Diagnostico Laboratorial Febre Amarela Sep2018
Diagnostico Laboratorial Febre Amarela Sep2018
Diagnostico Laboratorial Febre Amarela Sep2018
O vírus da febre amarela pertence ao gênero Flavivirus e se encontra relacionado a outros vírus do
mesmo gênero como os da dengue, Zika, encefalite japonesa e encefalite do Nilo Ocidental. Pode ser
transmitido a humanos principalmente por vetores selváticos, mosquitos dos gêneros Haemagogus y
Sabethes, assim como também pelo mosquito Aedes aegypti (1-3). O espectro clínico da febre amarela
varia desde uma infecção assintomática ou leve até um quadro grave com hemorragia e icterícia que
pode ser fatal (1-4). A suspeita diagnóstica da febre amarela é baseada nas características clínicas,
lugares y data de viagem do paciente (se o paciente é de um país ou área não endémica) e as atividades
e a história epidemiológica do lugar onde possivelmente ocorreu a infecção. Contudo, o diagnóstico
específico e a confirmação dos casos requerem análises laboratoriais.
A medida mais importante de prevenção contra a febre amarela é a vacinação. Ensaios clínicos têm
demonstrado que 80-100% das pessoas vacinadas desenvolvem uma imunidade efetiva após 10 dias, e
99% após 30 dias. Apesar da vacina contra a febre amarela ser segura e raramente causar efeitos
adversos, as contraindicações e práticas seguras de imunização devem ser respeitadas (1-3).
Considerações de biossegurança
Todas as amostras biológicas (sangue total, soro ou tecido fresco) são consideradas potencialmente
infecciosas (8). Todo o pessoal de laboratório que entrar em contato com a amostra, deverá estar
vacinado contra a febre amarela e utilizar os equipamentos de proteção pessoal adequados. Mesmo
assim, é recomendado realizar qualquer procedimento dentro de cabines de biossegurança classe II
certificadas, extremando as medidas para evitar acidentes por punção. Para o manejo de amostras de
primatas não humanos deve-se realizar una estrita avaliação de risco segundo as regulações nacionais
e os manuais de biossegurança de cada laboratório, considerando ademais o uso de cabines de
segurança biológica do tipo III.
Diagnóstico virológico
• Diagnóstico molecular: Durante os primeiros 10 dias desde o início dos sintomas (fase
virêmica), ou mesmo por mais de 10 dias em casos graves, é possível realizar a detecção do RNA
viral em amostras de soro mediante métodos moleculares, como a Transcrição Reversa seguida
de Reação em Cadeia pela Polimerase (RT-PCR, por suas siglas em inglês) convencional (ponto
• Isolamento viral: o isolamento viral pode ser realizado por inoculação intracerebral em
camundongos ou em cultivo celular (células Vero ou C6/36; pode ser realizado en biocontenção
de NB 2).Por sua complexidade, esta metodologia é pouco utilizada como ferramente de
diagnóstico de primeira linha, Contudo, a capaicdade de isolamento viral é importante para
caracterização das linhagens circulantes, para produzir reagemtes para diagnóstico e para
estudos e pesquisa.
Figura 1. Indicações para o diagnóstico segundo o número de dias desde o início dos sintomas
Diagnóstico sorológico
• Detecção de IgM: Os anticorpos IgM contra o vírus da febre amarela podem ser detectados por
ELISA (principalmente, ELISA de captura de IgM, MAC-ELISA por sua sigla em inglês) ou
qualquer outro imunoensaio (por exemplo, imunofluorescência indireta). Atualmente, não
existem disponíveis kits comerciais de ELISA IgM para detecção de febre amarela. Por esto, os
protocolos “caseiros” que utilizam antígenos completos purificados são amplamente utilizados
(7-9). Tem sido descrita reação cruzada significativa entre os testes para IgM de febre
amarela com outros flavivírus, em particular durante infecções secundárias por
flavivírus. Assim, em áreas onde outros flavivírus co-circulam (em particular vírus da
dengue e do Zika), a probabilidade de reatividade cruzada é alta. Além disso, como com
qualquer testes para IgM, um resultado positivo em uma única amostra é apenas presumível de
uma infecção aguda. A confirmação laboratorial requer soroconversão em amostras pareadas
(agudas e convalescentes coletdas com pelo menos 1 semana de diferença) na ausência de
seroconversão para outros flavivírus relevantes (ver abaixo). Finalmente, nas áreas onde são
realizadas campanhas de vacinação ativas, a detecção de anticorpos pós-vacinais pode ocorrer,
pelo qual o diagnóstico deve ser cuidadosamente interpretado (ver abaixo a seção Resposta
imune pós-vacinal).
• Outras técnicas sorológicas: Estes métodos incluem a detecção de anticorpos IgG por ELISA e
anticorpos neutralizantes pela técnica de neutralização por redução de placa (PRNT, por sua
Febre amarela: Detecção e diagnóstico laboratorial 2
sigla em inglês). Em geral, o PRNT oferece melhor especificidade que a detecção de anticorpos
IgM e IgG totais. No entanto, a reatividade cruzada entre os flavivírus também foi
documentada nos ensaios de neutralização, . Portanto, é recomendável realizar esta técnica
com um painel flavivírus. A confirmação laboratorial requer uma soroconversão específica de
febre amarela ou um aumento de mais de 4 vezes nos títulos de anticorpos em amostras
pareadas (ver abaixo). Também pode ocorrer a detecção de anticorpos induzidos por vacina e
os ensaios laboratoriais devem ser interpretados com cuidado (ver abaixo a seção Resposta
imune pós-vacinal).
As amostras com resultado IgM positivo devem ser analizadas por testes diferenciais de IgM,
particularmente em áreas onde a co-circulação do vírus da febre amarela com outros flavivírus (dengue,
encefalite de St. Louis, Zika e outros do complexo da encefalite japonesa) está documentada e existe a
probabilidade da população ter sido previamente infectada com um ou mais desses vírus.
Um teste diferencial não positivo não permite confirmar ou descartar uma infecção pelo vírus da febre
amarela; no entanto, não o exclui. Portanto, em áreas não endêmicas ou em áreas onde nenhuma
circulação recente do vírus da febre amarela foi descrita, este devem ser investigado. Um teste com
resultado IgM positivo para febre amarela com testes diferenciais negativos deve ser interpretado como
um provável caso de febre amarela. A confirmação por sorologia desses casos pode ser obtida usando
amostras pareadas. Um teste IgM negativo para a febre amarela não é conclusivo para amostras
coletadas até o 7º dia após o início dos sintomas. A febre amarela pode ser descartada se o teste for
negativo IgM em uma amostra coletada a partir do 8º dia após o aparecimento dos sintomas.
Por outro lado, o diagnóstico diferencial da febre amarela deve incluir outras síndromes febris e febril-
ictéricos como dengue, leptospirose, malária, febre tifoide, infecções por rickettsias, hepatite tóxicas ou
viral e febres hemorrágicas boliviana, brasileira, argentina e venezuelana, entre outras, dependendo do
perfil epidemiológico de país ou área afetada (1).
Caso suspeito de FA 1
Positivo Negativo
Inconclusivo 7 Excluir FA 8
1 Sem histórico de vacinação para FA nos últimos 30 dias ou com histórico de vacinação desconhecido.
2
Os laboratórios que possuem somente capacidade para realizar somente RT-PCR ou ELISA IgM devem processar as amostras com a técnica disponível. Os resultados devem ser
interpretados de acordo com o algoritmo.
3 A sensibilidade da RT-PCR é maior nos primeiros 10 dias do início dos sintomas. Porém, detecção até 14 dias tem sido decrita, em particular em casos graves (e fatais).
4
Deve incluir o vírus da dengue assim como outros flavivírus dependendo de la situação epidemiológica da região/país.
5 Considerar a possibilidade de realizar PRNT em um laboratório de referencia. Este resultado não descarta a febre amarela. Portanto, em áreas onde não foi descrita a circulação
Em casos fatais suspeitos de febre amarela, as seguintes amostras devem ser coletadas
independentemente do tempo decorrido desde o início dos sintomas:
Imunohistoquímica RT-PCR
para FA 3 para FA 5
ELISA IgM
para FA 6
1 Sem histórico de vacinação de FA nos últimos 30 dias ou com histórico de vacinação desconhecido.
2 Amostras de tecido fresco e fixo devem ser coletadas (em particular, fígado e rim).
3 A imunohistoquímica deve ser realizada em tecido hepático e renal e, se possível, em outros tecidos.
4 Investigar os casos e realizar o diagnóstico clínico diferencial.
5
RT-PCR deve ser realizada com RNA extraído de soro e tecido fresco.
6
Seguir a interpretação descrita no algoritmo para confirmação por laboratorio de casos de Febre Amarela (Figura 2).
A vacinação induz uma viremia relativamente baixa que diminui após 4 a 7 dias. Simultaneamente,
desenvolve-se uma resposta do tipo IgM que não pode ser diferenciada da resposta de IgM induzida por
uma infecção natural. Aproximadamente 10 dias após a vacinação, a pessoa é considerada protegida
contra uma infecção natural. Assim, a resposta vacinal IgM pode ser detectada ao redor do dia 5 em
diante, com um pico ocorrendo geralmente 2 semanas após a vacinação. Posteriormente, os níveis
desses anticorpos tendem a diminuir. Em uma proporção significativa de pessoas vacinadas, a resposta
IgM pode ser detectada até um mês após a vacinação e, em alguns casos por até 3-4 anos (11). Por outro
lado, os anticorpos neutralizantes induzidos pela vacinação podem ser detectados por várias décadas.
Devido a tudo isto, a interpretação dos resultados sorológicos em indivíduos vacinados é
complexa, particularmente aqueles que foram recentemente vacinados e, portanto, os
resultados devem ser cuidadosamente avaliados.
Em pessoas recém-vacinadas (<30 dias) que desenvolvem sintomas clássicos de febre amarela, a
vigilância deve se concentrar na diferenciação entre infecções pelo vírus selvagem e amostra vacinal
(12-14). Os eventos supostamente atribuíveis a vacinação ou imunização (ESAVI) associados à vacina
da febre amarela são raros (~ 1,6 casos por 100.000 doses de vacina). Os ESAVI mais comuns são
doenças viscerotrópicas, doenças neurológicas e reações de hipersensibilidade grave. Nas áreas
Conservação de amostra
• Manter o sangue total (colatado em tubo EDTA) ou soro (coletado em tubo seco) refrigerado (2
a 8 oC) se serão processados (ou enviados a um laboratório de referência) dentro de 48 horas.
• Manter o soro congelado (-10 a -20 oC) se for processado após 48 horas ou num período não
superior a 7 dias.
• Manter o soro congelado (-70 oC) se for processado mais de uma semana após a coleta. A amostra
se conserva adequadamente a -70 oC por longos períodos de tempo. Recomenda-se separar as
amostras em pelo menos duas alíquotas.
• Amostras de tecido fresco (aproximadamente 1 cm3) podem ser usadas para o diagnóstico
molecular. Congelar a -70 oC e enviar a um laboratório de referência em gelo seco. Se possível,
enviar o tecido fresco com gelo reciclável. As amostras de tecido fresco também podem ser
armazenadas em uma solução estabilizadora de RNA e enviadas à temperatura ambiente
• Garantir a cadeia de frio com gelo seco preferivelmente ou com gelo recicláveis. Usar sempre o
sistema de tripla embalagem.
• Os tecidos fixados em formaldeído devem ser empacotados separados dos tecidos frecos e as
amostras de sangue, já que o formoldeído é volátil.
2. Organización Mundial de la Salud (OMS). Manual for the monitoring of yellow fever virus
infection. Avril 2004. Disponível em:
http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/68715/1/WHO_IVB_04.08.pdf
3. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Travelers' Health. Yellow Fever prevention,
content updated January 4 2017. Disponível em:
https://wwwnc.cdc.gov/travel/yellowbook/2016/infectious-diseases-related-to-
travel/yellow-fever
4. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Yellow Fever: Symptoms and Treatment. 13
de agosto de 2015. Disponível em:
https://www.cdc.gov/yellowfever/symptoms/index.html
5. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Yellow Fever: Clinical & Laboratory
Evaluation. 21 de agosto de 2015. Disponível em:
https://www.cdc.gov/yellowfever/healthcareproviders/healthcareproviders-
clinlabeval.html
6. Organización Mundial de la Salud (OMS). Yellow fever laboratory diagnostic testing in Africa.
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http://apps.who.int/iris/bitstream/10665/246226/1/WHO-OHE-YF-LAB-16.1-eng.pdf
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12;7(1):129. doi: 10.1038/s41426-018-0128-8. Disponível em:
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8. Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Biosafety in Microbiological and Biomedical
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9. Basile AJ, et al. Development and validation of an ELISA kit (YF MAC-HD) to detect IgM to yellow
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