 2
α / 2, N − a χ 2
(1−α / 2 ), N − a
(eq. 22)
83
As variâncias estimadas pela análise de variância dos experimentos com
fatores aleatórios podem ser usadas no cálculo de repetibilidade e reprodutibilidade.
Os experimentos fatoriais permitem estudar os efeitos de dois ou mais fatores
simultaneamente. Um experimento fatorial é um experimento no qual, em cada réplica,
são efetuadas todas as combinações dos níveis dos fatores. Dado um fator A com “a”
níveis ou tratamentos e um fator B com “b” níveis ou tratamentos, o número de
combinações de tratamentos por réplica é “ab”.
Seja a matriz de observações com dois fatores (A com a níveis e B com b
níveis) e n réplicas. O modelo estatístico pode ser expresso como:
Y ijk = µ + τ i + β i + (τ β ) ij ε ijk
, i = 1, 2, ... , a; j = 1, 2, ... , b; k = 1, 2, ... , n (eq. 26)
Hipóteses a testar:
a) Igualdade dos efeitos dos níveis do fator A:
H0: τ1 = τ2 = τ3 = ... = τa = 0
H1: pelo menos um τi ≠ 0 para algum i.
b) Igualdade dos efeitos dos níveis do fator B:
H0: β1 = β2 = β3 = ... = βb = 0
H1: pelo menos um βj ≠ 0para algum j.
c) Existência da interação entre os tratamentos:
H0: (τβ)ij = 0 para todo par (i,j)
H1: (τβ)ij ≠ 0 para algum par (i,j)
84
SQAB = Soma dos quadrados devido à interação AB.
Assim:
2 2 2
∑ ∑ ∑ (y ) ( ) ( ) ( )
a b n a b a b a b n
− y... = bn∑ (yi − y...) + an∑ y j − y... + n∑ ∑ yij − yi − y j + y... + ∑ ∑ ∑ y ijk − yij
2 2
ijk
i=1 j=1 k =1 i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1 k =1
(eq. 28)
85
E(QMA) = σ2 + (bn/(a-1)) ∑ i τ i2
(eq. 37)
E(QMB) = σ2 + (an/(b-1)) ∑ j β j2
(eq. 38)
2
E(QMAB) = σ + (n/(a-1)(b-1)) ∑ ∑ (τ β ) ij 2
i j
(eq. 39)
Os quocientes dos quadrados médios de cada fator e da interação com o
quadrado médio do erro refletem as influências dos fatores e da interação
respectivamente.
Estatística-teste:
a) Rejeitar H0: τi = 0 para todo i, ao nível de significância α, se:
86
(Resultados e Discussão). O objetivo deste planejamento foi o de determinar as
melhores condições da reação de produção de biolubrificante via catálise enzimática a
partir do biodiesel de mamona. A variável de resposta escolhida foi a conversão do
biodiesel de mamona.
Foram projetadas 54 reações para cada tempo, distribuídas aleatoriamente no
tocante à ordem de execução, conforme ilustrado na Tabela 12.
87
Tabela 12: Ordem das reações do planejamento fatorial 34-1.
Réplica % Enzima % Água Temperatura Razão Molar
Experimento (°C) (Biod./TMP)
32 2 -1 0 0 0
34 2 -1 1 -1 0
12 1 0 -1 1 -1
28 2 -1 -1 -1 -1
11 1 0 -1 0 0
17 1 0 1 0 1
36 2 -1 1 1 1
16 1 0 1 -1 -1
37 2 0 -1 -1 1
22 1 1 0 -1 -1
3 1 -1 -1 1 0
38 2 0 -1 0 0
13 1 0 0 -1 0
4 1 -1 0 -1 1
31 2 -1 0 -1 1
42 2 0 0 1 1
35 2 -1 1 0 -1
54 2 1 1 1 -1
23 1 1 0 0 1
41 2 0 0 0 -1
52 2 1 1 -1 1
25 1 1 1 -1 1
19 1 1 -1 -1 0
21 1 1 -1 1 1
40 2 0 0 -1 0
44 2 0 1 0 1
27 1 1 1 1 -1
46 2 1 -1 -1 0
49 2 1 0 -1 -1
14 1 0 0 0 -1
6 1 -1 0 1 -1
2 1 -1 -1 0 1
29 2 -1 -1 0 1
8 1 -1 1 0 -1
18 1 0 1 1 0
53 2 1 1 0 0
47 2 1 -1 0 -1
10 1 0 -1 -1 1
48 2 1 -1 1 1
50 2 1 0 0 1
20 1 1 -1 0 -1
30 2 -1 -1 1 0
7 1 -1 1 -1 0
9 1 -1 1 1 1
1 1 -1 -1 -1 -1
24 1 1 0 1 0
33 2 -1 0 1 -1
51 2 1 0 1 0
45 2 0 1 1 0
5 1 -1 0 0 0
43 2 0 1 -1 -1
26 1 1 1 0 0
15 1 0 0 1 1
39 2 0 -1 1 -1
88
6. RESULTADOS e DISCUSSÃO
89
enzimas Lipomod 34P (Candida rugosa) e Lipozyme RM IM (Rhizomucor miehei). O
acompanhamento foi feito por TLC, conforme ilustrado na Figura 25.
Provável Biolubrificante
Produtos
90
Razão molar Biodiesel/TMP: 4,5:1;
Temperatura: 42°C;
Teor de água: 12% m/m;
Teor de enzima: 0,8% m/m;
Presença de vácuo (~0,01 bar).
Mamona
100
90
80
70
% Conversão
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140
Tempo, h
91
Produtos
Soja
100
90
80
70
% Conversão
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120
Tempo, h
92
Produtos
Pinhão manso
100
90
80
70
% Conversão
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120
Tempo, h
93
Produtos
94
Biodiesel não reagido
Produtos
Pela análise das curvas, pode-se perceber que o biodiesel de mamona foi o
que apresentou maior conversão com a lipase Lipomod 34P. Este fato está de acordo
com DE MARÍA et al, 2006, os quais relatam a existência de um túnel para o
reconhecimento da cadeia do substrato presente apenas nas lipases de Candida
rugosa e Geotrichum candidum. Este túnel tem um tamanho total de cerca de 25Ǻ, e
não é reto. Pelo contrário, ele apresenta um formato em forma de “L” o qual se encaixa
perfeitamente com os requerimentos estéricos do ricinoleato de metila. Em função da
conformação deste túnel, as lipases de Candida rugosa (como a Lipomod 34P) não
são específicas para uma série de comprimentos de cadeia de ácidos graxos,
apresentando baixa atividade quando ácidos graxos poliinsaturados de cadeia longa
são utilizados. No caso da reação estudada, a conversão foi maior com o biodiesel de
mamona (ricinoleato de metila) em função da configuração da molécula deste éster e
também pela presença da hidroxila no carbono 12, a qual possibilita um melhor
encaixe no túnel citado em função da maior interação da mesma com os aminoácidos
95
presentes no túnel. As menores conversões observadas com os biodieseis de soja e
pinhão manso podem ser explicadas pela maior concentração de ésteres de ácido
linoléico e linolênico presentes nos mesmos. Segundo HOU e SHIMADA, 2009, a
especificidade das lipases de Candida rugosa é afetada pelo comprimento da cadeia
linear do ácido graxo, bem como pela quantidade e pela posição das duplas ligações,
sendo, provavelmente, menos específica para os biodieseis de pinhão manso e soja,
em função da maior presença dos ácidos linoléico e linolênico nestes substratos.
Com o objetivo de se aumentar a conversão obtida (LÄMSA, 1995), deu-se
continuidade aos experimentos utilizando, para cada biodiesel, as três enzimas
disponíveis em concentrações mais elevadas. O objetivo destas reações foi o de
verificar qual par biodiesel/enzima apresentava resultados mais promissores.
Estas reações foram analisadas em 48 e 72 horas, nas seguintes condições
descritas abaixo:
Razão molar Biodiesel/TMP: 4,5:1;
Temperatura: 45°C;
Teor de água: 14,85% m/m;
Teor de enzima: 4,00% m/m;
Pressão atmosférica.
96
Produtos
Figura 33: Placa de TLC mostrando produtos formados pela reação do biodiesel
metílico de soja com TMP utilizando a enzima Lipomod 34P, sem o uso de vácuo
(Biod/TMP=4,5:1, T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%).
97
Tabela 15: Reação de transesterificação entre biodiesel metílico de soja e TMP
com as enzimas Novozym 435, Lipozyme RM IM e Lipomod 34P (Biod/TMP=4,5:1,
T=45°C, C água=14,85%, Cenzima=4,0%).
Lipase Conversão 48 h (%) Conversão 72 h (%)
Novozym 435 20,3 26,3
Lipozyme RM IM 26,2 33,1
Lipomod 34P 24,3 21,4
98
encontradas para o biodiesel de soja (Tabela 15) foram sempre inferiores às obtidas
para o biodiesel de pinhão manso (Tabela 16), para quaisquer das enzimas testadas.
As conversões obtidas com o biodiesel de soja foram mais baixas devido,
provavelmente, a contaminantes no mesmo, tais como fosfolipídios (FREIRE et al,
2011) e produtos de oxidação, os quais inibem ou inativam a enzima utilizada. Para se
obter maiores conversões, um pré-tratamento deste biodiesel se faz necessário
(WANG e GORDON, 1991; OHTA et al, 1989).
Nos cromatogramas das Figuras 34, 35 e 36, verifica-se a gradual diminuição
do pico referente ao reagente de partida (biodiesel de pinhão manso) e o aumento dos
picos de produtos, ao longo do tempo. Pelos dados da Tabela 16, também se torna
evidente a maior conversão obtida com a enzima Novozym 435, a qual se apresentou
como a mais promissora para o biodiesel de pinhão manso.
Biodiesel
400,00
300,00
mV
200,00
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
500,00
400,00
Biodiesel
300,00
mV
200,00
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
99
700,00
600,00
500,00
400,00 Biodiesel
mV
300,00
200,00
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
100
Mamona - 34P
110
100
90
80
70
Conversão, %
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140
tempo, h
101
1800,00
36,841
1600,00
1400,00 Biodiesel
1200,00
1000,00
T = 0h
mV
800,00
600,00
400,00
200,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
600,00
Biodiesel
36,562
500,00
400,00 T = 24h
33,206
mV
300,00
200,00
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
300,00
31,016
250,00
Biodiesel
200,00
T = 48h
mV
150,00
36,628
100,00
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
350,00
30,218
300,00
250,00
200,00 Biodiesel
T = 72h
mV
150,00
100,00
36,708
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
350,00
30,253
300,00
250,00
150,00
100,00
36,715
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
29,550
300,00
250,00
200,00
Biodiesel
mV
150,00 T = 120h
100,00
36,555
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00
Minutes
102
Pinhão manso - 435
100
90
80
70
Conversão, %
60
50
40
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140
tempo, h
103
400,00
38,502
300,00
Biodiesel
T = 24h
mV
200,00
34,763
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00 52,00 54,00
Minutes
38,486
250,00
Biodiesel
200,00
150,00 T = 48h
mV
34,597
100,00
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00
Minutes
180,00
38,359
160,00
34,436
140,00 Biodiesel
120,00
100,00
T = 72h
mV
80,00
60,00
40,00
20,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00
Minutes
38,327
Biodiesel
34,403
150,00
100,00
T = 96h
mV
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00
Minutes
34,375
38,356
150,00
Biodiesel
100,00
T = 120h
mV
50,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00
Minutes
Estas reações com pinhão manso empregando a lipase Novozym 435 (Candida
antarctica) poderiam apresentar maiores conversões se fosse realizado um estudo de
otimização das condições reacionais utilizadas, com a realização de vários
experimentos em repetibilidade. Por se tratar de um biocatalisador imobilizado, devem
ser levados em conta outros parâmetros reacionais, tais como a agitação do sistema
reacional, a temperatura e a presença de solvente, para minimizar os efeitos de
104
difusão que ocorrem quando biocatalisadores imobilizados são empregados (HOU e
SHIMADA, 2009).
Com o objetivo de se investigar o efeito da pressão sobre a reação de
transesterificação nas novas condições reacionais, analisou-se a evolução da
conversão da reação com o biodiesel de mamona e a enzima 34P, sob vácuo. As
Figuras 41 e 42 mostram esta cinética. Como pode ser notado, os valores de
conversão obtidos foram bem inferiores aos das reações sem o uso de vácuo. Este
fato pode ser explicado em função do pequeno volume do reator utilizado,
possibilitando que a enzima adicionada fosse projetada nas paredes do mesmo, sob o
efeito da agitação e favorecida pela presença do forte vácuo, diminuindo a
disponibilidade de biocatalisador para a reação. Ou seja, trata-se de um efeito físico,
decorrente da utilização de um sistema reacional não adequado para a intensidade do
vácuo empregado. Alem disso, os resultados deste experimento diferem dos
observados na reação preliminar da Figura 26, em função da temperatura e do teor de
água terem sido maiores nesta reação do que na preliminar.
50
40
Conversão, %
30
20
10
0
0 20 40 60 80 100 120 140
tempo, h
105
500,00
Biodiesel
34,792
400,00
300,00
mV
200,00 T = 48h
31,643
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00 52,00 54,00
Minutes
34,529
500,00
Biodiesel
400,00
300,00
T = 72h
mV
200,00
31,372
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00 52,00 54,00
Minutes
34,557
500,00
400,00
Biodiesel
300,00 T = 96h
mV
200,00
31,340
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00 52,00 54,00
Minutes
34,570
500,00
400,00
Biodiesel
300,00 T = 120h
mV
200,00
32,400
100,00
0,00
0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 12,00 14,00 16,00 18,00 20,00 22,00 24,00 26,00 28,00 30,00 32,00 34,00 36,00 38,00 40,00 42,00 44,00 46,00 48,00 50,00 52,00 54,00
Minutes
106
biodiesel de mamona, e repetidos duas vezes, com o objetivo de se produzir
quantidade suficiente de produtos que possibilitasse uma caracterização físico-química
dos mesmos. Desta maneira, foram realizados ensaios de viscosidade a 40 e 100ºC,
cálculo do IV, ensaio de ponto de fluidez e de estabilidade oxidativa. Estes resultados
estão apresentados nas Tabelas 17, 18 e 19.
107
básico mineral (~90 min). Entretanto, o ensaio RPVOT não é o mais adequado para a
comparação de óleos minerais com óleos vegetais, conforme já discutido na seção
2.4.3.1 do capítulo 2 (Lubrificantes e Biolubrificantes). Devido à disponibilidade de
quantidade suficiente de amostra (~100g) para a realização do ensaio de estabilidade
oxidativa (RPVOT), só foi possível a análise do produto derivado do biodiesel de
mamona com a lipase Lipomod 34P para o tempo de 72 horas. Estes resultados se
devem, possivelmente, à maior especificidade da lipase de Candida rugosa utilizada
(FACCIO, 2004), quando comparada aos catalisadores químicos. Possivelmente, a
catálise enzimática reduziu bastante a formação de subprodutos comparativamente à
catálise química. Estes subprodutos afetam diretamente a estabilidade oxidativa,
devido ao fato de consistirem em moléculas que não apresentam a estrutura do TMP
totalmente substituída, constituindo-se em mono e di-glicerídeos, os quais são menos
ramificados e menos resistentes à oxidação, em função da ausência do impedimento
estérico observado nos tri-substituídos.
Já em termos de índice de viscosidade, os produtos obtidos a partir do
biodiesel de soja foram os que apresentaram maiores valores, devido ao fato dos
mesmos apresentarem em sua composição uma quantidade maior de moléculas de
ácidos graxos (ácido linoléico) com duas duplas ligações.
Em relação ao ponto de fluidez, observou-se uma nítida diferença entre os
produtos derivados do biodiesel de mamona e os demais. O fato da molécula do
ricinoleato de metila apresentar apenas uma dupla ligação, além de uma hidroxila, faz
com que as propriedades em baixas temperaturas do biolubrificante derivado dele
sejam diferentes das dos biolubrificantes derivados dos biodieseis de pinhão manso e
de soja. Já os produtos derivados do biodiesel de soja apresentam pontos de fluidez
mais baixos do que os derivados do biodiesel de pinhão manso em função do maior
teor de ácido linoléico presente na composição do biodiesel de soja. As presenças do
grupo hidroxila e da dupla ligação na molécula do biodiesel de mamona contribuem
para um baixo ponto de fluidez do mesmo, em função da geometria espacial da dupla
ligação e da hidroxila evitarem um empacotamento da molécula, fazendo com que a
mesma permaneça fluida em baixas temperaturas (VIEIRA, 2012).
Em função das propriedades físico-químicas obtidas, das maiores conversões
e do caráter inédito da pesquisa, escolheu-se o sistema reacional composto pelo
biodiesel metílico de mamona e a enzima Lipomod 34P para dar continuidade a este
estudo.
108
6.3 Planejamento Experimental
109
Tabela 20: Planejamento fatorial 34-1 com 72 horas de reação.
Razão Molar Conversão do
Experimento Réplica % Enzima % Água Temperatura (°C)
(Biod./TMP) Biodiesel (%)
1 1 1,0 1,0 40 3,130 68,15
2 1 1,0 1,0 45 4,700 45,14
3 1 1,0 1,0 50 3,915 6,99
4 1 1,0 6,0 40 4,700 74,76
5 1 1,0 6,0 45 3,915 5,13
6 1 1,0 6,0 50 3,130 3,45
7 1 1,0 11,0 40 3,915 93,23
8 1 1,0 11,0 45 3,130 7,39
9 1 1,0 11,0 50 4,700 4,71
10 1 2,5 1,0 40 4,700 95,17
11 1 2,5 1,0 45 3,915 96,03
12 1 2,5 1,0 50 3,130 14,14
13 1 2,5 6,0 40 3,915 67,76
14 1 2,5 6,0 45 3,130 6,01
15 1 2,5 6,0 50 4,700 4,16
16 1 2,5 11,0 40 3,130 95,86
17 1 2,5 11,0 45 4,700 95,66
18 1 2,5 11,0 50 3,915 5,04
19 1 4,0 1,0 40 3,915 97,53
20 1 4,0 1,0 45 3,130 97,12
21 1 4,0 1,0 50 4,700 74,58
22 1 4,0 6,0 40 3,130 93,64
23 1 4,0 6,0 45 4,700 9,37
24 1 4,0 6,0 50 3,915 5,12
25 1 4,0 11,0 40 4,700 94,92
26 1 4,0 11,0 45 3,915 97,45
27 1 4,0 11,0 50 3,130 6,04
28 2 1,0 1,0 40 3,130 65,62
29 2 1,0 1,0 45 4,700 49,52
30 2 1,0 1,0 50 3,915 9,60
31 2 1,0 6,0 40 4,700 70,75
32 2 1,0 6,0 45 3,915 5,92
33 2 1,0 6,0 50 3,130 3,83
34 2 1,0 11,0 40 3,915 96,20
35 2 1,0 11,0 45 3,130 5,11
36 2 1,0 11,0 50 4,700 4,57
37 2 2,5 1,0 40 4,700 94,79
38 2 2,5 1,0 45 3,915 95,32
39 2 2,5 1,0 50 3,130 12,80
40 2 2,5 6,0 40 3,915 66,26
41 2 2,5 6,0 45 3,130 9,00
42 2 2,5 6,0 50 4,700 6,05
43 2 2,5 11,0 40 3,130 95,80
44 2 2,5 11,0 45 4,700 95,98
45 2 2,5 11,0 50 3,915 7,44
46 2 4,0 1,0 40 3,915 95,42
47 2 4,0 1,0 45 3,130 96,10
48 2 4,0 1,0 50 4,700 74,24
49 2 4,0 6,0 40 3,130 94,33
50 2 4,0 6,0 45 4,700 15,43
51 2 4,0 6,0 50 3,915 6,77
52 2 4,0 11,0 40 4,700 96,28
53 2 4,0 11,0 45 3,915 96,85
54 2 4,0 11,0 50 3,130 6,66
110
Com o auxílio do programa Statistica, foram obtidos a tabela ANOVA, o cálculo
dos efeitos, os coeficientes de regressão do modelo e o gráfico de Pareto para o
tempo de 72 horas de reação, conforme descrito nas Tabelas 21 a 23 e na Figura 43.
111
Tabela 23: Coeficientes de regressão para os experimentos com 72 horas.
Coeficientes Erro t(39) p -95.% +95.%
de Padrão Limite de Limite de
Fator Regressão cnf cnf
Média/Intercepção 36,2450 8,284845 4,3749 0,000088 19,4873 53,0027
(3)Temperatura (oC)(L) -36,1189 3,382274 -10,6789 0,000000 -42,9602 -29,2776
% Água(Q) 30,4992 5,858270 5,2062 0,000007 18,6497 42,3486
(1)% Enzima(L) 14,9383 3,382274 4,4167 0,000077 8,0970 21,7796
2L X 3L -10,8774 4,278276 -2,5425 0,015089 -19,5311 -2,2238
1L X 4L -7,9264 4,278276 -1,8527 0,071501 -16,5801 0,7272
(4)Razão Molar (Biod./TMP)(L) 6,2508 3,382274 1,8481 0,072179 -0,5905 13,0921
(2)% Água(L) -5,0853 3,382274 -1,5035 0,140763 -11,9266 1,7560
2L X 4L 4,6650 4,278276 1,0904 0,282232 -3,9886 13,3186
% Enzima(Q) -4,1283 5,858270 -0,7047 0,485183 -15,9778 7,7211
3L X 4L 3,6611 4,278276 0,8557 0,397366 -4,9925 12,3147
1L X 2L -3,3756 4,278276 -0,7890 0,434883 -12,0292 5,2781
Razão Molar (Biod./TMP)(Q) -3,3608 5,858270 -0,5737 0,569471 -15,2103 8,4886
1L X 3L 2,7017 4,278276 0,6315 0,531408 -5,9520 11,3553
Temperatura (oC)(Q) -1,2333 5,858270 -0,2105 0,834351 -13,0828 10,6161
Conforme pôde ser visto, a variável temperatura foi a que apresentou maior
efeito estatístico sobre o rendimento da reação estudada. Em média, um aumento na
temperatura do nível inferior (40oC) para o nível superior (50oC), provocou uma
112
redução de aproximadamente 72% na conversão. Isto de certa forma já era esperado,
uma vez que em temperaturas maiores a lipase da Candida rugosa pode ter a sua
atividade reduzida (GUNSTONE e PADLEY, 1997). Em seguida estão as variáveis
teor de água e teor de enzima. Um aumento no teor de água do nível inferior (1%)
para o nível superior (11%) ocasionou uma redução de aproximadamente 30% na
conversão. Isto se explica em função de um aumento na atividade de água favorecer a
reação de hidrólise e a mesma atuar como inibidor competitivo da reação de
transesterificação (GUNSTONE e PADLEY, 1997). E um aumento no teor de enzima
de 1 para 4% provocou um crescimento médio de 30% na conversão da reação,
devido à maior disponibilidade de biocatalisador (LÄMSA, 1995).
113
Tabela 24: Planejamento fatorial 34-1 com 100 horas de reação.
Razão Molar Conversão do
Experimento Réplica % Enzima % Água Temperatura (°C)
(Biod./TMP) Biodiesel (%)
1 1 1,0 1,0 40 3,130 62,22
2 1 1,0 1,0 45 4,700 82,26
3 1 1,0 1,0 50 3,915 89,92
4 1 1,0 6,0 40 4,700 78,36
5 1 1,0 6,0 45 3,915 7,99
6 1 1,0 6,0 50 3,130 3,26
7 1 1,0 11,0 40 3,915 96,85
8 1 1,0 11,0 45 3,130 8,03
9 1 1,0 11,0 50 4,700 4,23
10 1 2,5 1,0 40 4,700 96,44
11 1 2,5 1,0 45 3,915 96,93
12 1 2,5 1,0 50 3,130 13,46
13 1 2,5 6,0 40 3,915 92,62
14 1 2,5 6,0 45 3,130 12,02
15 1 2,5 6,0 50 4,700 4,50
16 1 2,5 11,0 40 3,130 91,63
17 1 2,5 11,0 45 4,700 76,00
18 1 2,5 11,0 50 3,915 6,54
19 1 4,0 1,0 40 3,915 95,58
20 1 4,0 1,0 45 3,130 92,40
21 1 4,0 1,0 50 4,700 92,00
22 1 4,0 6,0 40 3,130 98,10
23 1 4,0 6,0 45 4,700 19,85
24 1 4,0 6,0 50 3,915 10,12
25 1 4,0 11,0 40 4,700 96,94
26 1 4,0 11,0 45 3,915 93,93
27 1 4,0 11,0 50 3,130 7,46
28 2 1,0 1,0 40 3,130 64,32
29 2 1,0 1,0 45 4,700 84,25
30 2 1,0 1,0 50 3,915 90,32
31 2 1,0 6,0 40 4,700 83,59
32 2 1,0 6,0 45 3,915 5,69
33 2 1,0 6,0 50 3,130 4,07
34 2 1,0 11,0 40 3,915 92,06
35 2 1,0 11,0 45 3,130 9,41
36 2 1,0 11,0 50 4,700 4,72
37 2 2,5 1,0 40 4,700 97,92
38 2 2,5 1,0 45 3,915 96,45
39 2 2,5 1,0 50 3,130 13,20
40 2 2,5 6,0 40 3,915 87,38
41 2 2,5 6,0 45 3,130 6,56
42 2 2,5 6,0 50 4,700 5,25
43 2 2,5 11,0 40 3,130 92,28
44 2 2,5 11,0 45 4,700 79,90
45 2 2,5 11,0 50 3,915 5,03
46 2 4,0 1,0 40 3,915 98,30
47 2 4,0 1,0 45 3,130 94,44
48 2 4,0 1,0 50 4,700 97,11
49 2 4,0 6,0 40 3,130 97,99
50 2 4,0 6,0 45 4,700 19,27
51 2 4,0 6,0 50 3,915 6,75
52 2 4,0 11,0 40 4,700 97,29
53 2 4,0 11,0 45 3,915 93,14
54 2 4,0 11,0 50 3,130 6,34
114
Assim como no planejamento anterior, com o auxílio do programa Statistica,
foram obtidos a tabela ANOVA, o cálculo dos efeitos, os coeficientes de regressão do
modelo e o gráfico de Pareto para o tempo de 100 horas de reação, conforme ilustrado
nas Tabelas 25 a 27 e na Figura 44.
115
Tabela 27: Coeficientes de regressão para os experimentos com 100 horas.
Coeficientes Erro t(39) p -95.% +95.%
de Padrão Limite de Limite de
Fator Regressão Cnf Cnf
Média/Intercepção 38,8294 7,611124 5,1017 0,000009 23,4345 54,2244
(3)Temperatura (°C)(L) -32,0997 3,107228 -10,3307 0,000000 -38,3847 -25,8148
% Água(Q) 31,4600 5,381878 5,8455 0,000001 20,5741 42,3459
2L X 3L -20,1801 3,930368 -5,1344 0,000008 -28,1300 -12,2302
(2)% Água(L) -13,7706 3,107228 -4,4318 0,000074 -20,0555 -7,4856
Razão Molar (Biod./TMP)(Q) -12,0592 5,381878 -2,2407 0,030814 -22,9450 -1,1733
1L X 4L -11,7271 3,930368 -2,9837 0,004894 -19,6770 -3,7772
(1)% Enzima(L) 9,5961 3,107228 3,0883 0,003700 3,3111 15,8811
(4)Razão Molar (Biod./TMP)(L) 9,5192 3,107228 3,0636 0,003954 3,2342 15,8041
3L X 4L 6,0816 3,930368 1,5473 0,129862 -1,8684 14,0315
1L X 2L 4,9896 3,930368 1,2695 0,211790 -2,9604 12,9395
1L X 3L -4,4463 3,930368 -1,1313 0,264847 -12,3963 3,5036
% Enzima(Q) 3,8983 5,381878 0,7243 0,473178 -6,9875 14,7842
2L X 4L -3,8620 3,930368 -0,9826 0,331858 -11,8119 4,0879
Temperatura (°C)(Q) 3,5308 5,381878 0,6561 0,515638 -7,3550 14,4167
116
o nível superior (50oC), provocou uma redução de aproximadamente 64% na
conversão. Isto de certa forma já era esperado, uma vez que em temperaturas e
tempos maiores, o catalisador (enzima) pode ter a sua atividade ainda mais reduzida.
Em seguida, para 100 horas de reação, vêm as variáveis teor de água e a interação
entre as variáveis temperatura e teor de água.
De forma geral, pôde-se observar que os rendimentos das reações com 100
horas foram ligeiramente superiores aos das reações com 72 horas, com a variável
temperatura sendo a mais importante.
Desta maneira, escolheu-se a reação de maior rendimento nos dois
planejamentos (19 e 46) para se realizar um acompanhamento cinético. A reação 19
foi executada em duplicata por 96 horas, com alíquotas sendo retiradas nos tempos 6;
13; 18; 24; 36,5; 48; 60,5; 72; 84,5 e 96 horas, para determinação das conversões
através de análise em HPLC. Os resultados podem ser vistos na Figura 45.
Cinética Enzimática
120
100
80
% de Conversão
60
40
20
0
0 20 40 60 80 100 120
Tempo, h
117
Figura 46: Determinação da taxa de conversão da reação 19 (Biod/TMP=3,915:1,
T=40°C, C água=1,0%, Cenzima=4,0%) ao longo do tempo.
118
e térmica destes compostos, propriedades identificadas como críticas no
desenvolvimento de formulações de biolubrificantes para aplicações no mercado
consumidor. Para tanto, fizeram-se necessárias as sínteses por catálise química de
compostos biolubrificantes (incluindo alguns precursores), com o objetivo de se avaliar
as propriedades desejadas. Estas avaliações podem perfeitamente ser realizadas com
produtos obtidos por via enzimática, o que não foi possível neste trabalho em função
da demanda de uma quantidade maior de produto a ser sintetizado.
119
metila, pois reduzem as suas estabilidades oxidativa e hidrolítica, além de provocar
corrosão.
A fração 1 da extração contracorrente foi tratada com NaHCO3, água quente
(60oC) e hexano, para remoção dos ácidos graxos livres. Após este procedimento, foi
realizada outra análise de TLC, a qual confirmou o desaparecimento destes ácidos. A
presença destes ácidos graxos livres na fração número 1 ocorreu devido à umidade
presente no catalisador metóxido de sódio utilizado nas reações de transesterificação
entre óleo de mamona e metanol. Percebeu-se que estes ácidos se concentravam no
fundo do recipiente de coleta.
A extração contra-corrente foi realizada mais quatro vezes, com amostras de
75g de ricinoleato de metila. Os ácidos graxos livres não foram detectados nestas
extrações, devido ao fato de ter sido evitada a coleta de material do fundo do
recipiente.
Foram calculados a massa média e o desvio padrão de cada fração, conforme
pode ser visto na Figura 47. Foram descartados os dados da primeira batelada,
considerados “outliers”.
120
6.4.2 Síntese e purificação do 12-acetilricinoleato de metila (12Ac)
A síntese do produto 12Ac foi decidida após analise da sua estrutura molecular,
a qual o caracteriza como um potencial biolubrificante. Este composto, conforme visto
na Figura 18, apresenta uma ramificação no carbono 12, a qual é benéfica para a
estabilidade oxidativa da molécula, de acordo com o explicado na seção 2.4.3.1
(Estabilidade Térmica e Oxidativa).
O produto 12Ac foi obtido a partir do ricinoleato de metila previamente
sintetizado. Após 3 horas de reação, a conversão foi de aproximadamente 90%. O
produto foi analisado através de GC, apresentando uma pureza de 88,58%, sendo o
restante composto pelo ricinoleato de metila não reagido. Após a etapa de extração, o
rendimento total diminuiu para 79,07%.
Trabalhos anteriores (YAO et al, 2010) purificaram este produto por meio do
uso de cromatografia por coluna. No entanto, em função da necessidade de grandes
quantidades presente neste trabalho, a primeira tentativa de purificação do 12Ac foi
realizada através do emprego de um método de extração contracorrente similar ao
empregado na prévia purificação do ricinoleato de metila, utilizando-se hexano e uma
solução aquosa de metanol (90%) (BERDEAUX et al, 1997). O objetivo desta
purificação consistia em se separar o ricinoleato de metila residual (mais polar) do
12Ac (menos polar). Após análises de GC, confirmou-se a pureza de 100% do 12Ac
purificado, após doze etapas de extração com hexano e metanol. No entanto, o
rendimento deste procedimento foi de apenas 23,84%.
Uma segunda tentativa do método de extração contracorrente foi realizado com
uma amostra de 1,06g do produto 12Ac, utilizando-se hexano e uma solução aquosa
de metanol (89%). A diferença básica desta nova extração consistiu, além do aumento
da polaridade da solução de metanol (maior teor de água), na análise por GC da
composição das fases hexano e metanol a cada etapa do processo. Os resultados das
fases hexano e metanol desta separação são mostrados na Tabela 29. Em cada etapa
foi adicionada uma solução pura de metanol.
Tabela 29: Composição das fases para cada etapa da extração (a fase hexano da
primeira separação foi conduzida para os funis de separação subseqüentes).
0 1 2 3
Etapa
12Ac MeR 12Ac MeR 12Ac MeR 12Ac MeR
Fase Hexano, % 88 12 87 13 93 7 100 0
Fase Metanol, % 57 43 - - - - - -
121
Pode-se observar que, com apenas três etapas, atingiu-se a pureza de 100%
do 12Ac. A fração metanol resultante da primeira etapa de extração (0) foi submetida a
novas separações, empregando-se para cada etapa um volume puro de hexano. Os
resultados deste tratamento são mostrados na Tabela 30.
Tabela 30: Composição das fases para cada etapa da extração (a fase metanol
da primeira separação foi conduzida para os funis de separação subseqüentes).
0 1 2 3
Etapa
12Ac MeR 12Ac MeR 12Ac MeR 12Ac MeR
Fase Hexano, % 88 12 76,5 23,5 73 27 87 13
Fase Metanol, % 57 43 - - - - - -
122
Figura 48: Diagrama do método de extração contracorrente com as fases
hexano.
Após estas oito etapas, foi atingida uma pureza de 12Ac de 100%, com um
rendimento de 27,17%, o qual foi somado ao rendimento da primeira extração,
resultando em um rendimento de recuperação de 12Ac de 75,38%.
As oito fases metanólicas foram submetidas a uma terceira extração
contracorrente, utilizando novamente uma fase hexano puro. A pureza final foi de
100% de 12Ac e o rendimento desta extração foi de 7,00%. Desta forma, o rendimento
total do processo de extração contracorrente foi de 82,38%.
123
6.4.3 Oxidação de superfície
124
Tabela 32: IP e teor de linoleato de metila não oxidado das amostras oxidadas ao
longo do tempo.
Dia
0 1 2
IP, meq/kg 0,00 268,69 358,52
MeLi não oxidado, % 100,00 5,22 3,25
Tabela 33: IP e teor de linoleato de metila não oxidado das amostras oxidadas ao
longo do tempo, empregando-se sílica gel purificada.
Dia
0 1 2
IP, meq/kg 0,00 311,89 311,89
MeLi não oxidado, % 100,00 2,42 0,35
Mais uma vez, devido à rápida taxa de oxidação, decidiu-se interromper esta
análise. A primeira amostra coletada foi analisada através de espectrometria de massa
(GC-MS). Como se pode observar na Figura 50, o produto referente ao primeiro dia de
oxidação do MeLi foi composto por epóxidos, hidroperóxidos, hidróxidos e produtos de
cisão, em conformidade com os resultados obtidos por TEKIN e HAMMOND, 2004. O
tratamento da sílica gel aparentemente obteve êxito, uma vez que reduziu o teor de
epóxidos e aumentou a quantidade de produtos de cisão.
125
Figura 50: Cromatograma do produto referente ao primeiro dia da oxidação do
MeLi através de oxidação de superfície.
126
IP MeR + MeLi
600
500
IP, meq/kg
400
300
200
100
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Dia
IP 12Ac + MeLi
600
500
400
IP, meq/kg
300
200
100
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Dia
127
% Nox - MeR + MeLi
100
90
Teor de Material não oxidado, %
80
70
60
50
MeR, %
40
MeLi, %
30
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Dia
Figura 53: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
MeR + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC.
80
70
12Ac, %
60
MeLi, %
50
40
30
20
10
0
0 2 4 6 8 10 12 14 16
Dia
Figura 54: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
12Ac + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a
60oC.
128
Como se pode observar, os valores de IP da amostra MeR + MeLi são bem
mais elevados do que os obtidos no teste preliminar contendo apenas MeR. Os
valores de IP aumentam rapidamente, atingem um máximo em 1 dia, e, então,
declinam lentamente. Este rápido crescimento dos valores de IP é conhecido como
sendo dependente das quantidades dos vários metais de transição presentes na sílica
gel (PORTER et al, 1972; KOPRUCUOGLU et al, 2011), e a oxidação de superfície
parece seguir a equação para oxidação catalisada por metal (POKORNY, 1987):
= (eq. 48)
dt 2k t
129
taxa pela qual o FAME desaparece, e, em oxidação de superfície, esta perda deve
seguir uma cinética de primeira ordem.
A perda de um átomo de hidrogênio por um FAME é também bastante sensível
à presença de traços de antioxidantes (TEKIN e HAMMOND, 2004). Na técnica de
oxidação de superfície, se há a presença de uma pequena quantidade de antioxidante,
a perda do hidrogênio do RH se tornará lenta, atingindo a sua taxa característica
quando o teor deste antioxidante se tornar muito baixo.
Além disso, em ambas as amostras, a taxa de oxidação do MeLi foi maior do
que a taxa do MeR e do 12Ac. Com o objetivo de se quantificar a taxa de oxidação dos
três compostos envolvidos nos ensaios, realizou-se a determinação da cinética de
oxidação de ambas as amostras através da construção de gráficos logarítmicos das
mesmas, conforme ilustrado nas Figuras 55 e 56.
130
Figura 56: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo 12Ac + MeLi (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC.
131
Após observar que as oxidações dos compostos MeR, 12Ac e MeLi ocorreram
fundamentalmente com maior intensidade nos dois primeiros dias, e com o objetivo de
se obter dados mais consistentes, resolveu-se repetir a oxidação destes compostos na
mesmas condições anteriores, porém em intervalos de tempo de 56 e 72 horas. Nesta
ocasião as análises foram realizadas em duplicata, a fim de se possibilitar o
tratamento estatístico. Os resultados podem ser vistos nas Figuras 57, 58, 59 e 60.
IP MeR + MeLi
450
400
350
300
IP, meq/kg
250
200
150
100
50
0
0 10 20 30 40 50 60
Horas
132
IP 12Ac + MeLi
300
250
200
IP, meq/kg
150
100
50
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Horas
80
70
60
50 MeR, %
40 MeLi, %
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60
Horas
Figura 59: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
MeR + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC
por 56 horas.
133
% Nox - 12Ac + MeLi
100
90
Teor de Material não oxidado, %
80
70
60 12Ac, %
MeLi, %
50
40
30
20
10
0
0 10 20 30 40 50 60 70 80
Horas
Figura 60: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
12Ac + MeLi (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC
por 72 horas.
134
Figura 61: Curva para determinação da cinética de oxidação da amostra
contendo MeR + MeLi (1:1), no ensaio de oxidação de superfície a 60oC por 56
horas.
135
A partir da determinação do coeficiente angular das retas que melhor se
ajustaram aos dados das figuras anteriores, por meio de regressão linear, pôde-se
calcular a taxa de oxidação de cada composto. Desta forma, a estabilidade relativa
entre os compostos analisados pode ser vista na Tabela 35.
136
IP MeR + MeO
30
20
IP, meq/kg
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Dias
IP 12Ac + MeO
30
20
IP, meq/kg
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Dias
137
% Nox - MeR + MeO
100
Teor de Material não oxidado, %
90
80
70
MeR, %
60 MeO, %
50
40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Dias
Figura 65: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
MeR + MeO (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC
por 44 dias.
80
12Ac, %
70
MeO, %
60
50
40
30
20
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50
Dias
Figura 66: Valores de Nox (teor de material não oxidado) da amostra contendo
12Ac + MeO (1:1) ao longo do tempo, no ensaio de oxidação de superfície a 60oC
por 44 dias.
138
Conforme observado nas curvas anteriores, ambas as amostras contendo MeO
apresentaram oxidação inferior às amostras que continham MeLi, mesmo em um
período de tempo bem maior (44 dias). Isto pode ser constatado tanto pelos valores de
IP quanto pelos valores de material não oxidado. Estes resultados confirmaram a
hipótese da necessidade de uma fonte geradora de radicais livres, como o MeLi, para
iniciar a oxidação dos compostos MeR e 12Ac. Devido à grande estabilidade oxidativa
do MeO nas condições do ensaio, a taxa de oxidação destes compostos foi muito
pequena (MeR) ou praticamente inexistente (12Ac).
Com o objetivo de se quantificar a taxa de oxidação do MeR, realizou-se a
determinação da cinética de oxidação da amostra contendo este composto através da
construção do gráfico logarítmico da mesma, conforme ilustrado na Figura 67.
139
6.4.4 Índice de estabilidade oxidativa - OSI
Tabela 36: Horas OSI a 110°C para amostras replicad as de ésteres metílicos
puros e em combinações.
Amostra Horas OSI *
Ricinoleato de metila (MeR) 3,35 ± 0,00c
Oleato de metila (MeO) 1,65 ± 0,42d
Linoleato de metila (MeLi) 0,60 ± 0,07e
12-acetilricinoleato de metila (12Ac) 6,78 ± 0,40a
MeR + MeO 2,10 ± 0,07d
MeR + MeLi 0,50 ± 0,00e
12Ac + MeO 4,60 ± 0,07b
12Ac + MeLi 0,68 ± 0,11e
* Média com desvio padrão para duas réplicas.
140
compostos, enquanto que nas misturas com o oleato de metila esta diminuição foi
menor. Desta forma, conclui-se que a estabilidade relativa dos ésteres metílicos pode
variar amplamente com a temperatura de utilização e com a presença de fontes de
radicais livres.
Assim como na oxidação de superfície, a estabilidade do ricinoleato de metila
foi acentuadamente melhorada pela inserção de um grupo éster no seu grupo hidroxi
situado no carbono 12. Presume-se, assim, que a presença deste grupo éster afeta a
facilidade de remoção do hidrogênio do carbono 11 do éster ricinoléico.
O
O
O H
O
O
O
O
O
Triacetina Acetil-TMP
141
rendimentos observados se deveram a grandes perdas de material no procedimento
de purificação com lavagens sucessivas com água em ebulição, o que poderia estar
provocando a reação de hidrolise do Acetil-TMP formado. Além disso, em cada etapa
de lavagem, havia a formação de uma forte emulsão, difícil de ser separada. Novas
metodologias de purificação do Acetil-TMP serão testadas. Após estas duas sínteses,
obteve-se aproximadamente 7g de Acetil-TMP 100% puro (GC e RMN), suficiente para
as análises de TGA. A Figura 69 mostra o espectro de RMN do produto Acetil-TMP
sintetizado.
As Figuras 70, 71, 72, 73, 74 e 75 mostram os resultados das análises de TGA
dos dois compostos estudados.
142
Triacetina - Massa x Tempo
35
30
25
Massa, mg
20
15
10
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Tempo, min
30
25
Massa, mg
20
15
10
0
28,8 78,8 128,8 178,8 228,8 278,8 328,8 378,8
o
Temperatura, C
143
5
Derivada da Massa x Temperatura - Triacetina
4,5
3,5
Derivada, %/ C
3
o
2,5
1,5
0,5
0
0 25 50 75 100 125 150 175 200 225 250 275 300 325 350
o
Temperatura, C
5
Massa, mg
0
0 5 10 Tempo, min. 15 20 25
144
Massa x Temperatura - Acetil-TMP
7
5
Massa, mg
0
29 49 69 89 109 129 149 169 189
o
Temperatura, C
3,5
3
Derivada, %/oC
2,5
2 Triacetina
Acetil-TMP
1,5
0,5
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200 220
o
Temperatura, C
145
observadas com o Acetil-TMP. Esta constatação não está de acordo com o citado na
literatura, a qual afirma exatamente o oposto (MOULOUNGUI e PELET, 2001). Com o
objetivo de se investigar melhor estes resultados, foi realizada uma análise de TGA
com a Triacetina à temperatura constante de 160oC. Os resultados estão nas Figuras
76, 77 e 78.
6
Massa, mg
0
0 1 2 3 4 5 6 7 8
Tempo, min.
Figura 76: Curva TGA – Massa x Tempo para o composto Triacetina a 160oC.
146
Massa x Temperatura - Triacetina2
9
6
Massa, mg
0
27 47 67 87 107 127 147 167
o
Temperatura, C
14
12
10
Derivada, %/ C
o
0
0 20 40 60 80 100 120 140 160 180
-2
o
Temperatura, C
147
160oC. O objetivo inicial era acompanhar-se o decréscimo de massa com o tempo, a
esta temperatura.
O ponto de ebulição da Triacetina é de 260oC e o do Acetil-TMP é um pouco
superior a este valor. Desta forma, nas condições das análises TGA, as temperaturas
finais (160oC) estavam bem distantes das temperaturas de ebulição de ambos os
compostos. Assim, poder-se-ia concluir que a perda de massa observada seria devido
a uma real decomposição, ao invés de volatilização. No entanto, as curvas TGA de
massa x temperatura mostraram apenas um degrau de perda de peso, o que de
acordo com SANTOS et al., 2004, indica a ocorrência de uma parcela de volatilização.
Esta volatilização observada foi do ácido acético formado na decomposição térmica de
ambos os compostos.
Em função dos resultados não consistentes na avaliação da estabilidade
térmica da Triacetina e do Acetil-TMP empregando-se TGA, decidiu-se analisar a
decomposição térmica destes dois compostos em um aparato de laboratório (descrito
no capítulo 5 - Metodologia), por meio do uso de GC para determinação dos produtos
de decomposição. A decomposição térmica por refluxo durante vários dias produziu
um forte odor de ácido acético com ambos os ésteres, e as análises por cromatografia
gasosa mostraram perdas para os mesmos. Não foi possível quantificar o ácido
acético produzido através de titulação, uma vez que a amostra era demasiado escura
para titulação colorimétrica, e a quantidade da mesma impossibilitava titulação
potenciométrica. Os resultados a 170°C podem ser vi stos na Figuras 79 e 80. O
comportamento em outras temperaturas foi similar.
148
Triacetina Decomposição a 170oC
110
80
Triacetina Massa, %
70
60
50
40
30
20
10
0
0 50 100 150 200 250
Horas
80
Acetil-TMP Massa, %
70
60
50
40
30
20
10
0
0 50 100 150 200 250 300 350 400
Horas
149
parece ser mais termicamente estável do que a Triacetina, uma vez que a taxa de
decomposição deste último é levemente mais elevada do que a do acetil-TMP. Estes
resultados parecem estar em acordo com a hipótese da instabilidade do hidrogênio
beta (MOULOUNGUI e PELET, 2001). O estudo de decomposição térmica com o
aparato de laboratório se mostrou mais realista e confiável na avaliação da
estabilidade térmica dos ésteres testados do que os ensaios com TGA, em função do
maior controle das reações de decomposição.
Com o intuito de se confirmar a confiabilidade nos resultados obtidos com GC,
a quantidade de acetil-TMP não oxidado após 336 horas (14 dias) foi determinada
através de cromatografia de camada fina preparativa. O resultado obtido por esta
técnica foi de 74,11%, enquanto apenas com o GC foi de 73,26%. Logo, os valores
obtidos foram bem próximos, confirmando os resultados anteriormente obtidos apenas
com GC.
150
7. CONCLUSÕES
151
oxidação seguiu uma cinética de primeira ordem, em contraste com as reações
autocatalíticas observadas em oxidações no seio do líquido. O método de oxidação de
superfície também requer pequenas quantidades de amostras. A desvantagem desta
metodologia reside no fato de que a oxidação de ésteres monoinsaturados pode ser
tão baixa que se torna difícil de ser observada a 60°C ou menos, além da não
uniformidade na distribuição de metais na superfície da sílica poder introduzir erros
significativos, especialmente quando a taxa de oxidação é baixa. Possivelmente, a
remoção da maior parte dos íons metálicos com ácido e a sua substituição por uma
quantidade conhecida de metais de transição poderia minimizar estes erros, pois,
neste caso, ter-se-ia um maior controle e uma maior uniformidade dos produtos de
cisão formados. A estabilidade relativa do ricinoleato de metila foi significativamente
melhorada pela conversão do seu grupo hidroxila em um grupo éster, provavelmente
devido ao hidrogênio de carbono 11 do ricinoleato estar mais fortemente ligado (efeito
estérico). Para se obter uma maior estabilidade oxidativa em lubrificantes com base
em óleo de mamona, os ácidos graxos poliinsaturados devem ser removidos
rigorosamente e antioxidantes efetivos devem ser adicionados.
E finalmente, no tocante à estabilidade térmica, este trabalho resultou no
estudo experimental da decomposição térmica de ésteres via hidrogênio β, os quais
são utilizados como biolubrificantes. A utilização do refluxo acompanhado por GC
conduziu ao desenvolvimento de uma ferramenta experimental para estudar a
estabilidade térmica de biolubrificantes derivados de óleos vegetais. Os resultados
desta decomposição térmica acoplada a análises de GC pareceu estar de acordo com
a hipótese de instabilidade devido ao hidrogênio β.
152
8. TRABALHOS PUBLICADOS E PATENTES GERADAS
153
9. RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
154
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166
11. ANEXO 1
dC A
− = kC A (eq. 1)
dt
CA
dC A t
∫ − C A = ∫0 kdt
C A0
(eq. 2)
C
ln A0 = kt (eq. 4)
CA
C A = C A0 e -kt (eq. 5)
167
Figura a: Evolução da conversão do ricinoleato de metila (MeR) da reação 19
(Biod/TMP=3,915:1, T=40°C, C água=1,0%, Cenzima=4,0%) ao longo do tempo.
168
determinada diretamente da curva de conversão com o tempo (3,96h-1), conforme
Figura 46 (Página 118). Levaram-se aqui em consideração os dados referentes a todo
o tempo de duração da reação (96 horas), embora a reação tenha atingido o equilíbrio
após 24 horas, conforme mostrado na Figura 45 (Página 117).
169