Fichamento 3
Fichamento 3
Fichamento 3
RECIFE
2022
MARJORIE CRISTINNE GOMES MENEZES CORREIA
RECIFE
2022
Catalogação na Fonte
Bibliotecária Ângela de Fátima Correia Simões, CRB4-773
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Profº. Dr. Ph. D. Claúdio de Araújo Wanderley (Orientador)
Universidade Federal de Pernambuco
_________________________________________
Profº. Dr. Jerônimo José Libonati (Examinador Interno)
Universidade Federal de Pernambuco
_________________________________________
Profº. Dr. Andson Braga de Aguiar (Examinador Externo)
Universidade de São Paulo
Dedico esta dissertação aos meus pais: José
Maria Correia da Silva (Zé Maria) e
Valdirene Gomes de Menezes Correia, e
minha irmã, Mirthes Nicolle Gomes Menezes
Correia.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus, pois sem a permissão dele nada é possível de ser realizado.
Dele, por Ele e para Ele são todas as coisas.
Agradeço aos meus pais, Sr. José Maria e Sra. Valdirene Gomes, que sempre fizeram o possível
e o impossível para me proporcionar a educação que eles não tiveram, me dando todo o suporte
e apoio. A minha irmã Srta. Mirthes Nicolle por também me apoiar em toda trajetória
acadêmica.
Agradeço ao meu orientador, Prof. Ph.D. Cláudio Wanderley, pelo excelente trabalho de
orientação e, principalmente, pela paciência e compreensão, se tornou, para mim, uma grande
inspiração. Deus o abençoe grandemente.
A todos aqueles que, de alguma forma, fazem parte do Programa de Pós-Graduação, em especial
aos professores e ao coordenador Prof. O Dr. Luiz Carlos Marques dos Anjos, e também a
Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), por possibilitar a
conclusão da minha pesquisa.
Agradeço a cada um dos amigos que fiz no mestrado, aos meus colegas da turma de 2020, em
especial a Priscila Cristine Pacheco Ferreira, que além de amiga, foi uma parceira durante esses
dois anos de pós-graduação. Que Deus abençoe cada passo que trilhares.
Agradeço também a um amigo que desprendeu de seu tempo e paciência e prestou sua
assistência para que este sonho fosse realizado: Kleyton Giovani Fernando da Silva. Obrigada
pelas intensas aulas que antecederam o processo seletivo do mestrado. Que Deus permita que
todos os seus sonhos sejam realizados e que todo esse auxílio possa ser, de alguma forma,
retribuído.
O período de maior ganho em conhecimento
e experiência é o período mais difícil da vida
de alguém. (Dalai Lama)
RESUMO
A partir das modificações a respeito do papel dos contadores dentro das empresas e a evolução
da contabilidade, de uma forma geral, gerada principalmente pelas mudanças em alguns
conceitos de gestão e da introdução de novos modelos de negócios, o atual estudo se propõe a
explorar a relação do desenvolvimento das habilidades interpessoais dos contadores com a sua
efetividade, o conflito entre gestores e a satisfação profissional. O estudo adota uma abordagem
quantitativa, com delineamento transversal que utiliza a técnica de investigação survey. O
questionário foi construído com base em instrumentos já testados previamente por outros
autores e foi compartilhado eletronicamente através da plataforma Google Forms, tendo obtido
74 questionários válidos, montando a amostra final. Os resultados mostram que os contadores
que desenvolvem mais suas habilidades interpessoais dentro do âmbito organizacional tendem
a possuir maiores níveis de efetividade, conflitos e satisfação no trabalho. Portanto, conclui-se
que apesar do ambiente de mudança dos contadores e da contabilidade, os participantes do
estudo possuem níveis que demonstram a relação entre as variáveis destacadas, ponderando que
a performance adotada internamente pode impactar no resultado final das tomadas de decisões
gerenciais.
From the changes regarding the role of accountants within companies and the evolution of
accounting, in general, generated mainly by changes in some management concepts and the
introduction of new business models. The current study aims to explore the relationship
between the development of interpersonal skills of accountants and their effectiveness, role
conflict and job satisfaction. The study adopts a quantitative approach, with a cross-sectional
design that used the survey investigation technique. The questionnaire was built based on
instruments previously tested by other authors and was shared electronically through the Google
Forms platform, obtaining 74 valid questionnaires, creating the final sample. The results show
that accountants who develop their interpersonal skills more within the organizational scope
tend to have higher levels of effectiveness, conflict and job satisfaction. Therefore, it is
concluded that despite the changing environment of accountants and accounting, the study
participants have levels that demonstrate the relationship between the highlighted variables,
considering that the performance adopted internally can impact the final result of managerial
decision-making.
1.INTRODUÇÃO………………………………………………………………………….. 13
1.1Caracterização do problema……………………………………………………………. 15
1.2.Objetivos………………………………………………………………………………… 17
1.2.1.Geral…………………………………………………………………………………… 17
1.2.2.Específicos……………………………………………………………………………... 17
1.3.Justificativa...……………………………………………………...……………………..17
1.4.Estrutura da Dissertação………………………………………………………………..19
2. REFERENCIAL TEÓRICO E HIPÓTESES DE PESQUISA.......................................20
2.1 Habilidades Técnicas, Conceituais e Interpessoais…………………………………… 20
2.1.1Habilidades Interpessoais e sua Importância no Desenvolvimento da Profissão
Contábil……………………………………………………………………………………… 21
2.1.2 Habilidades Interpessoais e a Efetividade………………………………………… ... 23
2.2Relação das Habilidades Interpessoais com os Conflitos entre Gestores
Organizacionais e Contadores…………………………………………………………...…25
2.3Interferência das Habilidades Interpessoais na Satisfação no
Trabalho……………………………………………………………………………….……..27
3.METODOLOGIA……………………………………………………...…………………. 28
3.1.Abordagem da pesquisa………………………………………………………………... 28
3.2.População e amostra…………………………………………………………………… 29
3.3.Instrumento de pesquisa……………………………………………………………….. 29
3.4. Procedimentos…………………………………………………………………………. 30
3.5. Considerações e procedimentos éticos………………………………………………… 29
3.6. Análise de dados……………………………………………………………………….. 32
3.6.1 Modelos de Regressão………………………………………………………………... 32
3.6.2 Alfa de Cronbach……………………………………………………………………... 32
5. CONCLUSÕES…………………………………………………………………………... 51
5.1 Limitações do Estudo…………………………………………………………………... 52
5.2 Sugestões para Futuras Pesquisas……………………………………………………. 53
REFERÊNCIAS…………………………………………………………………………... 53
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO……………………………………………………… 66
APÊNDICE B – RESULTADOS DA REGRESSÃO – SAÍDA SPSS………………….. 73
13
1. INTRODUÇÃO
A atuação dos contadores na sociedade tem causado amplo interesse aos estudiosos e
órgãos da contabilidade, visto que procurou-se identificar e compreender o novo perfil do
contador perante as organizações (ADAM et al., 2018). Neste mesmo sentido, o mercado de
trabalho passou a exigir um profissional mais qualificado e de multitarefas, condicionado a
exercer funções não somente técnicas, porém, também contando com uma visão estratégica e
com um perfil mais proativo (ADAM et al., 2018).
A partir do século XX, com o surgimento da controladoria, no Brasil, principalmente
interligado a proliferação das empresas multinacionais, foi requisitado que o contador não só
produzisse a informação contábil como também interpretasse e utilizasse na tomada de decisão,
com o intuito de impactar o resultado financeiro e econômico das corporações (ORO;
BEUREN; CARPES, 2014).
Dentro da literatura contábil, existem previsões sobre a permanência do contador e que
estão em uma constante “batalha pelo talento” que continuará no futuro (LEE, 2015). Este
argumento tem como centro a utilização de habilidades como comunicação, trabalho em equipe,
resolução de problemas e o uso adequado da tecnologia (BERRY e ROUTON, 2020). As soft
skills, como são chamadas o conjunto de habilidades citadas acima, são então consideradas
como um elemento estratégico em qualquer organização, a qualidade do capital humano está
diretamente relacionada com os resultados que podem ser alcançados pelas empresas. Logo,
uma boa gestão desse recurso pode impactar positivamente no desempenho organizacional
(CIMATTI; 2016).
Incorporado no aspecto das soft skills, a habilidade será definida como a transformação
do conhecimento na capacidade da produção de resultados e de resolver situações e conflitos
(FERREIRA, et al., 2019). Partindo deste conceito mais plural e abrangente, são percebidas as
habilidades interpessoais, que quando se voltam especificamente para os contadores ou
controllers, podem garantir que estes profissionais possam desafiar e questionar suposições,
números e significados (ROUWELLAR et al., 2021). A literatura fornece variadas habilidades
interpessoais específicas que trazem benefícios corporativos latentes, bem como a
comunicação, a liderança e a interação entre os contadores (ROUWELLAR et al., 2021).
Além disso, é ponderado que as habilidades interpessoais podem impulsionar a
efetividade do contador. Para Gray e Murray (2011), é importante discutir acerca das
habilidades de comunicação oral desenvolvidas pelos empregados dentro das organizações. De
14
acordo com Siriwardane e Durden (2014), existe uma divergência na avaliação da relevância
de habilidades comunicativas entre os educadores contábeis e os contadores.
Era comum ao contador ser denominado por “bean-counter”, traduzindo o termo para
“contador de feijão", mais comumente ouvida a expressão “guarda livros”, no Brasil. Essa
denominação era vinculada ao fato de que o bean-counter está relacionado a uma figura mais
tradicional, com foco nas atividades de registro de dados e elaboração dos relatórios contábeis
(SOUZA et al., 2021; FRAZÃO, 2019). Porém, no cenário atual, os contadores precisam obter
habilidades que estejam além da técnica, pois um bom entendimento do negócio é essencial
para que a empresa alcance a eficiência e eficácia desejada, e obtenha vantagem competitiva e
ganhos a curto e longo prazo (ALVES et al., 2016).
Outro termo que compõe a literatura sobre os perfis de trabalho dos contadores é o
“business partner” (PAULSSON, 2012). Este perfil, diferentemente do “bean counter”, espera
que o contador desempenhe, além de funções operacionais, atividades mais estratégicas,
visando a otimização da tomada de decisão final, e espera-se que o profissional se torne mais
independente e tenha comportamentos de líder, coordenando as mais variadas atividades e
utilizando de um bom planejamento, analisando as informações necessárias e exercendo o
controle sobre a organização (FRAZÃO, 2019). O atual conflito entre diferentes
responsabilidades assumidas dentro das organizações pelos contadores e seus gestores é algo
que pode influenciar a performance do contador e a evolução das suas habilidades dentro das
empresas (FRAZÃO, 2019).
Outro aspecto que impacta na progressão da profissão contábil é o nível de satisfação
com o trabalho. Como consequência da não satisfação, os contadores podem demonstrar menor
envolvimento com as atividades (BEUREN et al., 2017). De acordo com Cunha et al. (2014),
ficou concluído que as habilidades vinculadas ao emocional e o pensamento cognitivo estão
profundamente relacionadas e complementando-se. Para Krishnaveni e Deepa (2011), a
inteligência emocional assume um papel muito importante aos níveis individual, grupal e
organizacional, trazendo maior bem-estar e satisfação no trabalho, acarretando melhores
resultados gerais.
Visto isso, compreende-se que exista uma maior necessidade de estudos sobre as
habilidades interpessoais, apesar destas habilidades serem vistas como importantes para os
mesmos, ainda não existe um conhecimento consolidado (ROUWELLAR et al., 2021).
Essencialmente, acontece a promoção da ideia de que os contabilistas devem utilizar
habilidades para que a profissão se mantenha relevante e eficiente, mas precisamos de mais
estudos que suportem e especifique esta afirmação (BERRY e ROUTON, 2020).
15
8. Habilidades de comunicação
9. Conflito de Gestão e Técnicas de Negociação
10. Habilidades de rede de contato
SOCIAL
11. Habilidades de Adaptabilidade à Cultura
12. Habilidades de liderança
13. Habilidades de trabalho em equipe
14. Capacidade de adaptação às habilidades de mudança
15. Habilidades de análise
16. Habilidades de Melhoria Contínua
METODOLÓGICO 17. Habilidades de orientação ao cliente / usuário
18. Habilidades de tomada de decisão
19. Habilidades de gestão
20. Habilidades de orientação de resultados
Fonte: HASELBERGER et al. 2012; SUCCI, 2018.
Dado isso, é constatada a importância de estudos com esse tema, visto que o
desenvolvimento da habilidades interpessoais teoricamente abrangidas pelas soft skills, pelos
contadores impacta no resultado das empresas (BERRY e ROUTON, 2020). Um contador mais
independente e que preza pela manutenção das relações humanas, procura desempenhar suas
atividades de maneira orgânica, procurando manter um padrão mais elevado de interpretação
das informações, trazendo mais qualidade e pluralidade aos debates corporativos (BERRY e
ROUTON, 2020). Portanto, habilidades pessoais relacionadas ao trabalho em equipe,
habilidades interpessoais, capacidade de liderança e conhecimento cultural são relevantes para
contadores (BERRY e ROUTON, 2020).
A literatura aponta que o papel predominantemente desenvolvido por contadores é o de
bean-counters (LAMBERT; SPONEM, 2012). Então, o papel de business partner (o
equivalente ao controller na esfera privada) e de ator social, tendem a ser menos observados
(BOGT; VAN HELDEN; VAN DER KOLK, 2016). O conflito entre gestores organizacionais
e contadores pode ser definido como a ocorrência simultânea de duas ou mais funções, no qual
o pleno cumprimento dos requisitos de uma implique em dificuldade ou impedimento no
cumprimento dos requisitos da outra (FICHTER et al., 2010; PALOMINO; FREZATTI, 2016).
Tarrant e Sabo (2010) acrescentam que o conflito ocorre quando existem expectativas
conflitantes em relação a uma determinada função, ocorrendo também quando a cadeia
hierárquica de comando entre eles é quebrada.
Palomino e Frezatti (2016) afirmam ainda que tal conflito pode ser gerado quando: (i)
Se faz necessário aprender novas habilidades, como resultado da adesão a novos papéis; (ii)
Novas habilidades são exigidas em decorrência de novas técnicas, tecnologias ou regulações
governamentais; (iii) A formação do profissional é inadequada para exercer determinada
função.
17
1.2. Objetivos
1.2.1. Geral
Identificar se existe uma relação das habilidades interpessoais dos contadores com a
efetividade do seu trabalho, o conflito entre eles e os gestores organizacionais e a satisfação no
trabalho.
1.2.2. Específicos
1.3 Justificativa
imprescindível que sejam mantidas as pesquisas envolvendo tal tema, visto que ainda existem
lacunas a serem preenchidas e hipóteses para serem testadas (ROUWELLAR et al., 2021)
A população alvo do estudo são os profissionais contábeis brasileiros que atuam tanto
na esfera pública quanto no âmbito privado. Portanto, do ponto de vista da aplicabilidade e
delimitação, a pesquisa se justifica pelos seguintes aspectos: (i) A maioria dos estudos sobre
habilidades interpessoais focam suas atenções na figura do controller (ROUWELLAR et al.,
2021); (ii) A maioria das pesquisas abordam as habilidades interpessoais apenas no âmbito
privado ou relacionando apenas as opiniões de graduandos ou alunos de pós-graduação, não
direcionando os estudos de maneira mais ampla, estendendo-se aos contadores no geral e
brasileiros (ROUWELLAR et al., 2021).
Com o desenvolvimento das atividades atreladas aos contadores e com o aumento da
responsabilidade, nota-se que cada vez mais habilidades complementares ao conhecimento
técnico são solicitadas. Segundo o American Institute of Certified Public Accountants, a
comunicação, uma das habilidades interpessoais, é uma das habilidades profissionais da
Estrutura de Competências Básicas de Pré-Certificação (AICPA, 2019). Para Meurer e Voese
(2020), o perfil requerido pelo mercado de trabalho para profissionais contábeis anseia por
diversas habilidades interpessoais, e entre elas estão a comunicação, o pensamento crítico e
habilidades sociais como o trabalho em equipe.
Os estudos relacionados ao desenvolvimento das habilidades interpessoais podem
potencialmente contribuir com os avanços no ensino dos graduandos em contabilidade. As
informações aqui discutidas também podem auxiliar os educadores da área a evitar dificuldades,
facilitando a aprendizagem do discente, mostrando evidências de melhoras significativas na
evolução da comunicação dos alunos (DAFF, 2013). A relevância destas habilidades é discutida
há um tempo considerável e continua a atrair a atenção dos estudiosos, pois ainda existe a
preocupação de seu desenvolvimento pelos contadores (DAFF, 2013).
No âmbito Brasileiro, a própria Resolução CNE/CES 10/2004, Resolução responsável
por instituir as diretrizes curriculares nacionais para o curso de Ciências Contábeis, também
identifica que durante a graduação é esperado o desenvolvimento de competências e habilidades
relacionadas aos conhecimentos técnicos (hard skills) e competências e habilidades
profissionais (soft skill), mostrando a importância e relevância do tema em estudos nacionais
(DE SOUZA et al., 2021).
Com os resultados do questionário que fora enviado aos contadores, foi mapeada as
relações entre o desenvolvimento das habilidades interpessoais relacionadas com os aspectos
de satisfação no trabalho, efetividade e conflitos entre os gestores. Desta forma, os contadores
19
poderão perceber se suas habilidades interpessoais possuem relação negativa ou positiva com a
sua efetividade, com os conflitos entre gestores organizacionais e contadores, e também com a
satisfação no trabalho, tentando garantir o desenvolvimento de tais competências dentro das
organizações, visando a melhoria da performance dos profissionais contábeis.
Para Hariharan e Shanmugam Priya (2010), o modo como os profissionais exercem suas
habilidades interpessoais é a primeira característica a ser analisada pelos CEOs das grandes
empresas, um exemplo de uma dessas habilidades observadas é a comunicação. Ainda sobre a
ótica da importância do desenvolvimento das habilidades interpessoais, Friedman (2014) relata
que o diploma não se torna uma garantia direta na obtenção de emprego, e que a partir do
momento em que ocorre a busca pela inovação, surgiu a preocupação com as inúmeras
habilidades interpessoais, dentre elas a liderança, colaboração, adaptabilidade e a capacidade
de aprender, visto que serão pontuadas independentemente do lugar em que o contador trabalhe.
A raiz dessa problemática torna intensa a busca pelo estereótipo executivo e faz com
que as empresas concentrem- se em certas características ou qualidades específicas, correndo o
risco de perder de vista a verdadeira preocupação: o que o contador pode realizar? De acordo
com o Monarch Institute (2015), 15% do sucesso profissional provém das habilidades técnicas,
enquanto 85% provém da habilidade de lidar com as pessoas. Tendo em vista a observação
apresentada, torna-se simples listar elementos essenciais ao sucesso profissional, vinculados às
habilidades interpessoais, sendo elas o conhecimento, a capacidade de processar e selecionar
informações, a criatividade e a iniciativa (SILVA, 2015).
Para que haja uma administração bem-sucedida, é necessário que os profissionais
desenvolvam três tipos de habilidades: a técnica; a humana ou interpessoal; e a conceitual, e
elas podem se apresentar de forma individual ou inter-relacionadas. A habilidade técnica
implica a compreensão e o domínio de um determinado tipo de atividade e tal habilidade é
adquirida por meio da experiência, educação e treinamento profissional. Desta forma, conclui
- se que a capacidade mental de desenvolver a habilidade técnica será associada à eficácia no
trabalho (DUQUE, 2011).
A habilidade humana se caracteriza por refere-se às competências para trabalhar com
pessoas e para obter resultados através delas. Outro tipo de habilidades são as conceituais, que
são responsáveis por fazerem com que os contadores saibam conviver, compreender e lidar com
situações complexas e ambíguas, requerendo do profissional maturidade, experiência e
capacidade analítica diante de pessoas e situações (DUQUE, 2011). Diante disto, as habilidades
conceituais são importantes para que os profissionais contabilísticos sejam considerados
“business partner”, eles deverão ter uma orientação empresarial (ROUWELLAR et al., 2021).
21
Numa economia global competitiva, as organizações possuem menos tempo para treinar
novos funcionários, e isso é agravado pela situação empregatícia, o que leva as empresas a
serem mais seletivas no seu recrutamento (OSMANI; HINDI; AL-ESMAIL, 2017). Na área de
contabilidade e finanças, a escolha de um candidato pode fazer grande diferença para uma
empresa, no qual as habilidades aplicadas e interpessoais de um contador e/ou gerente
financeiro desempenha importante papel em sua performance operacional e estratégica (JONES
et al., 2013; STANLEY; MARSDEN, 2012). Para Daff (2013), as habilidades de comunicação,
escrita e apresentação, são essenciais para o sucesso do contador no local de trabalho.
Parte do pressuposto que o contador deve ser visto pela sociedade como um gerador de
informações (SILVA, 2016). Informações essas que se tornam essenciais e fazem a diferença
justamente porque a destreza deste profissional em avaliar os fatos passados, bem como os
presentes e projetando-os para o amanhã, se torna um fator essencial para o sucesso (SILVA,
2016). As habilidades interpessoais podem garantir aos contadores que possam, de maneira
construtiva, desafiar e questionar estratégias pressupostas pelos gerentes (SILVA, 2016). De
acordo com Rouwellar et al. (2021), conforme os sistemas contábeis se tornam mais
sofisticados, é imprescindível que os profissionais contábeis tenham as habilidades necessárias
para interagir totalmente com a gestão, contribuindo com uma performance eficaz e eficiente.
O contador, tradicionalmente, tem gerenciado e acompanhado as alterações
patrimoniais, monitoria dos ativos e passivos, e a elaboração e as análises das demonstrações
financeiras (BRAGG et al., 2009). Porém, estas funções têm sido expandidas com a realização
de trabalhos para outros departamentos e trabalhos avançados para a alta direção (BRAGG et
al., 2009). A continuidade de uma organização estará diretamente relacionada com sua eficácia
(PADOVEZE, 2013), ou seja, cabe aos contadores se utilizarem das habilidades adquiridas para
fomentar bons resultados dentro das empresas e, com a modernização das ferramentas e
softwares cada vez mais sofisticados, a qualidade da informação tende a aumentar, agregando
valor ao processo de escolha do melhor caminho a ser seguido pela organização.
decisões, nas ações e nos comportamentos dos gestores e da alta administração dentro da
organização e em suas partes interessadas. Outra habilidade chave é a capacidade de colaborar
e de trabalhar com parceiros. Já o autor Boyatzis et al., (2012) parte do pressuposto de que as
habilidades dos contadores são associadas à sua capacidade de influenciar na gestão, e as
habilidades interpessoais, como por exemplo a inteligência emocional, estarão positivamente
associadas a uma melhor performance do profissional.
Algumas das habilidades interpessoais listadas pelo CGMA 2019 são: influência,
negociação e tomada de decisão, comunicação e colaboração em equipe, implicando reafirmar
a importância do desenvolvimento destas características pelos profissionais. Em 2008, a IFAC
(International Federation of Accountants), que tem a finalidade de contribuir para melhorias
da profissão contábil em todo o mundo, estipulou quatro grupos de habilidades em sua IES
(International Education Standard) 3 e dentre estes grupos, está o grupo de habilidades
interpessoais e de comunicação, permitindo a interação do profissional com outras áreas do
conhecimento (NUNES; SILVA; MIRANDA; LEAL, 2014).
Na IES 3 constam as seguintes atribuições listadas no grupo de habilidades interpessoais
e de comunicação:
a) Trabalhar com outras áreas da empresa como consultor de processos e solucionar
conflitos;
b) Trabalhar em equipe;
c) Interagir com pessoas de outras culturas e nível intelectual;
d) Negociar soluções aceitáveis e acordos em diversas situações;
e) Ser capaz de trabalhar em um ambiente multicultural;
f) Apresentar, discutir, relatar e defender visões em situações formais, informais, redigir e
falar corretamente em público;
g) Domínio efetivo de outros idiomas.
importantes a serem abordados nos cursos de graduação de Ciências Contábeis devem ser o
pensamento crítico, a comunicação oral e escrita, e o relacionamento interpessoal (REIS;
SEDIYAMA; MOREIRA; 2015).
As soft skills englobam as habilidades que pleiteiam à personalidade e o comportamento
profissional de cada contador. São aptidões mentais, sociais e emocionais, habilidades
particulares que se aprimoram de acordo com a cultura, experiência e educação de cada
indivíduo (BANCO MUNDIAL, 2018). De acordo com o estudo de Swiatkiewicz (2014), foi
identificado que as habilidades interpessoais trazidas pelas soft skills são as mais prestigiadas
pelas organizações com 78,7% de relevância e que as hard skills não representam um número
significativo de competências valorizadas pelos contratantes, tendo apenas 14,5% de adesão.
Com isso, é visualizado que as habilidades interpessoais garantem que os contadores
possam questionar, de maneira construtiva, suposições, números e seus significados, ou seja, o
desenvolvimento de habilidades interpessoais dentro das organizações fomenta a visão
estratégica dos profissionais contábeis (ROUWELLAR; SCHAEPKENS; WIDENER, 2021).
A importância das habilidades interpessoais é cada vez mais aceita no âmbito dos
negócios. Uma evidência recente disso é o projeto intitulado “Europa 2020”, cujo seu objetivo
é transformar a União Europeia em uma economia sustentável geradora de emprego com a
proposta de desenvolver habilidades, competências sociais e interpessoais como forma de
garantir flexibilidade, eficiência corporativa e bem-estar relativo à saúde dos trabalhadores
(MORENO-JIMÉNEZ; GARROSA; RODRÍGUEZ-CARVAJAL, 2013).
atrelada ao objetivo que deseja cumprir, então, o contador para ser eficaz, precisa estar atento
em saber qual o seu propósito enquanto profissional. Para Andrade (2016), soft skills são o
conjunto de comportamentos originados a partir dos traços de personalidade, estimulados ou
não de acordo com o contexto de cada indivíduo e com os estímulos que ele recebe,
considerando, além disso, a formação profissional, ou seja, um contador que consegue entender
e interpretar os acontecimentos de maneira eficiente dentro da organização, alcança um melhor
resultado.
Na Austrália, o Department of Education, Employment and Workplace (DEEWR)
define que habilidades de empregabilidades como as habilidades interpessoais ou “não
técnicas”, são necessárias para que o contador participe efetivamente no local de trabalho
(DAFF, 2013). Os autores Brewer, Bloch e Stout (2012) fazem uma relação entre a
empregabilidade e a utilização das habilidades interpessoais para além da capacidade de se
conseguir o primeiro emprego, ponderando que a empregabilidade relacionada com as
habilidades interpessoais faz com que os contadores consigam comercializar-se a si mesmos de
uma maneira eficiente, fazendo com que eles naveguem por uma carreira, permanecendo
empregável por toda a vida.
A eficiência também vai estar relacionada com a otimização de recursos, deste modo, a
eficiência dirá respeito ao método que é utilizado para fazer as atividades, o “modo certo” de
se realizar determinada tarefa (PADOVEZE, 2013). Então, é perceptível que a habilidade
interpessoal quando alinhada com os objetivos definidos pela organização, pode resultar numa
melhor efetividade profissional, acarretando uma melhora no resultado da empresa.
O mercado de trabalho e as organizações passaram a exigir um profissional mais
destemido, que deseja aproximar informações, controles e utilidade gerencial para suas
operações (CUNHA; FERNANDES, 2013). O contador eficiente deverá ter consciência do que
está acontecendo no mercado justamente para que ele possa usar as informações contábeis
existentes a seu favor e a favor da organização a qual ele faz parte. Estes profissionais estão
sendo demandados de áreas-chaves das empresas, o que tende a valorizar a sua atuação,
principalmente após o período de convergência às normas internacionais de contabilidade
(NUNES; SILVA; MIRANDA; LEAL, 2014).
Além das habilidades técnicas, também são exigidas dos profissionais habilidades para
gerenciar, comunicar e analisar criticamente e analiticamente, além de conhecimentos em
métodos quantitativos para que ocorra uma maior qualificação profissional, implicando em uma
maior efetividade do contador (NUNES; SILVA; MIRANDA; LEAL, 2014).
25
que ele atua. Quando não se conhece o próprio papel, fica difícil saber quais habilidades serão
necessárias desenvolver, acarretando o mau desempenho organizacional (CGMA, 2014).
Este conflito ocorre quando, de forma simultânea, de dois ou mais requisitos de função
de modo que um afete o desempenho da função mais difícil (GUIMARÃES, 2021). Para
Montgomery (2011), algumas situações criam conflito de funções, a exemplo quando um
executivo percebe que sua performance será avaliada de maneira diferente entre funções
concorrentes, quando existem funções que exigem capacidade tecnológica e quando houver
mais de um superior ao qual o profissional se reporta.
Esta ambiguidade pode resultar na dificuldade de discernir o que uma pessoa
responsável por uma atividade específica deve fazer. A falta de definição ou informações sobre
responsabilidades e expectativas comportamentais não explícitas podem trazer à tona o conflito
do desempenho de quais habilidades desenvolver (PALOMINO e FREZATTI, 2016). Os
autores Burkert, Fischer e Schäffer (2011) afirmaram que são confiados ao gestor as
expectativas da gerência das funções, estabelecendo assim fortes pressões no desempenho de
suas funções, podendo provocar a sensação de incapacidade, provocando o conflito entre
gestores.
Segundo Lemes e Miranda (2014), cada vez mais as organizações passam a exigir dos
profissionais contábeis conhecimentos que ultrapassem as questões técnicas. Destaca-se que o
perfil desejado deve ser condizente com a dinâmica atual das organizações, o que significa ter
habilidades diferenciadas que possibilitem que estes profissionais participem, de forma
consistente, das decisões da empresa. A ambiguidade atrelada ao conflito das funções, ou seja,
a dúvida sobre exercer atividades mais operacionais e de escrituração, ou realizar funções
gerenciais e de coordenação, pode afetar a evolução das habilidades interpessoais dos
contadores.
Contadores que se identificam com suas atribuições dentro da organização estão mais
inclinados a aceitar a orientação de valor da empresa, ou seja, decisões politicamente motivadas
para beneficiar a organização podem ser aceitas como uma necessidade inevitável,
independentemente de quais funções são associadas à profissão (HILLER; MAHLENDORF;
WEBER, 2014).
Para Andrade (2016), as habilidades interpessoais são caracterizadas por englobar uma
boa comunicação e a solução de problemas. Com o cenário de incerteza provocado por conflitos
se acentuando dentro da organização, fica difícil reduzir a não compreensão dos fundamentos
dos processos (HORTON; WANDERLEY, 2018). Fica constatado que fomentar uma boa
comunicação entre os colaboradores da organização impacta em um bom relacionamento, pois
27
se faz necessário atuar com parceria dentro das empresas e uma má relação entre os demais
empregados das áreas pode resultar em conflitos internos (NETO, 2010).
Visto isso, a seguinte hipótese de pesquisa é proposta:
H2: As habilidades interpessoais dos contadores são associadas negativamente com
o conflito entre gestores organizacionais e contadores.
O autor Ott et al., (2011) afirmam que os contadores desenvolvem habilidades visando
o seu sucesso profissional, visto isso, se o contador se sente satisfeito, ele se sentirá mais
confiante para pôr em prática suas habilidades interpessoais e se envolver mais na tomada de
decisão (LAMBERT e SPONEM, 2012), visto que a organização que fomenta um maior
prestígio ao seu papel contribui para que os contadores sejam pensadores críticos,
comunicadores claros, aprendizes independentes e membros eficazes da equipe (REBELE e
PIERRE, 2019).
Wilkin (2014) sugere que a educação contábil precisa garantir que os alunos adquiram
habilidades profissionais essenciais, tais como comunicação, capacidade analítica e crítica, pois
elas são importantes para o sucesso da carreira dos contadores. A literatura também sugere que
os profissionais contábeis também precisam estar equipados com habilidades de resolução de
problemas e criatividade para que possam contribuir para o desenvolvimento criativo de
soluções inovadoras e práticas em equipe (COX et al.,2013; JONES, 2007). Os autores Finch
et al. (2013) conclui que indivíduos criativos darão a organização um ambiente vantajoso,
colaborando para que a organização reconheça valor no seu trabalho, contribuindo para a
satisfação profissional.
Com isso, observando que a satisfação no ambiente corporativo pode apresentar um
aspecto propício para o desenvolvimento das habilidades interpessoais, a seguinte hipótese de
pesquisa é proposta:
H3: As habilidades interpessoais dos contadores estão associadas positivamente com
a satisfação no trabalho.
3. METODOLOGIA
3.4. Procedimentos
participantes que aceitaram participar da pesquisa tiveram acesso ao questionário final por via
eletrônica na plataforma de Formulários do Google Forms.
Realizados os procedimentos da aplicação, foi feita a tabulação dos dados em planilhas
de Excel, organizando-os para posterior análise, e após todas as etapas, foi realizada a análise
de dados, o que possibilitou possíveis conclusões acerca do elemento estudado.
O questionário foi elaborado a partir da escala Likert, ou seja, do número um ao número
cinco serão destacadas as respostas começando por “não é prioridade” e segue até “principal
prioridade”, conforme demonstrado no Apêndice A desta pesquisa.
Os dados coletados foram analisados por meio do software IBM SPSS Statistics. Por
essa análise, foram realizadas análises descritivas, teste de correlação e análise inferencial com
regressões simples.
Nas análises descritivas, foram obtidas as medidas de média, moda e desvio padrão,
além das frequências relativas e absolutas. Com o intuito de conhecer as variáveis apresentadas,
essas análises foram realizadas para comportar o perfil pessoal e de trabalho dos colaboradores.
O teste de correlação de Spearman foi utilizado com o intuito de identificar prováveis relações
entre as variáveis, com significância estatística de 1% e 5%. Já o Alfa de Cronbach foi utilizado
com a intenção de medir a confiabilidade interna do questionário, o teste será aplicado de
maneira geral e individual.
Onde:
HABI_NTER = Score médio de Habilidades Interpessoais; EFETI= Score médio da Efetividade
dos Contadores; CONF = Score médio de Conflito entre gestores e SATIS = Score médio de
Satisfação no Trabalho.
Com o intuito de avaliar o nível de confiança das respostas que foram obtidas através
do questionário de pesquisa, foi utilizado o teste conhecido como Alfa de Cronbach. Este teste
faz a correlação existente entre os itens de um determinado instrumento de coleta, medindo,
dessa forma, o quanto cada instrumento de pesquisa mede cada variável (GUIMARÃES, 2021
apud ALMEIDA; SANTOS; COSTA, 2010).
33
Para a quinta e sexta atividade estudadas tem a relação com as informações da gerência,
como por exemplo: análise, interpretação e previsão de informações gerenciais e análise de
dados da alta administração e o suporte à gestão, bem como os planos estratégicos, gestão do
desempenho e gestão de riscos. Seguem os respectivos resultados nas tabelas abaixo:
Tabela 9: Tempo Gasto com as Atividades de Informações da Gerência.
Tempo de Atividade: Informações Quantitativo de Respondentes Percentual de Respondentes
da Gerência
Entre 0% e 25% 55 74%
Entre 26% e 50% 13 18%
Entre 51% e 75% 2 3%
Entre 76% e 100% 4 5%
Total 74 100%
Percentual Médio Gasto com Atividades de Informação de Gerência 19,31%
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Tabela 10: Tempo Gasto com as Atividades de Suporte à Gestão.
Tempo de Atividade: Suporte à Quantitativo de Respondentes Percentual de Respondentes
Gestão
Entre 0% e 25% 61 82%
Entre 26% e 50% 10 14%
Entre 51% e 75% 2 3%
Entre 76% e 100% 1 1%
Total 74 100%
Percentual Médio Gasto com Atividades de Suporte à Gestão 12,95%
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
É destacado que apenas 8% dos respondentes desprendem mais do que 50% do seu
tempo para as atividades relacionadas às informações da gerência e que apenas 4% dos
respondentes gastam mais do que 50% do seu tempo no suporte à gestão. Estes resultados são
contrários aos destacados pelos autores Pereira, Lemes e Gonzales (2017), os mesmos afirmam
que o profissional contábil precisa ser proativo e buscar auxiliar os empresários na gestão,
porém, a partir do que foi apresentado na tabela, é observado que esta proatividade não é
prioridade em relação à interpretação das informações gerenciais.
O percentual médio de tempo gasto para as atividades de gerência e suporte
à gestão foram de 19,31% e 12,95%, respectivamente, demonstrando também pouca relação
dos respondentes em atribuições mais gerenciais.
Para a sétima e última atividade coletada, ficaram os critérios relacionados às outras
funções desempenhadas pelos contadores, bem como as funções mais administrativas e etc. A
seguir, é apresentada a tabela contendo os dados:
Tabela 11: Tempo Gasto em Outras Funções.
Tempo de Atividade: Outras Quantitativo de Respondentes Percentual de Respondentes
Funções
39
16,96%
Percentual Médio Gasto com Outras Funções
12,95%
Percentual Médio Gasto com o Suporte à Gestão
Percentual Médio Gasto com as Informações da 19,31%
Gerência
15,34%
Percentual Médio Gasto com Relatórios Externos
25,25%
Percentual Médio Gasto em Serviços Especializados
Percentual Médio Gasto em Sistemas Contábeis e 10,74%
Informações
Percentual Médio Gasto em Atividades de 25,55%
Operações Contábeis
Partindo da premissa de que um dos objetivos do presente trabalho é medir o nível das
habilidades interpessoais desenvolvidas pelos contadores, a tabela 12 apresenta a estatística
descritiva das respostas que compõem esta variável:
Tabela 12: Análise Descritiva da Variável: Habilidades Interpessoais
Descrição dos Itens de Pesquisa Média Desvio Padrão
Eu faço as perguntas certas. 3,99 0,80
Eu penso sobre o impacto dos números. 4,36 0,93
Eu questiono continuamente as análises e os planos da 3,57 1,26
administração.
Eu sei quando começar uma discussão e quando desistir da 3,69 0,96
discussão.
Eu estou sempre fazendo perguntas. 3,81 0,98
Eu não hesito em criticar os planos e as ações da 3,16 1,21
administração.
Variável Habilidades Interpessoais: 3,76 1,02
Nota: n = 74 respondentes. Uma escala tipo Likert de 5 pontos foi utilizada no questionário (1 – discordo
totalmente; 2 – discordo; 3 – não discordo nem concordo; 4 – concordo; 5 – concordo totalmente).
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
No que tange a primeira pergunta relacionada à medição dos níveis de Habilidades
Interpessoais, 47% dos respondentes afirmaram fazer as perguntas certas nas discussões que se
sucedem em suas respectivas empresas. A próxima questão pondera a importância da
interpretação dos números e 58% concordaram totalmente, alegando saberem sobre o impacto
que uma boa interpretação causa nos resultados.
De acordo com a questão três, 36% dos respondentes afirmaram concordar com o
questionamento contínuo das análises e dos planos apresentados pela alta administração de suas
empresas. A pergunta quatro questionou se os contadores sabem o momento exato para se
posicionar em alguma discussão estratégica e se eles também sabem ponderar quando aquela
disputa não trará nenhum resultado positivo para a tomada de decisão, a maioria dos
respondentes (38%), afirmaram estar neutros à esta colocação, ou seja, os profissionais que
41
Buscou-se analisar o nível da efetividade dos contadores e para tal foi utilizado o
instrumento de Rouwellar et al., (2021), que mensura a participação dos respondentes em como
algumas decisões tomadas podem influenciar na efetividade ou não das suas atividades. Uma
análise descritiva desta variável está exposta na tabela 13.
Tabela 13: Análise Descritiva da Variável: Efetividade dos Contadores.
Descrição dos Itens de Pesquisa Média Desvio Padrão
42
o que, e 36% responderam que raramente tais desacordos existem, podendo implicar em uma
estrutura organizacional mais centralizada, no qual o acúmulo e desvio de funções é visto de
maneira moderada nas respectivas empresas desses profissionais.
De acordo com a quinta pergunta, 36% dos respondentes afirmaram que raramente
existem muitos conflitos entre eles, os profissionais, e seus gestores (alta administração), sobre
a responsabilidade das tarefas exercidas dentro da organização. O desvio padrão foi de 1,29 e a
média escalar foi de 2,58.
A sexta e última pergunta traz a parcela de 39% dos respondentes afirmando que,
também, raramente eles discordam dos seus gestores na alocação dos recursos. Isso pode indicar
uma não participação na tomada de decisão relacionada aos recursos das empresas ou uma
homogeneidade entre as opiniões de tais gestores e dos profissionais.
Visto isso, pode ser destacado que através da conformidade contínua nos processos para
a produção das informações pertinentes a tomada de decisão, as opiniões entre gestores (alta
administração) e profissionais começam a convergir, representando um aspecto positivo, tendo
em vista o objetivo de uniformização mundial pretendido, trazendo assim maior simetria nas
tomadas de decisões (Carmo, Ribeiro, & Carvalho, 2011).
o fortalecimento da identidade de equipe, como é apresentado na questão três, visto que 47%
dos participantes estão satisfeitos com seus colegas de trabalho.
Em função das características das variáveis do estudo, optou-se por utilizar o coeficiente
de correlação de Spearman com o intuito de testar a correlação dos resultados apresentados. As
respostas são encontradas na tabela a seguir:
Tabela 16: Correlação de Spearman.
Hab_Interpessoal Efetividade Conflito Satisfação
Hab_Interpessoal 1
Efetividade ,359** 1
Conflito ,306** ,089 1
Satisfação ,137 ,314** -,223 1
Nota: ** A correlação é significativa no nível 0,01 (2 extremidades).
Fonte: Dados da pesquisa (2021).
Entre os resultados encontrados na tabela de correlação de Spearman, é verificada a
correlação significante e positiva entre as variáveis Habilidades Interpessoais e Efetividade dos
Contadores (0,359, com p < 0,01), indicando que o desenvolvimento das habilidades
interpessoais pelos contadores está associado positivamente à sua efetividade e performance.
Ainda em relação às habilidades interpessoais, verifica-se que essa variável também
apresentou relação positiva e significante com conflitos entre gestores (0,306, com p < 0,01),
tais dados demonstram que, a partir dos dados coletados, os contadores que desenvolvem mais
habilidades interpessoais tendem a possuir maiores níveis de conflitos dentro da esfera
organizacional.
De acordo com a tabela de correlação, pode-se avaliar que também existiu relação
positiva e significativa entre as variáveis satisfação no trabalho e efetividade dos contadores
(0,314, com p < 0,01), apontando que quanto maior a satisfação no trabalho, maior é a
efetividade atribuída na execução das tarefas designadas aos profissionais contábeis.
Conforme demonstrado na tabela 16, não se observou uma correlação significante entre
as variáveis habilidades interpessoais e satisfação no trabalho (0,137, com p-value > 0,05), isso
indica que, com base na amostra coletada, não existe interferência direta entre o aumento ou
diminuição no nível das habilidades interpessoais desenvolvidas dentro da organização com a
satisfação no trabalho. Para os autores Pinilla e Rico (2021), este resultado pode ser
47
influenciado pelo tamanho da amostra, visto que uma amostra maior poderia trazer resultados
mais completos e robustos.
5. CONCLUSÕES
O presente estudo teve por objetivo geral avaliar a relação entre as habilidades
interpessoais dos contadores de qualquer esfera, seja ela pública ou privada, e a sua efetividade,
conflitos entre os gestores e a satisfação no trabalho. Para o início desta pesquisa, tentou-se
identificar o nível das habilidades interpessoais destes profissionais, além disso, também foi
identificado o nível de efetividade, conflito entre os gestores e satisfação no trabalho dos
contadores participantes.
Pretendendo alcançar o objetivo pré-definido, foi adotada uma abordagem quantitativa,
através da análise descritiva das variáveis estudadas (médias e frequências) e análise
inferencial, utilizando correlações de Spearman e regressão simples. A partir da análise do
amplo referencial teórico acerca das habilidades interpessoais dos profissionais contábeis, foi
mostrada a relação existente entre os níveis de efetividade, conflitos entre gestores e satisfação
no trabalho.
Com base nesta premissa, foram testadas três hipóteses envolvendo tais relações, sendo
utilizadas como variáveis dependentes a efetividade dos contadores, o conflito entre gestores e
a satisfação no trabalho. As informações coletadas no estudo poderão contribuir para o
crescimento do arcabouço científico relativo à temática sobre habilidades interpessoais, dado
que os resultados apontaram que os profissionais contábeis participantes do estudo
apresentaram baixo nível de envolvimento em atividades de cunho mais estratégico ou em
atividades relacionadas à gestão da organização e planejamento.
As análises inferenciais podem ter contribuído para a literatura, pois os resultados
encontrados suportam duas das hipóteses desenvolvidas, e apresentam resultados conflitantes
em relação à associação entre habilidades interpessoais e o conflito entre os gestores. Dessa
forma, pode-se afirmar que as evidências empíricas encontradas suportaram as hipóteses H1 e
H3, já a hipótese H2 foi rejeitada por não apresentar uma relação negativa entre as variáveis.
Apesar de tais resultados, existe uma relação positiva e significante entre as habilidades
interpessoais e os níveis de efetividade, mostrando que potencialmente quanto maior o
desenvolvimento de tais competências, mais efetivos eles serão. Em suma, também foi
identificada uma relação positiva e significante entre as habilidades interpessoais e os conflitos
entre gestores, indicando que quanto mais forem desenvolvidas as habilidades interpessoais,
mais serão os conflitos.
No entanto, esse achado foi contrário a nossa hipótese teórica, assim mais estudos
precisam ser realizados para melhor entender essa relação. De forma especulativa, podemos
52
sugerir que a relação entre as habilidades interpessoais e os conflitos entre os gestores ocorre
justamente por conta do desenvolvimento de habilidades como maior fator de comunicação,
independência e liderança, principalmente no contexto gerencial, por isso, as organizações
devem buscar métodos para reduzir a assimetria interna, definindo de forma mais sucinta as
atribuições e responsabilidades de cada profissional.
Por fim, mesmo que o teste de Spearman não tenha alcançado um resultado significante,
indicando que não existe linearidade entre as variáveis, foi destacada uma a relação positiva e
considerável entre as habilidades interpessoais e a satisfação no trabalho a partir dos resultados
adquiridos com o teste estatístico da ANOVA, no qual aponta que enquanto existir o
desenvolvimento das habilidades interpessoais dentro das organizações, os níveis de satisfação
com o trabalho tendem a acompanhar este progresso. Outro fator que pode ter interferido nos
resultados do teste de Spearman foi o tamanho da amostra, visto que uma amostra maior traria
resultados mais completos (PINILLA; RICO, 2021).
Por conseguinte, este estudo contribui para o início de um debate em torno da lacuna
apresentada na literatura sobre as habilidades interpessoais dos profissionais contábeis,
ocasionando em novas discussões e adicionando resultados de estudos anteriores, além de
ocasionar a discussão sobre os papéis desenvolvidos pelos contadores no Brasil e o quão
próximos eles estão do perfil levantado pela literatura e observado em pesquisas internacionais.
Ainda que a pesquisa apresente uma rigidez metodológica, esta apresentou algumas
limitações, especialmente relacionadas ao tipo da pesquisa, população e a amostra coletada por
meio dos questionários de pesquisa.
Por possuir característica transversal, ou seja, os dados são coletados de uma única vez,
impossibilitou a consolidação dos resultados obtidos através do tempo. No que tange a
população, não existem bases de dados que determinem o número exato de profissionais
contábeis brasileiros, além disso, apesar das diversas formas de coleta de dados utilizadas, não
se pode confirmar que a totalidade ou um número significante dela tenha sido alcançada pelo
questionário de pesquisa.
Dessa maneira, tais limitações concluem a impossibilidade de generalização dos
resultados e das conclusões obtidas pela presente pesquisa, mas estas podem ser consideradas
inspirações para a expansão e aperfeiçoamento, expandindo as discussões.
53
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ttps://doi.org/10.1108/10309611211244519
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
Informações importantes
Esta pesquisa tem por objetivo obter melhor o entendimento sobre algumas questões referentes
às habilidades interpessoais atreladas a efetividade, ao conflito de perfil e a satisfação no
trabalho dos profissionais contábeis através das percepções dos contadores em território
nacional.
As perguntas dispostas neste questionário têm caráter individual, referente a sua própria
realidade profissional. Não há respostas “certas” ou “erradas”. O interesse desta pesquisa é nas
percepções, opiniões e experiências dos (as) Srs. (Srªs). Portanto, é requerido que o Sr/Srª
preencha de forma privativa e com o máximo de atenção possível.
Algumas das perguntas podem parecer semelhantes, porém, elas abordam diferentes percepções
e aspectos da mesma definição. É requerido que o Sr/ Srª responda todas as questões dispostas
neste questionário. Caso contrário, torna-se inviável a utilização dos dados.
Estipula-se para o preenchimento deste questionário uma média de 15 minutos.
Termo de Confidencialidade
Qual a porcentagem do seu tempo foi gasta nas seguintes funções nos últimos 12 meses? (Por
favor, note que o total deve somar até 100% do tempo gasto e não se faz necessário colocar o
símbolo “%”, só responder apenas com números).
Suporte à gestão (por exemplo: planos estratégicos, gestão do desempenho e gestão de riscos).
68
Em que medida você concorda com as seguintes declarações? Por favor, preencha de acordo
com a seguinte escala: 1 = Discordo totalmente; 2 = Discordo; 3 = Não Discordo nem Concordo;
4 = Concordo; 5 = Concordo Totalmente.
ESCALA
DECLARAÇÕES
1 2 3 4 5
Meu superior concorda que minha
contribuição é essencial para a organização.
Eu contribuo para a eficiência organizacional e
eficácia dos processos internos.
Minha contribuição é para que as decisões,
tomadas pelo Conselho de
Administração/Diretoria, sejam melhores
financeiramente e organizacionalmente.
A partir das minhas atividades, a posição
financeira da organização se torna mais
transparente.
A partir das minhas atividades, a organização
cumpre as exigências feitas pelas entidades
externas à empresa.
Em que medida você concorda com as seguintes declarações? Por favor, preencha de acordo
com a seguinte escala: 1 = Discordo totalmente; 2 = Discordo; 3 = Não Discordo nem Concordo;
4 = Concordo; 5 = Concordo Totalmente.
69
ESCALA
DECLARAÇÕES
1 2 3 4 5
Eu faço as perguntas certas.
Eu penso sobre o impacto dos números.
Eu questiono continuamente as análises e os
planos da administração.
Eu sei quando começar uma discussão e
quando desistir da discussão.
Eu estou sempre fazendo perguntas.
Eu não hesito em criticar os planos e as ações
da administração.
1) Por favor, pense sobre os gestores da sua empresa (alta gestão) ao responder às seguintes
perguntas: Referencial: 1 = Nunca; 2 = Raramente; 3 = Às vezes; 4 = Frequentemente; 5 =
Muito Frequentemente.
ESCALA
PERGUNTAS
1 2 3 4 5
Com que frequência você tem conflitos de
ideias com seus gerentes organizacionais (alta
gestão)?
Com que frequência você tem desacordos com
gerentes organizacionais (alta gestão) sobre
tarefas ou projetos em que você está
trabalhando?
Com que frequência você tem opiniões
conflitantes com gerentes organizacionais (alta
gestão) sobre tarefas/projetos em que está
trabalhando?
70
Para responder as perguntas descritas a seguir, por favor considere a seguinte escala: 1=
Totalmente Insatisfeito; 2 = Insatisfeito; 3 = Nem insatisfeito nem satisfeito (neutro); 4=
Satisfeito; 5= Totalmente satisfeito.
ESCALA
PERGUNTAS
1 2 3 4 5
Qual seu grau de satisfação com a natureza de
seu trabalho?
Qual seu grau de satisfação com a pessoa que
supervisiona você (seu superior hierárquico)?
Qual seu grau de satisfação com a relação
mantida com as pessoas da organização, na
qual você trabalha (seus colegas de trabalho)?
Qual seu grau de satisfação com a remuneração
que você recebe pelo seu trabalho?
Qual seu grau de satisfação com as
oportunidades de crescimento, existentes na
sua organização?
Considerando os cinco itens acima, como
conclusão, qual seu grau de satisfação com sua
situação atual?
71
Os resultados desta pesquisa estarão disponíveis em breve caso tenha interesse em recebê-
lo. Ficaríamos muito gratos se você pudesse adicionar o seu e-mail aqui:
______________________________
Muito obrigada por sua participação!
73
Variables Entered/Removeda
Model Variables Entered Variables Removed Method
1 Habilidadesb . Enter
a. Dependent Variable: Efetividade
b. All requested variables entered.
Model Summaryb
ANOVAa
Model Sum of Squares df Mean Square F Sig.
Coefficientsa
Model Unstandardized Standardized t Sig. 95,0% Confidence Interval
Coefficients Coefficients for B
B Std. Error Beta Lower Bound Upper Bound
74
Variables Entered/Removeda
Model Variables Entered Variables Removed Method
1 Habilidadesb . Enter
a. Dependent Variable: Conflitos
b. All requested variables entered.
Model Summaryb
Model R R Square Adjusted R Std. Error of Change Statistics Durbin-Watson
Square the Estimate R Square F Change df1 df2 Sig. F
Change Change
1 ,309a ,095 ,083 5,58271 ,095 7,576 1 72 ,007 2,257
a. Predictors: (Constant), Habilidades
b. Dependent Variable: Conflitos
ANOVAa
Model Sum of Squares df Mean Square F Sig.
Coefficientsa
75
Variables Entered/Removeda
Model Variables Entered Variables Removed Method
1 Habilidadesb . Enter
a. Dependent Variable: Satisfação
b. All requested variables entered.
Model Summaryb
Model R R Square Adjusted Std. Error of Change Statistics Durbin-Watson
R Square the Estimate R Square F Change df1 df2 Sig.
Change F Change
1 ,288a ,083 ,070 4,96024 ,083 6,498 1 72 ,013 2,169
a. Predictors: (Constant), Habilidades
b. Dependent Variable: Satisfação
ANOVAa
Model Sum of Squares df Mean Square F Sig.
Coefficientsa
Model Unstandardized Standardized t Sig. 95,0% Confidence
Coefficients Coefficients Interval for B
B Std. Beta Lower Bound Upper Bound
Error
(Constant) 11,823 3,317 3,565 ,001 5,211 18,434
1
Habilidades ,369 ,145 ,288 2,549 ,013 ,080 ,657
a. Dependent Variable: Satisfação